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1 2 Alessandro Almeida Essa obra foi criada com o intuito de darsequência à primeira edição do livro#entreparágrafos, uma vez que visa fornecer aos estudantes de ensino médio e de pré- vestibulares as técnicas essenciais para romper as barreiras que separam um bom escritor de um não tão bom. Essa distinção é feita a partir de inúmeros pilares, tais como: estilo, normas, estrutura e ideias para que você, aluno, consiga romper essa barreira e alcance êxito na produção de redações para vestibulares e concursos. Logo, essa obra foi publicada com intuito de auxiliá-lo. Alessandro Almeida, Dr. em História, professor uni- versitário e da rede privada de ensino, em Montes Claros, demonstra, nesta obra, a sua bagagem e seu repleto repertório, em parágrafos, sobre temas variados e complexos, sempre presentes em provas de vestibulares e concursos. Esses temas contem- plam assuntos diversos, como: política, redes so- ciais, violência, saúde, cultura, entre outros. A composição dos parágrafos oferece ao leitor a capa- cidade de interpretar temas e aplicar, no processo de escrita, um riquíssimo repertório, repleto de conceitos, autores, mídias e outras ferramen- tas necessárias para a nota máxima nessas avalia- ções. Portanto, o livro #entreparágrafos é uma dá- diva concedida aos estudantes, professores e pes- quisadores, em geral, ávidos na pretensão de com- preenderem e compor textos, aliando qualidade, estrutura e extensa bagagem intelectual. Professor Jaques Braga de Azevedo E 3 Alessandro Almeida Montes Claros Editora Caminhos Iluminados 2020 Clarissa Rodrigues Soares (Org.) 2ª Edição 4 Alessandro Almeida ALMEIDA, Alessandro. #entreparágrafos. 2. ed./Alessandro Almeida. – Montes Claros: Caminhos Iluminados, 2020. 225 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN 978-65-86653-09-0 1. História. 2. Narração - Prosa. 3. Crítica. 4. Sociedade. 5. Internet. I. Título. CDU: 82-3(815.1) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Vinícius Silveira de Sousa – Bibliotecário – CRB6/3073 A447e Direitos autorais: Alessandro Almeida Professor Doutor em História @hg6alessandro Organizadores: Alessandro Almeida Clarissa Rodrigues Soares Capa: Nobilis! MKT Diagramação: Maria Rodrigues Mendes Editora Caminhos Iluminados e-mail: mariarmendesci@gmail.com (38)99102-0024 5 Introdução..................................................... Democratização da educação................... Prevenção do uso de drogas no ambiente escolar. Lutas pela educação.......................................... Homem de Ferro.............................................. O porte de armas no Brasil................................ Educação, violência e brasilidade....................... Desafios do atraso tecnológico no Brasil............. Educação financeira para crianças.................... Educação brasileira inserida na educação de todo mundo........................................................ Dia das Crianças............................................. Alfabetização e construção da identidade......... Educação a distância no Brasil.......................... Racionais MC’s................................................. Direito à aprendizagem...................................... Valorização da dignidade humana........... “Brasil em chamas”: tragédia da boate Kiss e do Ninho do Urubu........................................... Violência em sala de aula.................................. Falta de segurança nas escolas.......................... Violência na escola......................................... O Brasil em chamas: os desastres da boate Kiss e do Ninho do Urubu........................................ 11 13 14 15 16 17 19 20 21 23 24 25 27 28 30 32 33 34 35 37 38 Sumário 6 Alessandro Almeida Como lidar com o problema dos refugiados no Brasil............................................................... Violência e criminalização dos pobres no Brasil.. Limites do humor no Brasil............................. Humilhação na Internet.................................. Desigualdade e desumanização........................ A persistência do assédio sexual na sociedade brasileira......................................................... Combate ao crime no Brasil............................. Corrupção (Lúcifer)........................................... Filme Coringa................................................. Curso de Medicina............................................ Crianças desaparecidas no Brasil.................... Huck e Homer na redação............................... A pedofilia no Brasil........................................ Tik Tok e a violação da privacidade infantil....... Pantera Negra................................................. Privacidade infantil e aborto.............................. Tabagismo e COVID.......................................... Igualdade de direitos................................ Dia Internacional das Mulheres....................... Ética e corrupção no Brasil................................ Democracia cultural “A gente quer comida, diversão e arte”................................................ Combate à homofobia....................................... A persistência do assédio sexual na cultura brasileira........................................................ Zilda Arns....................................................... Arte e urbanização - expressão ou depredação do patrimônio material?..................................... Corrupção, “Dom Casmurro” e o futebol.............. 39 40 41 43 44 45 46 47 49 50 52 53 55 56 57 59 60 62 63 64 65 66 67 69 70 72 Sumário 7 Reforma da Previdência..................................... Democratização do cinema no Brasil................ Democratização do cinema no Brasil................ Djonga na redação Enem................................. Corte real x justiça por Miguel.......................... Marx e as meninas............................................ Show Drive-in: entretenimento ou exclusão?..... As crianças indígenas e a COVID...................... Arlequina e a emancipação feminina................. Laicidade do estado................................... Fé x dinheiro................................................... Stan Lee – eterno.............................................. Criança e aborto no Brasil............................... Corrupção e fé no Brasil................................... Separação igreja e estado................................. Fé no lucro!...................................................... Respeito às diferenças e à diversidade... Tatuagem........................................................ Skate, esporte e educação............................... Liberdade de expressão e discurso de ódio no Brasil.............................................................. Limites do humor no Brasil.............................. Liberdade de expressão e ódio no Brasil............. Thor................................................................ Liberdade de expressão e ódio no Brasil............. Como combater a depressão no Brasil................ Independência ou morte do humor: república e censura no Brasil............................................. Batman: a piada mortal.................................... Bullying e evasão escolar................................... Civismo e patriotismo no Brasil......................... 73 75 76 77 78 80 81 83 84 86 87 88 89 90 92 94 96 97 98 99 100 102 103 105 106 108 109 111 112 Sumário 8 Alessandro Almeida Cultura do cancelamento e os impactos às relações sociais................................................ O desembargador e Machado de Assis?.............. Mudança nos padrões familiares e perseguição digital............................................................... Fifa 20 na redação Enem................................. Transtorno dismórfico corporal......................... “O inferno são os outros”................................... Melancolia, humor e modernidade.................... Futebol: dramaou símbolo do Brasil.................. Globalidade, vivência e transver- salidade........................................................ Carnaval.......................................................... Geração Z: inteligentes ou violentos?................ A Caverna e as influências digitais.................... Jogos eletrônicos: violência e compulsividade..... Imigração e globalização.................................... Redes sociais e desumanização “Vivemos tempos líquidos - nada é para durar”.................. Riso e subversão............................................... Patrimônio histórico.......................................... Jovens e o suicídio (Nirvana)............................ Capitão América.............................................. Viúva Negra...................................................... Hulk............................................................... Mídia social, saúde e bem-estar........................ Globesidade...................................................... A necessidade de se coibir crimes na Internet obscura............................................................ Jovem e as drogas........................................... Tráfico de órgãos no Brasil................................. 113 115 116 118 119 121 122 123 125 126 127 128 129 130 131 132 133 135 136 137 139 140 141 143 144 145 Sumário 9 Surto de sarampo no Brasil............................... Som, fúria e ação social..................................... Future-se......................................................... Coronavírus e globalização: preconceitos com o Oriente e ações para prevenção........................ Coronavírus e globalização: preconceito com o Oriente e ações de prevenção............................ Vida, festa e memória....................................... “Rells”, Instagram e Mark Zuckerberg na redação Enem................................................... Game na redação do Enem.............................. Cultura local e globalização............................... Gerac’aÞo Z e a tecnologia................................ A guerra fria das vacinas.................................. Valorização da cultura brasileira e suas manifestações.................................................. Amor e ódio no mundo contemporâneo.............. Valorização do meio ambiente e sustentabilidade........................................ Tragédia de Brumadinho (MG)......................... Água................................................................ Caminhos para combater os maus-tratos contra animais.......................................................... Arte e urbanização............................................ A importância do turismo no Brasil................... Como melhorar a mobilidade urbana no Brasil... Agronegócio no Brasil....................................... Crise ambiental no Brasil................................. Papel da ciência no mundo contemporâneo........ Ilha das Flores................................................. Toy Story.......................................................... 147 148 150 151 153 154 156 157 159 160 162 164 165 166 167 168 169 170 171 172 174 175 176 178 179 Sumário 10 Alessandro AlmeidaSumário Covid-19 e os catadores de lixo........................... “Dia que virou noite em São Paulo”: crise ambiental no Brasil contemporâneo.................. Revolução Verde no Brasil................................ Modelos de redações completas........... A importância da educação financeira nas escolas infantis................................................. Os jovens, a música e a “Terra de gigantes” - Como equilibrar desenvolvimento econômico e valorização da vida no Brasil contemporâneo?..... Caminhos para combater a idosofobia no Brasil.. Realidade Brutal.............................................. A importância da educação profissional e tecnológica no Brasil......................................... Metodologias ativas na educação e na saúde.... Saúde pública e COVID-19............................... Viver como um “Bacurau”................................ Valorização do patrimônio histórico nacional..... Obesidade e COVID.......................................... Ética e profissionais de saúde.......................... Vivemos no “poço”............................................. Discriminação racial e direitos humanos........... Economia colaborativa e os impactos na educação.......................................................... Reforma da previdência.................................... 181 182 184 186 187 190 193 195 198 201 203 205 207 210 213 215 218 221 224 11 Racismo, intolerância e ódio marcaram o sé-culo XX. Nesse cenário, os extremismos e abusca incessante por riquezas deram condições à eclosão da “era da catástrofe” ou “guerra total”, denominações do historiador Eric Hobsbawm para os trinta e um anos que marcaram o assassinato de Francisco Ferdinando, em 1914, e a rendição japonesa, em 1945, logo após o lançamento das bombas atômicas. Diante desse genocídio mundial, emerge a construção da cidadania universal e a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), com a finalidade central de garantir a paz e o futuro da humanidade. Sob essa inspiração, desde 1998, com o tema “Viver e Aprender”, o Exame Nacional do Ensino Médio pro- cura propor temáticas que estejam adequadas aos principais eixos balizadores das leis internacionais mediadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ademais, o candidato, ao realizar a avalia- ção, deve também se fundamentar nos direitos hu- manos, pois discursos preconceituosos são avalia- dos negativamente e podem resultar em grave pre- juízo para seu desempenho na escrita. Dessa for- ma, o Ministério da Educação está ciente do caráter pedagógico do exame e, em 2020, deixou isso ainda mais evidente com a divulgação do “Manual de cor- Introdução R 12 Alessandro Almeida retores da avaliação do Enem” que destaca os se- guintes princípios: 1) Democratização da Educação 2) Valorização da dignidade humana 3) Igualdade de Direitos 4) Laicização do Estado 5) Respeito às diferenças e à diversidade 6) Globalidade, vivência e transversalidade 7) Valorização do meio ambiente e sustentabilidade. Para o leitor atento, o tema “Viver e Aprender”, de 1998, enquadra-se, facilmente, na “democratização da educação” e na noção de “vivência”. Está aí o “GRANDE SEGREDO” que já faz parte de nossas di- cas e prática pedagógica há décadas. Qual é? Ao invés de atentar aos “possíveis temas que serão con- tados na prova”, inquietação que já enriqueceu blogueiros e professores, o candidato deve organizar seus estudos de redação fundamentado nos sete princípios dos Direitos Humanos citados, pois os te- mas de redação são construídos a partir deles; e as teses defendidas na escrita dos candidatos neces- sita de seguir esses princípios. Logo, o aluno secundarista pode organizar um projeto de texto con- siderando esses pontos e ter um resultado eficiente na prova, instrumento para a realização de um so- nho: a inserção do discente em uma universidade pública ou particular, nacional ou internacional. É com esse intuito, da busca pela REDAÇÃO 1000 e SUA aprovação em “QUALQUER PROCESSO SELE- TIVO”, é que preparamos o “ENTREPARÁGRAFOS”, livro relevante para refletirmos sobre temáticas e estrutura de escrita, com vistas a melhorar nosso repertório sociocultural e estarmos prontos para os desafios que o mundo no século XXI nos impõe. 13 Democratização da educação 14 Alessandro Almeida PREVENÇÃO DO USO DE DROGAS NO AMBIENTE ESCOLAR Fonte: Guia dos Quadrinhos1 “Uma história que precisa ter fim”. Esse é o título da história em quadrinho da “Turma da Mônica” que visa a contribuir com o combate ao consumo de drogas ilícitas nas escolas. Maurício de Sousa, com a linguagem simples e atrativa, intenta corroborar, de forma crítica, esse mal comum nas escolas brasileiras. A esse respeito, Vera Nigro de Sousa Placco elucida que “Prevenção Baseada na Redução1 Disponível em: http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/turma- da-monica-uma-historia-que-precisa-ter-fim-a/tu493109/78149. Acesso: 20 out.2020 15 de Danos” é o caminho mais eficaz para atenuar os problemas causados pelo uso de entorpecentes. Porém, muitos professores se furtam ao debate com os alunos, preferindo proibir sem educar a demonstrar os riscos do uso dessas substâncias. Diante desses argumentos, torna-se imprescindível a ampliação dos debates sobre drogas, por meio do uso de uma linguagem lúdica e inteligente, como proposto por Maurício de Sousa. Assim, a exposição criativa do problema é uma função pedagógica da qual os docentes não podem se furtar. LUTAS PELA EDUCAÇÃO Fonte: Acervo do autor2 2 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Acesso em 20 out. 2020. Democratização da educação 16 Alessandro Almeida Paulo Freire acredita que a “pedagogia crítica” se sustenta na construção de possibilidades de conhecimento e não na sua transmissão estéril e sem crítica. Apesar de reconhecido internacional- mente, suas ideias, no Brasil, põem em risco líderes políticos e classes econômicas abastadas. Sob esse prisma, no dia 15 de maio de 2019, professores e estudantes, em todo o país, manifestam-se contra o corte de verbas na educação que pode sucatear as universidades, as escolas públicas e os rumos do ensino no país. Em uma reação democrática, novamente, a população brasileira demonstra estar firme na construção de uma democracia pautada pela corrupção e pelo desrespeito aos direitos básicos garantidos pela Constituição nacional. HOMEM DE FERRO Fonte: Entretenimento UOL3 3 Disponível em <https://entretenimento.uol.com.br/noticias/ redacao/2019/05/02/cena-decisiva-de-homem-de-ferro-em-vingado- res-ultimato-nao-estava-em-roteiro.htm>Acesso em 20 out. 2020. 17 Os avanços da vida material e do capitalismo tornam o homem refém da tecnologia. Na Era do Ouro, início da Guerra Fria (1945-91), o conforto e os benefícios da ciência contrastavam com mal-estar, venda de armas e terrorismo, conforme elucida Eric Hobsbawm. Essa foi a inspiração para Stan Lee criar o “Homem de ferro”, em 1963. Industrial, milionário e engenheiro, o personagem da Marvel é desafiado pelas disfunções sociais dos anos 1960. O “herói” dos quadrinhos tem seu sucesso fundamentado nos terrores do século XX e problemas sociais não resolvidos na atualidade. A compreensão dessas tensões é indispensável para a criação de uma educação crítica e lúdica fundamentada na inteligência, na ética e no respeito às contradições humanas presentes na ficção do mestre Stan Lee. O PORTE DE ARMAS NO BRASIL Fonte: Superinteressante 4 4 Disponível em <https://super.abril.com.br/sociedade/e-se-o-por- te-de-armas-fosse-liberado-no-brasil/> Acesso em 20 out. 2020 Democratização da educação 18 Alessandro Almeida A violência e o medo são marcas do agravamento da crise que marca o Brasil hodierno. Esse mal- estar social e a incapacidade de combate ao crime impulsionam o país para a radicalização e o apoio ao porte de armas. Concomitantemente a esse cenário, a redução nos investimentos educacionais aponta para um cenário caótico, pautado pela ignorância e pelo aumento da brutalidade. Na contramão desse cenário, Norberto Bobbio assevera que o respeito “às regras do jogo”, invariavelmente, depende da educação e do combate ao crime organizado. Destaca ainda que a violência e o armamento civil não garantem segurança, pois estimulam o fortalecimento do crime organizado, os lucros das empresas de armas e a camuflagem das ingerências políticas. Sob essa ótica, o futuro da democracia no país depende da educação, setor essencial na prevenção da violência e no controle da maldade humana. 19 EDUCAÇÃO, VIOLÊNCIA E BRASILIDADE Fonte: Nova Escola5 Em “Conto de Escola”, publicado no final dos oitocentos, Machado de Assis critica o modelo educacional violento e autoritário, simbolizado pela palmatória. O enredo versa sobre a história de um discente narrador que é estimulado à corrupção por seu colega, filho do professor “Policarpo”. Denunciado por um outro aluno da escola e molestado pelo educador, o narrador aprende uma grande lição, a percepção de que a delação, a violência e a simulação são marcas de um país caracterizado pela hipocrisia. Sob essa inspiração, Lima Barreto, em “Triste fim de Policarpo Quaresma”, também nos mostra uma personagem de ficção caracterizada por uma postura 5 Disponível em <https://novaescola.org.br/conteudo/3171/conto- de-escola>. Acesso em 20 out. 2020. Democratização da educação 20 Alessandro Almeida pedagógica tradicional e nacionalista, frustrada pela corrupção e pela grave crise vivida no “Brasil real” na transição do império para a república. Dessa forma, as obras ficcionais supracitadas nos apresentam raízes da brasilidade que estão engendradas em nosso cotidiano. Nesse sentido, a crítica ao “Brasil oficial”, fundamentado em uma hipocrisia nacionalista, foi uma missão bem cumprida pela literatura e deve nos servir de exemplo para, realmente, combatermos enganação e truculência em nossa “pátria amada Brasil”. DESAFIOS DO ATRASO TECNOLÓGICO NO BRASIL Fonte: Blog Brazilian Space6 Vivemos um mundo global marcado pela cultura de convergência, caracterizada pela inteligência 6 Disponível em <https://brazilianspace.blogspot.com/2014/06/ charge-do-dia.html> . Acesso em 20 out. 2020. 21 coletiva, pela cultura participativa e pela associação entre os meios de comunicação, conforme destaca Henry Jenkins. Nesse cenário, no Brasil, a dependência histórica do capital estrangeiro e uma educação técnica e científica fragilizada são entraves para o desenvolvimento econômico nacional. Diante desses impasses, Milton Santos propõe o investimento em projetos tecnológicos que estejam articulados à sustentabilidade, ao uso de tecnologias de comunicação e à participação solidária da população, corroborando as ideias de Jenkins, supracitadas. Logo, o investimento em pesquisas e a educação digital devem instrumentalizar a formação de jovens melhor preparados para desenvolver o país no mundo da era digital. EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA CRIANÇAS Fonte: Revista Exame7 7 Disponível em <https://exame.com/seu-dinheiro/turma-da-moni- ca-lanca-serie-de-gibis-sobre-educacao-financeira/> Acesso em 20 out. 2020. Democratização da educação 22 Alessandro Almeida Conhecimento, segurança e bem-estar são questões fundamentais para o futuro das crianças e do Brasil. Diante dessa premissa, em tempos de consumo desenfreado e exposição dos infantes às propagandas midiáticas, a educação financeira se torna infalível para a garantia de uma vida segura, estável e sustentável. Com essa ótica, Milton Santos enfatiza a necessidade de construção de uma consciência universal pautada pela solidariedade, pela humanização e pelo bom uso das tecnologias e da distribuição de capital. Para a realização dessa tarefa, os meios de comunicação de massa, como as histórias em quadrinhos e os desenhos animados, são mecanismos indispensáveis para a proposição pedagógica do bom uso do dinheiro pessoal. Com essa finalidade, Maurício de Souza, criador da “Turma da Mônica”, em consonância com o Poder Público, propõe a criação de histórias ficcionais lúdicas que ensinem as crianças a lidar com suas finanças. Destarte, esse exemplo, articulado à economia solidária proposta pelo geógrafo brasileiro, deve servir de inspiração pedagógica para os docentes das escolas infantis que têm responsabilidade ímpar na construção do bem-estar e da segurança daqueles que representam o futuro do Brasil. 23 EDUCAÇÃO BRASILEIRA INSERIDA NA EDUCAÇÃO DE TODO MUNDO Fonte: Página do INEP no Facebook8 Desde a globalização dos séculos XV e XVI, a “Terra de Santa Cruz” despertou o interesse de inúmeros intelectuais que, em detrimento dos intentos mercantis, realizaram pesquisas importantes sobre a cultura indígena e as características naturais do Brasil. Nessa perspectiva, na atualidade, a educação brasileira deve ser pautada em aspectos da globalização que facilitema relação ensino- aprendizagem de jovens brasileiros com estrangeiros. Para tanto, o investimento em pesquisas científicas 8 Disponível em <https://www.facebook.com/Inep.oficial/photos/ a.1249716311786574/2451594768265383/?type=3> Acesso em 20 out. 2020. Democratização da educação 24 Alessandro Almeida no exterior e o bom uso dos imigrantes presentes no país são ações relevantes para que a educação brasileira esteja articulada ao mundo globalizado. Dessa forma, a premissa de inteligência coletiva e cultura participativa de Pierre Lévy pode ser realizada, notadamente, por meio do uso de tecnologias digitais que possam baratear o intercâmbio de ideias e o desenvolvimento do país. Tais ações articuladas farão com que a brasilidade seja exportada e os intelectuais sejam projetados da “Terra de Vera Cruz” para a formação de um mundo novo, mais humano e sustentável. DIA DAS CRIANÇAS Fonte: Imagens Google O estímulo à ciência é uma missão vital para o futuro do Brasil. Nesse sentido, o “eu quero saber” ideia 25 central proposta pela animação “O show da Luna” aponta um caminho interessante, pois propõe o método científico, associado ao cotidiano, como um elemento primordial para a educação das crianças e para a resolução de problemas cotidianos. Apresentado pelo “Discovery Kids” e canais abertos, o desenho estimula a inteligência coletiva nas redes sociais, conforme destaca Pierre Lévy, isto porque, por meio da difusão em massa, fomenta a indagação como elemento propulsor para a melhoria das relações sociais. Essa constatação corrobora a necessidade de criações audiovisuais que contribuam para a dúvida e a busca de conhecimento científico, questões importantes para a melhoria da vida e o desenvolvi- mento do Brasil no futuro. ALFABETIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE Fonte: Pinterest 9 A experiência cotidiana é a base para a construção do conhecimento humano, afirmou John Locke. Sob 9 Disponível em <https://br.pinterest.com/pin/ 466404105134417792/> Acesso em 20 out. 2020. Democratização da educação 26 Alessandro Almeida esse prisma, a educação é a base para a construção da identidade individual e nacional, pois “um país se faz com homens e livros”, conforme máxima assinada por Monteiro Lobato. Essas constatações apontam para a leitura como base da construção identitária, essencial para o futuro do país. Nesse sentido, o processo educacional informal tem nos meios de comunicação digital e Histórias em Quadrinhos formas de comunicação de massa importantes para a reflexão e sugestão de temáticas caras ao bem-estar social. Exemplo disso, são os quadrinhos de Mauricio de Sousa, difundidos de forma impressa e digital, que versam sobre o combate ao uso de drogas nas escolas; educação financeira; preconceito linguístico e diversos temas relevantes para a harmonia das relações humanas. Tal ação, também realizada por Monteiro Lobato, autor dedicado à literatura infantil, é necessária para a formação de crianças críticas e inteligentes no futuro próximo, pois interpretar bem as aventuras do “Sítio do pica-pau amarelo” e da “Turma da Mônica” são práticas lúdicas de alfabetização que fortalecem o sentimento de brasilidade. 27 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL Fonte: Acervo do autor A priori, nota-se que o uso das tecnologias digitais é imperioso para a democratização da educação e a transformação social. Nessa concepção, Jürgen Habermas enfatiza que a racionalidade técnica, representada pelos recursos presentes na internet, deve ser utilizada para a ampliação do conhecimento e a expansão dos saberes, aspecto decisivo para a ação política e a melhoria da relação entre os homens. Sob essa premissa, no século XXI, professores do Brasil e do mundo utilizam o Instagram e o YouTube para disponibilizarem gratuitamente palestras e documentários para jovens de diversas partes do mundo. Zygmund Bauman, por exemplo, em “Fronteiras do Pensamento”, nos deixou um documentário peculiar que esclarece os perigos do uso indevido das redes Democratização da educação 28 Alessandro Almeida sociais para a vida humana. Dessa forma, as ferramentas provenientes da modernização comunicacional são meios determinantes para a ampliação democrática do acesso à informação que, se bem utilizadas, podem transformar a vida de milhares de estudantes que buscam o acesso ao conhecimento científico. RACIONAIS MC’s Fonte: Acervo do autor “Se bater no cadeado, girar e a porta abrir, você vive. Se não, vou te executar”. Essa foi a ameaça sofrida por Sidney Sales, no dia 02 de outubro de 1992, na “Chacina da Candelária” que vitimou 111 detentos. O episódio violento ilustra a desigualdade social e a violência de um sistema penitenciário frágil, fruto de políticas públicas que não privilegiam 29 a educação e o combate à pobreza, conforme alertou, em 1982, Darcy Ribeiro. Ele afirma que, se “os governantes não investirem em escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Esse é o contexto da criação do clipe “Diário de um detento”, lançado em 1998, do disco “Sobrevivendo no Inferno” em que, de forma pedagógica, a produção audiovisual destaca o ambiente hostil e brutal do cotidiano do Carandiru onde os “cidadãos” vivem sob “o olhar sanguinário do vigia”. O exemplo artístico e real evidencia, indiscutivelmente, a necessidade de ampliação de investimentos educacionais e de combate à fome nas periferias, aspectos indispensáveis para o bem-estar social, conforme ressaltou Mano Brawn, Darcy Ribeiro e aqueles que acreditam no poder transformador da educação. Democratização da educação 30 Alessandro Almeida DIREITO À APRENDIZAGEM Fonte: Página do Facebook da UNICEF10 “Um país se faz com homens e livros”. A assertiva de Monteiro Lobato já aponta o hábito da leitura como essencial para o desenvolvimento do país, evidenciando que apenas a presença na escola não garante a aprendizagem. Nesse entendimento, ler passa a ser a questão central, bastante agredida pelo uso excessivo de tecnologias digitais e pela pobreza, os quais afastam crianças e jovens do contato direto com livros. No que tange à internet, além do acesso limitado, infantes urbanos ocupam muito tempo distraídos com entretenimentos 10 Disponível em <https://www.facebook.com/UNICEFBrasil/posts/ 3248695595186884/> Acesso em 20 out. 2020. 31 difundidos nas redes sociais, em detrimento de ler um livro, mesmo que pela via digital. Acerca da falta de recursos financeiros, inúmeros infantes frequentam o ambiente das escolas públicas preocupados com o acesso à merenda e não à biblioteca, situação que inviabiliza a busca pelo conhecimento. Com essas vulnerabilidades, professores e pais, por vezes, não conseguem garantir a democratização do saber, aspecto que põe em risco o futuro do Brasil. Democratização da educação 32 Alessandro Almeida Valorização da dignidade humana 33 “BRASIL EM CHAMAS”: TRAGÉDIA DA BOATE KISS E DO NINHO DO URUBU Fonte: Acervo do autor11 Victor Turner enfatiza que o drama é o momento em que as normas sociais entram em crise e devem ser pensadas de forma reflexiva. No Brasil, os incêndios da Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, e do “ninho do Urubu”, no centro de treinamento do Flamengo, ilustram o desrespeito às normas de segurança e a negligência de empresas e de chefes de Estado com a vida humana. Atuando sem infraestrutura adequada, a irresponsabilidade de grupos capitalistas ceifou sonhos e alegrias de 11 Disponível em < https://www.instagram.com/hg6alessandro>. Acesso em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 34 Alessandro Almeida inúmeros jovens. Entretanto, tais episódios representam a incompetência de órgãos públicos e a impunidade de investidores que colocam em risco o futuro de muitos jovens no país. O desrespeito às normas constitucionais marca as tragédias de nossa história recente, simbolizada por chamas que desestruturam a vida de muitas famílias desamparadas pela morte de seus filhos. VIOLÊNCIA EM SALA DE AULA Fonte: Folha BV12 A comunicação e o diálogo são bases para evitar a violência egarantir a condição humana, afirma Hannah Arendt. No Brasil, desestruturação familiar e educacional impede a ação comunicativa e estimula a brutalidade e a maldade. Exposto a esse 12 Disponível em < https://folhabv.com.br/noticia/CIDADES/Capi- tal/Violencia-em-sala-de-aula-tem-levado-professores-a-se-afasta- rem-do-trabalho/31718> Acesso em 20 out. 2020. 35 problema, o professor Paulo Rafael Procópio, de 62 anos, foi agredido por um aluno de 14 anos, na cidade de Lins em São Paulo. O caso evidencia desrespeito e falta de comunicação, marcas geradoras da violência nas escolas, notadamente contra profissionais da educação, expostos diariamente a atitudes intolerantes e desumanas que marcam os educandários em todo o país. FALTA DE SEGURANÇA NAS ESCOLAS Fonte: Site do SISMAC13 Alan Leschied argumenta que a “community violence” é um aspecto decisivo para a violência nas escolas. Por um lado, o comportamento de 13 Disponível <https://www.sismmac.org.br/noticias/2/informe-se/ 4339/violencia-nas-escolas-reproduz-a-desigualdade-e-violencia-da- sociedade> Acesso em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 36 Alessandro Almeida isolamento dos jovens pode torná-los antissociais; mas por outro, o relacionamento com pares violentos, principalmente quando esses são recompensados pelo seu comportamento, reforçam os valores “pró-violência”. No Brasil, os excessivos casos de bullying e uma postura pedagógica mercenária e pouco humana atenuam o problema da rivalidade entre discentes, docentes e instituições de ensino. Segundo o Ministério da Educação, a violência escolar é um assunto recorrente na mídia causado pela falta de estrutura e estimulada por rivalidades hostis nas redes sociais entre alunos, professores e escolas, notadamente, as particulares. Sob essa ótica o investimento no capital humano deve se sobrepor às ações que estimulem a violência e a rivalidade, mesmo diante de um cenário em que o investimento em educação não é a prioridade política. 37 VIOLÊNCIA NA ESCOLA Fonte: Acervo do autor14 O mal-estar social, o pouco investimento na educação e os estímulos violentos difundidos pelas mídias digitais marcam o Brasil no século XXI. A má formação educacional condiciona uma vulnerabilidade dos jovens a jogos e a produções audiovisuais que suscitam a violência nas escolas. Além disso, o desemprego, os resultados acadêmicos negativos e o bullying também são fatores que explicam ações terroristas nos educandários brasileiros, como nos assassinatos ocorridos na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Diante desse cenário, o investimento na educação pública deve ser prioridade no combate à 14 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 38 Alessandro Almeida violência nas escolas, conforme defendeu o professor Darcy Ribeiro ao longo de sua trajetória intelectual e política. O BRASIL EM CHAMAS: OS DESASTRES DA BOATE KISS E DO NINHO DO URUBU Fonte: O Globo15 À primeira vista, constata-se que, em função do lu- cro, empresários reduzem os investimentos em se- gurança e colocam a vida das pessoas em risco, con- forme ressalta Milton Santos. Nesse cenário, em 2013, o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, vitimou centenas de jovens, com 242 mortes. Desse modo, 90% (noventa por cento) deles chegaram ao óbito por causa da inalação de fumaça tóxica e falta de infraestrutura do estabele- 15 Disponível em <https://oglobo.globo.com/brasil/mais-dois-acusa- dos-pela-tragedia-na-boate-kiss-vao-juri-popular-em-porto-alegre-1- 24253644 >. Acesso em 20 out. 2020. 39 cimento. A tragédia aponta para a necessidade de melhoria de fiscalização dos órgãos públicos e a exi- gência de aparelhagem de aspersão nas empresas privadas com vistas a atenuar casos tristes como o ocorrido na discoteca. COMO LIDAR COM O PROBLEMA DOS REFUGIADOS NO BRASIL Fonte: Jornal Relações Internacionais16 Zygmund Bauman alertou: “os refugiados simbolizam, personificam nossos medos”. A perda do emprego, a fome, o desabrigo e a insegurança são receios que marcam a vida dos seres humanos ao longo da história. Ao nos depararmos com os refugiados, temos nossa sensibilidade humana posta à prova. Diante desse impasse, colocado para os brasileiros com a migração forçada dos refugiados 16 Disponível em <http://jornalri.com.br/artigos/os-refugiados- venezuelanos-no-brasil-uma-questao-humanitaria> Acesso em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 40 Alessandro Almeida da Venezuela para o país, torna-se necessário o acolhimento e o estímulo à dignidade humana, conforme orientação da Organização das Nações Unidas. Dessa forma, ações conjuntas de comunidades locais, órgãos públicos e internacionais devem postular o retorno à humanização e à solidariedade, por ações de combate à fome e estímulo ao trabalho, aspectos que podem, a longo prazo, atenuar o problema. VIOLÊNCIA E CRIMINALIZAÇÃO DOS POBRES NO BRASIL Fonte: RioOnWatch17 Loïc Wacquant destaca que a discriminação étnico- racial, a desigualdade social e a pobreza marcam a marginalização de grupos sociais economicamente desfavorecidos. Nesse sentido, nos Estados Unidos, negros e miseráveis são punidos como bandidos, 17 Disponível em <https://rioonwatch.org.br/?p=21553> Acesso em 20 out. 2020. 41 muitas vezes, de forma injusta ou equivocada. No Brasil, a morte do músico Evaldo Santos Rosa, no Rio de Janeiro, após 80 disparos, aponta para uma reflexão sobre violência, marginalização e insegurança no país. O musicista, negro, brutalmente assassinado, foi confundido com um bandido. Para além do equívoco, a ação brutal, dificilmente explicável, apresenta um cenário triste, instável e incerto vivenciado no Brasil em 2019. Esse exemplo demonstra que o discurso de ódio, de extremismo ou de armamento não solucionará problemas históricos e estruturais da sociedade brasileira. LIMITES DO HUMOR NO BRASIL Fonte: Pinterest18 18 Disponível em <https://br.pinterest.com/mfa1607/mussum/> Acesso em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 42 Alessandro Almeida Vladmir Saflate, em “Cinismo e falência da crítica”, clarifica que “a falsa consciência esclarecida” consiste na atuação dos sujeitos que afirmam desvelar reflexivamente os pressupostos de suas ações alienadas. A partir dessa proteção, utilizam o humor para consolidar estereótipos de gênero, raça, região, religião ou nacionalidade, demonstrando-se cúmplice do que parece condenável. Prova disso pode ser percebida no personagem “Mussum” de “Os trapalhões”, programa apresentado na TV Excelsior, em 1969, ano em que o humorista integrou o quarteto de sucesso da televisão brasileira. Sua raça, condição de favelado e estímulo ao alcoolismo foram elementos de uma sátira que consolidava o preconceito e o incentivo à droga lícita, o álcool. Por meio de tal recurso risível, sua performance não incomodava a censura do regime de exceção da época. Ademais, com essa reflexão conformada, o riso presta um serviço negativo à nação, caracterizado pela manutenção do preconceito e pouca reflexão crítica sobre as desigualdades e pluralismo, marcas indiscutíveis da brasilidade. Confirma, ainda, uma “arrasadora aceitação do mundo”, conforme afirmou Theodor Adorno, o que estimula o desrespeito à dignidade humana e que só pode ser limitado pelo esclarecimento, pela educação e pela inteligência, tripé que evitará injustiças e melhorará a reflexão e a análise da risada dos brasileiros contemporâneos. 43 HUMILHAÇÃO NA INTERNET Fonte: Jornal Opção19 Após a morte da mãe, o futebolista Sidão sofreu com depressão e pensou em suicídio. No dia 12 de maio, dia das mães, o goleiro do Vasco da Gama, homenageou sua mãe, mas falhou na derrota de seu time para o Santos Futebol Clube. Assim, recebeu ironicamente o prêmio “Craque do Jogo” da Rede Globo de Televisão, baseado nas votações em redes sociais. Desse modo, a humilhação colocou em risco a dignidade humana. Além disso, esse fato evidenciou o que Umberto Eco chamou de “imbecisda internet”, indivíduos em que a maldade ficava apenas em um bar e não prejudicava a coletividade. O triste episódio, endossado pela emissora que transmitiu o jogo, demonstrou que o ódio está presente no Brasil e no ciberespaço. 19 Disponível em < https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/ imprensa/globo-pisa-na-bola-e-choro-do-goleiro-sidao-comove-ate- reporter-da-rede-185014/> Acesso em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 44 Alessandro Almeida Portanto, o jogo democrático, nesse caso, não teve nenhum craque. DESIGUALDADE E DESUMANIZAÇÃO Fonte: Acervo do autor20 “Logo se viu a escravidão e a miséria germinarem junto com as colheitas”. A máxima de Rousseau, filósofo do século XVIII, aponta para o trabalho e a propriedade como bases para a desigualdade entre os homens. Essa premissa foi consolidada no século XIX, acrescida do racismo e das justificativas imperialistas que corroboram os extremismos fortalecidos no século XX. Sob essas bases históricas, a corrupção e a desumanização das relações sociais são percebidas na atualidade com a ascensão do ódio e da intolerância, aspectos que sempre favoreceram os abusos e a ampliação das 20 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 45 desigualdades entre os homens. As colheitas aumentam, mas poucos têm acesso ao capital, resta-lhes serem explorados e desrespeitados. Portanto, a dignidade humana é superada pela busca de capital. A PERSISTÊNCIA DO ASSÉDIO SEXUAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA Fonte: Site Pesquisa Escolar21 John B. Thompson, em “O escândalo político”, argumenta que, na era da mídia, lideranças políticas brasileiras ameaçam suas respectivas imagens políticas. Em 1994, Itamar Franco foi ameaçado de impeachment por flertar com uma modelo no carnaval, conforme destacou José Murilo de Carvalho, na obra “Pontos e Bordados”. Esse fato demonstra que o assédio e a malandragem sexual, 21 Disponível em < https://pesquisaescolar.site/homofobia/>. Aces- so em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 46 Alessandro Almeida ao serem expostos, podem fragilizar a imagem do infrator, colocando-o sob o júri popular, fato que estimula a necessidade de denúncias dos assédios sexuais nas redes sociais e nos demais veículos de imprensa. COMBATE AO CRIME NO BRASIL Fonte: Fotograma retirado do filme Ônibus 147, 2002. Acervo do autor Sandro Barbosa do Nascimento tornou-se um dos criminosos mais famosos do Brasil, após sequestrar o “ônibus 174”, no Rio de Janeiro. Vítima da “Chacina da Candelária, no ano 2000”, sobreviveu ao genocídio e se tornou um bandido perigoso e midiático após ser protagonista do crime e da violência urbana supracitada. O episódio, nesse contexto, aponta para dois problemas: em primeiro lugar, para a “guerra de todos contra todos”, defendida por Thomas Hobbes, em que violência gerou maior brutalidade; em 47 segundo plano, a projeção midiática do sequestrador fez com que a busca por audiência colocasse o bandido como protagonista, ato real que pode inspirar ações similares de crianças e de jovens telespectadores da maldade humana. Sob essa ótica, as políticas de combate ao crime devem privar pelo combate aos elementos de vulnerabilidade ao crime como a pobreza e a falta de educação. Além disso, o enriquecimento de empresários de mídia, com a difusão da violência, deve ser coibido para não expor infantes a atitudes tão brutais. Dessa forma, bandidos não se tornarão heróis e serão punidos para a garantia da harmonia social. CORRUPÇÃO (LÚCIFER) Fonte: Blog Adoro Cinema22 “Vocês humanos gostam de dinheiro”. A constatação é proposta por Lúcifer Morningstar, personagem de 22 Disponível em < http://www.adorocinema.com/noticias/series/ noticia-140884/> Acesso em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 48 Alessandro Almeida ficção, que representa a volta do demônio para a terra, cidade de Los Angeles, Estados Unidos. No primeiro episódio da série “Lúcifer”, a busca incessante pelo dinheiro norteia as fragilidades da condição humana, marcada pela vulnerabilidade à corrupção e à luxúria. Com perspectiva similar apresentada na ficção, Rousseau, filósofo do século XVIII, destaca que a desigualdade social e moral entre os homens está associada à busca pela propriedade individual. Desse modo, o sucesso da série “Lúcifer”, no Brasil, aponta para duas possibilidades: a primeira associa-se à identificação dos brasileiros com o personagem provocador de ações corruptas imorais e sem ética; a segunda, vincula-se à proposição reflexiva da série à condição humana, aspecto caro à revisão das ações ilícitas que marcam a história do país. Diante dessas possibilidades, o seriado, ao refletir sobre a fragilidade humana diante das tentações capitalistas, possibilita uma autoavaliação dos atos cotidianos, corrupção velada na realidade nacional que é colocada em evidência na produção audiovisual. Logo, as simulações e enganações devem ser combatidas em nosso cotidiano e não apenas direcionadas a representantes estadistas. O patrimonialismo não pode continuar persistindo nas ações reais dos brasileiros, pois o “diabo” não pode ser o culpado por esses delitos. 49 FILME CORINGA Fonte: Acervo do autor23 Nos anos 1980, a hegemonia do capital financeiro e as políticas neoliberais do governo de Ronald Reagan (1981-1989) foram pautadas na redução dos gastos com a assistência social. As ações beligerantes e a redução de investimentos em ações sociais para pessoas carentes, como o “Medicaid”, programa de saúde social para pessoas pobres sem planos de saúde, geram consequências desastrosas para os americanos. Essas práticas ampliaram a desigualdade social, a pobreza e a violência. Esse é o cenário do filme “Coringa” (2019), personagem 23 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 50 Alessandro Almeida excluído da insana cidade de “Gotham” que, diante da exclusão e das frustrações, torna-se um criminoso louco que ameaça a segurança pública e a vida das pessoas. Ironicamente, no Brasil hodierno, a intolerância, o ódio e a ampliação da crise econômica e social colocam os brasileiros em uma condição perturbadora que também é caracteriza pela ampliação da violência e do aumento de casos de indivíduos com problemas graves de saúde mental. Talvez essa seja a tônica do sucesso da película lançada em 2019, fato que soa como um alerta para os tormentos cotidianos presentes no país e em várias cidades “desenvolvidas” do mundo ocidental capitalista. CURSO DE MEDICINA Fonte: Site Fundação Astrojildo24 24 Disponível em < https://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/ 2016/11/23/a-escolha-da-medicina/> Acesso em 20 out. 2020. 51 Os desafios do homem diante dos segredos do corpo, da mente, da vida e da morte estimulam a escolha pela medicina, realizada por jovens pré- universitários. Sob essa inspiração, conforme o “Juramento de Hipócrates”, o profissional da saúde deve usar seus conhecimentos em prol do enfermo sem causar danos ou buscar fins lucrativos. Nesse sentido, a ética médica sugere que a opção por essa profissão necessita de ser vinculada à busca da valorização da vida e da cura de doenças que incomodam o ser humano. Assim, a busca pelo curso de medicina, apesar do atrativo brasileiro de melhor remuneração, precisa estar associada a salvar vidas e garantir o bem-estar da população, opondo-se à corrupção e ao uso indevido dessa área do conhecimento. Contrariar essa premissa fundamental pode fazer com os jovens, motivados pelo viés mercantil, sintam-se frustrados diante desse belo trabalho que no percurso da história desafia o conhecimento e a inteligência humana. Valorização da dignidade humana 52 Alessandro Almeida CRIANÇAS DESAPARECIDAS NO BRASIL Fonte: Site Conselho Federal de Medicina25 Emmanuel Kant assevera que o ser humano deve dar fim a si mesmo, e não deve ser subjugado a inclinações de outros, pressuposto central para garantir a dignidade humana. A partir dessa prerrogativa, no Brasil, a desigualdadesocial e o tráfico de pessoas deixam, principalmente, as crianças em uma condição de vulnerabilidade social que corrobora o seu desaparecimento. Essa mazela desumana é uma marca da globalização que contribui para que 50.000 crianças desapareçam por ano no Brasil, conforme dados do Instituto 25 Disponível em <https://portal.cfm.org.br/index.php?option= com_content&view=article&id=22768:medicos-reforcam-a-luta-para- encontrar-criancas-desaparecidas&catid=3>. Acesso em 20 out. 2020. 53 Brasileiro de Geografia e Estatística. Diante desse fato, o uso das tecnologias digitais e a articulação com as lideranças políticas de várias instâncias são parcerias indispensáveis para a garantia da dignidade humana e a redução desses dados alarmantes que afetam os responsáveis pelo futuro do país. HUCK E HOMER NA REDAÇÃO Fonte: Acervo do autor26 Turismo sexual Simone de Beauvoir, em “O segundo sexo”, questiona as definições preconceituosas vinculadas à mulher, comumente associando-a à sexualidade, 26 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 54 Alessandro Almeida à promiscuidade ou à fragilidade em relação ao masculino. Esse machismo, no Brasil, manifesta- se de várias maneiras, ora associado a estereótipos estrangeiros, ora a ações de homens brasileiros. No âmbito externo, em 2014, no episódio de “Os Simpsons”, intitulado “Você não precisa viver como um árbitro”, as mulheres brasileiras são representadas como afeitas ao sexo de forma pejorativa. Na mesma época, período da Copa do Mundo de Futebol de 2014, o apresentador Luciano Huck estimulou em suas redes sociais a busca por “um príncipe encantado” para realização de um concurso na televisão. Em ambos os casos, a construção do estereótipo sexual da brasileira fomenta o turismo sexual, a submissão feminina e a prostituição, mazelas presentes no país que devem ser contestadas. 55 A PEDOFILIA NO BRASIL Fonte: Acervo do autor27 Violência, sedução e manipulação de menores são bases para a prática de pedofilia no Brasil. Mesmo com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, os casos de abusos sexuais contra menores são uma prática cruel que persiste na sociedade. Coevo ao documento que garantia o respeito à dignidade humana e direitos específicos para os infantes, a expansão das mídias digitais ampliou as informações falsas e o descontrole das famílias, cada vez mais precoce, sobre crianças em processo de formação de identidade. Nesse contexto, ainda adquirindo conhecimento e experiência, conforme ressalta John Locke na 27 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 56 Alessandro Almeida “teoria da tábula rasa”, menores de até 16 anos estão frequentemente expostos a estratégias criminosas de aliciadores infantis. Essa exposição, inegavelmente, contribui para o aumento do número de casos no país e a efetivação das penalidades e coibições presentes na Construção de 1988 e na ECA, aspectos decisivos para a permanência do problema. TIK TOK E A VIOLAÇÃO DA PRIVACIDADE INFANTIL Fonte: Acervo do autor28 Segundo Phillipe Áries, a criança, no século XX, é alvo de empresas que as compreendem como mercado consumidor. Nesse contexto, indústrias de comunicação, como a chinesa “Tik Tok”, seduzem 28 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 57 os infantes com a possibilidade de criação de vídeos curtos de entretenimento. Considerando a pandemia de coronavírus e a maior acessibilidade de pessoas de menor idade às redes sociais, a exposição de dados coloca em risco a privacidade infantil, corroborando o consumismo. Dessa forma, a diversão digital é usada de forma perversa, fator que pode ocasionar uma dependência digital perigosa para o futuro daqueles que podem usar a tecnologia comunicacional para melhorar o mundo com ações criativas e humanitárias. Logo, proteger as crianças e moderar o uso de diversões do ciberespaço é uma tarefa estatal e familiar urgente no Brasil hodierno. PANTERA NEGRA Fonte: Pinterest29 Em “Pantera Negra” (2018), a Marvel Comics apresenta uma ficção que problematiza os conflitos 29 Disponível em < https://br.pinterest.com/pin/2985746503009 49391/> Acesso em 20 out. 2020 Valorização da dignidade humana 58 Alessandro Almeida étnicos e raciais e apresenta a tecnologia como um elemento de humanização e instrumento de construção da paz. Porém, na realidade, cada vez mais difícil com o aumento do número de mortes causados pela pandemia de Covid-19 e pelo câncer, os avanços científicos estão postos à prova e não conseguem impedir milhares de mortes pelo mundo. É nesse cenário que Chadwick Boseman, ator que representou “T’Chala”, rei da fictícia nação Africana de “Wakanda”, morreu aos 42 anos vítima de câncer de cólon, doença para a qual buscou a cura desde 2016 com todos os recursos físicos, médicos e científicos possíveis. O óbito ocorreu em 2020, período peculiar em que a violência contra negros e a fragilidade dos avanços técnicos e científicos são marcas da fragilidade humana. Logo, esses desencantos e tristezas sugerem a urgência da retomada de princípios solidários, afetivos e humanos que na produção cinematográfica, ou nos depoimentos dos amigos sobre a vida de Chadwick Boseman, são exemplos imortalizados pela trajetória desse ser humano na terra. 59 PRIVACIDADE INFANTIL E ABORTO Fonte: Acervo do autor30 Em tempos de globalização, empresas como YouTube capturam os dados de crianças de forma ilegal. No Brasil, além desse problema, influenciadores digitais também agem de forma condenável para legitimar ideologias ou opiniões que incitam o ódio e desrespeitam as leis. Foi dessa forma que a menina de 10 anos, estuprada pelo tio, teve sua família e pessoa expostas nas redes sociais após tentar realizar, legalmente, um procedimento de aborto. O caso gerou ataques ao médico responsável. Ele ressaltou que a retirada do feto, naquele caso, foi uma forma de garantir a vida da criança gestante e evitar sequelas físicas e psicológicas irreparáveis para o ser humano em risco. O episódio demonstrou, novamente, a falta de privacidade e sigilo quanto 30 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Valorização da dignidade humana 60 Alessandro Almeida aos dados das crianças e como isso é preponderante para a garantia do bem-estar psicológico de pessoas em fase de formação social, traumatizadas pelo interesse de empresas ou indivíduos cujos interesses econômicos e políticos estão acima dos ditames das leis e da ética jurídica. TABAGISMO E COVID Fonte: Acervo do autor31 Nos anos 1980 até 1994, a miìdia pró-tabaco foi predominante nas propagandas televisivas e impressas no Brasil. Empresas como Malboro, Camel e várias outras usavam a Fórmula 1, campeonato de automobilismo internacional, e figuras nacionais como Ayrton Senna da Silva, para naturalizar o uso social do cigarro no país. Apenas 31 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 61 no ano 2000, a Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia iniciou trabalhos que resultaram na “Lei Antifumo de 2011”, que restringe o uso de cigarros e propagandas em prol desse comércio. Com esse intuito, as ações recentes contra essa prática são imprescindíveis para evitar várias doenças como o câncer de pulmão e outras complicações. Esse cenário letal, em 2020, foi agravado pela Síndrome Respiratória Aguda Grave que marca a pandemia de Coronavírus no país, ampliando a vulnerabilidade dos fumantes à pandemia internacional que já vitimou mais de 120 mil pessoas no país. Diante dessa combinação fatal, torna-se fulcral a criação de propagandas contrárias ao tabagismo, notadamente, associadas à Covid-19, visando corrigir um erro histórico, estimulado por interesses mercantis, perversões marcantes nos anos 1980. Valorização da dignidade humana 62 Alessandro Almeida Igualdadesde direitos 63 DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES Fonte: Blog Nova Cultura32 Consideradas como parte das “classes perigosas”, inúmeras mulheres sofreram com discriminação, exploração, violência e desrespeito. Nesse contexto, em 1910, Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão, propôs a criação do “08 de março” em homenagem à conscientização da importância das mulheres nas relações sociais. Nesse sentido, para além do voto, dos direitos trabalhistas e da liberdade sexual, o reconhecimento da importância das lutas femininas é imprescindível para a melhoria das relações humanas. Assim, extremismos, maldade e brutalidade não devem ser a principal lembrança 32 Disponível em < https://www.novacultura.info/post/2018/06/ 21/clara-zetkin-e-sua-luta-pelos-direitos-das-mulheres> Acesso em 20 out. 2020 Igualdade de direitos 64 Alessandro Almeida no dia Internacional da Mulher, associado erroneamente a um incêndio ocorrido nos Estados Unidos em 1911. Distorcer a história, sem dúvida, não é o caminho para o diálogo e a valorização da condição humana. Segundo Hannah Arendt, a ação política, a comunicação e o diálogo são pressupostos melhores para a vida e o combate à violência. ÉTICA E CORRUPÇÃO NO BRASIL Fonte: Jornal O Imparcial33 Platão ao versar sobre ética afirmou que “a ideia de Bem” consiste na busca pela felicidade pautada no respeito ao bem comum. Paradoxalmente, no Brasil, a falta desse princípio é percebida nos escândalos de corrupção que marcam a nação. A 33 Disponível em < https://jornaloimparcial.com.br/charges/charge- temer-preso/> Acesso em 20 out. 2020. 65 prisão do ex-presidente Michel Temer, em 2019, envolvido na lavagem de dinheiro público, evidencia o caos político que assola o país. Nesse sentido, a falta de ética e a imoralidade política impedem a felicidade dos brasileiros. Além disso, contribui para um mal-estar político que marca a pedagogia do crime no país. DEMOCRACIA CULTURAL “A GENTE QUER COMIDA, DIVERSÃO E ARTE” Fonte: Acervo do autor34 A frase cantada por Arnaldo Antunes, na música “Comida”, difundida em 1987, ilustra a busca por liberdade e democracia por meio do respeito à arte. Imersos em um contexto de redemocratização e 34 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 66 Alessandro Almeida crise econômica, os músicos da banda de rock “Titãs” reivindicaram a valorização da democracia cultural e sua diversidade. A propagação da arte, nesse sentido, é colocada como um mecanismo de combate às desigualdades e à fome, aspectos que caracterizam os anos 1980 e a “década perdida” no Brasil. Corrobora essa tese a perspectiva de que a propagação de bens simbólicos é um mecanismo indispensável para atenuar os problemas sociais dos países latino-americanos, conforme atesta Nestor Garcia Canclini. Logo, a música e as demais manifestações artísticas são instrumentos indispensáveis para aliviar a fome e amadurecer os valores democráticos no país. COMBATE À HOMOFOBIA Fonte: Acervo do autor35 35 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 67 “Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-la?”. A frase do Papa Francisco aponta para uma perspectiva humana, desprovida de preconceitos contra a opção sexual de um cidadão universal. Porém, no Brasil, o patriarcalismo e a premissa familialista associada à procriação e à prática heterossexual é, muitas vezes, utilizada para justificar a violência contra casais homoafetivos. Nesse viés, Michael Warner esclarece que a heterossexualidade foi criada, historicamente, para determinar o anti-homossexual, confirmando para a criação de polos opostos que devem ser rompidos para a manutenção do respeito à dignidade humana. É com esse viés que a ONU propõe a criação do dia internacional de combate à homofobia, lembrado no 17 de maio, para que a alteridade prevaleça sobre a violência. A PERSISTÊNCIA DO ASSÉDIO SEXUAL NA CULTURA BRASILEIRA Fonte: SECOM UFG36 36 Disponível em < https://secom.ufg.br/n/106677-campanha-naoenao- tem-cartilha-contra-o-assedio-sexual> Acesso em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 68 Alessandro Almeida Machismo e patriarcalismo, esses conceitos marcam a persistência do assédio sexual no Brasil. Mesmo com a condenação jurídica e as campanhas contra essa brutalidade no carnaval em 2019, muitos homens insistem em não entender que “não é não!”. Sobre esse assunto, Simone de Beauvoir afirma que a inferiorização da “fêmea” e o orgulho de ser “macho” está enraizado em tradições cristãs ocidentais. Sob essa ótica, desde “as vergonhas à mostra” descritas na “Carta de Caminha”, em 1500, a inferiorização feminina, associada ao pecado original, corrobora para enraizar o preconceito e vitimar inúmeras mulheres que sofrem com o desrespeito e assédio moral. Em ambientes de trabalho, a injusta divisão de tarefas ainda se baseia na desigualdade de gênero tornando, por vezes, o ambiente propício para assédio moral pautados no machismo e patriarcalismo. Desse modo, O patrão “transar” com a serviçal é uma prática condenável desde os tempos da “Casa grande e Senzala”, conforme averiguou Gilberto Freyre. Assim, diante desse costume nacional, a exposição pública dos casos é indispensável, por meio do “Disk denúncia” e do uso das mídias digitais. 69 ZILDA ARNS Fonte: Acervo do autor37 Higiene, fome e desidratação são as principais causas de morte no mundo, atesta a Organização Mundial de Saúde. Sob esses pilares, a Zilda Arns procurou, por meio de ações humanitárias, criar mecanismos para melhorar a vida de crianças e idosos em regiões pobres do globo, como no caso do Haiti. A pediatra e sanitarista brasileira criou a Pastoral da Criança e do Idoso com o fito de preservar a vida, a partir do uso da multimistura, soro caseiro e princípios de limpeza que são necessários para erradicar a desnutrição, a desidratação e as doenças provenientes da higienização inadequada. Esse exemplo e conceito de humanismo são essenciais para atenuar as 37 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 70 Alessandro Almeida desigualdades e garantir o bem-estar de pessoas desfavorecidas pelas perversidades da globalização e do capitalismo. Portanto, tornar saudável esse processo foi sua missão de vida e não apenas uma ação da ONU. ARTE E URBANIZAÇÃO - Expressão ou depredação do patrimônio material? Fonte: Acervo do autor38 Michel Foucault, em “A microfísica do poder”, afirma que o lugar social do marginal é construído socialmente e instrumentalizado por órgãos de repressão e sistemas de vigilância para privilegiar 38 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 71 elites políticas e econômicas. Nesse viés, loucos, pobres e toxicômanos tiveram suas manifestações comunicativas reprimidas e discriminadas. No Brasil, por exemplo, grafiteiros foram presos e perseguidos pela polícia por depredarem instituições públicas, principalmente nos anos 1980. Grande parte desses agentes desordeiros são subprodutos de um processo de modernização excludente que amplia a criminalidade e torna o ambiente urbano no país violento e perigoso. Apesar dessa realidade, a arte de rua, no século XXI, é utilizada, muitas vezes, como um instrumento de inclusão social, pois, presidiários, pobres e deficientes mentais usam suas manifestações linguísticas como um mecanismo que alivia sofrimento, humaniza as cidades e expõe de forma crítica mazelas da lógica capitalista. Tais ações apontam para a necessidade de valorização das manifestações artísticas como uma forma inteligente e sustentável de estimular o capital humano, com vistas a atenuar os problemas vivenciados por citadinos do Brasil e do mundo. Igualdade de direitos 72 Alessandro Almeida CORRUPÇÃO, “DOM CASMURRO” E O FUTEBOL Fonte: Acervo do autor39 A simulação, as trocas de favores, a insegurança e a corrupção são características marcantes da obra “Dom Casmurro”, escrita por Machadode Assis no século XIX. Entristecido por uma República excludente e preconceituosa, o escritor brasileiro apresenta o caráter amargo da realidade mesquinha e dissimulada do cotidiano dos brasileiros. Essas premissas machadianas, no século XXI, nominaram dois esquemas de corrupção que envolvem o Cruzeiro Esporte Clube, time mineiro, nos escândalos “Operação Capitu” e “Operação Escobar”. Em ambos os casos investigados pela polícia, interesses mercantis, corrupção ativa 39 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 73 e passiva, além de troca de favores envolvem dirigentes do time mineiro, como o ex-presidente Itair Machado, em um cenário aterrorizante que entristece brasileiros e inúmeros torcedores futebolistas mineiros. Logo, diferentemente do que ocorre na ficção dos oitocentos, a torcida é para que os envolvidos sejam punidos, não restando dúvida de que o futebol nacional está corroído por advogados e políticos criminosos que atrapalham o desenvolvimento do país. REFORMA DA PREVIDÊNCIA Fonte: Acervo do autor40 Os movimentos estudantis dos anos 1960 e a crise da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) já apontavam o desmantelamento do Estado 40 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 74 Alessandro Almeida de bem-estar social. Sob essa ótica, o Banco Mundial sugeriu aos países da América Latina a instalação do projeto “Envelhecer sem crise”, perspectiva que apontava para a reformulação da previdência. Na contramão do cenário de crise internacional, os debates da constituinte, influenciados pela redemocratização, organizaram a regulamentação da previdência fundamentados na premissa de assistência social que, em curto prazo, resultaria em uma crise financeira inevitável. Soma-se a isso, o discurso da herança de ampliação da desigualdade social proveniente da “década perdida”, caracterizada pela crise econômica dos governos militares. Nesse contexto, a necessidade de Reforma da Previdência, na atualidade, é um fato, porém seus parâmetros não devem privilegiar elites políticas e militares que foram responsáveis diretas pela ingestão política nacional, fundamentada na troca de favores, corrupção e responsabilização dos trabalhadores como os culpados pelo cenário caótico vivenciado pelos brasileiros. Logo, garantir a cidadania consiste em estimular o labor, a dignidade humana e o respeito, aspectos que permitem a todos, realmente, envelhecer sem crise. 75 DEMOCRATIZAÇÃO DO CINEMA NO BRASIL Fonte: Acervo do autor41 O cinema foi um dos meios de comunicação de massa que serviu a interesses mercantis e estadistas que corroboraram a ascensão do ódio e da distinção social nos tempos da Segunda Grande Guerra (1939-1945). Porém, a sétima arte foi utilizada por Charles Chaplin para fomentar a inteligência, o respeito às diferenças e a reflexão sobre as mazelas sociais. Diante desta potencialidade, facilitar o acesso ao cinema, no Brasil hodierno, torna-se uma questão relevante para a valorização da cultura nacional e o estímulo à inteligência. 41 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 76 Alessandro Almeida DEMOCRATIZAÇÃO DO CINEMA NO BRASIL Fonte: Entretenimento Uol42 É importante pontuar, de início, que a elitização do acesso a salas de cinemas no Brasil contrasta com as críticas de Charles Chaplin, no início do século XX. O artista britânico, ícone do cinema mudo, questionou o autoritarismo e usou a arte audiovisual contra o imperialismo em favor da democracia. De maneira similar, no Brasil, Ariano Suassuna, literato brasileiro, entendia o cinema como um lugar fundamental para a valorização da cultura nordestina e o estímulo à inteligência e à reflexão difundida no cinema. Sob essa ótica, a cidadania depende do direito ao acesso às salas cinematografas que não devem estar restritas às cidades brasileiras de melhor poder aquisitivo, visto que artistas, temáticas e atores são oriundos de regiões economicamente desfavorecidas. 42 Disponível em < https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/ 2019/10/25/bacuringa-diretor-de-bacurau-mostra-personagem-do-fil- me-com-maquiagem-do-coringa.htm> Acesso em 20 out. 2020. 77 DJONGA NA REDAÇÃO ENEM Fonte: Acervo do autor43 “Com a corda no pescoço” é a figura de linguagem utilizada no clipe “Junho de 94” para afirmar o racismo, a desigualdade e o preconceito presentes, historicamente, no cotidiano das famílias brasileiras. Sob essa inspiração, o rapper Djonga, na letra da música citada, apresenta as angústias de um negro quando consegue mobilidade social defendendo sua identidade cultural. Em um estilo “banzo”, caracterizado por saudades de seu passado simples, a melancolia do musicista reitera as dificuldades de felicidade de um afrodescendente no país. Esse problema foi ressaltado, também, na trajetória 43 Disponível <https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/ 2019/10/25/bacuringa-diretor-de-bacurau-mostra-personagem-do- filme-com-maquiagem-do-coringa.htm> Acesso em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 78 Alessandro Almeida intelectual de Gilberto Freyre, pois o sociólogo evidencia a persistência da discriminação racial no cotidiano dos lares brasileiros, mesmo após o fim da escravidão em 1888, no livro “Ordem e progresso”. Diante desses incômodos, a valorização e o respeito às diferenças, indiscutivelmente, são práticas que podem evitar a violência, o suicídio, a segregação e o sofrimento com a pobreza, aspectos que marcam o Brasil, mas que inquietam de maneira triste e peculiar os afro-brasileiros que não querem apenas dinheiro, desejam respeito às suas bases socioculturais. CORTE REAL X JUSTIÇA POR MIGUEL Fonte: Site Sindicato dos bancários de Pernambuco44 44 Disponível em <https://bancariosdf.com.br/portal/nota-publica- do-sindicato-dos-bancarios-de-pernambuco-justica-por-miguel/> Acesso em 20 out. 2020 79 É indispensável salientar que, embora as distinções sociais, econômicas e raciais, sejam marcas do país desde os tempos de escravidão, ainda explicam o descaso e a vulnerabilidade ao óbito de crianças negras. Em Pernambuco, por exemplo, Miguel Otávio Santana, de 5 anos, caiu do nono andar de um prédio, após sua mãe, empregada doméstica, ir passear com o cachorro, deixando-o aos cuidados da empregadora Sari Corte Real, primeira dama da cidade de Tamandaré. Após a tragédia, Sari foi condenada por homicídio culposo, pagou fiança de 20 mil reais e responde em liberdade. Esses fatos, além de relembrarem a relação de “Casa Grande e Senzala”, ressaltada por Gilberto Freyre, demonstrando as distinções socioeconômicas e racistas como uma lógica da sociedade brasileira, demonstram, ainda, a fragilidade das punições contra essas infrações. Logo, torna-se imprescindível que a justiça seja mais eficaz no trato com questões que versem sobre crianças e adolescentes no Brasil, independentemente de questões financeiras ou raciais. Igualdade de direitos 80 Alessandro Almeida MARX E AS MENINAS Fonte: Acervo do autor45 Em 1999, em plena crise do Plano Real (1994), a desigualdade social e a perda de direitos sociais dificultavam o acesso à educação e a uma vida digna. Nesse cenário, o grupo de sucesso relâmpago, “As meninas”, lançou o sucesso de carnaval “Xibom Bombom”, cuja letra destacava que “o de cima sobe e o de baixo desse”. Dessa forma, sob uma lógica marxista de divisão de classes pobres e ricas, o hit foi cantado e ouvido por milhares de brasileiros que dançavam em um ambiente caótico. Essa questão sugere dois aspectos, o uso da música como instrumento de crítica social e a carnavalização como uma forma de escape dos problemas sociais. 45 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 81 Ambos os casos apontam a música e a dança como instrumentos fundamentais para atenuar o sofrimento brasileiro da disparidade econômica, aspecto marcado pelo privilégio hereditário e patrimonial desde ostempos coloniais. SHOW DRIVE-IN: ENTRETENIMENTO OU EXCLUSÃO? Fonte: Acervo do autor46 “Quem tem carro no Brasil?”, diz Pablo Vittar sobre os shows “Drive-in” nos tempos de coronavírus. Segundo a cantora, esse tipo de evento exclui pessoas pobres e não chama a atenção para o índice de mortes, mais de 100 mil, devido à pandemia internacional. Esse posicionamento aponta para 46 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Igualdade de direitos 82 Alessandro Almeida uma perversidade da globalização que fere o direito humano da igualdade de direitos, visto que apenas uma parcela da população brasileira pode ter acesso a esses shows, apresentações de cinema e vendas de fast-food. Sobre esse assunto, nos anos 1990, Milton Santos alertava que essas fábulas construídas por aparatos tecnológicos e pelo fundamentalismo de mercado não escondem a disparidade social que assola o Brasil e o mundo globalizado. Além disso, em inúmeras regiões, apesar da “segurança” proposta por esses eventos, crimes e aglomerações dos excluídos sociais no entorno dos espetáculos aumentam o risco de propagação da Covid-19. Posto isso, é importante que se construa alternativas de entretenimento seguro que também incluam grupos inferiorizados economicamente. Assim, a democratização da cultura e do lazer será realizada em um país onde muitos, de fato, não possuem automóveis, alimentos e, por vezes, segurança sanitária, extremamente necessária nesses tempos sombrios. 83 AS CRIANÇAS INDÍGENAS E A COVID Fonte: Portal G147 A pobreza e o descaso com as comunidades indígenas são marcas indeléveis da história nacional desde os tempos coloniais. Na visão de Darcy Ribeiro, esse é um dos maiores problemas estruturais e identitários do país, formado por “brasilíndios” que não reconhecem seu próprio passado e tradição cultural. Nesse cenário, no século XXI, apesar dos avanços na diminuição da pobreza e mortalidade infantil nas últimas décadas no setor urbano, o índice de aldeamentos que continuam vivenciando uma condição sanitária e de saúde deficitária é alarmante. Soma-se a isso a expansão da Covid-19 na Amazônia que, segundo a Articulação dos Povos 47 Disponível em <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/ 08/12/criancas-indigenas-sao-internadas-com-covid-19-no-am-e-al- deia-coloca-outras-15-em-observacao.ghtml>. Acesso em 20 out. 2020 Igualdade de direitos 84 Alessandro Almeida Indígenas do Brasil (Apib), o número de mortalidade de crianças e jovens indígenas até 19 é muito superior à média nacional e internacional, porém, a subnotificação e a assistência frágil do Estado tornam o problema cada vez mais grave. Nesse sentido, os problemas sanitários e a subnutrição ampliam a vulnerabilidade dos infantes, principalmente recém- nascidos, demonstrando a necessidade de ampliação de investimentos naquelas que compõem o pilar identitário do “Povo brasileiro”, conforme ressaltou o antropólogo brasileiro no século XX. ARLEQUINA E A EMANCIPAÇÃO FEMININA Fonte: Blog Cinematologia48 Simone de Beauvoir, na obra “O segundo sexo”, afirmou que pelo trabalho a mulher pode assegurar 48 Disponível em < https://cinematologia.com.br/cine/critica-aves- de-rapina-arlequina-e-sua-emancipacao-fantabulosa-birds-of-prey- and-the-fantabulous-emancipation-of-one-harley-quinn-2020/> Acesso em 20 out. 2020. 85 uma liberdade concreta. Sob essa ótica, o filme “Aves de Rapina: Alerquina e sua emancipação fantabulosa” é um marco, notadamente por ter sido o primeiro “Blockbuster” de 2019, dirigido por uma mulher, Cathy Yan. Além disso, a performance da atriz Margot Robbie que interpreta a psiquiatra “Alerquina” é marcante, pois mescla sensualidade, luta e emancipação das ações femininas em relação ao homem, neste caso, o namorado ficcional, o “Coringa”. Destaca-se ainda que transgressão, dissimulação e reação aos traumas vivenciados pela personagem, desde suas representações nos quadrinhos, produzidos pela “DC Comics”, também são estímulos para as atitudes de Alerquina e suas parceiras na trama ficcional. Nesse sentido, apesar do aspecto vilanesco da protagonista ficcional, o filme propõe ressaltar a força e a emancipação feminina em níveis reais que demonstram a importância da visão feminina sobre a sociedade e os preconceitos de herança patriarcal e machista. Assim, pela via da direção cinematográfica, atuação como atriz ou mesmo o exercício da psiquiatria, mulheres “girl power” são destaques na sociedade ocidental. Igualdade de direitos 86 Alessandro Almeida Laicidade do estado 87 FÉ X DINHEIRO Fonte: Acervo do autor49 Na transição do feudalismo para o capitalismo, os abusos cometidos pela Igreja Católica Apostólica Romana resultaram na Reforma Protestante XVI. A prática da Simonia, venda de favores, cargos e objetos sagrados gerou questionamentos que abalaram o catolicismo. De maneira similar, em 1992, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, foi preso por sonegação de impostos e corrupção na Igreja. Esses exemplos históricos demonstram que, em função do dinheiro, inúmeros fiéis cristãos são agredidos por crimes realizados por indivíduos de má-fé. 49 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. Laicidade do Estado 88 Alessandro Almeida STAN LEE – ETERNO Fonte: Acervo do autor50 A intolerância religiosa, a violência e a pobreza impulsionam a imigração. No século XIX e XX, muitos judeus tentaram uma vida melhor no Estados Unidos como: Hannah Arendt, Albert Einstein e o casal Jack e Célia Lieber, imigrantes da Romênia. Proveniente desta família, Stanley Lieber, viveu uma infância difícil no Bronx, periferia de Nova York, nos Estados Unidos. Conhecido como Stan Lee, o jovem judeu transformou seu transtornos e dificuldades da infância em personagens das Histórias em quadrinhos de sucesso como: Homem Aranha, Hulk e muitos outros. Por meio de uma linguagem simples, propôs reflexões sobre sensibilidades, preconceito, intolerância, desigualdade, ciência, capitalismo e inúmeras outras temáticas relevantes. O exemplo da biografia e sucesso de Stan Lee, falecido em 2018, 50 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 89 aos 95 anos, demonstra que a leitura, a inteligência e o respeito são pilares para o estímulo de práticas pedagógicas indispensáveis para o equilíbrio das ações humanas. CRIANÇA E ABORTO NO BRASIL Fonte: Jusbrasil51 Menina de 10 anos de idade, estuprada pelo marido da tia, acompanhada da avó, é obrigada a sair de Vitória, Espírito Santo para realizar um aborto em Hospital de Pernambuco. O caso foi exposto nas mídias digitais e despertou a fúria de radicais religiosos, os quais insultaram o médico que realizou o procedimento com gritos de “assassino”. Conforme os ditames dos direitos humanos e o próprio Estatuto 51 Disponível em <https://correcaofgts.jusbrasil.com.br/noticias/ 912653788/juiz-do-es-autoriza-aborto-em-crianca-de-dez-anos-viti- ma-de-estupro>. Acesso em 20 out. 2020 Laicidade do Estado 90 Alessandro Almeida da Criança e do Adolescente, o caso é legalizado, pois além da violência sexual sofrida, a criança grávida corria risco de vida, caso o procedimento médico não fosse realizado. Considerando a laicidade do estado, o apoio dos responsáveis diretos, as leis nacionais favoráveis à interrupção da gestação em caso de estupro e os traumas de uma gravidez indesejada e criminosa, o foco das ações deve ser na vítima, que é a criança cujo nome foi ilegalmente divulgado. Dessa forma, os julgamentos de grupos religiosos não devem condenar o profissional de medicina, mas sim contribuir para que o abusador seja encontrado e punido e para que a criança se recupere bem do procedimento realizado. CORRUPÇÃO E FÉ NO BRASIL Fonte: Acervo do autor52 52 Disponível em <https://www.instagram.com/hg6alessandro> Aces- so em 20 out. 2020. 91 Padres “não foram feitos para fortunas”. “Deus não quer uma igreja de show. O lugar do padre não é no palco.” As frases de Dom Silvio
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