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CURSO: DIREITO DISCIPLINA: DIREITO CIVIL V – DIREITO DAS COISAS (6º SEMESTRE) DOCENTE: PROFESSORA VERÔNICA RODRIGUES DE MIRANDA APOSTILA DE DIREITOS DAS COISAS – LIVRO III DA PARTE ESPECIAL DO CC - ARTS. 1.196 A 1.510 DO CC/2002 MÓDULO I - INTRODUÇÃO O direito das coisas é um pouco mais amplo do que os direitos reais, pois aquele abrange os direitos reais + direito da posse (este não está listado no rol dos direitos reais – Art. 1.225 do CC). DIREITO DAS COISAS = DIREITOS REAIS + DIREITO DA POSSE Direitos das coisas - Poder das pessoas sobre as coisas materiais passíveis de apropriação. Inicialmente, importante se distinguir as coisas dos bens. Bem é gênero do qual a coisa é uma espécie. Bem é tudo aquilo que satisfaz a necessidade do homem, é uma utilidade. Certos bens são bens jurídicos - são bens que satisfazem a necessidade humana e são tutelados juridicamente. Podem ser materiais, imateriais, corpóreos e incorpóreos. x Coisas são bens corpóreos, daí serem uma espécie de bem. Entendimento majoritário: Sílvio de Salvo Venosa e Serpa Lopes: “Entende-se por bens tudo o que pode proporcionar utilidade aos homens. Não deve o termo ser confundido com coisas. Bem é tudo que corresponde a nossos desejos, em uma visão não jurídica. No campo jurídico, bem deve ser considerado aquilo que tem valor, abstraindo-se daí a noção pecuniária do termo. Para o direito, bem é uma utilidade, quer econômica, quer não econômica. O termo bem é uma espécie de coisa, embora por vezes seja utilizado indiferentemente. Coisas são os bens apropriáveis pelo homem. Como assevera Serpa Lopes: “sob o nome de coisa, pode ser chamado tudo quanto existe na natureza, exceto a pessoa, mas como bem só é considerada aquela coisa que existe proporcionando ao homem uma utilidade, porém com o requisito essencial de lhe ficar suscetível de apropriação.” Assim, todos os bens são coisas, mas nem todas as coisas são bens. O sol, o mar, a lua são coisas, mas não são bens, porque não podem ser apropriados pelo homem.” IMPORTANTE: Os direitos obrigacionais são chamados de “jura ad rem” e os direitos reais são chamados de “jura in re”. Jura et rem – direito de crédito. O credor não tem relação direta com a coisa que ele almeja. Há a figura de um intermediário, que é o devedor. O objeto da obrigação é a prestação, que nada mais é do que o comportamento devido pelo devedor. Tem o direito de exigir do devedor a coisa a que ele se comprometeu. O credor tem direito de cobrar apenas a um comportamento, chamado de prestação. Não tem ação reivindicatória, podendo propor ação pessoal para obter a prestação que, se vier a se tornar impossível, pode ser convertida em perdas e danos. Jura in re - relação de dominação direta entre o titular do direito e a coisa, sem intermediários. Não há prestação nem devedor. Pode usar a ação reivindicatória para buscar a coisa. DIREITOS REAIS Art. 1.225 do CC. São direitos reais: São 13 os direitos reais no Brasil! I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 700, de 2015) XIII - laje CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS 1) Direitos reais sobre a própria coisa: É um só – o direito real de propriedade e o condomínio, por consequência. É o mais importante de todos, pois é quem dá origem a todos os direitos reais sobre coisa alheia. A propriedade não é só um direito, é um conjunto de direitos. O art. 1.228 do CC diz que a propriedade envolve muitas prerrogativas – usar, fruir, reivindicar etc. Assim, quando se pega parte desses poderes e os entrega a um terceiro, criam-se direitos reais sobre coisa alheia. Ex: locação – uso e gozo da coisa não é do seu proprietário e sim do locador. 2) Direitos reais sobre coisa alheia: Subdividem-se: 2.1) Direitos reais de gozo e fruição1: São de gozo e fruição os que conferem ao titular faculdades de uso, atividade e participação efetiva sobre a coisa. a) Superfície; b) Servidão; c) Usufruto; d) Habitação; e) Concessão especial para fins de moradia (previsto no Estatuto da Cidade e na lei que disciplina o uso de bens públicos); f) Concessão de bens públicos para uso do particular; g) Uso. 2.2.) Direitos reais de garantia: O titular desses direitos extrai modalidade de segurança para o cumprimento de obrigação. A garantia está relacionada com uma obrigação, que fica colocada como direito principal. 1 Fruição: Ato de se aproveitar ou se usufruir de alguma coisa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Mpv/mpv700.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Mpv/mpv700.htm#art3 a) Penhor; b) Hipoteca; c) Anticrese; d) Propriedade fiduciária: Não se encontra no rol do art. 1225 do CC. No entanto, está disciplinada no capítulo da propriedade, tendo sido regulada como uma modalidade de propriedade. 3) Direito real de aquisição: É um só – o direito real de promitente- comprador com título registrado. PRINCÍPIOS QUE REGEM OS DIREITOS REAIS 1) Princípio do Absolutismo – É o mais importante. Como a relação é direta, o direito real é absoluto, tem eficácia geral. Tem força “erga omnes” porque há uma relação direta sem intermediária, irradia força contra todos. No entanto, os direitos reais não são os únicos absolutos, pois os direitos da personalidade também são absolutos. Eles se opõem aos direitos pessoais, que não são absolutos, em decorrência do princípio da relatividade, uma vez que só produzem efeitos em relação a quem consente (“inter partes”). OBS: Mas há obrigações que geram efeitos para terceiros (intermediários) – as obrigações “propter rem” – obrigações ligadas aos direitos reais. É devedor dessas obrigações quem é titular de direito real. O devedor não é quem contrai obrigação, mas que se tornou titular de um direito real. São obrigações ambulatoriais, pois acompanham a titularidade do domínio real. Ex.: despesas de IPTU, etc. OBRIGAÇÕES “PROPTER REM” OU REIPERSECUTÓRIAS: “Trata-se, pois, de obrigação relacionada com a res, a coisa. (...) O proprietário é por vezes sujeito de obrigações apenas porque é proprietário e qualquer pessoa que o suceda assumirá essa obrigação.” 2) Princípio da publicidade: É decorrência do anterior. Os direitos reais, para serem respeitados, devem ser conhecidos, devem ser dotados de visibilidade. A lei cria então mecanismos de visibilidade, dando operacionalidade ao absolutismo, que são dois: a) O registro para bens imóveis – art. 1.227 do CC; b) A tradição para bens móveis – art. 1.226 do CC. Mas há direitos reais que independem de registro ou de tradição: a) Aquisição originária: adquire em razão da lei, e não por relação negocial com o antigo titular do bem. Ex.: usucapião, desapropriação; b) Aquisição causa mortis: adquire a propriedade e a posse dos bens que integram a herança pelo princípio de Saisine (art. 1.794 do CC); c) Quando a lei permitir a aquisição de bens, de forma derivada, sem ser “causa mortis”, mas sim “inter vivos”, independentemente do registro e da tradição. Ex.: aquisição de bem através do casamento pelo regime de comunhão universal de bens. 3) Princípio da taxatividade ou numerus clausus: São direitos reais apenas os direitos assim previstos em lei – Art. 1.225 do CC) ou em leis especiais que adicionam direitos reais ao art. 1.225, tais como a Lei nº 9514/97 – Propriedade fiduciária sobre bens imóveis, a Lei nº 6.766/79 – Lei do parcelamento do solo urbano (loteamento) – direito realdo promitente-comprador de imóveis loteados, etc. 4) Princípio da tipicidade: Não se pode confundir com o princípio da taxatividade, pois não são sinônimos, mas sim complementares entre si. Esse complementa a taxatividade, pois diz respeito ao número de direitos reais – só são direitos reais aqueles assim previstos em lei. Já a tipicidade define o conteúdo de cada um dos direitos reais, dizendo o que é propriedade, usufruto, hipoteca etc. 5) Princípio da sequela (Art. 1.228 do CC): Pode ser expresso pela palavra “aderência”, pois os direitos reais aderem a coisa e a acompanham onde quer e em poder de quem quer que ela se encontre. Permite ao titular do direito real recuperar a coisa de quem a possua indevidamente. (Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.) 6) Princípio da preferência: Também chamado de princípio do privilégio. Diz que se houver concurso de credores em relação ao patrimônio do mesmo devedor, o titular de direito real tem prioridade na satisfação de seu crédito. Satisfeito o crédito de origem real, o saldo será rateado entre os credores sem garantia real. Exceções: Há direitos de crédito que também têm privilégio, decorrente da lei. Ex.: crédito trabalhista, fiscal, previdenciário. Esse privilégio é mais forte que o privilégio dos direitos reais.
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