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Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Constipação intestinal na pediatria Constipação intestinal na pediatria Introdução Distúrbio mais comum relacionado à defecação; Definição básica → eliminação de fezes endurecidas com dor, dificuldade ou esforço ou a ocorrência de comportamento de retenção, aumento no intervalo entre as evacuações (menos de 3/ semana) e incontinência fecal secundária à retenção de fezes (fecaloma); • Critérios de Roma IV para caracterizar constipação intestinal pediátrica Fonte: Tratado de Pediatria - SBP • Constipação intestinal funcional Cerca de 90 – 95% dos casos de constipação intestinal crônica sejam de natureza funcional, sendo resultado de interação de fatores biopsicossociais. Nesse caso da constipação intestinal funcional, vê-se a existência de um ciclo vicioso de dor nas evacuações, provocando comportamento de retenção. Basta 1 episódio de evacuação dolorosa para a constipação funcional ter seu início, bem como outras manifestações posteriores, como: dificuldades para o desenvolvimento do controle esfincteriano, formação de fecaloma e incontinência fecal por retenção no pré-escolar e dor abdominal crônica no escolar. As manifestações podem estar presentes até a adolescência. • Outras condições que podem gerar constipação intestinal Causas anatômicas Ânus imperfurado Estenose anal Ânus anteriorizado Anormalidades da musc. Abdominal Síndrome de prune belly Gastrosquise Síndrome de Down Causas metabólicas e intestinais Doenças de tecido conjuntivo Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Hipotireoidismo Hipercalcemia Hipocalemia Fibrose cística DM Doença celíaca Esclerodermia LES Síndrome de Ehlers-Danlos (homem elástico – defeitos na síntese de colágeno). Causas neurológicas Anormalidades medulares Trauma medular Medula presa Encefalopatia crônica não progressiva Drogas Opiáceos Fenobarbital Sucralfato Antiácidos Anti-hipertensivos Anticolinérgicos Antidepressivos Simpatomiméticos Distúrbios da musc e do SN entérico Doença de Hirschprung Displasia neuronal Miopatias viscerais Neuropatias viscerais Outras Intoxicação por vitamina D Botulismo APLV Ingestão de chumbo • Disquezia do lactente Caracterizada pela ocorrência de pelo menos 10 minutos de esforço e choro antecedendo a eliminação de fezes moles; Trata-se de uma situação transitória que desaparece espontaneamente, quando o lactente adquire a capacidade de relaxar o esfíncter anal e a musculatura pélvica, quando se estabelece a prensa abdominal no momento da evacuação; Paciente faz esforço, chora, fica vermelho e costuma se “espremer”; Não requer tratamento. • Comportamento de retenção Manobras realizadas pela criança pela contração, até a exaustão do esfíncter anal, da musculatura glútea (cruzando as pernas para evitar a evacuação); Paciente pode ficar de cócoras, sentando sobre o calcanhar para evitar a saída das fezes. • Incontinência por retenção (soiling) Perda involuntária de conteúdo real consequente à presença de fezes impactadas no reto e/ou cólon. • Incontinência fecal não-retentiva Caracteriza-se por evacuações em locais inapropriados com o contexto social, pelo menos uma vez ao mês, por crianças com mais de 4 anos de idade; Comum em crianças cujo processo deu-se, não raro, de maneira abrupta sem que a criança estivesse neurologicamente madura para tudo isso (geralmente essas crianças têm dificuldade de controle de esfíncter); A criança não evacua porque ela quer, ela evacua porque não consegue controlar → reflete ainda um estado de imaturidade corpórea. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Obs: Encoprese → quadros em que a evacuação se faz em sua plena sequência fisiológica, no entanto, em local e/ou momento inapropriado. Considera-se que tenha causa psicogênica/psiquiátrica, não devendo ser confundida com incontinência fecal por retenção (soiling ou escape fecal), associado à constipação intestinal funcional, especialmente os casos com evidente comportamento de retenção Quadro clínico • Lactentes Evacuação de fezes endurecias, em cílabos, eliminadas com dor, esforço e dificuldade; É comum, também, a presença de fissura anal; Atenção especial deve ser dada ao diagnóstico diferencial com a doença de Hirschsprung (megacolo congênito) e à alergia à proteína do leite de vaca. Obs: Doença de Hirschsprung → retardo na eliminação de mecônio, eliminação explosiva de fezes ao toque retal, distensão abdominal e massa fecal abdominal volumosa, assim como eliminação de fezes em fita e ampola retal vazia → aganglionose intestinal congênita. Obs: APLV → constipação intestinal iniciada logo após a introdução da proteína do leite de vaca na dieta, presença de fissura anal persistente, antecedente de perda de sangue nas fezes e falta de resposta a terapêutica convencional. • A partir do segundo ano de vida Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Pode-se caracterizar o comportamento de retenção (criança já começa a ter controle dos esfíncteres) e se inicia o processo de desfraldamento; Constata-se, também, ampliação do intervalo entre as evacuações, que se caracterizam pela eliminação de fezes de maior calibre e consistência, com grande esforço e dor. • Pré-escolar e escolar Pode-se constatar a incontinência fecal por retenção; Pacientes perdem conteúdo fecal na cueca/ calcinha → subterfúgio para bullying escolar; Importante a orientação aos pais, pois esse comportamento da criança não é voluntário (até porque ninguém quer evacuar na roupa e sofrer bullying); Percebe-se que as crianças apresentam maior agressividade, menor autoestima, ambiente familiar com maior hostilidade e, ainda, menor qualidade de vida • Outras manifestações clínicas associadas Dor abdominal crônica reversível com o controle da constipação intestinal, enurese noturna, falta de apetite e sintomas de infecção urinária atual ou pregressa. • Exame físico Exame abdominal pode revelar a presença de massa fecal palpável no abdome, em geral, localiza- se no hipogástrio, mas pode ocupar toda a extensão do colo nos casos mais graves; O toque retal pode revelar o preenchimento da ampola retal com fezes endurecidas; Essas anormalidades do exame clínico podem ser constatadas em cerca da metade dos pacientes atendidos em serviços especializados; Avaliar sempre os parâmetros de curva. • Sinais de alarme Constipação já no 1° mês de vida Retardo na eliminação de mecônio (> 48h) Antecedente familiar com doença de Hirschsprung Eliminação de fezes em fita Sangue nas fezes com ausência de fissura anal Déficit de crescimento Febre Vômitos bilosos Glândula tireoide anormal Distensão abdominal intensa Fístula perianal Posição anormal do ânus Ausência de reflexo cremastério Anormalidades neuromotoras em MMII Tufo de pelos na região sacral Depressão de região sacral Desvio de sulco interglúteo Medo excessivo durante inspeção anal Cicatrizes anais Constipação intratável Diagnóstico O diagnóstico da constipação funcional é clínico, tendo como base a anamnese e o exame físico; Deve-se ter atenção para excluir as outras causas de constipação intestinal supracitadas; A falta de resposta ou a recorrência indica a necessidade de exames subsidiários: pesquisa de doença celíaca pela sorologia, testes de função tireoidiana, dosagem de cálcio, exame de urina e urocultura. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB RX de abdome → pode contribuir para a caracterização de impactação fecal, especialmente nas situações em que a palpação abdominal é difícil (excesso de peso) e o toque retal não pode ser realizado (recusa do paciente ou suspeita de abuso sexual). • Anamnese Idade de início Sucesso ou falha no treinamento de toalete → desfraldamento antes do tempo → evacuações involuntárias (por conta de imaturidadedo próprio sistema neurológico) → criança acaba ficando com medo e começa a reter; Frequência e consistência de fezes; Dor ou sangramento na passagem das fezes; Dor abdominal ou incontinência fecal (noturno? – Sinal de alarme, porque no período noturno a gente tem que descansar e gastar energia com defecação → procurar causa orgânica); Náusea ou vômito; Perda de peso. • Manometria anorretal Esse exame mais específico se faz em quando não pensamos em constipação funcional; Pesquisa do reflexo inibitório reto anal. • Outros exames Glicemia, tireoide, doença celíaca, etc → pedimos mais quando a constipação se torna crônica mesmo com a terapia adequada no tempo adequada. Tratamento Antes de tratar, é muito importante: — Classificar o paciente; — Ter noção se a constipação dele é intratável ou não; — Pesquisa dos sinais de alarme para excluir diagnósticos orgânicos graves. — Primeira coisa a se fazer é a desimpactação → educação e orientação aos cuidadores → medidas promotoras → suporte psicológico → manutenção. • Primeira linha de tratamento para desimpactação PEC 1,5 g/kg/dia por 3 – 6 dias Ou (caso não seja possível) Enema por 3 – 6 dias. • Tratamento de manutenção PEG 0,4 g/kg/dia → ajustar conforme aceitação e resposta clínica da criança. Protocolo de tratamento de, no mínimo, 60 dias e retorno à consulta para reavaliação. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Obs: desmame da medicação → dia sim dia não por 1 semana/ 15 dias e depois ir aumentando os intervalos da medicação. Medidas promotoras → ensinar a criança a evacuar, principalmente explicando, mostrando a posição adequada (quase de cócoras) sentada no vaso. Caso a criança não tenha pinico, é importante ter um redutor no vaso para melhor conforto para a criança. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Prognóstico 50% recuperação após 6- 12 meses de tratamento; 10% controlados com laxantes; 40% constipação intestinal não controlada apesar do tratamento.
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