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DEBATE ÁGUA – Gestão Pública da Água 26 de Maio de 2013 Chico Guariba: Essa noite nós vamos estar realizando um debate sobre a questão da água. Onde nessa temática nós temos seis filmes sobre a água e vamos estar discutindo a gestão pública da água. Para compor a mesa, eu queria convidar o Francisco Cesar Filho, nosso Chiquinho, que também é realizador e curador há mais de 30 anos, curador de mostras de São Paulo há mais de 30 anos e responsável pela coordenação de curadoria da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental. Queria pedir palmas para o Chiquinho. Queria convidar também o professor Pedro Jacobi da USP, que fez parte da comissão de seleção de filmes da Ecofalante, professor Renato Tagnin e professor Ladislau Dowbor. Bom, passo a palavra para o Chiquinho, por favor. Mediador: Obrigado Chico. Vamos dar início aqui ao 3º desses debates em eixos temáticos da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental. Queria começar passando a palavra para o professor Pedro Jacobi, inclusive porque ele conhece – pelo processo de seleção aqui, o qual ele fez parte nesse evento – os filmes que estavam reunidos sobre esse tema água e eu queria que ele falasse um pouquinho sobre as impressões que ele teve sobre o que esses filmes tratam e como tratam e como essas questões da água são cada vez mais cruciais para o futuro próximo do ser humano na Terra. Pedro Jacobi: Boa noite, obrigado. É uma enorme satisfação estar aqui e compartilhar também todo esse processo prévio da seleção do filme, algo extremamente desafiador para quem é apenas um expectador de cinema. Então, realmente foi um momento muito gostoso, cujo o resultado nós podemos observar aqui. Bom, eu não fui o único que vi o filme, então obviamente… De qualquer maneira, eu acho que é interessante se observar a escolha desses filmes que estão explicitados aqui, eles nos trazem uma diversidade de aspectos e questões, né? Um dos filmes que eu… Hoje passou o filme Patagônia se Levanta [de Brian Lilla], que trás uma reflexão daqueles que vão ser afetados diretamente pela construção de hidroelétricas no sul do Chile e mostra, digamos, a percepção dessas pessoas a partir do entendimento de que isso poderia ser resolvido de uma outra forma. De que a perda tanto do lugar, de vida, de trabalho, da identidade acontecerá, caso essas hidroelétricas sejam construídas. É uma região de recursos naturais fantásticos a Baia do Rio Baker no sul do Chile e é muito bacana o filme, porque ele lida com os seres comuns, não com pessoas que estão conversando e não necessariamente são ambientalistas, mas pessoas que têm uma enorme sensibilidade, uma enorme preocupação com os recursos naturais. É uma empresa que tem tido uma grande polêmica, inclusive porque originalmente era uma empresa espanhola, hoje em dia ela está sendo vendida. Então, tem uma série de aspectos que o título chama de uma forma bastante provocativa, Patagônia se levantando, ou seja, de que as pessoas questionam isso. O outro filme que vamos exibir hoje é a Crise Global da Água [de Jessica Yu], que faz uma denúncia sobre a questão da água de uma forma bastante ampla, apresentando um conjunto de pessoas especialistas, que tem denunciado o tema da água, digamos, vários deles são da área acadêmica, mas uma das pessoas, uma personagem… Inclusive foi a personagem de um filme cujo o nome tem exatamente o dela, Erin Brockovich [de Steven Soderbergh], que foi um filme feito há uns 10, 15 anos atrás e traz essa denúncia sobre a contaminação da água. Ela é uma pessoa que sofre perseguições. Então, é interessante porque a gente viu esse filme enquanto Julia Roberts, enquanto atriz e aqui a gente vê a própria Erin Brockovich ainda envolvida diretamente com essas questões. O outro filme, é um filme que emociona muito e que deixa a gente perplexo ao mesmo tempo que chama Enchente Não Arranca Raiz [de Caio Cavechini], que é um filme que trata aqui de uma região muito próxima da gente, o Vale do Ribeira, então é uma região muito próxima que sofre a cheia. Então basicamente são pessoas que se instalaram ali e, como ontem foi falado, ou seja, o rio tem seu espaço natural. Claro que nessas regiões o rio tem o espaço natural muito maior e ele vai ocupando, assim como é o caso do Pantanal, assim como é o caso da Amazônia. E o filme é muito bonito porque ele também trabalha esses depoimentos das pessoas que são assim, as pessoas dizem: eu não vou sair daqui porque isso acontece todo ano. Então, eu perco algumas coisas, mas eu não vou sair. Então, é uma imagem assim, muito forte, muito bacana, eu recomendo muito que vejam. É um filme brasileiro esse. Agora o Quem Controla a Água? [de Herdolor Lorenz e Leslie Franke.], que é um filme denúncia, um filme realmente forte que traz uma denúncia sobre as grandes multinacionais da água a partir do caso europeu, fala pouco dos países em desenvolvimento, mas fala sobre o caso dos europeus, da Veolia [Veolia Water] e Suez [Suez Environnement]. Então, é um filme com uma denúncia muito significativa, ele é muito válido porque toca na ferida, toca na jugular esse filme. É um filme que eu recomendotrabalhar em sala de aula. Torço para que no futuro possam passar esse filme em sala de aula, porque vale muito a pena. O filme Rio Colorado: O Direito à Água [de Mark Dacena], é um filme também que aborda a questão das bacias hidrográficas e também o tema do desafio de viver em harmonia com a natureza. Então é um filme muito bonito, a imagem é muito bonita, é um filme muito focado nos Estados Unidos – o Rio Colorado atravessa boa parte dos Estados Unidos – e ele trabalha basicamente com a ideia do direito da água. O Rios de Homens [de Tin Dirdamal] é um filme extremamente fascinante porque – apesar de trabalhar um tema muito polêmico, um tema que chama muita atenção, um tema muito importante sobre o neoliberalismo na gestão da água no caso boliviano, que se denominou com a guerra da água – ele traz diferentes personagens de uma forma extremante contundente, ou seja, inclusive depoimento da pessoa que está na frente do comando militar e que, a partir do segundo dia, ele pede o afastamento, porque não concorda com o método – já tinha havido uma morte. E, de fato, é um grande imbróglio tudo isso. Até a pessoa mais radical, como o Pedro Arrojo, que é uma das novas pessoas importantes na nova cultura da água, ele diz quanta manipulação houve de todos os lados. É um tema altamente polemico, porque se privatiza a empresa em nome da construção de uma represa que garante água, mas surgem fatos curiosos como os movimentos sociais ou a comunidade dizendo que aceita que a água da chuva seja privatizada. Então, traz todo um embate extremamente interessante, extremamente original ao mesmo tempo que pungente, porque ele lida com entrevistas de pessoas que perderam filhos, pessoas cuja carreira dentro do sistema militar foi desfeita e uma série de atores extremamente importantes. Então, quero com isso dizer, já que você pediu isso Chiquinho, o esforço foi por trabalhar com a diversidade e não ficar somente numa questão só que seja do questionamento, porque a água, realmente… é muito fácil trazer apenas a discussão sobre o questionamento da privatização, mas a importância maior é realmente o fortalecimento das práticas sociais, o fortalecimento dos movimentos das comunidade em defender o direto à água de um lado para garantir que a água continue um serviço publico, apesar de todos esses contraditórios, e, fundamentalmente, sensibilizar as pessoas para o fato de que a água é um bem finito. Chico: Muito bem. Obrigado professor Pedro. Eu queria passar a palavra para o professor Renato Tagnin. Esse tema, ele é muito sensível e cada vez mais grave, a gente tem várias previsões, várias distopias de que a água, como falaram ontem aqui na mesa, vai ser o verdadeiro ouro azul, vai ser a coisa mais valiosa do planeta e talvez tenhamos que pagar muito caro por ela. Professor, eu queria ouvir um pouquinho sobre esse assunto. Renato Tagnin: Boa Noite a todos, é um prazer estar aqui discutindo esse tema tão importante. Eu tive a oportunidade de ver esses 4 filmes, eu vi de ontem para hoje, e estou, assim, com o coração apertado. Apesar de a gente trabalhar essa questão de várias dimensões, do ponto de vista técnico, inclusive sensível, com questão da educação ambiental. Não traz novidade, mas pressiona por aquelas conhecidas. Uma coisa que a gente tem comentado e – o filme traz para nós esses vários pólos que o Pedro identificou, pólos de interesse em relação a água – fica claro o quanto a gente não se apodera da água e como ela se apodera de nós. Nós somos 70% feitos de água, não há nada na vida que prescinda, ela circula por todo o espaço movida pelo Sol, dilui tudo, arrasta tudo consigo. Então, o importante é a gente se entender nesse processo, fica muito difícil se colocar cavaleiro nesse processo ou espectador o tempo todo. Então, ela nos constitui. Não se trata de uma intelectualização de saber que com a água talvez ocorra isso ou aquilo com ela. Nós estamos nessa dança e dentro dessa dança: qual é o click em que ela nos conecta a ela mesma de forma consciente? É claro que não faltam maneiras de a gente devanear e pensar em coisas pouco essenciais, desde que a mídia nos oferece nos noticiários e etc., que nos desliga de questões importantes. Eu estava até brincando com o Ladislau que domingo à noite a gente ainda está curtindo o fim de semana, nós estamos antecipando a segunda-‐feira para a maioria das pessoas. Então, trata-‐se disso no final. Somos poucos a nos preocuparmos, essa é a aflição. Quando a gente vê a Erin Brockovich entrevistando as pessoas, dando notícias a elas que sim, nós temos um problema e que a agência ambiental não está aí, ela não é parte da solução, ou seja, nós estamos por nossa conta, é chocante. É chocante ouvir isso, ainda mais, em especial, quando a gente tem os Estados Unidos como paradigmáticos em muita coisa, inclusive na gestão do meio ambiente. Se a gente fizer daí uma regra de três: em que ponto nós estaríamos nessa curva de confiabilidade ou sendo cuidados por alguém? Nós estamos por nossa conta aqui também e aindamais. Então, a gente se pergunta sempre e a gente lida com vários públicos, em especial, os universitários, o desconhecimento em relação à água aqui onde nós estamos é gigante. As pessoas, aqui onde nós estamos, não sabem que tem a possibilidade de se fazer representar num comitê de bacia, não sabem qual é a situação da água e recebem a informação de que se parar e fechar a torneira enquanto escova os dentes, se tomar um banho mais curto, está tudo resolvido. Mas a situação aqui é uma calamidade, isso eu estou usando um termo técnico, é uma calamidade, uma temeridade. A gente vem estudando a região metropolitana, que tem uma escassez de água sem paralelo no Brasil e que jamais se resolverá enquanto fechamos a torneira para escovar os dentes, jamais. Então, fica a questão: bom, como essa informação vai chegar a todos se pela mídia não chega? Se chega visada a esse ponto? E vendo as obras políticas que estão envolvidas para resolver esses problemas de escassez de água, a gente vê que agora a preocupação já não é mais nem com a metrópole, é com a macrometrópole. Nós temos agora quatro regiões metropolitanas aqui vizinhas: a Baixada Santista, a nossa; a de Campinas; a do Vale do Paraíba; e, temos ainda as aglomerações vizinhas entre nós e Campinas, a região de Sorocaba. Ou seja, é uma região que está se adensando e já não é de hoje, onde a população cresce num ritmo extraordinariamente maior do que o da metrópole. A metrópole tem crescido num nível mais baixo de sua história, mas o crescimento está se dando fora, e está se dando onde seriam os nossos mananciais, ou seja, de onde a água proviria. Então, agora vai se radicalizar uma situação que já vivemos que é a do cobertor curto, porque nós disputamos água com todas essas regiões e em geral numa situação muito desfavoráveis para elas, porque a gente retira delas a água de melhor qualidade e a gente entrega o Tietê, né? Entrega uma periferia que está na cabeceira de outras. E analisando essa região macrometropolitana, que envolve 80% da população do estado, a gente nota que uma cidade é manancial da outra, ou seja, uma cidade faz xixi na água que a outra vai beber, e assim, e assim, e assim. Na região de Campinas, a gente tem cidades que recebem meia dúzia de xixis cumulativamente, né? E uma coisa que preocupa, que aparece no filme também, é que os compostos orgânicos sintéticos, os compostos químicos, aquele produto de limpeza que não precisa nem de água para limpar um vidro, aquela magia, tudo isso que vem sendo criado num ritmo muito frenético, não tem controles quaisquer, não é? Então, essa água da gente… a melhor notícia é que a gente está bebendo o xixi do outro, essa é a melhor notícia. Pelo menos é coisa conhecida do cotidiano. Mas os fármacos, os hormônios, os remédios – que inclusive é abordado em parte no filme – o que a gente toma, a maior parte é liberada e passa, quando é tratado o esgoto passa, quando é tratada a água passa. E isso está mudando não só o sexo dos peixes e sabe Deus o que mais, porque aquilo é um disruptor, ele vai alterando cumulativamente. Então, essa situação que nós estamos está tendo como receita fazer o quê? Recuperar essas áreas? Recuperar essas águas? Ou não? Fazer aquelas obras de saneamento naquele ritmo que a gente conhece que não acaba nunca, por especialistas com os orçamentos elásticos, prazos mais elásticos ainda. Mas, por outro lado, a solução é irmos buscar água cada vez mais longe. Aí é uma conta que não fecha, porque a gente vai sempre mais longe. O mais longe… a notícia ruim que a gente está estudando agora é que no mais longe tem gente que bebe aquela água, tem gado que também bebe, tem agroindústria, a cana, e ainda mais com a bombada do Etanol que está jogando esse restilo e outras substâncias derivadas do seu processo produtivo no solo, para fertilização, chama-‐se, e que isso contamina o Aquífero Guarani e outros. Daí, de onde nós vamos tirar água? Então, vejam, olhando esse quadro um pouco maior, não temos esse outro lugar onde buscar, né? E é interessante ver que nos filmes que estão passando, nesses últimos, também mostra que a solução, no caso da Patagônia, é buscar água ou energia cada vez mais longe, mas nunca se faz uma conta para dentro, né? O que a gente poderia… como nós poderíamos nos comportar diferentemente? E isso não basta nos hábitos domésticos, mas também nos hábitos de consumo, porque a gente sabe que a água virtual, que a água que é usada para produzir uma coisa que eventualmente nem tem água incorporada fisicamente nela, como o papel, são produtos que tem uma conta enorme para serem produzidos em termos de água. Então, a questão é que nós teríamos que ter uma compreensão ainda maior e é evidente que todas essas informações as quais a gente fala aqui, filmes falam, já são apropriadas e conhecidas pelos governos, elas são conhecidas. Inclusive, a gente trabalha com documentos oficiais, então essas informações estão ali. Mas estão conosco em forma de processo de decisão? Informa nossa atitude? Não, porque justamente se eu quisesse que nadaacontecesse, eu iria colocar umas pinças justamente nos canais de informação. Pronto, está resolvido. Porque eu cortei a informação, eu deixei alimentar qualquer hipótese de… não diria nem consciência, mas de pelo menos reflexão. Daí, essa questão é desafiadora, inclusive das ONGs e de todos que já trabalham nisso: é como dar escala? Como conseguir fazer de alguns um movimento – que não precisa chegar em vias de fato, como foi a guerra da água – poderia já ir alterando nossos hábitos de consume. E daí nós colocaríamos as pinças no sistema que é: não consumo isso, não quero aquilo e etc. Então, com alguns clipes a gente conseguiria estancar o processo produtivo, os processos decisórios e etc. A famosa desobediência civil, que aliás foi vitoriosa até na Índia, onde poderia se crer que isso não ocorresse, e também nos movimentos negros americanos com o Martin Luther King, quando os negros simplesmente disseram: não vou. Não posso entrar no ônibus? Não posso ir na frente? Não vou andar de ônibus. Pronto acabou, a casa caiu. Mas pra gente chegar a algo parecido com isso, a gente tem que compartilhar, né? Eu estava conversando com o Pedro que cada vez mais nós temos que colocar nossas inteligências para trabalhar em rede, né? Ou seja, criar pelo diálogo, criar pelo movimento passivo, de paz, diálogo mesmo, alternativas, e tentar descobrir juntos caminhos eficazes. Porque minorias nós já somos em termos de poderio, né? As corporações e etc. são notórias e conhecidas de todos e os governos idem. Não estão falando a nossa língua, estão suprimindo informação que nos é vital, sem figura de retórica, vital porque a água é vital. Então, o que fazer? As redes sociais mapeiam e nos dão boas esperanças, né? A gente esteve na Cúpula dos Povos no ano passado, no Rio de Janeiro, e foi possível ver que, ainda que poucos, como que em diferentes pontos do planeta, há movimentos que pela conexão tentam se empoderar. Mas evidentemente que é desproporcional ainda. Movimentos muito interessantes e etc. Valeria a pena a gente tentar descobrir, tentar ampliar essas vertentes e acho que esse movimento da Ecofalante é muito produtivo e é mais um esforço bacana para isso, obrigado. Mediador: Obrigado professor. Passamos agora a palavra ao Ladislau. É, o quadro parece muito negro. Professor, a gente pode ter algum tipo de esperança de que os nossos netos não vão…? Ladislau Dowbor: Eu acho que esse tipo de discussão não deveria ser feita no domingo a noite. Enfim, no meio da semana talvez. Pedro: É muito sério demais. Ladislau: Numa sexta-‐feira… Deixa eu comentar um pouco. Primeiro que a gente, junto com o Pedro e com o Renato, a gente fez um livro que é simpático, tá saindo uma reedição agora, né? Que é Administrando a Água Como se Fosse Importante [Editora Senac Nacional]. É um título legal, né? O título já vem com um pouco da nossa convicção desses processos, né? Eu sou economista, trabalho muito com planejamento, trabalhei em muitos países no quadro das nações unidas e o que a gente mais faz em planejamento é a chamada matriz, quer dizer, qualquer produto você tem a sua produção e você tem o uso, né? Se isso não equilibra, esquece, né? Estava até esse filme da Patagônia mencionando que você tem tal desenvolvimento da população, tanta energia que você vai precisar e como é que você faz? Então, é esses os equilíbrios que se busca. Agora, para buscar esses equilíbrios, nós precisamos de governança. O que o Renato mencionou aqui, o processo decisório é central. É realmente sabido de quais são as soluções e quais são as necessidades. E há soluções e há necessidades na energia, na água e etc. É bastante evidente, como ele disse, os problemas são conhecidos, né? O problema é o processo decisório, é a governança, né? Vou dar um exemplo do FriBoi, porque recentemente saiu um estudo sobre como se tomar decisões. Então a FriBoi, como vocês conhecem, é o maior matadouro, um dos grandes produtores mundiais aqui, e eles bancaram a eleição de 41 deputados federais e de 7 senadores. Legal, né? Por alguma misteriosa coincidência, dos 41 deputados federais, 40 votaram para reduzir o código florestal, ou seja, libera, em grande parte inclusive, as matas ciliares que tem tudo a ver com a água. Mas o exemplo é: não é por causa da água, é por causa disso. Quer dizer, nós temos uma apropriação corporativa que tem uma decisão política e aí você quer que o político vá contra os interesses coorporativos, né? Enquanto a gente tiver esse tipo de financiamento… Isso foi instalado no Brasil, essa abertura das corporações financiarem as eleições até 2% do seu capital por ano ou até violar a eleição, então surge rígidas leis dos recursos, né? Onde eu sei, em 1997, a partir daí você tem uma avalanche que é paralela a que se tem nos Estados Unidos, que é essa de 2007, quando se autorizou as corporações a bancarem as propagandas eleitorais. O juiz tomou a decisão e disse que autorizava isso em nome da liberdade de expressão. A Hazel Henderson, que é uma brilhante economista Americana – ela é britânicana verdade, mas está nos Estados Unidos – ela disse: nós temos o melhor congresso que o nosso dinheiro pode comprar. Nesse sentido, eu acho que tem um (?), digamos nessa problemática, que é da governança. Eu mesmo produzi um livro chamado Democracia Econômica [Editora Vozes] – vocês podem pegar, é só colocar no Google Ladislau lá, que chama Democracia Econômica – os próprios processos econômicos tem que ser democratizados, né? Quer dizer, a gente não tem acesso, a gente não tem transparência no mundo coorporativo, ou seja, o mundo coorporativo está assumindo o poder monetário, né? E evidentemente, no nosso congresso nós temos a bancada ruralista, a bancada dos grandes bancos, a bancada das grandes mídias, das quatro famílias, a bancada das sete empreiteiras e a gente fica procurando a bancada do cidadão, né? Bora procurar o Suplicy e meia dúzia aqui de deputado. Estou exagerando um pouco, mas nem tanto assim, na realidade, né? Sem falar do judiciário. Então, eu acho que esse resgate, eu chamo de resgate da dimensão pública do Estado, eu acho que é absolutamente vital. Não é burocracia, não é isso ou aquilo. É a dimensão propriamente pública do Estado. Deixa eu mencionar também, o desafio é planetário sobre a gestão dos bens comuns. Eu, por exemplo, trabalhava na África Ocidental e a pedido do governo africano fui a negociar com grandes empresas que são gigantescos navios, hoje super equipados, as rotas dos cardumes são mapeadas por GPS, a concentração de biomassa é detectada por satélite. Enfim, estão limpando os mares simplesmente, liquidando a principal base de vida que tem no planeta, que na realidade está nos mares, né? E eu falo com um senhor desse, a pedido do governo: Vem cá, vocês estão liquidando a maior base de vocês, desse jeito vai acabar o peixe. A resposta deles foi: Meu amigo, se não for eu, vai ser outro, isso aí vai acabar. Eu não estou falando com nenhum idiota, eu não estou falando com nenhum sacana, eu estou falando com um cara que me diz: olha, eu tenho 100 milhões de dólares para trazer pesca industrial e eu posso até sair, mas tem 10 pra ocupar meu posto, né? A coisa não é assim, está entendendo? Nem sequer de malvados, é de sistema. Tem que ter um processo de desresponsabilização quando é sistema. E ai a mudança do processo de governança é vital. Eu acho que nós temos um papel chave aqui no resgate do direito à comunicação, à livre imprensa, né? Aqui se diz que a nossa imprensa não tem censura, eu acho isso maravilhoso. Eu volta e meia, quando dou uma entrevista mais contundente, me liga aquela mocinha simpática e diz: professor, olha, lamento mais caiu aquela pauta, viu? Não é censura gente, pela amor de Deus, caiu a pauta. A gente olha, está surgindo muita coisa, hoje tem para se informar decentemente. Vocês podem assinar a Carta Maior, seção Envolverde, Mercado Ético e HU. Então, estão surgindo, se multiplicando. O Le Monde Diplomatique, está fazendo um imenso esforço, extremamente interessante. Quer dizer, realmente tem gente batalhando para haver a chegada da informação. Agora nós precisamos ter aliados nisso, aí cada um é multiplicador. Na área científica nós estamos fazendo agora um sistema de disponibilização de conhecimentos online. Eu faço todos os meus livros e artigos e disponibilizo online gratuitamente, porque o que me interessa é ser lido. O MIT nos Estados Unidos fez o OCW [Open Course Ware], todos os textos científicos são disponíveis online, tiveram em poucos anos mais de 50 milhões de textos disponíveis acessados no planeta. Não só por ser gratuito, mas por facilitar a pesquisa, ode facilitar o repasse para as pessoas. Imediato, né? Eu estive na China agora, na China agora as doze principais universidades adotaram o mesmo sistema, generalização online gratuita de todo o sistema de pesquisa. Porque os processos produtivos… esses aí consomem água, né? Para 1kg de café, você precisa ter 20 mil litros de água, certo? Agora o conhecimento não, a tecnologia não é… eu te passo um bem físico e deixo de tê-‐lo, eu passo um conhecimento e eu continuo com ele. Essa imensa oportunidade dessa evolução do sistema tecnológico que a gente pode se apropriar, mas aí nós que temos que começar a ter controle sobre os processos e transformação e a gente volta naturalmente ao problema da governança, né? Eu resumiria assim, viu? Esse negócio do cobertor que está ficando curto, né Renato? Que é ver quem está segurando o cobertor nesse processo e por enquanto, não somos nós. É isso aí, obrigado. Mediador: Muito obrigado professor. É, acho que a gente podia dar mais uma rodadinha aqui. Pedro que eu queria que você completasse com uma luz sobre essa conversa que girou aqui, por favor. Pedro: A luz do fim do túnel. Mediador: É o que a gente procura. Pedro: É, acho que a gente tem que tentar observar, quando falamos do tema da água, é observar a questão, digamos, da capacidade que existe na sociedade de promover políticas públicas desde uma perspectiva democráticas. Em princípio, desde a Constituição de 1988 estão dadas essas condições, do ponto de vista da possibilidade de participação da sociedadeem conselhos municipais, em conselhos vinculados à gestão de recursos naturais. Eu coloco isso em termos assim, em princípio. Até posso falar com algum conhecimento de causa, porque eu já fui membro do comitê da Bacia do Alto Tietê e também fui membro do conselho gestor da Agência do Alto Tietê. E quando nós falamos em democracia, nós temos que tentar observar aspectos relacionados tanto à possibilidade de implementar canais que garantam esse acesso democrático de informação, como foi aqui colocado, como também garantir que a sociedade civil tenha um comportamento democrático, porque isso aí também pesa muito quando estamos falando, principalmente, da representatividade dos referentes atores. O Renato também tem participado do comitê, portanto, a gente tem um conhecimento de causa a partir desses processos. O que eu acho que vale a pena a gente observar é que independente dessas instância ou dessa engenharia institucional, seja uma engenharia institucional que de fato não garante uma possibilidade de avanço democrático, avanço de resultados democráticos em relação à água, porque o peso dos atores governamentais é muito maior do que o peso dos atores da sociedade civil. Então, a sociedade civil entra no jogo perdendo de 2X0, o desafio é entrar e tentar empatar o jogo ou sair ganhando e vai depender das negociações e etc., etc. O que a gente pode observar também é que, quando estamos falando da governança da água, e introduzindo justamente essa dimensão tripartite, precisamos olhar também para o processo da representatividade, da representação. Quem nos representa? Quem representa os diferentes segmentos? A minha vivência no comitê – não quero com isso generalizar o Brasil – é bastante frustrante, porque de fato, lamentavelmente, ninguém é santo. Então, a gente observa que em muitos casos a representação está relacionada a interesses políticos e econômicos, dependendo de como se coloca a situação. Isso nos traz uma limitação quando pensamos que existe uma Legislação que possibilita o acesso burocrático dos atores, mas ao mesmo tempo entram em jogam todos os contraditórios da representação dos interesses e, de certa forma também, da própria falta de liderança política. Então, isso é um aspecto que não podemos desconsiderar e aí está colocado um enorme desafio, que é a multiplicação de atores mobilizados, de atores que se envolvem efetivamente em demandas, se quiserem chamar, lutas que promovam uma melhor governança do caso que nos interessa aqui, o recurso natural. Mas numa melhor governança inclusive das cidades, das regiões, né? Então, nós com isso temos um contraditório muito significativo. Do outro lado, nós não podemos ignorar que a lógica de gestão tem sido, mesmo que não seja a palavra privado a forma generalizada, mas mesmo as empresas públicas tem tido um comportamento privado na gestão, ou aquilo que se denomina parceria publico-‐privada que agora é a palavra da moda. É o que os especialista, pelo menos aqueles com uma visão mais conservadora, dizem, que não é a mesma coisa que uma privatização. Então, com isso, surgem perguntas: Como mobilizar? Como sensibilizar as pessoas? E ai, tanto o Renato quanto o Ladislau já levantaram alguma coisa, mas eu gostaria de reforçar a ideia e até trazer uma visão de que é possível transformar esse quadro sem cairmos nem na ingenuidade e nem na simplificação deste processo tão complexo efetivamente, né? Inclusive porque hoje talvez no Brasil não seja o processo de parceria publico-‐privada, não seja a partir das grandes multinacionais, mas das grandes empresas nacionais, as concessionárias, as grandes empreiteiras que… Efetivamente aquilo que o Ladislau mencionou, que as empreiteiras estão em todos os segmentos fundamentais e infraestruturais do Brasil. Mas eu queria reforçar a ideia de quanto é necessário que, quando estamos olhando essa forma de gestão compartilhada, seja possível com uma coresponsabilização, seja promover diálogos, seja possível multiplicar através de práticas de aprendizagem social. E aí eu trago meu lado otimista da luz do fim do túnel, no sentido de observar a necessidade, de obviamente promover novas lideranças, mas acima de tudo, de romper com as interpretações completamente modificadas e maniqueístas sobre o tema. O que falta, muitas vezes para a maioria das pessoas, é um pouco de conhecimento e não a palavra apenas de informação, mas um conhecimento mais qualificado que torne, que potencialize, que essas pessoas se tornem protagonistas. Com isso, o que eu quero dizer é que não tem resposta simples, o tema da água é fundamental que se ligue a pessoa que é um recurso finito, que lamentavelmente nós temos muito menos água porque nossas águas estão contaminadas, que é fundamental dizer de alto e bom som e com muita indignação que essa contaminação é fruto da omissão de décadas e décadas desde a expansão do processo de urbanização das autoridades públicas, e não resolveram os problemas do saneamento básico no país. Ou seja, ainda há condições de águas tratadas, portanto que poderiam garantir aquilo que hoje são rios como o Tâmisa, o Sena e outros rios que são nossas referências, rios que foram resgatados e recuperados e não é possível que efetivamentenão se dá conta da contaminação por falta de saneamento. Então, esses aspectos são absolutamente fundamentais, assim como os aspectos que foram também levantados sobre a questão das águas oceânicas e também sobre a contaminação dos rios por conta da falta de controle sobre o processo produtivo e também, além dos processos produtivos, da contaminação básica da poeira e daquilo que se denomina de particular, o que hoje também contaminam nossas fontes hídricas. Mediador: Ok, obrigado Pedro. Renato, mais alguma intervenção? Renato: Eu acho que foi interessante esse filme que vocês devem ter acabado de ver sobre a Patagônia. No final, eles começam a discutir as alternativas que existem tanto para a energia, quanto para água e uma série de coisas. Do ponto de vista tecnológico, nós temos um avanço enorme em vários campos, então há alternativas do ponto de vista tecnológico. Agora, há um outro conjunto de alternativas que muitas vezes a gente também não considera e que já é bastante estudado, que é o papel que a natureza, os biomas, os ecossistemas têm em purificar, em prestar uma série de serviços, ou seja, nos chegamos ao cúmulo, não é? O Ladislau brinca muito com essa história do economista, né? Que tem dificuldade de entender alguns processos. Mas, de maneira geral, a gente chega ao cúmulo de ter que explicar que a natureza serve para alguma coisa. E nesse caso, eu estou tentando, eu estou resgatando esse esforço, né? De que muitos tentam trazer para a linguagem econômica o valor que os nossos ecossistemas têm, o valor que os nossos ativos ambientais do Brasil têm. Esse valor é conhecido principalmente dos estrangeiros que vêm aqui praticar biopirataria ou, de certa forma, trazer processos produtivos altamente consumidores de água e energia, para que nós aqui demos um jeito neles. Então, há estudos que evidentemente comprovam que você, se tiver uma floresta numa região de mananciais, você não vai precisar tratar aquela área e gastar produtos químicos e etc,etc, etc e isso também não é ignorado. A questão é a cadeia alimentar e produzir ou conservar uma área verde, uma área vegetada. E é completamente antagônica a atividade imobiliária. Aliás, esse é o cerne da questão da luta contra o código florestal, é um problema fundiário, né? A nossa terra urbana e rural ela é apropriada especulativamente, então o que estava em discussão não era 30, 20, 10 metros ao longo dos rios, mas era de justamente nós podermos, nós, eles, esses representados, esses 40 – alias, esses 40 me lembra um outro número – que eram representantes exatamente das grandes partilhas de terras públicas que foram griladas, que tem agora perspectiva de avançar essa fronteira agrícola, mas não pela necessidade de alimento evidentemente, não é? Os grandes, as grandes propriedades, produzem cerca de 30% dos alimentos que nós consumimos, entregam mais ou menos 30%, e as pequenas propriedades produzem cerca de 75% dos alimentos e também emprega muita gente e ocupa menos espaço e esse espaço é bastante produtivo. Então, a questão é: o que está por traz de algumas lutas? O que está por traz de algumas tecnologias? Quem é que está interessado naquilo que está sendo veiculado. Então, frequentemente nos dão a seguinte opção: você quer morrer de tiro ou de facada? Isso não é escolha. Ou você quer ser responsável pelas… Eu, quando me opus a ir ao processo de bombeamento para poluir os nossos mananciais, o cara chegou para mim de uma determinada empresa e disse: então, eu posso botar seu nome e você vai ser responsável pelas enchentes de São Paulo, né? Como se nós tivéssemos apenas duas escolhas e as duas trágicas, né? Na realidade, nós temos um conjunto gigante, é por isso que nós temos a faculdade, a potencialidade de ir muito além. Mas a gente precisa, como o Pedro bem lembrou, olhar além, olhar quem é que está veiculando, que alternativa e qual o interesse que existe. E hoje, com essa crise em 2008 dos Estados Unidos, que repercutiu o mundo todo, o capital está em busca de uma alma para encarnar, né? Porque, como disse o David Hardy, nós precisamos crescer 3% ao ano para o capital se reproduzir como um todo, né? E aí, onde eu puder encarnar, eu vou. Agora estão encarnando no mercado imobiliário nosso, vocês viram os preços como é que estão. E nos alimentos e, também nas áreas produtoras de água, porque nessa região da Patagônia, eu tive notícias que há várias empresas comprando terras ali na região dos lagos andinos porque aquela água é cristalina e pelas projeções que eles dispõem de que com a mudança climática, quais são os lugares melhores e os piores para se viver, morar e produzir. E a compra de terras, por exemplo, no Brasil tem uma região, que eu não sei se é conhecida de vocês, que chama Mapito, É Maranhão, Piauí e Tocantins, que é uma região que está sendo foco de alta aquisição de terras, já faz uns 4, 5 anos, por empresas internacionais com peças de ferro locais, para que a produção de alimentos que vai… O gato subiu no telhado na produção de alimento mundial – inclusive os chineses já percebem isso há muito tempo e estão atuando ali nacosta oriental da África e em outras áreas com algumas quinquilharias de infraestrutura, ganhando a simpatia dos governantes locais e adquirindo terras imensas. Então, hoje é o Land Grab In, mas é Land and Water Grab In, os caras estão comprando e especulando terras onde haverá água. Gente, e nós? Quem é que tem na mão essa matriz? Esse mapa? Essa planilha para poder falar, não? Aqui não? Inclusive ali na região da tríplice fronteira, que é a do Paraguai, Argentina e Brasil, ali tem água pra caramba, inclusive do Aquífero Guarani, e nós tivemos a notícia de expedições de militares e adidos e etc. americanos e de outros países pra poder fazer um aeroporto absurdamente gigante, comprando terras para poder estar ali onde a água vai sobrar no planeta. Gente, e a gente? Pedro: É para nos proteger das drogas, né? Renato: Exatamente. Mediador: É por isso que eles estão lá. Bom, eu vou passar para o professor Ladislau e depois eu vou abrir para as perguntas de vocês. Ladislau: Vocês conhecem a Mafalda, né? A Mafalda tá discutindo com o Felipinho e tão discutindo valores, né? Ai chega o Manolito, que é aquele comerciante, né? O filho do comerciante. Ai a Mafalda esperançosa e otimista diz pro Manolito: Manolito, é verdade que não é só o dinheiro e há outros valores? Manolito reflete assim no quadrinho final e diz: Como no? Hay también los cheques. Gente, mercado não regula bens comuns ponto, não tem como. Florestas, terra – porque terra acaba, não é um produto – enfim, água, essas coisas, não tem como, né? A vida nos mares, né? O petróleo é outra coisa interessante, né? Produtores de petróleo, eu não sei, mas vocês já viram alguém produzir petróleo? É interessante, né? Produtor de petróleo, né? Tem um cara simpático de… o economista, né? O Huntington [Samuel P. Huntington]. Então ele diz que: pensar que podemos aumentar indefinidamente o consumo num planeta de tamanho limitado só pode ser pensado por um idiota ou por um economista. Gente, eu acho que nós temos que olhar para as oportunidades, o conjunto da mídia alternativa que está surgindo e a batalha pela liberdade da mídia. Eu penso o seguinte: 95% dos nossos domicílios tem TV, já pensou se a gente usasse isso de maneira inteligente? Os Estados Unidos fizeram um Public Broadcasting Service (PBS), certo? Eu tô batalhando agora junto com ao Mercadante pra gente fazer agora pra gente um canal científico de televisão aberto. Caramba, a molecada gosta. Tem gente que diz que ninguém assistiria um canal assim, daí vem os Estados Unidos e atinge 90 milhões de espectadores. O pessoal gosta de técnica, tecnologia, ciência, caramba, né? Gente, a batalha da comunicação, eu acho vital, viu? Acho vital. Deixa eu mencionar também que a gente tá trabalhando muito com o PIB, porque o cálculo como ele é feito é completamente absurdo, né? Tudo o que você joga de velhos fogões, pneus e etc. no rio Tietê, que leva a contratação de empresas para desassoreamento, né? As empreiteiras adoram, né? Tudo isso aumenta o PIB. A liquidação da Floresta Amazônica, aumenta o PIB, produção madeireira, né? É fantástico, a principal conta dos economistas não leva em conta a redução de estoques. Não tá no PIB a variação de estoques, qualquer um que trabalhou com contabilidade, fecha a conta do ano e tem que ver, né? Produzimos tanto acima e quanto de estoques reduzimos, como é que é? Então, tem toda uma discussão dos PIBs e tantos outros, o tal da Felicidade Interna Bruta. Nós temos que reorientar as decisões públicas em torno da nossa qualidade de vida de visão sustentável. Não só para nós, mas pros nossos filhos, netos, tem gente na frente, caramba. Ah, o petróleo ainda dá uns 20, 30 anos. Tudo bem, dá uns 20, 30 anos, mas 20, 30 anos é uma merreca, gente. Agora o lado do gás a gente não considera, né? Agora a gente tá acabando com uma coisa preciosa que levou centenas de milhões de anos para ser produzida como o petróleo, pra que? Ai você pega a moto ram-‐ram-‐ram e tô com esse… olha o meu carro, né? A gente, trabalhando com o Blick von der Tersasse, com o Carlos Lopes, aquele pessoal, a gente usou muito, inclusive na série de reuniões que a gente teve em Salvador, né? A ideia de que é uma crise civilizatória, é um modelo que se rompe, né? Essa ideia que você tem um pouco de Estado controlado por corporações internacionais ponderosas se mexe no mundo e não há governo planetário. E um dos movimentos sociais tapando buracos de desastres, este tipo de governança pra um planeta de 7milhões de habitantes com as tecnologias que se dispõe, átomo, extração de recursos naturais e etc. Esquece, isso vai pro brejo, não tem como. Olha, eu não sou pessimista, alias, eu gosto de uma frase do Tersasse, né? A gente tava dando uma entrevista na televisão e o rapaz disse: mas isso é uma visão pessimista. Eu disse: meu amigo, pessimista é o otimista bem informado. Deixa eu fazer três recomendações mais firmes para vocês. Vocês têm que ver um filme chamado A Corporação [de Mark Achbar e Jennifer Abbott], é um filme científico. Hoje tem filme científicoque dá de dez a zero, por isso eu fico felicíssimo com toda essa mostra, esse negócio, em livros e coisas assim, A Corporação, é fundamental. Dois: Trabalho Interno [de Charles H. Ferguson], que ganhou o Oscar há dois anos atrás. Três: A Verdade Inconveniente [de Davis Guggenheim], certo? Maravilha, vocês podem pegar no filme sobre como estão se articulando os movimentos sociais no planeta. Quem se Importa [de Mara Mourão], filme brasileiro, excelente filme. Gente, olha, agora a gente tem que organizar a disponibilização online de todo esse negócio, sabe? Eu tô me entusiasmando. Mediador: É o caminho, né? Tão falando aqui que a informação é a base de tudo o que é comunicação. Muito bem, agora a gente abre pras perguntas de vocês. O Everton está com o microfone ali e vocês pedem para ele. Chico Guariba: Eu sou o Chico Guariba, diretor da Mostra. É, finalizando a primeira rodada eu ia fazer algumas provocações, é pros palestrantes, os debatedores, mas infelizmente os debatedores fizeram a maior parte das provocações, né? Queria só colocar duas questões que são assim muito pungentes frentes aos filmes que estão aí. Bom, ficou clara a questão da governança, a falta de governança completa. Eu queria ressaltar isso e dentro da questão da governança, passar para a apropriação privada da água que está ocorrendo no mundo inteiro. Outro filme que nos tocou, foi um filme chamado Submission [de Theo van Gogh] que é só um adendo, uma propagação que é além de todo o quadro negro que os debatedores já colocaram. Mas o Submission coloca claramente que você tem… a humanidade já criou em torno de 200 mil substâncias químicas, né? 200 mil substâncias químicas que estão aí contaminando o planeta e que nós não sabemos de absolutamente nada sobre os efeitos das substâncias químicas no corpo humano ou na vida daqui para a frente. O filme coloca que se tirar, aqui, uma mostra de sangue de qualquer um da plateia ou da mesa vão ter inúmeras, milhares de substâncias químicas que não são naturalmente do nosso corpo. Bom, governança e submissão. Então era só essa provocação, obrigado. Mediador: Muito bem. Obrigado Chico. E alguém quer comentar aqui na mesa? Ladislau: O que a gente quer? Se ouvir, digamos, sobre de como a sente as coisas, né? Pergunta: Eu sou, meu nome é Mauro Grilo, eu faço parte de um coletivo chamado Proama Ambiental que é da Cohab José Bonifácio, e eu quero fazer um relato. A gente é um grupo de arte e educação ambiental e a gente tá lançando um média-‐metragem que chama Gritos de Rios e Ruas que fala sobre a auto bacia do Tietê e dez municípios onde o Tietê passa. E a gente está produzindo espetáculo que ele vai ser lançado no dia 22 de Junho em Mogi, que também fala sobre a questão dos rios e das águas e é muito preocupante para a gente que é da Cohab o que a gente rodou nesses municípios, a questão da água, ela ser, como posso falar, a questão dela ser desviada do curso dela. Enfim, ela ser concretada e um dos exemplos desse é o rio Tietê que quando São Paulo foi urbanizado, né? não foi pensado na questão ambiental da água, enfim, urbanizaram São Paulo e não pensaram no rio Tietê, porque o rio Tietê era um rio onde as pessoas nadavam, onde as pessoas praticavam a coisa de barco e isso foi assim passado um pano, e pra São Paulo isso é violentamente ruim, porque a gente podia ter aproveitado o rio Tietê, tá nadando nele, tá aproveitando ele, o nosso rio que hoje é um esgoto a céu aberto entre o rio Tamanduateí e o rio Pinheiros. Então, isso pra gente é difícil, eu falo porque eu moro em São Paulo. E eu queria também recomendar três filmes também que para nossa pesquisa foi muito, sobre rios e córregos o Entre Rios [Caio Silva Ferraz], e Águas do Brasil. E a minha pergunta para vocês é: como a gente pode mudar isso tudo que a sociedade, essa coisa da informação, como a gente pode ir mudando pra que chegue para as pessoas a informação certa? Essa informação da água ser um bem natural, porque as informações que chegam para a sociedade é, dessa grande mídia, são desvirtuadas. Essa é a minha pergunta, obrigado. Mediador: Alguém da mesa, por favor. Pedro: É, vamos rodar mais. Pergunta: Na verdade, é meu nome é Gabriela Ferrite, eu trabalho no Instituto Gaia, que é um instituto do Pantanal e a semana que vem nós vamos tá começando um trabalho com os ribeirinhos do Pantanal de conscientização da proliferação de hidroelétricas, e só uma informação que na semana passada caiu as liminar do ministério público que proibia a construção de 87 microhidroéletricas no Pantanal. Então, agora esse projeto do governo está liberado de novo, é só. Eu só queria dar essa informação para que as pessoas tivessem consciência. Pergunta: Meu nome é Sônia, me lembrei também agora de um filme que tá e cartaz, um filme brasileiro, Uma História de Amor e Fúria [Luiz Bolognesi], uma animação e nessa animação acontece que o filme atravessa vários períodos da história do Brasil, períodos assim de extrema opressão. Então passam a escravatura, passam a ditadura militar, então, eles falam do passado, mas quando eles refletem o futuro eles falam da questãoda água. Não sei se vocês têm conhecimento desse filme, eu não me lembro em que ano eles projetam, mas Mediador: Acho que é 2050. Pergunta: 2050, e aí nesse período com a escassez da água, fica um produto assim que como o ouro, como alguém já falou aí também, de extrema corrupção para se conseguir a água. Outra coisa que eu acho que esse filme é muito interessante da gente ver. Outra coisa também é vendo...estou muito feliz de estar aqui escutando vocês, pessoas sérias envolvidas com esse problema. Eu mesma que procuro ler, não tinha tanto conhecimento quanto eu tô levando hoje. E aí vem a minha preocupação, porque tudo o que a gente recebe é muito editado, então, a ignorância, o desconhecimento, leva a pessoa a não se engajar, por isso não é? Então, quanto mais conscientização melhor, mas não há conscientização, é tudo editado, como é que a gente...o que eu conheci hoje eu não conhecia quando vocês falaram. Na medida que eu puder reproduzir isso, tudo bem, mas eu sou uma. De que maneira chegar a todos isso que vocês passaram hoje para nós? Pergunta: Alô Antônio, eu acho que é possível a gente dissociar o problema da água do problema de consumo de energia e é possível a gente dissociar o consumo de energia do desenvolvimento, como as coisas estão tão linkadas que eu posso dizer que o problema da água é um problema de desenvolvimento?. É possível, se isso for verdade, é possível pensar numa solução pra água sem que iniba o desenvolvimento de comunidades?. O que a gente tá falando aqui, do problema da água, e se tiver realmente vinculado água e desenvolvimento e sabe que no nosso país, sei lá quantos, mais de 2/3 ou mais da população recebe, nós vimos agora o bolsa família, quer dizer quando essa população estiver recebendo o que os senhores da banca estiverem recebendo de salário, como é que vai ficar o consumo de energia dessas pessoas e o que elas vão exigir de água e o que mais?. Então, como é que isso vai resolver esse problema? Imagina um mundo onde a gente inverte: o que a gente tem hoje a população que recebe o salário família recebem, e o que elas vão demandar em termo de desenvolvimento, de energia e de como vocês imaginam a solução dos problemas daí decorrentes. Obrigado. Mediador: Muito bem, muito obrigado. Vamos agora passar aqui pra responder a mesa, o Pedro aqui já começa. Pedro: Bom, obrigado pelas provocações, acho que um espaço como esse são justamente extremamente rico para essa provocação, ou seja, cada um de nós aqui tem uma experiência acadêmica de formação, de trabalho, de pesquisa, mas não somos donos da verdade, então, acho que é importante trazer essa...esse aspecto, ou seja, aqui cabe a gente olhar um pouco para algumas dessas questões, ou seja, talvez começando pela última porque ela permite que a gente faça um encadeamento dos aspectos que foram levantados, ou seja, a água, energia e desenvolvimento. A água antes da legislação de 1997, da legislação nacional sobre a gestão da água, ela tava fundamentalmente focada no tema da energia, tá? Com a legislação de 1997, isso se modifica, inclusive, se destaca a questão do direito a água e até em casos emergenciais e associados ao tema da dessedentação animal, ou seja, de garantir que essa água possa, não é o que está acontecendo sobre no nordeste porque essa estiagem de dois anos não tem como ser resolvida na sua plenitude, mas voltando a questão. Um dos aspectos que é fundamental é que haja debate sobre a água, energia e desenvolvimento, ou seja, é possível que nós olhemos para a questão de energia hidroelétrica como algo que já provocou suficientes problemas do ponto de vista humano, das relações humanas, perda dos espaços de vida das pessoas, perda de identidades, né? É também mudanças importantes do ponto de vista hidrológico e biológico, sempre associados nessa questão do desenvolvimento, mas é importante lembrar que boa parte dessas grandes hidroelétricas foram construídas durante o período autoritário, então, esse é um aspecto que nós não podemos desconsiderar. Então hoje, se a engenharia ou os gestores públicos entendem que a solução é prioritária é a hidroelétrica ou as energias não renováveis, não a energia dos produtos, mas a energia dos fósseis, nós temos aí uma questão que obviamente se coloca para o debate de futuro, não para o futuro, digo que se coloca como um debate para se pensar nas consequências do futuro, né? Inclusive também aqui vai passar um filme nosso, O Carro Elétrico, como que chama? A Morte do Carro Elétrico, né? A Vingança do Carro Elétrico [Cris Paine], Então, porque o carro elétrico não aconteceu antes, ou seja, a sua efetiva implementação de forma massiva enquanto sistema de geração de... energia para seu funcionamento? Então, porque há interesses econômicos sem dúvida é isso, é uma questão que claramente tem que colocar, não é uma questão que seja a solução para o problema de congestionamento, se o carro elétrico movido a hidrogênio, movido a petróleo, a etanol, mamona, beterraba, o que quiserem, né? mas sem dúvida é uma questão associada ao consumo de energia, então, nós estamos, isso tudo nos demanda que esses debates sobre as estratégias de desenvolvimento sejam muito mais ampla com relação apenas...baseadas em definições de uma visão desenvolvimentista a
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