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INSERÇÃO CURRICULAR DA EA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES UNIASSELVI-PÓS Autoria: Eliane de Siqueira Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. SSl618i Siqueira, Eliane de Inserção curricular da EA e a formação de professores. /Eliane de Siqueira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 123 p.; il. ISBN 978-65-5646-032-1 ISBN Digital 978-65-5646-033-8 1. Formação de professores. - Brasil. 2. Educação ambiental. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 372.2 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Introdução à Educação Ambiental ............................................07 CAPÍTULO 2 Aspectos Legais da Educação Ambiental .................................47 CAPÍTULO 3 Educação Ambiental na Prática .................................................83 APRESENTAÇÃO As transformações no nosso planeta ocorrem desde a sua formação há 4,5 bilhões de anos. O Big Bang ativou a alavanca da evolução e de lá para cá muita coisa mudou. Essas mudanças não ficaram restritas apenas ao cenário evolutivo, não se limitam às grandes transformações naturais da biodiversidade, nem tão pouco extinções produzidas pela seleção natural. Desde o surgimento da espécie humana, uma avalanche de modificações desequilibram o fluxo natural do meio e comprometem o próprio desenvolvimento humano. O que fazer? Como conter tudo isso ou ao menos amenizar seus impactos? Um dos grandes desafios é fazer com que a própria espécie se perceba como agente de transformação, seja para aspectos positivos ou negativos. E é exatamente nesta sensibilização que a Educação Ambiental surge como ferramenta essencial. Algumas mudanças são necessárias para o desenvolvimento econômico e social de uma nação, mas repensar posturas diante delas é uma emergência que se torna cada vez mais presente. Desta forma, a inserção da educação ambiental na formação de professores objetiva apresentar no Capítulo 1, os conceitos e os aspectos históricos da educação ambiental e mostrar suas possibilidades de desenvolvimento nos ambientes formais e informais capacitando-os a atuar diante dessa demanda planetária. Após compreender essa dinâmica e toda composição do que ela representa atualmente, o Capítulo 2 deste livro versará sobre os aspectos legais da Educação Ambiental e você perceberá que um longo caminho até a aprovação de Leis específicas para o tema foi trilhado. Temos a Política Nacional de Educação Ambiental que regulamenta sua implantação assim como temos essa abordagem presente em documentos no âmbito educacional como é o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e mais recentemente em 2017 a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além destes, outros requisitos legais serão apresentados para complementar a visão holística necessária para sua implantação. No Capítulo 3 refletiremos sobre a importância da formação continuada de professores e desta formação ser feita em educação ambiental. As mudanças, como dissemos anteriormente, não param e os espaços escolares são aliados fortíssimos na multiplicação de atitudes que corroborem com o meio em todos os seus aspectos. As propostas de trabalho farão parte de nossos estudos assim como as possibilidades de desenvolvimentos com projetos e outras ações ativas, onde a vivência seja colocada em primeiro plano. Teorias são muitas, textos diversos, fundamentações não faltam e conhecimento de que temos problemas a serem resolvidos mais ainda. Então como fazer para que tudo isso se transforme em ações efetivas e capazes de provocar a mudança? O “fazer”, o “ser” em detrimento do “ter” e outras ações como repensar, refletir, mudar, agir, fazem parte da proposta de formação de professores que insere a educação ambiental como temática. Só conseguimos sensibilizar as pessoas com as quais convivemos quando nos sentimos parte do contexto. A ideia não é reproduzir conceitos, mas, sim, buscar fundamentações nessas informações historicamente construídas transpondo-as para a realidade e transformando-as em ações efetivas em prol de uma educação ambiental de fato transformadora. CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: Conhecer os principais conceitos associados à educação ambiental. Relatar o desenvolvimento histórico da Educação Ambiental. Apresentar a aplicação e caracterização da educação ambiental nos espaços formais e informais. Fazer: Analisar os principais conceitos associados à educação ambiental e sua mudança ao longo do tempo. Diferenciar espaços formais e informais e o desenvolvimento da educação ambiental. 8 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores 9 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A educação sempre foi alvo de muitas transformações desde o descobrimento do Brasil. Em quase todos os momentos a proposta desenvolvida baseava-se nos modelos tradicionais onde o professor transmitia as informações que julgava relevantes para aquele contexto ou período. Esse processo esteve em muitos momentos da história da educação, impregnados por interesses econômicos e políticos que associavam a educação como necessária para atender a demanda do mercado em forte ascensão. Um modelo tradicional faz parte de uma concepção de educação que ao mesmo tempo caracteriza um modelo de escola. Nessa proposta a centralidade está no papel do professor que transmite conteúdos para alunos passivos. Passamos, então, pela Revolução Industrial iniciada em 1760 e com ela mais mudança. A necessidade do mercado produtivo aumentou, as escolas se profi ssionalizaram para formar pessoas com habilidades para operar a máquina da produção e, consequentemente, a demanda por recursos naturais também cresceu. Nesse período, continuamos com a transmissão linear da informação acontecendo nos espaços educacionais e começamos a ter as grandes modifi cações causadas pela humanidade afetando, sobretudo, o meio ambiente. Sempre que observar nos registros o termo “homem” como causador de impactos ambientais, devemos substituir por “ser humano” ou “humanidade”. A linguagem sexista, que associa algumas ações ao gênero masculino ou feminino, não deve mais ser aplicada. Temos, então, a necessidade de uma educação que compreenda esses problemas e proporcione ações capazes de minimizar os danos. A educação ambiental começou a ser discutida em grandes encontros que contavam com a participação de diversas pessoas preocupadas com o planeta e que buscavam a formação de agentes multiplicadores, para disseminação de ações de preservação e a qualidade de vida. Vale lembrar que ao pensar em qualidade de vida, a educação ambiental também se preocupa com os aspectos sociais, pois compreende que, ao nos relacionarmos com as pessoas do nosso entorno conseguimos perceber as necessidades, mudanças e propor melhorias em benefício da coletividade. Nesse contexto, a educação mais uma vez fi ca em destaque como possibilidade de transformação social e neste caso ambiental, com professores 10 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessorescapacitados para sensibilizar seus alunos e demais membros da comunidade escolar para as necessidades do meio onde estão inseridos. 2 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Você já parou para pensar como a Educação Ambiental tem sido apresentada em nossa sociedade? Devemos sempre pensar nessa temática como ferramenta de sensibilização. Essa é a primeira grande lição que precisamos ter como refl exão em nossa prática docente. A Educação Ambiental não é usada como um componente curricular obrigatório como acontece com Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, por exemplo. Mesmo assim, existe a obrigatoriedade de se trabalhar suas temáticas em todas as modalidades e níveis de ensino. Por não ser obrigatória como outras disciplinas, muitas vezes sua prática fi ca esquecida ou reduzida a pequenas ações que reproduzem modismos que não provocam mudanças de comportamento. As duas ideias centrais para o trabalho com educação ambiental serão a busca pela sensibilização e a mudança de comportamento. O mais comum, quando elaboramos objetivos educacionais ligados à temática ambiental, é usarmos o verbo conscientizar como ponto de partida. Pense agora em sensibilizar. Por que a diferença? Todas as pessoas sabem que devemos economizar água, não é mesmo? Isso signifi ca que as pessoas são conscientes deste prejuízo, mas, não necessariamente, possuem ações que favoreçam a preservação do recurso. Quando internalizam práticas para este fi m estão sensibilizadas e, por esse motivo, a educação ambiental e demais temáticas que tenham como propósito a melhoria da qualidade do meio, priorizam a sensibilização. Pense nisso quando for realizar seu planejamento. Outro exemplo para perceber esta relação pode ser observado quando, em um projeto institucional de coleta seletiva, toda escola fi ca mobilizada para coletar recicláveis, o material é destinado para cooperativas, a arrecadação é revertida para a escola, enfi m, todos compreendem a ideia do projeto e participam ativamente de suas ações. 11 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Será que todos estão sensibilizados? Ao saírem da escola, os papéis de bala continuam no chão assim como o pacote de salgadinho, a latinha de refrigerante, entre outros. Isso indica que a mudança de comportamento não aconteceu, ela foi pontual com objetivos específi cos e não se ampliou para outros espaços além do escolar. Dizemos então que essas pessoas têm consciência de que isso é um erro, mas, não estão sensibilizadas para fazer isso em todos os espaços onde o comportamento ambientalmente correto é necessário. Ao pensar na educação como sensibilização, o que ocorre é a mudança de comportamento. A percepção dos problemas ambientais que estão a nossa volta passa a fazer parte da nossa rotina e isso permite o desenvolvimento de em ações de melhorias contínuas. A premissa é de que só cuido do que eu conheço e só me preocupo com o que verdadeiramente me incomoda. Dessa forma, a pessoa sensibilizada e incomodada com os problemas ambientais presentes no seu dia a dia buscará desenvolver atitudes que possibilitem mudanças de comportamento. Vejamos os exemplos da Figura 1 e Figura 2. FIGURA 1 - DESCARTE INADEQUADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS FONTE: <https://pixnio.com/pt/diversos/lixo/lixo-poluicao- zona-humida>. Acesso em: 2 dez. 2019. 12 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores FIGURA 2 - ENCHENTES FONTE: <https://www.publicdomainpictures.net/pt/viewimage. php?image=72423&picture=vila-inundada>. Que relação poderíamos estabelecer entre as duas imagens? Neste momento é importante construirmos um olhar para as questões apresentadas a partir da educação ambiental. Muitas pessoas vão responsabilizar apenas o poder público por não realizar a coleta adequada de resíduos sólidos ou por não construir galerias estruturadas para a vazão das águas pluviais. Um olhar sensibilizado compreenderá que o descarte inadequado dos resíduos sólidos é uma questão de atitude e que cada um deve fazer a sua parte para evitar uma série de problemas como é o caso das enchentes. A água ao encontrar galerias e outros ramais de descarga entupidos não tem vazão sufi ciente, atingem a superfície e produz grandes problemas para as pessoas. Essa é uma problemática importante que podemos usar como temática em nossas aulas. Não é apenas uma questão de identifi car culpados, mas percebermos que, mesmo morando em uma área não afetada diretamente por alagamentos, precisamos ter a sensibilidade de cuidar dos resíduos produzidos em nosso dia a dia para que os problemas apresentados nas duas imagens anteriores não sejam recorrentes. Mesmo com toda divulgação existente nos diferentes meios de comunicação, com as legislações que estão em vigor e até mesmo com punições para danos causados ao meio ambiente, ainda há na sociedade a crença de que os recursos naturais são fontes inesgotáveis e acreditam ainda que, ações como um papel de bala jogado no chão não causam nenhum agravo. 13 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Toda limitação do pensamento humano e o egoísmo para algumas atitudes conforme exemplifi camos até o momento, precisa de ferramentas efetivas para mudanças de atitude. O comportamento ambientalmente correto depende da sensibilização para que ações efetivas ocorram. As atividades que envolvem a educação ambiental devem estar presentes nos diferentes espaços, sejam eles formais ou não, garantindo que as refl exões sobre o assunto aconteçam e formem os agentes multiplicadores, capazes de transpor essas ações para além dos espaços escolares. Percebeu que a todo momento estamos falando de agentes multiplicadores? Esse processo favorece uma rede de comunicação e construção de atitudes ambientalmente corretas. Temos acesso à informação corretamente, somos sensibilizados para a necessidade de agir e, desta forma, envolvemos outras pessoas para que também construam esses comportamentos. Antes de continuarmos, vamos ver se os princípios básicos da educação ambiental fi caram claros para você. 1 A educação ambiental é uma importante ferramenta de sensibilização e suas ações devem objetivar a mudança de comportamento em prol da qualidade do meio e consequentemente qualidade de vida das pessoas. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA que permite que estes dois princípios sejam contemplados: a) ( ) Em uma turma de 4º ano, a professora passou um texto sobre meio ambiente e em seguida os alunos confeccionaram cartazes para expor suas ideias. b) ( ) Em uma OnG a equipe realizou palestras sobre a importância da coleta seletiva em seguida implantaram a coleta com parcerias para a destinação do material às cooperativas. c) ( ) Em um condomínio os moradores começaram a receber multas caso deixassem a luz ligada após as 22 horas. d) ( ) Em uma empresa, um treinamento fez com que os funcionários passassem a descartar copos descartáveis separados dos outros resíduos e depois isso era tudo novamente misturado na coleta, passando a ser apenas uma ação interna da empresa para certifi cação. 14 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores No dia a dia das escolas nos envolvemos com várias ações e, no desejo de trabalhar alguns assuntos, deixamos ricas oportunidades serem desperdiçadas. Com esta temática isso acontece com mais frequência. Para que você olhe para as ações escolares de maneira mais crítica a partir de agora, veja mais um exemplo (Figura 3). FIGURA 3 - OFICINA DE SUCATA FONTE: <https://www.fl ickr.com/photos/eciencia/6276724127/>. A fi gura anterior representa uma atividade muito comum nos espaços escolares: a ofi cina de sucata, mas qual é o erro com uma atividade como essa? A ofi cina de sucata possibilita o trabalho com a reutilização de maneira muito efetiva, desde que, na confecção dos objetos, brinquedos ou qualquer outro tipo de material, tenhamos de fato, o reaproveitamento destes recursos de maneiraadequada e durável. Caso contrário o que teremos é apenas o descarte sendo adiado, o que não faz nenhum sentido. Um cachorrinho feito com a parte interna do rolo de papel higiênico tem uma funcionalidade e durabilidade bem diferente do que é ofertado com a construção de um porta treco de garrafa pet, um suporte com tampinhas de garrafas, um jogo, ou qualquer outro tipo de material (Figura 4). 15 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 FIGURA 4 - REUTILIZAÇÃO DE GARRAFA PET FONTE: <https://www.fl ickr.com/photos/myespresso/9397764914>. Em algumas regiões temos os Centros de Educação Ambiental - CEAS -, que desenvolvem vários trabalhos na área. É muito comum na programação de atividades destes espaços ofi cinas diversas, que incluem os trabalhos manuais. No entanto, qual seria a relação disso com a Educação Ambiental? Lembre-se de que a educação ambiental atua entre o natural e o social onde muitas transformações acontecem. Assim, refl etir sobre a possibilidade de reaproveitamento de alguns materiais, produção sustentável, energia limpa e tantas outras discussões faz parte dessa abordagem. 2.1 CONCEITUAÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Educação Ambiental possui suas primeiras tentativas de defi nição por volta de 1970. De lá para cá, muito encontros, reuniões internacionais entre outros eventos, reuniram pessoas do mundo inteiro para discutir os problemas ambientais, fi rmarem acordos e defi nir ações capazes de minimizar os danos causados ao meio ambiente. Para não correr o risco de termos mais um modismo ou apenas a reprodução de termos, a defi nição usada por vários autores é a que fi cou estabelecida na Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n. 9.795/99). Em seu artigo 1º temos: 16 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999, s.p.). Essa defi nição encontra apoio em mandamentos constitucionais dos quais o meio ambiente é colocado como “bem de uso comum e do povo, essencial à sadia qualidade de vida”. Dessa forma, cabe a todos os seres racionais, pertencentes a esse meio, o dever de cuidar ao mesmo tempo que possuem o direito de usufruir de seus recursos, porém, agora pensados de forma sustentável. A Educação Ambiental preocupa-se com as intervenções realizadas no meio, provocando sua alteração e desequilíbrio além de incluir as questões naturais e sociais, conforme explicitado em sua defi nição. A necessidade de conservação e propostas mitigadoras faz parte de suas ações e isso ainda é muito confundido com uma grande ciência que é a Ecologia. De acordo com Odum (1983), a ecologia é o estudo da casa, incluindo todos os organismos que habitam esses locais bem como os processos funcionais que a tornam habitável. Ecologia refere-se ao estudo das interações que naturalmente os seres vivos realizam com o meio. Quando pensamos, por exemplo, em uma cadeia alimentar com seres produtores, consumidores e decompositores, temos as interações destes seres com o meio (Eco = casa) para que possam sobreviver e isso faz parte dos estudos ecológicos e não da Educação Ambiental. Quando o ser humano interage com o meio, causando-lhe algum prejuízo como a poluição da água, aí sim temos uma ação que faz parte dos estudos da educação ambiental. A educação ambiental não está desconectada de um contexto. Conforme afi rma Loureiro (2012, p. 26): A ideia de que “tudo é válido” desde que se almeje proteger o ambiente, ignorando o modo como este se constitui, não colabora para alcançarmos novas relações sociais e formas 17 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 sensoriais e perceptivas de nos compreendermos e nos sentirmos como parte da sociedade e de uma vida planetária. O mesmo autor fala ainda da necessidade de uma educação ambiental crítico-transformadora no contexto escolar. Isso envolve a compreensão de que todos as ações e comportamentos desenvolvidos atualmente são frutos de uma história que envolve o desenvolvimento da humanidade, suas relações sociais e culturais. Dessa forma, é necessário a entender esse modelo para propor mudanças fugindo a alienação. E não somente os nomes estudados sob a perspectiva ambiental aparecem nestes estudos. Temos materiais que analisam a educação ambiental sob a perspectiva de Paulo Freire, importante nome na educação mundial. Defensor de uma escola pública de qualidade, sempre discutiu a importância do diálogo, da criticidade e da autonomia dos estudantes que deveriam participar ativamente da construção de suas aprendizagens. Na relação com a educação ambiental seu nome aparece exatamente nas discussões sobre a necessidade de um olhar crítico, de ter uma leitura de mundo e ainda conhecer como forma de inserção social. Para melhor compreender a relação da educação ambiental com Paulo Freire, sugerimos a leitura do seguinte livro: Educação Ambiental: dialogando com Paulo Freire, desenvolvido sob a organização de Carlos Frederico B. Loureiro e Juliana Rezende Torres. Vejamos, então, o histórico que serviu de pano de fundo para o desenvolvimento da educação ambiental até chegarmos nos dias atuais. O grande marco para o início das transformações ambientais no planeta foi a Revolução Industrial ocorrida no século XVIII. O modelo produtivo operando de novas formas teve como consequência desastres ambientais que incluíram não apenas a poluição atmosférica como também a morte de seres vivos, mutações e modifi cações na própria composição do meio físico e químico, cujas consequências ainda estão presentes em nossas vidas. 18 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores Pesquise sobre a mutação ocorrida durante a Revolução Industrial e que deu origem às mariposas de cor escura. Essa descoberta foi feita pelos pesquisadores da Universidade de Liverpool e retratam um pouco do que este período representou para o meio ambiente. A seleção natural pode ser citada neste momento, pois, de acordo com a teoria evolucionista são as condições do meio que infl uenciaram na sobrevivência das espécies. As mais fortes se mantinham no ambiente e transmitiam suas caraterísticas genéticas para as futuras gerações. Esse estudo foi desenvolvido por Charles Darwin. Usando como exemplo o que teria acontecido com as girafas, no ambiente tínhamos esses seres vivos com pescoço comprido e de pescoço curto, no entanto, pela escassez alimentar, as girafas de pescoço curto não conseguiam mais alcançar os alimentos presentes no topo das árvores, morriam e aos poucos, essa característica deixou de existir. Temos então apenas a característica “pescoço comprido” sendo transmitida às futuras gerações (Figura 5). FIGURA 5 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA SELEÇÃO NATURAL FONTE: A autora 19 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Em 1952, em Londres, uma intensa poluição atmosférica causou o que chamamos de smog fotoquímico (Figura 6) e provocou a morte de mais de 4 mil pessoas. Esse desastre ambiental, conhecido como “A Névoa Matadora” causou mobilização entre as pessoas, incluindo representantes do poder público, e a preocupação com a qualidade do ar torna-se pauta ambiental. Logo, em 1956 ocorreu a aprovação da Lei do Ar Puro na Inglaterra. O smog fotoquímico acontece quando a quantidade de poluentes acumulados na atmosfera é tão grande que forma uma nuvem escura muito próxima da superfície, composta de ozônio e outras substâncias tóxicas. FIGURA 6 - SMOG FOTOQUÍMICO O smog fotoquímico acontece quando a quantidade de poluentes acumulados na atmosfera é tão grande que forma uma nuvem escura muito próxima da superfície,composta de ozônio e outras substâncias tóxicas. FONTE: <https://www.fl ickr.com/photos/steven-buss/349912280>. Com essa preocupação inicial e outros desastres ambientais ocorrendo no mundo todo, em 1962 tivemos Rachel Carson publicando o livro “Primavera Silenciosa”. Nesta obra, de acordo com Hogan (2007), a autora alertava para os riscos do uso de compostos químicos que, aumentou signifi cativamente no pós- guerra e alterava os ciclos naturais dos seres vivos. Isso fez com que a causa ambiental ganhasse ainda mais visibilidade entre as pessoas e o uso do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), defensivo agrícola, passasse a ser proibido. O DDT além de demorar de 4 a 30 anos para se decompor totalmente no meio ambiente, tinha baixo custo e foi amplamente utilizado na época para combater insetos causadores de doenças como a Malária, por exemplo. No entanto, enquanto não se decompõe por completo, continua interagindo com o meio de outras formas tais como: contaminando a água, enfraquecendo produtos 20 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores derivados dos animais como cascas de ovos e ainda, atribui-se a essa substância o efeito carcinogênico. O uso do DDT é proibido desde a homologação da Lei n. 11.936 de 14 de maio de 2009. Antes disso muitos rumores sobre o seu uso já impediam a comercialização livre, sendo autorizado apenas em casos específi cos para uso de agricultores. Após aprovação da Lei a proibição relaciona-se ao uso, comercialização e também produção da substância. Segundo Loureiro (2012, p. 77), “em termos cronológicos e mundiais, a primeira vez que se adotou o nome Educação Ambiental foi em um evento de educação promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido, no ano de 1965”. No ano de 1972 tivemos um grande marco para a história da Educação Ambiental. A realização da Conferência de Estocolmo ou Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano. Entre as discussões, foi apontado o alerta de que a natureza não é fonte inesgotável de recursos naturais e que, cabe ao ser humano, o dever de preservá-la para as atuais e futuras gerações. Cerca de 400 instituições governamentais e 113 países participaram do evento onde acordos foram fi rmados, documentos assinados e projeções idealizadas como forma de garantir que o desenvolvimento acontecesse de forma mais equilibrada e consciente, para a preservação de seus recursos. Entre as principais temáticas as mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, uso de pesticidas na agricultura, emissão de metais pesados, qualidade da água e mitigação dos desastres naturais tiveram destaque. Ainda em 1972 surgiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA -criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de proteger o meio ambiente. Entre seus principais objetivos manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento; alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras (PNUMA, 1972, s.p.). O uso do DDT é proibido desde a homologação da Lei n. 11.936 de 14 de maio de 2009. Antes disso muitos rumores sobre o seu uso já impediam a comercialização livre, sendo autorizado apenas em casos específi cos para uso de agricultores. Após aprovação da Lei a proibição relaciona-se ao uso, comercialização e também produção da substância. 21 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Acesse o site ofi cial do PNUMA e conheça um pouco mais das atividades desenvolvidas, principalmente na sua representatividade no Brasil. Essas ações envolvem a implementação de projetos bem como parcerias que são fi rmadas com o objetivo de preservação dos recursos naturais. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/agencia/ onumeioambiente/>. As discussões tiveram continuidade em 1975 com a Conferência de Belgrado (Ioguslávia). Nesta conferência tivemos a elaboração de um documento chamado “Carta de Belgrado”. De acordo com o Portal do Ministério da Educação - MEC -, a carta de Belgrado reforçava a importância de satisfazer as necessidades dos seres humanos, no entanto, pensando nas gerações futuras e, propõe, o trabalho com temas que abordam a erradicação da pobreza como fome, analfabetismo, poluição, exploração e dominação que deveriam ser tratados em conjunto. Nenhuma nação deve se desenvolver às custas de outra nação, havendo necessidade de uma ética global (BRASIL, 2019). O mesmo documento fala ainda da reforma dos processos e sistemas educacionais para atender essa demanda e fi naliza com a proposta para um Programa Mundial de Educação Ambiental. A carta de Belgrado tem muitas discussões que representaram verdadeiros avanços nas discussões ambientais. Como meta, estabelece “melhorar todas as relações ecológicas, incluindo a relação da humanidade com a natureza e das pessoas entre si”. Como meta específi ca da educação ambiental temos: Formar uma população mundial consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas associados, e que tenha conhecimento, aptidão, atitude, motivação e compromisso para trabalhar individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas existentes e para prevenir novos (BRASIL, 2019). Para o desenvolvimento de programas de educação ambiental que permitam o alcance dos objetivos e metas predeterminadas, a Carta de Belgrado fala em tomada de consciência onde as pessoas precisam ter sensibilidade e perceber os problemas ambientais que estão à sua volta; adquirir conhecimentos para atuar como multiplicadores; desenvolver atitudes que as motivem a participar ativamente das causas ambientais; aptidões para não apenas colaborar com a 22 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores resolução dos problemas mas também auxiliar outras pessoas nesta compreensão e nesta ação; capacidade de avaliação e participação (BRASIL, 2019). Para conhecer um pouco mais sobre a Carta de Belgrado e as informações pertinentes sobre a Educação Ambiental, suas metas e diretrizes básicas para este trabalho, acesse: <http://www.fzb.rs.gov. br/upload/20130508155641carta_de_belgrado.pdf>. Com as ideias presentes na Carta de Belgrado, entre as quais estão a criação de um Programa Mundial de Educação Ambiental, em 1977, a UNESCO, em parceria com o PNUMA, realizaram a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental realizada em Tibilisi, antiga União Soviética. Nesta conferência, as características, objetivos e estratégias para o desenvolvimento da educação ambiental foram defi nidas e marcou-se a importância da interdisciplinaridade para que a temática possa ser amplamente discutida nos espaços formais e informais. No Brasil, a disciplina de Ciências Ambientais torna-se obrigatória no Ensino Superior e todos os cursos de Engenharia. Em Tibilisi, os objetivos centrais para desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental envolvem: • Comportamento. • Participação. • Habilidades. Tudo isso pautado em propostas interdisciplinares e o uso do entorno como ponto de partida. Essa prática contextualizada reforça a importância da sensibilização e, ao mesmo tempo, ter a atitude para intervir no meio com o qual se relaciona diariamente. Chegamos na década de 1980 com um número muito grande de desastres ambientais. A cada catástrofe novas discussões surgiam em torno do impacto central. Ora o foco era energia nuclear, ora recursos hídricos e em 1981, no Brasil, temos um grande passo sendo dado: institui-se a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA -, Lei Federal n. 6.938 de 31 de agosto de 1981. Entre as conquistas temos o estabelecimento de um Sistema Nacional do Meio Ambiente No Brasil, a disciplina de Ciências Ambientais torna-se obrigatória no Ensino Superior e todos os cursos de Engenharia. 23 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo1 (SISNAMA) e de um Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), além da criação de padrões de qualidade, zoneamentos, avaliações de impactos, regulamentações para uso e ocupação entre outras providências. No artigo 2º, a Lei estabelece alguns princípios que devem ser observados nas propostas de preservação e melhoria da qualidade. Entre eles, a necessidade do trabalho de da formação em Educação Ambiental. Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...] X - Educação Ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL,1981). Nessa disciplina, aprofundaremos nossos estudos na Política Nacional de Educação Ambiental. No entanto, também é importante conhecer a PNMA, pois representa uma grande conquista para a defesa do meio ambiente. A proposta interdisciplinar, já citada anteriormente, aparece explicitada no Brasil no Parecer do MEC 819/85 que fala sobre a necessidade de incluir conteúdos ecológicos ao longo do processo de formação do ensino de 1º e 2º grau. Esses conhecimentos estariam integrados a todas as áreas (caráter interdisciplinar) cujo objetivo seria formar a consciência ecológica dos cidadãos (BRASIL, 2002). Ainda no Brasil, em 1986 foi publicada a primeira Resolução CONAMA n. 1/86 que trata sobre a Avaliação de Impacto Ambiental. Nesta Resolução, algumas defi nições foram extremamente importantes para que regulamentações sobre projetos e intervenções no meio fossem realizadas. Entre esses conceitos podemos citar o que de fato se considera impacto ambiental, a necessidade de um diagnóstico ambiental, estudos e relatórios de impacto ambiental além da criação de programas de acompanhamento. 24 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I- a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II- as atividades sociais e econômicas; III- a biota; IV- as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V- a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986). Em 1987, a publicação do relatório de Brundtland ou também conhecido como “Nosso Futuro Comum” trouxe a conceituação de desenvolvimento sustentável além de apresentar o levantamento de informações feito com relação a vários problemas ambientais que estavam em discussão nos últimos anos. Falava-se em aquecimento global e efeito estufa pela primeira vez. Além disso, o relatório alertava para a necessidade de rever o processo de interação entre ser humano e meio ambiente o que inclui escolha consciente de recursos, diminuição no consumo e até mesmo a limitação do crescimento da população em escala mundial (Tabela 1). Desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (Relatório de Brundtland, 1987). FONTE: Disponível em: <(https://www.inbs.com.br/>. 25 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 TABELA 1 - AÇÕES PREVISTAS NO RELATÓRIO DE BURTLAND Para promoção do desenvolvimento sustentável Ações na esfera internacional Outros programas e ações • limitação do crescimento populacional; • garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; • preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; • diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; • aumento da produção industrial nos países não- industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; • controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores; • atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia). • adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de fi nanciamento); • proteção dos ecossistemas supranacionais como a Antártica, oceanos etc., pela comunidade internacional; • banimento das guerras; • implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU). • uso de novos materiais na construção; • reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais; • aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a geotérmica; • reciclagem de materiais reaproveitáveis; • consumo racional de água e de alimentos; • redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos. FONTE: Adaptado de <http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br>. Outra conquista ambiental no Brasil ocorreu com a publicação da Constituição Federal em 1988. Em seu artigo 225 a Lei afi rma que: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Entre os critérios para assegurar esse direito, a Constituição Federal reforça: § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: [...] VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. 26 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores A década de 1990 chegou com eventos importantes, entre os quais destacamos: • Portaria MEC 678/1991: a educação escolar deve contemplar a Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino e, para isso, o investimento em capacitação docente. • 1992: Conferência Rio-92, mais uma vez um grande encontro que discutiu as questões ambientais com representantes de todo mundo e teve como um de seus registros a elaboração da Agenda 21, que representava uma proposta ou plano de ação, um compromisso fi rmado entre os participantes e ao mesmo tempo um planejamento em que a partir de um problema atual fi cavam estabelecidos os acordos e as medidas que seriam tomadas para mitigá-lo. • 1994: Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA - que segundo o MEC tinha o objetivo de capacitar o sistema de educação para o trabalho com a Educação Ambiental. • 1996: criação da Câmara Técnica de Educação Ambiental junto ao CONAMA. • 1999: Publicação da Lei 9.795 de 27 de abril que institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Aprofundaremos nossas discussões sobre essa legislação no próximo capítulo. A Rio + 10 marcou o início do século XXI. Aconteceu em Johanesburgo na África do Sul. Os desafi os foram mantidos e muitos impasses no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável versus desenvolvimento econômico estiveram em pauta. Ao analisar a agenda 21 originada na Rio-92 percebeu-se que ainda havia muito para ser feito. Questões de cunho social e que comprometem a qualidade de vida das pessoas incorporou-se aos debates. Por fi m, em 2014, a ONU apresentou um relatório chamado “O caminho para a dignidade até 2030: acabando com a pobreza, transformando as vidas e protegendo o planeta”. Esse documento norteou a construção de uma nova agenda com propostas de ações e planejamento que alcancem essa proteção do planeta até 2030. Nesta proposta, temos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS - que subsidiam a construção da agenda 2030. De acordo com a ONU, esta Agenda é um plano de ação paraas pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Ela também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafi o global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável (ONU, 2014). 27 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS - são os seguintes: 1- Erradicação da pobreza. 2- Fome zero e agricultura sustentável. 3- Saúde e bem-estar. 4- Educação e qualidade. 5- Igualdade de gênero. 6- Água potável e saneamento. 7- Energia limpa e acessível. 8- Trabalho decente e crescimento econômico. 9- Indústria, Inovação e Infraestrutura. 10- Redução das desigualdades. 11- Cidades e comunidades sustentáveis. 12- Consumo e produção responsáveis. 13- Ação contra a mudança global do clima. 14- Vida na água. 15- Vida Terrestre. 16- Paz, justiça e instituições efi cazes. 17- Parceria e meios de implantação. Assista ao vídeo disponível no link <https://vimeo. com/269266902> e fi que por dentro de um detalhamento dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Observe atentamente cada um deles e perceberá a educação ambiental em vários momentos. Vale lembrarmos que estes são apenas alguns dos marcos mais representativos das questões ambientais no Brasil e no mundo. Segundo Layrargues (2009, p. 15): A crise ambiental trouxe novos desafi os para as sociedades modernas, exigindo uma alteração no rumo civilizatório, e, na tentativa de escapar da catástrofe ambiental, os sistemas sociais vêm se adaptando à nova realidade. Em graus variáveis, o sistema econômico começou a internalizar a relação entre a economia e o meio ambiente para valorar os bens ambientais que se encontram fora do mercado, a tecnologia criou a tecnologia ecoefi ciente para economizar energia e recursos, a política viu nascer um partido verde para defender 28 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores a causa ambiental e internalizou a variável ambiental em suas doutrinas político-ideológicas e programas de governo, o direito se ramifi cou com um direito ambiental contribuindo com um novo arcabouço legal normativo, a educação qualifi cou- se de ambiental para auxiliar no processo de sensibilização e aquisição de uma nova cultura, a religião efetuou uma releitura de suas doutrinas e fundamentos espirituais, a comunicação criou editoriais na mídia para informar a população sobre a situação ambiental e assim sucessivamente. E o que podemos dizer da Educação ambiental atualmente? As ações continuam em desenvolvimento e enfrentando, na maioria dos casos, iniciativas pontuais. Não se assuste se perguntar a alguém o que signifi ca a educação ambiental e a associação com movimentos ambientalistas for feita. Da mesma forma, ainda temos grande parte da população alheia ao que acontece no meio, não percebem algumas situações como problemas ambientais e muito menos se sentem responsáveis por isso. A ciência moderna introduziu novos paradigmas sobre as maneiras de conhecer e de intervir na natureza, que transformaram o mundo em objeto externo de conhecimento, calcados na racionalidade e na fragmentação. Essa visão reducionista que coloca o ser humano acima da natureza, dominando-a acaba levando à sujeição e à dominação de alguns seres sobre outros seres. A educação inserida nesse contexto sofreu com os refl exos do modelo da sociedade atual, norteando- se pelos mesmos valores autoritários que dicotomizaram ser humano e natureza (SILVA et al., 2004, p. 34). Silva et al. (2004, p. 34) afi rmam ainda que “adição do termo ambiental à educação nada mais é do que uma tentativa de re-situar o lugar ocupado pelo ser humano na natureza, reconhecendo as diversidades culturais, étnicas, biológicas dentro da unidade global”. Os autores reforçam que a questão ambiental deve buscar a conexão com a realidade dos estudantes e a comunidade com a qual convivem, deve ser pensada como metodologia de construção social do conhecimento e desta forma desenvolver-se a partir de currículos conectados com essas realidades, ter a participação da comunidade, enfrentando e construindo alternativas para intervir e mudar as problemáticas socioambientais locais. Aspectos sociais e ambientais caminham juntos. A educação ambiental não prioriza apenas os aspectos naturais do meio, por isso o termo socioambiental é utilizado. Aspectos sociais e ambientais caminham juntos. A educação ambiental não prioriza apenas os aspectos naturais do meio, por isso o termo socioambiental é utilizado. 29 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 1 O histórico da educação ambiental e das discussões ambientais de maneira geral, possuem muitas tentativas, propostas e possibilidades conforme demonstrado no histórico. Tudo isso teve como objetivo principal a mudança. Uma mudança de atitude, de comportamento, de relações mais equilibradas com as pessoas e mais sustentáveis com relação ao meio ambiente. Com base no exposto, classifi que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os problemas ambientais se agravaram com a Revolução Industrial que modifi cou os padrões de consumo e produtividade na sociedade. ( ) Atualmente, não temos nenhuma proposta que modifi que o que historicamente já foi instituído. ( ) Além das conferências e relatórios, algumas legislações foram fundamentais na construção do histórico da educação ambiental, meio ambiente e sua necessidade de preservação. ( ) A Agenda 21 é um documento de planejamento e agora já temos uma perspectiva da Agenda 2030 com a presença dos ODS. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - V - F. b) ( ) F - F - F - V. c) ( ) V - V - V - F. d) ( ) V - F - V - V. • Ecocidadania em pauta Falar da educação ambiental, seu histórico e perspectivas de trabalho signifi ca também pensar sobre quem é essa pessoa que desejamos formar, quais são suas necessidades e contexto de vida. Refl etir sobre as atitudes e mudanças de comportamento não são tarefas simples tendo em vista que, muitas ações foram culturalmente construídas, estão carregadas de valores e hábitos que nem sempre são modifi cados com tranquilidade. Esse desconforto é visto como resistência e a prática pode fi car limitada a um projeto muito bem estruturado no papel, mas pouco executável. 30 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores Um termo que tem sido cada vez mais utilizado para essa designação é “Ecocidadão”. Vejamos o que ele signifi ca, observando a fi gura a seguir: FIGURA 7 - POLUIÇÃO DO MEIO AMBIENTE FONTE: <https://pixabay.com/pt/illustrations/polui%C3%A7%C3%A3o- lixo-degrada%C3%A7%C3%A3o-1603644/>. Esses poluentes não foram parar nesse corpo d’água sozinhos, certo? Mesmo que ainda tenhamos grande parte da população negligenciando a responsabilidade de culpa diante de situações como essas, é necessário sensibilizar e formar esse ecocidadão pode ser uma conquista importante neste caminho. Agora compare com a ação exposta na Figura 7. FIGURA 8 - COLETA SELETIVA FONTE: <https://www.fl ickr.com/photos/cbnsp/4905602959>. O cidadão, sensibilizado da necessidade de cuidar dos resíduos que produz busca as alternativas para que esses resíduos sejam descartados corretamente. A coleta seletiva é uma dessas possibilidades. Essa atitude é considerada uma ação ecocidadã. 31 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Muitas pessoas confundem a coleta seletiva com a reciclagem e nomeia de forma incorreta esses dois processos. Esteja atento! Quando falamos em coleta seletiva o processo refere-se à separação dos materiais que podem ser recicláveis e os que não podem ser direcionados para esse fi m. Não há mais a necessidade de separação por cores como era feito antigamente, o importante é separar plásticos, vidros, papéis e alumíniopara que possam ser direcionados à reciclagem. Na reciclagem os materiais previamente triados são submetidos ao processo industrial e transformados em outros materiais que voltam para circulação comercial. O que é possível fazer em escolas, ONGs, condomínios, residências etc. é a coleta seletiva. De acordo com Pereira e Ferreira (2009, p. 17): O ecocidadão é a pessoa consciente e que busca qualidade de vida no planeta Terra. É o indivíduo sintonizado com as questões de escassez de água, com o desmatamento crescente, com a caça predatória e o tráfi co de animais, com os problemas decorrentes do modelo de consumo adotado por uma determinada sociedade, que descarta mais e mais lixo no planeta, que contamina o ar que todos respiram e que altera as condições climáticas, que polui rios, mananciais e mares. As autoras afi rmam ainda que o interesse pela questão ambiental está diretamente vinculado ao interesse pela realização integral do indivíduo como ser humano. Para elas, a atitude e postura assumida por um ecocidadão é que será capaz de assegurar a qualidade de vida das gerações futuras. No exemplo utilizado, uma fi gura apresenta resíduos de uso comum descartados irregularmente e isso fi ca muito perceptível, por exemplo, se você for dar uma volta na praia no fi m de um dia bem quente de verão. A quantidade de material inorgânico e orgânico deixado a areia é imensa e não é difícil ter esse material caindo no mar. Além da poluição da água temos a vida de muitos seres vivos sendo comprometida. Alguns animais confundem a sacolinha plástica com alimento e morrem asfi xiados (Figura 9). Outros podem se enroscar em aros plásticos ou metálicos e ter um crescimento anormal do corpo. Tudo isso em função do comportamento humano. 32 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores As sacolas plásticas demoram cerca de 400 anos para se decompor. Enquanto estiverem no meio ambiente estão causando prejuízos. FIGURA 9 - ANIMAIS INTERAGINDO COM SACOLAS PLÁSTICAS FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rotador_com_saco_na_boca.jpg>. Para Freire (2009 apud PEREIRA; FERREIRA 2009) se para tornar-se um cidadão, o indivíduo faz parte de um Estado sujeito aos deveres e direitos sancionados por leis que regem e disciplinam a vida de toda comunidade, o que se espera é que agora a busca pela melhoria das condições sociais, políticas e econômicas, inclua a preservação ambiental, envolvido com as questões de seu tempo e lugar, seja também um ecocidadão. O interesse pela questão ambiental está diretamente vinculado ao interesse pela realização integral do indivíduo como ser humano. O pouco caso com a questão ambiental denota pouco caso com a qualidade de vida. Por isso, é tão importante que o cidadão seja hoje, sobretudo, um ecocidadão. A educação ambiental é um instrumento de transformação social que favorece a aquisição de conhecimento e a prática de atitudes ambientalmente corretas. Interessa à educação ambiental para uma melhor compreensão dos problemas decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais e incentivar hábitos e comportamentos voltados para um novo modelo de cidadania (PEREIRA; FERREIRA, 2009, p.18) 33 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 1 A partir da conceituação de ecocidadão apresentada e sua relação com a educação ambiental, analise as sentenças a seguir: I- A instalação de placas para aquecimento solar é uma atitude que pode ser considerada ecocidadã mesmo que seja individualmente pensada. II- Uma pessoa que mora com você entrou no banho e já ultrapassou 15 minutos com o chuveiro ligado. Você bate na porta para acelerar o processo e sua intenção é a economia do recurso hídrico, pois pensa como um ecocidadão. III- A educação ambiental favorece a sensibilização dos indivíduos para a construção da ecocidadania. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS AMBIENTES FORMAIS Agora que já conhecemos alguns conceitos ligados à educação ambiental e seus aspectos históricos, vamos compreender sua aplicação em diferentes espaços. Desde o desenvolvimento da escrita, a necessidade de comunicação passou por diversas transformações, códigos, desenhos e combinações foram progressivamente criadas até que, as escolas passam a ser o espaço responsável por multiplicar essas ações. Basta lembrar como os primeiros registros surgiram e evoluíram, das pinturas rupestres aos papiros até chegarmos nos cadernos e nos computadores. 34 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores FIGURA 10 - PRIMEIRAS FORMAS DE ESCRITA FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/pinturas-rupestres-mural-eua-nevada-3699/>. Onde aprender tudo isso? Era necessário sistematizar as informações e estabelecer uma sequência compreensível a todas as pessoas. Eis que chegamos no alfabeto e na necessidade de compartilhar essas informações de maneira sistematizada e então as escolas e um sistema educacional para estas e outras fi nalidades começa a ser formado. Falar de educação é voltar um pouco no tempo e compreender as grandes transformações ocorridas, como tentativa de adequarmos aos contextos da época. Ao mesmo tempo é olharmos para alguns cenários e vermos que pouca coisa mudou. FIGURA 11 - EDUCAÇÃO JESUÍTICA FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Anchieta>. 35 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 FIGURA 12 - ESCOLA ATUAL FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/universidade-palestra-campus-105709/>. Os primeiros modelos de escolas no Brasil estavam sob o controle dos jesuítas, responsáveis por catequizar os indígenas durante processo de colonização do Brasil. As informações estavam de acordo com os interesses políticos de Portugal, mas, representava a primeira forma de ensinar algo. Tivemos muitas reformas educacionais, criação das escolas de primeiras letras, aulas régias, mas, o modelo transmissivo permanecia inalterado. As imagens apresentadas como exemplo, com uma grande diferença temporal, representam ações educativas pautadas nesse modelo considerado tradicional e que contemplam uma tendência pedagógica. Longe de trazer um relato completo sobre a história da educação no Brasil e suas concepções de educação, o objetivo é refl etir sobre o que estes modelos representavam e por que se enquadram dentro da abordagem formal da educação. Passamos pelo Movimento da Escola Nova, Manifesto dos Pioneiros e novas visões sobre o processo de ensino aprendizagem passaram a fazer parte dos espaços formais onde essa ação se desenvolve. Tivemos as vivências sendo consideradas, o contexto sendo elemento problematizador para construção de aprendizagens e o aluno passando a ser protagonista de tudo isso. Professores assumem postura mediadora e a troca de saberes torna-se essencial. Essas ações caracterizariam então uma concepção mais construtivista para desenvolvimento das aprendizagens. Observe a diferença nas fi guras a seguir: 36 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores FIGURA 13 - CONCEPÇAO TRADICIONAL FONTE: <https://br.freepik.com/vetores-gratis/modelo-de-sala-de-aula-da- escola_3861909.htm#page=3&query=sala+de+aula&position=32>. FIGURA 14 - CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA FONTE: <https://br.freepik.com/fotos-premium/as-criancas-na-sala-de-aula-colecionam- fi guras-do-designer_6181640.htm#page=2&query=sala+de+aula&position=17>. Mesmo com diferentes concepções sobre o ensino e a aprendizagem o espaço onde isso tudo se desenvolve continua sendo o mesmo: as escolas. Os atores principais são alunos e professores vinculados a um sistema de ensino com regulamentações específi cas, legislações e um currículo como elemento norteador e isso caracteriza o que chamamos de espaços formais para a educação. Para Antunes(2014, p. 11) em sentido vocabular, a palavra “educação” nos remete ao ato ou efeito de educar, processos que busca o desenvolvimento harmônico das pessoas nos seus aspectos intelectual, moral e físico e sua inserção na sociedade. O desenvolvimento citado por Antunes (2014) quando acontece em um espaço escolar, regulamentado para este fi m, e com ações que favorecem a construção de novas aprendizagens, refl etem o que chamamos de educação formal. 37 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Segundo Gadotti (2005, p. 2): A educação formal tem objetivos claros e específi cos e é representada principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fi scalizadores dos ministérios da educação. E como a Educação Ambiental insere-se nestes espaços? Ação docente e prática educativa caminham lado a lado e resultam na escolha de recursos, organização de espaços, transposição adequada das informações, e muitas outras variáveis que caracterizam esse trabalho. Para Libâneo (1994, p. 16) é nesse trabalho que os membros da sociedade são preparados para participação na vida social. Dessa forma, o autor entende a educação como prática educativa necessária e essencial para o funcionamento de todas as sociedades. A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. Tendo como característica estrutural a interdisciplinaridade, a educação ambiental permeia todas as áreas do conhecimento. A proposta é que seja trabalhada com projetos ou ações estratégicas para alcançar os objetivos já descritos nesta unidade de estudo. Durante muito tempo a temática ambiental e, consequentemente, a educação ambiental fi cou restrita a ser discutida nas aulas de ciências. É importante pensar que não se trata de ter um professor específi co para discutir seus fundamentos e conceitos, todos são responsáveis pela construção de atitudes e comportamentos refl exivos em prol da melhoria da qualidade do meio. Essas propostas devem ser contínuas nos espaços formais e transpor os muros das escolas fazendo diferença na vida das pessoas. Lembre-se de que o trabalho com a educação ambiental possui respaldo em legislação específi ca e seus conceitos são obrigatórios em todos os níveis e modalidades de ensino. Quando a escola toda se envolve em um projeto de coleta seletiva, por exemplo, o que se espera é que os alunos atuem como agentes multiplicadores e isso possa a acontecer também dentro de sua casa. Lembre-se de que o trabalho com a educação ambiental possui respaldo em legislação específi ca e seus conceitos são obrigatórios em todos os níveis e modalidades de ensino. 38 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores O mesmo acontece quando um projeto possibilita a implantação de um ecoponto na escola para coleta de óleo de cozinha. Temos ainda os mutirões de limpeza no entorno da escola. Essas ações não ocorrem desconectadas da realidade, são propostas que possuem continuidade e os benefícios contaminam todos que estão na escola e fora dela. Mais importante que isso é pensar que possuem uma fundamentação teórica, compartilhada entre professores e alunos e agem e sabem o porquê dessas ações e isso caracteriza o trabalho com a educação ambiental nos espaços formais. Vale lembrar que, a circulação de informações nas escolas e demais espaços formais, ocorre mediada por um currículo defi nido no âmbito federal e, composto por uma parte geral e uma parte diversifi cada. Na parte geral temos as disciplinas regulares como você já conhece bem. Na parte diversifi cada temos várias possibilidades de trabalho com temáticas interdisciplinares e que envolvem a educação ambiental. Além disso o trabalho com os saberes locais é possibilitado, e, neste sentido, as especifi cidades da comunidade do entorno podem ser potencializadas para favorecer o desenvolvimento das habilidades necessárias para resolução dos problemas, presentes neste contexto. 1 A educação formal inclui espaços e ações destinadas para fi ns específi cos associados à educação. Com base no exposto, analise as opções a seguir e assinale a alternativa CORRETA que apresenta um exemplo de espaço formal: a) ( ) Igreja. b) ( ) Escolas. c) ( ) Praça. d) ( ) Museu. 2 Disserte sobre a diferença principal entre os procedimentos adotados no ambiente formal e não formal no que diz respeito às práticas de educação ambiental. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________ 39 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 3.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS AMBIENTES INFORMAIS Os espaços informais são todos aqueles onde é possível aprender algo sem as amarras de um cumprimento curricular, mas não desconectados da realidade. Segundo Antunes (2014), o processo educativo passa por inúmeras transformações que faz com que este seja ajustado gradativamente aos padrões da sociedade. No entanto, esse processo também ocorre na informalidade, no cotidiano das pessoas e passa a ser chamado de educação informal. O termo espaço não formal tem sido utilizado atualmente por pesquisadores em Educação, professores de diversas áreas do conhecimento e profi ssionais que trabalham com divulgação científi ca para descrever lugares, diferentes da escola, onde é possível desenvolver atividades educativas (JACOBUCCI, 2008, p. 55). Por outro lado, Gadotti (2005, p. 2) afi rma que: Educação não formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Os programas de educação não formal não precisam necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder certifi cados de aprendizagem (GADOTTI, 2005, p. 2). Pensando nas diferentes conceituações de educação em espaços informais ou ainda a educação incidental, que acontece naturalmente ao longo da vida, vejamos as seguintes situações: FIGURA 15 - MUSEU DO LOUVRE FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/paris-museu-do-louvre-escultura-2643586/>. 40 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores FIGURA 16 - BILBIOTECA FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/biblioteca-livro- leitura-educa%C3%A7%C3%A3o-488690/>. Os espaços apresentados nas imagens podem ser considerados formais ou não formais? Refl ita se são espaços onde as aprendizagens são efetivadas e que tipo de processo educativo é desenvolvido. Tanto uma biblioteca como um museu são considerados espaços informais de educação. Nestes locais o conhecimento circula livremente e as informações estão ao alcance dos olhos e de acordo com o interesse de cada visitante. Não temos um currículo formalizado para ser cumprido nem disciplinas obrigatórias, mas temos grande quantidade de informações sendo compartilhadas, inclusive de educação ambiental. Lembre-se de que a abordagem não tem como foco apenas os aspectos naturais. A história de uma região pode sensibilizar para a necessidade de preservação dos seus recursos. Neste mesmo segmento temos os zoológicos, jardins botânico, centros históricos, parques, mananciais e outros espaços com grande circulação de pessoas onde seja possível divulgar informações e propor medidas que mostrem a importância da preservação, sendo considerados espaços não formais onde a educação ambiental se faz presente. Segundo Libâneo (1994, p. 18): Podemos falar em educação não-formal quando se trata de atividade educativa estruturada fora do sistemaescolar convencional. [...] as formas que assume a prática educativa, sejam não- Lembre-se de que a abordagem não tem como foco apenas os aspectos naturais. A história de uma região pode sensibilizar para a necessidade de preservação dos seus recursos. 41 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 intencionais ou intencionais, formais ou não-formais, escolares ou extraescolares, se interpenetram. O processo educativo, onde quer que se dê, é sempre contextualizado social e politicamente; há uma subordinação à sociedade que lhe faz exigências, determina objetivos e lhe prevê condições e meios de ação. 1 Os espaços informais são aqueles onde as informações circulam livremente sem um currículo predeterminado e, por esse motivo, não representam nenhuma preocupação e nem relação com o que acontece nos espaços formais. Sobre essa afi rmação, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Ela é verdadeira tendo em vista a separação nítida do que acontece nos dois espaços. b) ( ) Ela é verdadeira pois a atuação docente está relacionada ao currículo formal onde as disciplinas escolares são inseridas. c) ( ) Ela é falsa pois o que acontece no entorno da escola, em outros espaços e contextos fundamentam aprendizagens escolares. d) ( ) Ela é falsa se considerarmos apenas os espaços formais. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Para que a importância do trabalho com a educação ambiental possa ser conhecida e pensada na formação de professores é necessário, primeiramente, conceituá-la e compreender não apenas seus princípios, como também as possibilidades de desenvolvimento em espaços formais e não formais. Mesmo não sendo uma disciplina curricular obrigatória, suas propostas envolvem uma mudança de comportamento cujos conhecimentos são essenciais para atender as presentes e futuras gerações. A partir de seu conceito, dois princípios devem ser internalizados: sensibilização e mudança de comportamento. Apenas a fundamentação teórica já não permite mais que a emergência planetária na qual estamos envolvidos seja solucionada ou pelo menos amenizada. 42 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores A percepção de que os problemas ambientais estão presentes em vários espaços onde atuamos e convivemos diariamente cria a relação de pertencimento e corresponsabilidade que permite a busca por melhorias. Pensar nesta coletividade e, ações mais signifi cativas, duradouras e contextualizadas faz parte do cenário onde a educação ambiental deve ser desenvolvida. Associado a este conceito, apresentamos também o termo ecocidadão ou ainda ecocidadania. Formar para a ecocidadania é buscar incansavelmente essa mudança de comportamento, é analisar nossas ações individualmente conseguindo transpô-las para diferentes espaços em busca da melhoria da qualidade de vida de todos. O histórico da educação ambiental nos mostra que apenas a partir de desastres ambientais de grande porte é que o mundo começa a olhar para o meio ambiente de outra forma. A Revolução Industrial agravou em diferentes níveis esses problemas e de lá para cá, a natureza é criminosamente explorada como fonte inesgotável de recursos naturais. A ação degradante e consumista da humanidade afeta também as relações sociais e tudo entra em colapso. O desequilíbrio do meio é um desequilíbrio da humanidade e mesmo com todos os encontros, discussões, legislações e demais caminhos trilhados ao longo dos anos, muitas propostas fi caram limitadas ao papel e na prática pouco avançamos. Torna-se necessário que os profi ssionais em processo de formação incorporem essas informações e as multiplique, disseminando a semente da sensibilização e da mudança. O desenvolvimento sustentável não pode ser encarado apenas como marketing ambiental e a educação ambiental não pode ser apenas implantada como forma de atender a legislação desenvolvendo ações isoladas e sem continuidade. Seja em espaços formais ou não formais, seus conhecimentos estão presentes. Os espaços formais, ou seja, as escolas institucionalizadas para desenvolver os processos educacionais precisam, por força de lei, trabalhar a educação ambiental de maneira interdisciplinar. Já os espaços não formais como museus, zoológicos, bibliotecas, entre outros, devem propor o movimento pela educação ambiental como forma de sensibilizar as pessoas sobre a necessidade de preservação. O desafi o é grande, tendo em vista alguns hábitos e costumes fortemente arraigados ao desenvolvimento humano. Apenas quando as pessoas forem sensibilizadas, conhecerem os problemas presentes em seu contexto e se incomodarem com isso é que ações poderão ser desenvolvidas. A mudança 43 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 de comportamento é uma emergência e para que isso aconteça, a educação ambiental é ferramenta essencial. REFERÊNCIAS ANTUNES, C. Introdução à educação. São Paulo: Paulus, 2014. BRASIL. Políticas de melhoria da qualidade da educação - Educação Ambiental. 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Relat. pdf. Acesso em: 16 dez. 2019. BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 27 maio. 2019. BRASIL. Constituição Federal. Dispõe sobre a Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 5 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fi ns e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L6938.htm. Acesso em: 2 dez. 2019. BRASIL. Lei n. 9795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 16 dez. 2019. BRASIL. Lei n. 11.936 de 14 de maio de 2009. Proíbe a fabricação, a importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso de diclorodifeniltricloretano (DDT) e dá outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2009/lei-11936-14-maio-2009-588179- norma-pl.html. Acesso em: 16 dez. 2019. BRASIL. Histórico da Educação Ambiental. 2019. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/historia.pdf. Acesso em: 2 jun. 2019. BRASIL. Carta de Belgrado. 2019. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/CBelgrado.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019. 44 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores CONAMA. Resolução Conama n. 1, de 23 de janeiro de 1986. Publicada no DOU, de 17 de fevereiro de 1986, Seção 1, páginas 2548-2549. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_ CONS_1986_001.pdf. Acesso em: 4 dez. 2019. GADOTTI, M. (trad) A questão da educação formal/não formal. Institut international des droits de l’enfant (IDE) Droit à l’éducation: solution à tous les problèmes ou problèmes nas solution? Sion (Suisse), 18 au 22 octobre. 2005. HOGAN, D. J. População e Meio Ambiente: a emergência de um novo campo de estudos. In: HOGAN D. J. (Org.) Dinâmica populacional e mudança ambiental: cenários para o desenvolvimento brasileiro. Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo, 2007. p.13-49. JACOBUCCI, D. F. C. Contribuições dos espaços não formais de educação para a formação da cultura científi ca. In: Em Extensão, Uberlândia, v. 7, 2008, p. 55-56. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/ view/20390/10860. Acesso em: 15 jun. 2019. LAYRARGUES, P. P. Educação Ambiental como compromisso social: o desafi o da superação das desigualdades. Cap. 1. In: Loureiro, C. F. B. et al. Repensar a Educação Ambiental: umolhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994 LOUREIRO, C. F. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2012. LOUREIRO, C. F.; TORRES, J. R. (orgs). Educação Ambiental: dialogando com Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2014. ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. 2015. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/ agenda2030/>. Acesso em: 4 dez. 2019. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara S.A, 1983. PEREIRA, D. S.; FERREIRA, R. B. 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Acesso em: 26 nov. 2019. 46 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores CAPÍTULO 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: Relatar os aspectos legais norteadores das ações de educação ambiental. Fazer: Discutir os principais aspectos da educação ambiental presente em documentos legais. Analisar a presença da temática em diferentes documentos. Constatar a importância deste trabalho para melhoria da qualidade de vida e construção de ações mais sustentáveis. 48 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores 49 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Como apresentamos no capítulo anterior, a educação ambiental se constituiu ao longo do tempo a partir de inúmeras discussões e da percepção que as próprias pessoas tiveram sobre a necessidade de mudar hábitos e costumes em prol da melhoria da qualidade do meio e de sua própria qualidade de vida. Internalizar essas atitudes passou a ser uma emergência para a própria sustentabilidade do planeta que não possui mais capacidade de carga para suportar todas as transformações que continuam sendo desenvolvidas. A capacidade de carga refere-se ao limite suportável para que o desenvolvimento do meio possa se manter. Refere-se a espaço, ocupação e disponibilidade de recursos naturais. O grande desafi o posto é alinhar as necessidades de desenvolvimento social e econômico com o equilíbrio do meio segundo o pilar da sustentabilidade que fala sobre ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. Essas características fazem parte dos pilares da sustentabilidade e norteiam as ações na área ambiental. Neste cenário, os espaços formais são locais privilegiados para multiplicação de informações que objetivem a sensibilização para que todos se sintam envolvidos e responsáveis pela mudança. O grande desafi o é entender essa necessidade e mobilizar-se com ações signifi cativas para este fi m, pois, questões culturais, os velhos hábitos e nem sempre perceber-se como parte dos problemas é algo muito comum entre as pessoas. Pensar na educação ambiental é romper com tudo isso e olhar de forma diferente, pensar como um verdadeiro ecocidadão e principalmente agir, pois de nada adianta a informação ser contextualizada se ela não refl etir em mudança de comportamento. Para alinhar esses discursos e as práticas, como não é uma disciplina obrigatória como acontece com ciências, matemática e história, por exemplo, legislações e outros documentos norteadores existem e contribuem para que propostas pedagógicas possam ser pensadas com mais critério. Conhecer e compreender a Política Nacional de Educação Ambiental, os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular contribuem para o desenvolvimento deste trabalho que pode ser potencializado a partir da formação continuada de professores. 50 Inserção Curricular da EA e a Formação de ProFessores 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A temática ambiental ganha destaque em todo território nacional a partir da Constituição Federal de 1988 que destina um capítulo específi co para tratar do meio ambiente afi rma que: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Para garantir a preservação da qualidade do meio, o equilíbrio que está expresso na constituição e ainda garantir o uso dos recursos naturais para as presentes e futuras gerações, algumas ações devem ser pensadas e planejadas para este fi m. Entre elas destacam-se: VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988). Dessa forma, documentos foram criados para contribuir com o que, desde 1988, era solicitado pela Constituição. Uma das discussões atreladas a esta necessidade gira em torno da obrigatoriedade deste trabalho. Alguns defendem que a Educação Ambiental deve ser colocada como um componente curricular e outros entendem a necessidade deste trabalho permeando todas as áreas do conhecimento e modalidades de ensino. Para compreender as modalidades de ensino praticadas atualmente a leitura da Lei de Diretrizes e Bases da Educação é indispensável. Desde 1996, a educação, em todo território brasileiro, é organizada em Educação Infantil, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II, Ensino Médio e depois de concluída a Educação Básica temos a continuidade dos estudos podendo ser desenvolvida no Ensino Superior. Essa organização passou por muitas mudanças desde a primeira LDB em 1961, depois com a LDB nº 5692 de 1971 e atualmente é regida pela legislação, disponível no link: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Vale a pena relembrar! 51 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 2 Para complementar a essa ideia, Lindner (2006 p.18) afi rma que: Assim, acredito na educação ambiental como uma nova fi losofi a de vida e que deve permear o nosso fazer científi co e acadêmico. Não como uma educação apenas ecológica que busca, no conhecimento das relações entre seres vivos e seu ambiente natural, explicações parciais para fatos observáveis. Não como atividades esporádicas que coloquem as pessoas em contato com a natureza por um tempo limitado de suas vidas. Não como uma disciplina a ser inserida nos currículos escolares e que pode se perder em mais um dos compartimentos de nossa prática cartesiana. Um trabalho amplo, com auxílio mútuo entre pesquisadores naturais e sociais, deve se tornar frequente, permitindo um enriquecimento na pesquisa em ciências ambientais (LINDNER 2006 p.18). No entanto, por que não considerar uma disciplina curricular? Estando na formação básica do currículo, não teríamos a garantia de que as informações chegariam até as pessoas? Os defensores dessa ideia afi rmam que, ao se tornar uma disciplina obrigatória a sensibilização poderia fi car secundária e ações mecanizadas, decoradas para uma situação específi ca, não alcançariam os objetivos de mudança que tanto se necessita. Não se trata de aprender mais ou menos, mas sim de internalizar ações efi cazes na transformação do meio. Para que esta percepção se torne presente
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