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Pediatria- S5 Constipação Intestinal Caso Clínico: 4a, pronto atendimento, dor abdominal mal definida há 2 meses, intermitente, que se intensificou nos últimos dois dias, associando-se a distensão abdominal. Diurese e evacuações normais (SIC). Abdome distendido, difusamente doloroso a palpação profunda, com massa palpável em QIE (fecaloma???) Sintoma Guia: dor abdominal Mediante a falta de uniformidade no diagnóstico dos distúrbios funcionais gastrointestinais, foi desenvolvido o critério de Roma, que valoriza as manifestações clínicas para o estabelecimento do diagnóstico, evitando a realização de muitos testes para descartar outras doenças. Pediatria- S5 Definição de constipação Lactentes e pré-escolares - Pelo menos 2 dos seguintes critérios, em < de 4 anos, por no mínimo 1 mês: Duas ou menos evacuações/semana. Pelo menos 1 episódio/ semana de incontinência fecal, após a aquisição do controle do esfíncter anal. Comportamento de retenção para evitar a defecação. Evacuações com dor ou dificuldade. Presença de grande quantidade de fezes no reto. Eliminação de fezes de grande diâmetro, que podem causar entupimento do vaso sanitário. Escolares e adolescentes - Pelo menos 2 dos seguintes critérios, em criança com desenvolvimento igual ou maior do esperado para 4 anos de idade, e que não preencha os critérios diagnósticos para síndrome do intestino irritável. Duas ou menos evacuações/semana no vaso sanitário. Pelo menos 1 episódio/ semana de incontinência fecal. Comportamento de retenção para evitar a defecação. Evacuações com dor ou dificuldade. Presença de grande quantidade de fezes no reto. Eliminação de fezes de grande diâmetro, que podem causar entupimento do vaso sanitário. Definição “alternativa”: Sintoma caracterizado pela ocorrência de qualquer das seguintes manifestações, independentemente do intervalo entre as evacuações: - Eliminação de fezes duras, na forma de cíbalos, seixos ou cilíndricas com rachaduras. - Dificuldade ou dor para evacuar. - Eliminação esporádica de fezes muito calibrosas que entopem o vaso sanitário. Frequência das evacuações inferior a 3x/semana (exceto crianças em AME). Distúrbios de defecação 1. Disquezia do lactente - É só uma incoordenação pela imaturidade. Sabe-se disso porque as fezes são amolecidas. Pediatria- S5 - Ocorrência, durante 10-20 minutos, de episódios de gemidos e choro, acompanhados de vermelhidão da face, antecedendo as várias eliminações diárias de fezes amolecidas. - Ocorre em menores de 6 meses. - Incoordenação entre o aumento da pressão abdominal com relaxamento do assoalho pélvico. - Trata-se de uma situação transitória que desaparece espontaneamente, quando o lactente adquire a capacidade de relaxar o esfíncter anal e a musculatura pélvica, quando se estabelece a prensa abdominal no momento da evacuação. Não requer tratamento 2. Incontinência fecal por retenção - Soilling ou escape fecal. - Perda involuntária de fezes nas vestes, associada a impactação fecal. - A rigor, deveria ser caracterizado apenas após o 4º ano de vida. 3. Incontinência fecal não retentiva - Encoprese - Ato completo de defecação, em sua plena sequência fisiológica, porém em local e/ou momento inapropriados. - Em geral, secundária a distúrbios psicológicos. - Caracteriza-se por evacuações em locais inapropriados com o contexto social, pelo menos uma vez ao mês, por crianças com mais de 4 anos de idade. No Brasil, o termo encoprese é reservado para esses quadros em que a evacuação se faz em sua plena sequência fisiológica, no entanto, em local e/ou momento inapropriado. Considera-se que tenha causa psicogênica/psiquiátrica, não devendo ser confundida com incontinência fecal por retenção (soiling ou escape fecal), associado à constipação intestinal funcional, especialmente os casos com evidente comportamento de retenção. 4. Pseudo-constipação - Ocorrência de evacuação de fezes macias, em frequência menor que 3x/semana, em lactentes em aleitamento materno exclusivo. - Estudo em São Paulo: 5,1% dos 159 lactentes estudados. Fisiologia colônica e da defecação - Função motora colônica normal Integridade da estrutura anatômica neuromuscular: esfíncteres anais externo e interno + assoalho pélvico. Coordenação dos reflexos neurais. Pediatria- S5 Esfíncter anal interno-> involuntário. Esfíncter anal externo. Fisiologia da constipação No caso da constipação intestinal funcional, considera-se a existência de um ciclo vicioso de dor nas evacuações, provocando comportamento de retenção. Assim, as fezes ficam mais endurecidas e volumosas, o que aumenta a dor nas evacuações. As fezes ressecadas podem ser decorrentes do tipo de alimentação e da baixa ingestão de água. Fatores envolvidos no desvio da fisiologia da evacuação - Hereditários e constitucionais (prevalência 4x maior em gêmeos monozigóticos). - Alimentares: dieta pobre em fibras aumenta em 4,1x o risco de constipação crônica; alergia alimentar; aleitamento artificial aumenta em 4,5x o risco de constipação. - Emocionais. - Alteração da motilidade colônica (causa ou consequência?). Apresentação clínica - Comportamento retentivo é observado sobretudo a partir do 2º ano de vida. - Incontinência por retenção é observado mais tardiamente (4-5 anos). - Dor abdominal recorrente. - Vômitos. Pediatria- S5 - Sangue nas fezes. - Infecções urinárias de repetição Retém urina porque não quer ir ao banheiro pra fazer cocô, aí acaba não indo nem pra fazer xixi. - Retenção urinária. - Enurese. - Hiporexia. Sinais de alerta para não ser constipação funcional • Retardo na eliminação de mecônio • Déficit de crescimento • Ausência de comportamento de retenção • Ampola retal vazia • Anormalidades na pigmentação cutânea • Presença de sintomas extra intestinais • Fezes finas ou em fita • Relação com introdução de alimentos • Eliminação explosiva de gases e fezes • Falta de resposta ao tratamento convencional • * idade de início <12 meses e ausência de escape fecal Atenção Retardo na eliminação de mecônio, eliminação explosiva de fezes ao toque retal, distensão abdominal e massa fecal abdominal volumosa, assim como eliminação de fezes em fita e ampola retal vazia, são sugestivos de doença de Hirschsprung. Por sua vez, a alergia à proteína do leite de vaca pode ser considerada nos pacientes com constipação intestinal iniciada logo após a introdução da proteína do leite de vaca na dieta, presença de fissura anal persistente, antecedente de perda de sangue nas fezes e falta de resposta a terapêutica convencional. Abordagem diagnóstica (NASPGHAN) - Se o paciente apresentar constipação por mais de 2 semanas, sem sinais de alerta, estabelece-se o diagnóstico de constipação funcional. - Sem resposta ao tratamento convencional: solicitar TSH, T4, pesquisa de anticorpos para doença celíaca, sódio e cloro no suor, dosagem de cálcio. - Se exames normais e constipação persistente: manometria anorretal Busca o reflexo inibitório retoanal e sua ausência sugere aganglionose. - Se após todos os procedimentos descritos a constipação não for controlada, considerar: enema baritado, RNM de medula espinhal, biópsia retal profunda, manometria colônica. Pediatria- S5 Tratamento 1. Orientação geral 2. Recondicionamento do hábito intestinal normal 3. Desimpactação 4. Prevenção da reimpactação - Explicar os mecanismos de retenção e escape fecal. - Redução das tensões familiares e dos sentimentos de insegurança e inferioridade do paciente. - Sentar no vaso por pelo menos 5 minutos após as principaisrefeições. - Atentar para a postura adequada no sanitário. - Para crianças em período de treinamento esfinctérico (desfralde), suspender o treinamento até o controle da constipação. Esvaziamento do fecaloma: - O esvaziamento do cólon e do reto é conseguido com a administração diária de enemas por 2-4 dias. - Se necessário, manter até completa eliminação das fezes e a criança apresentar 1-2 evacuações amolecidas ao dia. - Alternativa: desimpactação oral. Tratamento de manutenção: - Laxantes (óleo mineral, leite de magnésia, lactulose). - Fibra alimentar (solúveis e insolúveis). - Em casos mais graves, manter por 6-24 meses. Obs: EVITAR óleo mineral!!! Aspiração pode provocar pneumonia lipoídica. Pediatria- S5
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