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Andressa – P2B – 2020.2 C â n c e r c o l o r r e t a l Descrição neoplasia maligna do cólon ou reto, e terceiro câncer mais comum no mundo Quem é mais afetado: pessoas ≥ 60 anos o cerca de 75% dos pacientes com diagnóstico de câncer retal esporádico têm ≥ 60 anos (idade mediana no diagnóstico 70 anos) o cerca de 80% dos pacientes com diagnóstico de câncer de cólon esporádico têm ≥ 60 anos de idade ► homens são mais afetados que mulheres; INTRODUÇÃO O câncer colorretal (CCR), apesar de ser uma doença passível de prevenção por meio do diagnóstico precoce, ainda ocupa a terceira posição entre os tumores malignos mais frequentes nos homens e o segundo entre as mulheres. Cerca de 60% dos casos ocorrem em regiões mais desenvolvidas. ♦ EPIDEMIOLOGIA: A idade é o fator de risco de maior importância, sendo que 90% dos casos são diagnosticados após os 50 anos, e o risco tende a aumentar com a idade. O risco relativo de pessoas entre 80 e 84 anos terem câncer é sete vezes o da população de 50 a 54 anos. A raça e os fatores étnicos podem influenciar o risco de câncer colorretal. Os judeus asquenazes têm risco aumentado em relação à população em geral. Isso pode ser atribuído à mutação I1307K do gene da polipose adenomatosa (APC), que confere maior risco de câncer colorretal. Nos Estados Unidos, a incidência de CCR é maior na população afro-americana, em ambos os sexos, quando comparada a caucasianos. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: Assim como em outras malignidades, a etiologia e a patogênese do câncer colorretal não são completamente conhecidas. Fatores dietéticos: O cólon está constantemente exposto a substâncias ingeridas pelos humanos. No entanto, a relação da dieta com a gênese do câncer colorretal ainda não está clara. Gorduras alimentares: A gordura alimentar, especialmente a gordura animal saturada, tem sido implicada na carcinogênese do cólon e do reto. Países com histórico populacional de ingesta de alto teor de gorduras demonstraram risco aumentado de CCR. Carne vermelha: A carne vermelha é rica em ferro, que pode aumentar a produção de radicais livres no cólon, os quais podem provocar danos crônicos à mucosa ou promover outros tipos de carcinogênese. Em humanos, a ingesta de carne vermelha estimula a produção de componentes nitrosos, os quais são carcinógenos conhecidos. Fibras: Alguns mecanismos protetores foram propostos, como: a fibra acelerando o trânsito intestinal, reduzindo, assim, a exposição do cólon a carcinógenos, além de as fibras teoricamente diluírem ou absorverem alguns carcinógenos, em particular, os sais biliares. Em geral, a consistência dessa evidência é fraca. Cálcio: O cálcio tem a capacidade de se conectar e precipitar os ácidos biliares, podendo influenciar diretamente na proliferação de células da mucosa. → nem todos os estudos observacionais demonstraram um efeito protetor contra o CCR. Ácido fólico: é importante para a metilação normal do DNA. A deficiência de folato pode desencadear o câncer a partir da quebra da síntese e reparo do DNA ou perda do controle da atividade de proto- oncogenes→tendência à relação significante entre a ingesta alta de folato e o risco reduzido de CCR ou de formação de adenomas. Álcool: possível papel na carcinogênese colorretal a partir da alteração da absorção de folato, reduzindo a biodisponibilidade deste, o que aumenta o risco de CCR. → o acetaldeído, produto do metabolismo do álcool, pode contribuir para uma metilação anormal do DNA. Terapia de reposição hormonal: Os possíveis mecanismos de ação incluem a redução da secreção de ácidos biliares (potenciais promotores e iniciadores do CCR), bem como o efeito do estrógeno no epitélio colônico, tanto diretamente como a partir de alterações de fatores de crescimento. Obesidade: A obesidade parece aumentar o risco de CCR em homens e mulheres em pós- menopausa por intermédio da resistência à insulina, que resulta em hiperinsulinemia e ação aumentada da IGF. Níveis altos de IGF-1 estão associados à proliferação celular, que pode desencadear neoplasia colônica. Atividade física: Os mecanismos são pouco conhecidos. A atividade física ocasiona mudanças na sensibilidade à insulina e aos níveis de IGF, que estão envolvidos na carcinogênese colorretal. Tabagismo: O cigarro pode alterar o efeito de micronutrientes, como betacaroteno, vitaminas C e E, ou seja, o efeito protetor dessas substâncias pode ser cancelado pela ação do tabaco. Andressa – P2B – 2020.2 Doença inflamatória intestinal: Pacientes portadores de doença infamatória intestinal de longa duração sabidamente apresentam maior risco de CCR. A extensão da doença na RCUI parece ter influência significante sobre o risco de CCR. Histórico familiar: Indivíduos com história familiar de CCR ou pólipos podem ter risco aumentado em até 20%. Um indivíduo com parente de primeiro grau portador de CCR apresenta risco relativo aumentado em 2,25 vezes em relação àqueles sem histórico familiar. O risco aumenta ainda mais se houver dois ou mais parentes de primeiro grau com CCR, se o diagnóstico for feito antes dos 45 anos e, também, quando há parente de primeiro grau com adenomas. ► Os grupos de risco entre famílias podem ser atribuídos a suscetibilidade hereditária, exposições ambientais, ou combinação de ambos os fatores. As heranças genéticas autossômicas dominantes mais conhecidas e estudadas em nosso meio são a polipose adenomatosa familiar (PAF) e a síndrome do câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC – hereditary non-poliposis colorectal cancer). ► A PAF está ligada a alterações no cromossomo 5 do gene APC e representa em torno de 1% das neoplasias colorretais. Suas principais manifestações são a presença de múltiplos pólipos ao longo do trato gastrointestinal, principalmente no cólon, no estômago e no duodeno, além da formação de tumores desmoides em partes moles. • Os pólipos são adenomatosos no cólon e em geral são diagnosticados na segunda década de vida. O risco de desenvolvimento de CCR é virtualmente de 100% até os 40 anos, portanto, o tratamento preconizado é a remoção cirúrgica do cólon e do reto doentes logo após a puberdade. ► A incidência do HNPCC pode variar de 5 a 9% aproximadamente. Nessa síndrome, ocorre a mutação de um dos genes de reparo do DNA (genes MMR), tornando a célula epitelial mais suscetível a alterações genéticas que poderão causar carcinogênese. A característica da síndrome está na presença de CCR em adultos jovens com idade inferior a 50 anos, precedida ou não por pólipos nos segmentos colônicos proximais. A presença de lesões sincrônicas ou metacrônicas é comum. A prevenção de pacientes de risco deve ser feita com colonoscopia anual ou bienal a partir dos 20 anos. • O diagnóstico de CCR associado a HNPCC implica colectomia total para os casos de câncer localizado no cólon e proctocolectomia total quando o câncer está localizado no reto. O papel da colectomia profilática para pacientes com pesquisa genética positiva é controverso, pois o risco de CCR é desconhecido. Testes genéticos: são ferramentas úteis na detecção de alterações genéticas em indivíduos de risco;→ a avaliação de um especialista em aconselhamento genético é imprescindível antes da realização de qualquer um desses testes. P A T O L O G I A ♦ Macroscopia: A avaliação macroscópica do espécime cirúrgico pode distinguir quatro tipos de lesões: ulcerada, polipoide, anular e infiltrativa. ► A ulcerada é a forma mais comum e apresenta um formato circular irregular e de bordas elevadas. ► As lesões polipoides têm aspecto fungoide, projetando-se para o lúmen do órgão. ► O aspecto anular estenosante é mais encontrado no cólon esquerdo e tende a ocupar toda a circunferência. ► As lesõesdifusamente infiltrativas comportam- se como a linite plástica do estômago, espessando o órgão, sem, no entanto, provocar lesões específicas na mucosa. A região retossigmoideana é mais atingida por esse tipo, que pode acometer, ainda, qualquer outra região do cólon. ♦Microscopia: A histologia dos CCR está diretamente relacionada ao prognóstico. O tipo histológico para adenocarcinoma mais comum é o moderadamente diferenciado (60%), sendo que os tipos bem diferenciados e pouco diferenciados têm uma incidência em torno de 20%. • A incidência de metástases linfonodais segue o grau de diferenciação, sendo de aproximadamente 25% nos tumores bem diferenciados, 50% nos moderadamente diferenciados e 80% nos pouco diferenciados. ‼ A diferenciação histológica pode, ainda, influenciar na sobrevida em cinco anos, que está por volta de 77% nos bem diferenciados, 61% nos moderadamente e 29% nos pouco diferenciados. ♦ Disseminação tumoral O câncer colorretal pode se disseminar em uma ou mais das seguintes maneiras: continuidade ou contiguidade, transperitoneal, linfática e hematogênica. ► A disseminação por continuidade ocorre no sentido tranversal do cólon, em geral tomando um quarto da circunferência a cada seis meses. A aderência em órgãos como outras vísceras abdominais, órgãos pélvicos e parede abdominal ocorre com mais frequência. ► Lesões localizadas na face retroperitoneal podem invadir estruturas como a fáscia perirrenal, os uréteres, o duodeno, a parede posterior do abdome ou os músculos ilíaco e psoas. Andressa – P2B – 2020.2 ► A disseminação linfática é de importância ímpar para os princípios cirúrgicos. Em geral, a disseminação segue uma sequência iniciada nos gânglios paracólicos. ► A metástase hematogênica representa a disseminação sistêmica do CCR. Os locais mais comuns de disseminação são o fígado, os pulmões e os ossos. O fígado é o órgão de escolha, em razão de drenagem venosa portal do cólon. S I N T O M A T O L O G I A O sangramento anal é provavelmente o sintoma mais comum no doente com CCR. A causa mais frequente de sangramento anal é a doença hemorroidária, que, associada à negligência do próprio paciente, dificulta o diagnóstico precoce e preciso de lesões colorretais. Principalmente em pacientes de meia-idade ou mais velhos, esse sintoma deve ser valorizado e investigado. A alteração do hábito intestinal, seja diarreia ou constipação, é o segundo sintoma mais comum, devendo ser valorizada em pacientes com suspeita de CCR. As lesões no cólon proximal podem não apresentar alteração do hábito intestinal até estarem bastante avançadas. No cólon distal, esses sintomas são mais frequentes em virtude do menor calibre e da presença de fezes formadas. Outros sintomas associados são: dor abdominal, que, de maneira geral, é inespecífica. Descarga de muco, perda ponderal, anemia e febre esporádica podem estar presentes. A anemia pode estar relacionada a lesões principalmente em cólon proximal, podendo predizer o diagnóstico em pacientes idosos com perdas crônicas. DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO Exame proctológico completo: A inspeção externa do canal anal pode demonstrar alterações, como pólipos extruídos através do canal anal ou lesões próximas da margem anal. O toque retal faz parte do exame físico, sendo importante na detecção de lesões suspeitas no reto médio e distal. Ao toque do dedo, o coloproctologista consegue determinar a mobilidade da lesão, turgor e suspeita de invasão da parede posterior da vagina ou outros órgãos da pelve. Anuscopia e retossigmoidoscopia rígida: A anuscopia é útil para determinar a origem de sangramento retal vermelho vivo como sendo de doença hemorroidária, a partir da avaliação dos 5 cm distais do reto até o canal anal. A retossigmoidoscopia rígida é essencial na avaliação de lesões de reto e sigmoide por extensão de até 25 cm, para determinar a distância exata da borda distal do tumor e a borda anal, observação das características macroscópicas e mobilidade por meio de leve pressão na margem distal. Retossigmoidoscopia flexível: tem a vantagem de avaliar uma extensão maior de intestino e de mucosa. Tal exame não substitui a retossigmoidoscopia rígida para determinar a distância de uma lesão do reto à borda anal. Colonoscopia: tem sido recomendada como exame pré-operatório para detectar a presença de lesões sincrônicas benignas ou malignas. →a colonoscopia pré-operatória pode alterar o procedimento cirúrgico em até ⅓ dos pacientes. A colonoscopia é considerada padrão-ouro para a detecção precoce do CCR. Trata-se de método com fins diagnósticos, que também possibilita o tratamento imediato de pólipos que posteriormente serão avaliados quanto à presença de malignidade e à necessidade de ampliação de margens ou ressecção radical. Colonoscopia virtual ou colonografia por tomografia computadorizada: é um método minimamente invasivo de avaliação estrutural de todo o cólon e o reto. Atualmente, a colonoscopia virtual tem indicação importante na elucidação de lesões sincrônicas ou pólipos em pacientes com lesões neoplásicas obstrutivas à colonoscopia que serão submetidos a tratamento cirúrgico. Tomografia computadorizada (TC): A TC do tórax, do abdome e da pelve tem seu principal papel na avaliação de possíveis lesões secundárias em fígado, pulmão, linfonodos abdominais, além de ser capaz de avaliar a extensão locorregional do CCR, suspeitando da invasão de órgãos adjacentes ou parede abdominal. Ressonância nuclear magnética (RNM): A RNM de pelve é utilizada nos casos de câncer do reto para avaliação da invasão tumoral na parede do reto e na avaliação dos linfonodos; além disso, permite uma visão geral da relação do tumor com outras estruturas da pelve, incluindo bexiga, próstata, útero e anexos, o que pode modificar o planejamento cirúrgico. A RNM tem aplicabilidade também para reestadiamento pós-neoadjuvância e seguimento pós-operatório para detecção de recidiva. Tomografia por emissão de pósitrons (PET): a PET fornece informações sobre a natureza e a fisiologia da função celular do tecido. Assim, tem sido utilizada na avaliação de neoplasias, incluindo o CCR. A PET tem papel importante na determinação de atividade tumoral após a Andressa – P2B – 2020.2 ressecção cirúrgica ou, se já no seguimento, quando há suspeita de recidiva de atividade tumoral. Ultrassonografia endorretal (USER): tem a capacidade de distinguir as diferentes camadas anatômicas da parede do reto, apresentando, portanto, vantagens sobre a PET e a RMN, para avaliar penetração do tumor na parede retal. Antígeno carcinoembrionário (CEA): Marcador tumoral presente em adenocarcinoma de cólon e de reto e em cólon fetal, mas ausente em tecido colônico adulto normal. Produzido pelas células da mucosa gastrointestinal, e na presença de neoplasia maligna ocorre elevação dos níveis séricos. Os níveis pré-operatórios do CEA apresentam algum significado para o prognóstico, visto que o nível de elevação está relacionado à carga corporal do tumor. A ocorrência de recidiva é indicada por um nível crescente de CEA, sendo a doença clinicamente detectável quase sempre precedida de um aumento do marcador tumoral. T R A T A M E N T O A ressecção cirúrgica é o principal pilar no tratamento do adenocarcinoma colorretal. O câncer colorretal avançado, que atinge pelo menos até a camada muscular própria do cólon, deve ser tratado com técnica operatória adequada. ♦ Os princípios gerais que devem ser obedecidos são a ressecção tumoral com margens adequadas, incluindo áreas de drenagem linfática. ► No caso de lesões colônicas, as margens proximal (em torno de 10 cm) e distal (em torno de 5 cm) podem ser obtidas sem maiores dificuldades, respeitando-se as zonas de irrigação do cólon.T r a t a m e n t o c i r ú r g i c o d o a d e n o c a r c i n o m a d o c ó l o n Cólon direito ou ascendente e ceco: As lesões localizadas em ceco e cólon ascendente são tratadas por meio de colectomia direita, seguida de reconstrução do trânsito intestinal a partir de anastomose entre o íleo distal e o cólon transverso remanescente. Nessa cirurgia, realiza- se a ligadura dos vasos ileoapendicocólicos em sua origem e, quando presente, liga-se a cólica direita, realizando a linfadenectomia adequada, sendo que a presença de linfonodos acometidos é fator de pior prognóstico para sobrevida global. Ângulo hepático e cólon transverso proximal: A colectomia direita ampliada é a opção terapêutica para a abordagem de tumores da flexura hepática e do transverso proximal. Cólon transverso médio: A transversectomia é realizada para tumores localizados no cólon transverso. A reconstrução é a anastomose colocólica entre o cólon na sua porção ascendente e descendente. Ângulo esplênico: As lesões de flexura esplênica podem ser abordadas pela colectomia esquerda segmentar, a partir da ligadura da artéria cólica esquerda, ramo da artéria mesentérica inferior, preservando-se o sigmoide, ou por meio da colectomia esquerda clássica, a partir da ligadura da artéria mesentérica inferior na sua origem com ressecção de todo o cólon esquerdo. Cólon esquerdo ou descendente: Os tumores de cólon descendente são tratados a partir da colectomia esquerda, seguida de anastomose transverso retal. Cólon sigmoide e reto alto: A retossigmoidectomia é a ressecção realizada para tumores de sigmoide e reto proximal. Tratamento adjuvante: O tratamento adjuvante para o adenocarcinoma de cólon está indicado para casos em que o estadiamento anatomopatológico seja estádio 2 de alto risco ou estádio 3. • A quimioterapia adjuvante indicada para esses pacientes causa aumento da sobrevida. O B S E R V A Ç Õ E S ►Carcinomas de cólon direito geralmente se acompanham de: Anemia ferropriva→sangramento é o principal sintoma, gera a perda de ferro; ► CEA: usado para prognóstico e recidiva ►A investigação diagnóstica deve-se iniciar com: Retossigmoidoscopia e Colonoscopia.
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