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ESTILOS DE APRENDIZAGEM UNIASSELVI-PÓS Autoria: Débora de Lima Velho Junges Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: J95e Junges, Débora de Lima Velho Estilos de aprendizagem. / Débora de Lima Velho Junges. – In- daial: UNIASSELVI, 2020. 130 p.; il. ISBN 978-65-5646-106-9 ISBN Digital 978-65-5646-107-6 1. Aprendizagem. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS ......... 7 CAPÍTULO 2 INTRODUÇÃO AOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM .................. 49 CAPÍTULO 3 ESTRATÉGIAS E RECURSOS PARA O ENSINO UTILIZANDO MÚLTIPLOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM ............................... 91 APRESENTAÇÃO A compreensão de como aprendemos tem evoluído bastante, principalmente a partir do século XX. Diversos pesquisadores, das mais variadas áreas, investigaram diversas perspectivas sobre a aprendizagem. De pedagogos a neurocientistas, foram diversas pesquisas que buscaram compreender os mais diversos aspectos relacionados ao tema. No Capítulo 1, veremos parte deles. Começaremos pela abordagem acerca das Múltiplas Inteligências, uma teoria formulada por Gardner (1993), que traz uma abordagem muito interessante sobre o assunto. Em seus trabalhos, Gardner afirma que, ao invés de termos uma única inteligência que pode ser medida através dos testes de QI e que não pode ser “melhorada” (chamada aqui de inteligência unitária e imutável), temos oito diferentes tipos de inteligência que podem ser melhoradas (chamadas, aqui, de inteligências múltiplas e mutáveis). Dessa maneira, Gardner (1993) busca explicar como pessoas diferentes podem aprender de formas diferentes. Assim, ele fala que todos nós possuímos essas oito inteligências, embora tenhamos apenas uma ou duas mais facilmente desenvolvidas. O que não significa que é impossível desenvolver as outras, pelo contrário. A teoria diz que, por exemplo, alguém que não tem a inteligência musical aguçada, pode se dedicar a melhorá-la. E são essas inteligências que abordaremos neste capítulo. No Capítulo 2, abordaremos os Estilos de Aprendizagem. Além da abordagem na qual nos aprofundaremos, teremos este capítulo como uma referência para a introdução do conceito geral, bem como a apresentação de diversas outras visões sobre o assunto. Mas, antes, abordaremos questões cognitivas, vendo como Jung descreveu a forma com que percebemos e julgamos o mundo, e como isso impacta a forma com que coletamos informações e, depois, como as analisamos. Com o foco em desenvolver os perfis de estilos e saber como utilizá-los em sala de aula, permitirá que você desenvolva perfis de estilos de aprendizagem e os utilize em sala de aula. No Capítulo 3, continuamos estudando a influência das múltiplas inteligências nos estilos de aprendizagem e como elas podem ser aplicadas em sala de aula. Faremos isso através da exposição de recursos e possibilidades que se apresentam com o uso da tecnologia ou não. Assim, você terá diversos exemplos de como aplicar o conhecimento abordado aqui, de forma prática em sua sala de aula. Bons estudos. Professora Débora de Lima Velho Junges. CAPÍTULO 1 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: reconhecer o conceito de múltiplas inteligências; identifi car múltiplas inteligências em sala de aula; compreender como a adequação ao uso de múltiplas inteligências pode trazer benefícios ao aprendizado; compreender os diversos enfoques cognitivistas; reconhecer fatores que infl uenciam a motivação do aluno; reconhecer distúrbios de aprendizagem que interferem as condições e motivações dos alunos; utilizar estratégias e habilidades para a aplicação das múltiplas inteligências. 8 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm 9 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Tradicionalmente, quando se tem a intenção de mensurar a inteligência de um indivíduo, o foco primordial acaba envolvendo habilidades relacionadas à linguística, lógica e matemática, falhando em reconhecer outras habilidades, como criatividade ou algum conhecimento prático que foi adquirido através da experiência individual da pessoa, por exemplo (ALPAY, 2019). Isso ocorra, talvez, porque um dos objetivos do teste é prever o desempenho acadêmico dos estudantes, o que talvez sirva para ter uma noção prévia de como será o desempenho dos alunos em relação aos estudos, mas que, possivelmente, não permita compreender como se dará a vida “pós-escola” deles. Pesquisas já demonstraram que estudantes de destaque, que tinham ótimas notas e um desempenho escolar brilhante (em vários casos, incluindo pessoas com ensino superior), podem ter carreiras fracassadas, não sendo bem-sucedidas em suas profi ssões (KORNHABER; KRECHEVSKY; GARDNER, 1990). Existe uma perspectiva que sugere que existem muito mais características que não são medidas pelas formas tradicionais de testar a inteligência de um indivíduo. Estas envolvem talentos e habilidades que também se relacionam ao aprendizado, auxiliando a compreensão das formas com as quais os alunos podem aprender. E, como diversas pesquisas apontam que o funcionamento da mente se dá através da interação entre vários “módulos ou inteligências”, Gardner publicou a teoria das Múltiplas Inteligências (ALPAY, 2019). Compreender a questão das múltiplas inteligências como uma nova perspectiva em relação à forma tradicional como vemos o assunto, pode trazer alguns benefícios interessantes. Um deles, além dos aspectos práticos que envolvem o desenvolvimento de estratégias para o ensino, é a compreensão dos fatores motivacionais e como eles infl uenciam o aprendizado. Afi nal, se antes o principal fator para a compreensão de quais são os potenciais de um aluno estava contido em uma forma binária para enxergar as capacidades do aluno (descrevendo se ele era inteligente “ou não”, de acordo com uma pontuação), agora, uma abordagem que leva em conta as múltiplas inteligências, permite saber não “se” o aluno pode aprender, mas como isso pode ocorrer. Dessa maneira, podemos identifi car os fatores que vão motivar o aluno, pois ele verá progresso no seu aprendizado; ou quais são as abordagens necessárias para estimular aqueles que possuem algum distúrbio de aprendizagem; ou mesmo permitir que você desenvolva aulas que aproveitem melhor as capacidades cognitivas de cada um dos alunos. 10 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Começamos a nossa jornada abordando a questão das múltiplas inteligências. Tendo os objetivos de aprendizagens como a nossa espinha dorsal para a construção deste capítulo, poderemos compreender a extensão desta primeira etapa do conteúdo e, assim, ter uma noção do saber-fazer que será desenvolvido a partir de agora. Pedimos que você releia a lista de objetivos, mas que desta vez faça com bastante calma, e seguindo as seguintes instruções para cada uma das frases: 1) Leia; 2) Pense no que você acha que trataremos naquele tópico; 3) Escreva um parágrafo sobre o assunto; 4) Guardeesse texto para ler depois que terminar o capítulo. Essa é uma prática simples, mas muito efetiva para ajudar uma melhor compreensão sobre o assunto, porque, apesar de focarmos na criação do conteúdo mais completo possível aqui, certamente não há como abordar todas as nuances e aspectos sobre o assunto em apenas uma disciplina. Ao se dar a chance de comparar os seus conceitos antes e depois de você ser impactado por este livro, será mais fácil para você “conectar os pontos”. Ou seja, estabelecer relações que transcendem o que veremos aqui, e isso é importante. Aprender não é decorar, e sim, em certa medida, se apropriar de um conhecimento com tal profundidade que permite a você estabelecer relações que extrapolam o que foi visto em aula. Assim, você poderá enxergar na sua realidade aquilo que vimos aqui e, dessa maneira, ter uma compreensão muito mais ampla do que qualquer professor é capaz de proporcionar – pois ela será construída através da união do conhecimento acadêmico com algo que só você possui: a sua experiência de vida. 2 MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS O que signifi ca ser inteligente? Se pararmos para pensar em algo que parece ser comum a diversas pessoas durante a infância, podemos recordar daquela defi nição de “inteligente” e “burro” que é bastante utilizada – principalmente em desavenças – para classifi car os estudantes que têm boas notas, daqueles que não têm. Obviamente, professores não pensam (ou falam) dessa maneira. Já os alunos que querem ofender os seus coleguinhas, durante os confl itos que acontecem em sala de aula, muitas vezes fazem uso dessas expressões. 11 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 Apesar de esse não ser um conceito ensinado na escola – ao menos não deveria ser – a construção do conceito de inteligência é algo bastante antigo e se faz através de diversos debates fi losófi cos. Podemos citar Platão, dizendo que, de certa forma, ser inteligente é estar ciente de sua própria ignorância (SILVER; STRONG; PERINI, 2000). Se pesquisarmos no dicionário, teremos uma defi nição mais moderna (DICIONÁRIO PRIBERAM, 2020, s.p.): in·te·li·gên·ci·a (latim intelligentia, -ae, plural neutro de intelligens, -entis, particípio presente de intelligo, -ere, perceber, compreender) substantivo feminino 1. Conjunto de todas as faculdades intelectuais (memória, imaginação, juízo, raciocínio, abstração e concepção). 2. Qualidade de inteligente. 3. Compreensão fácil. 4. Pessoa muito inteligente e erudita. 5. [Figurado] Acordo, conluio. 6. Harmonia. 7. Habilidade. 8. Atividade ou serviço que visa obter e fornecer informações secretas relativas ao estado, ao governo, à segurança ou a setores estratégicos. O século XX foi de extremos avanços para a compreensão do funcionamento do cérebro e da cognição. Por isso, passamos de “inteligência é conseguir reconhecer a própria ignorância”, para um conjunto de atributos que inclui capacidades de compreensão, habilidade, harmonia, o conjunto de memória, imaginação, juízo, raciocínio, abstração e compreensão, além de outras características. Mas, para nós, isso não quer dizer muito, já que o conceito que está descrito no dicionário, embora sirva como ponto de partida, não nos oferece nenhuma aplicação prática – a não ser a compreensão de parte da evolução do nosso entendimento sobre o assunto. E, para continuarmos a evoluir na construção desse conhecimento, precisamos nos perguntar: Por que, e quando, consideramos uma pessoa inteligente? Como diferentes culturas enxergam a inteligência de formas diversas? Como é possível aferir inteligência a alguém? Para responder a essas questões, precisamos falar sobre a pesquisa de Howard Gardner, um psicólogo norte-americano que dedicou a sua vida acadêmica a compreender o assunto. 12 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm 2.1 RECONHECENDO INTELIGÊNCIA ATRAVÉS DE UMA PERSPECTIVA DIFERENTE “O conceito de inteligência, talvez, tenha recebido mais devoção na psicologia do que qualquer outro conceito, e ainda assim tem resistido a um esclarecimento completo” (REBER, 1995 apud ALPAY, 2019, p. 1). Como você já pôde ver anteriormente no texto, na história, o conceito de tal característica foi debatido por fi lósofos e artistas, mas no século XX, a conclusão sobre “o que é ser inteligente” foi amplamente esmiuçada pelos mais diversos estudiosos da cognição. Afi nal, por que esse debate sobre psicologia cognitiva é importante para a educação? Bem, o principal motivo é porque existem diversos conceitos sobre o assunto e você precisa compreender, inicialmente, que este livro aborda um deles. E que, embora o nosso foco seja construir o entendimento acerca das múltiplas inteligências descritas por Gardner (1993), eventualmente você se deparará com outras defi nições. A escolha pela defi nição da que será apresentada a partir deste ponto, se dá devido a diversos fatores relacionados a sua aplicação para a educação, e sobre como ela está relacionada aos estilos de aprendizagem. Outra informação importante, antes de falarmos sobre múltiplas inteligências, é a de esclarecer que essa perspectiva sobre o assunto “levanta questões sobre o quão adequado é o tradicional uso do Quociente de Inteligência (QI) e a sua capacidade de mensurar a aptidão escolar e, portanto, as estratégias de ensino empregadas na escola ocidental comum” (ALPAY, 2019, p. 1). Ou seja, quando consideramos a aplicação dos conceitos desenvolvidos por Gardner, devemos estar abertos a repensar algumas coisas que temos como garantidas ao falarmos sobre o assunto. Portanto, seria bastante interessante se você parasse um minutinho para responder ao que você faria em uma determinada situação. Imagine que você assumiu a docência em uma nova instituição de ensino. Uma semana antes de colocar o seu primeiro pé em sala de aula, você recebe diversos materiais para preparar as suas aulas. Dentre estes materiais, você encontra o teste de QI feito por todos os alunos para os quais você lecionará. Como esses testes infl uenciarão a sua estratégia de ensino? Novamente, como feito antes, a recomendação é de que você anote a resposta para esse questionamento e, assim, possa comparar com o que faria após a conclusão deste capítulo e do curso. A ideia não é debater sobre as estratégias possíveis de serem abordadas utilizando o resultado dos testes, mas permitir que você compare a sua visão sobre o assunto em momentos diferentes da sua vida. 13 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 2.2 A TEORIA DAS OITO INTELIGÊNCIAS DE GARDNER Como já abordamos anteriormente, a forma tradicional de reconhecermos a inteligência se dá através da mensuração feita por testes de QI. É claro que, em diversas oportunidades ao longo das últimas décadas, educadores vêm reconhecendo as questões relacionadas às múltiplas inteligências, o que vai muito além da medição de aspectos linguísticos, lógicos e matemáticos. Dessa maneira, existe uma boa chance de que você já tenha – ao menos – ouvido alguém falar sobre esse assunto. Por isso, vamos adentrar em alguns aspectos específi cos dos conceitos publicados por Gardner (1993), antes de abordarmos outros assuntos, como as questões relacionadas à motivação. Em primeiro lugar é importante saber que, inicialmente, Gardner (1993) listou sete diferentes tipos de inteligência: verbal-linguística, musical, lógico- matemática, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Em trabalhos posteriores, ele defi niu mais uma, chamada de “inteligência naturalista” (ALPAY, 2019). Dessa maneira, ele foi de encontro às defi nições predominantes que aderiam aos princípios de que a cognição humana era unitária e de que indivíduos podem ser descritos como tendo uma defi nição única e quantifi cável de inteligência (SILVER; STRONG; PERINI, 2000). Ao trazer uma nova perspectiva ao assunto, Gardner (1993) propõe as seguintes mudanças trazidas por uma nova visão em confronto com aantiga, como podemos ver no quadro a seguir. QUADRO 1 – COMO A NOSSA DEFINIÇÃO DE INTELIGÊNCIA MUDOU Visão antiga Nova visão • Inteligência era algo fi xo. • Inteligência era medida por um número. • Inteligência era unitária. • Inteligência era medida de forma isolada. • Inteligência servia para separar estudantes e predizer o seu sucesso. • Inteligência pode ser desenvolvida. • Inteligência não é algo que pode ser numericamente quantifi cado e exibido através de um processo de resolução de problemas ou performance. • Inteligência pode ser demonstrada de várias maneiras – múltiplas inteligências. • Inteligência é mensurada em situações contextuais/da vida real. • Inteligência é utilizada para compreender as capacidades humanas e as variadas formas de sucesso que podem ser atingidas pelos estudantes. FONTE: Adaptado de Silver, Strong e Perini (2000) 14 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Dessa maneira, podemos perceber que Silver, Strong e Perini (2000) trazem como “visão antiga” uma inteligência que pode ser medida através de um teste de QI e que tem algumas características bastante confl itantes com a ideia das múltiplas inteligências. Uma que mais se destaca é a questão de ela ser unitária, ou seja, só existe um tipo de inteligência. Isso signifi ca que não importa a situação, momento ou contexto, sempre “usaremos” a mesma capacidade cognitiva para lidar com as mais diversas situações. Outra característica é que ela é algo fi xo, que não pode ser alterado. Obviamente, uma pessoa pode aprender ao longo da vida. Mas a capacidade cognitiva para o aprendizado, segundo a visão de inteligência unitária, é que ela também é imutável. Já o que é chamado de “Nova visão” no Quadro 1, traz uma perspectiva bastante antagônica em relação aos dois pensamentos apresentados anteriormente. Não apenas existe mais de uma inteligência, como elas podem ser desenvolvidas e aperfeiçoadas. Vamos abordar esses assuntos mais adiante. O que percebemos através dessa comparação é que a abordagem proposta por Gardner (1993) exige novas formas de compreender como encarar as capacidades dos alunos e de como essa maneira diferente de enxergar o tema traz diversos desafi os. A forma com que Gardner (1993) propôs enxergar a inteligência (ou as inteligências) não foi a primeira a confrontar o pensamento tradicional sobre o assunto. Mas ela se destacou, entre outras coisas, por ter uma forte pesquisa acadêmica por trás, tendo as suas bases em achados e conceitos advindos da antropologia, psicologia cognitiva, neurologia, além de outras ciências. Tal lastro permitiu que os conceitos desenvolvidos por ele se tornassem bastante acreditados em diversas áreas, incluindo a educação. Agora que a contextualização sobre os contrapontos da teoria das múltiplas inteligências foi apresentada, é hora de abordarmos cada uma. Segundo Silver, Strong e Perini (2000, p. 7, tradução nossa): Inteligência Verbal-Linguística (V) se manifesta na habilidade de manipular palavras para uma variedade de propósitos: debate, persuasão, contação de histórias, poesia, prosa escrita e instrução. Pessoas com alta inteligência verbal- linguística, frequentemente amam jogar com as palavras e usar recursos como trocadilhos, metáforas, símiles, dentre outros. Com muita frequência, pessoas que possuem uma forte inteligência verbal-linguística, conseguem ler por horas a fi o. Suas habilidades auditivas costumam ser altamente desenvolvidas e eles podem aprender melhor quando conseguem falar, ouvir, ler ou escrever. 15 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 Inteligência Lógico-matemática (L) é a base para as ciências duras e todo o tipo de matemática. Pessoas que usam a inteligência lógico-matemática enfatizam o racional: elas geralmente são boas em encontrar padrões, estabelecer relações de causa e efeito, conduzir experimentos controlados e contínuos. Geralmente, eles pensam de forma conceitual e em questões, amando testar ideias. Inteligência Espacial (S) envolve uma alta capacidade para perceber, criar e recriar fotos e imagens. Fotógrafos, artistas, engenheiros, arquitetos e escultores usam a inteligência espacial. Pessoas que possuem esse tipo de inteligência enxergam profundamente até os mínimos detalhes; costumeiramente rascunham ideias com gráfi cos, tabelas ou imagens; e, com frequência, conseguem converter palavras ou impressões em imagens mentais. Pessoas especialmente inteligentes pensam em imagens e tem um aprofundado senso de localização e direção. Inteligência Musical (M) é a habilidade de produzir melodia e ritmo, assim como compreender, apreciar e formar opiniões sobre música. Pessoas que conseguem cantar com afi nação, manter o tempo, analisar formas musicais ou criar uma expressividade musical, exibem inteligência musical. Pessoas musicalmente inteligentes são sensíveis a todos os tipos de sons não verbais e ritmos dos sons cotidianos. Inteligência Corporal-cinestésica (B) está relacionada ao “eu físico” e a manipulação do próprio corpo. Aqueles que possuem inteligência corpóreo- cinestésica podem, geralmente, manusear objetos ou fazer movimentos corporais precisos com relativa facilidade. O seu senso tátil é, geralmente, bem desenvolvido e eles apreciam desafi os físicos e buscas. O seu aprendizado acontece melhor através do fazer, mover e agir. Inteligência Interpessoal (P) age nas pessoas que são naturalmente sociáveis. Pessoas interpessoalmente inteligentes trabalham bem com outros e são bastante sensíveis a qualquer variação de humor das pessoas, suas atitudes e desejos. Com frequência, pessoas interpessoalmente inteligentes são amigáveis e fáceis de conviver. A maioria das pessoas com essa inteligência sabem como medir, identifi car e reagir ao temperamento dos outros. Eles costumam ser ótimos como membros ou gerentes de um time e eles aprendem melhor quando conseguem se identifi car com outras pessoas. Inteligência intrapessoal (I) é a habilidade para lidar com os seus próprios sentimentos e estados emocionais. Pessoas interpessoalmente inteligentes geralmente escolhem trabalhar por conta própria, já que usam e acreditam que o seu autoconhecimento as pode guiar. Eles estão em contato com os seus sentimentos internos e são capazes de desenvolver objetivos e concepções realistas de si mesmo. 16 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Inteligência naturalista (N). Essa inteligência é vista naqueles que possuem uma forte conexão com o mundo natural das plantas e animais, assim como a geografi a e objetos naturais como pedras, nuvens e estrelas. Pessoas que têm uma inteligência naturalista amam estar ao ar livre e tendem a perceber padrões, características a anomalias nas confi gurações ecológicas que encontram. Eles são adeptos do uso desses padrões e características para classifi car e categorizar objetos naturais e coisas vivas. Aqueles com inteligência naturalista demonstram apreciação e uma profunda compreensão do meio ambiente. Ao adotarmos essa perspectiva de que lidamos com oito inteligências (múltiplas) ao invés de uma só (unitária), devemos ter em mente algumas coisas. Em primeiro lugar é que essa teoria não permite uma quantifi cação pontual, como aquela que é feita através de testes de QI. Em segundo, que todas as pessoas possuem as oito inteligências – embora tenham algumas mais ou menos desenvolvidas. Então os seus alunos terão a capacidade de ter contato com todas as características apresentadas nas defi nições, apenas tendo algum grau de difi culdade em cada uma das situações. Outra característica dessa abordagem é a de que o “uso” de determinado tipo de inteligência acontece de acordo com o contexto e a situação. Isso signifi ca o seguinte: segundo a maneira unitária de se pensar inteligência, independentemente do problema que precise ser enfrentado, ou da situação que necessite de resolução, a capacidade de cada indivíduo para lidar com isso era uma só – aquela medidapelo teste de QI. Não importa se é uma questão que desafi e o pensamento lógico, ou a necessidade de interagir com outras pessoas. Já quando falamos em múltiplas inteligências, a ideia é de que, ao enfrentar a primeira situação, o indivíduo utilizará a inteligência lógico-matemática. Ao precisar lidar com o segundo caso, ele fará uso da inteligência interpessoal. E, também, uma questão que deve ser levada em conta é que cada tipo de inteligência pode ser desenvolvido e aperfeiçoado. Inteligência não é algo estático, ao contrário da visão de inteligência unitária, ou seja, é possível desenvolver nas pessoas habilidades de lidar com as mais diferentes situações. Por exemplo: alguém que deseja desenhar, mas tem difi culdades de fazer isso, pode descobrir técnicas ou maneiras de lidar com as suas difi culdades. Assim, poderá desenhar tão bem quanto alguém que, com mais facilidade, já demonstrou habilidade para tal atividade. É importante lembrarmos de um detalhe: apesar do fato de Gardner (1993) insistir que todas as pessoas possuem as oito inteligências, “a maioria demonstra alta capacidade em uma ou duas inteligências” (SILVER; STRONG; PERINI, 2000, p. 9). 17 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 2.3 IDENTIFICANDO AS CARACTERÍSTICAS DE CADA TIPO DE INTELIGÊNCIA Agora que você sabe quais são as oito inteligências de Gardner (1993), como identifi car as características que são possíveis de perceber em um indivíduo e relacionar com alguma delas? Quais são as inclinações e habilidades apresentadas para cada uma delas? Para compreender melhor, você pode ver alguns exemplos no Quadro 2. QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DAS INTELIGÊNCIAS Inteligência Sensibilidade Inclinação Habilidade Inteligência verbal- linguística Aos sons, signifi cados, estruturas e estilos da linguagem Falar, escrever, ouvir, ler Falar com efi ciência (professor, líder religioso, político, ou escrever com efi ciência (poeta, jornalista, escritor, copywriter, editor) Inteligência lógico- matemática Padrões, números e dados numéricos, causas e efeitos, raciocínio objetivo e quantitativo Encontrar padrões, fazer cálculos, formar e testar hipóteses, usar o método científi co, raciocinar de forma dedutiva e indutiva Trabalhar efi cientemente com números (contador, estatístico, economista e raciocinar com efi ciência (engenheiro, cientista, programador de computador) Inteligência espacial Cores, formas, enigmas visuais, simetria, linhas, imagens Representar ideias visualmente, criar imagens mentais, perceber detalhes visuais, desenhar e esboçar Criações visuais (artista, fotógrafo, engenheiro, decorador) e visualizar com precisão (guia de turismo, explorador, vigia) Inteligência corpóreo- cinestésica Toque, movimento, percepção corporal, condição atlética Atividades que requerem força, velocidade, fl exibilidade, coordenação entre mão e olho, e equilíbrio Usar as mãos para consertar ou criar (mecânico, cirurgião, marceneiro, escultor, carpinteiro) e usar o corpo para se expressar (dançarino, atleta, ator) Inteligência musical Tom, batida, tempo, melodia, afi nação, som Ouvir, cantar, tocar um instrumento Criar música (letrista, compositor, músico, condutor) e analisar música (crítico musical) 18 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Inteligência interpessoal Linguagem corporal, humores, voz, sentimentos Perceber e responder aos sentimentos e personalidades das outras pessoas Trabalhar com pessoas (administradores, gerentes, consultores, professores) e ajudar pessoas a identifi car e superar os seus problemas (terapeutas, psicólogos) Inteligência intrapessoal Percepção de suas próprias forças, fraquezas, objetivos e desejos Defi nir objetivos, avaliar habilidades e defeitos pessoais, gerenciar seus próprios pensamentos Meditar, refl etir, exercer autocontrole, manter a compostura e aproveitar o máximo de si Inteligência naturalista Objetos naturais, plantas, animais, padrões que ocorrem na natureza, questões ecológicas Identifi car e classifi car seres vivos e objetos naturais Analisar situações e dados ecológicos e naturais (ecologistas, guardas-fl orestais), aprender com seres vivos (zoólogo, botânico, veterinário) e trabalhar em locais naturais (guias, guardas-fl orestais) FONTE: Adaptado de Silver, Strong e Perini (2000) As informações contidas no Quadro 2 servem como um guia para você compreender mais sobre como as diversas formas de inteligência propostas por Gardner se manifestam. Por exemplo: se um de seus alunos demonstra facilidade para discursar em frente à turma, gosta de ler e tem facilidade em desenvolver o seu vocabulário, mas tem difi culdades em se relacionar com os outros colegas, é provável que a sua inteligência verbal-linguística seja mais bem desenvolvida do que a sua inteligência interpessoal, uma vez que ele demonstra não conseguir compreender e lidar com os sentimentos e humores de seus colegas. Antes de prosseguirmos, fi ca a pergunta: E você, como se enxerga através dessa perspectiva? Quem sabe você possa parar alguns minutos para avaliar quais são as suas sensibilidades, inclinações e habilidades mais proeminentes e em quais tipos de inteligência elas se encaixam. Faça isso, mas lembrando que não se trata de um diagnóstico. Este é um exercício para que você possa começar a compreender como identifi car tais característica e, mais adiante, poder fazer isso com as suas turmas em sala de aula. Dessa maneira, você já começará a se preparar para formular estratégias que se adaptem às reais necessidades dos seus alunos, ajudando-os a aprender mais facilmente. E por falar em facilidade para aprender, vamos fazer uma pequena pausa no assunto “Múltiplas Inteligências” para abordar uma outra questão: a motivação dos seus alunos. Afi nal, ambos os assuntos estão conectados e a sua relação é muito importante. 19 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 Agora a ideia é que possamos oferecer a você uma forma de revisar o conteúdo que vimos até aqui, através de uma atividade de estudo. Por isso, preparamos algumas questões sobre as múltiplas inteligências. 1) Durante a história, a inteligência foi conceituada de diversas formas, mas foi no século XX, antes das pesquisas de Gardner, que o conceito, provavelmente o mais difundido atualmente, se deu. Esse conceito diz que: a) ( ) Existe apenas um tipo de inteligência e ela pode ser mensurada. b) ( ) Existem várias inteligências e elas podem ser mensuradas. c) ( ) Existem várias inteligências e elas não podem ser mensuradas. d) ( ) Existe apenas um tipo de inteligência e ela não pode ser mensurada. 2) As principais funções do teste de QI são: a) ( ) Mensurar a aptidão escolar e predizer o sucesso acadêmico do aluno. b) ( ) Mensurar as múltiplas inteligências de uma pessoa. 3) A nova visão trazida pela teoria das múltiplas inteligências busca compreender qual aspecto dos abaixo descritos? a) ( ) Compreender as diversas formas de sucesso que os estudantes podem atingir. b) ( ) Compreender como os estudantes devem ser separados. c) ( ) Compreender apenas quais são as aptidões acadêmicas de cada indivíduo. 4) É possível medir as múltiplas inteligências através de um sistema de pontuação, como os testes de QI fazem? E elas podem ser aperfeiçoadas? a) ( ) Elas não podem ser medidas através de um sistema de pontuação e podem ser aperfeiçoadas. b) ( ) Elas não podem ser medidas através de um sistema de pontuação e não podem ser aperfeiçoadas. c) ( ) É possível tanto medir quanto aperfeiçoar as múltiplas inteligências descritas por Gardner. 20 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm 5) Imagine qual das oito inteligências de Gardner você imagina ter mais desenvolvida. Você consegue descrever qual o tipo de inteligência, e mais duas sensibilidades, duas inclinações e duas habilidades relacionadas? 3 AMOTIVAÇÃO DO ALUNO Outro fator de impacto na aprendizagem é o “tamanho da vontade” que os alunos têm de estudar. Se antes abordamos as questões relacionadas às capacidades cognitivas, precisamos parar um momento e pensar: Quais aspectos nos mantêm motivados? E o que nos tira a motivação? Bem, mas quem sabe a primeira pergunta deva ser: “O que é motivação”? Segundo Filatro (2018, p. 495), a “motivação é um conceito difuso que envolve as emoções, os pensamentos e as crenças humanas, e representa um estado psicológico que afeta a disposição de uma pessoa para iniciar ou manter- se em determinada atividade”. Ou seja: é tudo aquilo que faz um indivíduo prosseguir ou desistir de uma atividade. Os fatores que infl uenciam a motivação podem ser os mais diversos. Eles podem estar relacionados à própria resiliência da pessoa e o quanto ela consegue persistir nos caminhos que tomou (algo também conhecido como força de vontade); pode estar ligado à manutenção da visão inicial da pessoa em relação aos seus objetivos, ou em relação ao que ela pode ganhar ao concluir determinada proposta (como, por exemplo, continuar enxergando benefícios de obter o diploma do curso superior que iniciou). Outros fatores que podem infl uenciar a motivação da pessoa são as difi culdades impostas ao cumprimento dos seus objetivos. Por exemplo: alguém que precise enfrentar três horas diárias de trânsito para ir trabalhar, e não se sente bem compensado, pode fi car desmotivado. Indivíduos que estão inseridos em ambientes tóxicos, insalubres ou disfuncionais, por exemplo, também podem ter maior propensão a desistir. E aqueles alunos que possuem difi culdades para aprender, e não tem o apoio dos professores ou da instituição para superá-las – sejam elas distúrbios de aprendizagem ou advindas de outras fontes – também podem não possuir entusiasmo para estudar. Por isso, antes de prosseguir com a leitura, fi ca novamente a sugestão para você pegar o seu caderno, ou arquivo aonde tem feito as anotações que 21 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 foram sugeridas até aqui, e responder às seguintes perguntas: Quais as maiores difi culdades que você tinha na escola? Quais os momentos que você perdia a motivação para estudar? O que dava motivação para você na escola? E no ensino superior, como você responderia a essas perguntas? E, por fi m, se você estivesse dando aula para uma pessoa com os mesmos problemas que você acabou de descrever que tinha, quais seriam as suas soluções? Ao responder a todas essas questões, é provável que você já construa parte da compreensão necessária para se colocar no lugar dos alunos, quando precisar lidar com as questões de motivação (além de ter mais facilidade para compreender o conteúdo a seguir). 3.1 COMO OCORRE A COMPREENSÃO DAS MOTIVAÇÕES DOS ALUNOS? A motivação é algo extremamente importante para que o aluno aprenda melhor, sendo um dos fatores que infl uencia o seu comportamento de aprendizado (LI; KELLER, 2018). É possível dizer que um aluno motivado demonstra ser mais curioso, explorando mais o conteúdo e sendo mais refl exivo sobre o que encontrou (MARTENS; GUILKERS; BASTIAENS, 2004). Por isso é necessária a compreensão dos fatores que estão ligados à motivação que um indivíduo tem para aprender. Afi nal, essa é uma maneira de nos prepararmos melhor para ensinar de uma forma impactante e relevante, não apenas provendo os alunos com o conhecimento que levamos para a sala de aula, ou para os ambientes virtuais, no caso dos professores atuantes na EAD, mas também para permitir que os alunos desenvolvam um comportamento que contribuirá para o seu aprendizado. Uma das abordagens para compreendermos como funciona a motivação é o Modelo ARCS (que é a abreviação de Atenção, Relevância, Confi ança e Satisfação), e foi criado com o objetivo de melhorar o apelo motivacional de materiais instrucionais (KELLER, 1987). Ele é bastante utilizado porque já está bem desenvolvido e já vem sendo validado há mais de 30 anos (LI; KELLER, 2018). Esse sistema leva em conta a existência de motivações pessoais ou valores e expectativas de sucesso, afi rmando que existem algumas características que o professor ou o conteúdo educacional deve possuir a fi m de motivar os alunos: 1. Ser capaz de conquistar e manter a atenção dos estudantes. 2. Deixar claro porque os estudantes precisam aprender determinado conteúdo. 22 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm 3. Fazer os estudantes acreditarem que eles conseguirão ser bem-sucedidos caso se esforcem de verdade. 4. Fazer com que os estudantes se sintam recompensados e orgulhosos. Isso signifi ca que você, ao pensar em uma aula, precisa ser capaz de manter a atenção dos estudantes, seja com o seu discurso, forma de falar, ou através do uso dos mais diversos recursos; também precisa, de alguma forma, explicar a importância daquele aprendizado, deixando claro para os alunos que aquele conhecimento não foi escolhido aleatoriamente para ser ensinado, e que ele será relevante de alguma forma; desenvolver estratégias e espaços que permitam aos alunos irem além do que foi pedido a eles, afi nal, se eles tiverem interesse sobre o assunto, se sentirão confi antes para ir além do que foi pedido; e, por fi m, proporcionar aos alunos aquela sensação de “dever cumprido”, reconhecendo os seus esforços ou provendo algum tipo de recompensa. Essas questões são relacionadas ao modelo ARCS da seguinte maneira: QUADRO 3 – MODELO ARCS Atenção Resposta cognitiva aos estímulos institucionais. Relevância Percepção de que o conteúdo é consistente com os objetivos, importante para o futuro e relacionado aos conhecimentos prévios. Confi ança Expectativa de sucesso decorrente da habilidade e do empen- ho; tem infl uência direta na persistência. Satisfação Sentimento positivo em relação à aprendizagem, a partir de recompensas, reconhecimento e capacidade de aplicar o que foi aprendido. FONTE: Adaptado de Filatro (2018, p. 504) 3.2 UTILIZANDO O SISTEMA ARCS PARA MOTIVAR OS SEUS ALUNOS O sistema ARCS pode ser bastante útil para ajudar a direcionar os seus esforços, quando o foco for desenvolver um conteúdo que deixe os alunos mais motivados. Para compreender melhor como isso pode ser feito, veja algumas estratégias apresentadas no Quadro 4: 23 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 QUADRO 4 – RESUMO DE ESTRATÉGIAS MOTIVACIONAIS QUE PODEM SER UTILIZADAS NO SISTEMA ARCS Atenção Relevância Confi ança Satisfação Criar conteúdo que permita aos alunos relacionar o que está sendo aprendido, com as suas experiências passadas. Explicite a importância do conteúdo que está sendo apresentado. Explique o funcionamento das suas aulas e o que você espera dos alunos. Crie formas de feedback positivo para os momentos em que os alunos obtiverem conquistas em suas aulas. Atividades interativas que permitam o desenvolvimento do raciocínio enquanto o conteúdo é visto. Deixe claros os objetivos da aula e como os alunos devem agir para atingi-los. Deixe claro em quais momentos o aluno está sendo avaliado. Crie tarefas que possuam um nível de desafi o que não seja fácil demais, para parecer trivial, nem difícil demais para causar frustração. Atividades que estimulem a refl exão acerca dos assuntos abordados. Estimule que os alunos compartilhem as suas habilidades e experiências, permitindo que eles possam ver a sua evolução ao aprender sobre os conteúdos. Explicite aos alunos quais foram os critérios de avaliação e como ela é feita. Crie oportunidades para que os alunos possam colocar em prática o que aprenderam. Atividades que façam uso da resolução de problemas para apresentar conceitos. Utilize linguagem familiar aos alunos. Sempre dê aos alunos, uma explicação sobre como cada um foi avaliado e quais os pontos positivos e quais devem ser melhorados.Crie situações positivas em que os alunos possam ver as consequências da prática do que estão aprendendo. O uso de pré-testes como ferramentas de aprendizagem e não apenas como formas de avaliação. Utilize conceitos que são familiares aos alunos, e os relacione com o que está sendo apresentado. Divida parte das responsabilidades com os seus alunos, criando compromissos em que eles também tenham a sua parte a ser cumprida. Permita que os alunos compartilhem o que aprenderam com os seus colegas. O uso da contação de histórias (Storytelling), para a apresentação do conteúdo. Traga problemas que sejam relacionados à realidade dos alunos e ofereça condições para que eles encontrem as soluções. Estabeleça pontos de autonomia, permitindo que os alunos também possam gerenciar parte do seu processo de aprendizagem. Crie ambientes seguros para que os alunos possam compartilhar as suas experiências de forma positiva. FONTE: Adaptado de Filatro (2018) 24 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Para atingir esses objetivos, você dispõe de várias práticas. Aqui estão alguns exemplos: Exemplos de práticas focadas na atenção • Faça uso de quizzes antes, durante ou depois da apresentação do conteúdo. Você pode, por exemplo, recriar dentro da sua sala de aula uma versão do Show do Milhão. Na internet existem diversos modelos para você recriar o visual das perguntas no PowerPoint. E quando o aluno não souber a resposta, deixe ele pedir ajuda para os seus colegas. • Utilizejogos de tabuleiro que permitam explorar o conteúdo que está sendo visto em sala de aula. Não apenas peça para a instituição em que você trabalha investir nesse tipo de recurso, mas crie os seus jogos de tabuleiro em conjunto com os seus alunos. Divida a sala em grupos e peça para cada um desenvolver o seu jogo para, depois, serem trocados entre os grupos e jogados. • Traga problemas “do mundo real”, que conversem com a experiência de vida dos alunos, e peça para eles relacionarem o conteúdo apresentado com essas situações. Você pode fazer isso através de textos escritos, apresentações orais ou até mesmo da elaboração e apresentação de peças de teatro. • Alterne entre momentos de exposição de conteúdo e de prática do que foi visto. Não apenas com “apostila de exercícios”, mas através de debates, projetos práticos, projetos de pesquisa e outros momentos em que os alunos utilizarão o conteúdo para “pôr a mão na massa”. • Práticas de gamefi cação também são uma ótima opção. A "Gamefi cação tem como base a ação de se pensar como em um jogo, utilizando as sistemáticas e mecânicas do ato de jogar em um contexto fora do jogo" (FADEL et al., 2014, p. 15). Ou seja, você deve levar para o cotidiano da turma mecânicas que façam a sua sala de aula parecer um jogo. Veja, nas dicas de leitura logo a seguir, a sugestão de um livro sobre o assunto. • O livro Ludicidade, Jogos Digitais e Gamifi cação na Aprendizagem, escrito por Luciano Meira e Paulo Blikstein, fala sobre o uso da ludicidade, jogos digitais e gamefi cação na aprendizagem. • Boardgames That Tell Stories é um livro (em inglês) que traz 35 artigos publicados no site boardgamesthattellstories.com entre 2010 e 2012. Ele ensina o processo de game design de um jogo de tabuleiro, que você pode utilizar com os seus alunos para despertar a atenção nas aulas. Editado por Ignacy Trzewiczek, e pode ser encontrado como tendo a autoria creditada ao “Portal Games”. • O livro Gamefi cação na Educação, organizado por Luciane Fadel, Vania Ulbricht, Claudia Batista e Tarcício Vanzin, reúne 25 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 diversos artigos sobre o tema. Ele pode ser uma ótima introdução ao uso da gamefi cação em suas aulas, pois reúne conceitos e aplicações para a gamefi cação em contextos educacionais. Ele foi publicado sob a licença Creative Commons e pode ser baixado gratuitamente através de link compartilhado por sua Diretora Editorial: https://www.academia.edu/9139616/_eBook_-_PDF_ Gamifi ca%C3%A7%C3%A3o_na_Educa%C3%A7%C3%A3o. • E, por fi m, a última recomendação é o livro A arte do Game Design (The Art of Game Design: A book of lenses, no original em inglês), de Jesse Schell. Esse livro tem uma característica interessante que é a de ser acompanhado por um conjunto de cartas que servem para auxiliar o processo de criação de jogos. Essas indicações sobre o uso de jogos e gamefi cação são bastante necessárias, pois ainda não são tópicos comumente e amplamente abordados nos currículos regulares da educação superior em educação. Por isso, às vezes, diversos profi ssionais não compreendem a sua complexidade e acabam por trazer parte dos conceitos, mas de forma incompleta e mal aplicada. Os jogos e a gamefi cação são ótimas ferramentas, podendo englobar todos os aspectos necessários à motivação dos alunos. Caso você se interesse pelo tema, aproveite as dicas e se aprofunde no assunto. Exemplos de práticas focadas na relevância • Antes de começar a apresentação de um novo conteúdo, é importante fazer uma introdução sobre o que os alunos aprenderão e explicar por que é importante que eles saibam disso. A partir dessa prática, eles – de forma consciente ou não – começarão a relacionar o que você está trazendo, com os seus conhecimentos prévios. Isso facilitará o aprendizado, a memorização e a percepção de estarem fazendo algo importante e com signifi cado. • Com frequência, utilize a linguagem dos alunos. Você não encherá a sua aula de gírias e palavrões (caso esse seja um linguajar comum para alguns alunos), mas você pode utilizar expressões e exemplos que estejam conectados aos gostos deles. Por exemplo: você sabe que jogos como LOL ou Fortinite são objeto de interesse da turma? Ou que eles gostam muito de usar o TikTok? Utilize essas referências em sala de aula. • Estabeleça regras claras sobre os seus objetivos em relação aos conteúdos, o que você espera dos alunos, e como você pode ajudá-los a alcançar a sua visão (e sobre como ela é importante para o sucesso de sua vida escolar/acadêmica). 26 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Exemplo de práticas focadas na confi ança • Sempre que possível (e necessário) dê o feedback que os alunos precisam. Seja ele individual ou coletivo, é importante que você separe momentos para conversar com a turma sobre o andamento das coisas – e sobre como as expectativas estão sendo cumpridas. Diga aos seus alunos quais pontos estão funcionando bem e quais precisam ser melhorados. Faça com que essas conversas sirvam para que eles compreendam o estágio em que estão, comemorem as suas conquistas e saibam ao que precisam dar mais atenção. • Compartilhe com os alunos parte da responsabilidade da aula. Ensinar é a sua função, mas aprender é uma jornada que depende muito deles. Por isso é importante elogiar boas práticas de estudo, reconhecer méritos e deixá-los mais confi antes sobre o que estão fazendo ou não. • No início de cada ano letivo, deixe claro quais são as formas e regras de avaliação dos alunos e fi que à disposição para auxiliar aqueles que tiverem dúvidas ou difi culdades para compreender ou se encaixar nas regras. Você os deixará mais confi antes, caso eles se sintam como parte de um espaço onde a avaliação é justa e aberta. Assim verão as avaliações como uma ferramenta de diagnóstico para que eles possam saber em que precisam melhorar, e não como uma forma de puni-los. Exemplos de práticas focadas na satisfação • Sempre que houver conquistas e avanços, individuais ou coletivos, dê o feedback positivo que estas conquistas merecem. E deixe claro que cada passo em direção aos objetivos desenvolvidos nas suas aulas, por menores que sejam, são uma conquista. • Existem alguns professores que, após alguma atividade, apenas dão nota e seguem com uma nova atividade ou conteúdo. Uma prática melhor e mais efi ciente que essa é a de deixar claro aos alunosqual foi o impacto do esforço deles, seja através de uma comemoração, de observações ou de um sistema de recompensas. • Crie espaços seguros para que os alunos possam compartilhar o que perceberam de mudanças ou acontecimentos positivos em seu aprendizado. Estimule o debate dessas percepções. Ao fazê-los conversar sobre o assunto, além de auxiliar o reforço do aprendizado, você lhes dará um momento especial para perceberem a extensão das suas conquistas e, quem sabe, perceber novas vantagens e ganhos advindos das aulas. Estes são apenas alguns exemplos do que pode ser feito em cada um dos itens do sistema ARCS. 27 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 A quantidade de práticas e recursos disponíveis vem crescendo à medida que o assunto da motivação de alunos ganha mais destaque, por isso é recomendável que você acompanhe novos artigos que saem sobre o assunto. Para isso, existem quatro boas ferramentas: • No Google Acadêmico e no Scielo você pode fazer buscas sobre artigos e livros, enriquecendo os seus conhecimentos sobre o assunto. a) Scielo http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah. xis&base=article%5Edlibrary&fmt=iso.pft&lang=p. b) Google Acadêmico https://scholar.google.com/. • Academia e Research Gate são duas plataformas que funcionam como se fossem uma “rede social para pesquisadores”, permitindo que você compartilhe os seus trabalhos acadêmicos, além de buscar e debater os trabalhos de outras pessoas. Um recurso bastante interessante dessas plataformas é que elas permitem que você monitore palavras-chave e temas, recebendo aviso sobre novos artigos relacionados aos assuntos defi nidos. a) Academia.edu https://www.academia.edu. b) Research Gate https://www.researchgate.net/. As questões relacionadas ao aspecto motivacional dos alunos estão intimamente ligadas aos debates trazidos pela perspectiva das múltiplas inteligências. Isso porque, em parte, essa abordagem nos faz estabelecer o pensamento da construção das aulas ao redor das necessidades dos alunos. Em outras palavras: ao invés de pensar as suas aulas e conteúdos de uma maneira, apenas, o ideal é que você desenvolva diversas formas que permitam atingir os alunos de acordo com as suas características, o que estimula o professor a desenvolver habilidades que tirem o máximo proveito das oito inteligências apontadas por Gardner (1993). Existem outros fatores que acabam desmotivando alguns alunos e eles exigem uma outra compreensão e abordagem, pois são bastante complexos. Os 28 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm professores precisam aprender a identifi cá-los e compreender que alunos com distúrbios de aprendizagem precisam de uma abordagem diferenciada – mas que não os exclua – em um esforço em conjunto com pais e médicos. 3.3 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Anteriormente, você anotou quais eram os fatores que o desmotivavam na escola e em outros momentos da sua vida acadêmica. Alguns deles podem ter sido relacionados ao ambiente, como uma escola muito barulhenta; ou podem ter como motivo a forma com que os professores o tratavam (ou conduziam a aula). Para algumas pessoas, pode ser o simples ato de precisar acordar cedo para ir à escola, ou a frustração de não conseguir compreender a matéria. É sobre isso que vamos falar agora. Essa “difi culdade de aprender”, conhecida como distúrbio de aprendizagem, pode ser resumidamente explicada como: [...] O termo distúrbio de aprender tem sido usado para indicar uma perturbação ou falha na aquisição e utilização de informações ou na habilidade para a solução de problemas (VALLET, 1977). Quando essa falha existe, implica na modifi cação dos padrões de aquisição, assimilação e transformação, seja por vias internas ou externas ao indivíduo. A tentativa de defi nir e esclarecer os termos relacionados a essa falha na aprendizagem tem sido uma tarefa bastante difícil (CIASCA, 2003, p. 22). Ou seja, quando algum aluno não consegue acompanhar as aulas no ritmo e com o desempenho esperado, tem difi culdades para aprender e não consegue solucionar problemas, um dos motivos pode ser esse. Existe algo que o impede de seguir o padrão esperado. Essas tentativas de compreender o porquê algumas pessoas têm mais difi culdade de aprender já vem sendo aprofundada desde o século passado. Ela já foi identifi cada até como sendo uma lesão, chamada de “Lesão Cerebral Mínima”, mas que fi cou conhecida como Síndrome de Strauss. Esse segundo termo acabou se tornando, por muito tempo, uma forma generalista de designar qualquer criança que tivesse difi culdades de aprender. Mas, passado um tempo, algumas pesquisas, como as conduzidas por Denhoff e Holden, demonstraram que nem todas as crianças que possuíam difi culdades para aprender tinham diagnósticos de lesão cerebral, ao contrário da proposta original de correlação feita por Strauss. Dessa maneira, o termo Lesão Cerebral Mínima caiu em desuso, sendo substituído por Disfunção Cerebral Mínima. A partir daí, o conceito passou a abordar diversas manifestações, 29 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 incluindo problemas de memória, organização e comportamento, por exemplo. É importante saber disso para poder compreender um engano que é bem mais comum do que deveria – mas que é compreensivo, já que até a última década do século XX, essa defi nição ampla, que foi trazida por Denhoff e Holden, foi bastante utilizada. Assim, serviu como base para diversos pesquisadores considerarem que problemas de conduta, organização ou a difi culdade de se relacionar com outras pessoas, fossem percebidas como distúrbios de aprendizagem. Acontece que em 1988 e, novamente, em 1991, o National Joint Commitee of Learning Disabilities ratifi ca a proposta de Donald D. Hammil para uma defi nição geral sobre o assunto. Essa defi nição buscava trazer uma visão mais geral acerca do assunto, ao mesmo tempo que deixava o seu escopo menos amplo. Ela deixava de considerar diversos tópicos, como a questão comportamental. No texto ratifi cado, a defi nição é de que, segundo Ciasca (2003, p. 24): Distúrbio de Aprendizagem (DA) como um grupo heterogêneo de transtornos que se manifesta por difi culdades signifi cativas na aquisição e uso da escrita, fala, leitura, raciocínio ou habilidade matemática. Estes transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se ocorrerem devido à disfunção do sistema nervoso central, e que podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as difi culdades de aprendizagem, problemas nas condutas de autorregularão, percepção e interação social, mas não constituem, por si só um distúrbio na aprendizagem. Podem ocorrer, concomitantemente com outras condições incapacitantes ou com infl uências, extrínsecas, porém não são os resultados dessa condição. Mas o que essa nova defi nição traz? Em primeiro lugar, ela traz o reforço de que é uma difi culdade que vem de um fator biológico – nesse caso, uma disfunção do sistema nervoso. E disfunções desse tipo podem ter várias origens. Ela também é uma defi nição mais centrada aos fatores intrínsecos de cada pessoa, defi nindo que essa difi culdade, essencialmente, vem “de dentro”. E que apenas a difi culdade de aprender, não “se comportar direito” ou “não ser sociável”, não constituem distúrbios de aprendizagem. É claro que essas características podem estar presentes, mas se um aluno for, por exemplo, malcomportado em sala de aula, isso não signifi ca que ele tem um distúrbio – a menos que o seu comportamento seja fruto de uma disfunção do sistema nervoso central. Outros pontos importantes dessa defi nição são as áreas de défi cit que ela estabelece, como a linguagem oral, leitura, escrita, matemática, raciocínio e nas 30 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm relações entre essas habilidades (CIASCA, 2003). O que, novamente, ajuda a separar o que é um distúrbio de aprendizagem, do que pode ser umoutro problema cujo sintoma é, por exemplo, a difi culdade de se relacionar com as pessoas. Novamente: problemas como mal comportamento, desorganização e difi culdades de interação social podem, por exemplo, estar presentes em indivíduos com distúrbios de aprendizagem, mas eles não são distúrbios em si. Sabendo disso, pegue o seu bloquinho de notas e, mais uma vez, escreva os seus pensamentos sobre o que vimos até aqui, respondendo às seguintes perguntas: Quais são os distúrbios de aprendizagem que conheço? Quais são as características de cada um desses distúrbios? 3.4 COMO IDENTIFICAR DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Antes de adentrarmos o assunto, é essencial trazer um aviso importante: distúrbios de aprendizagem são um assunto complexo, cheio de nuances e que exigem um grande aprofundamento nos estudos para serem compreendidos. O que veremos a seguir não dará a você o conhecimento necessário para tratar tais distúrbios – sequer será possível diagnosticá-los. O que não faz com que tudo o que você verá seja menos importante. Isso porque, ao conhecer como funcionam e quais as características de alguns distúrbios de aprendizagem, você poderá identifi car sinais, indícios de que a difi culdade de algum dos seus alunos pode vir disso e, assim, em conjunto com a instituição de ensino, oferecer a sua opinião aos pais, ou a ele mesmo, caso ele já seja responsável por si. E é a partir desse momento que caberá a um profi ssional da área da saúde, como um médico especialista, fazer o diagnóstico. A partir da avaliação positiva, você deverá seguir um plano que será defi nido em acordo com a instituição, pais, responsáveis e profi ssionais da saúde. Afi nal, em diversos casos, além da sua atenção em sala de aula para auxiliar os alunos com distúrbio de aprender, existem procedimentos externos que envolvem consultas, remédios e outras atividades e responsabilidades não relacionadas a você ou à instituição. E, obviamente, caso você desejar, existem cursos e capacitações que auxiliarão a compreensão da complexidade de cada caso de distúrbio e as formas mais indicadas de abordar tais questões. 31 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 Esta é apenas uma introdução, por isso, vamos focar em algumas das suas manifestações mais comuns, como a Dislexia, a Disgrafi a, a Discalculia e o Transtorno de Défi cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Mas, antes, volte ao seu local de anotações e escreva quais são os seus conhecimentos em cada uma dessas manifestações e como você acredita ser possível identifi car um aluno com elas. 3.4.1 Dislexia A dislexia é um distúrbio na linguagem oral – o que pode ocasionar transtornos de leitura. Indivíduos disléxicos possuem “difi culdades pertinentes à identifi cação, à compreensão e à interpretação dos símbolos gráfi cos. Neste caso, a criança ou adulto terá uma tendência em trocar sílabas, substituir ou omitir letras ou palavra, podendo ainda invertê-las ou lê-las de trás para frente” (CALDEIRA; CUMIOTTO, 2004, p. 129-130). A dislexia se manifesta de diversas maneiras, podendo ser a dislexia acústica, que está relacionada à diferenciação dos sons; a dislexia motriz, que se manifesta na visão e provoca intervalos mudos na leitura; e a dislexia visual, que é vista em indivíduos que possuem difi culdades em diferenciar letras que possuem forma parecida. Ou seja, tal distúrbio se apresenta quando a criança ou adulto tem certas difi culdades relacionadas à leitura. Mas é preciso lembrar que isso, por si, não caracteriza a dislexia – podendo ser uma defi ciência na leitura, motivada por outros fatores. Mas, então, quais são os indicadores da dislexia? Se você observar algum aluno que não consiga desenvolver atenção, tenha atraso na fala, na escrita e no desenvolvimento visual; que não consiga cantar, memorizar ou rimar; e que não tenha interesse por leitura; que tenha difi culdades em guardar nomes, palavras, objetos ou a sequência dos acontecimentos passados; falta de destreza manual; perdem a linha da leitura, não soletram corretamente, invertem ou substituem letras, sílabas ou palavras; forma frases curtas e tem difi culdades em organizar ideias durante a escrita espontânea, então pode ser que você tenha um aluno disléxico (COELHO, 2012). Segundo Caldeira e Cumiotto (2004), alguns dos recursos e estratégias que podem ser utilizados para auxiliar o ensino de indivíduos com dislexia são: • atividades com relógio digital e calculadora; • o uso de gravador de voz; 32 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm • a confecção do próprio material de alfabetização, quando apropriado; • o uso de gravuras e fotografi as; • letras com várias texturas. Além disso, é essencial que os educadores se concentrem em ter atitudes que afetem positivamente a autoestima dos alunos com dislexia, sendo pacientes e provendo estímulos que desenvolvam um sentimento de acolhimento e pertencimento. Essas atitudes, combinadas com o tratamento prescrito para a pessoa com dislexia, permitirá uma qualidade de vida muito melhor. 3.4.2 Disgrafi a A disgrafi a, como você já sabe ou imagina, é um distúrbio relacionado à escrita. Ela é caracterizada por problemas na hora de escrever as palavras, se caracterizando por uma caligrafi a ruim, com letras que podem ser difíceis de diferenciar e/ou compreender. Existem diversos fatores que podem levar à disgrafi a, como problemas de efi ciência psicomotora, em que o indivíduo não tem a sua motricidade, percepção e estruturação/oriental espacial maduras, o que leva a uma escrita com características irregulares; questões psicoafetivas, em que a escrita refl ete o estado e tensão emocionais; e as pedagógicas, que são aquelas relacionadas às questões do ensino. Alguns autores incluem questões relacionadas, também, a uma difi culdade visual de acompanhar a escrita. Um aluno com disgrafi a apresenta as seguintes características, segundo Coelho (2012): • letra excessivamente grande (macrografi a) ou pequena (micrografi a); • forma das letras irreconhecível (por vezes distorcem, inclinam ou simplifi cam tanto as letras que a escrita é praticamente indecifrável); • traçado exagerado e grosso (que vinca o papel) ou demasiado suave e imperceptível; • grafi smo trêmulo ou com uma marcada irregularidade, originando variações nos tamanhos dos grafemas; • escrita demasiado rápida ou lenta; • espaçamento irregular das letras ou das palavras, que podem aparecer desligadas, sobrepostas ou ilegíveis ou, pelo contrário, demasiado juntas; • erros e borrões que quase não deixam possibilidade para a leitura da escrita (embora as crianças sejam capazes de ler o que escrevem); • desorganização geral na folha/texto; 33 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 Ao ter em sua sala um aluno diagnosticado com disgrafi a, o educador pode tomar diversas atitudes. A primeira delas, assim como na dislexia (e, na verdade, em qualquer caso), é prover um ambiente seguro e de acolhimento para o aluno. Nesse ambiente, ele deve perceber que tem o apoio que precisa para superar as suas difi culdades. Por isso é essencial que os seus esforços (mesmo com resultados abaixo do esperado), sejam reconhecidos e que ele seja estimulado. Outra prática recomendada é o reforço positivo da caligrafi a, que não deve ser modifi cada abruptamente. Tudo isso deve funcionar com outras práticas que envolvam um esforço de todos dedicados à educação do indivíduo, incluindo profi ssionais fora da escola, como aqueles que podem auxiliar o desenvolvimento dos aspectos psicomotores. 3.4.3 Discalculia A discalculia é um distúrbio que prejudica as competências matemáticas dos alunos, afetando a sua capacidade de compreender o uso e manipulação dos números (COELHO, 2012). Indivíduos com discalculia têm problemas na aprendizagem de matemática, não conseguindo executar as mais básicas operações matemáticas com facilidade. Ela possui alguns graus que fazem comque a sua manifestação se dê diferentes formas. O grau leve permite que a criança responda bem à terapia focada em auxiliá-la; o grau médio faz com que as difi culdades sejam um pouco mais acentuadas; e o grau limite aparece em casos motivados por uma lesão neurológica que provoca défi cit intelectual. Indivíduos com discalculia podem ter difi culdades, segundo Coelho (2012, p. 14): • na compreensão e memorização de conceitos matemáticos, regras e/ou fórmulas; • na sequenciação de números (antecessor e sucessor) ou em dizer qual dos dois é o maior; • na diferenciação de esquerda/direita e de direções (norte, sul, leste, oeste); • na compreensão de unidades de medida; • em tarefas que impliquem a passagem de tempo (ver as horas em relógios analógicos); • em tarefas que implicam lidar com dinheiro; • na resolução de operações matemáticas através de um problema proposto (podem compreender “3+2=5”, mas incapazes de resolver “A Maria tem três bolas e o João tem duas; quantas bolas têm no total?”); • na correspondência um a um/correspondência recíproca; • na conservação de quantidades; • na utilização do compasso ou até mesmo da calculadora (reconhecimento dos dígitos e símbolos matemáticos). 34 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm Auxiliar alunos com discalculia é extremamente importante para que eles possam desenvolver as suas habilidades em uma área tão importante. Por isso, novamente: o primeiro passo é a criação de um ambiente seguro. O segundo é o desenvolvimento de atividades que permitam, a esses alunos, um acompanhamento próprio, que leve em conta as suas difi culdades. Outra prática recomendada é o uso do material dourado, e de outros recursos concretos que permitam “enxergar” a matemática. A manipulação de formas geométricas, por exemplo, permite que ele tenha mais facilidade de compreender conceitos relacionados a este tema. 3.4.4 Transtorno de Défi cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Talvez essa seja um dos mais conhecidos Distúrbios de Aprendizagem. O Transtorno de Défi cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) já apareceu bastante na mídia e, muitas vezes, parece ser confundido como um problema de comportamento (talvez pela referência à defi nição existente anterior àquela proposta por Hammill, que algumas pessoas poderiam ter). É possível observar indicativos de TDAH através da existência de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Para o primeiro caso, os sintomas são os seguintes: [...] difi culdade de prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e de trabalho; difi culdade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra; não seguir instruções e não terminar tarefas escolares, domésticas ou deveres profi ssionais; difi culdade em organizar tarefas e atividades; evitar, ou relutar, em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante; perder coisas necessárias para tarefas ou atividades; e ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa e apresentar esquecimentos em atividades diárias (RHODE et al., 2000, p. 7). Já na hiperatividade é possível observar, segundo Rhode et al. (2000, p. 7): [...] agitar as mãos ou os pés ou se remexer na cadeira; abandonar sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado; pela difi culdade em brincar ou envolver-se silenciosamente em atividades de lazer; estar frequentemente “a mil” ou muitas 35 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 vezes agir como se estivesse “a todo o vapor”; e falar em demasia. E a impulsividade se caracteriza em “Frequentemente dar respostas precipitadas antes das perguntas terem sido concluídas; com frequência ter difi culdade em esperar a sua vez; e frequentemente interromper ou se meter em assuntos de outros” (RHODE et al., 2000, p. 7). Todas essas características podem resultar em diversos problemas que vão muito além daqueles relacionados à vida escolar e acadêmica. A falta de foco pode acarretar problemas na vida pessoal e profi ssional, a hiperatividade e a impulsividade podem resultar em confl itos e problemas para se relacionar com outras pessoas etc. Outra questão que aparece, ao debatermos esse assunto, é que não são apenas indivíduos com TDAH que possuem essas características. Crianças, por exemplo, podem ser impulsivas, desatentas ou hiperativas. A preocupação só começa a ter um pouco de base quando são identifi cados, ao menos, “seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade descritos” (RHODE et al., 2000, p. 8). E, mesmo assim, o diagnóstico só pode ser feito por profi ssional especializado na área, como um psicólogo. O canal Nerdologia fez um vídeo com um resumo bastante interessante sobre o assunto. Confi ra em: https://www.youtube.com/ watch?v=5J2Tiae77AM. 3.5 O EDUCADOR E OS DISTÚRBIOS Como você, em sala de aula, vai lidar com esses e outros distúrbios? Em primeiro lugar, diversas instituições, infl uenciadas por diversos fatores, possuem diferentes abordagens para o tema. Portanto, é preciso que, ao identifi car algum aluno com difi culdades, você procure as pessoas responsáveis da instituição para auxiliar você nos próximos passos. 36 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm O importante é saber duas coisas: a primeira é que você não é responsável pelo diagnóstico. A segunda, é de que é preciso que os alunos diagnosticados com algum distúrbio tenham apoio e tratamento em diversas áreas – o que muitas vezes signifi ca a necessidade de terapia, remédios e uma sinergia entre a família e todos os profi ssionais envolvidos na educação e saúde do indivíduo. E, por fi m, lembre-se sempre de procurar criar um ambiente seguro, para que o aluno possa compreender e aceitar a sua diferença e aprender a lidar com ela de uma maneira saudável. Pois, de outra forma, além de não conseguir superar as suas difi culdades e aprender da melhor maneira possível, ele ainda se sentirá desmotivado a continuar (ou se esforçar) nos estudos. E a motivação é algo muito importante também. Então, volte ao seu bloco de anotações, veja o que você escreveu lá no começo desta seção e pense (se quiser escreva), sobre as diferenças em relação ao que você já sabia e o que viu. E, se você tem conhecimentos que não foram abordados aqui, escreva sobre eles também, e relacione com o que abordamos. Será um ótimo exercício. Novamente, vamos revisar o conteúdo através de alguns exercícios. Aproveite as atividades de estudo para ter um melhor entendimento sobre a forma com que você compreendeu o conteúdo. Vamos lá? 1) O sistema ARCS é uma forma de estimular quais desses aspectos no estudante? a) ( ) A motivação. b) ( ) A inteligência. c) ( ) As múltiplas inteligências. 2) Ao criar formas de feedback positivo para as conquistas dos alunos, os professores desenvolvem uma estratégia coerente com qual dos aspectos do sistema ARCS? a) ( ) A satisfação, já que esse feedback auxilia os alunos a perceberem com mais clareza as suas conquistas. b) ( ) A confi ança, já que os deixa mais confi antes. c) ( ) A relevância, já que eles se sentem mais relevantes em sala de aula. d) ( ) A atenção, já que os alunos passam a prestar mais atenção nas aulas e, assim, receber mais feedbacks positivos. 37 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 3) Dislexia e discalculia são, respectivamente: a) ( ) Um distúrbio relacionado à linguagem oral e um distúrbio relacionado à escrita. b) ( ) Um distúrbio relacionado às competências matemáticas e difi culdade em manter a atenção. c) ( ) Um distúrbio relacionado às competências matemáticas e um distúrbio relacionado à escrita. d) ( ) Um distúrbio relacionado à linguagem oral e a e difi culdade de manter a atenção. 4) Quais são as principais características do Transtornode Défi cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)? a) ( ) Desatenção, hiperatividade e impulsividade. b) ( ) Desatenção, impulsividade e difi culdades de fala. c) ( ) Hiperatividade e impulsividade. d) ( ) Difi culdades de relacionamento e desatenção. 4 ESTRATÉGIAS E HABILIDADES PARA O USO DE MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS NA SALA DE AULA Antes de voltarmos a falar sobre as múltiplas inteligências é importante pedirmos algo para você. Que tal voltar ao seu bloco de anotações e responder às seguintes perguntas: Como fazer uso das múltiplas inteligências dentro da sala de aula? Como prover atividades a alunos, levando em conta a teoria de Gardner? Como dar suporte aos alunos, nesses casos? Algo que é extremamente importante de reconhecer é a mudança que o uso das múltiplas inteligências pode trazer ao trabalho de algumas pessoas que seguem uma linha mais tradicional dentro da sala de aula. Ao invés de planejar a sua aula com uma forma única, ao utilizar os conceitos apresentados até aqui, é necessário aprender a criar diversas formas de apresentar o mesmo conteúdo ou desenvolver múltiplas formas de avaliar os seus alunos. Um exemplo pelo qual você já deve ter passado quando estava na escola ou na graduação: imagine uma professora que acabou de apresentar um novo 38 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm conteúdo para a turma. Ela ensinou, neste exemplo, os acontecimentos que antecederam a vinda da família real portuguesa para o Brasil, no início do século XIX. Seguindo um estilo tradicional de dar aula, o próximo passo seria avaliar todos, utilizando um teste escrito padronizado. Não importa quem seja o aluno, todos precisarão responder às mesmas perguntas – afi nal, viram o mesmo conteúdo, ao mesmo tempo, apresentado pela mesma pessoa. Mas, essa professora levou em conta o uso das múltiplas inteligências, trazendo vários recursos para expor o conteúdo de forma que atingisse alunos diferentes de maneiras diferentes. E na hora de fazer uma avaliação, ela disse: “- Cada um pode fazer a avaliação do jeito que quiser. Pode entregar um trabalho escrito, pode fazer uma apresentação de teatro em grupo, fazer um vídeo, uma música etc. Decidam o que cada um quer fazer e, amanhã, vamos dividir os temas!”. Neste caso, a professora permitiu que cada um utilizasse a forma com que teria mais facilidade para ser avaliado. Esse é um exemplo do uso de avaliações que permitem a utilização das múltiplas inteligências. Você já teve uma professora ou professor que fez isso? Você já fez isso? 4.1 ESTRATÉGIAS E HABILIDADES Pensar a educação levando em conta o uso das múltiplas inteligências requer a confi guração de vários “espaços”, fornecendo as ferramentas para que os alunos compreendam o conteúdo da forma que melhor lhes cabe. E, quando falamos em espaços, eles não são apenas físicos, mas também representam formas com que os professores podem auxiliar os seus alunos a aprender. Podem ser livros que você deixou separados para que, aqueles que têm mais facilidade de aprender lendo e escrevendo possam usar; músicas que ajudem a compreender o assunto; jogos que tirem proveito das formas de inteligência mais desenvolvidas em cada um etc. Enfi m, existem diversas formas de criar uma aula que seja rica no uso das múltiplas inteligências. Para auxiliar você na compreensão de como isso pode ser aplicado em sala de aula, vamos utilizar o Quadro 5 como exemplo. 39 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 QUADRO 5 – EXEMPLO DE ATIVIDADES E DAS INTELIGÊNCIAS UTILIZADAS Qual a extensão do uso de um tipo particular de inteligência por cada atividade? Extensão: XXX = Grande extensão XX = Extensão considerável X = Alguma extensão Inteligências: V = Verbal-linguística S = Espacial L = Lógico-matemática P = Interpessoal B = Corporal-Cinestésica I = Intrapessoal M = Musical N = Naturalista Atividade Inteligência Compartilhamento Cada estudante traz para a sala de aula o seu brinquedo favorito. Os estudantes sentam em círculo e apresentam os seus brinquedos para a turma (falando o seu nome e o que o torna importante). V XX B XX L P XX S I X M N Uso de gráfi cos O professor faz um gráfi co em barra no chão, e os estudantes colocam os seus brinquedos no chão, de acordo com as características (por exemplo: é um bichinho de pelúcia). Os estu- dantes podem contar o número de brinquedos com cada característica e criar sentenças que descrevem os dados no gráfi co. V XX B XX L X P S XX I M N Agrupar/Organizar Os estudantes podem buscar maneiras difer- entes de se criar brinquedos, agrupando os brin- quedos de acordo com as suas características. V X B X L XXX P S X I M N Design de brinquedos Após lerem a descrição de um brinquedo, que lista as suas características e usos, os estu- dantes podem fazer o design de um brinquedo que se encaixe na descrição recebida. V X B XXX L XX P S XX I M N FONTE: Adaptado de Silver, Strong e Perini (2000) As letras que designam cada tipo de inteligência foram mantidas seguindo a fonte em inglês, para que seja mais fácil a utilização do material original caso você deseje consultar tais fontes para complementar os seus estudos. 40 ESTiLoS DE APrENDiZAGEm O Quadro 5 apresenta apenas um exemplo. Ele utiliza uma sequência de atividades para fazer uso das múltiplas inteligências dentro de um mesmo tema. Para uma melhor compreensão, pense o seguinte: O que as atividades descritas no quadro podem ensinar? Focando no exemplo que utiliza brinquedos e as suas características, podemos imaginar que os alunos estão aprendendo sobre forma, cores, como agrupar, como contar, como ler gráfi cos, além de diversas outras habilidades. Mas, ao invés de aprender sobre qualquer um desses assuntos de apenas uma forma, a atividade descrita no Quadro 5 é um exemplo de como enriquecer a aula com múltiplas formas de abordar um (ou mais) assunto. A ideia de fazer uma sequência de atividades não se restringe a aulas para crianças pequenas. Ao invés utilizar brinquedos, você pode pedir para os seus alunos levarem outros objetos signifi cativos, ou pode criar atividades que utilizem as suas aspirações profi ssionais, por exemplo. Os usos são os mais diversos e dependem do tema abordado e do planejamento que você fi zer. Existem outros tipos de atividades que podem ser feitas em sala de aula. Ainda utilizando o exemplo dado no Quadro 5, a professora poderia ter cantado uma música sobre os brinquedos com os seus alunos, ou poderia ter relacionado aqueles que são bichos de pelúcia, por exemplo, com os animais reais e como eles vivem na natureza. O Quadro 6 traz mais exemplos. QUADRO 6 – A RODA DO PLANEJAMENTO FONTE: Adaptado de Silver, Strong e Perini (2000) 41 COGNIÇÃO, MOTIVAÇÃO E MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS Capítulo 1 O Quadro 6 é um exemplo um pouco mais amplo de como é possível abordar um mesmo tema de diversas formas. Lembrando que a ideia é que cada aluno possa fazer parte – senão de todos – de mais de uma das atividades. Afi nal, além do fato de cada indivíduo possuir todas as oito inteligências, o reforço do conteúdo por mais de uma perspectiva, certamente, ajuda o aprendizado. Agora, após ver esses exemplos, fi ca a ideia de que você volte ao seu bloco de notas, caderninho, documento do Word... enfi m, que faça novas notas. Dessa vez, utilizando a roda do planejamento, como vista no Quadro 6, para criar uma aula sua. Utilize um assunto com o qual você tenha familiaridade e crie atividades da mesma forma do exemplo. 4.2 ANALISANDO OS TIPOS DE INTELIGÊNCIA NA SUA SALA DE AULA Até agora vimos os tipos de inteligência e exemplos sobre como utilizar esse conhecimento em sala de aula. Mais adiante, veremos como conectar o que você aprendeu aqui, com os estilos de aprendizagem – além de mais exemplos e formas de fazer uso da integração de ambos. Mas, por ora, precisamos adentrar um novo tópico: como identifi car cada
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