Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Thais Alves Fagundes GASTRITE E ÚLCERA PÉPTICA SEMIOLOGIA DO ESTÔMAGO E DUODENO Dor: Dor localizada no epigástrio geralmente é de origem gástrica, duodenal, biliar ou pancreática. Afecção gastroduodenal que mais frequentemente provoca dor é a úlcera péptica. Peso epigástrico (plenitude pós-prandial ou empachamento): Sensação de enchimento excessivo do abdome superior, que se acentua geralmente após as refeições. Pode estar presente no câncer gástrico, dispepsia funcional, distúrbios de motilidade (diabete melito, Chagas, hipotireoidismo). Saciedade precoce: Redução da sensação de apetite e de fome logo após iniciar a refeição. Provocada por doenças próprias do aparelho digestivo, doenças sistêmicas, uso de medicamentos, fatores emocionais. Náuseas: Pode ocorrer isolada ou simultânea ao vômito. Sensação desagradável, referida no epigástrio ou na garganta, de um desejo iminente de vomitar. Pode se associar a salivação excessiva, palidez, sudorese e ocasionalmente hipotensão e bradicardia. Com frequência surge em crises, precedendo vômitos. Ânsia dos vômitos é caracterizada por movimentos respiratórios espasmódicos e rítmicos que também usualmente precedem ou acompanham os vômitos. Vômitos: Expulsão violenta dos conteúdos gástricos. Quando repetitivos e volumosos, podem acarretar desidratação, alcalose metabólica e hipopotassemia. Causas mais comuns: úlcera péptica, varizes esofágicas, síndrome de Mallory-Weiss, gastrite aguda e carcinoma do estômago. Vômitos também podem ter origem extradigestiva: intoxicações exógenas, afecções do sistema nervoso central, infarto do miocárdio, litíase renal, infecções, labirintite e hipertireoidismo. Flatulência: Caracterizada por sintomas de distensão, plenitude e timpanismo abdominal, além de sons intestinais audíveis, eliminação excessiva de flatos e, raramente, sintomas sugestivos de má digestão. Desconforto abdominal: Sensação subjetiva não dolorosa, caracterizada por peso epigástrico pós-prandial e/ou saciedade precoce e/ou náuseas e/ou vômitos e/ou flatulência. Melena: Evacuação de fezes escuras, negras, contendo sangue digerido. Thais Alves Fagundes DISPEPSIA Dispepsia: sintomas relacionados a problemas de digestão, localizados no abdome superior. Funcional: ausência de qualquer doença orgânica, sistêmica ou metabólica que possa explicar os sintomas. Orgânica: secundária a uma causa específica, como, por exemplo, úlcera péptica, colelitíase, esofagite. Dispepsia Funcional (DF) - Critérios diagnósticos: Queixas dispépticas durante os últimos 3 meses e que se iniciaram, no mínimo, 6 meses antes. Presença de um ou mais dos seguintes sintomas: o Empachamento pós-prandial o Saciedade precoce o Dor epigástrica o Queimação epigástrica Ausência de lesões estruturais (realização de endoscopia digestiva alta) que possam justificar os sintomas. Etiologia: Hipersecreção ácida Alterações da motilidade gastroduodenal, da sensibilidade visceral, da acomodação gástrica. Gastrite associada ao Helicobacter pylori. Diagnóstico: diagnóstico é fundamentalmente clínico, baseando-se nos critérios. Abordagem dos pacientes dispépticos separada em dois grupos: aqueles com dispepsia não investigada e aqueles com diagnóstico sugestivo de DF. o Dispepsia não investigada: Avaliação da presença/ausência dos sintomas de alarme (emagrecimento, vômitos recorrentes, disfagia progressiva, presença de sangramento, icterícia). A presença desses sintomas implica imediata investigação para exclusão de doenças orgânicas. Exclusão do uso de ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteroides. Na presença concomitante de sintomas típicos de refluxo, o diagnóstico provisório deve ser de DRGE. Recomenda-se, iniciar o tratamento com inibidores da bomba de prótons. Se os sintomas persistirem, o diagnóstico de DRGE será pouco provável. Pacientes jovens, sem sinais e sintomas de alarme, exames não invasivos para pesquisa do H. pylori (teste respiratório, antígeno fecal ou sorologia) podem ser realizado. Endoscopia digestiva é recomendada para pacientes que apresentam sinais de alarme e para aqueles com idade superior a 40 anos. o Pacientes com diagnóstico de dispepsia funcional: nenhuma estratégia investigatória de rotina. Thais Alves Fagundes GASTRITE GASTRITES AGUDAS Gastrites agudas são classificadas em três grupos: Gastrite aguda por Helicobacter pylori (H. pylori) o Fase aguda é de curta duração. o Acometimento igual do antro e corpo gástricos. o Ocorre pronunciada hipocloridria e ausência de secreção de ácido ascórbico para o suco gástrico. o Quadro clínico auto limitado, evoluindo sem sintomas, ou com sintomas, por até 2 semanas (dor ou mal estar epigástrico, pirose, náuseas, vômitos, flatulência, sialorreia, halitose, cefaleia, astenia). o Diagnóstico laboratorial da infecção aguda: histologia, testes respiratórios com carbono 13 ou 14, cultura, teste da uréase, sorologia (em paciente recentemente infectado, pode ocorrer falso- negativo). o Resposta imune é incapaz de eliminar a infecção. o Após 3 a 4 semanas, ocorre um gradual aumento de células inflamatórias crônicas. o Gastrite neutrofílica aguda dá lugar à gastrite ativa crônica. Gastrite supurativa gastrite ou flegmonosa aguda o Infecção bacteriana da muscular da mucosa e submucosa do estômago, com infiltração de células plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares. o Inflamação geralmente não ultrapassa a cárdia e o piloro, sendo a mucosa gástrica pouco acometida. o Quadro costuma se instalar como complicação de doença sistêmica ou septicemia. o Evolução clínica é rápida, com dor epigástrica, náuseas e vômitos purulentos. o Diagnóstico é feito através de laparotomia exploradora ou necropsia. o Terapêutica inclui o emprego de antibióticos de amplo espectro associado à drenagem cirúrgica ou endoscópica da parede gástrica. Gastrite aguda hemorrágica ou erosiva aguda ou lesão aguda da mucosa gastroduodenal (LAMGD) o Lesões agudas da mucosa gastroduodenal ou úlceras de estresse se iniciam nas primeiras horas após grandes traumas ou doenças sistêmicas graves. o Acometem as regiões proximais do estômago. o Caracterizadas por múltiplas lesões hemorrágicas, puntiformes, associadas a edema. o Gastrite aguda pode exteriorizar-se por hemorragia digestiva alta. o Pode ser secundária ao uso de álcool, ácido acetilsalicílico, anti-inflamatórios, corticosteroides e em situações clínicas como choque, trauma, cirurgias extensas, queimaduras, septicemia, insuficiência respiratória, hepática ou renal, entre outras. o Tratamento: inibidores de bomba de prótons, antagonistas dos receptores H2 e os antiácidos. Quadro histológico: Quadro acomete todo o estômago, para, a seguir, predominar no antro e duodeno. Alterações histológicas se localizam apenas em áreas imediatamente adjacentes às lesões e se caracterizam, na zona subepitelial, por edema difuso da lâmina própria, congestão capilar e diferentes graus de hemorragia intersticial. Erosões podem ou não estar presentes, já que são rapidamente reparadas. Achados inflamatórios são tipicamente ausentes ou discretos (muitos autores fazem uso do termo gastropatia, em vez de gastrite, nestas eventualidades). Thais Alves Fagundes INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI Adquirido por via oral. Penetra na camada de muco e se multiplica em contato com as células epiteliais do estômago. Epitélio responde com: o Depleção de mucina o Esfoliação celular o Alterações regenerativas sinciciais. H. Pylori produz fatores agressivos: o Liberam diferentes agentes quimiotáticos que penetram através do epitélio lesado e induzem a migração de polimorfonucleares para a lâmina própria e epitélio. o Ativam os mastócitos e, através de sua degranulação,há liberação de outros ativadores inflamatórios que aumentam: Permeabilidade vascular Expressão de moléculas de adesão de leucócitos nas células endoteliais Migração de leucócitos o Estimulam o epitélio gástrico a produzir a interleucina-8. Citocina cuja produção é potencializada pelos macrófagos que liberam fator de necrose tumoral e interleucina-l em resposta à lipopolissacáride bacteriana. Mecanismos de sobrevivência do H. pylori na mucosa gástrica: o (1) H. pylori utiliza sua elevada produção de urease para converter a ureia endógena em amônia, causando uma neutralização transitória do ácido gástrico, permitindo que a bactéria chegue à superfície da mucosa gástrica. Isso gera um feedback, no qual o estômago, numa tentativa de diminuir o pH, aumenta a secreção ácida, lesando ainda mais a mucosa. o (2) H. pylori é capaz de se movimentar através de seus flagelos no espesso muco gástrico, protegendo-se da acidez e do peristaltismo gástricos. o (3) A presença na superfície do H. pylori de moléculas de adesão impede sua eliminação pelos movimentos peristálticos. Equação agressão/defesa: o H. Pylori atua em ambos os lados dessa equação. o Diminui a disponibilidade endógena de prostaglandinas (PG) e do fator de crescimento epitelial, reduzindo a defesa da mucosa. PG são responsáveis por estimular a produção de muco e de bicarbonato pelas células epiteliais, influenciam a hidrofobicidade do muco adjacente à superfície epitelial, regulam o fluxo sanguíneo da mucosa e a capacidade de replicação do epitélio. Redução dos níveis de PG resultaria em sério comprometimento dos mecanismos de defesa da mucosa. Fator de crescimento epitelial é essencial na reparação da mucosa. Comprometimento de sua produção significa redução na capacidade regenerativa da superfície epitelial. o Aumenta a produção dos fatores agressivos. Thais Alves Fagundes GASTRITES CRÔNICAS GASTRITE CRÔNICA ASSOCIADA AO HELICOBACTER PYLORI (H. PYLORI) Região acometida: Antro é a principal região a ser acometida, podendo acometer corpo ou todo o órgão (pangastrite). Distribuição do H. pylori no estômago parece ser um indicador do padrão de evolução da gastrite. o Gastrite predominantemente antral secreção gástrica normal ou elevada graças à manutenção de mucosa oxíntica íntegra (células parietais e principais). Mucosa oxíntica produz ácido clorídrico e pepsinogênio. Ácido clorídrico desce para o duodeno, aumentando a possibilidade de úlcera duodenal. Risco aumentado para úlcera duodenal. o Gastrite acometendo o corpo do estômago secreção ácida reduzida, em consequência da destruição progressiva da mucosa oxíntica (células parietais e principais). Atividade inflamatória desenvolve atrofia e metaplasia intestinal de antro e corpo. Com a atrofia do antro, perdem-se as glândulas mucosas produtoras de muco (além da atrofia implicar em mucosa mais fina), aumentando a possibilidade de úlcera gástrica. Histologia: Mistura de gastrite crônica superficial e alterações atróficas. Com tendências a progredir, podendo ocorrer também o desenvolvimento de metaplasia intestinal. o Metaplasia intestinal incompleta: apenas células caliciformes, maior chance de desenvolvimento de adenocarcinomas. o Metaplasia intestinal completa: reproduz o epitélio do intestino delgado (células absortivas maduras com borda em escova, células caliciformes, células de Paneth) Gastrite crônica do corpo gástrico, associada à atrofia acentuada, eleva de três a quatro o risco de carcinoma gástrico, do tipo intestinal. Quadro clínico: gastrite crônica do antro associada a H. pylori é uma condição assintomática. Cascata de Pelayo-Correa: Infecção pelo H. pylori gastrite crônica atrofia glandular metaplasia intestinal displasia úlcera péptica duodenal adenocarcinoma gástrico tipo intestinal o Atrofia gástrica e metaplasia intestinal ocorrem na gastrite crônica por infecção por H. pylori. Atrofia da mucosa gástrica: aumenta possibilidade de metaplasia intestinal. Metaplasia intestinal no estômago: substituição do epitélio gástrico pelo epitélio tipo intestinal (células caliciformes, células absortivas, células de Paneth e células endócrinas). Pacientes que apresentam pangastrite crônica (antro e corpo) costumam evoluir com atrofia glandular do estômago e possuem maior risco de câncer gástrico. Tratamento: tratamento anti-H. pylori (amoxicilina + claritromicina) + IBP por 14 dias. GASTRITE CRÔNICA AUTOIMUNE Região acometida: Corpo e fundo são as principais regiões acometidas, raramente atingindo o antro. Atrofia das glândulas gástricas no corpo e fundo do estômago, ocorrendo metaplasia intestinal. o Atrofia das glândulas gástricas do corpo: Hipocloridria ou, em casos avançados, acloridria, secundária à redução de células parietais. Thais Alves Fagundes Decréscimo na secreção de fator intrínseco, ocasionando a redução da absorção de vitamina B12 e anemia perniciosa. o Preservação funcional da mucosa antral resulta em: Estimulação constante das células G com hipergastrinemia. Apresenta células endócrinas hiperplásticas. Componente autoimune: maioria dos pacientes apresenta testes imunológicos positivos, enquanto vários evoluem com outras doenças autoimunes, como, por exemplo, as tireoidites autoimunes. Quadro clínico: Gastrite autoimune é assintomática do ponto de vista gastrintestinal. Pode haver sintomas hematológicos na ocorrência de anemia perniciosa. Maior suscetibilidade a infecções entéricas por bactérias, vírus e parasitos, em decorrência da acloridria, com consequente elevação do pH gástrico. Diagnóstico: histopatológico (endoscopia). Tratamento: Não requer tratamento. Anemia perniciosa exige a reposição de vitamina B12 por via parenteral (não há fator intrínseco, então via oral não será absorvido) durante toda a vida. EDA periodicamente para controle de câncer gástrico, tumores carcinoides e displasia acentuada. ÚLCERA PÉPTICA GASTRODUODENAL Úlceras pépticas constituem soluções de continuidade da mucosa gastrointestinal secundárias ao efeito corrosivo do ácido clorídrico (HCl) e da pepsina, estendendo-se através da muscular da mucosa e, atingindo a camada submucosa e a muscular própria. Úlceras pépticas podem se desenvolver em qualquer porção do trato digestório exposta à secreção cloridropéptica. Mas o termo "doença ulcerosa péptica" se refere às ulcerações do estômago, do duodeno ou de ambos. EPIDEMIOLOGIA Úlcera duodenal é a forma predominante de doença ulcerosa péptica e incide na faixa de 30 a 55 anos. Úlcera gástrica localiza-se mais frequentemente na região de antro e incide na faixa de 50 e 70 anos. Doença ulcerosa péptica representa a causa mais comum de hemorragia digestiva alta (50% dos casos). Perfurações são complicações mais graves (5% dos casos), responsáveis por 2/3 das mortes por úlcera. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Fatores genéticos e ambientais. Causas comuns: infecção por H. pylori e uso de AINE. Causas raras: doenças granulomatosas, neoplasias, tuberculose, sífilis, Síndrome de Zollinger-Ellison. Thais Alves Fagundes ATUAÇÃO MULTIFATORIAL DO ÁCIDO, GASTRINA, PEPSINA E H. PYLORI Regulação da produção de HCl: Proteínas, íons Ca++, aminoácidos, histamina e acetilcolina estimulam a célula G a produzir gastrina. Gastrina induz a célula parietal a produzir HCL. Queda no pH gástrico estimula a célula D a produzir somatostatina, que inibe a celular G. o Histamina produzida nas células enterocromafins símile (ECL), a gastrina nas células G e a acetilcolina no nervo vago ativam a célula parietal. o Ligação com os receptores na membrana da célula parietal ativa o mensageiro (AMP-cíclico ou canais de cálcio), produzindo ATPase K+ e, consequentemente, HCl. Produção de ácido está aumentada na úlceraduodenal e normal ou baixa na úlcera gástrica. Úlcera duodenal e H. Pylori: Inflamação está restrita ao antro gástrico e à região do corpo poupada (gastrite antral). Inibe a produção de somatostatina, elevando a produção de gastrina (hipergastrinemia). Como o corpo está preservado, observa-se como resposta maior produção de ácido (hipercloridria). Além disso, pacientes com úlcera duodenal apresentam: o Níveis séricos elevados de pepsinogênio (com maior atividade proteolítica). o Aumento de células parietais. o Anormalidades na motilidade do duodeno. o Secreção diminuída de bicarbonato (efeito do H. pylori). Aumento da carga ácida ofertada ao duodeno. Ocorrência de metaplasia gástrica no bulbo duodenal. o Locais com metaplasia gástrica são colonizados pelo H. pylori (tropismo para epitélio gástrico / presença de secreção ácida aumentada no bulbo duodenal torna insolúveis os ácidos biliares, permitindo assim que H. pylori sobreviva no ambiente duodenal). o Evoluindo com inflamação – duodenite. o Cujo resultado final é a úlcera. Úlcera gástrica: Pacientes com úlcera gástrica cursam com gastrite que predomina no corpo gástrico. Ocorre em mucosa antral (não secretora de ácido). Pacientes com úlcera gástrica tendem a ter maior quantidade de bile no estômago. Conteúdo duodenal refluído (bile e lecitina) é lesivo para a mucosa gástrica, tornando-a mais sensível ao ataque ácido. Thais Alves Fagundes Papel dos AINE/AAS: AINE constituem a segunda etiologia mais comum das úlceras gastroduodenais. Fisiopatologia: AINE/AAS causa supressão da síntese de prostaglandinas, tornando a mucosa mais vulnerável aos fatores agressivos (HCl, pepsina, sais biliares, H. pylori e medicamentos). Introdução de inibidores seletivos da ciclo-oxigenase-2 (COX-2) previne úlceras induzidas por AINE; contudo, não elimina o risco de desenvolver úlceras gastroduodenais e suas complicações. QUADRO CLÍNICO Sintomas não permitem diferenciar úlcera duodenal (UD) e úlcera gástrica (UG). Dor: o Habitualmente pouco intensa, em queimação, localizada no epigástrio. o Descrita como "dor de fome, queimadura ou desconforto na boca do estômago". o Mantém-se por semanas, de forma rítmica. Ritmicidade (relação íntima da dor com a alimentação): o UD: Melhora da dor com a ingestão de alimentos. Dor em três tempos: dói-come-passa. o UG: Ingestão de alimentos às vezes piora ou desencadeia o sintoma. Dor em quatro tempos: dói-come-passa-dói. Periodicidade: o Períodos de acalmia (desaparecimento da dor por meses ou anos) intercalados por períodos sintomáticos. Despertar noturno ("clocking"): o Despertar pela dor no meio da noite é sugestivo da presença de úlcera, particularmente duodenal. Pirose ou azia é comum nos pacientes com UD, em virtude da associação da UD com refluxo gastresofágico. Sintomas dispépticos, como eructação, flatulência, sialorreia, náuseas, vômitos não são próprios da úlcera péptica, mas podem estar associados. COMPLICAÇÕES Hemorragias / HDA, perfurações (abdome agudo), obstrução, estenose pilórica. Podem apresentar-se com melena, hematêmese, perda de sangue oculto nas fezes, náuseas, vômitos, distensão abdominal, sinais de peritonite ou instabilidade hemodinâmica. Perfuração: ultrapassada a serosa, a lesão atinge a cavidade abdominal, de modo abrupto, causando peritonite, pode resultar em choque. DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Endoscopia digestiva alta é o exame para diagnóstico das lesões ulcerosas. Estabelece o diagnóstico da úlcera, determina a sua natureza e permite a definição da etiologia. Método eficiente, sensível, específico, seguro, confiável, apesar de ser um exame invasivo e de alto custo. Retirada de fragmentos de biopsias para exame histológico do antro e/ou corpo para a pesquisa do H. pylori. Úlceras gástricas: realizar biópsias, se não houver hemorragia (sangramento), para diagnóstico diferencial de neoplasia. Úlcera duodenal: realizar biópsias, principalmente se houver características de neoplasia malignas. Thais Alves Fagundes EXAME RADIOLÓGICO CONTRASTADO Método útil para o diagnóstico da doença ulcerosa; porém, menos preciso e pouco utilizado. Tem como desvantagem o uso de radiação ionizante e a necessidade da realização de exames endoscópicos e biopsias das lesões suspeitas para confirmação diagnóstica. Indicado em situações em que o exame endoscópico não está disponível ou quando há indicação cirúrgica. GASTRINA Pacientes que apresentam quadro clínico atípico, como múltiplas úlceras gastroduodenais, úlceras refratárias, recorrentes ou localizadas em segunda porção duodenal e não associadas a H. pylori ou AINE, úlceras recorrentes pós-operatórias, associação com diarreia ou cálculo renal e história pessoal ou familiar de tumor de hipófise ou paratireoide, justifica-se a pesquisa de gastrinoma (síndrome de Zollinger-Ellison). PESQUISA DE HELICOBACTER PYLORI Testes para diagnosticar infecção pelo H. pylori em pacientes com doença ulcerosa péptica. Exames negativos mudam o diagnóstico para outras causas (AINE, gastrinoma), dispensando antibiótico. Resultados falso-negativos: o Pacientes em uso de inibidores da bomba de prótons, bismuto ou antibióticos. o Medicamentos podem suprimir temporariamente o H. pylori. INVASIVOS: endoscopia acompanhada de biopsia gástrica Teste da uréase: coleta no corpo e antro gástricos. Pesquisa histológica: teste padrão ouro – coleta de 5 fragmentos (2 antro, 2 corpo e 1 incisura angular). Cultura: padrão-ouro alternativo. NÃO INVASIVOS: não necessitam de endoscopia Teste sorológico: o Verifica valores de IgG (aumento). o IgG elevada não significa infecção ativa, visto que os níveis de anticorpos decrescem lentamente após erradicação da infecção. o IgG com queda acentuada, 6 a 12 meses após uso de antibiótico, significa sucesso na erradicação. Teste respiratório com ureia marcada: o Quando positivo sempre significa infecção atual (ao contrário do teste sorológico). o Muito útil para controle da erradicação, pouco disponível. o Paciente ingere ureia marcada com carbono 14 (radioativo) ou 13 (não radioativo). Se o organismo estiver presente, ele transforma a ureia em amônia e dióxido de carbono marcado, sendo detectado no ar expirado 30 min mais tarde em um balão de coleta. Pesquisa do antígeno fecal: o Identifica, através de reação imunoenzimática, antígenos do H. pylori nas fezes dos pacientes. o Não confiável para controle de erradicação. Thais Alves Fagundes TRATAMENTO Tratamento da úlcera péptica, gástrica ou duodenal, tem como objetivos: Alívio dos sintomas Cicatrização das lesões Prevenção de recidivas e complicações Alimentação e hábitos: Alguns alimentos estimulam a produção de ácido clorídrico e outros são irritantes à mucosa gástrica, devendo ser evitados. Recomendar a cessação do tabagismo, pois o fumo pode alterar o tempo de cicatrização da úlcera. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Promovem a cicatrização da úlcera por dois mecanismos: o Fortalece os componentes que mantêm a integridade da mucosa gastroduodenal (pró-secretores). o Diminuição da ação cloridropéptica (antissecretores). PRÓ-SECRETORES: Estimulam os fatores responsáveis pela integridade da mucosa (muco, bicarbonato, fatores surfactantes), além de favorecer a replicação celular e o fluxo sanguíneo da mucosa. São considerados pró-secretores: o Antiácidos o Sucralfato o Sais de bismuto coloidal o Prostaglandinas: ação antissecretora e citoprotetora. Misoprostol era altamente eficaz na prevenção de lesões agudas de mucosa por AINE. Alto custo, efeitos colaterais (diarreia e cólicas abdominais) e o uso indevido como abortivo inviabilizaram a utilização. ANTISSECRETORES: Medicamentosde primeira escolha para a cicatrização da úlcera. Dois grupos são utilizados: o Bloqueadores do receptor H2 da histamina (cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina). Bloqueiam o receptor H2 existente na membrana da célula parietal. Diminui significativamente a ativação da ATPase K+, ativada no canalículo secretor. Risco de taquifilaxia (vício). o Inibidores da bomba de prótons (IBP) (omeprazol, pantoprazol e esomeprazol). Bloqueiam diretamente a bomba ATPase K+ ativada na célula parietal, enzima responsável pela união do H+ com o Cl-, dando origem do HCL. Medicamento é administrado pela manhã, em jejum. Em razão de sua ação antissecretora, observa-se aumento nos níveis de gastrina plasmática. Erradicação do H. pylori na prevenção de recidiva ulcerosa gástrica ou duodenal: Indicação: o Úlcera gastroduodenal, ativa ou cicatrizada; linfoma MALT de baixo grau; pós-cirurgia (gastrectomia parcial) para câncer gástrico avançado; pós-ressecção de câncer gástrico precoce (endoscópica ou cirúrgica); gastrite histológica intensa. Thais Alves Fagundes o Outras situações: pacientes de risco para úlcera (antecedente de úlcera; > 60 anos; presença de comorbidades; associação com corticoides, AAS ou anticoagulantes; infecção pelo H. pylori) e complicações que utilizarão AINE ou AAS; pacientes com história prévia de úlcera ou HDA que deverão usar AINE; indíviduos de risco para câncer gástrico. Esquemas monoterápicos ou duplos: não devem ser utilizados, resultam em baixos índices de erradicação. Esquemas tríplices: são os mais indicados. o Associação de IBP + claritromicina + amoxicilina 1 ou metronidazol 500 mg. o 2 vezes/dia, por um período mínimo de 7 dias a 14 dias. Esquemas quádruplos: nos casos de falha terapêutica ao esquema tríplice. Lesões induzidas por AINE: Melhor tratamento é o profilático. Devem-se utilizar, sempre que possível, os AINE com menor potencial de agressão (COX-2 seletivos). Instituir o tratamento profilático concomitante (IBP) para aqueles pacientes considerados de alto risco (antecedente de úlcera; > 60 anos; presença de comorbidades; associação com corticoides, AAS ou anticoagulantes; infecção pelo H. pylori) a fim de evitar complicações.
Compartilhar