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Ginecologia e Obstetrícia Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Alterações no Puerpério ➔ Período que se inicia logo após o parto ou cesariana e se estende por 6 semanas; ➔ Período em que ocorre o retorno dos órgãos reprodutivos ao estado pré-gravídico; ➔ É a fase em que costumam ocorrer a maioria das complicações; ➔ Alterações mais comuns: ○ Hemorragia → Maior causa de morte materna; ○ Infecção puerperal; ○ Outras → Infecção de FO, cefaléia pós punção da dura-máter, depressão pós parto, mastite, etc. Modificações Anatômicas e Fisiológicas: Útero: ● Imediatamente após o nascimento do nenê, o útero diminui consideravelmente; ● Contrações fisiológicas; ● No pós-parto imediato, encontra-se entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical; ○ Globoso com consistência lenhosa. ● 2 dias → Fundo palpável na cicatriz umbilical. Diminui consistência; ● 4 dias → Fundo palpável na cavidade pélvica; ● 30 dias → Pesa 100g. Lóquios: ● É a eliminação do conteúdo uterino; ● São formados pela decídua externa remanescente, a qual sofre necrose e é eliminada; ○ A decídua interna permanece intacta → Futuramente promove a regeneração do endométrio. ● Quando abundantes ou fétidos, podem estar associados à retenção de restos placentários ou infecção pélvica; ● Lochia rubra → Sangue vivo, primeiros dias pós-parto; ● Lochia serosa → Eliminação descorada, 3 - 4 dias de pós-parto; ● Lochia alba → Eliminação esbranquiçada, em torno do 10º dia pós-parto. Vagina e Vulva: ● Involução e rápida cicatrização no puerpério imediato; ○ Se houver pequenas lacerações → Cicatrização em 4 - 5 dias. ● A parede vaginal perde as camadas externas e permanece atrofiada até que ocorra proliferação tecidual (com o retorno dos níveis de estrogênio); ● Carúnculas mirtiformes → Pequenas saliências que aparecem na prega himenal. Sistema Cardiovascular: ● Imediatamente após o parto, DC e volume plasmático estão aumentados em cerca de 10%; ● Retorno ao estado pré-gravídico em 2 semanas; ● Redução do peso materno, em função da eliminação hídrica; ● Diminuição da pressão venosa em membros inferiores e melhora das varizes, edemas e hemorróidas. Trato Urinário: ● Pode ocorrer sintomas de hiperdistensão e de esvaziamento vesical incompleto; ● Podem ter causa relacionada com anestesia e uso de opióides, traumas vesicais, uso de sondas e dilatação de ureteres com algum grau de refluxo; ● Sempre que a puérpera apresentar febre, deve-se pensar em infecções. Ovulação: ● Retorno da ovulação é variável; ○ Geralmente, paciente que não amamenta, demora 6 - 8 semanas; ○ Nesse período → Ciclos anovulatórios. ● Não se deve esperar o início da menstruação para iniciar anticoncepção. 1 Ginecologia e Obstetrícia Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Aspectos Clínicos do Puerpério: Hemorragia: ● Cuidados na primeira hora pós-parto → 4º período do parto; ○ 1º = Dilatação; 2º = Expulsão, 3º = Dequitação; ○ Observar sinais vitais. ● Importância de manter a mãe por cerca de 1h (parto) ou 3-4h (cesária) na sala de recuperação; ○ Na cesárea, a indicação de que a mulher pode ser liberada da sala de recuperação é que ela retorne a sensibilidade dos membros inferiores (pós-anestesia). ● Observar sangramento vaginal; ○ Palpação uterina para afastar hipotonia; ○ Lacerações de colo e vagina; ○ Ruptura uterina; ○ Restos placentares. ● Sangramento vaginal aumentado → Revisão do canal de parto + Tentativa de parar o sangramento; ○ Medicações: Ocitocina, misoprostol, etc; ○ Curagem; ○ Curetagem uterina; ○ Histerectomia. Infecção Puerperal: ● Infeção bacteriana após o parto; ● A forma clínica mais comum de infecção puerperal é a endometrite, que pode estar associada ou não à infecção de FO, episiotomia ou parede abdominal; ○ Infecção urinária também é considerada infecção puerperal; ⇨ EQU e Urocultura; ⇨ E. coli é a bactéria mais prevalente. 1. Endometrite: ○ 6x mais comum após cesariana do que parto vaginal; ⇨ No parto vaginal, os sintomas são os mesmos, porém, a infecção costuma ser bem menos intensa. ○ Infecção polimicrobiana → Mais comumente envolvidos: Streptococcus e E. coli (bactérias anaeróbias); ○ Diagnóstico é clínico: ⇨ Dor à mobilização do útero; ⇨ Febre (primeiro sintoma) → Também pode ser sinal de mastite; ⇨ Lóquios fétidos. ○ Geralmente a infecção ocorre entre o 3º e 7º dia do puerpério; ○ Exames complementares → Exames culturais (urocultura e hemocultura), raio X de tórax (raramente); ○ Fatores de risco: ⇨ Trabalho de parto prolongado; ⇨ Cesariana; ⇨ DCP; ⇨ Ruptura prematura de membranas; ⇨ Colonização por estreptococos do grupo B; ⇨ Obesidade; ⇨ Líquido amniótico meconial; ⇨ Extração manual da placenta; ⇨ Hemorragia puerperal; ⇨ Parto pré-termo; ⇨ Infecção por HIV; ⇨ Etc. ○ Tratamento: ⇨ Endometrite pós-parto: Ampicilina 6/6h; ⇨ Endometrite pós-cesária: Aminoglicosídeo (Gentamicina ou Amicacina) e anaerobicida (Clindamicina); ↳ Esquema antimicrobiano mais amplo. ⇨ O tratamento deve ser mantido até que a paciente se mostre afebril por 48h. Infecção de Ferida Operatória: ● Principal complicação operatória da cesariana (3 - 15%); ○ Quando realizada profilaxia antimicrobiana → < 2%. ● Infecção de parede abdominal: Abrir e lavar; ● Infecção de episiotomia: Lavar. 2 Ginecologia e Obstetrícia Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Cefaleia Pós Punção de Dura-máter: ● Complicação comum; ● Ocorre quando há punção acidental da dura-máter com perda de líquido cerebroespinhal e redução da pressão liquórica; ● Cefaleia frontal com irradiação occipital; ● Piora em postura ortostática; ● Tratamento: ○ Repouso no leito; ○ Hidratação; ○ Analgesia com medicamentos com cafeína. Ex.: neosaldina; ○ Em casos graves: Injeção de sangue da própria paciente no espaço peridural. ● Pode ser acompanhada de tonturas, náuseas, vômitos, distúrbios visuais, dor interescapular, rigidez de nuca e sintomas auditivos. Membros Inferiores: ● Diariamente examinados; ● Identificação de edemas ou dores → Comprometimento venoso (tromboflebites, flebotromboses, etc); ● Estimular deambulação precoce → Favorece função vesical, bom funcionamento intestinal, reduz risco de TVP e embolia pulmonar; ● Pacientes de risco para eventos trombóticos → Pode-se utilizar heparina. Episiorrafia: ● Examinar para afastar hematomas, infecções e deiscências; ○ Se preciso → Drenagem. ● Não precisa de curativo; ● Higienização com água corrente e sabonete após as eliminações; ● Infecção é rara; ○ Bactérias mais comuns: Streptococcus, Staphylococcus e Enterococcus; ○ Desbridamento, lavagem intensa, ATB. Depressão Pós-parto: ● 10 - 20% das mulheres; ● Nos primeiros dias pós-parto, as pacientes podem apresentar sintomas blues; ○ Fadiga, ansiedade, sono desordenado e mudança de humor. ● Depressão pós-parto: Mudança de humor, ansiedade, depressão, pânico, irritabilidade, fenômenos obsessivos, etc; ● Geralmente os sintomas aparecem entre a 4ª e 6ª semana pós-parto; ● Tratamento: ○ Psicoterapia; ○ Medicamentos: Sulpirida (aumenta a produção de leite), triptofano, tricíclicos, sertralina, etc. ● Fatores de risco: História de depressão em gestações anteriores, gestação indesejada, eventos traumáticos, baixo suporte social, baixo nível socioeconômico, SPM, tabagismo, drogas ilícitas, hiperêmese gravídica, etc. Mastite Aguda Puerperal: ● Gestacional ou puerperal; ● Hiperemia, ingurgitamento, calor, dor, aumento do volume, etc; ● Repercussões sistêmicas → Febre, calafrios, anorexia, mal-estar; ● Casos graves → Sepse; ● Mastite aguda puerperal: ○ 2ª - 4ª semana puerperal; ○ Epidêmica: Rara, surtos de infecção hospitalar, contaminação da orofaringe do RN; ○ Endêmica: 1 - 5% das puérperas. Disseminação ???? ○ Apojadura; ○ Má técnica de amamentação → Infecçãobacteriana; ⇨ Ingurgitamento mamário (estase láctea); ⇨ Fissuras mamilares; ⇨ Anormalidades do mamilo (plano, invertido, etc); 3 Ginecologia e Obstetrícia Gabriela Teixeira ATM 2024/2 ● Orientar o seguimento da amamentação; ○ Obs.: Necessidade de supressão da amamentação → Natimorto, doença materna grave, mãe HIV-positivo ou que utiliza medicação de contraindicação absoluta. ● Tratamento: ○ Orientações quanto à amamentação; ○ Esvaziamento da mama (ordenha manual); ○ Compressas frias; ○ Anti-inflamatórios; ○ Antibioticoterapia → Cefalexina VO 500mg 6/6h por 7 - 10 dias; ○ Casos mais graves → ATB EV (Oxacilina, Cefoxitina). Orientações na Alta Hospitalar: 1. Anticoncepção: ● Discutir com o casal o planejamento familiar; ⇨ Minipílula → Somente com progestágenos, pode ser usado no período de amamentação. Eficácia próxima de 100%. Deve ser iniciada no dia da alta ou, preferencialmente, 4 semanas após o nascimento. Eficácia diminui quando a frequência das mamadas diminui; ⇨ Preservativo → Vantagem adicional: Evita contato do sêmen, de pH elevado, em mucosa vaginal atrofiada, o que poderia causar desconforto; ⇨ DIU → Cobre ou medicado com progestágenos. Geralmente inserido 8 - 12 semanas após o nascimento (poderia ser inserido imediatamente após dequitação na cesariana). Estudos mostram que inserção logo após parto normal apresenta maior taxa de expulsão, logo, isso é desaconselhado; ⇨ Ligadura tubária → Desejo da paciente + normas de legislação. Não é permitida no período de parto ou aborto, exceto em casos de comprovada necessidade. 2. Analgesia: ● Pacientes que tiveram episiorrafia → Geralmente acetaminofeno (paracetamol) é suficiente; ● Partos mais laboriosos, complicados ou cesariana → Acetaminofeno + AINE (ou codeína). Deve ser utilizada menor dose possível e pelo menor tempo possível. 3. Retorno às relações sexuais: ● Não tem momento ideal; ● Podem ser reiniciadas após 2 semanas de puerpério normal, desde que com adequada cicatrização e desejo da paciente; ● Orientar a respeito da diminuição do desejo sexual esperada; ● Podem ser prescritos lubrificantes vaginais para aliviar desconforto e dor. 4. Uso de medicações: ● Evitar automedicação → Passagem no leite materno e danos ao bebê. 4 Ginecologia e Obstetrícia Gabriela Teixeira ATM 2024/2 5
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