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PERÍCIA E ARBITRAGEM CONTÁBIL AULA 6 Profª Tassiani Aparecida dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Olá! Vamos iniciar a nossa sexta aula da disciplina de Perícia e Arbitragem Contábil. O objetivo desta aula é discorrer sobre os aspectos relativos à arbitragem contábil. Como veremos adiante, a arbitragem é uma alternativa de resolução de conflitos fora da esfera judicial. Portanto, essa última aula do curso oferecerá subsídios para que os nossos alunos compreendam quais aspectos são importantes na arbitragem contábil e o papel do perito nesse ambiente de atuação. Iniciaremos nossa última aula abordando as noções gerais sobre perícia na esfera arbitral, indicando o que é a arbitragem e o papel do perito. O Tema 2 desse material versa sobre a arbitragem no Direito Empresarial e como solução de conflitos internacionais, assim, contextualizaremos historicamente a arbitragem e as vantagens da utilização dessa esfera. Em seguida, o Tema 3 trata dos princípios de arbitragem: da autonomia privada, da boa-fé, da autonomia da cláusula da convenção de arbitragem em relação ao contrato, da competência-competência, da força vinculante e obrigatoriedade da cláusula arbitral, do princípio da temporariedade e das garantias processuais. O Tema 4 explicita a problemática das atribuições usuais do órgão arbitral. E, por fim, o Tema 5 aborda os requisitos da sentença arbitral. Muito assunto, não? Então, mãos à obra! CONTEXTUALIZANDO A nossa última aula do curso de Perícia e Arbitragem Contábil versará sobre aspectos gerais da arbitragem contábil. Na prática de sua atividade profissional, o perito se vê cercado de possibilidades de atuação, a arbitragem é a esfera que permite ao profissional mediar um conflito, normalmente amigável, que ocorre fora da esfera judicial. As regras e diretrizes também existem, contudo, serão definidas pelo órgão arbitral ou pelo próprio perito. Assim, veremos que o ambiente na arbitragem, embora ainda normatizado, é mais flexível e ágil quando comparado à esfera judicial. Mas qual a diferença da esfera arbitral para a esfera judicial? As decisões da esfera arbitral têm validade jurídica? Se sim, quais são as normas e regras desse ambiente? E como o profissional perito-contador ou assistente técnico deve atuar? 3 Bem, essas e outras questões devem ser refletidas de antemão, contudo, a partir de agora, vamos explorar esses questionamentos. TEMA 1 – NOÇÕES GERAIS SOBRE PERÍCIA NA ESFERA ARBITRAL Estamos iniciando a nossa última aula do curso de Perícia e Arbitragem Contábil. Trataremos, nesse primeiro tema, das noções gerais sobre perícia na esfera arbitral, especificamente os conceitos e as definições, além do papel do perito nessa esfera. Mas, no final das contas, o que é arbitragem? A arbitragem é o procedimento extrajudicial de resolução de conflitos. Esse processo foi normatizado pela Lei n. 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e atualizado pela Lei n. 13.129, de 26 de maio de 2015, a qual ficou conhecida como Lei da Arbitragem. Segundo Campolina (2008, p. 26), a arbitragem é o meio eficaz, seguro, sigiloso e técnico de solução definitiva de litígios referentes a direitos patrimoniais disponíveis, no qual as partes elegem um árbitro, por meio de documento assinado, para proferir laudo arbitral. Dessa maneira, podemos definir a arbitragem como uma alternativa à esfera judicial para a resolução de conflitos por meio da intervenção de um terceiro (árbitro). Os poderes desse terceiro são de uma convenção privada, ou seja, assume a eficácia de uma sentença judicial (Carmona, 1998). Complementarmente, Vilela (2004, p. 32) assevera que o conceito de arbitragem perpassa os seguintes elementos: a arbitragem como instituição, a necessária existência de um litígio a ser pacificado, a intervenção indispensável e decisiva de um terceiro não vinculado e que não represente a jurisdição estatal, a manifestação obrigatória de vontades das partes (caráter facultativo) para a formalização do juízo arbitral, a inexistência de vedação legal de submissão do litígio a um juízo não estatal, e ainda, a obrigatoriedade da decisão prolatada. Sumariamente, podemos citar Rabay (2012) em relação aos cinco pontos principais que caracterizam a esfera arbitral, sendo eles: 1. Configura-se como meio alternativo à esfera judicial para a resolução de conflitos; 2. Tem como objeto o direito patrimonial disponível, ou seja, todo direito que pode ser transacionado (venda, compra, doação, etc.) pelas partes sem intervenção do estado; 4 3. É instituída pela autonomia privada, ou seja, por vontade/consenso entre as partes; 4. A livre escolha do árbitro que decidirá a controvérsia; 5. As partes envolvidas se comprometem a aceitar e acatar a decisão arbitral, não cabendo recurso. Neste momento, é necessário fazer um adendo, com o objetivo de tornar muito clara a questão da validade jurídica da esfera arbitral: a lei arbitral estabelece a cláusula compromissória. Isso significa dizer que a convenção arbitral é um negócio jurídico resultante do acordo entre as partes. Assim, esse acordo tem poder coercitivo e, assim, não se admite que uma das partes desista unilateralmente e recorra ao Judiciário; caso esse fato ocorra, o magistrado deve dar supremacia à esfera arbitral (Campolina, 2008). Bom, mas qual é o papel do perito na esfera arbitral? Por que tratamos da esfera arbitral em contabilidade? Aqui, dois aspectos devem ser observados: primeiro, o objeto da esfera arbitral; segundo, as características do árbitro. Vamos à análise. O objeto da arbitragem é definido por lei como o direito disponível. O conceito de direito disponível é todo aquele bem ou direito que as partes podem transacionar, ou seja, vender, comprar, doar, de livre e espontânea vontade, sem que o Estado tenha que intervir na relação jurídica. São exemplos a compra de um carro, a doação de um imóvel, etc. É relevante atentar ao Código Civil, artigo 1035, que estabelece que “o direito material só admite a transação quanto a direitos patrimoniais de caráter privado”. Resumindo, é passível de arbitragem todo direito material de caráter privado, atrelado a questões patrimoniais, na existência de contrato, verbal ou não (Campolina, 2008). O árbitro é a pessoa escolhida em comum acordo entre as partes da esfera arbitral. Nesse sentido, é premissa do processo de arbitragem que ambas as partes tenham plena confiança no árbitro escolhido. Adicionalmente, esse profissional deve possuir alguns atributos para exercer a função, tais como: Alta qualificação; Boa reputação e atendimento aos requisitos éticos; Imparcialidade; Conhecimento técnico-científico sobre a matéria a ser resolvida. 5 Dessa maneira, o árbitro tem o papel de substituir o magistrado, contudo, deve ser extremamente técnico e qualificado para exercer tal função, assim como o perito na esfera judicial (Campolina, 2008). Quando discorremos sobre o objeto da arbitragem, vimos que se trata de questão patrimonial, envolvimento de bens e direitos e normalmente o perito- contador é o profissional mais habilitado para emitir opinião econômica e financeira sobre o bem ou o patrimônio objeto da discussão arbitral. Paralelamente, o árbitro precisa atender a características muito similares às do perito, tal como a imparcialidade e a extrema capacidade técnico-científica na matéria da lide arbitral. Assim, nesse cenário, podemos apreender que o perito-contador é comumente solicitado para a esfera arbitral e, portanto, é muito importanteconhecer os mecanismos dessa esfera e como o perito-contador, na função de árbitro, irá desenvolver suas atividades. Vamos analisar esses pontos nos temas seguintes dessa aula. TEMA 2 – ARBITRAGEM NO DIREITO EMPRESARIAL E COMO SOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS Como aspecto introdutório desse tema, abordaremos brevemente o histórico do Direito Empresarial e o surgimento da esfera arbitral. O Direito Comercial surgiu com o intuito de solucionar conflitos existentes na esfera mercantil. Há vestígios muito antigos do Direito Comercial, como no Código de Hammurabi, na Grécia Antiga, e na Lex Rhodia de Lactu, dos romanos. A expansão da complexidade das operações mercantis acarretou em uma expansão do Direito Comercial e a sua posterior denominação de Direito Empresarial (Campolina, 2008). O Direito Empresarial não é voltado estritamente para o comércio, mas engloba todas as relações que envolvem a atividade mercantil, a prestação de serviços e a circulação de mercadorias, conforme o artigo 997 do Código Civil. Enquanto o Direito Comercial passa a contemplar o comerciante, a atividade empresária, o cliente consumidor, o Estado e toda matéria que está direta ou indiretamente ligada ao comércio, à indústria e à empresa (Campolina, 2008). Mas, e o Direito Arbitral? Ele surgiu em qual contexto? Qual foi seu objetivo? Campolina (2008) afirma que o Direito Arbitral surgiu a partir do século XVIII com o intuito de resolver conflitos comerciais internacionais. 6 Faz-se necessário, também, nessa fase dos nossos estudos, compreender porque a arbitragem surge como uma alternativa à esfera judicial. As organizações empresariais, assim como as pessoas físicas, precisam de saúde e paz de espírito para desenvolverem suas relações com todos os stakeholders, tais como a cadeia de valores (clientes e fornecedores), os funcionários e a comunidade, englobando todos os aspectos sociais e ambientais envolvidos. Assim, quando surge um impasse nesse ambiente, as organizações podem resolver esse conflito na esfera arbitral. Essa decisão auxiliará na manutenção do bom relacionamento futuro com os stakeholders da empresa, visto que a esfera arbitral é uma alternativa mais amigável em relação ao processo judicial, que é sempre desgastante. A arbitragem leva em consideração a conservação das relações existentes, objetivando resolver o impasse de forma célere, discreta e com critérios e valores aceitos pelas partes envolvidas (Campolina, 2008). Portanto, podemos apontar, de maneira sucinta, três aspectos que são considerados por Campolina (2008) como as principais vantagens da esfera arbitral em detrimento da esfera judicial: a celeridade processual, a informalidade e a economia financeira. A celeridade processual é a rapidez com que o processo arbitral se inicia e conclui-se. Segundo Campolina (2008), o que geralmente leva três anos para ser resolvido em primeira instância da esfera judicial, pode ser resolvido, em média, com seis meses de arbitragem. A informalidade é comum às esferas extrajudiciais, aplicando-se, também, à esfera arbitral. Exemplos de informalidade: as partes podem se comunicar diretamente com o árbitro (fato que não ocorre na esfera judicial), e as partes podem expor suas razões sem se preocupar com aspectos formais de comunicação, tais como as petições (Campolina, 2008). E, por último, temos a economia financeira. De cara, poderíamos citar a economia de tempo (relativo à celeridade processual) como uma conversão em economia financeira. Contudo, além desse aspecto, que também é válido, temos que o procedimento arbitral é mais econômico do que as custas e taxas pagas para a máquina do Judiciário (Campolina, 2008). 7 TEMA 3 – PRINCÍPIOS DE ARBITRAGEM Antes de discorrermos sobre cada um dos sete princípios da arbitragem, faremos uma breve explanação sobre o conceito de princípios jurídicos e suas funções e o papel dos princípios na esfera arbitral. De forma sintética e superficial, podemos dizer que os princípios, no Direito, cumprem um papel de fundamentos, normas elementares ou requisitos primordiais. Nesse sentido, são os axiomas ou verdades universais de um sistema jurídico. As funções dos princípios, segundo Rabay (2012), podem ser sintetizadas em estrutural, interpretativa, axiológica e social. A função estrutural mantém a coerência e harmonia do sistema jurídico. A função interpretativa tem os princípios como direções seguras, ou seja, eles auxiliam e contribuem para a interpretação das normas jurídicas. A função axiológica é a utilização dos princípios para a solução de divergências concretas. E, por fim, a função social prescreve que o magistrado deverá atender a fins sociais e ao alcance do bem comum, ao aplicar a legislação para resolução de um impasse. Assim sendo, podemos abordar os princípios da arbitragem transpondo a conceituação dos princípios e de suas funções do ambiente judicial para o arbitral. Para tanto, os seguintes princípios devem ser considerados ao tratarmos da esfera arbitral (Rabay, 2012): a. Princípio da autonomia privada: esse princípio confere às partes o poder de autorregulamentação e autodeterminação de seus interesses, em esfera arbitral, desde que não sejam contrários à ordem pública, aos bons costumes e às normas vigentes. b. Princípio da boa-fé: inspirado no Código Civil, o princípio da boa-fé foi transportado também para a esfera arbitral. Ele veda o abuso de direito, o comportamento contraditório, o ato emulativo e/ou eivado de boa-fé, bem como alegação em juízo, por qualquer das partes que voluntariamente elegeram a esfera arbitral para resolução de conflito. c. Princípio da autonomia da cláusula da convenção de arbitragem em relação ao contrato: no direito contratual temos o princípio da conservação dos contratos, que é subdividido em preservação, conversão e aproveitamento e está presente no Código Civil. Contudo, na esfera arbitral, temos o princípio da autonomia da cláusula da convenção de arbitragem sobre o contrato. Isto significa dizer que, independentemente 8 da nulidade do contrato, a cláusula da convenção arbitral é soberana. Portanto, a nulidade do contrato não implica nulidade da cláusula arbitral. d. Princípio da competência-competência: esse princípio versa sobre a soberania da decisão arbitral. Assim, cabe aos próprios árbitros a decisão sobre a invalidade da cláusula arbitral e do contrato. O árbitro tem a capacidade para julgar sua própria competência, ou seja, ele mesmo decide com imparcialidade nesse processo arbitral. Importante salientar que não há como admitir a interferência do Poder Judicial na esfera arbitral. Outrossim, a esfera arbitral perderia sua efetividade. e. Princípio da força vinculante e obrigatoriedade da cláusula arbitral: esse princípio é correlacionado ao princípio da força obrigatória das convenções, no qual as partes devem cumprir com os acordos estipulados entre si e lavrados por meio das convenções. Nesse sentido, a cláusula arbitral assume um caráter de convenção e, consequentemente, as partes são obrigadas a submeterem-se à esfera arbitral para a resolução dos problemas, excluindo-se a possiblidade de jurisdição estatal. f. Princípio da temporariedade: em contraponto ao princípio da força vinculante e obrigatoriedade da cláusula arbitral, o princípio da temporariedade apresenta-se como um elemento que visa limitar a validade da cláusula arbitral a fim de não a tornar vitalícia, configurando- se como sujeição eterna. Assim sendo, após o período estabelecido no arbitramento ou decorrido um prazo de seis meses, se não houver mençãona sentença arbitral, existe a possibilidade de ação judicial para resolução do conflito. g. Princípio das garantias processuais: esse princípio versa sobre os procedimentos necessários para garantir validade ao processo arbitral. Nesse sentido, garantias mínimas processuais devem ser atendidas, tais como o devido processo legal, a ampla defesa, o contraditório, a igualdade entre as partes, a imparcialidade e o livre convencimento do árbitro, a decisão fundamentada, entre outros aspectos. Caso o princípio das garantias processuais não seja cumprido, torna-se de difícil a aceitação, tanto juridicamente quanto socialmente, a legitimidade e a credibilidade da sentença arbitral. 9 TEMA 4 – ATRIBUIÇÕES USUAIS DO ÓRGÃO ARBITRAL Neste tema veremos orientações e explicações quanto às atribuições usuais do órgão arbitral. Depois de as partes, de livre acordo, terem concebido a esfera arbitral para a resolução de conflitos, como se dá a formação e a escolha do árbitro? O que é esse órgão arbitral? Na esfera arbitral, cabe às partes disciplinar os procedimentos, em comum acordo e respeitando os sete princípios arbitrais que estudamos no tema anterior, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou de uma entidade especializada para tal fim. Nesse sentido, o órgão arbitral é formado por pessoas especializadas, com regras e procedimentos próprios. A escolha de um órgão arbitral e/ou a formação de um tribunal de árbitros responsáveis pelo processo deve estar formalizada na cláusula compromissória. Segundo Campolina (2008), é comum que cada parte indique o seu árbitro, os dois árbitros indiquem um terceiro e, de comum acordo, os três árbitros indiquem o presidente do órgão arbitral; caso não haja consenso, elege-se o mais idoso. As partes podem escolher livremente como querem solucionar o litígio, conforme o art. 10º da Lei de Arbitragem. Ainda, o princípio da autonomia permite que as partes escolham como será resolvido o conflito, em qual prazo e por quais árbitros. Essa escolha perpassa o órgão arbitral e podem ser fundamentadas nas regras do Direito, na equidade ou, ainda, nos usos e costumes do comércio internacional. Na ausência de regras, os árbitros disciplinarão os procedimentos (Campolina, 2008). Por fim, discorreremos sobre o procedimento arbitral, que é composto por audiências, sem formalidades ou solenidades. O objetivo da arbitragem é propor uma conciliação entre as partes, visto que a esfera arbitral tem como pressuposto a manutenção das relações comerciais existentes entre as organizações litigantes. Se houver acordo, será proferida a sentença arbitral. E caso não haja acordo? Como é o procedimento? Novamente, salientamos que a esfera arbitral pressupõe, diferentemente da esfera judicial, uma boa vontade no sentido de resolução dos problemas de forma amigável entre as partes. Caso não haja um acordo inicial, as partes devem apresentar seus questionamentos e suas assertivas e indicar as provas que pretendem 10 produzir para embasamento dos pontos levantados em audiência. Essas provas podem ser documentais, testemunhais ou periciais. Em seguida, outra audiência será agendada com o intuito de resolver os fatos contraditórios apresentados. Assim, as provas são apresentadas, quando houver, e julgadas. Por fim, dentro de prazo estabelecido pelas partes, fica o árbitro encarregado de proferir uma sentença arbitral. TEMA 5 – REQUISITOS DA SENTENÇA ARBITRAL Neste tema, após termos aprendido sobre o que é arbitragem, o papel do perito-contador, os princípios norteadores e os procedimentos arbitrais, explicitaremos o aspecto final, o xeque-mate do nosso processo arbitral: a sentença arbitral. A sentença arbitral deve ser proferida dentro do prazo estabelecido no termo de compromisso arbitral, ou, se nada tiver sido acordado, dentro do prazo de seis meses. As partes podem, de comum acordo, optar pela prorrogação do prazo, devendo expressar essa vontade de forma escrita. Todavia, em casos em que o prazo não tenha sido prorrogado e tampouco respeitado pelos árbitros, as partes deverão entregar uma notificação por escrito decretando um prazo final para a sentença arbitral (Campolina, 2008). Um aspecto fundamental e que torna a esfera arbitral ainda mais legítima é a força executória de sentença transitada em julgado que possui o laudo arbitral e que, portanto, produz os mesmos efeitos da esfera judicial. Podemos citar os seguintes efeitos idênticos nas duas esferas, decorrentes da sentença arbitral (Campolina, 2008): Tornar certa a relação (ou situação) jurídica incerta; Pôr fim à atividade jurisdicional arbitral; Constituir título executivo, se condenatória; Sujeitar o devedor à execução; Produzir hipoteca judiciária. Não objetivamos, aqui, nos aprofundar nesses aspectos supracitados, contudo, queremos enfatizar a o efeito produzido pela sentença arbitral. Ratificamos com a seguinte assertiva de Campolina (2008, p. 64): Assim, o laudo ou a sentença arbitral possui a mesma natureza da decisão emanada pelo Judiciário, decidindo questões de fato e de 11 direito, podendo ser executada em caso de descumprimento. Se condenatória, constituirá título executivo judicial. A sentença arbitral terá definitividade, não cabendo recurso, salvo quanto a erro formal, como por exemplo, se desrespeitado algum princípio do juízo arbitral. A nulidade deverá ser requerida na justiça comum. Nesse sentido, só cabe recurso à sentença arbitral, caso seja cometido algum erro formal. E este deve ser requerido na justiça comum. Como exemplo, podemos citar algum tipo de vício em relação à sentença arbitral: o árbitro era suspeito e apenas uma das partes detinha o conhecimento prévio no decorrer do arbitramento. Assim, tomada ciência do fato, a parte que se sentir lesada poderá solicitar, na justiça comum, ação de nulidade da sentença arbitral proferida, de acordo com os arts. 32 e 33 da Lei da Arbitragem (Campolina, 2008). TROCANDO IDEIAS Nessa última aula do nosso curso sobre Perícia e Arbitragem Contábil, aprendemos como funciona o processo de arbitragem, em seus detalhes, e a importância para a área contábil e para o profissional perito-contador. Em um mundo tão complexo e dinâmico, as organizações empresariais buscam direcionar seus esforços para o core business (seu negócio principal) e, portanto, quando surge um impasse com seus parceiros de negócios e stakeholders, no geral, essas empresas podem optar pela arbitragem como solução dos conflitos existentes e manutenção do bom relacionamento com os parceiros de negócios, visto que todas as empresas visam à continuidade. Nesta atividade de fórum, você deverá pesquisar, refletir e expor a sua opinião sobre a seguinte questão: A arbitragem é um processo que visa à resolução de conflitos de forma rápida, informal e com a diminuição dos custos processuais. Dessa maneira, vimos que existem muitas vantagens em relação à utilização da arbitragem em detrimento da esfera judicial. Contudo, questiona-se: qual a efetividade da arbitragem no cenário brasileiro? Existe confiança entre os parceiros de negócios? A cultura do brasileiro é mais propensa ao processo judicial ou ao arbitral? E, por fim, a possível ineficiência da máquina judicial brasileira impulsiona para a arbitragem? 12 Saiba mais Dica: leia sobre a seguinte caso de disputa bilionária de ações da Odebrecht com possível solução arbitral. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.co m.br/noticias/269208448/contrato-disputa-bilionaria-de-acoes-da-odebrecht- sera-resolvida-por-arbitragem>. Acesso em: 4 out.2018. NA PRÁTICA Vamos agora para uma atividade prática. Coloque os conceitos aprendidos nessa aula como base para resolução de um problema pericial. Nesta atividade, você deverá refletir e aplicar o conceito de tribunal arbitral: A empresa X e a empresa Y são sócias da empresa MAX. A empresa MAX possui seu capital social segmentado da seguinte maneira: 9.000 ações, sendo 3.000 ações da empresa X e 5.000 ações da empresa Y, as demais ações pertencem a acionistas minoritários, sem direito a decisão. Para organizar as relações entre os sócios, em dezembro de 2009, os grupos de acionistas, representados pelas empresas X e Y, celebraram um acordo entre acionistas na empresa MAX. Nesse acordo, previam uma série de questões, tais como exercício de voto, controle, questões de governança corporativa, política de comunicação com o mercado, venda de ações, entre outras. O acordo previa a resolução de problemas pela esfera arbitral. Em maio de 2011, a empresa Y, até então controladora da empresa MAX e com grandes influências no acordo celebrado em 2009, se viu obrigada a vender 40% de suas ações da empresa MAX. Nessa ocasião, objetivando adquirir controle na empresa MAX, a empresa X comprou as 2.000 ações que pertenciam à empresa Y. A estrutura acionária, a partir de maio de 2011, ficou da seguinte maneira: empresa X com 5.000 ações, a empresa Y com 3.000 ações e outros acionistas minoritários com 1.000 ações da companhia MAX. Em janeiro de 2012, as empresas X e Y enfrentaram um impasse relacionado à política de comunicação de informações estratégicas ao mercado acionário. Acionando o acordo, a empresa Y solicitou um tribunal arbitral para resolução do problema. Contudo, o grupo de acionistas que representavam a empresa X, atual controladora da companhia MAX, não achou legítima a esfera arbitral e decidiu entrar com um processo judicial para resolver tal empecilho. 13 Com base no caso relatado, questiona-se: o que ocorre se o grupo de acionistas que não aderiu ao procedimento arbitral (empresa X) tiver a solução diferente, na esfera judicial, em relação ao grupo de acionistas que aderiu ao procedimento arbitral (empresa Y)? FINALIZANDO Estamos finalizando a disciplina de Perícia e Arbitragem Contábil. Foi um curso extenso e denso no que tange à quantidade de detalhes e informações normativas e procedimentais das esferas pericial e arbitral. A primeira aula discorreu sobre aspectos conceituais, tais como a definição da prática pericial, seu objeto, conceito, aspectos históricos, além das normas relativas à profissão de perito. A segunda aula do curso tratou dos aspectos normativos da profissão pericial, dentre eles, as obrigações normativas da profissão, incluindo as limitações e alcance, além do tratamento sobre os honorários e aspectos periciais da prova. A terceira aula do curso se preocupou em apresentar as técnicas empregadas e as principais metodologias de trabalho relativas a erros, fraudes, laudo pericial e parecer técnico. A nossa quarta aula desse curso focou no planejamento dos trabalhos periciais, indicando caminhos para que o profissional diminua riscos inerentes à profissão e possa cumprir seu planejamento inicial. A quinta aula, e última sobre perícia contábil, versou sobre a execução dos trabalhos, mostrando exemplos de tipos de perícia aplicada à Contabilidade em diversas esferas judiciais, tais como criminal, cível estadual, da família, justiça federal, do trabalho, entre outras. E, por fim, a última aula do curso de Perícia e Arbitragem Contábil se concentrou no processo de arbitragem. Os dois primeiros temas dessa aula sobre arbitragem introduziram esses atributos para o mundo dos nossos alunos. Assim, no Tema 1, abordamos as noções gerais sobre perícia na esfera arbitral, especificamente os conceitos e as definições, além do papel do perito nessa esfera. Já o segundo tema dessa aula destacou a arbitragem no Direito Empresarial e como solução de conflitos internacionais, perpassando os aspectos históricos da arbitragem no Direito e a relevância e vantagens da resolução de conflitos na esfera arbitral. 14 Em seguida, foram apresentados os princípios norteadores do processo arbitral e os procedimentos relativos à resolução de conflitos nesse ambiente. Assim, o Tema 3 apresentou e explicou os sete princípios direcionadores do tribunal arbitral, os quais devem ser seguidos sempre, pois são verdades universais. O Tema 4 versou sobre as atribuições usuais do órgão arbitral, especificamente a formação desse órgão e os procedimentos adotadas para que exista uma legitimidade processual. E, por fim, discorremos sobre a sentença arbitral, detalhando os procedimentos em possíveis desfechos de uma primeira audiência conciliatória. Esperamos que você tenha aproveitado muito esse curso por meio dos textos, vídeos e exemplos aplicados em cada aula. A partir de agora você está apto para compreender o mundo pericial e arbitral, e pode se inserir e participar desse universo. Agradecemos a sua companhia durante essas seis aulas! 15 REFERÊNCIAS CARMONA, C. A. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. São Paulo: Malheiros, 1998. CAMPOLINA, I. M. C. Arbitragem no direito empresarial: perspectivas dos sócios e da sociedade. Belo Horizonte: Faculdade de Direito Milton Campos, 2008. VILELA, M. D. G. Arbitragem no direito societário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. RABAY, A. Princípios da arbitragem. São Paulo: Malheiros, 2012.
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