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Gestão pública da água

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DEBATE	
  ÁGUA	
  –	
  Gestão	
  Pública	
  da	
  Água	
  	
  
26	
  de	
  Maio	
  de	
  2013	
  
	
  
Chico	
  Guariba:	
  Essa noite	
  nós	
  vamos	
  estar	
  realizando	
  um	
  debate	
  sobre	
  a	
  questão	
  da	
  água.	
  Onde	
  
nessa	
  temática	
  nós	
  temos	
  seis	
  filmes	
  sobre	
  a	
  água	
  e	
  vamos	
  estar	
  discutindo	
  a	
  gestão	
  pública	
  da	
  
água.	
   Para	
   compor	
   a	
  mesa,	
   eu	
   queria	
   convidar	
   o	
   Francisco	
   Cesar	
   Filho,	
   nosso	
   Chiquinho,	
   que	
  
também	
  é	
  realizador	
  e	
  curador	
  há	
  mais	
  de	
  30	
  anos,	
  curador	
  de	
  mostras	
  de	
  São	
  Paulo	
  há	
  mais	
  de	
  
30	
   anos	
   e	
   responsável	
   pela	
   coordenação	
   de	
   curadoria	
   da	
   Mostra	
   Ecofalante	
   de	
   Cinema	
  
Ambiental.	
  Queria	
  pedir	
  palmas	
  para	
  o	
  Chiquinho.	
  Queria	
  convidar	
  também	
  o	
  professor	
  Pedro	
  
Jacobi	
  da	
  USP,	
  que	
  fez	
  parte	
  da	
  comissão	
  de	
  seleção	
  de	
  filmes	
  da	
  Ecofalante,	
  professor	
  Renato	
  
Tagnin	
  e	
  professor	
  Ladislau	
  Dowbor.	
  Bom,	
  passo	
  a	
  palavra	
  para	
  o	
  Chiquinho,	
  por	
  favor.	
  
	
  
Mediador:	
  Obrigado	
  Chico.	
  Vamos	
  dar	
   início	
  aqui	
  ao	
  3º	
  desses	
  debates	
  em	
  eixos	
  temáticos	
  da	
  
Mostra	
  Ecofalante	
  de	
  Cinema	
  Ambiental.	
  Queria	
  começar	
  passando	
  a	
  palavra	
  para	
  o	
  professor	
  
Pedro	
  Jacobi,	
  inclusive	
  porque	
  ele	
  conhece	
  –	
  pelo	
  processo	
  de	
  seleção	
  aqui,	
  o	
  qual	
  ele	
  fez	
  parte	
  
nesse	
  evento	
  –	
  os	
  filmes	
  que	
  estavam	
  reunidos	
  sobre	
  esse	
  tema	
  água	
  e	
  eu	
  queria	
  que	
  ele	
  falasse	
  
um	
  pouquinho	
  sobre	
  as	
  impressões	
  que	
  ele	
  teve	
  sobre	
  o	
  que	
  esses	
  filmes	
  tratam	
  e	
  como	
  tratam	
  
e	
  como	
  essas	
  questões	
  da	
  água	
  são	
  cada	
  vez	
  mais	
  cruciais	
  para	
  o	
  futuro	
  próximo	
  do	
  ser	
  humano	
  
na	
  Terra.	
  
	
  
Pedro	
  Jacobi:	
  Boa	
  noite,	
  obrigado.	
  É	
  uma	
  enorme	
  satisfação	
  estar	
  aqui	
  e	
  compartilhar	
  também	
  
todo	
   esse	
   processo	
   prévio	
   da	
   seleção	
   do	
   filme,	
   algo	
   extremamente	
   desafiador	
   para	
   quem	
   é	
  
apenas	
   um	
   expectador	
   de	
   cinema.	
   Então,	
   realmente	
   foi	
   um	
  momento	
  muito	
   gostoso,	
   cujo	
   o	
  
resultado	
   nós	
   podemos	
   observar	
   aqui.	
   Bom,	
   eu	
   não	
   fui	
   o	
   único	
   que	
   vi	
   o	
   filme,	
   então	
  
obviamente…	
  De	
  qualquer	
  maneira,	
   eu	
   acho	
  que	
   é	
   interessante	
   se	
   observar	
   a	
   escolha	
   desses	
  
filmes	
  que	
  estão	
  explicitados	
  aqui,	
  eles	
  nos	
  trazem	
  uma	
  diversidade	
  de	
  aspectos	
  e	
  questões,	
  né?	
  
Um	
  dos	
  filmes	
  que	
  eu…	
  Hoje	
  passou	
  o	
  filme	
  Patagônia	
  se	
  Levanta	
  [de	
  Brian	
  Lilla],	
  que	
  trás	
  uma	
  
reflexão	
  daqueles	
  que	
  vão	
  ser	
  afetados	
  diretamente	
  pela	
  construção	
  de	
  hidroelétricas	
  no	
  sul	
  do	
  
Chile	
   e	
   mostra,	
   digamos,	
   a	
   percepção	
   dessas	
   pessoas	
   a	
   partir	
   do	
   entendimento	
   de	
   que	
   isso	
  
poderia	
  ser	
  resolvido	
  de	
  uma	
  outra	
  forma.	
  De	
  que	
  a	
  perda	
  tanto	
  do	
  lugar,	
  de	
  vida,	
  de	
  trabalho,	
  
da	
  identidade	
  acontecerá,	
  caso	
  essas	
  hidroelétricas	
  sejam	
  construídas.	
  É	
  uma	
  região	
  de	
  recursos	
  
naturais	
  fantásticos	
  a	
  Baia	
  do	
  Rio	
  Baker	
  no	
  sul	
  do	
  Chile	
  e	
  é	
  muito	
  bacana	
  o	
  filme,	
  porque	
  ele	
  lida	
  
com	
   os	
   seres	
   comuns,	
   não	
   com	
   pessoas	
   que	
   estão	
   conversando	
   e	
   não	
   necessariamente	
   são	
  
ambientalistas,	
  mas	
  pessoas	
  que	
  têm	
  uma	
  enorme	
  sensibilidade,	
  uma	
  enorme	
  preocupação	
  com	
  
os	
   recursos	
   naturais.	
   É	
   uma	
   empresa	
   que	
   tem	
   tido	
   uma	
   grande	
   polêmica,	
   inclusive	
   porque	
  
originalmente	
  era	
  uma	
  empresa	
  espanhola,	
  hoje	
  em	
  dia	
  ela	
  está	
  sendo	
  vendida.	
  Então,	
  tem	
  uma	
  
série	
   de	
   aspectos	
   que	
   o	
   título	
   chama	
   de	
   uma	
   forma	
   bastante	
   provocativa,	
   Patagônia	
   se	
  
levantando,	
  ou	
  seja,	
  de	
  que	
  as	
  pessoas	
  questionam	
  isso.	
  O	
  outro	
  filme	
  que	
  vamos	
  exibir	
  hoje	
  é	
  a	
  
Crise	
  Global	
   da	
  Água	
   [de	
   Jessica	
   Yu],	
  que	
   faz	
  uma	
  denúncia	
   sobre	
  a	
  questão	
  da	
  água	
  de	
  uma	
  
forma	
   bastante	
   ampla,	
   apresentando	
   um	
   conjunto	
   de	
   pessoas	
   especialistas,	
   que	
   tem	
  
denunciado	
   o	
   tema	
   da	
   água,	
   digamos,	
   vários	
   deles	
   são	
   da	
   área	
   acadêmica,	
   mas	
   uma	
   das	
  
pessoas,	
   uma	
   personagem…	
   Inclusive	
   foi	
   a	
   personagem	
   de	
   um	
   filme	
   cujo	
   o	
   nome	
   tem	
  
exatamente	
  o	
  dela,	
  Erin	
  Brockovich	
  [de	
  Steven	
  Soderbergh],	
  que	
  foi	
  um	
  filme	
  feito	
  há	
  uns	
  10,	
  15	
  
anos	
   atrás	
   e	
   traz	
   essa	
   denúncia	
   sobre	
   a	
   contaminação	
   da	
   água.	
   Ela	
   é	
   uma	
   pessoa	
   que	
   sofre	
  
perseguições.	
   Então,	
   é	
   interessante	
   porque	
   a	
   gente	
   viu	
   esse	
   filme	
   enquanto	
   Julia	
   Roberts,	
  
enquanto	
   atriz	
   e	
   aqui	
   a	
   gente	
   vê	
   a	
   própria	
   Erin	
   Brockovich	
   ainda	
   envolvida	
   diretamente	
   com	
  
essas	
  questões.	
  O	
  outro	
  filme,	
  é	
  um	
  filme	
  que	
  emociona	
  muito	
  e	
  que	
  deixa	
  a	
  gente	
  perplexo	
  ao	
  
mesmo	
  tempo	
  que	
  chama	
  Enchente	
  Não	
  Arranca	
  Raiz	
  [de	
  Caio	
  Cavechini],	
  que	
  é	
  um	
  filme	
  que	
  
trata	
  aqui	
  de	
  uma	
  região	
  muito	
  próxima	
  da	
  gente,	
  o	
  Vale	
  do	
  Ribeira,	
  então	
  é	
  uma	
  região	
  muito	
  
próxima	
  que	
  sofre	
  a	
  cheia.	
  Então	
  basicamente	
  são	
  pessoas	
  que	
  se	
  instalaram	
  ali	
  e,	
  como	
  ontem	
  
foi	
   falado,	
  ou	
  seja,	
  o	
   rio	
   tem	
  seu	
  espaço	
  natural.	
  Claro	
  que	
  nessas	
   regiões	
  o	
   rio	
   tem	
  o	
  espaço	
  
natural	
  muito	
  maior	
  e	
  ele	
  vai	
  ocupando,	
  assim	
  como	
  é	
  o	
  caso	
  do	
  Pantanal,	
  assim	
  como	
  é	
  o	
  caso	
  
da	
   Amazônia.	
   E	
   o	
   filme	
   é	
  muito	
   bonito	
   porque	
   ele	
   também	
   trabalha	
   esses	
   depoimentos	
   das	
  
pessoas	
  que	
  são	
  assim,	
  as	
  pessoas	
  dizem:	
  eu	
  não	
  vou	
  sair	
  daqui	
  porque	
  isso	
  acontece	
  todo	
  ano.	
  
Então,	
  eu	
  perco	
  algumas	
  coisas,	
  mas	
  eu	
  não	
  vou	
  sair.	
  Então,	
  é	
  uma	
  imagem	
  assim,	
  muito	
  forte,	
  
muito	
   bacana,	
   eu	
   recomendo	
   muito	
   que	
   vejam.	
   É	
   um	
   filme	
   brasileiro	
   esse.	
   Agora	
   o	
   Quem	
  
Controla	
   a	
   Água?	
   [de	
   Herdolor	
   Lorenz	
   e	
   Leslie	
   Franke.],	
   que	
   é	
   um	
   filme	
   denúncia,	
   um	
   filme	
  
realmente	
  forte	
  que	
  traz	
  uma	
  denúncia	
  sobre	
  as	
  grandes	
  multinacionais	
  da	
  água	
  a	
  partir	
  do	
  caso	
  
europeu,	
   fala	
  pouco	
  dos	
  países	
  em	
  desenvolvimento,	
  mas	
   fala	
   sobre	
  o	
   caso	
  dos	
  europeus,	
  da	
  
Veolia	
  [Veolia	
  Water]	
  e	
  Suez	
  [Suez	
  Environnement].	
  Então,	
  é	
  um	
  filme	
  com	
  uma	
  denúncia	
  muito	
  
significativa,	
  ele	
  é	
  muito	
  válido	
  porque	
  toca	
  na	
  ferida,	
  toca	
  na	
  jugular	
  esse	
  filme.	
  É	
  um	
  filme	
  que	
  
eu	
  recomendotrabalhar	
  em	
  sala	
  de	
  aula.	
  Torço	
  para	
  que	
  no	
  futuro	
  possam	
  passar	
  esse	
  filme	
  em	
  
sala	
   de	
   aula,	
   porque	
   vale	
   muito	
   a	
   pena.	
   O	
   filme	
   Rio	
   Colorado:	
   O	
   Direito	
   à	
   Água	
   [de	
   Mark	
  
Dacena],	
  é	
  um	
  filme	
  também	
  que	
  aborda	
  a	
  questão	
  das	
  bacias	
  hidrográficas	
  e	
  também	
  o	
  tema	
  
do	
  desafio	
  de	
  viver	
  em	
  harmonia	
  com	
  a	
  natureza.	
  Então	
  é	
  um	
  filme	
  muito	
  bonito,	
  a	
   imagem	
  é	
  
muito	
  bonita,	
  é	
  um	
  filme	
  muito	
  focado	
  nos	
  Estados	
  Unidos	
  –	
  o	
  Rio	
  Colorado	
  atravessa	
  boa	
  parte	
  
dos	
   Estados	
   Unidos	
   –	
   e	
   ele	
   trabalha	
   basicamente	
   com	
   a	
   ideia	
   do	
   direito	
   da	
   água.	
   O	
   Rios	
   de	
  
Homens	
   [de	
  Tin	
  Dirdamal]	
  é	
  um	
   filme	
  extremamente	
   fascinante	
  porque	
  –	
  apesar	
  de	
   trabalhar	
  
um	
   tema	
   muito	
   polêmico,	
   um	
   tema	
   que	
   chama	
   muita	
   atenção,	
   um	
   tema	
   muito	
   importante	
  
sobre	
  o	
  neoliberalismo	
  na	
  gestão	
  da	
  água	
  no	
  caso	
  boliviano,	
  que	
  se	
  denominou	
  com	
  a	
  guerra	
  da	
  
água	
   –	
   ele	
   traz	
   diferentes	
   personagens	
   de	
   uma	
   forma	
   extremante	
   contundente,	
   ou	
   seja,	
  
inclusive	
   depoimento	
   da	
   pessoa	
   que	
   está	
   na	
   frente	
   do	
   comando	
   militar	
   e	
   que,	
   a	
   partir	
   do	
  
segundo	
   dia,	
   ele	
   pede	
   o	
   afastamento,	
   porque	
   não	
   concorda	
   com	
  o	
  método	
   –	
   já	
   tinha	
   havido	
  
uma	
  morte.	
   E,	
   de	
   fato,	
   é	
   um	
   grande	
   imbróglio	
   tudo	
   isso.	
   Até	
   a	
   pessoa	
  mais	
   radical,	
   como	
   o	
  
Pedro	
  Arrojo,	
  que	
  é	
  uma	
  das	
  novas	
  pessoas	
  importantes	
  na	
  nova	
  cultura	
  da	
  água,	
  ele	
  diz	
  quanta	
  
manipulação	
   houve	
   de	
   todos	
   os	
   lados.	
   É	
   um	
   tema	
   altamente	
   polemico,	
   porque	
   se	
   privatiza	
   a	
  
empresa	
  em	
  nome	
  da	
  construção	
  de	
  uma	
  represa	
  que	
  garante	
  água,	
  mas	
  surgem	
  fatos	
  curiosos	
  
como	
   os	
  movimentos	
   sociais	
   ou	
   a	
   comunidade	
   dizendo	
   que	
   aceita	
   que	
   a	
   água	
   da	
   chuva	
   seja	
  
privatizada.	
  Então,	
  traz	
  todo	
  um	
  embate	
  extremamente	
  interessante,	
  extremamente	
  original	
  ao	
  
mesmo	
  tempo	
  que	
  pungente,	
  porque	
  ele	
  lida	
  com	
  entrevistas	
  de	
  pessoas	
  que	
  perderam	
  filhos,	
  
pessoas	
  cuja	
  carreira	
  dentro	
  do	
  sistema	
  militar	
  foi	
  desfeita	
  e	
  uma	
  série	
  de	
  atores	
  extremamente	
  
importantes.	
   Então,	
  quero	
   com	
   isso	
  dizer,	
   já	
  que	
  você	
  pediu	
   isso	
  Chiquinho,	
  o	
  esforço	
   foi	
  por	
  
trabalhar	
  com	
  a	
  diversidade	
  e	
  não	
  ficar	
  somente	
  numa	
  questão	
  só	
  que	
  seja	
  do	
  questionamento,	
  
porque	
  a	
  água,	
  realmente…	
  é	
  muito	
  fácil	
  trazer	
  apenas	
  a	
  discussão	
  sobre	
  o	
  questionamento	
  da	
  
privatização,	
   mas	
   a	
   importância	
   maior	
   é	
   realmente	
   o	
   fortalecimento	
   das	
   práticas	
   sociais,	
   o	
  
fortalecimento	
  dos	
  movimentos	
  das	
  comunidade	
  em	
  defender	
  o	
  direto	
  à	
  água	
  de	
  um	
  lado	
  para	
  
garantir	
   que	
   a	
   água	
   continue	
   um	
   serviço	
   publico,	
   apesar	
   de	
   todos	
   esses	
   contraditórios,	
   e,	
  
fundamentalmente,	
  sensibilizar	
  as	
  pessoas	
  para	
  o	
  fato	
  de	
  que	
  a	
  água	
  é	
  um	
  bem	
  finito.	
  
	
  
Chico:	
   Muito	
   bem.	
   Obrigado	
   professor	
   Pedro.	
   Eu	
   queria	
   passar	
   a	
   palavra	
   para	
   o	
   professor	
  
Renato	
   Tagnin.	
   Esse	
   tema,	
   ele	
   é	
   muito	
   sensível	
   e	
   cada	
   vez	
   mais	
   grave,	
   a	
   gente	
   tem	
   várias	
  
previsões,	
   várias	
   distopias	
   de	
   que	
   a	
   água,	
   como	
   falaram	
   ontem	
   aqui	
   na	
   mesa,	
   vai	
   ser	
   o	
  
verdadeiro	
  ouro	
  azul,	
  vai	
  ser	
  a	
  coisa	
  mais	
  valiosa	
  do	
  planeta	
  e	
  talvez	
  tenhamos	
  que	
  pagar	
  muito	
  
caro	
  por	
  ela.	
  Professor,	
  eu	
  queria	
  ouvir	
  um	
  pouquinho	
  sobre	
  esse	
  assunto.	
  
 
Renato	
  Tagnin:	
  Boa	
  Noite	
  a	
  todos,	
  é	
  um	
  prazer	
  estar	
  aqui	
  discutindo	
  esse	
  tema	
  tão	
  importante.	
  
Eu	
  tive	
  a	
  oportunidade	
  de	
  ver	
  esses	
  4	
  filmes,	
  eu	
  vi	
  de	
  ontem	
  para	
  hoje,	
  e	
  estou,	
  assim,	
  com	
  o	
  
coração	
  apertado.	
  Apesar	
  de	
  a	
  gente	
  trabalhar	
  essa	
  questão	
  de	
  várias	
  dimensões,	
  do	
  ponto	
  de	
  
vista	
   técnico,	
   inclusive	
   sensível,	
   com	
  questão	
  da	
  educação	
  ambiental.	
  Não	
   traz	
  novidade,	
  mas	
  
pressiona	
  por	
  aquelas	
  conhecidas.	
  Uma	
  coisa	
  que	
  a	
  gente	
  tem	
  comentado	
  e	
  –	
  o	
  filme	
  traz	
  para	
  
nós	
  esses	
  vários	
  pólos	
  que	
  o	
  Pedro	
  identificou,	
  pólos	
  de	
  interesse	
  em	
  relação	
  a	
  água	
  –	
  fica	
  claro	
  	
  
o	
  quanto	
  a	
  gente	
  não	
  se	
  apodera	
  da	
  água	
  e	
  como	
  ela	
  se	
  apodera	
  de	
  nós.	
  Nós	
  somos	
  70%	
  feitos	
  
de	
  água,	
  não	
  há	
  nada	
  na	
  vida	
  que	
  prescinda,	
  ela	
  circula	
  por	
  todo	
  o	
  espaço	
  movida	
  pelo	
  Sol,	
  dilui	
  
tudo,	
   arrasta	
   tudo	
   consigo.	
   Então,	
   o	
   importante	
   é	
   a	
   gente	
   se	
   entender	
   nesse	
   processo,	
   fica	
  
muito	
   difícil	
   se	
   colocar	
   cavaleiro	
   nesse	
   processo	
   ou	
   espectador	
   o	
   tempo	
   todo.	
   Então,	
   ela	
   nos	
  
constitui.	
  Não	
  se	
  trata	
  de	
  uma	
  intelectualização	
  de	
  saber	
  que	
  com	
  a	
  água	
  talvez	
  ocorra	
  isso	
  ou	
  
aquilo	
  com	
  ela.	
  Nós	
  estamos	
  nessa	
  dança	
  e	
  dentro	
  dessa	
  dança:	
  qual	
  é	
  o	
  click	
  em	
  que	
  ela	
  nos	
  
conecta	
   a	
   ela	
   mesma	
   de	
   forma	
   consciente?	
   É	
   claro	
   que	
   não	
   faltam	
   	
   maneiras	
   de	
   a	
   gente	
  
devanear	
  e	
  pensar	
  em	
  coisas	
  pouco	
  essenciais,	
  desde	
  que	
  a	
  mídia	
  nos	
  oferece	
  nos	
  noticiários	
  e	
  
etc.,	
   que	
   nos	
   desliga	
   de	
   questões	
   importantes.	
   Eu	
   estava	
   até	
   brincando	
   com	
   o	
   Ladislau	
   que	
  
domingo	
   à	
   noite	
   a	
   gente	
   ainda	
   está	
   curtindo	
   o	
   fim	
   de	
   semana,	
   nós	
   estamos	
   antecipando	
   a	
  
segunda-­‐feira	
   para	
   a	
  maioria	
   das	
   pessoas.	
   Então,	
   trata-­‐se	
   disso	
   no	
   final.	
   Somos	
   poucos	
   a	
   nos	
  
preocuparmos,	
  essa	
  é	
  a	
  aflição.	
  Quando	
  a	
  gente	
  vê	
  a	
  Erin	
  Brockovich	
  entrevistando	
  as	
  pessoas,	
  
dando	
  notícias	
  a	
  elas	
  que	
  sim,	
  nós	
  temos	
  um	
  problema	
  e	
  que	
  a	
  agência	
  ambiental	
  não	
  está	
  aí,	
  
ela	
  não	
  é	
  parte	
  da	
  solução,	
  ou	
  seja,	
  nós	
  estamos	
  por	
  nossa	
  conta,	
  é	
  chocante.	
  É	
  chocante	
  ouvir	
  
isso,	
  ainda	
  mais,	
  em	
  especial,	
  quando	
  a	
  gente	
  tem	
  os	
  Estados	
  Unidos	
  como	
  paradigmáticos	
  em	
  
muita	
  coisa,	
   inclusive	
  na	
  gestão	
  do	
  meio	
  ambiente.	
  Se	
  a	
  gente	
  fizer	
  daí	
  uma	
  regra	
  de	
  três:	
  em	
  
que	
  ponto	
  nós	
   estaríamos	
  nessa	
   curva	
  de	
   confiabilidade	
  ou	
   sendo	
   cuidados	
  por	
   alguém?	
  Nós	
  
estamos	
   por	
   nossa	
   conta	
   aqui	
   também	
  e	
   aindamais.	
   Então,	
   a	
   gente	
   se	
   pergunta	
   sempre	
   e	
   a	
  
gente	
  lida	
  com	
  vários	
  públicos,	
  em	
  especial,	
  os	
  universitários,	
  o	
  desconhecimento	
  em	
  relação	
  à	
  
água	
  aqui	
  onde	
  nós	
  estamos	
  é	
  gigante.	
  As	
  pessoas,	
  aqui	
  onde	
  nós	
  estamos,	
  não	
  sabem	
  que	
  tem	
  
a	
  possibilidade	
  de	
   se	
   fazer	
   representar	
  num	
  comitê	
  de	
  bacia,	
  não	
   sabem	
  qual	
  é	
  a	
   situação	
  da	
  
água	
  e	
  recebem	
  a	
  informação	
  de	
  que	
  se	
  parar	
  e	
  fechar	
  a	
  torneira	
  enquanto	
  escova	
  os	
  dentes,	
  se	
  
tomar	
  um	
  banho	
  mais	
  curto,	
  está	
  tudo	
  resolvido.	
  Mas	
  a	
  situação	
  aqui	
  é	
  uma	
  calamidade,	
  isso	
  eu	
  
estou	
  usando	
  um	
  termo	
  técnico,	
  é	
  uma	
  calamidade,	
  uma	
  temeridade.	
  A	
  gente	
  vem	
  estudando	
  a	
  
região	
  metropolitana,	
   que	
   tem	
  uma	
   escassez	
   de	
   água	
   sem	
  paralelo	
   no	
   Brasil	
   e	
   que	
   jamais	
   se	
  
resolverá	
  enquanto	
  fechamos	
  a	
  torneira	
  para	
  escovar	
  os	
  dentes,	
   jamais.	
  Então,	
  fica	
  a	
  questão:	
  
bom,	
  como	
  essa	
  informação	
  vai	
  chegar	
  a	
  todos	
  se	
  pela	
  mídia	
  não	
  chega?	
  Se	
  chega	
  visada	
  a	
  esse	
  
ponto?	
   E	
   vendo	
   as	
   obras	
   políticas	
   que	
   estão	
   envolvidas	
   para	
   resolver	
   esses	
   problemas	
   de	
  
escassez	
  de	
  água,	
  a	
  gente	
  vê	
  que	
  agora	
  a	
  preocupação	
  já	
  não	
  é	
  mais	
  nem	
  com	
  a	
  metrópole,	
  é	
  
com	
   a	
   macrometrópole.	
   Nós	
   temos	
   agora	
   quatro	
   regiões	
   metropolitanas	
   aqui	
   vizinhas:	
   a	
  
Baixada	
  Santista,	
  a	
  nossa;	
  a	
  de	
  Campinas;	
  a	
  do	
  Vale	
  do	
  Paraíba;	
  e,	
  temos	
  ainda	
  as	
  aglomerações	
  
vizinhas	
   entre	
   nós	
   e	
   Campinas,	
   a	
   região	
   de	
   Sorocaba.	
   Ou	
   seja,	
   é	
   uma	
   região	
   que	
   está	
   se	
  
adensando	
  e	
  já	
  não	
  é	
  de	
  hoje,	
  onde	
  a	
  população	
  cresce	
  num	
  ritmo	
  extraordinariamente	
  maior	
  
do	
  que	
  o	
  da	
  metrópole.	
  A	
  metrópole	
  tem	
  crescido	
  num	
  nível	
  mais	
  baixo	
  de	
  sua	
  história,	
  mas	
  o	
  
crescimento	
  está	
  se	
  dando	
  fora,	
  e	
  está	
  se	
  dando	
  onde	
  seriam	
  os	
  nossos	
  mananciais,	
  ou	
  seja,	
  de	
  
onde	
  a	
   água	
  proviria.	
   Então,	
   agora	
   vai	
   se	
   radicalizar	
   uma	
   situação	
  que	
   já	
   vivemos	
  que	
  é	
   a	
  do	
  
cobertor	
  curto,	
  porque	
  nós	
  disputamos	
  água	
  com	
  todas	
  essas	
  regiões	
  e	
  em	
  geral	
  numa	
  situação	
  
muito	
  desfavoráveis	
  para	
  elas,	
  porque	
  a	
  gente	
  retira	
  delas	
  a	
  água	
  de	
  melhor	
  qualidade	
  e	
  a	
  gente	
  
entrega	
  o	
  Tietê,	
  né?	
  Entrega	
  uma	
  periferia	
  que	
  está	
  na	
  cabeceira	
  de	
  outras.	
  E	
  analisando	
  essa	
  
região	
  macrometropolitana,	
  que	
  envolve	
  80%	
  da	
  população	
  do	
  estado,	
  a	
  gente	
  nota	
  que	
  uma	
  
cidade	
  é	
  manancial	
  da	
  outra,	
  ou	
  seja,	
  uma	
  cidade	
  faz	
  xixi	
  na	
  água	
  que	
  a	
  outra	
  vai	
  beber,	
  e	
  assim,	
  
e	
  assim,	
  e	
  assim.	
  Na	
  região	
  de	
  Campinas,	
  a	
  gente	
  tem	
  cidades	
  que	
  recebem	
  meia	
  dúzia	
  de	
  xixis	
  
cumulativamente,	
   né?	
   E	
   uma	
   coisa	
   que	
   preocupa,	
   que	
   aparece	
   no	
   filme	
   também,	
   é	
   que	
   os	
  
compostos	
   orgânicos	
   sintéticos,	
   os	
   compostos	
   químicos,	
   aquele	
   produto	
   de	
   limpeza	
   que	
   não	
  
precisa	
  nem	
  de	
  água	
  para	
  limpar	
  um	
  vidro,	
  aquela	
  magia,	
  tudo	
  isso	
  que	
  vem	
  sendo	
  criado	
  num	
  
ritmo	
   muito	
   frenético,	
   não	
   tem	
   controles	
   quaisquer,	
   não	
   é?	
   Então,	
   essa	
   água	
   da	
   gente…	
   a	
  
melhor	
  notícia	
  é	
  que	
  a	
  gente	
  está	
  bebendo	
  o	
  xixi	
  do	
  outro,	
  essa	
  é	
  a	
  melhor	
  notícia.	
  Pelo	
  menos	
  é	
  
coisa	
   conhecida	
   do	
   cotidiano.	
  Mas	
   os	
   fármacos,	
   os	
   hormônios,	
   os	
   remédios	
   –	
   que	
   inclusive	
   é	
  
abordado	
  em	
  parte	
  no	
  filme	
  –	
  o	
  que	
  a	
  gente	
  toma,	
  a	
  maior	
  parte	
  é	
  liberada	
  e	
  passa,	
  quando	
  é	
  
tratado	
  o	
  esgoto	
  passa,	
  quando	
  é	
  tratada	
  a	
  água	
  passa.	
  E	
  isso	
  está	
  mudando	
  não	
  só	
  o	
  sexo	
  dos	
  
peixes	
   e	
   sabe	
   Deus	
   o	
   que	
   mais,	
   porque	
   aquilo	
   é	
   um	
   disruptor,	
   ele	
   vai	
   alterando	
  
cumulativamente.	
  Então,	
  essa	
  situação	
  que	
  nós	
  estamos	
  está	
  tendo	
  como	
  receita	
  fazer	
  o	
  quê?	
  
Recuperar	
   essas	
   áreas?	
   Recuperar	
   essas	
   águas?	
  Ou	
   não?	
   Fazer	
   aquelas	
   obras	
   de	
   saneamento	
  
naquele	
  ritmo	
  que	
  a	
  gente	
  conhece	
  que	
  não	
  acaba	
  nunca,	
  por	
  especialistas	
  com	
  os	
  orçamentos	
  
elásticos,	
  prazos	
  mais	
  elásticos	
  ainda.	
  Mas,	
  por	
  outro	
  lado,	
  a	
  solução	
  é	
  irmos	
  buscar	
  água	
  cada	
  
vez	
  mais	
   longe.	
  Aí	
  é	
  uma	
  conta	
  que	
  não	
  fecha,	
  porque	
  a	
  gente	
  vai	
  sempre	
  mais	
   longe.	
  O	
  mais	
  
longe…	
  a	
  notícia	
   ruim	
  que	
  a	
  gente	
  está	
  estudando	
  agora	
  é	
  que	
  no	
  mais	
   longe	
   tem	
  gente	
  que	
  
bebe	
  aquela	
  água,	
  tem	
  gado	
  que	
  também	
  bebe,	
  tem	
  agroindústria,	
  a	
  cana,	
  e	
  ainda	
  mais	
  com	
  a	
  
bombada	
   do	
   Etanol	
   que	
   está	
   jogando	
   esse	
   restilo	
   e	
   outras	
   substâncias	
   derivadas	
   do	
   seu	
  
processo	
   produtivo	
   no	
   solo,	
   para	
   fertilização,	
   chama-­‐se,	
   e	
   que	
   isso	
   contamina	
   o	
   Aquífero	
  
Guarani	
  e	
  outros.	
  Daí,	
  de	
  onde	
  nós	
  vamos	
   tirar	
  água?	
  Então,	
   vejam,	
  olhando	
  esse	
  quadro	
  um	
  
pouco	
  maior,	
  não	
  temos	
  esse	
  outro	
  lugar	
  onde	
  buscar,	
  né?	
  E	
  é	
  interessante	
  ver	
  que	
  nos	
  filmes	
  
que	
   estão	
   passando,	
   nesses	
   últimos,	
   também	
  mostra	
   que	
   a	
   solução,	
   no	
   caso	
   da	
   Patagônia,	
   é	
  
buscar	
  água	
  ou	
  energia	
  cada	
  vez	
  mais	
   longe,	
  mas	
  nunca	
  se	
   faz	
  uma	
  conta	
  para	
  dentro,	
  né?	
  O	
  
que	
  a	
  gente	
  poderia…	
  como	
  nós	
  poderíamos	
  nos	
  comportar	
  diferentemente?	
  E	
   isso	
  não	
  basta	
  
nos	
  hábitos	
  domésticos,	
  mas	
  também	
  nos	
  hábitos	
  de	
  consumo,	
  porque	
  a	
  gente	
  sabe	
  que	
  a	
  água	
  
virtual,	
   que	
   a	
   água	
   que	
   é	
   usada	
   para	
   produzir	
   uma	
   coisa	
   que	
   eventualmente	
   nem	
   tem	
   água	
  
incorporada	
   fisicamente	
   nela,	
   como	
   o	
   papel,	
   são	
   produtos	
   que	
   tem	
   uma	
   conta	
   enorme	
   para	
  
serem	
   produzidos	
   em	
   termos	
   de	
   água.	
   Então,	
   a	
   questão	
   é	
   que	
   nós	
   teríamos	
   que	
   ter	
   uma	
  
compreensão	
  ainda	
  maior	
  e	
  é	
  evidente	
  que	
  todas	
  essas	
  informações	
  as	
  quais	
  a	
  gente	
  fala	
  aqui,	
  
filmes	
  falam,	
   já	
  são	
  apropriadas	
  e	
  conhecidas	
  pelos	
  governos,	
  elas	
  são	
  conhecidas.	
   Inclusive,	
  a	
  
gente	
  trabalha	
  com	
  documentos	
  oficiais,	
  então	
  essas	
  informações	
  estão	
  ali.	
  Mas	
  estão	
  conosco	
  
em	
   forma	
   de	
   processo	
   de	
   decisão?	
   Informa	
   nossa	
   atitude?	
   Não,	
   porque	
   justamente	
   se	
   eu	
  
quisesse	
   que	
   nadaacontecesse,	
   eu	
   iria	
   colocar	
   umas	
   pinças	
   justamente	
   nos	
   canais	
   de	
  
informação.	
  Pronto,	
  está	
  resolvido.	
  Porque	
  eu	
  cortei	
  a	
  informação,	
  eu	
  deixei	
  alimentar	
  qualquer	
  
hipótese	
   de…	
   não	
   diria	
   nem	
   consciência,	
   mas	
   de	
   pelo	
   menos	
   reflexão.	
   Daí,	
   essa	
   questão	
   é	
  
desafiadora,	
   inclusive	
  das	
  ONGs	
  e	
  de	
   todos	
  que	
   já	
   trabalham	
  nisso:	
  é	
  como	
  dar	
  escala?	
  Como	
  
conseguir	
  fazer	
  de	
  alguns	
  um	
  movimento	
  –	
  que	
  não	
  precisa	
  chegar	
  em	
  vias	
  de	
  fato,	
  como	
  foi	
  a	
  
guerra	
  da	
  água	
  –	
  poderia	
  já	
  ir	
  alterando	
  nossos	
  hábitos	
  de	
  consume.	
  E	
  daí	
  nós	
  colocaríamos	
  as	
  
pinças	
  no	
  sistema	
  que	
  é:	
  não	
  consumo	
  isso,	
  não	
  quero	
  aquilo	
  e	
  etc.	
  Então,	
  com	
  alguns	
  clipes	
  a	
  
gente	
   conseguiria	
   estancar	
   o	
   processo	
   produtivo,	
   os	
   processos	
   decisórios	
   e	
   etc.	
   A	
   famosa	
  
desobediência	
   civil,	
   que	
   aliás	
   foi	
   vitoriosa	
   até	
   na	
   Índia,	
   onde	
   poderia	
   se	
   crer	
   que	
   isso	
   não	
  
ocorresse,	
  e	
  também	
  nos	
  movimentos	
  negros	
  americanos	
  com	
  o	
  Martin	
  Luther	
  King,	
  quando	
  os	
  
negros	
  simplesmente	
  disseram:	
  não	
  vou.	
  Não	
  posso	
  entrar	
  no	
  ônibus?	
  Não	
  posso	
  ir	
  na	
  frente?	
  
Não	
  vou	
  andar	
  de	
  ônibus.	
  Pronto	
  acabou,	
  a	
  casa	
  caiu.	
  Mas	
  pra	
  gente	
  chegar	
  a	
  algo	
  parecido	
  com	
  
isso,	
  a	
  gente	
  tem	
  que	
  compartilhar,	
  né?	
  Eu	
  estava	
  conversando	
  com	
  o	
  Pedro	
  que	
  cada	
  vez	
  mais	
  
nós	
   temos	
   que	
   colocar	
   nossas	
   inteligências	
   para	
   trabalhar	
   em	
   rede,	
   né?	
   Ou	
   seja,	
   criar	
   pelo	
  
diálogo,	
  criar	
  pelo	
  movimento	
  passivo,	
  de	
  paz,	
  diálogo	
  mesmo,	
  alternativas,	
  e	
  tentar	
  descobrir	
  
juntos	
   	
   caminhos	
   eficazes.	
   Porque	
   minorias	
   nós	
   já	
   somos	
   em	
   termos	
   de	
   poderio,	
   né?	
   As	
  
corporações	
  e	
  etc.	
  são	
  notórias	
  e	
  conhecidas	
  de	
  todos	
  e	
  os	
  governos	
  idem.	
  Não	
  estão	
  falando	
  a	
  
nossa	
  língua,	
  estão	
  suprimindo	
  informação	
  que	
  nos	
  é	
  vital,	
  sem	
  figura	
  de	
  retórica,	
  vital	
  porque	
  a	
  
água	
  é	
  vital.	
   Então,	
  o	
  que	
   fazer?	
  As	
   redes	
   sociais	
  mapeiam	
  e	
  nos	
  dão	
  boas	
  esperanças,	
  né?	
  A	
  
gente	
   esteve	
   na	
   Cúpula	
   dos	
   Povos	
   no	
   ano	
   passado,	
   no	
  Rio	
   de	
   Janeiro,	
   e	
   foi	
   possível	
   ver	
   que,	
  
ainda	
   que	
   poucos,	
   como	
   que	
   em	
   diferentes	
   pontos	
   do	
   planeta,	
   há	
   movimentos	
   que	
   pela	
  
conexão	
  tentam	
  se	
  empoderar.	
  Mas	
  evidentemente	
  que	
  é	
  desproporcional	
  ainda.	
  Movimentos	
  
muito	
   interessantes	
   e	
   etc.	
   Valeria	
   a	
   pena	
   a	
   gente	
   tentar	
   descobrir,	
   tentar	
   ampliar	
   essas	
  
vertentes	
   e	
   acho	
   que	
   esse	
  movimento	
   da	
   Ecofalante	
   é	
  muito	
   produtivo	
   e	
   é	
  mais	
   um	
   esforço	
  
bacana	
  para	
  isso,	
  obrigado.	
  
	
  
Mediador:	
  Obrigado	
  professor.	
  Passamos	
  agora	
  a	
  palavra	
  ao	
  Ladislau.	
  É,	
  o	
  quadro	
  parece	
  muito	
  
negro.	
  Professor,	
  a	
  gente	
  pode	
  ter	
  algum	
  tipo	
  de	
  esperança	
  de	
  que	
  os	
  nossos	
  netos	
  não	
  vão…?	
  
	
  
Ladislau	
  Dowbor:	
  Eu	
  acho	
  que	
  esse	
  tipo	
  de	
  discussão	
  não	
  deveria	
  ser	
  feita	
  no	
  domingo	
  a	
  noite.	
  
Enfim,	
  no	
  meio	
  da	
  semana	
  talvez.	
  
	
  
Pedro:	
  É	
  muito	
  sério	
  demais.	
  
	
  
Ladislau:	
  Numa	
  sexta-­‐feira…	
  Deixa	
  eu	
  comentar	
  um	
  pouco.	
  Primeiro	
  que	
  a	
  gente,	
   junto	
  com	
  o	
  
Pedro	
  e	
  com	
  o	
  Renato,	
  a	
  gente	
  fez	
  um	
  livro	
  que	
  é	
  simpático,	
  tá	
  saindo	
  uma	
  reedição	
  agora,	
  né?	
  
Que	
  é	
  Administrando	
  a	
  Água	
  Como	
  se	
  Fosse	
   Importante	
   [Editora	
  Senac	
  Nacional].	
   É	
  um	
   título	
  
legal,	
   né?	
   O	
   título	
   já	
   vem	
   com	
   um	
   pouco	
   da	
   nossa	
   convicção	
   desses	
   processos,	
   né?	
   Eu	
   sou	
  
economista,	
   trabalho	
   muito	
   com	
   planejamento,	
   trabalhei	
   em	
   muitos	
   países	
   no	
   quadro	
   das	
  
nações	
   unidas	
   e	
   o	
   que	
   a	
   gente	
   mais	
   faz	
   em	
   planejamento	
   é	
   a	
   chamada	
   matriz,	
   quer	
   dizer,	
  
qualquer	
   produto	
   você	
   tem	
   a	
   sua	
   produção	
   e	
   você	
   tem	
   o	
   uso,	
   né?	
   Se	
   isso	
   não	
   equilibra,	
  
esquece,	
   né?	
   Estava	
   até	
   esse	
   filme	
   da	
   Patagônia	
   mencionando	
   que	
   você	
   tem	
   tal	
  	
  
desenvolvimento	
   da	
   população,	
   tanta	
   energia	
   que	
   você	
   vai	
   precisar	
   e	
   como	
   é	
   que	
   você	
   faz?	
  
Então,	
  é	
  esses	
  os	
  equilíbrios	
  que	
  se	
  busca.	
  Agora,	
  para	
  buscar	
  esses	
  equilíbrios,	
  nós	
  precisamos	
  
de	
   governança.	
  O	
  que	
  o	
  Renato	
  mencionou	
  aqui,	
   o	
  processo	
  decisório	
   é	
   central.	
   É	
   realmente	
  
sabido	
  de	
  quais	
  são	
  as	
  soluções	
  e	
  quais	
  são	
  as	
  necessidades.	
  E	
  há	
  soluções	
  e	
  há	
  necessidades	
  na	
  
energia,	
  na	
  água	
  e	
  etc.	
  É	
  bastante	
  evidente,	
  como	
  ele	
  disse,	
  os	
  problemas	
  são	
  conhecidos,	
  né?	
  O	
  
problema	
  é	
  o	
  processo	
  decisório,	
  é	
  a	
  governança,	
  né?	
  Vou	
  dar	
  um	
  exemplo	
  do	
  FriBoi,	
  porque	
  
recentemente	
   saiu	
   um	
   estudo	
   sobre	
   como	
   se	
   tomar	
   decisões.	
   Então	
   a	
   FriBoi,	
   como	
   vocês	
  
conhecem,	
  é	
  o	
  maior	
  matadouro,	
  um	
  dos	
  grandes	
  produtores	
  mundiais	
  aqui,	
  e	
  eles	
  bancaram	
  a	
  
eleição	
   de	
   41	
   deputados	
   federais	
   e	
   de	
   7	
   senadores.	
   Legal,	
   né?	
   Por	
   alguma	
   misteriosa	
  
coincidência,	
   dos	
   41	
   deputados	
   federais,	
   40	
   votaram	
   para	
   reduzir	
   o	
   código	
   florestal,	
   ou	
   seja,	
  
libera,	
   em	
   grande	
   parte	
   inclusive,	
   as	
   matas	
   ciliares	
   que	
   tem	
   tudo	
   a	
   ver	
   com	
   a	
   água.	
   Mas	
   o	
  
exemplo	
  é:	
  não	
  é	
  por	
  causa	
  da	
  água,	
  é	
  por	
  causa	
  disso.	
  Quer	
  dizer,	
  nós	
  temos	
  uma	
  apropriação	
  
corporativa	
  que	
  tem	
  uma	
  decisão	
  política	
  e	
  aí	
  você	
  quer	
  que	
  o	
  político	
  vá	
  contra	
  os	
   interesses	
  
coorporativos,	
   né?	
   Enquanto	
   a	
   gente	
   tiver	
   esse	
   tipo	
   de	
   financiamento…	
   Isso	
   foi	
   instalado	
   no	
  
Brasil,	
  essa	
  abertura	
  das	
  corporações	
  financiarem	
  as	
  eleições	
  até	
  2%	
  do	
  seu	
  capital	
  por	
  ano	
  ou	
  
até	
  violar	
  a	
  eleição,	
  então	
  surge	
  rígidas	
  leis	
  dos	
  recursos,	
  né?	
  Onde	
  eu	
  sei,	
  em	
  1997,	
  a	
  partir	
  daí	
  
você	
  tem	
  uma	
  avalanche	
  que	
  é	
  paralela	
  a	
  que	
  se	
  tem	
  nos	
  Estados	
  Unidos,	
  que	
  é	
  essa	
  de	
  2007,	
  
quando	
   se	
   autorizou	
   as	
   corporações	
   a	
   bancarem	
   as	
   propagandas	
   eleitorais.	
   O	
   juiz	
   tomou	
   a	
  
decisão	
  e	
  disse	
  que	
  autorizava	
  isso	
  em	
  nome	
  da	
  liberdade	
  de	
  expressão.	
  A	
  Hazel	
  Henderson,	
  que	
  
é	
   uma	
   brilhante	
   economista	
   Americana	
   –	
   ela	
   é	
   britânicana	
   verdade,	
   mas	
   está	
   nos	
   Estados	
  
Unidos	
  –	
  ela	
  disse:	
  nós	
   temos	
  o	
  melhor	
  congresso	
  que	
  o	
  nosso	
  dinheiro	
  pode	
  comprar.	
  Nesse	
  
sentido,	
  eu	
  acho	
  que	
  tem	
  um	
  (?),	
  digamos	
  nessa	
  problemática,	
  que	
  é	
  da	
  governança.	
  Eu	
  mesmo	
  
produzi	
   um	
   livro	
   chamado	
  Democracia	
   Econômica	
   [Editora	
  Vozes]	
   –	
   vocês	
   podem	
  pegar,	
   é	
   só	
  
colocar	
   no	
   Google	
   Ladislau	
   lá,	
   que	
   chama	
   Democracia	
   Econômica	
   –	
   os	
   próprios	
   processos	
  
econômicos	
  tem	
  que	
  ser	
  democratizados,	
  né?	
  Quer	
  dizer,	
  a	
  gente	
  não	
  tem	
  acesso,	
  a	
  gente	
  não	
  
tem	
   transparência	
   no	
  mundo	
   coorporativo,	
   ou	
   seja,	
   o	
  mundo	
   coorporativo	
   está	
   assumindo	
   o	
  
poder	
  monetário,	
  né?	
  E	
  evidentemente,	
  no	
  nosso	
   congresso	
  nós	
   temos	
  a	
  bancada	
   ruralista,	
   a	
  
bancada	
  dos	
  grandes	
  bancos,	
  a	
  bancada	
  das	
  grandes	
  mídias,	
  das	
  quatro	
  famílias,	
  a	
  bancada	
  das	
  
sete	
  empreiteiras	
  e	
  a	
  gente	
  fica	
  procurando	
  a	
  bancada	
  do	
  cidadão,	
  né?	
  Bora	
  procurar	
  o	
  Suplicy	
  e	
  
meia	
  dúzia	
  aqui	
  de	
  deputado.	
  Estou	
  exagerando	
  um	
  pouco,	
  mas	
  nem	
  tanto	
  assim,	
  na	
  realidade,	
  
né?	
  Sem	
  falar	
  do	
  judiciário.	
  Então,	
  eu	
  acho	
  que	
  esse	
  resgate,	
  eu	
  chamo	
  de	
  resgate	
  da	
  dimensão	
  
pública	
  do	
  Estado,	
  eu	
  acho	
  que	
  é	
  absolutamente	
  vital.	
  Não	
  é	
  burocracia,	
  não	
  é	
  isso	
  ou	
  aquilo.	
  É	
  a	
  
dimensão	
  propriamente	
  pública	
  do	
  Estado.	
  Deixa	
  eu	
  mencionar	
  também,	
  o	
  desafio	
  é	
  planetário	
  
sobre	
  a	
  gestão	
  dos	
  bens	
  comuns.	
  Eu,	
  por	
  exemplo,	
  trabalhava	
  na	
  África	
  Ocidental	
  e	
  a	
  pedido	
  do	
  
governo	
  africano	
  fui	
  a	
  negociar	
  com	
  grandes	
  empresas	
  que	
  são	
  gigantescos	
  navios,	
  hoje	
  super	
  
equipados,	
   as	
   rotas	
   dos	
   cardumes	
   são	
   mapeadas	
   por	
   GPS,	
   a	
   concentração	
   de	
   biomassa	
   é	
  
detectada	
   por	
   satélite.	
   Enfim,	
   estão	
   limpando	
   os	
  mares	
   simplesmente,	
   liquidando	
   a	
   principal	
  
base	
  de	
  vida	
  que	
  tem	
  no	
  planeta,	
  que	
  na	
  realidade	
  está	
  nos	
  mares,	
  né?	
  E	
  eu	
  falo	
  com	
  um	
  senhor	
  
desse,	
  a	
  pedido	
  do	
  governo:	
  Vem	
  cá,	
  vocês	
  estão	
  liquidando	
  a	
  maior	
  base	
  de	
  vocês,	
  desse	
  jeito	
  
vai	
   acabar	
   o	
   peixe.	
   A	
   resposta	
   deles	
   foi:	
  Meu	
   amigo,	
   se	
   não	
   for	
   eu,	
   vai	
   ser	
   outro,	
   isso	
   aí	
   vai	
  
acabar.	
  Eu	
  não	
  estou	
  falando	
  com	
  nenhum	
  idiota,	
  eu	
  não	
  estou	
  falando	
  com	
  nenhum	
  sacana,	
  eu	
  
estou	
  falando	
  com	
  um	
  cara	
  que	
  me	
  diz:	
  olha,	
  eu	
  tenho	
  100	
  milhões	
  de	
  dólares	
  para	
  trazer	
  pesca	
  
industrial	
  e	
  eu	
  posso	
  até	
  sair,	
  mas	
  tem	
  10	
  pra	
  ocupar	
  meu	
  posto,	
  né?	
  A	
  coisa	
  não	
  é	
  assim,	
  está	
  
entendendo?	
   Nem	
   sequer	
   de	
   malvados,	
   é	
   de	
   sistema.	
   Tem	
   que	
   ter	
   um	
   processo	
   de	
  
desresponsabilização	
  quando	
  é	
  sistema.	
  E	
  ai	
  a	
  mudança	
  do	
  processo	
  de	
  governança	
  é	
  vital.	
  Eu	
  
acho	
  que	
  nós	
  temos	
  um	
  papel	
  chave	
  aqui	
  no	
  resgate	
  do	
  direito	
  à	
  comunicação,	
  à	
  livre	
  imprensa,	
  
né?	
  Aqui	
   se	
  diz	
   que	
   a	
  nossa	
   imprensa	
  não	
   tem	
  censura,	
   eu	
   acho	
   isso	
  maravilhoso.	
   Eu	
   volta	
   e	
  
meia,	
  quando	
  dou	
  uma	
  entrevista	
  mais	
   contundente,	
  me	
   liga	
  aquela	
  mocinha	
  simpática	
  e	
  diz:	
  
professor,	
  olha,	
  lamento	
  mais	
  caiu	
  aquela	
  pauta,	
  viu?	
  Não	
  é	
  censura	
  gente,	
  pela	
  amor	
  de	
  Deus,	
  
caiu	
  a	
  pauta.	
  A	
  gente	
  olha,	
  está	
  surgindo	
  muita	
  coisa,	
  hoje	
  tem	
  para	
  se	
  informar	
  decentemente.	
  
Vocês	
   podem	
   assinar	
   a	
   Carta	
   Maior,	
   seção	
   Envolverde,	
   Mercado	
   Ético	
   e	
   HU.	
   Então,	
   estão	
  
surgindo,	
   se	
   multiplicando.	
   O	
   Le	
   Monde	
   Diplomatique,	
   está	
   fazendo	
   um	
   imenso	
   esforço,	
  
extremamente	
  interessante.	
  Quer	
  dizer,	
  realmente	
  tem	
  gente	
  batalhando	
  para	
  haver	
  a	
  chegada	
  
da	
   informação.	
   Agora	
   nós	
   precisamos	
   ter	
   aliados	
   nisso,	
   aí	
   cada	
   um	
   é	
   multiplicador.	
   Na	
   área	
  
científica	
  nós	
  estamos	
  fazendo	
  agora	
  um	
  sistema	
  de	
  disponibilização	
  de	
  conhecimentos	
  online.	
  
Eu	
   faço	
   todos	
  os	
  meus	
   livros	
  e	
  artigos	
  e	
  disponibilizo	
  online	
  gratuitamente,	
  porque	
  o	
  que	
  me	
  
interessa	
  é	
  ser	
  lido.	
  O	
  MIT	
  nos	
  Estados	
  Unidos	
  fez	
  o	
  OCW	
  [Open	
  Course	
  Ware],	
  todos	
  os	
  textos	
  
científicos	
   são	
   disponíveis	
   online,	
   tiveram	
   em	
   poucos	
   anos	
   mais	
   de	
   50	
   milhões	
   de	
   textos	
  
disponíveis	
   acessados	
   no	
   planeta.	
   Não	
   só	
   por	
   ser	
   gratuito,	
   mas	
   por	
   facilitar	
   a	
   pesquisa,	
   ode	
  
facilitar	
  o	
   repasse	
  para	
  as	
  pessoas.	
   Imediato,	
  né?	
  Eu	
  estive	
  na	
  China	
  agora,	
  na	
  China	
  agora	
  as	
  
doze	
  principais	
  universidades	
  adotaram	
  o	
  mesmo	
  sistema,	
  generalização	
  online	
  gratuita	
  de	
  todo	
  
o	
  sistema	
  de	
  pesquisa.	
  Porque	
  os	
  processos	
  produtivos…	
  esses	
  aí	
  consomem	
  água,	
  né?	
  Para	
  1kg	
  
de	
  café,	
  você	
  precisa	
  ter	
  20	
  mil	
   litros	
  de	
  água,	
  certo?	
  Agora	
  o	
  conhecimento	
  não,	
  a	
  tecnologia	
  
não	
  é…	
  eu	
  te	
  passo	
  um	
  bem	
  físico	
  e	
  deixo	
  de	
  tê-­‐lo,	
  eu	
  passo	
  um	
  conhecimento	
  e	
  eu	
  continuo	
  
com	
  ele.	
  Essa	
  imensa	
  oportunidade	
  dessa	
  evolução	
  do	
  sistema	
  tecnológico	
  que	
  a	
  gente	
  pode	
  se	
  
apropriar,	
  mas	
  aí	
  nós	
  que	
  temos	
  que	
  começar	
  a	
  ter	
  controle	
  sobre	
  os	
  processos	
  e	
  transformação	
  	
  
e	
   a	
   gente	
   volta	
   naturalmente	
   ao	
   problema	
   da	
   governança,	
   né?	
   Eu	
   resumiria	
   assim,	
   viu?	
   Esse	
  
negócio	
   do	
   cobertor	
   que	
   está	
   ficando	
   curto,	
   né	
   Renato?	
   Que	
   é	
   ver	
   quem	
   está	
   segurando	
   o	
  
cobertor	
  nesse	
  processo	
  e	
  por	
  enquanto,	
  não	
  somos	
  nós.	
  É	
  isso	
  aí,	
  obrigado.	
  
	
  
Mediador:	
  Muito	
  obrigado	
  professor.	
  É,	
  acho	
  que	
  a	
  gente	
  podia	
  dar	
  mais	
  uma	
  rodadinha	
  aqui.	
  
Pedro	
  que	
  eu	
  queria	
  que	
  você	
  completasse	
  com	
  uma	
  luz	
  sobre	
  essa	
  conversa	
  que	
  girou	
  aqui,	
  por	
  
favor.	
  
	
  
Pedro:	
  A	
  luz	
  do	
  fim	
  do	
  túnel.	
  	
  
	
  
Mediador:	
  É	
  o	
  que	
  a	
  gente	
  procura.	
  
	
  
Pedro:	
   É,	
   acho	
   que	
   a	
   gente	
   tem	
   que	
   tentar	
   observar,	
   quando	
   falamos	
   do	
   tema	
   da	
   água,	
   é	
  
observar	
   a	
   questão,	
   digamos,	
   da	
   capacidade	
   que	
   existe	
   na	
   sociedade	
   de	
   promover	
   políticas	
  
públicas	
  desde	
  uma	
  perspectiva	
  democráticas.	
  Em	
  princípio,	
  desde	
  a	
  Constituição	
  de	
  1988	
  estão	
  
dadas	
   essas	
   condições,	
   do	
   ponto	
   de	
   vista	
   da	
   possibilidade	
   de	
   participação	
   da	
   sociedadeem	
  
conselhos	
  municipais,	
  em	
  conselhos	
  vinculados	
  à	
  gestão	
  de	
  recursos	
  naturais.	
  Eu	
  coloco	
  isso	
  em	
  
termos	
  assim,	
  em	
  princípio.	
  Até	
  posso	
  falar	
  com	
  algum	
  conhecimento	
  de	
  causa,	
  porque	
  eu	
  já	
  fui	
  
membro	
  do	
  comitê	
  da	
  Bacia	
  do	
  Alto	
  Tietê	
  e	
  também	
  fui	
  membro	
  do	
  conselho	
  gestor	
  da	
  Agência	
  
do	
  Alto	
  Tietê.	
  E	
  quando	
  nós	
   falamos	
  em	
  democracia,	
  nós	
   temos	
  que	
  tentar	
  observar	
  aspectos	
  
relacionados	
   tanto	
   à	
   possibilidade	
   de	
   implementar	
   canais	
   que	
   garantam	
   esse	
   acesso	
  
democrático	
  de	
   informação,	
   como	
   foi	
   aqui	
   colocado,	
   como	
   também	
  garantir	
   que	
   a	
   sociedade	
  
civil	
   tenha	
   um	
   comportamento	
   democrático,	
   porque	
   isso	
   aí	
   também	
   pesa	
   muito	
   quando	
  
estamos	
   falando,	
   principalmente,	
   da	
   representatividade	
   dos	
   referentes	
   atores.	
   O	
   Renato	
  
também	
  tem	
  participado	
  do	
  comitê,	
  portanto,	
  a	
  gente	
  tem	
  um	
  conhecimento	
  de	
  causa	
  a	
  partir	
  
desses	
  processos.	
  O	
  que	
  eu	
  acho	
  que	
  vale	
  a	
  pena	
  a	
  gente	
  observar	
  é	
  que	
  independente	
  dessas	
  
instância	
  ou	
  dessa	
  engenharia	
   institucional,	
  seja	
  uma	
  engenharia	
   institucional	
  que	
  de	
  fato	
  não	
  
garante	
   uma	
   possibilidade	
   de	
   avanço	
   democrático,	
   avanço	
   de	
   resultados	
   democráticos	
   em	
  
relação	
   à	
   água,	
   porque	
   o	
   peso	
   dos	
   atores	
   governamentais	
   é	
  muito	
  maior	
   do	
   que	
   o	
   peso	
   dos	
  
atores	
  da	
   sociedade	
  civil.	
   Então,	
  a	
   sociedade	
  civil	
  entra	
  no	
   jogo	
  perdendo	
  de	
  2X0,	
  o	
  desafio	
  é	
  
entrar	
  e	
  tentar	
  empatar	
  o	
  jogo	
  ou	
  sair	
  ganhando	
  e	
  vai	
  depender	
  das	
  negociações	
  e	
  etc.,	
  etc.	
  O	
  
que	
  a	
  gente	
  pode	
  observar	
  também	
  é	
  que,	
  quando	
  estamos	
  falando	
  da	
  governança	
  da	
  água,	
  e	
  
introduzindo	
  justamente	
  essa	
  dimensão	
  tripartite,	
  precisamos	
  olhar	
  também	
  para	
  o	
  processo	
  da	
  
representatividade,	
   da	
   representação.	
   Quem	
   nos	
   representa?	
  Quem	
   representa	
   os	
   diferentes	
  
segmentos?	
  A	
  minha	
  vivência	
  no	
  comitê	
  –	
  não	
  quero	
  com	
  isso	
  generalizar	
  o	
  Brasil	
  –	
  é	
  bastante	
  
frustrante,	
  porque	
  de	
  fato,	
  lamentavelmente,	
  ninguém	
  é	
  santo.	
  Então,	
  a	
  gente	
  observa	
  que	
  em	
  
muitos	
  casos	
  a	
  representação	
  está	
  relacionada	
  a	
  interesses	
  políticos	
  e	
  econômicos,	
  dependendo	
  
de	
   como	
   se	
   coloca	
   a	
   situação.	
   Isso	
   nos	
   traz	
   uma	
   limitação	
  quando	
  pensamos	
   que	
   existe	
   uma	
  
Legislação	
   que	
   possibilita	
   o	
   acesso	
   burocrático	
   dos	
   atores,	
  mas	
   ao	
  mesmo	
   tempo	
   entram	
  em	
  
jogam	
   todos	
  os	
   contraditórios	
  da	
   representação	
  dos	
   interesses	
  e,	
  de	
   certa	
   forma	
   também,	
  da	
  
própria	
  falta	
  de	
  liderança	
  política.	
  Então,	
  isso	
  é	
  um	
  aspecto	
  que	
  não	
  podemos	
  desconsiderar	
  e	
  aí	
  
está	
  colocado	
  um	
  enorme	
  desafio,	
  que	
  é	
  a	
  multiplicação	
  de	
  atores	
  mobilizados,	
  de	
  atores	
  que	
  se	
  
envolvem	
  efetivamente	
  em	
  demandas,	
  se	
  quiserem	
  chamar,	
   lutas	
  que	
  promovam	
  uma	
  melhor	
  
governança	
  do	
   caso	
  que	
  nos	
   interessa	
   aqui,	
   o	
   recurso	
  natural.	
  Mas	
  numa	
  melhor	
   governança	
  
inclusive	
   das	
   cidades,	
   das	
   regiões,	
   né?	
   Então,	
   nós	
   com	
   isso	
   temos	
   um	
   contraditório	
   muito	
  
significativo.	
  Do	
  outro	
  lado,	
  nós	
  não	
  podemos	
  ignorar	
  que	
  a	
  lógica	
  de	
  gestão	
  tem	
  sido,	
  mesmo	
  
que	
  não	
  seja	
  a	
  palavra	
  privado	
  a	
  forma	
  generalizada,	
  mas	
  mesmo	
  as	
  empresas	
  públicas	
  tem	
  tido	
  
um	
  comportamento	
  privado	
  na	
  gestão,	
  ou	
  aquilo	
  que	
  se	
  denomina	
  parceria	
  publico-­‐privada	
  que	
  
agora	
  é	
  a	
  palavra	
  da	
  moda.	
   É	
  o	
  que	
  os	
  especialista,	
  pelo	
  menos	
  aqueles	
   com	
  uma	
  visão	
  mais	
  
conservadora,	
  dizem,	
  que	
  não	
  é	
  a	
  mesma	
  coisa	
  que	
  uma	
  privatização.	
  Então,	
  com	
  isso,	
  surgem	
  
perguntas:	
   Como	
   mobilizar?	
   Como	
   sensibilizar	
   as	
   pessoas?	
   E	
   ai,	
   tanto	
   o	
   Renato	
   quanto	
   o	
  
Ladislau	
  já	
  levantaram	
  alguma	
  coisa,	
  mas	
  eu	
  gostaria	
  de	
  reforçar	
  a	
  ideia	
  e	
  até	
  trazer	
  uma	
  visão	
  
de	
   que	
   é	
   possível	
   transformar	
   esse	
   quadro	
   sem	
   cairmos	
   nem	
   na	
   ingenuidade	
   e	
   nem	
   na	
  
simplificação	
   deste	
   processo	
   tão	
   complexo	
   efetivamente,	
   né?	
   Inclusive	
   porque	
   hoje	
   talvez	
   no	
  
Brasil	
   não	
   seja	
   o	
   processo	
   de	
   parceria	
   publico-­‐privada,	
   não	
   seja	
   a	
   partir	
   das	
   grandes	
  
multinacionais,	
   mas	
   das	
   grandes	
   empresas	
   nacionais,	
   	
   as	
   concessionárias,	
   as	
   grandes	
  
empreiteiras	
   que…	
  Efetivamente	
   aquilo	
   que	
   o	
   Ladislau	
  mencionou,	
   que	
   as	
   empreiteiras	
   estão	
  
em	
  todos	
  os	
  segmentos	
  fundamentais	
  e	
  infraestruturais	
  do	
  Brasil.	
  Mas	
  eu	
  queria	
  reforçar	
  a	
  ideia	
  
de	
  quanto	
  é	
  necessário	
  que,	
  quando	
  estamos	
  olhando	
  essa	
  forma	
  de	
  gestão	
  compartilhada,	
  seja	
  
possível	
  com	
  uma	
  coresponsabilização,	
  seja	
  promover	
  diálogos,	
  seja	
  possível	
  multiplicar	
  através	
  
de	
  práticas	
  de	
  aprendizagem	
  social.	
  E	
  aí	
  eu	
  trago	
  meu	
  lado	
  otimista	
  da	
  luz	
  do	
  fim	
  do	
  túnel,	
  no	
  
sentido	
  de	
  observar	
   a	
   necessidade,	
   de	
  obviamente	
  promover	
   novas	
   lideranças,	
  mas	
   acima	
  de	
  
tudo,	
   de	
   romper	
   com	
   as	
   interpretações	
   completamente	
   modificadas	
   e	
   maniqueístas	
   sobre	
   o	
  
tema.	
  O	
  que	
  falta,	
  muitas	
  vezes	
  para	
  a	
  maioria	
  das	
  pessoas,	
  é	
  um	
  pouco	
  de	
  conhecimento	
  e	
  não	
  
a	
   palavra	
   apenas	
   de	
   informação,	
   mas	
   um	
   conhecimento	
   mais	
   qualificado	
   que	
   torne,	
   que	
  
potencialize,	
  que	
  essas	
  pessoas	
  se	
  tornem	
  protagonistas.	
  Com	
  isso,	
  o	
  que	
  eu	
  quero	
  dizer	
  é	
  que	
  
não	
   tem	
   resposta	
   simples,	
   o	
   tema	
   da	
   água	
   é	
   fundamental	
   que	
   se	
   ligue	
   a	
   pessoa	
   que	
   é	
   um	
  
recurso	
  finito,	
  que	
   lamentavelmente	
  nós	
  temos	
  muito	
  menos	
  água	
  porque	
  nossas	
  águas	
  estão	
  
contaminadas,	
  que	
  é	
   fundamental	
  dizer	
  de	
  alto	
  e	
  bom	
  som	
  e	
   com	
  muita	
   indignação	
  que	
  essa	
  
contaminação	
   é	
   fruto	
   da	
   omissão	
   de	
   décadas	
   e	
   décadas	
   desde	
   a	
   expansão	
   do	
   processo	
   de	
  
urbanização	
  das	
  autoridades	
  públicas,	
  e	
  não	
  resolveram	
  os	
  problemas	
  do	
  saneamento	
  básico	
  no	
  
país.	
  Ou	
  seja,	
  ainda	
  há	
  condições	
  de	
  águas	
  tratadas,	
  portanto	
  que	
  poderiam	
  garantir	
  aquilo	
  que	
  
hoje	
   são	
   rios	
  como	
  o	
  Tâmisa,	
  o	
  Sena	
  e	
  outros	
   rios	
  que	
  são	
  nossas	
   referências,	
   rios	
  que	
   foram	
  
resgatados	
  e	
  recuperados	
  e	
  não	
  é	
  possível	
  que	
  efetivamentenão	
  se	
  dá	
  conta	
  da	
  contaminação	
  
por	
  falta	
  de	
  saneamento.	
  Então,	
  esses	
  aspectos	
  são	
  absolutamente	
  fundamentais,	
  assim	
  como	
  
os	
   aspectos	
   que	
   foram	
   também	
   levantados	
   sobre	
   a	
   questão	
   das	
   águas	
   oceânicas	
   e	
   também	
  
sobre	
   a	
   contaminação	
   dos	
   rios	
   por	
   conta	
   da	
   falta	
   de	
   controle	
   sobre	
   o	
   processo	
   produtivo	
   e	
  
também,	
   além	
  dos	
   processos	
   produtivos,	
   da	
   contaminação	
   básica	
   da	
   poeira	
   e	
   daquilo	
   que	
   se	
  
denomina	
  de	
  particular,	
  o	
  que	
  hoje	
  também	
  contaminam	
  nossas	
  fontes	
  hídricas.	
  
	
  
Mediador:	
  Ok,	
  obrigado	
  Pedro.	
  Renato,	
  mais	
  alguma	
  intervenção?	
  
	
  
Renato:	
  Eu	
  acho	
  que	
   foi	
   interessante	
  esse	
   filme	
  que	
  vocês	
  devem	
  ter	
  acabado	
  de	
  ver	
   sobre	
  a	
  
Patagônia.	
  No	
   final,	
  eles	
  começam	
  a	
  discutir	
  as	
  alternativas	
  que	
  existem	
  tanto	
  para	
  a	
  energia,	
  
quanto	
  para	
  água	
  e	
  uma	
  série	
  de	
  coisas.	
  Do	
  ponto	
  de	
  vista	
  	
  tecnológico,	
  nós	
  temos	
  um	
  avanço	
  
enorme	
  em	
  vários	
  campos,	
  então	
  há	
  alternativas	
  do	
  ponto	
  de	
  vista	
   tecnológico.	
  Agora,	
  há	
  um	
  
outro	
   conjunto	
   de	
   alternativas	
   que	
   muitas	
   vezes	
   a	
   gente	
   também	
   não	
   considera	
   e	
   que	
   já	
   é	
  
bastante	
  estudado,	
  que	
  é	
  o	
  papel	
  que	
  a	
  natureza,	
  os	
  biomas,	
  os	
  ecossistemas	
  têm	
  em	
  purificar,	
  
em	
  prestar	
  uma	
  série	
  de	
  serviços,	
  ou	
  seja,	
  nos	
  chegamos	
  ao	
  cúmulo,	
  não	
  é?	
  O	
  Ladislau	
  brinca	
  
muito	
  com	
  essa	
  história	
  do	
  economista,	
  né?	
  Que	
  tem	
  dificuldade	
  de	
  entender	
  alguns	
  processos.	
  
Mas,	
  de	
  maneira	
  geral,	
  a	
  gente	
  chega	
  ao	
  cúmulo	
  de	
  ter	
  que	
  explicar	
  que	
  a	
  natureza	
  serve	
  para	
  
alguma	
  coisa.	
  E	
  nesse	
  caso,	
  eu	
  estou	
  tentando,	
  eu	
  estou	
  resgatando	
  esse	
  esforço,	
  né?	
  De	
  que	
  
muitos	
   tentam	
  trazer	
  para	
  a	
   linguagem	
  econômica	
  o	
  valor	
  que	
  os	
  nossos	
  ecossistemas	
   têm,	
  o	
  
valor	
  que	
  os	
  nossos	
  ativos	
  ambientais	
  do	
  Brasil	
  têm.	
  Esse	
  valor	
  é	
  conhecido	
  principalmente	
  dos	
  
estrangeiros	
  que	
  vêm	
  aqui	
  praticar	
  biopirataria	
  ou,	
  de	
  certa	
  forma,	
  trazer	
  processos	
  produtivos	
  
altamente	
  consumidores	
  de	
  água	
  e	
  energia,	
  para	
  que	
  nós	
  aqui	
  demos	
  um	
  jeito	
  neles.	
  Então,	
  há	
  
estudos	
   que	
   evidentemente	
   comprovam	
   que	
   você,	
   se	
   tiver	
   uma	
   floresta	
   numa	
   região	
   de	
  
mananciais,	
  você	
  não	
  vai	
  precisar	
  tratar	
  aquela	
  área	
  e	
  gastar	
  produtos	
  químicos	
  e	
  etc,etc,	
  etc	
  e	
  
isso	
  também	
  não	
  é	
  ignorado.	
  A	
  questão	
  é	
  a	
  cadeia	
  alimentar	
  e	
  produzir	
  ou	
  conservar	
  uma	
  área	
  
verde,	
  uma	
  área	
  vegetada.	
  E	
  é	
  completamente	
  antagônica	
  a	
  atividade	
  imobiliária.	
  Aliás,	
  esse	
  é	
  o	
  
cerne	
  da	
  questão	
  da	
  luta	
  contra	
  o	
  código	
  florestal,	
  é	
  um	
  problema	
  fundiário,	
  né?	
  A	
  nossa	
  terra	
  
urbana	
  e	
  rural	
  ela	
  é	
  apropriada	
  especulativamente,	
  então	
  o	
  que	
  estava	
  em	
  discussão	
  não	
  era	
  30,	
  
20,	
   10	
   metros	
   ao	
   longo	
   dos	
   rios,	
   mas	
   era	
   de	
   justamente	
   nós	
   podermos,	
   nós,	
   eles,	
   esses	
  	
  
representados,	
   esses	
   40	
   –	
   alias,	
   esses	
   40	
   me	
   lembra	
   um	
   outro	
   número	
   –	
   que	
   eram	
  
representantes	
   exatamente	
   das	
   grandes	
   partilhas	
   de	
   terras	
   públicas	
   que	
   foram	
   griladas,	
   que	
  
tem	
  agora	
  perspectiva	
  de	
  avançar	
  essa	
  fronteira	
  agrícola,	
  mas	
  não	
  pela	
  necessidade	
  de	
  alimento	
  
evidentemente,	
   não	
   é?	
   Os	
   grandes,	
   as	
   grandes	
   propriedades,	
   produzem	
   cerca	
   de	
   30%	
   dos	
  
alimentos	
   que	
   nós	
   consumimos,	
   entregam	
  mais	
   ou	
  menos	
   30%,	
   e	
   as	
   pequenas	
   propriedades	
  
produzem	
  cerca	
  de	
  75%	
  dos	
  alimentos	
  e	
  também	
  emprega	
  muita	
  gente	
  e	
  ocupa	
  menos	
  espaço	
  e	
  
esse	
  espaço	
  é	
  bastante	
  produtivo.	
  Então,	
  a	
  questão	
  é:	
  o	
  que	
  está	
  por	
  traz	
  de	
  algumas	
  lutas?	
  O	
  
que	
  está	
  por	
  traz	
  de	
  algumas	
  tecnologias?	
  Quem	
  é	
  que	
  está	
  interessado	
  naquilo	
  que	
  está	
  sendo	
  
veiculado.	
   Então,	
   frequentemente	
   nos	
   dão	
   a	
   seguinte	
   opção:	
   você	
   quer	
  morrer	
   de	
   tiro	
   ou	
   de	
  
facada?	
   Isso	
  não	
  é	
  escolha.	
  Ou	
  você	
  quer	
   ser	
   responsável	
  pelas…	
  Eu,	
  quando	
  me	
  opus	
  a	
   ir	
  ao	
  
processo	
  de	
  bombeamento	
  para	
  poluir	
  os	
  nossos	
  mananciais,	
  o	
  cara	
  chegou	
  para	
  mim	
  de	
  uma	
  
determinada	
  empresa	
  e	
  disse:	
  então,	
  eu	
  posso	
  botar	
  seu	
  nome	
  e	
  você	
  vai	
  ser	
  responsável	
  pelas	
  
enchentes	
  de	
  São	
  Paulo,	
  né?	
  Como	
  se	
  nós	
  tivéssemos	
  apenas	
  duas	
  escolhas	
  e	
  as	
  duas	
  trágicas,	
  
né?	
   Na	
   realidade,	
   nós	
   temos	
   um	
   conjunto	
   gigante,	
   é	
   por	
   isso	
   que	
   nós	
   temos	
   a	
   faculdade,	
   a	
  
potencialidade	
  de	
  ir	
  muito	
  além.	
  Mas	
  a	
  gente	
  precisa,	
  como	
  o	
  Pedro	
  bem	
  lembrou,	
  olhar	
  além,	
  
olhar	
  quem	
  é	
  que	
  está	
   veiculando,	
   que	
  alternativa	
   e	
  qual	
   o	
   interesse	
  que	
  existe.	
   E	
   hoje,	
   com	
  
essa	
  crise	
  em	
  2008	
  dos	
  Estados	
  Unidos,	
  que	
  repercutiu	
  o	
  mundo	
  todo,	
  o	
  capital	
  está	
  em	
  busca	
  
de	
  uma	
  alma	
  para	
  encarnar,	
  né?	
  Porque,	
  como	
  disse	
  o	
  David	
  Hardy,	
  nós	
  precisamos	
  crescer	
  3%	
  
ao	
  ano	
  para	
  o	
  capital	
  se	
  reproduzir	
  como	
  um	
  todo,	
  né?	
  E	
  aí,	
  onde	
  eu	
  puder	
  encarnar,	
  eu	
  vou.	
  
Agora	
   estão	
   encarnando	
   no	
   mercado	
   imobiliário	
   nosso,	
   vocês	
   viram	
   os	
   preços	
   como	
   é	
   que	
  
estão.	
   E	
   nos	
   alimentos	
   e,	
   também	
   nas	
   áreas	
   produtoras	
   de	
   água,	
   porque	
   nessa	
   região	
   da	
  
Patagônia,	
   eu	
   tive	
   notícias	
   que	
   há	
   várias	
   empresas	
   comprando	
   terras	
   ali	
   na	
   região	
   dos	
   lagos	
  
andinos	
   porque	
   aquela	
   água	
   é	
   cristalina	
   e	
   pelas	
   projeções	
   que	
   eles	
   dispõem	
   de	
   que	
   com	
   a	
  
mudança	
  climática,	
  quais	
  são	
  os	
  lugares	
  melhores	
  e	
  os	
  piores	
  para	
  se	
  viver,	
  morar	
  e	
  produzir.	
  	
  E	
  
a	
  compra	
  de	
  terras,	
  por	
  exemplo,	
  no	
  Brasil	
   tem	
  uma	
  região,	
  que	
  eu	
  não	
  sei	
  se	
  é	
  conhecida	
  de	
  
vocês,	
  que	
  chama	
  Mapito,	
  É	
  Maranhão,	
  Piauí	
  e	
  Tocantins,	
  que	
  é	
  uma	
  região	
  que	
  está	
  sendo	
  foco	
  
de	
  alta	
  aquisição	
  de	
  terras,	
  já	
  faz	
  uns	
  4,	
  5	
  anos,	
  por	
  empresas	
  internacionais	
  com	
  peças	
  de	
  ferro	
  
locais,	
   para	
   que	
   a	
   produção	
   de	
   alimentos	
   que	
   vai…	
  O	
   gato	
   subiu	
   no	
   telhado	
   na	
   produção	
   de	
  
alimento	
  mundial	
  –	
  inclusive	
  os	
  chineses	
  já	
  percebem	
  isso	
  há	
  muito	
  tempo	
  e	
  estão	
  atuando	
  ali	
  
nacosta	
   oriental	
   da	
   África	
   e	
   em	
   outras	
   áreas	
   com	
   algumas	
   quinquilharias	
   de	
   infraestrutura,	
  
ganhando	
  a	
  simpatia	
  dos	
  governantes	
  locais	
  e	
  adquirindo	
  terras	
  imensas.	
  Então,	
  hoje	
  é	
  o	
  Land	
  
Grab	
  In,	
  mas	
  é	
  Land	
  and	
  Water	
  Grab	
  In,	
  os	
  caras	
  estão	
  comprando	
  e	
  especulando	
  terras	
  onde	
  
haverá	
  água.	
  Gente,	
  e	
  nós?	
  Quem	
  é	
  que	
  tem	
  na	
  mão	
  essa	
  matriz?	
  Esse	
  mapa?	
  Essa	
  planilha	
  para	
  
poder	
   falar,	
   não?	
   Aqui	
   não?	
   Inclusive	
   ali	
   na	
   região	
   da	
   tríplice	
   fronteira,	
   que	
   é	
   a	
   do	
   Paraguai,	
  
Argentina	
   e	
   Brasil,	
   ali	
   tem	
   água	
   pra	
   caramba,	
   inclusive	
   do	
   Aquífero	
  Guarani,	
   e	
   nós	
   tivemos	
   a	
  
notícia	
  de	
  expedições	
  de	
  militares	
  e	
  adidos	
  e	
  etc.	
  americanos	
  e	
  de	
  outros	
  países	
  pra	
  poder	
  fazer	
  
um	
   aeroporto	
   absurdamente	
   gigante,	
   comprando	
   terras	
   para	
   poder	
   estar	
   ali	
   onde	
   a	
   água	
   vai	
  
sobrar	
  no	
  planeta.	
  Gente,	
  e	
  a	
  gente?	
  	
  
	
  
Pedro:	
  É	
  para	
  nos	
  proteger	
  das	
  drogas,	
  né?	
  
	
  
Renato:	
  Exatamente.	
  
	
  
Mediador:	
  É	
  por	
  isso	
  que	
  eles	
  estão	
  lá.	
  Bom,	
  eu	
  vou	
  passar	
  para	
  o	
  professor	
  Ladislau	
  e	
  depois	
  
eu	
  vou	
  abrir	
  para	
  as	
  perguntas	
  de	
  vocês.	
  
	
  
Ladislau:	
   Vocês	
   conhecem	
   a	
   Mafalda,	
   né?	
   A	
   Mafalda	
   tá	
   discutindo	
   com	
   o	
   Felipinho	
   e	
   tão	
  
discutindo	
   valores,	
   né?	
   Ai	
   chega	
   o	
   Manolito,	
   que	
   é	
   aquele	
   comerciante,	
   né?	
   O	
   filho	
   do	
  
comerciante.	
  Ai	
   a	
  Mafalda	
   esperançosa	
   e	
   otimista	
   diz	
   pro	
  Manolito:	
  Manolito,	
   é	
   verdade	
  que	
  
não	
  é	
  só	
  o	
  dinheiro	
  e	
  há	
  outros	
  valores?	
  Manolito	
  reflete	
  assim	
  no	
  quadrinho	
  final	
  e	
  diz:	
  Como	
  
no?	
  Hay	
  también	
  los	
  cheques.	
  Gente,	
  mercado	
  não	
  regula	
  bens	
  comuns	
  ponto,	
  não	
  tem	
  como.	
  
Florestas,	
   terra	
  –	
  porque	
   terra	
  acaba,	
  não	
  é	
  um	
  produto	
  –	
  enfim,	
  água,	
  essas	
  coisas,	
  não	
   tem	
  
como,	
   né?	
   A	
   vida	
   nos	
   mares,	
   né?	
   O	
   petróleo	
   é	
   outra	
   coisa	
   interessante,	
   né?	
   Produtores	
   de	
  
petróleo,	
  eu	
  não	
  sei,	
  mas	
  vocês	
  já	
  viram	
  alguém	
  produzir	
  petróleo?	
  É	
  interessante,	
  né?	
  Produtor	
  
de	
   petróleo,	
   né?	
   Tem	
   um	
   cara	
   simpático	
   de…	
   o	
   economista,	
   né?	
   O	
   Huntington	
   [Samuel	
   P.	
  
Huntington].	
   Então	
   ele	
   diz	
   que:	
   pensar	
   que	
   podemos	
   aumentar	
   indefinidamente	
   o	
   consumo	
  
num	
  planeta	
  de	
  tamanho	
   limitado	
  só	
  pode	
  ser	
  pensado	
  por	
  um	
   idiota	
  ou	
  por	
  um	
  economista.	
  
Gente,	
  eu	
  acho	
  que	
  nós	
  temos	
  que	
  olhar	
  para	
  as	
  oportunidades,	
  o	
  conjunto	
  da	
  mídia	
  alternativa	
  
que	
   está	
   surgindo	
   e	
   a	
   batalha	
   pela	
   liberdade	
   da	
  mídia.	
   Eu	
   penso	
   o	
   seguinte:	
   95%	
  dos	
   nossos	
  
domicílios	
  tem	
  TV,	
  já	
  pensou	
  se	
  a	
  gente	
  usasse	
  isso	
  de	
  maneira	
  inteligente?	
  Os	
  Estados	
  Unidos	
  
fizeram	
   um	
   Public	
   Broadcasting	
   Service	
   (PBS),	
   certo?	
   Eu	
   tô	
   batalhando	
   agora	
   junto	
   com	
   ao	
  
Mercadante	
  pra	
  gente	
  fazer	
  agora	
  pra	
  gente	
  um	
  canal	
  científico	
  de	
  televisão	
  aberto.	
  Caramba,	
  a	
  
molecada	
  gosta.	
  Tem	
  gente	
  que	
  diz	
  que	
  ninguém	
  assistiria	
  um	
  canal	
  assim,	
  daí	
  vem	
  os	
  Estados	
  
Unidos	
   e	
   atinge	
   90	
  milhões	
   de	
   espectadores.	
   O	
   pessoal	
   gosta	
   de	
   técnica,	
   tecnologia,	
   ciência,	
  
caramba,	
   né?	
   Gente,	
   a	
   batalha	
   da	
   comunicação,	
   eu	
   acho	
   vital,	
   viu?	
   Acho	
   vital.	
   Deixa	
   eu	
  
mencionar	
  também	
  que	
  a	
  gente	
  tá	
  trabalhando	
  muito	
  com	
  o	
  PIB,	
  porque	
  o	
  cálculo	
  como	
  ele	
  é	
  
feito	
  é	
  completamente	
  absurdo,	
  né?	
  Tudo	
  o	
  que	
  você	
  joga	
  de	
  velhos	
  fogões,	
  pneus	
  e	
  etc.	
  no	
  rio	
  
Tietê,	
  que	
  leva	
  a	
  contratação	
  de	
  empresas	
  para	
  desassoreamento,	
  né?	
  As	
  empreiteiras	
  adoram,	
  
né?	
   Tudo	
   isso	
   aumenta	
   o	
   PIB.	
   A	
   liquidação	
   da	
   Floresta	
   Amazônica,	
   aumenta	
   o	
   PIB,	
   produção	
  
madeireira,	
  né?	
  É	
  fantástico,	
  a	
  principal	
  conta	
  dos	
  economistas	
  não	
  leva	
  em	
  conta	
  a	
  redução	
  de	
  
estoques.	
  Não	
  tá	
  no	
  PIB	
  a	
  variação	
  de	
  estoques,	
  qualquer	
  um	
  que	
  trabalhou	
  com	
  contabilidade,	
  
fecha	
   a	
   conta	
   do	
   ano	
   e	
   tem	
   que	
   ver,	
   né?	
   Produzimos	
   tanto	
   acima	
   e	
   quanto	
   de	
   estoques	
  
reduzimos,	
   como	
  é	
   que	
   é?	
   Então,	
   tem	
   toda	
   uma	
  discussão	
   dos	
   PIBs	
   e	
   tantos	
   outros,	
   o	
   tal	
   da	
  
Felicidade	
   Interna	
   Bruta.	
   Nós	
   temos	
   que	
   reorientar	
   as	
   decisões	
   públicas	
   em	
   torno	
   da	
   nossa	
  
qualidade	
   de	
   vida	
   de	
   visão	
   sustentável.	
   Não	
   só	
   para	
   nós,	
  mas	
   pros	
   nossos	
   filhos,	
   netos,	
   tem	
  
gente	
  na	
   frente,	
   caramba.	
  Ah,	
  o	
  petróleo	
  ainda	
  dá	
  uns	
  20,	
  30	
  anos.	
  Tudo	
  bem,	
  dá	
  uns	
  20,	
  30	
  
anos,	
  mas	
  20,	
  30	
  anos	
  é	
  uma	
  merreca,	
  gente.	
  Agora	
  o	
   lado	
  do	
  gás	
  a	
  gente	
  não	
  considera,	
  né?	
  
Agora	
  a	
  gente	
  tá	
  acabando	
  com	
  uma	
  coisa	
  preciosa	
  que	
  levou	
  centenas	
  de	
  milhões	
  de	
  anos	
  para	
  
ser	
  produzida	
  como	
  o	
  petróleo,	
  pra	
  que?	
  Ai	
  você	
  pega	
  a	
  moto	
  ram-­‐ram-­‐ram	
  e	
  tô	
  com	
  esse…	
  olha	
  
o	
  meu	
  carro,	
  né?	
  A	
  gente,	
  trabalhando	
  com	
  o	
  Blick	
  von	
  der	
  Tersasse,	
  com	
  o	
  Carlos	
  Lopes,	
  aquele	
  
pessoal,	
  a	
  gente	
  usou	
  muito,	
  inclusive	
  na	
  série	
  de	
  reuniões	
  que	
  a	
  gente	
  teve	
  em	
  Salvador,	
  né?	
  A	
  
ideia	
  de	
  que	
  é	
  uma	
  crise	
  civilizatória,	
  é	
  um	
  modelo	
  que	
  se	
  rompe,	
  né?	
  Essa	
  ideia	
  que	
  você	
  tem	
  
um	
  pouco	
  de	
  Estado	
  controlado	
  por	
  corporações	
  internacionais	
  ponderosas	
  se	
  mexe	
  no	
  mundo	
  
e	
  não	
  há	
  governo	
  planetário.	
  E	
  um	
  dos	
  movimentos	
  sociais	
  tapando	
  buracos	
  de	
  desastres,	
  este	
  
tipo	
  de	
  governança	
  pra	
  um	
  planeta	
  de	
  7milhões	
  de	
  habitantes	
  com	
  as	
  tecnologias	
  que	
  se	
  dispõe,	
  
átomo,	
  extração	
  de	
  recursos	
  naturais	
  e	
  etc.	
  Esquece,	
  isso	
  vai	
  pro	
  brejo,	
  não	
  tem	
  como.	
  Olha,	
  eu	
  
não	
   sou	
   pessimista,	
   alias,	
   eu	
   gosto	
   de	
   uma	
   frase	
   do	
   Tersasse,	
   né?	
   A	
   gente	
   tava	
   dando	
   uma	
  
entrevista	
  na	
  televisão	
  e	
  o	
  rapaz	
  disse:	
  mas	
   isso	
  é	
  uma	
  visão	
  pessimista.	
  Eu	
  disse:	
  meu	
  amigo,	
  
pessimista	
   é	
   o	
   otimista	
   bem	
   informado.	
   Deixa	
   eu	
   fazer	
   três	
   recomendações	
  mais	
   firmes	
   para	
  
vocês.	
  Vocês	
  têm	
  que	
  ver	
  um	
  filme	
  chamado	
  A	
  Corporação	
  [de	
  Mark	
  Achbar	
  e	
  Jennifer	
  Abbott],	
  
é	
  um	
  filme	
  científico.	
  Hoje	
  tem	
  filme	
  científicoque	
  dá	
  de	
  dez	
  a	
  zero,	
  por	
  isso	
  eu	
  fico	
  felicíssimo	
  
com	
   toda	
   essa	
  mostra,	
   esse	
   negócio,	
   em	
   livros	
   e	
   coisas	
   assim,	
  A	
   Corporação,	
   é	
   fundamental.	
  
Dois:	
  Trabalho	
  Interno	
  [de	
  Charles	
  H.	
  Ferguson],	
  que	
  ganhou	
  o	
  Oscar	
  há	
  dois	
  anos	
  atrás.	
  Três:	
  A	
  
Verdade	
   Inconveniente	
   [de	
  Davis	
  Guggenheim],	
  certo?	
  Maravilha,	
  vocês	
  podem	
  pegar	
  no	
  filme	
  
sobre	
  como	
  estão	
  se	
  articulando	
  os	
  movimentos	
  sociais	
  no	
  planeta.	
  Quem	
  se	
  Importa	
  [de	
  Mara	
  
Mourão],	
   filme	
   brasileiro,	
   excelente	
   filme.	
   Gente,	
   olha,	
   agora	
   a	
   gente	
   tem	
   que	
   organizar	
   a	
  
disponibilização	
  online	
  de	
  todo	
  esse	
  negócio,	
  sabe?	
  Eu	
  tô	
  me	
  entusiasmando.	
  
	
  
Mediador:	
   É	
   o	
   caminho,	
   né?	
   Tão	
   falando	
   aqui	
   que	
   a	
   informação	
   é	
   a	
   base	
   de	
   tudo	
   o	
   que	
   é	
  
comunicação.	
  Muito	
  bem,	
  agora	
  a	
  gente	
  abre	
  pras	
  perguntas	
  de	
  vocês.	
  O	
  Everton	
  está	
  com	
  o	
  
microfone	
  ali	
  e	
  vocês	
  pedem	
  para	
  ele.	
  
	
  
Chico	
  Guariba:	
  Eu	
  sou	
  o	
  Chico	
  Guariba,	
  diretor	
  da	
  Mostra.	
  É,	
  finalizando	
  a	
  primeira	
  rodada	
  eu	
  ia	
  
fazer	
   algumas	
   provocações,	
   é	
   pros	
   palestrantes,	
   os	
   debatedores,	
   mas	
   infelizmente	
   os	
  
debatedores	
  fizeram	
  a	
  maior	
  parte	
  das	
  provocações,	
  né?	
  Queria	
  só	
  colocar	
  duas	
  questões	
  que	
  
são	
   assim	
   muito	
   pungentes	
   frentes	
   aos	
   filmes	
   que	
   estão	
   aí.	
   Bom,	
   ficou	
   clara	
   a	
   questão	
   da	
  
governança,	
   a	
   falta	
   de	
   governança	
   completa.	
   Eu	
   queria	
   ressaltar	
   isso	
   e	
   dentro	
   da	
   questão	
   da	
  
governança,	
  passar	
  para	
  a	
  apropriação	
  privada	
  da	
  água	
  que	
  está	
  ocorrendo	
  no	
  mundo	
   inteiro.	
  
Outro	
  filme	
  que	
  nos	
  tocou,	
  foi	
  um	
  filme	
  chamado	
  Submission	
  [de	
  Theo	
  van	
  Gogh]	
  que	
  é	
  só	
  um	
  
adendo,	
  uma	
  propagação	
  que	
  é	
  além	
  de	
  todo	
  o	
  quadro	
  negro	
  que	
  os	
  debatedores	
  já	
  colocaram.	
  
Mas	
  o	
  Submission	
  coloca	
  claramente	
  que	
  você	
  tem…	
  a	
  humanidade	
  já	
  criou	
  em	
  torno	
  de	
  200	
  mil	
  
substâncias	
  químicas,	
  né?	
  200	
  mil	
  substâncias	
  químicas	
  que	
  estão	
  aí	
  contaminando	
  o	
  planeta	
  e	
  
que	
   nós	
   não	
   sabemos	
   de	
   absolutamente	
   nada	
   sobre	
   os	
   efeitos	
   das	
   substâncias	
   químicas	
   no	
  
corpo	
  humano	
  ou	
  na	
  vida	
  daqui	
  para	
  a	
  frente.	
  O	
  filme	
  coloca	
  que	
  se	
  tirar,	
  aqui,	
  uma	
  mostra	
  de	
  
sangue	
   de	
   qualquer	
   um	
   da	
   plateia	
   ou	
   da	
   mesa	
   vão	
   ter	
   inúmeras,	
   milhares	
   de	
   substâncias	
  
químicas	
  que	
  não	
  são	
  naturalmente	
  do	
  nosso	
  corpo.	
  Bom,	
  governança	
  e	
  submissão.	
  Então	
  era	
  
só	
  essa	
  provocação,	
  obrigado.	
  
	
  
Mediador:	
  Muito	
  bem.	
  Obrigado	
  Chico.	
  E	
  alguém	
  quer	
  comentar	
  aqui	
  na	
  mesa?	
  
	
  
Ladislau:	
  O	
  que	
  a	
  gente	
  quer?	
  Se	
  ouvir,	
  digamos,	
  sobre	
  de	
  como	
  a	
  sente	
  as	
  coisas,	
  né?	
  
	
  
Pergunta:	
  Eu	
  sou,	
  meu	
  nome	
  é	
  Mauro	
  Grilo,	
  eu	
  faço	
  parte	
  de	
  um	
  coletivo	
  chamado	
  Proama	
  
Ambiental	
  que	
  é	
  da	
  Cohab	
  José	
  Bonifácio,	
  e	
  eu	
  quero	
  fazer	
  um	
  relato.	
  A	
  gente	
  é	
  um	
  grupo	
  de	
  
arte	
  e	
  educação	
  ambiental	
  e	
  a	
  gente	
  tá	
  lançando	
  um	
  média-­‐metragem	
  que	
  chama	
  Gritos	
  de	
  Rios	
  
e	
  Ruas	
  que	
  fala	
  sobre	
  a	
  auto	
  bacia	
  do	
  Tietê	
  e	
  dez	
  municípios	
  onde	
  o	
  Tietê	
  passa.	
  E	
  a	
  gente	
  está	
  
produzindo	
  espetáculo	
  que	
  ele	
  vai	
  ser	
  lançado	
  no	
  dia	
  22	
  de	
  Junho	
  em	
  Mogi,	
  que	
  também	
  fala	
  
sobre	
  a	
  questão	
  dos	
  rios	
  e	
  das	
  águas	
  e	
  é	
  muito	
  preocupante	
  para	
  a	
  gente	
  que	
  é	
  da	
  Cohab	
  o	
  que	
  
a	
  gente	
  rodou	
  nesses	
  municípios,	
  a	
  questão	
  da	
  água,	
  ela	
  ser,	
  como	
  posso	
  falar,	
  a	
  questão	
  dela	
  
ser	
  desviada	
  do	
  curso	
  dela.	
  Enfim,	
  ela	
  ser	
  concretada	
  e	
  um	
  dos	
  exemplos	
  desse	
  é	
  o	
  rio	
  Tietê	
  que	
  
quando	
  São	
  Paulo	
  foi	
  urbanizado,	
  né?	
  não	
  foi	
  pensado	
  na	
  questão	
  ambiental	
  da	
  água,	
  enfim,	
  
urbanizaram	
  São	
  Paulo	
  e	
  não	
  pensaram	
  no	
  rio	
  Tietê,	
  porque	
  o	
  rio	
  Tietê	
  era	
  um	
  rio	
  onde	
  as	
  
pessoas	
  nadavam,	
  onde	
  as	
  pessoas	
  praticavam	
  a	
  coisa	
  de	
  barco	
  e	
  isso	
  foi	
  assim	
  passado	
  um	
  
pano,	
  e	
  	
  pra	
  São	
  Paulo	
  isso	
  é	
  violentamente	
  ruim,	
  porque	
  a	
  gente	
  podia	
  ter	
  aproveitado	
  o	
  rio	
  
Tietê,	
  tá	
  nadando	
  nele,	
  tá	
  aproveitando	
  ele,	
  o	
  nosso	
  rio	
  que	
  hoje	
  é	
  um	
  esgoto	
  a	
  céu	
  aberto	
  entre	
  
o	
  rio	
  Tamanduateí	
  e	
  o	
  rio	
  Pinheiros.	
  	
  Então,	
  isso	
  pra	
  gente	
  é	
  difícil,	
  eu	
  falo	
  porque	
  eu	
  moro	
  em	
  
São	
  Paulo.	
  E	
  eu	
  queria	
  também	
  recomendar	
  três	
  filmes	
  também	
  que	
  para	
  nossa	
  pesquisa	
  foi	
  
muito,	
  sobre	
  	
  rios	
  	
  e	
  córregos	
  o	
  Entre	
  Rios	
  [Caio	
  Silva	
  Ferraz],	
  e	
  Águas	
  do	
  Brasil.	
  E	
  a	
  minha	
  
pergunta	
  para	
  vocês	
  é:	
  como	
  a	
  gente	
  pode	
  mudar	
  isso	
  tudo	
  que	
  a	
  sociedade,	
  essa	
  coisa	
  da	
  
informação,	
  como	
  a	
  gente	
  pode	
  ir	
  mudando	
  pra	
  que	
  chegue	
  para	
  as	
  pessoas	
  a	
  informação	
  
certa?	
  Essa	
  informação	
  da	
  água	
  ser	
  um	
  bem	
  natural,	
  porque	
  as	
  informações	
  que	
  chegam	
  para	
  a	
  
sociedade	
  é,	
  dessa	
  grande	
  mídia,	
  são	
  desvirtuadas.	
  Essa	
  é	
  a	
  minha	
  pergunta,	
  obrigado.	
  
	
  
Mediador:	
  Alguém	
  da	
  mesa,	
  por	
  favor.	
  
	
  
Pedro:	
  É,	
  vamos	
  rodar	
  mais.	
  
	
  
Pergunta:	
  Na	
  verdade,	
  é	
  meu	
  nome	
  é	
  Gabriela	
  Ferrite,	
  eu	
  trabalho	
  no	
  Instituto	
  Gaia,	
  que	
  é	
  um	
  
instituto	
  do	
  Pantanal	
  e	
  a	
  semana	
  que	
  vem	
  nós	
  vamos	
  tá	
  começando	
  um	
  trabalho	
  com	
  os	
  
ribeirinhos	
  do	
  Pantanal	
  de	
  conscientização	
  da	
  proliferação	
  de	
  hidroelétricas,	
  e	
  só	
  uma	
  
informação	
  que	
  na	
  semana	
  passada	
  caiu	
  as	
  liminar	
  do	
  ministério	
  público	
  que	
  proibia	
  a	
  
construção	
  de	
  87	
  microhidroéletricas	
  no	
  Pantanal.	
  Então,	
  agora	
  esse	
  projeto	
  do	
  governo	
  está	
  
liberado	
  de	
  novo,	
  é	
  só.	
  Eu	
  só	
  queria	
  dar	
  essa	
  informação	
  para	
  que	
  as	
  pessoas	
  tivessem	
  
consciência.	
  
	
  
	
  
Pergunta:	
  Meu	
  nome	
  é	
  Sônia,	
  me	
  lembrei	
  também	
  agora	
  de	
  um	
  filme	
  que	
  tá	
  e	
  cartaz,	
  um	
  filme	
  
brasileiro,	
  Uma	
  História	
  de	
  Amor	
  e	
  Fúria	
  [Luiz	
  Bolognesi],	
  uma	
  animação	
  e	
  nessa	
  animação	
  
acontece	
  que	
  o	
  filme	
  atravessa	
  vários	
  períodos	
  da	
  história	
  do	
  Brasil,	
  períodos	
  assim	
  de	
  extrema	
  
opressão.	
  	
  Então	
  passam	
  a	
  escravatura,	
  passam	
  a	
  ditadura	
  militar,	
  então,	
  eles	
  falam	
  do	
  passado,	
  
mas	
  quando	
  eles	
  refletem	
  o	
  futuro	
  eles	
  falam	
  da	
  questãoda	
  água.	
  Não	
  sei	
  se	
  vocês	
  têm	
  
conhecimento	
  desse	
  filme,	
  eu	
  não	
  me	
  lembro	
  em	
  que	
  ano	
  eles	
  projetam,	
  mas	
  	
  
	
  
Mediador:	
  Acho	
  que	
  é	
  2050.	
  
	
  
Pergunta:	
  2050,	
  e	
  aí	
  nesse	
  período	
  com	
  a	
  escassez	
  da	
  água,	
  fica	
  um	
  produto	
  assim	
  que	
  como	
  o	
  
ouro,	
  como	
  alguém	
  já	
  falou	
  aí	
  também,	
  de	
  extrema	
  corrupção	
  para	
  se	
  conseguir	
  a	
  água.	
  Outra	
  
coisa	
  que	
  eu	
  acho	
  que	
  esse	
  filme	
  é	
  muito	
  interessante	
  da	
  gente	
  ver.	
  Outra	
  coisa	
  também	
  é	
  
vendo...estou	
  muito	
  feliz	
  de	
  estar	
  aqui	
  escutando	
  vocês,	
  pessoas	
  sérias	
  envolvidas	
  com	
  esse	
  
problema.	
  Eu	
  mesma	
  que	
  procuro	
  ler,	
  não	
  tinha	
  tanto	
  conhecimento	
  quanto	
  eu	
  tô	
  levando	
  hoje.	
  
E	
  aí	
  vem	
  a	
  minha	
  preocupação,	
  porque	
  tudo	
  o	
  que	
  a	
  gente	
  recebe	
  é	
  muito	
  editado,	
  então,	
  a	
  
ignorância,	
  o	
  desconhecimento,	
  leva	
  a	
  pessoa	
  a	
  não	
  se	
  engajar,	
  por	
  isso	
  não	
  é?	
  Então,	
  quanto	
  
mais	
  conscientização	
  melhor,	
  mas	
  não	
  há	
  conscientização,	
  é	
  tudo	
  editado,	
  como	
  é	
  que	
  a	
  
gente...o	
  que	
  eu	
  conheci	
  hoje	
  eu	
  não	
  conhecia	
  quando	
  vocês	
  falaram.	
  Na	
  medida	
  que	
  eu	
  puder	
  
reproduzir	
  isso,	
  tudo	
  bem,	
  mas	
  eu	
  sou	
  uma.	
  De	
  que	
  maneira	
  chegar	
  a	
  todos	
  isso	
  que	
  vocês	
  
passaram	
  hoje	
  para	
  nós?	
  
	
  
Pergunta:	
  Alô	
  Antônio,	
  eu	
  acho	
  que	
  é	
  possível	
  a	
  gente	
  dissociar	
  o	
  problema	
  da	
  água	
  do	
  
problema	
  de	
  consumo	
  de	
  energia	
  e	
  é	
  possível	
  a	
  gente	
  dissociar	
  o	
  consumo	
  de	
  energia	
  do	
  
desenvolvimento,	
  como	
  as	
  coisas	
  estão	
  tão	
  linkadas	
  que	
  eu	
  posso	
  dizer	
  que	
  o	
  problema	
  da	
  água	
  
é	
  um	
  problema	
  de	
  desenvolvimento?.	
  É	
  possível,	
  se	
  isso	
  for	
  verdade,	
  é	
  possível	
  pensar	
  numa	
  
solução	
  pra	
  água	
  sem	
  que	
  iniba	
  o	
  desenvolvimento	
  de	
  comunidades?.	
  O	
  que	
  a	
  gente	
  tá	
  falando	
  
aqui,	
  do	
  problema	
  da	
  água,	
  e	
  se	
  tiver	
  realmente	
  vinculado	
  água	
  e	
  desenvolvimento	
  e	
  sabe	
  que	
  
no	
  nosso	
  país,	
  sei	
  lá	
  quantos,	
  mais	
  de	
  2/3	
  ou	
  mais	
  da	
  população	
  recebe,	
  nós	
  vimos	
  agora	
  o	
  bolsa	
  
família,	
  quer	
  dizer	
  quando	
  essa	
  população	
  estiver	
  recebendo	
  o	
  que	
  os	
  senhores	
  da	
  banca	
  
estiverem	
  recebendo	
  de	
  salário,	
  como	
  é	
  que	
  vai	
  ficar	
  o	
  consumo	
  de	
  energia	
  dessas	
  pessoas	
  e	
  o	
  
que	
  elas	
  vão	
  exigir	
  de	
  água	
  e	
  o	
  que	
  mais?.	
  Então,	
  como	
  é	
  que	
  isso	
  vai	
  resolver	
  esse	
  problema?	
  
Imagina	
  um	
  mundo	
  onde	
  a	
  gente	
  inverte:	
  o	
  que	
  a	
  gente	
  tem	
  hoje	
  a	
  população	
  que	
  recebe	
  o	
  
salário	
  família	
  recebem,	
  e	
  o	
  que	
  elas	
  vão	
  demandar	
  em	
  termo	
  de	
  desenvolvimento,	
  de	
  energia	
  e	
  
de	
  como	
  vocês	
  imaginam	
  a	
  solução	
  dos	
  problemas	
  daí	
  decorrentes.	
  Obrigado.	
  
	
  
Mediador:	
  Muito	
  bem,	
  muito	
  obrigado.	
  Vamos	
  agora	
  passar	
  aqui	
  pra	
  responder	
  a	
  mesa,	
  o	
  Pedro	
  
aqui	
  já	
  começa.	
  
	
  
Pedro:	
  Bom,	
  obrigado	
  pelas	
  provocações,	
  acho	
  que	
  um	
  espaço	
  como	
  esse	
  são	
  justamente	
  
extremamente	
  rico	
  para	
  essa	
  provocação,	
  ou	
  seja,	
  cada	
  um	
  de	
  nós	
  aqui	
  tem	
  uma	
  experiência	
  
acadêmica	
  de	
  formação,	
  de	
  trabalho,	
  de	
  pesquisa,	
  mas	
  não	
  somos	
  donos	
  da	
  verdade,	
  então,	
  
acho	
  que	
  é	
  importante	
  trazer	
  essa...esse	
  aspecto,	
  ou	
  seja,	
  aqui	
  cabe	
  a	
  gente	
  olhar	
  um	
  pouco	
  
para	
  algumas	
  dessas	
  questões,	
  ou	
  seja,	
  talvez	
  começando	
  pela	
  última	
  porque	
  ela	
  permite	
  que	
  a	
  
gente	
  faça	
  um	
  encadeamento	
  dos	
  aspectos	
  que	
  foram	
  levantados,	
  ou	
  seja,	
  a	
  água,	
  energia	
  e	
  
desenvolvimento.	
  A	
  água	
  antes	
  da	
  legislação	
  de	
  1997,	
  da	
  legislação	
  nacional	
  sobre	
  a	
  gestão	
  da	
  
água,	
  ela	
  tava	
  fundamentalmente	
  focada	
  no	
  tema	
  da	
  energia,	
  tá?	
  Com	
  a	
  legislação	
  de	
  1997,	
  isso	
  
se	
  modifica,	
  inclusive,	
  	
  se	
  destaca	
  a	
  questão	
  do	
  direito	
  a	
  água	
  e	
  até	
  em	
  casos	
  emergenciais	
  e	
  
associados	
  ao	
  tema	
  da	
  dessedentação	
  animal,	
  ou	
  seja,	
  de	
  garantir	
  que	
  essa	
  água	
  possa,	
  não	
  é	
  o	
  
que	
  está	
  acontecendo	
  sobre	
  no	
  nordeste	
  porque	
  essa	
  estiagem	
  de	
  dois	
  anos	
  não	
  tem	
  como	
  ser	
  
resolvida	
  na	
  sua	
  plenitude,	
  mas	
  voltando	
  a	
  questão.	
  Um	
  dos	
  aspectos	
  que	
  é	
  fundamental	
  é	
  que	
  
haja	
  debate	
  sobre	
  a	
  água,	
  energia	
  e	
  desenvolvimento,	
  ou	
  seja,	
  é	
  possível	
  que	
  nós	
  olhemos	
  para	
  
a	
  questão	
  de	
  energia	
  hidroelétrica	
  como	
  algo	
  que	
  já	
  provocou	
  suficientes	
  problemas	
  do	
  ponto	
  
de	
  vista	
  humano,	
  das	
  relações	
  humanas,	
  perda	
  dos	
  espaços	
  de	
  vida	
  das	
  pessoas,	
  perda	
  de	
  
identidades,	
  né?	
  É	
  também	
  mudanças	
  importantes	
  do	
  ponto	
  de	
  vista	
  hidrológico	
  e	
  biológico,	
  
sempre	
  associados	
  nessa	
  questão	
  do	
  desenvolvimento,	
  mas	
  é	
  importante	
  lembrar	
  que	
  boa	
  
parte	
  dessas	
  grandes	
  hidroelétricas	
  foram	
  construídas	
  durante	
  o	
  período	
  autoritário,	
  então,	
  
esse	
  é	
  um	
  aspecto	
  que	
  nós	
  não	
  podemos	
  desconsiderar.	
  Então	
  hoje,	
  se	
  a	
  engenharia	
  ou	
  os	
  
gestores	
  públicos	
  entendem	
  que	
  a	
  solução	
  é	
  prioritária	
  é	
  a	
  hidroelétrica	
  ou	
  as	
  energias	
  não	
  
renováveis,	
  não	
  a	
  energia	
  dos	
  produtos,	
  mas	
  a	
  energia	
  dos	
  fósseis,	
  nós	
  temos	
  aí	
  uma	
  questão	
  
que	
  obviamente	
  se	
  coloca	
  para	
  o	
  debate	
  de	
  futuro,	
  não	
  para	
  o	
  futuro,	
  digo	
  que	
  se	
  coloca	
  como	
  
um	
  debate	
  para	
  se	
  pensar	
  nas	
  consequências	
  do	
  futuro,	
  né?	
  Inclusive	
  também	
  aqui	
  vai	
  passar	
  
um	
  filme	
  nosso,	
  O	
  Carro	
  Elétrico,	
  como	
  que	
  chama?	
  A	
  Morte	
  do	
  Carro	
  Elétrico,	
  né?	
  A	
  Vingança	
  
do	
  Carro	
  Elétrico	
  [Cris	
  Paine],	
  Então,	
  porque	
  o	
  carro	
  elétrico	
  não	
  aconteceu	
  antes,	
  ou	
  seja,	
  a	
  sua	
  
efetiva	
  implementação	
  de	
  forma	
  massiva	
  enquanto	
  sistema	
  de	
  geração	
  de...	
  energia	
  para	
  seu	
  
funcionamento?	
  Então,	
  porque	
  há	
  interesses	
  econômicos	
  sem	
  dúvida	
  é	
  isso,	
  é	
  uma	
  questão	
  que	
  
claramente	
  tem	
  que	
  colocar,	
  não	
  é	
  uma	
  questão	
  que	
  seja	
  a	
  solução	
  para	
  o	
  problema	
  de	
  
congestionamento,	
  se	
  o	
  carro	
  elétrico	
  movido	
  a	
  hidrogênio,	
  movido	
  a	
  petróleo,	
  a	
  etanol,	
  
mamona,	
  beterraba,	
  o	
  que	
  quiserem,	
  né?	
  mas	
  sem	
  dúvida	
  é	
  uma	
  questão	
  associada	
  ao	
  consumo	
  
de	
  energia,	
  então,	
  nós	
  estamos,	
  isso	
  tudo	
  nos	
  demanda	
  que	
  esses	
  debates	
  sobre	
  as	
  estratégias	
  
de	
  desenvolvimento	
  sejam	
  muito	
  mais	
  ampla	
  com	
  relação	
  apenas...baseadas	
  em	
  definições	
  de	
  
uma	
  visão	
  desenvolvimentista	
  a

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