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CASOS CLÍNICOS MEDICINA INTERNA 1.3 Tatiana Rodrigues 01 Uma mulher de 49 anos vai ao serviço de emergência queixando-se de inchaço e desconforto progressivos no abdome há quatro semanas. Não tem outros sintomas gastrintestinais, o apetite e o hábito intestinal são normais. Sua história médica é significativa somente por três gestações, uma das quais complicada por perda excessiva de sangue, necessitando de transfusão. Está casada e é monogâmica há 20 anos, faz exercícios, não fuma e bebe ocasionalmente. Na entrevista, no entanto, admite que durante a juventude cheirou cocaína uma ou duas vezes em festas há muitos anos. Atualmente não usa drogas. Era HIV negativa na ocasião do nascimento de seu último filho. Sua temperatura é de 37,9°C, a frequência cardíaca é de 88 bpm, e a pressão arterial é de 94/60 mmHg. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual deve ser o próximo passo? Ela é magra, de compleição pequena, as escleras estão ictéricas, o tórax está limpo, e o ritmo cardíaco é regular, sem sopros. O abdome está distendido, com dor difusa à palpação, ruídos hidroaéreos hipoativos, macicez móvel à percussão e onda de fluido. Não tem edema. Os exames laboratoriais são normais, exceto por níveis de Na de 129 mEq/L (normal 135-145), de albumina de 2,8 g/dL (normal 3,5-5 g/dL), bilirrubina total de 4 mg/dL, tempo de protrombina de 15 segundos (normal 11-13,5 s), hemoglobina de 12 g/dL, com volume corpuscular médio (VCM), de 102 fL (normal 78-95 fL), e contagem de plaquetas 78.000/mm3 (normal 150.000- 500.000/mm3). Diagnóstico mais provável: Ascite causada por hipertensão porta como complicação de cirrose hepática. Próximo passo: Realizar paracentese para analisar o líquido ascítico na tentativa de determinar a etiologia provável e para avaliar a possibilidade de complicação por peritonite bacteriana espontânea (PBE). Resumo: Uma mulher de 49 anos apresenta inchaço abdominal recente. Sua história pregressa revela uma transfusão de sangue e uso remoto de droga. Sua temperatura é de 37°C, a frequência cardíaca é de 88 bpm, e a pressão arterial é de 94/60 mmHg. As escleras estão ictéricas. O abdome está distendido, com dor leve e difusa, macicez móvel à percussão e onda de fluido, o que indica ascite. Não tem edema. Os exames laboratoriais mostram os seguintes níveis: Na, 129 mmol/L, albumina, 2,8 g/dL, tempo de protrombina, 15 segundos, hemoglobina, 12 g/dL, VCM de 102 fL e contagem de plaquetas de 78.000/mm3. RESPOSTA PARA O CASO 01 CONSIDERAÇÕES Essa mulher de 49 anos tinha boa saúde até recentemente, quando notou aumento de volume do abdome e desconforto, indicativos de ascite. No exame físico é constatada ascite com onda de fluido e macicez móvel. A icterícia sugere o fígado como etiologia da ascite. Os exames laboratoriais são significativos para hipoalbuminemia e coagulopatia (prolongamento do tempo de protrombina), indicando provável diminuição de síntese hepática e doença hepática avançada. Ela tem exposições prévias, a mais notável é uma transfusão de sangue, que a coloca em risco para hepatite viral, especialmente hepatite C. Atualmente, ela tem febre baixa e leve dor abdominal, ambos sinais de infecção. A infecção bacteriana do líquido ascítico necessita ser considerada porque casos não tratados têm alta mortalidade. Embora a maioria dos pacientes com ascite e icterícia tenha cirrose, outras etiologias de ascite devem ser consideradas, incluindo doença maligna. A paracentese diagnóstica pode ser usada para avaliar infecção e para identificar a etiologia da ascite. 02 Mulher hispânica de 42 anos vai à emergência porque há 24 horas sente dor abdominal epigástrica intensa e contínua que se irradia para o dorso. A paciente sentiu náusea e vomitou várias vezes. Ela teve episódios de dor semelhantes no passado, geralmente à tarde, após refeições pesadas, porém com melhora espontânea em uma ou duas horas. Desta vez, a dor não aliviou, e ela procurou atendimento médico. Não possui história médica e não toma medicamentos. É casada, tem três filhos, não consome álcool nem tabaco. Durante o exame, está afebril, taquicárdica, com frequência cardíaca de 104 bpm, pressão arterial de 115/74 mmHg e respiração superficial, com frequência de 22 mpm. Movimenta-se desconfortavelmente na maca, tem a pele quente, está diaforética e apresenta escleras ictéricas. O abdome está flácido, levemente distendido, com dor importante à palpação no quadrante superior e no epigástrio. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual é a etiologia subjacente mais provável? Qual deve ser o próximo passo? Há ruídos hidroaéreos hipoativos, sem massas ou organomegalias. O exame de fezes é negativo para sangue oculto. Os exames laboratoriais são significativos para o nível de bilirrubina total (9,2 g/dL), com fração direta de 4,8 g/dL, o de fosfatase alcalina de 285 UI/L, além de AST de 78 UI/L, ALT de 92 UI/L e do nível alto de amilase de 1.249 UI/L. A contagem de leucócitos é 16.500/mm3, com 82% de neutrófilos e 16% de linfócitos. A radiografia simples do abdome mostra padrão de gás inespecífico, sem pneumoperitônio. Diagnóstico mais provável: Pancreatite aguda Etiologia mais provável: Coledocolitíase (cálculo no ducto biliar comum) Próximo passo para o diagnóstico: Ultrassonografia do quadrante superior direito do abdome Resumo: Uma mulher de meia-idade com história que indica colelitíase sintomática agora tem dor epigástrica e náusea há 24 horas, período mais longo do que seria esperado no caso de uma cólica biliar não complicada. Seus sintomas sugerem pancreatite aguda. Também tem hiperbilirrubinemia e fosfatase alcalina elevada, sugerindo obstrução de ducto biliar, comumente provocada por cálculo, que é a causa provável da pancreatite. RESPOSTA PARA O CASO 02 CONSIDERAÇÕES Essa mulher de 42 anos queixou-se de ter tido no passado episódios de dor no quadrante superior direito do abdome depois de refeições pesadas. Esses episódios anteriores foram de curta duração, o que é muito comum na cólica biliar. No entanto, este episódio é muito diferente na intensidade e na localização da dor (que agora irradia-se para o dorso e é acompanhada de náusea e vômito). O nível alto de amilase confirma a impressão clínica de pancreatite aguda, provavelmente causada por cálculo no ducto biliar comum. A obstrução biliar é sugerida pelo aumento do nível de bilirrubina. Ela está moderadamente debilitada, hemodinamicamente estável e tem somente uma característica prognóstica para predição de mortalidade – o aumento da contagem de leucócitos. Ela provavelmente pode ser tratada na enfermaria, sem necessidade de terapia intensiva. 03 Homem de 72 anos é levado ao SE depois de desmaiar quando estava na igreja. Ele estava de pé cantando um hino e caiu no chão. Sua esposa, que testemunhou o episódio, relata que ele ficou inconsciente durante aproximadamente 2 ou 3 minutos. Quando acordou, ficou tonto por um ou dois minutos e depois se recuperou. Não foram notados movimentos anormais. Isso nunca aconteceu antes, mas ele relata que nos últimos meses tem que suspender atividades como aparar a grama porque sente fraqueza e tontura. Sua única história médica é osteoartrite dos joelhos, para a qual toma paracetamol. Durante o exame, está alerta, falante e sorridente. Está afebril; a frequência cardíaca é de 35 bpm, regular, e a pressão arterial é de 118/72 mmHg, que não se altera quando o paciente fica em pé. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual deve ser o próximo passo? Ele tem contusões na face, no braço esquerdo e na parede torácica, sem lacerações. A ausculta pulmonar é normal, o ritmo cardíaco é regular e bradicárdico, sem deslocamento do ictus. O paciente não tem déficits focais. Os exames laboratoriais mostram hemograma, função renal, eletrólitos séricos e enzimas cardíacas normais. O ECG está na Figura 15.1. Diagnóstico mais provável: Síncope consequente de bloqueio atrioventricular (AV) de terceiro grau. Próximo passo: Colocação de marca-passo temporário transcutâneo ou transvenoso e avaliação para colocação de marca-passodefinitivo. Resumo: Um homem de 72 anos tem episódio de síncope rápida e não acompanhada de convulsões. Nos últimos tempos tem intolerância crescente aos esforços por causa de fraqueza e sintomas pré- sincopais. Está bradicárdico, com bloqueio atrioventricular de terceiro grau no ECG. As setas na Figura 15.1 apontam ondas P. RESPOSTA PARA O CASO 03 CONSIDERAÇÕES Há duas considerações importantes em relação a esse paciente: a causa e o tratamento do bloqueio AV. Ele deve ser avaliado quanto a infarto agudo do miocárdio e a anormalidades cardíacas estruturais. Se a avaliação for negativa, ele simplesmente pode ter lesão no sistema de condução como consequência do envelhecimento. Em relação ao tratamento temporário, atropina e isoproterenol podem ser usados quando o bloqueio de condução é no nível do nó AV, mas, nesse caso, a frequência cardíaca é menor do que 40 bpm e o QRS está alargado, sugerindo que o defeito está abaixo do nó AV, no feixe de His. Provavelmente há necessidade de marca-passo. 04 Homem de 28 anos vai à emergência queixando-se de estar há dois dias com dor abdominal e diarreia. Descreve as evacuações como frequentes, 10 a 12 vezes por dia, em pequenos volumes, algumas vezes com sangue e muco visíveis, e precedidas de urgência súbita para evacuar. A cólica é difusa, de intensidade moderada e não alivia com a defecação. Nos últimos 6 a 8 meses, o paciente teve episódios semelhantes de dor abdominal e fezes líquidas e mucoides com um pouco de sangramento, porém mais leves e resolvidos em 24 a 48 horas. Não tem outra história médica e não toma medicamentos. Além disso, não viajou para fora dos EUA nem teve contato com pessoas com sintomas semelhantes. Trabalha como contador, não fuma e não bebe álcool. Não há ninguém na família com problemas gastrintestinais (GI). Qual é o diagnóstico mais provável? Qual deve ser o próximo passo? Sua temperatura é de 37,2°C, a frequência cardíaca é de 98 bpm e a pressão arterial é de 118/74 mmHg. Está desconfortável e deitado quieto na maca. As escleras são claras, e a mucosa oral é rósea e límpida, sem ulcerações. O exame dos pulmões é normal, o ritmo do coração é regular e não há sopros. O abdome está flácido e levemente distendido e apresenta ruídos hidroaéreos hipoativos. A dor é difusa moderada, sem defesa ou dor à descompressão brusca. Os exames laboratoriais apresentam resultados significativos: leucocitose de 15.800/mm3, com 82% de neutrófilos; nível de hemoglobina de 10,3 g/dL e contagem de plaquetas de 754.000/mm3. O teste para infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é negativo. As provas de função renal e hepática são normais. A radiografia simples do abdome mostra colo levemente dilatado, cheio de gás, com diâmetro de 4,5 cm, sem pneumoperitônio ou níveis hidroaéreos. Diagnóstico mais provável: Colite, provavelmente colite ulcerativa. Próximo passo: Internar, obter amostras de fezes para excluir infecção e iniciar o tratamento com corticosteroides. Resumo: Jovem com quadro clínico de colite moderada à intensa, manifestada com cólica abdominal com tenesmo, pequenos volumes de fezes com sangue e muco, além de dilatação do colo, identificável no raio X. O paciente não tem história de viagem e de exposição que sugira infecção. Relata história prévia de episódios semelhantes, indicando processo inflamatório crônico, em vez de processo infeccioso agudo. RESPOSTA PARA O CASO 04 CONSIDERAÇÕES Embora seja baixa, a probabilidade de infecção precisa ser excluída, sendo necessário verificar infecções por Entamoeba histolytica, Salmonella, Shigella, E. coli, Campylobacter e Clostridium difficile, que podem ocorrer na ausência de exposição prévia a antibióticos. A dúvida nesse caso seria entre o diagnóstico de EI e de colite infecciosa. A ausência de história de viagem e de membros da família doentes, além da cronicidade da doença, afastam a probabilidade de infecção. No momento, o paciente não parece ter complicação da colite que ameace a vida, como perfuração ou megacolo tóxico, mas precisa ser cuidadosamente monitorado, e uma consulta com um cirurgião pode ser útil. A dor abdominal, a diarreia e o raio X abdominal localizando a doença no colo apontam para colite.
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