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VOZ II INTRODUÇÃO E ANAMNESE AVALIAÇÃO DE VOZ Tem o objetivo de conhecer o comportamento vocal de um indivíduo, identificando os prováveis fatores causais, desencadeantes e mantenedores da disfonia, descrevendo as características de perfil vocal do indivíduo, os hábitos adequados e inadequados à saúde vocal, os ajustes do trato vocal empregados na produção da voz e a relação entre corpo-voz- personalidade. Os principais objetivos são: auxiliar no esclarecimento da causa da desordem; oferecer uma descrição da função vocal, determinando a severidade e o prognóstico do distúrbio; e educar o paciente sobre a desordem vocal e sua responsabilidade em seu desenvolvimento e em seu tratamento. O que avaliar depende do objetivo da avaliação e da hipótese diagnóstica. Para uma triagem vocal fonoaudiológica mínima sugere-se: • Análise perceptivo-auditiva da qualidade vocal. • Medidas fonatórias: tempo máximo de fonação de uma vogal, tempo de números e relação s/z. • Avaliação corporal básica: relação corpo e voz. Para uma avaliação fonoaudiológica vocal clínica completa, são considerados itens essenciais: • Anamnese completa. • Análise perceptivo-auditiva da qualidade vocal. • Medidas fonatórias: tempo máximo de fonação de uma vogal, tempo de números e relação S/Z. • Avaliação corporal básica: relação corpo e voz. • Análise acústica da onda sonora. • Avaliação in loco nas vozes ocupacionais e profissionais. ANAMNESE Deve ser a mais específica possível para se definir o quadro do paciente, mas ao mesmo tempo, a mais abrangente possível, a partir do momento e quem diversas doenças sistêmicas podem ter o seu primeiro sintoma na fonação, como, por exemplo, no parkinsonismo. Identificação Pessoal Nela ressaltamos a importância da profissão e da ocorrência de outra atividade secundária em que se empregue a voz. Queixa e Duração A queixa é o motivo da consulta e representa o sintoma da disfonia. Pode revelar o grau de conscientização do paciente sobre sua alteração, além de expressar sua habilidade em organizar verbalmente a informação sobre a dificuldade atual e o tempo de sua evolução. É essencial que seja abordada a duração da queixa. Sintoma Qualquer fenômeno ou mudança provocados no organismo por uma doença. Descrito pelo paciente pode auxiliar a estabelecer um diagnóstico. Os principais sintomas vocais podem ser agrupados em sete categorias: • Sintomas de alterações na qualidade vocal: Para o paciente tudo é rouquidão ou afonia. Devemos procurar identificar o que mudou na qualidade vocal. Tais sintomas estão frequentemente associados a lesões de massa nas pregas vocais. • Sintomas de fadiga e esforço vocais: O esforço ou o cansaço associado à produção vocal pode modificar o comportamento vocal. O paciente pode referir cansaço progressivo, esforço para melhorar a projeção ou piora da voz em determinados períodos. Estes sintomas estão associados às fendas glóticas ou disfonia por tensão muscular. • Sintomas de presença de ar na voz: O paciente pode referir ar constante, no final das emissões ou nos agudos, quando canta. Nestes casos, observa-se fendas glóticas, do tipo triangulares, nos quadros de tensão muscular, ou fusiformes, nas alterações estruturais mínimas. • Sintomas de perda de frequências da extensão vocal: São comuns em profissionais da voz, que relatam perdas nos agudos e/ou graves. Podem estar relacionais a quadros inflamatórios agudos, presença de edemas ou, ainda, após o uso excessivo da voz, apesar de técnica adequada. • Sintomas de descontrole na frequência da voz: Os pacientes podem apresentar desvios, como quebras, falta de modulação, modulação excessiva, ou voz trêmula. São frequentemente encontrados em alterações neurológicas, como na disfonia espasmódica e no tremor vocal essencial, mas também podem indicar distúrbios vocais emocionais ou problemas na mutação fisiológica da voz. • Sintomas de descontrole na intensidade vocal: O paciente pode apresentar desvios, quebras com perda total de sonorização, ou dificuldade em modular a intensidade vocal. Geralmente indicam abuso ou fadiga vocal, porém também são encontrados em distúrbios neurológicos, sendo uma forma acentuada e com intensidade média elevada observada em distúrbios cerebelares. • Sintomas de sensações desagradáveis à emissão: Queixas de dor à produção da voz, dor muscular em áreas da cintura escapular ou da face após fala prolongada, sensação de ardor, queimação ou corpo estranho na laringe. De forma isolada ou combinada com outra queixa. Geralmente indicam tensão muscular ou lesões da região posterior, particularmente os granulomas por refluxo laringo-faríngeo. Após a definição da queixa, é importante que o clínico comece a investigar os sinais relacionados que representam a manifestação da queixa, ou seja, a evidência objetiva do estado, observável e mensurável. Na avaliação do sintoma da disfonia podemos identificar: • Sinais perceptuais: qualidade vocal, pitch, loudness, sinais não verbais e dinâmica respiratória. • Sinais acústicos: análise de onda sonora e da área de contato entre as pregas vocais. • Sinais fisiológicos: laringoscópicos, vibratórios e aerodinâmicos. História Pregressa da Disfonia Procura coletar uma série de fatos, desde como ocorreu a instalação da alteração até a impressão de outras pessoas sobre a voz do paciente. A origem do encaminhamento pode oferecer informações interessantes, revelando se a procura do atendimento foi feita por necessidade pessoal, sugestão de amigos, por obediência à orientação de outro especialista ou solicitação de um familiar. A instalação da alteração é geralmente lenta nos casos de uso inadequado, abrupta nos casos de envolvimento psicológico de conversão somática de sintomas funcionais, e muito gradual nos quadros neurológicos progressivos. Nos quadros funcionais, a principal característica do início da alteração diz respeito à flutuação dos sintomas vocais, com períodos alternados de melhora e piora da voz, geralmente relacionados ao comportamento vocal. É importante solicitar ao paciente que avalie o impacto da alteração vocal em sua vida particular, profissional e social. Geralmente, uma voz auditivamente pouco alterada, porém, com muito esforço à produção, recebe uma avaliação de impacto maior do que uma voz mais alterada, contudo sem esforço associado. Hábitos Inadequados Deve se concentrar em dois grupos de fatores: os de natureza externa, como tabagismo, etilismo, uso de ar-condicionado, e os de comportamento vocal, ou seja, fonotrauma devido ao abuso ou mau uso vocal. É como os pacientes utilizarem diferentes práticas abusivas e não só uma. A exemplo, quem grita demais também fala demais, em frequência inadequada e com velocidade elevada. A somatória dos hábitos tem grande peso na redução da resistência vocal. Nem sempre o paciente consegue fazer conexão entre hábito inadequado e alteração na voz. Investigação Complementar Procura-se levantar uma série de alterações que podem ter influenciado o estabelecimento do quadro, e que podem estar contribuindo para a manutenção ou recorrência das crises disfônicas. As principais alterações dizem respeito a: • Distúrbios alérgicos: Constituem a causa mais frequente do prolongamento de tempo de terapia, com maior influência em crianças. Além do dado de alergia em si, é importante perguntar se a voz piora na ocorrência de alguma manifestação alérgica. Alguns pacientes referem o início de sua disfonia em decorrência de abuso vocal em cima de um quadro alérgico ou gripal. • Distúrbio faríngeos: Podem ser de origem inflamatória ou infecciosa, mas também decorrentes de um ajuste motor hipertônico com sobrecarga da faringe, gerando irritação e sintomas associados nessa região. • Distúrbios bucais: Interferem na ressonância e na articulaçãodos sons da fala na cavidade bucal, além disso, obrigam uma adaptação, sobretudo da musculatura lingual, o que reflete no funcionamento da laringe. • Distúrbios nasais: Além de alterarem a ressonância, podem modificar o padrão vibratório da laringe, induzindo a uma contração na produção do som. • Distúrbios otológicos: Prejudicam a monitoração da própria voz e provocam ajustes musculares inadequados. • Distúrbios pulmonares: Modificam a corrente aérea e desequilibram a relação básica entre as forças aerodinâmicas e mioelásticas da laringe. • Distúrbios do aparelho digestivo: Prejudicam o processo de fonação através de formas diversas, como ao impedir o livre movimento do diafragma, aspiração de secreções e alterações secretórias e vasomotoras por estímulo vagal. Maior atenção tem sido dada ao refluxo laringo-faríngeo, pois sua presença é altamente irritante aos tecidos da laringe, provocando lesões posterior, irregularidades de mucosa, lesões de massa e até mesmo favorecendo a instalação do carcinoma de laringe. • Distúrbios hormonais: Tem grande influência sobre a laringe, particularmente sobre a frequência fundamental. Nas mulheres, alterações relacionadas aos ciclos mentrauis, pílulas anticoncepcionais e gravides podem causar fadiga vocal, redução no volume da voz, maior esforço para falar, emissão mais abafada e perda de agudos. • Distúrbios neurovegetativos: Podem indicar labilidade emocional do paciente e interferência excessiva das emoções na voz. Antecedentes Pessoais e Familiares Visa obter informações sobre cirurgias ou estados mórbidos ocorridos anteriormente e ainda não investigados. Pode evidenciar quadros familiares de inadaptação fônica, alterações estruturais mínimas (como o sulco), ou malformações congênitas que fazem com que os membros de uma mesma família tenham uma qualidade vocal semelhante. Certas dinâmicas emocionais familiares também podem contribuir para um padrão de comunicação inadequado e comum a vários membros, contribuindo no estabelecimento e na manutenção de disfonias. Quadros de outros distúrbios da comunicação da família também devem ser pesquisados. Tratamentos Anteriores Devem ser investigados a existência e quais os resultados obtidos em tratamentos já efetuados para a disfonia, sejam medicamentosos, fonoaudiológicos, cirúrgicos eu psicológicos. Especificamente quanto aos tratamentos fonoaudiológicos, algumas facetas da manifestação atual podem ser mais bem esclarecidas pela linha de trabalho a que o paciente foi submetido, pelo tempo de terapia, participação e motivação do paciente e pelos resultados obtidos.
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