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RESUMO INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL - HERMENÊUTICA JURÍDICA

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HERMENÊUTICA 
 
DA INTERPRETAÇÃO DO TEXTO DA NORMA CONSTITUCIONAL 
A interpretação faz parte da realidade de cada um de nós desde o nascer do sol até o momento 
do descanso. Interpretamos símbolos relativamente fáceis, como os sinais e placas de trânsito, 
ou ainda, a forma e cor dos objetos. Em razão de seu vestuário (um símbolo), esperamos de um 
policial fardado o zelo pela segurança pública e, de um médico, normalmente com a roupa branca, 
proteção à saúde, e não o contrário. 
A tarefa de interpretar a Constituição, entretanto, é muito diferente. Talvez se aproxime da própria 
interpretação dos sentimentos e emoções humanas, dotada de subjetivismo, abstração e inúmeras 
incertezas. Poderia ser inconclusamente definida como: um diálogo qualificado e atencioso com 
a norma, levando-se em consideração a riqueza dos seus valores, princípios e regras, coerentes 
com a realidade brasileira, que espera das normas constitucionais a máxima produção de seus 
efeitos jurídicos. 
Os métodos clássicos de interpretação jurídica podem ser imputados a Savigny, fundador da 
Escola Clássica do Direito em 1840, e podem ser sintetizados em métodos: gramatical (ou literal), 
sistemático, histórico, lógico e teleológico, que serão a seguir analisados. 
MÉTODOS CLÁSSICOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 Método Gramatical ou Literal 
Segundo a análise gramatical, a norma significaria justamente o que nela está escrito, a sua 
própria literalidade. Aqui se faz imperiosa a distinção entre dispositivo ou texto e a própria norma. 
O dispositivo é o significante ou o enunciado que expressa o comando, de onde o mesmo é 
extraído, e a norma é a regra de conduta que se extrai do dispositivo, sendo, portanto, 
inconfundíveis. Os dispositivos traçam o roteiro para compreensão das normas. 
A título de exemplo, poderíamos mencionar a diferença entre o texto e a norma do art. 5o, LVI, 
da CRFB/88. O texto afirma que são inadmissíveis no processo as provas ilícitas, mas, de acordo 
com a jurisprudência do STF, em nome do princípio da proporcionalidade, excepcionalmente 
essas provas podem ser admitidas como, por exemplo, na hipótese de legítima defesa das 
liberdades públicas. Da mesma maneira, poderíamos analisar a titularidade dos direitos 
fundamentais de acordo com o art. 5o, caput, que afirma serem protegidos os brasileiros e os 
estrangeiros residentes no país. Segundo a interpretação mais correta, todas as pessoas naturais 
(estrangeiros de passagem pelo território nacional, inclusive) e jurídicas devem ter os seus direitos 
respeitados. Essa é mais uma clara diferença entre o texto e a norma. 
A interpretação gramatical seria o ponto de partida, sendo a guia inicial da tarefa do intérprete, 
mas não é normalmente o seu ponto de chegada, diante da pluralidade de normas que podem 
ser extraídas do mesmo dispositivo. 
 Método Sistemático 
Esse método avalia a Constituição como um todo, realizando uma verificação completa do sistema 
constitucional para melhor compreensão de seus institutos. Analisando a proteção constitucional 
ao meio ambiente, que ganhou um papel de destaque na Constituição de 1988, é possível 
relacionar uma série de dispositivos que destacam o compromisso do país e da sociedade com a 
sua preservação, a saber: art. 5o, LXXIII (ação popular na defesa do meio ambiente); art. 186 
(descumpre a função social da propriedade aquele que atentar contra o meio ambiente); art. 129, 
III (ação civil pública pode ser proposta em sua defesa); art. 23 (é matéria de competência comum 
da União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ou seja, cada ente da Federação é 
responsável pela preservação do meio ambiente); e ainda, o art. 225, quando afirma o 
compromisso na preservação do meio ambiente para as futuras gerações. 
 Método Histórico 
O método histórico remonta à constituinte, à origem da nossa Constituição, e, sem dúvida, é um 
método importante, principalmente para uma Constituição jovem como a nossa, a qual surgiu da 
influência de vários movimentos sociais e políticos, que combateram a ditadura militar. 
É fácil compreender, com base nesse método histórico, por exemplo, a razão da disposição do 
art. 5o, III, da CRFB/88, que impede a tortura e o tratamento desumano ou degradante, 
justamente porque é sabido que muita tortura foi realizada no Brasil no período da ditadura 
militar. Nesse mesmo diapasão, o crime de tortura é considerado inafiançável na forma do art. 
5o, XLIII. Também nos parece que a motivação do habeas data (art. 5o, LXXII) tenha sido a de 
permitir aos perseguidos do regime anterior o acesso a dados pessoais e demais informações 
recolhidas à época pelos órgãos do governo. 
Importante destacar que o constituinte originário não pode aprisionar as futuras gerações, pois 
de fato o que é mais importante não é a occasio legis (a ocasião da elaboração da Constituição), 
e sim a ratio legis, ou seja, é o fundamento racional que vai acompanhar aquele texto 
constitucional ao longo da produção dos seus efeitos jurídicos, porque a Constituição é maleável. 
O processo histórico deve ser analisado sobre o prisma mais evolutivo, não descuidando da 
atualidade. 
 Método Lógico 
O método lógico foi muito criticado pelo realismo americano, porque pretende transformar a 
Constituição em silogismos matemáticos. Seria como se todo eventual conflito entre direitos 
fundamentais tivesse uma única resposta dos juízes. 
Hoje em dia é possível se observar que para cada problema existe uma solução, sem que nenhuma 
delas esvazie (ou possa esvaziar) o comando constitucional restringido no caso concreto. 
Invariavelmente, por exemplo, os litígios que envolvem liberdade de imprensa x intimidade 
produzem decisões diferentes, em razão das provas que instruíram o processo e das situações 
concretas. 
 Método Teleológico 
A teleologia é o estudo filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade dos 
institutos. O método teleológico, então, reconhece que o Direito não é um fim em si mesmo e 
que os meios são indispensáveis para a busca da justiça. Com isso, determina ao intérprete que 
analise mais a fundo as normas legais, sempre em busca da sua essência e verdadeiro ideal. 
Como exemplo de aplicação do referido método podemos citar a decisão do TSE que reconheceu 
a inelegibilidade reflexa (art. 14, § 7º, da CRFB/88) numa relação homoafetiva, em que pese a 
Constituição até o momento não referendar expressamente essa forma de união estável.

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