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AULA 4 – CICATRIZAÇÃO E INFECÇÃO DE FERIDAS DANIELA FRANCO 1. CICATRIZAÇÃO a. Conceito: processo de reparação tecidual. Há diferentes tipos de feridas cutâneas agudas: feridas incisas, lesões de espessura parcial e feridas envolvendo perda tissular significativa. Esses diferentes tipos de feridas envolvem graus variáveis das mesmas fases do processo cicatricial. 2 Quando as lesões cutâneas são superficiais, p. ex., a cicatrização ocorre rapidamente e pode envolver apenas reposição do epitélio, sem formação de cicatriz (regeneração epitelial); feridas incisas ou fechadas, pequenas e limpas, cicatrizam rapidamente, com formação de pouco tecido cicatricial; e feridas abertas, contaminadas ou sujas, cicatrizam lentamente, com tecido cicatricial abundante. B. FASES DA CICATRIZAÇÃO: 03 fases: inflamatória, proliferativa e remodelação. 04 fases: coagulação, inflamatória, proliferativa e remodelação. Coagulação: Início imediato após aparecimento da ferida. • Ativação das plaquetas pela exposição do colágeno. Liberação diversos fatores. • Formação do coágulo de fibrina. Hemostasia. Coaptação temporária bordas da ferida. Inflamatória: Mais intensa nos 4 primeiros dias. • Primeira célula a chegar ao sítio: neutrófilo. • Célula mais importante, “maestro”: macrófago (produz diversos fatores de crescimento, interleucinas. Formação matriz extracelular.) A fase inflamatória se inicia no momento da lesão e é constituída por cinco principais eventos: Os três primeiros estariam relacionados com a hemostasia, havendo predomínio do influxo de células originadas do sangue e a liberação de seus mediadores e citocinas. (1) vasoconstricção: A vasoconstricção imediata e inicial, que cessa em dez a 15 minutos após a lesão, tem início pela liberação de aminas vasoativas, que ocorre quando a derme é transposta (2) acúmulo ou agregação de plaquetas: Estimuladas pela exposição a fatores tissulares liberados pelas células endoteliais lesadas, as plaquetas aderem ao subendotélio vascular e umas às outras, em um processo que envolve receptores de superficie das plaquetas, fibrinogênio e fator de von Willebrand (3) depósito de fibrina e coagulação: via extrínseca e intrínseca, que resultam na formação de trombina que ativa fibrinogênio em fibrina. (4) migração de leucócitos: a ferida se apresenta com eritema, edema, calor e dor. Em nível tissular, ocorrem aumento da permeabilidade vascular e migração seqüencial de leucócitos para o espaço extravascular. Uma das funções primárias da inflamação é levar células inflamatórias à área lesada, essas células destroem as bactérias e eliminam os resíduos de células mortas e a matriz lesada, permitindo que o processo de reparo continue); (5) ativação celular: A liberação inicial e transitória de fatores provenientes das plaquetas, assim como a interleucina 2 (IL-2) e o interferon--y (INF--y), derivados de linfócitos T, constituem importantes estímulos para a ativação dos macrófagos. Também a fagocitose de produtos celulares, como fibronectina ou colágeno, contribui para sua ativação. Durante a fase inflamatória, predominam neutrófilos, rnacrófagos e linfócitos. Depois de sua ativação, macrófagos e neutrófilos iniciam desbridamento celular da ferida, por fagocitose de bactérias e material estranho. Proliferativa: Início após 48h e pico de ação em 2 a 3 semanas. 3 a 14 dias. A matriz de fibrina-fibronectina, inicialmente densamente povoada por células inflamatórias, com a progressão do processo cicatricial passa a exibir fibroblastos e células endoteliais. • Característica: formação do colágeno! • Principal célula: fibroblastos. Miofibroblastos – contração da ferida. • Pico da produção do colágeno ocorre com 21 dias. • Cicatriz predominam: - colágeno tipo I: 80%. — - colágeno tipo III: 20%. (1) reepitelização (migração de queratinócitos e células epidérmicas), realizam a reconstrução do epitélio para reestabelecimento da barreira da pele; Durante as primeiras 24 horas pós-lesão, células basais presentes nas bordas da ferida proliferam-se e se alongam, e começam a migrar para o outro lado da superfície de abertura da ferida. (2) migração de fibroblastos: Fibroblastos surgem na ferida em número significativo no terceiro dia pós-lesão e atingem pico no sétimo dia. Após a migração para a ferida, fibroblastos começam a síntese da matriz extracelular e são também responsáveis pela deposição e remodelamento da matriz (3) formação de tecido de granulação: O ambiente da ferida começa a ser invadido por novo estroma, aproximadamente quatro dias após a lesão, constituindo o tecido de granulação. Esse tecido consiste na combinação de elementos celulares, incluindo fibroblastos e células inflamatórias, e novos capilares envoltos por matriz extracelular de colágeno, fibronectina e ácido hialurônico. (4) angiogênese (neovascularização): ativo a partir do segundo dia da lesão. Fatores do ambiente da ferida que contribuem para esse processo incluem níveis elevados de lactato, pH ácido e, em particular, diminuição da tensão de oxigênio (5) síntese protéica (colágeno): Quatro a cinco dias depois da lesão, os eventos que predominam são a síntese e a deposição de proteínas, cuja qualidade e quantidade influenciam significativamente a força da cicatriz. O colágeno, cuja síntese é estimulada por TGF-13, PDGF e EGF. O colágeno e outras proteínas, como proteoglicanos, substituem de forma gradual a fibrina, como constituintes primários da matriz. (6) contração da ferida: inicia-se quatro ou cinco dias após a lesão inicial e continua duas semanas. Na ferida aberta, o resultado da contração é evidente, porque suas bordas se aproximam; na ferida incisa, a contração da ferida resulta simplesmente em cicatriz menor e menos aparente. Há que se enfatizar que contração é a aproximação das bordas da ferida, ao passo que contratura é o encurtamento da própria cicatriz. Caracterizada por predominância de miofibroblastos na periferia da ferida. Remodelação: Pico acúmulo de colágeno até o 21º dia. Após – predomínio da colagenólise à síntese. • Enzima: colagenase. Remodelação do colágeno, mudança da aparência, textura e elasticidade da cicatriz. Desequilíbrio entre produção e destruição leva à: • Excesso deposição: quelóide, cirrose hepática, esclerodermia. • Defeitos cicatrização: escorbuto • Força tênsil nunca é igual à da pele ilesa: a remodelagem é essencial à formação de uma ferida com força, levando a aumento substancial na resistência da ferida à tensão. • Em 01 ano, chega à 80% da força original. Ocorre equilíbrio entre a taxa de síntese e a degradação do colágeno. A regulação da síntese de colágeno é mediada pelo interferon--y e pela própria matriz de colágeno. As metaloproteinases da matriz estão intimamente envolvidas com a degradação das moléculas de colágeno que ocorre ativamente durante o processo de remodelagem. A cicatriz imatura contém um conjunto desorganizado de finas fibras de colágeno, que é gradualmente substituído por fibras mais grossas, organizadas em orientação paralela à tensão da pele. Em adição, gradativamente o número de ligações dentro das moléculas e entre elas se eleva. À medida que a natureza da matriz de colágeno se altera, se toma menos celularizada, decorrente de apoptose das células envolvidas no processo cicatricial. Modifica-se a proporção de colágeno tipos I e III, e diminui a quantidade de água e proteoglicanos. C. FORMAÇÃO DO COLÁGENO O colágeno, cuja síntese é estimulada por TGF-13, PDGF e EGF. Sua síntese também é afetada pelas características do paciente e da ferida, incluindo idade, tensão, pressão e estresse, e continua em ritmo máximo durante duas a quatro semanas, quando começa a diminuir. O colágeno e outras proteínas, como proteoglicanos, substituemde forma gradual a fibrina, como constituintes primários da matriz. Na matriz extracelular que será a principal responsável pela restauração do tecido lesado, o colágeno depositado é composto por subtipos cuja concentração varia entre os tecidos. O colágeno tipo I predomina e constitui 80% a 90% do colágeno visto na derme intacta. Os restantes 10% a 20% são do tipo III. O tecido de granulação que se forma após a ferida contém 30% de colágeno tipo III, cuja síntese acelerada se correlaciona com a secreção de fibronectina após a lesão. O colágeno tipo II é encontrado quase exclusivamente na cartilagem, e o tipo IV é encontrado nas membranas basais; o tipo V é encontrado em vasos sangüíneos, e o tipo VII forma as fibrilas que se ancoram na membrana basal epitelial. O colágeno tipo I consiste em uma hélice tríplice, envolvendo três cadeias polipeptídicas que são sintetizadas separadamente dentro do fibroblasto. A interação de cadeias inicia a formação da hélice tríplice, que é secretada como pró-colágeno no meio extracelular. Dentro da célula, o colágeno passa por oito etapas, antes de ser secretado ao meio extracelular, como pró-colágeno. Um passo critico envolve a hidroxilação da prolina e da lisina dentro das cadeias polipeptídicas, que requer enzimas específicas e co- fatores, como oxigênio, vitamina C, íon ferro e alfacetoglutarato. A hidroxiprolina se constitui em um importante marcador da quantidade de colágeno dentro dos tecidos. A hidroxilisina é elemento essencial para formação de ligações, tanto dentro das moléculas de colágeno quanto entre elas. Deficiências de vitamina C (escorbuto) ou supressão da atividade enzimática pelos corticosteróides podem propiciar a síntese de colágeno sub-hidroxilado, que é incapaz de gerar ligações fortes. Posteriormente, a tríplice hélice é secretada como prócolágeno no espaço extracelular, e enzimas pró- colágeno-Cproteinases e pró-colágeno-N-proteinases clivam o extremo própeptídico de suas moléculas. Isso diminui a solubilidade das moléculas, iniciando o processo de formação de fibrilas. A hidroxilisina é elemento essencial para formação de ligações, tanto dentro das moléculas de colágeno quanto entre elas. Durante esse processo, moléculas de colágeno são inicialmente unidas por laços eletrostáticos; posteriormente, grupos livres de amina em resíduos de lisina e hidroxilisina, dentro das moléculas de colágeno, são transformados em resíduos-aldeído pela enzima lisiloxidase. Os resíduos-aldeído interatuam com lisina ou resíduos de hidroxilisina de outras moléculas, resultando na formação de ligações covalentes estáveis entre as moléculas. As ligações estabilizam a união das moléculas de colágenos em fibrilas e fibras, que fornecem as características especiais de resistência do colágeno. d. Co-fatores da cicatrização (alguns citados acima) E. FATORES QUE ATRAPALHAM A CICATRIZAÇÃO Quando ocorre em feridas limpas, onde foi utilizada técnica asséptica, a aposição das margens da ferida diminui ou elimina a distância de que as células necessitam para migrar. A técnica cuidadosa minimiza os riscos de contaminação bacteriana, que prolonga o tempo de cicatrização; a prevenção de hematomas, por hemostasia adequada, e a eliminação de tecido necrótico também diminuem as chances de infecção. Outros fatores locais que podem interferir com a cicatrização, pela chance de infecção, incluem presença de espaços mortos, utilização demasiada de eletrocautério e suturas muito apertadas. A produção de tecido necrótico aumenta o risco de infecção, mas também libera fatores quimiotáxicos para neutrófilos e monócitos, que se acumulam na ferida e retardam a cicatrização. Nutrientes A má-nutrição é um importante fator que interfere na cicatrização, especialmente em pacientes idosos. Pacientes malnutridos apresentam incidência elevada de complicações cirúrgicas, incluindo deiscências de feridas abdominais e anastomoses. A depleção protéica pode resultar de traumatismos graves, doenças consumptivas ou sepse, ocorrendo retardo da cicatrização por inibição da angiogênese, de proliferação de fibroblastos e da síntese. Níveis séricos de albumina, pré-albumina, transferrina e fator de crescimento tipo 1 similar à insulina são indicadores do estado de depósito protéico corporal e conseqüente potencial para cicatrização das feridas. Os carboidratos (glicose) e ácidos graxos livres constituem as fontes energéticas preferidas pelas células ativas. Hipóxia A redução da quantidade de oxigênio nas feridas é encontrada em pacientes anêmicos, em quadro de choque, com sepse, nefropatas e diabéticos; também, em feridas infectadas, com seromas, hematomas, e suturas sob tensão. O oxigênio é necessário para hidroxilação da prolina e da lisina, e a hipóxia interfere na produção de colágeno, na fase inflamatória, na angiogênese, e na reepitelização e deposição da matriz. Feridas isquêmicas, que traduzem hipoperfusão tecidual e consequente redução de oxigênio, apresentam maior risco de infecção e retardo na cicatrização. Diabetes A resposta inflamatória reduzida afeta a cicatrização subseqüente. No diabetes, a ativação reduzida das células inflamatórias e a quimiotaxia reduzida resultam em destruição menos eficiente das bactérias com maior incidência de infecção e menor deposição de colágeno; há, também, prejuízo à neovascularização. Infecção A contaminação da ferida por bactérias de tecido acarreta infecção clínica e retardo na cicatrização. As bactérias e seus produtos, como endotoxinas e metaloproteinases, podem interferir em cada fase do processo cicatricial, resultando em retardo da cicatrização Corticosteróides, quimioterápicos, outras drogas e irradiação: Os esteróides interferem na fase precoce da cicatrização: inibem a migração de macrófagos, a proliferação de fibroblastos e a síntese de colágeno e da matriz protéica. Na prática cirúrgica, o tipo, dose e tempo de sua administração apresentam importância no efeito sobre a cicatrização das feridas; Contribuem: vitaminas A,B,C, zinco, ferro, cobre e O2. ¢ Prejudicam: Desnutrição: hipoalbuminemia e vitaminas citadas acima. Má perfusão tecidual. Infecção. Fármacos: corticóides, beta-aminopropionitrila, d-penicilamida e colchicina. Radiação. Diabetes descompensado F. TIPO DE CICATRIZAÇÃO: Qualquer falha ou prolongamento em uma fase pode resultar em retardo da cicatrização ou ausência de fechamento da ferida. Em feridas agudas, as bordas podem ser colocadas em direto contato ou aposição, por meio de suturas ou dispositivos, como Steri-Strips®, ou substâncias, como Dermabond®; este processo é denominado cicatrização por primeira intenção (fechamento primário). As bordas das feridas são aproximadas após poucas horas da injúria, em feridas limpas. Quando feridas agudas são estimuladas a cicatrizarem sem a aposição de suas bordas, como em biópsias cutâneas com punch, queimaduras profundas, feridas infectadas mantidas abertas, o processo é denominado cicatrização por segunda intenção (fechamento secundário). Nesses casos, o tempo necessário para que a reepitelização seja completada depende de vários fatores, incluindo profundidade, localização (feridas na face cicatrizam mais rápido do que de extremidades) e forma geométrica da ferida. O tecido de granulação preenche a ferida, que se contrai e reepiteliza; A ferida é mantida aberta, as bordas aproximam-se pela ação dos miofibroblastos, levando um certo tempo e ocasionando contrações Ocorre fechamento primário retardado e fechamento por terceira intenção ou terciário quando uma ferida aberta é fechada secundariamente, vários dias depois da lesão inicial, geralmente porque houve contaminação durante o trauma ou ato cirúrgico. O exemplo clássico desse tipo de cicatrização é o manuseio da ferida após apendiciteaguda rota supurativa, em que se opta pelo fechamento do peritônio e fáscia, deixando-se abertos pele e tecido subcutâneo, com a realização de curativos diários; quando se observa redução da contaminação, procede-se ao fechamento cutâneo. Ocorre quando a borda da ferida é aproximada após alguns dias de lesão. É Indicada em feridas contaminadas / abertas por muito tempo onde o risco de infecção é alto G. CICATRIZAÇÃO PATOLÓGICA: A inibição de enzimas específicas, como a lisiloxidase, poderia se tomar opção terapêutica, no futuro, para doenças fibróticas, como cicatriz hipertrófica e queloides. • Cicatriz hipertrófica: Elevadas, tensas, pruriginosas, avermelhadas e frequentemente dolorosas. Não ultrapassam os limites da lesão. Apresentam tendência à regressão. • Quelóide: Avermelhados/violáceos, dolorosos e pruriginosos. Forma tumoral e ultrapassa os limites dos traumatismos e inflamações que os originaram. Alta tendência à recidiva após a excisão. Não apresentam tendência à regressão. 2. INFECÇÃO EM FERIDAS A. CLASSIFICAÇÃO DE CIRURGIAS POR POTENCIAL DE INFECÇÃO CIRURGIAS LIMPAS: Realizadas em tecidos estéreis ou passíveis de descontaminação, na ausência de processo infeccioso local ou de falhas técnicas grosseiras. Índice máximo de infecção: 5%. Exemplos: Artroplastia quadril, Cirurgias cardíacas, vasculares e plásticas. CIRURGIAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS : São aquelas realizadas em tecidos colonizados por flora bacteriana pouco numerosa ou de difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local ou falhas técnicas grosseiras. Há contato com trato respiratório, urinário e gastrointestinal. Taxa máxima esperada infecção: 10%. Exemplos: Cirurgias uretra, Cirurgias vias biliares, Histerectomia abdominal CIRURGIAS CONTAMINADAS: Realizadas em tecidos colonizados por flora bacteriana abundante, cuja descontaminação seja difícil ou impossível, bem como aqueles em que tenham ocorrido falhas técnicas grosseiras e na ausência de supuração local. Taxas esperadas infecção: 15% a 20%. Exemplos: Apendicectomia sem supuração, Cirurgia ânus, cólon e reto. Cirurgia vulva e vagina. Fraturas exposta. CIRURGIAS INFECTADAS: Todas intervenções cirúrgicas realizadas em tecidos ou órgãos com presença de processo infeccioso local, bem como feridas traumáticas abertas tardias. Taxa esperada infecção: 28% a 40%. Exemplos: Cirurgia abdominal em presença de conteúdo cólon/pús. Nefrectomia com infecção. Parto normal ou cesárea com bolsa rota há mais de 6 horas. B. ANTIBIOTICOPROFILAXIA • Fazer 60 minutos antes do início da cirurgia. • Dose única ou manter por 24h. • Indicada em cirurgia limpa com colocação de próteses. • Indicados em procedimentos potencialmente contaminados ou contaminados. Antibióticos sistêmicos profiláticos não estão indicados na maioria dos pacientes submetidos a operações limpas, sem contaminação bacteriana óbvia ou sem a inserção de materiais estranhos • Antibiótico mais utilizado: cefazolina e cefalotina C. DEFINIÇÃO DE INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO • INCISIONAL Incisional superficial: Pele e tecido subcutâneo. É aquela que ocorre dentro de 30 dias após a operação, compreendendo, no mínimo, um dos seguintes critérios: l. drenagem purulenta proveniente da parte superficial da incisão operatória (pele e tecido celular subcutâneo), sendo desnecessária a documentação por cultura; 2. isolamento de microorganismos de cultura de fluido ou tecido obtidos assepticamente da camada superficial da ferida; 3. dor ou hipersensibilidade, tumefação, rubor ou calor locais associados à abertura deliberada da incisão superficial pelo cirurgião (ou pelo médico assistente) que a define como infectada (exceto quando a cultura é negativa) Incisional profunda: Tecidos moles profundos no local da incisão. Ex: músculo. É aquela que ocorre dentro de 30 dias depois da operação, ou até um ano após, se houve utilização de implantes sintéticos, e a infecção parece se correlacionar com a operação, compreendendo, no mínimo, um dos seguintes critérios: 1. drenagem purulenta proveniente da parte profunda da incisão operatória (camada subaponeurótica), exceto quando oriunda de espaço/órgão em cavidade corpórea definida 2. deiscência espontânea da camada profunda da incisão operatória (ou sua abertura deliberada por cirurgião), na presença de febre(> 38º C) ou dor localizada ou hipersensibilidade, exceto quando a cultura de fluido ou tecido proveniente dessa camada for negativa; 3. identificação de abscesso ou outra evidência de infecção envolvendo a incisão profunda, pelo exame direto por reoperação e/ou exame histopatológico ou radiológico; 4. o cirurgião (ou o médico assistente) define o diagnóstico de infecção do campo operatório incisional profundo. • ÓRGÃO CAVIDADE: Envolvendo qualquer parte do corpo, que não as camadas da pele incisadas ou manipuladas durante a cirurgia. É aquela que ocorre dentro de 30 dias depois da operação, ou até um ano após, no mínimo, um dos seguintes critérios: 1. drenagem de secreção purulenta proveniente de dreno posicionado em espaços/órgãos de cavidades corpóreas; 2. isolamento de microorganismos por técnica asséptica de cultura, proveniente de fluido ou líquido de espaços/órgãos definidos em cavidades corpóreas; 3. identificação de abscesso ou outra evidência de infecção envolvendo espaços/órgãos em cavidades corpóreas, durante reoperação e/ou por exame histopatológico ou radiológico; 4. diagnóstico de infecção em espaços/órgãos em cavidades corpóreas pelo cirurgião ( ou pelo médico assistente) D. ABSCESSO Infecção localizada com a coleção de pús em uma cavidade/subcutâneo E. DRENAGEM DE ABSCESSO 1. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópico disponível e cubra-a com o campo estéril; 2. Usando a agulha 40 x 12, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 7-10 mg/kg). Troca-se a agulha pela hipodérmica; 3. Uma vez realizada a anestesia, faz-se uma incisão longa e profunda o suficiente ao longo da linha da pele para promover a drenagem espontânea da secreção purulenta. Não adianta fazer pequenas incisões, pois isso pode levar à recidiva dos abscessos; 4. Depois da drenagem espontânea, evite espremer a pele circunjacente, pois pode promover a proliferação da infecção para o tecido subcutâneo adjacente. Coloca-se a pinça hemostática na cavidade, a fim de quebrar as loculações e liberar quaisquer bolsas de material purulento residuais; 5. Irrigue a cavidade com soro fisiológico para limpeza do local; 6. Introduza uma gaze ou um dreno de Penrose no local (se for cutâneo), com 1 a 2 cm para fora da incisão, para permitir drenagem adequada e impedir que a incisão fique selada. Se necessário, pode ser fixado com um ponto simples frouxo de nylon 3.0; F. DEBRIDAMENTO CIRÚRGICO DE LESÕES Retirada de tecido desvitalizado e ajudar no combate à infecção. 02 principais situações: necrose e infecção, queimadura. CASOS 1 - Paciente de 90 anos realizou exérese de tumor de pele em dorso de mão esquerda. No 10º dia de pós-operatório retorna em consulta referindo dor no local da cirurgia e que alguns pontos haviam aberto. Como você classifica esta intercorrência? Qual a conduta a ser tomada? Quais medidas podem ser tomadas para evitar que isto ocorra? O objetivo deste caso é que o aluno possa classificar os tipos de infecção do sítio cirúrgico. Neste caso, é possível observar que há comprometimento apenas da pele e do subcutâneo sendo, portanto, um infecção do sítio cirúrgico incisional superficial. Além de cuidados com curativo, faz-se necessário o uso de antibioticoterapia(ex.cefalexina). Reforçar a importância de rigor com técnica assépticapara prevenção, lembrando também que, além disso, há um fator de risco que é a idade avançada e que é importante também os cuidados que a paciente tenha no pós operatório com curativo e repouso. 2 - Paciente refere que estava realizando tratamento dentário e que começou há 05 dias a evoluir com nódulo doloroso em face, que vem aumentando de tamanho, avermelhado e que está com “febre interna”. À inspeção você encontra a seguinte situação: Qual o seu diagnóstico e conduta? Lesão apresenta-se com flutuação, dor, calor, edema local e eritema, sendo, portanto, um abscesso. Nesta questão a intenção é que seja ensinada ao aluno a forma correta de drenar um abscesso. A intenção é que o procedimento seja demonstrado na pele que utilizamos para treinar suturas, pretendo encher algumas bexigas com leite condensado e ao realizar a incisão haverá a saída do "pus", incisar até a região central do abscesso, realizar a abertura suficiente para drenagem, soltar os septos fibrosos com auxílio de uma pinça ou tesoura, irrigar a lesão com soro fisiológico para limpeza local, colocar dreno e gazes no local. 3 - Paciente chega ao pronto-socorro queixando-se de nodulação dolorosa próximo ao ânus que apareceu há 05 dias. Ao examiná-lo você vê área nodular de 2 cm, com dor e calor local, e área de flutuação. O diagnóstico feito é de abscesso perianal. Como é uma área que você considera delicada e pode sangrar você decide tratar com antibiótico via oral e dá alta para o paciente. Três dias após o paciente retorna em sepse, com o quadro da imagem abaixo. Qual o diagnóstico? Qual a causa? O que fazer? O objetivo do caso é mostrar uma evolução grave de um caso de síndrome de Fournier. O aluno deve perceber que caso não seja capaz de realizar o tratamento adequado no local aonde está atendendo, deve encaminhar o paciente para um hospital de referência para que a drenagem cirúrgica no centro cirúrgico seja realizada e se evite uma evolução do caso. Agora uma leve revisão: a Gangrena de Fournier é uma infecção polimicrobiana causada por microorganismos aeróbios e anaeróbios que, atuando de maneira sinérgica, determinam um fasceite necrotizante acometendo principalmente as regiões genital, perineal e perianal. Esse processo infeccioso através de uma endarterite obliterante leva à trombose dos vasos cutâneos e subcutâneos e conseqüente necrose da pele da região acometida. Os microrganismos mais freqüentemente isolados entre os Gram negativos aeróbios são Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Proteus mirabilis. Entre os aeróbios Gram positivos destacam-se o Staphylococcus aureus, o Staphylococcus epidermidis, Streptococcus viridans e o Streptococcus fecalis. Os anaeróbios estão representados pelo Bacteróides fragilis, Bacteróides melaninogenicus, cocos Gram positivos e Clostridium species (não perfringens) Sem tratamento, o processo pode não só estender-se rapidamente à parede abdominal anterior, à região dorsal, aos membros superiores e ao retroperitônio bem como induzir à sepse, à falência de múltiplos órgãos e à morte. O tratamento clássico da Gangrena de Fournier consiste na imediata correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, ácido- base e hemodinâmicos, antibioticoterapia de largo espectro e desbridamento cirúrgico de emergência. O objetivo do tratamento cirúrgico é remover todo o tecido necrótico, interromper a progressão do processo infeccioso e minimizar os efeitos tóxicos sistêmicos. 4 - Paciente de 55 anos, etilista e diabético, apresenta lesão crônica em hálux esquerdo, porém refere que ultimamente a lesão “piorou”, surgindo hiperemia, dor e calor em todo o seu pé. À inspeção você observa a imagem abaixo. Qual o diagnóstico? Fatores predisponentes? Conduta? À inspeção nota-se que paciente apresenta lesão ulcerada em dorso do pé esquerdo, próximo à base do hálux, sendo que o mesmo possui sinais de isquemia, caracterizando uma importante porta de entrada. Observar o edema e hiperemia no dorso do pé e em região distal da perna, que associados a queixas de dor e hipertermia contribuem com o diagnóstico de celulite. Celulite é uma infecção difusa, com comprometimento das camadas da epiderme, da derme e do subcutâneo, sendo o tratamento para o caso antibioticoterapia e debridamento da ferida em dorso do pé. Pacientes diabéticos não controlados pela vasculopatia, neuropatia e imunossupressão são pacientes de maior risco para desenvolvimento dessa patologia e de suas formas graves.
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