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1 Lorena Almeida | TXV | mod. 2 (Folha de São Paulo, Porto Alegre, 15/03/2013) Laudos mostram que vítimas da boate Kiss morreram devido a gases tóxicos. (...) A Polícia Civil do Rio Grande do Sul recebeu nessa sexta todos os laudos de necropsia das vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, que morreram no dia da tragédia. Ao todo, já estão com os policiais 234 análises, que mostram que as mortes ocorreram por asfixia devido à inalação de gases tóxicos (...) Os documentos recebidos não incluem informações sobre sete pessoas que morreram hospitalizadas dias ou semanas após a tragédia. As necropsias já prontas apontam que as vítimas inalaram uma combinação fatal de dois gases tóxicos (...) 1. Descreva como o cianeto usado nas câmaras de extermínio nazista possui relação com o bloqueio da geração de ATP na mitocôndria. O cianeto possui o mesmo mecanismo toxicológico apresentado pelo monóxido de carbono? Justifique. Referência: Intoxicação por monóxido de carbono e cianeto: uma associação para recordar (2020) O CO e o cianeto (CN) são capazes de se ligar aos íons ferro, interferindo no transporte de O2 pelo sangue e/ou na respiração celular aeróbica, levando a uma hipóxia celular e consequentemente, à morte do indivíduo intoxicado; quando combinados geram um efeito sinérgico. O diagnóstico precoce de intoxicação por CN é vital, pois há antídotos como a hidroxicobalamina, que podem ser usados. Apesar de possível, a detecção de níveis de CN no sangue é complicado devido a instabilidade da molécula e da indisponibilidade desses testes na maioria dos laboratórios. O cianeto (CN) liga-se de forma não competitiva a enzima citocromo-c oxidase, a última enzima na cadeia de transporte de elétrons, parando-a e passando para uma produção exclusivamente anaeróbica de ATP. É esperado, então, uma severa acidose lática e níveis séricos de lactato são usados para o diagnóstico da intoxicação. Uma intoxicação por CN deve ser suspeitado em todo paciente no contexto de exposição à incêndio e sinais de inalação de fumaça, que atendam dois ou mais desses critérios: disfunção neurológica, fuligem na boca ou no catarro e amostra de sangue arterial com acidose metabólica com nível de lactato acima de 8 mmol/L. No estudo de caso relatado, o paciente – vítima de um incêndio em casa – no terceiro dia na UTI, desenvolveu agitação, hipertensão, taquicardia, vermelhidão no rosto e a reincidência de hiperlactatemia, sem motivo óbvio. Logo em seguida, houve suspeita de intoxicação por CN e início de tratamento empírico com dose única, intravenosa de 5g de hidroxicobalamina e 12,5g de tiosulfato de sódio – o que normalizou os sintomas. Referência: Huzar TF, George T, Cross JM. Carbon monoxide and cyanide toxicity: etiology, pathophysiology and treatment in inhalation injury. Expert Rev Respir Med. 2013;7:159-70. Em concentrações menores, o mecanismo primário de desintoxicação de CN é a sua conversão para tiocianato no fígado pela enzima rodanês (tiossufalto cianeto transsulfurase), em seguida, o tiocianato – não tóxico – é excretado pelos rins. Esse mecanismo endógeno de desintoxicação pode ficar sobrecarregado durante elevada exposição ao cianeto e é causa para mortalidade associada a intoxicação por CN. Sinais de intoxicação por cianeto: inicialmente, o paciente fica ansioso, confuso e tonto, com reclamações de visão turva, dificuldade de respirar e palpitações curtas pós-exposição. Depois, os sintomas progridem para perda de consciência, convulsões, paralisia, apneia, instabilidade hemodinâmica, arritmia e eventual morte se exposto a níveis elevados de cianeto. 2 Lorena Almeida | TXV | mod. 2 2. Correlacione o comando anterior com o incêndio ocorrido na Boate Kiss (Santa Maria -RS), que resultou em 242 mortos e 116 feridos. O cianeto é encontrado em plástico, papel, metais e tecidos manufaturados e pode ser ingerido, inalado ou absorvido por contato. O óbito de vítimas dias ou semanas após o acidente pode levar a hipótese de intoxicação por cianeto – além de CO – justamente por apresentar sintomas que se assemelham à intoxicação por CO, levando a um diagnóstico tardio e tratamento tardio da intoxicação, por apresentarem um mecanismo de ação no organismo semelhante. 3. Existem antídotos para a intoxicação pelo cianeto? Em caso positivo, como eles atuariam? Referência: Intoxicação por monóxido de carbono e cianeto: uma associação para recordar (2020) O tratamento para intoxicação por cianeto é baseado na descontaminação, ressuscitação e apoio. Há antídotos contra o CN, sendo a hidroxicobalamina a mais usada na Europa, devido maior segurança. O tiosulfato de sódio também tem um nível favorável de segurança mas atua de forma mais lenta, o que faz com que seu uso isolado não seja recomendado. Referência: Huzar TF, George T, Cross JM. Carbon monoxide and cyanide toxicity: etiology, pathophysiology and treatment in inhalation injury. Expert Rev Respir Med. 2013;7:159-70. Nos EUA, existe um antídoto triplo, composto por nitrito de amila, nitrito de sódio e tiosulfato, usados em sequência para obter um efeito sinérgico. Entretanto, existem efeitos colaterais desagradáveis, sobretudo pelo uso dos nitritos, pois podem causar ou piorar quadros de hipóxia e até causar a morte, além de hipotensão. Esse tipo de antídoto ainda não foi 100% estudado. A hidroxicobalamina, é o antítodo mais utilizado e aprovado pela FDA em 2006, é um precursor endógeno da vitamina B12, que se liga ao CN e não interfere na oxigenação do tecido, ao contrário dos outros antídotos. O CN liga-se preferencialmente à porção cobalto da hidroxicobalamina por ter maior afinidade do que com a citocromo oxidase. Essa ligação, formando cianocobalamina não é tóxica e pode ser eliminada pelos rins. Tem maiores vantagens de uso, seguro para pacientes que inalaram fumaça, para grávidas e seu uso como antídoto de intoxicação por CN já foi mais estudado comparado aos demais. As desvantagens recaem sobre o custo (800 dólares por dose de 5g), vermelhidão da pele e urina, hipertensão transitória com reflexo de bradicardia e interfere na precisão de testes de co-oximetria e outros.
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