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Autora: Profa. Izilda Guedes Elias Colaboradoras: Profa. Sabrina Boto Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Didática Específica – Química Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 Professora conteudista: Izilda Guedes Elias Natural de São Paulo, cursou licenciatura em Ciências, Matemática e Biologia (1997) pela Unisantos e licenciatura em Química pela Unisanta e Administração Escolar. Especializou‑se em Engenharia Ambiental (Unisantos – 2007) e Gestão Escolar (Unicamp). Concluiu o mestrado em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicsul (2014). Foi professora efetiva da rede pública da Escola Estadual Canadá e da rede privada Colégio Objetivo, diretora de escola pública e supervisora de ensino. Atua, desde 2008, como docente da Universidade Paulista, leciona nos cursos de Ciências Contábeis, Engenharia Mecânica, Comércio Exterior, Logística, Recursos Humanos, Educação Física. É líder das disciplinas de Química I e II, Tratamento de Efluentes, Energias Renováveis e não Renováveis e conteudista responsável pela elaboração do material on‑line do curso de Licenciatura em Química. Atualmente é doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicsul. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) E42d Elias, Izilda Guedes. Didática Específica ‑ Química / Izilda Guedes Elias – São Paulo: Editora Sol, 2019. 80 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2‑014/19, ISSN 1517‑9230. 1. Planejamento. 2. Tendências pedagógicas. 3. Avaliação. I. Título. CDU 54 U501.83 – 19 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Vitor Andrade Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 Sumário Didática Específica – Química APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 1 O ESTUDO DA DIDÁTICA E DA DIDÁTICA QUÍMICA ..............................................................................9 1.1 Didática geral ............................................................................................................................................9 1.2 Didática específica da Química ....................................................................................................... 11 2 PARADIGMAS EDUCACIONAIS ................................................................................................................... 12 2.1 Escola tradicional ................................................................................................................................. 13 2.2 Escola nova ............................................................................................................................................. 13 2.3 Escola construtivista ........................................................................................................................... 14 3 PLANEJAMENTO DA AÇÃO PEDAGÓGICA .............................................................................................. 16 3.1 Planejamento e plano......................................................................................................................... 16 3.2 Planejamento da educação .............................................................................................................. 18 3.2.1 Planejamento de um sistema educacional................................................................................... 18 3.2.2 Planejamento escolar ............................................................................................................................ 18 3.2.3 Planejamento curricular ...................................................................................................................... 19 3.2.4 Planejamento didático ou de ensino .............................................................................................. 19 3.3 Projeto político‑pedagógico ............................................................................................................ 22 4 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS ...................................................................................................................... 23 4.1 Práticas pedagógicas liberais ........................................................................................................... 24 4.1.1 Liberal tradicional ................................................................................................................................... 24 4.1.2 Liberal renovada progressista ............................................................................................................ 24 4.1.3 Liberal renovada não diretiva ............................................................................................................ 24 4.1.4 Liberal tecnicista ..................................................................................................................................... 25 4.2 Prática pedagógica progressista .................................................................................................... 25 4.2.1 Progressista libertadora ........................................................................................................................ 25 4.2.2 Progressista libertária ............................................................................................................................ 25 4.2.3 Progressista crítico‑social.................................................................................................................... 26 5 A REGULAMENTAÇÃO NACIONAL SOBRE A EDUCAÇÃO ................................................................. 27 5.1 LDB – Lei de Diretrizes e Bases ....................................................................................................... 27 5.2 DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais ..................................................................................... 28 5.3 BNCC – Base Nacional Comum Curricular ................................................................................ 31 5.4 Orientações Curriculares para o Ensino Médio ........................................................................36 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 6 A ABORDAGEM DO ENSINO DE QUÍMICA ............................................................................................. 39 6.1 Ensino‑aprendizagem de Química ................................................................................................ 39 7 ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE QUÍMICA ................................................................ 41 7.1 Estratégia, a experimentação .......................................................................................................... 43 7.1.1 Laboratório e uso .................................................................................................................................... 44 7.2 Tecnologia educacional ..................................................................................................................... 51 8 AVALIAÇÃO ........................................................................................................................................................ 54 8.1 Avaliações formativa, diagnóstica e somativa ......................................................................... 56 8.2 Avaliação externa ................................................................................................................................. 60 7 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 APRESENTAÇÃO Caro aluno, A Química é uma ciência que exerce grande influência na vida cotidiana, e ao ensiná‑la é necessário a contextualização dos conceitos na sala de aula. A contextualização apresenta‑se como um modo de ensinar conteúdos das ciências ligados à vivência dos alunos e pode ser pensada como recurso pedagógico ou como princípio norteador do processo de ensino, além de caracterizar‑se pelas relações estabelecidas entre o que o indivíduo sabe e o que aprenderá. Pensando a didática na forma de contextualização teoria e prática, conforme Valente (2009), na Química tal fato tem que ser uma relação direta com o cotidiano, demonstrando esta proximidade. Então, com essas novas concepções metodológicas nasce outro olhar sobre o ensino de Química, originando uma nova área de pesquisa: didática da Química, uma ciência indispensável para a compreensão do mundo. A disciplina Didática Específica – Química tem como objetivo: • auxiliar nas novas formas de transformar conteúdos científicos e tecnológicos em saberes escolares; • analisar diferentes tendências pedagógicas visando à fundamentação da própria prática; • refletir sobre o papel do professor na formação dos estudantes; • elaborar alternativas práticas para a promoção do ensino‑aprendizagem. • avaliar e identificar metodologias, estratégias e recursos adequados para docência em escolas de Ensino Fundamental e Médio a respeito dos conteúdos desenvolvidos em Química; • compreender o papel da didática no desenvolvimento do trabalho docente; • examinar as características e peculiaridades do professor e a sua respectiva prática pedagógica no ensino de Química. Enfim, sendo a Química integrante das Ciências da Natureza, é preciso ter em mente que a didática apropriada para esta disciplina requer a percepção de mundo e de fatos que acontecem e a partir disto buscar a resposta a uma hipótese, ou seja, fazer ciência de fato é a essência da Química. 8 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 INTRODUÇÃO A globalização é um fenômeno do modelo econômico capitalista, que consiste no estabelecimento das relações com todas as partes do mundo, assim o mundo moderno caracteriza‑se como “sociedade do conhecimento e da informação”. O aumento do fluxo de informações com o avanço das telecomunicações impõe diversas transformações na sociedade, além de influenciar a educação. Nesse contexto de mudanças, a escola necessita de adequações perante as necessidades atuais. Como fica a prática pedagógica do professor em sala de aula? A didática expressa uma prática pedagógica que decorre da relação professor‑aluno, ou seja, o objeto de estudo da didática é o ensino. O objetivo desse livro‑texto é demonstrar a importância da didática no ensino de Química, principalmente no que se refere à assimilação dos conceitos e seu entendimento nos diferentes contextos, traçar um panorama geral sobre as novas propostas e estratégias didáticas. A didática geral, segundo Valente (2009, p. 1), é uma ciência teórico‑prática que pesquisa, experimenta e sugere formas de comportamentos a serem adotados no processo ensino‑aprendizagem, resultando na eficiência e eficácia das aulas, sendo ferramenta cotidiana do professor, tendo uma contínua evolução, portanto o professor deve se aperfeiçoar e atualizar seu conhecimento sobre novas técnicas que possam ser utilizadas em sala de aula. Consequentemente, o foco da didática é ajudar o aluno a aprender a aprender; no caso da Química, entender sua importância na vida pessoal e profissional futura ou presente, e o professor deve estar também atualizado no que ocorre nessa ciência sempre em evolução. Observa‑se no ensino de Química que as práticas dos professores ainda estão fundamentadas nas formas de ensinar de seus professores e que os docentes são muito técnicos e ainda cobram que o aluno decore conceitos nesta disciplina, esquecendo‑se de contextualizar e trazer o cotidiano até os discentes, além de mostrar como podem adquirir o conhecimento exigido, entendo os pensamentos sem a necessidade de decorá‑los. O ensino de Química deve ser problematizador e desafiador para a condução do aluno à construção do saber científico. Vale lembrar da importância da leitura do mundo em que se vive, primeiro porque o aluno apresenta interesses pelas ciências, que está interagindo aos aspectos sociais e compreensão científica da vida. Além disso, a partir desta leitura de mundo, é essencial que o estudo da Química possa conduzi‑lo a pensamentos e ações que levem a discussões cabíveis e necessárias acerca da manutenção da preservação; a Química pode e deve construir um conhecimento específico atrelado às questões de conservação. 9 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA 1 O ESTUDO DA DIDÁTICA E DA DIDÁTICA QUÍMICA 1.1 Didática geral Jan Amos Komenský (1592‑1670) foi um bispo protestante da Igreja Morávia, educador, cientista e escritor tcheco, conhecido como Comenius; é considerado por muitos “Pai da Pedagogia” e “Pai da Didática”, sua obra é conhecida como Didactica Magna, que significa “a arte de ensinar” e marca o início da sistematização da pedagogia. Segundo ele, a Didática era a arte universal de ensinar tudo a todos. Assim, a palavra didática vem da expressão grega Τεχνή διδακτική, que quer dizer arte ou técnica de ensinar. Ele já destacava a complexidade do processo de ensino e de aprendizagem e dizia “[...] os docentes ensinem menos e os discentes aprendam mais; que nas escolas haja menos conversa, menos enfado e trabalhos inúteis, mais tempo livre, mais alegria e mais proveito [...] (COMENIUS, 1997, p. 12)”. Figura 1 – Jan Amos Komenský 10 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Figura 2 – Livro Orbis Pictus A figura anterior é do livro Orbis Pictus, considerado o primeiro livro didático ilustrado e a primeira cartilhado mundo cristão ocidental. Ele foi utilizado na Europa reformista durante mais de dois séculos após sua publicação. A obra Didactica Magna era parte de um conjunto de obras denominadas Ráj Český (Paraíso Boêmio), que continha didática geral e uma didática especial. Para Comenius (1997, p. 231), os conhecimentos a serem ensinados exigem estratégias diferenciadas para o ensino e a aprendizagem. Ele abordava o método para o ensino das ciências em um capítulo do livro Didática Magna, tratando‑a como “o conhecimento das coisas”, e o autor propunha o método indutivo, valorizando a observação direta e a observação sensível. Segundo Oliveira, (2009, p. 30) Comenius propôs “um ensino unificado, pautado em uma educação realista e permanente; um método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga e um ensino a partir de experiências cotidianas”. A educação deveria ter início com os sentidos e posteriormente interpretado pela razão, dessa forma a educação era um elo que conduzia a felicidade eterna com Deus, portanto, era um direito natural de todos. Ainda, segundo Comenius, 11 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Que todos sejam educados para uma cultura não vistosa, mas verdadeira, não superficial, mas sólida, de tal sorte que o homem, como animal racional, seja guiado pela própria razão, e não pela de outrem, e se habitue não só a ler e a entender nos livros as opiniões alheias e a guardá‑las de cor e a recitá‑las, mas a penetrar por si mesmo na raiz das coisas e delas extrair autêntico conhecimento e utilidade. A mesma solidez é necessária para a moral e a piedade” (COMENIUS, 1997, p. 110). A educação é para todos onde há formação total e integral do homem, não só importando o conhecimento. Na Didactica Magna, a tríade: intelecto, vontade e fé eram parte da essência humana. A didática deveria estudar características e métodos de ensino que respeitassem o desenvolvimento natural do homem, a idade, as percepções, observações, além de explicar uma coisa de cada vez, respeitando a compreensão da criança, partindo do conhecido para o desconhecido. A definição didática foi se modificando ao longo dos tempos e, atualmente, refere‑se a uma área importante da Pedagogia e se trata de uma disciplina fundamental na formação de professores. 1.2 Didática específica da Química Dessa forma, como fica a didática da Química? A palavra ”química” vem do árabe al‑kimiya e do grego khemeioa e é a ciência que se dedica ao estudo da matéria e leva em conta a sua composição, suas reações e suas transformações e suas energias. Existem muitas dificuldades em aprender a ciência química, devido ao alto grau de abstração, grande quantidade de conceitos e de modelos. O uso da didática em aula pode ajudar o aluno aprender a aprender a Química, sem a famosa “decoreba”; dessa forma, a prática do professor deve ser diversificada e atrativa, contextualizada e trazer o cotidiano até os discentes. A Química, assim como outras ciências, exerce grande influência na vida cotidiana, e seu estudo, portanto, não se limita aos estudos e pesquisas de laboratórios e de produção industrial (USBERCO, SALVADOR, 2007). O conhecimento químico precisa ser sempre construído a partir do senso comum, ou seja, a soma dos saberes do cotidiano que é formado a partir de hábitos, crenças, preconceitos e tradições, que todos os alunos trazem de casa. Segundo Cotrim (2002, p. 46), “o senso comum é um vasto conjunto de concepções geralmente aceitas como verdadeiras em determinado meio social. O conhecimento químico é parte integrante do nosso dia a dia e pode ser usado em nosso benefício. 12 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA O conhecimento da Química é composto de componentes macroscópicos, microscópicos e simbólicos e essa integração é um processo no qual ocorre seu entendimento. O conhecimento químico pode se apresentar em três formas de abordagem: Quadro 1 – Formas de conhecimento químico Forma de abordagem Universo Fenomenológica Macroscópico – associado aos sentidos Representacional Simbólico – relacionado ao uso de símbolos Teórica Microscópico – constituído pela manipulação mental de entidades abstratas – átomos e moléculas Observação O ensino de Química, tanto no Ensino Básico quanto na universidade, utiliza‑se da transmissão de conceitos e de princípios químicos com ênfase nas fórmulas associadas em detrimento do significado lógico e interpretação química. Neste contexto, sabe‑se que os estudantes não estabelecem relações apropriadas entre o nível macro e o microscópico, e não conseguem transladar de uma representação química para outra. 2 PARADIGMAS EDUCACIONAIS O conceito de paradigma foi originalmente proposto pelo físico americano Thomas Kuhn, que muito contribuiu com a filosofia da ciência, propondo uma ideia que, em vez de explicar, descreve a evolução do desenvolvimento científico. Em seu livro, A Estrutura das Revoluções Científicas (1970), Kuhn diz que: “[...] um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma” (KUHN, 1970, p. 219). Um paradigma é a representação de regras ou modelos a serem seguidos e a ciência só se estrutura quando se adota um paradigma. Diante do exposto, os diversos paradigmas que foram utilizados influenciaram a sociedade, todas as áreas do conhecimento, a educação e, por decorrência, a prática pedagógica e a formação de professores. No século XX, o paradigma predominante na educação era o tradicional e, no fim do regime da Ditadura Militar (1964 – 1985), ele tornou‑se ineficaz. Com a nova Constituição Federal de 1988, que estabeleceu princípios democráticos, um novo paradigma surge, assim, os objetivos educacionais apresentaram mudanças, em uma sociedade que exige que seus cidadãos sejam críticos e criativos, capazes de argumentar e solucionar problemas. 13 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA 2.1 Escola tradicional No século XX, o paradigma predominante na educação era o tradicional. Essa escola se fez presente no contexto escolar, no qual a abordagem do processo de ensino‑aprendizagem se baseava em uma prática educativa que prosseguia no tempo, ou seja, o aluno era o receptor da tradição cultural. A escola era hierarquizada, com normas rígidas de disciplina e caracterizada pelo conteudismo, exercícios de fixação e memorização, no qual o conceito de ensino era a transmissão de conhecimentos, instruções, repassar conteúdos prontos, e o aprender era memorizar e acumular informações, as aulas eram expositivas e explicativas. O professor dominava os assuntos e segundo Saviani (1988), o método tradicional era intelectualista e enciclopédico, visto que trabalhava os conteúdos separadamente da experiência do aluno e das realidades sociais. Tanto o século XIX quanto o XX foram marcados pela influência do pensamento newtoniano e cartesiano e, segundo Behrens (2005), consistia na separação da mente e matéria, com a fragmentação do conhecimento em diversas partes para buscar maior eficácia. Masetto (2003, p. 79), ao referir‑se ao método tradicional de ensino, lembra que o uso (e abuso) da técnica de aula expositiva precisa ser repensado: quando usá‑la? para que usá‑la? 2.2 Escola nova A partir do fim do século XIX, na busca pela superação da concepção tradicional, surgiram iniciativas visando à implantação de novas formasde ensino. Aparece, então, a Escola Nova, com uma proposta de inovação, na qual o aluno passa a ser o centro do processo. O professor se torna facilitador da aprendizagem, priorizando o desenvolvimento psicológico e a autorrealização do educando, agora agente ativo, criativo e participativo no ensino‑aprendizagem. Os conteúdos ganham significação, são expostos através de atividades variadas como trabalhos em grupo, pesquisas, jogos, experiências, entre outros. Sua principal característica é “aprender a aprender”. Segundo Lourenço Filho (1978), na Escola Nova, [...] os alunos são levados a aprender observando, pesquisando, perguntando, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo situações problemáticas apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicos (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 151). No Brasil, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) marcou um grande momento histórico na educação brasileira, sendo inspirado nas ideias pedagógicas e filosóficas da Europa e dos Estados Unidos, com as concepções de John Dewey e Durkheim, tendo como principais personagens Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira. Assim, surge a Escola Nova ou Escola Ativa, um movimento de renovação do ensino sob as transformações sociais e políticas. 14 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Na década de 1960, ocorreram grandes transformações, com movimentos de estudantes, liberação sexual, movimentos de contracultura, entre outros, e dentro da escola novista surgem movimentos tecnicistas. Uma nova proposta educacional surge e é denominada tendência tecnicista, que é produto de um momento do que acontecia no trabalho da sociedade da época. A abordagem tecnicista determina o processo de aquisição de habilidades e atitudes, conhecimentos específicos necessários para que o indivíduo se integre no sistema social global. Na pedagogia tecnicista, o aluno e o professor ocupam uma posição secundária, pois o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso. 2.3 Escola construtivista O século XX é marcado por muitas transformações, nele surge uma das teorias mais importantes na educação, a Teoria Construtivista, a partir das experiências de Jean Piaget (1896‑1980), que observou que o conhecimento se constrói na interação do sujeito com o meio em que ele vive. Para Vygotsky (1987), o aprendizado decorre da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a sociedade. Segundo Coutinho e Moreira (1991, p. 23), “Vygotsky e os outros teóricos russos enfatizam o papel dos determinantes socioculturais na formação das estruturas comportamentais”. Conforme Carretero (1997), o construtivismo é a ideia que sustenta que o indivíduo – tanto nos aspectos cognitivos quanto sociais do comportamento como nos afetivos – não é um mero produto do ambiente nem um simples resultado de suas disposições internas, mas, sim, uma construção própria que vai se produzindo, dia a dia, como resultado da interação entre esses dois fatores. Em consequência, segundo a posição construtivista, o conhecimento não é uma cópia da realidade, mas, sim, uma construção do ser humano (CARRETERO, 1997, p. 10). Jerome Bruner (1961) também baseou suas pesquisas na cognição, destacando que a estrutura cognitiva é fundamental para o aprendizado. Portanto, a aprendizagem é um processo de construção que envolve várias etapas, nela o aluno amplia suas ideias, que devem ser relacionadas com os seus conhecimentos. Outra importante contribuição se dá por meio de Henri Wallon, um estudioso que se dedicou ao entendimento do psiquismo humano e participou ativamente de debates em torno do tema Educação. Ele foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas suas emoções para dentro da sala de aula. Suas ideias eram fundamentadas em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu. 15 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Segundo Miras: É provável que, como professores, se tivéssemos em nossas mãos a lâmpada de Aladim, [...] um de nossos desejos seria que a mente de nossos alunos estivesse em branco, como uma lousa limpa na qual poderíamos ir escrevendo o que queremos que aprendam (MIRAS, 2006, p. 57). Os conhecimentos prévios dos alunos são importantes. Como destacam Miras (2006) e Zabala (2002), “[...] o fator mais importante que influi na aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. Isto deve ser averiguado e o ensino deve depender desses dados” (MIRAS, 2006. p. 66). Eles destacam que um novo conteúdo está na capacidade de utilizar e atualizar os conhecimentos prévios do estudante. O pesquisador norte‑americano David Paul Ausubel (1918‑2008) propôs o conceito de aprendizagem significativa, que é ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos (conhecimentos prévios). Observação Pense na importância dos conhecimentos prévios dos alunos e dos benefícios ao processo ensino‑aprendizagem e que a avaliação é um instrumento a serviço da aprendizagem. No construtivismo, a aprendizagem se dá pela reconstrução dos conhecimentos pelo próprio aluno num processo de interação com os conteúdos conceituais, baseando‑se numa metodologia de pesquisa bem parecida com o “fazer científico” dos pesquisadores já experientes em ciências (CARVALHO; GIL‑PÉREZ, 2011), em que a tarefa do professor é planejar, elaborar e organizar atividades relevantes individuais ou em grupo. O construtivismo é resultado da interação entre o homem e o meio, através da passagem de um estado de desenvolvimento para o seguinte, sendo sua construção contínua. Essa passagem é sempre caracterizada por formação de novas estruturas que não existiam (MIZUKAMI, 1986). Nota‑se que o aluno é participante ativo do seu próprio conhecimento, a avaliação neste modelo de ensino deve utilizar parâmetros extraídos da própria teoria: implicará verificar se o aluno já adquiriu noções, conservações, realizou operações, relações etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo com a sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida. Uma das formas de se verificar o rendimento é através de reproduções livres, com expressões próprias, relacionamentos, reprodução sob diferentes formas e ângulos, explicações práticas, explicações causais etc. (MIZUKAMI, 1986, p. 82). 16 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Como os fenômenos químicos estão vinculados aos acontecimentos cotidianos, procura‑se desenvolver nos alunos o espírito de cidadania, mudar o paradigma com relação ao modo de pensar. Os conhecimentos são mais facilmente transmitidos e construídos quando as experiências exigidas pelas teorias da Química se baseiam em conteúdos que têm um significado prático para o aluno, é quando ocorre a aprendizagem. Será que o discente está preparado para receber certos conhecimentos? O ensino da teoria atômica será usado como exemplo por ser um assunto bastante abstrato, ou seja, como entender esse assunto se o aluno ainda nem conhece as propriedades químicas e físicas? Portanto, construtivismo não é uma cartilha, mas um meio para o professor refletir e analisar sobre sua prática. O ensino deve ser propício à realidade do indivíduo, para formar cidadãos críticos e reflexivos. Para Becker (1992),construtivismo é, portanto, uma ideia; melhor, uma teoria, um modo de ser do conhecimento ou um movimento do pensamento que emerge do avanço das ciências e da Filosofia dos últimos séculos. Uma teoria que nos permite interpretar o mundo em que vivemos. No caso de Piaget, o mundo do conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento. Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem; não é um projeto escolar; é, sim, uma teoria que permite (re)interpretar todas essas coisas, jogando‑nos para dentro do movimento da História – da Humanidade e do Universo (BECKER, 1992, p. 8). O construtivismo faz uma conexão entre o teórico e a vida dia a dia, proporcionando ao aluno o estímulo e o desenvolvimento da capacidade de pensar, de questionar e raciocinar. Para que haja uma construção de conhecimento, deve existir uma interação entre professor e aluno. Assim, o professor deve assumir o papel organizador na sala de aula, a fim de construir o conhecimento. Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa sobre o construtivismo. Na sequência, reflita sobre como explicar a inteligência do homem e seu desenvolvimento. 3 PLANEJAMENTO DA AÇÃO PEDAGÓGICA 3.1 Planejamento e plano As definições e os conceitos discutidos na sequência são importantes para a formação do docente que vai ensinar os conteúdos de Química e formar o aluno como um cidadão atuante. “Planejar e elaborar o plano de aula faz parte da competência teórica do professor, e dos compromissos com a democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas aulas [...]” (FUSARI, 2008, p. 47). 17 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA “O planejar é uma realidade que acompanhou a trajetória histórica da humanidade. O homem sempre sonhou, pensou e imaginou algo na sua vida” (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2001, p. 15), o planejamento faz parte da vida e é importante no contexto escolar. Para Moretto (2010), planejar é organizar ações, ou seja, o planejamento é uma ferramenta que deve ser utilizada para a organização na tomada de decisões. O planejamento envolve a atuação do professor no cotidiano de seu trabalho pedagógico, as ações, as interações entre os educadores e educandos, ou seja, ele define e coloca em ação as situações de ensino‑aprendizagem. É um instrumento direcional de todo o processo educacional, pois estabelece e determina as grandes urgências, indica as prioridades básicas, ordena e determina todos os recursos e meios necessários para a consecução de grandes finalidades, metas e objetivos da educação (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2001, p. 40). O que é plano e planejamento? Existem diferenças? Para Luckesi (1990), o planejamento é uma ação ideologicamente comprometida, não possui caráter de neutralidade” (1990 p. 117); se ele não é neutro, então será, ao mesmo tempo, político‑social, científico e técnico. Para Fusari (1989, p. 10), “planejamento é o processo que envolve a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os educadores e entre os próprios educandos”; destaca que o plano de ensino é um momento de documentação do processo educacional escolar como um todo. Azanha (1993)ilustra o seguinte a respeito do planejamento como ação de promoção do ensino: O significado do termo “planejamento” é muito ambíguo, mas no seu uso trivial ele compreende a ideia de que sem um mínimo de conhecimento das condições existentes numa determinada situação e sem um esforço de previsões das alterações possíveis desta situação nenhuma ação de mudança será eficaz e eficiente, ainda que haja clareza dos objetivos dessa ação. Nesse sentido trivial, qualquer indivíduo razoavelmente equilibrado é um planejador [...]. Não há uma “ciência do planejamento” nem mesmo há métodos de planejamentos gerais e abstratos que possam ser aplicados a tantas variedades de situações sociais e educacionais, principalmente se considerarmos a natureza política, histórica, cultural, econômica etc. (AZANHA, 1993, p. 70‑78). Para Moretto (2007‑2010), planejar é organizar ações, mostrar a importância o de planejar, porque o planejamento deve facilitar o trabalho tanto do professor com do aluno. 18 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Segundo Haydt (2008), plano é o resultado, é a culminância do processo mental de planejamento. O plano, sendo um esboço das conclusões resultantes do processo mental de planejar, pode ou não assumir uma forma escrita. 3.2 Planejamento da educação A educação e o ensino apresentam vários tipos de planejamento, que variam em abrangência e complexidade: • Planejamento de um sistema educacional. • Planejamento escolar. • Planejamento de currículo. • Planejamento didático ou de ensino: — planejamento de curso; — planejamento de unidade didática ou de ensino; — planejamento de aula. 3.2.1 Planejamento de um sistema educacional O planejamento de um sistema educacional é feito em nível nacional, estadual e municipal e reflete a política da educação adotada. Após a análise e reflexão do sistema é possível definir as prioridades e metas para o sistema educacional. 3.2.2 Planejamento escolar O planejamento escolar é o processo de tomada de decisão com relação aos objetivos a serem atingidos e à previsão das ações, tanto pedagógicas como administrativas que devem ser executadas por toda a equipe escolar, para o bom funcionamento da escola (HAYDT, 2011). Todos os segmentos da escola, inclusive pais e alunos, devem fazer parte da elaboração do planejamento escolar. O plano escolar é o resultado do planejamento escolar. Vale lembrar que algumas etapas constituem o processo: • características da comunidade; • características da clientela escolar; • levantamento dos recursos humanos e materiais disponíveis; • avaliação da evasão, repetência, dificuldades encontradas e aprovação. 19 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA O planejamento deve conter objetivos, carga horária, organização da escola, calendário escolar, avaliação, reposição, se houver necessidade, sistema disciplinar e um plano com as programações das atividades classes e extraclasse. 3.2.3 Planejamento curricular O planejamento curricular, de acordo com Sacristán (2000), tem o objetivo de [...] planejar o currículo para seu desenvolvimento em práticas pedagógicas concretas, não só exige ordenar seus componentes para serem aprendidos pelos alunos, mas também prever as próprias condições do ensino no contexto escolar ou fora dele (SACRISTÁN, 2000, p. 282). Fica claro que no planejamento curricular é preciso propor os objetivos da ação educativa que se deseja alcançar com os objetivos gerais e os conteúdos programáticos de cada componente. O planejamento curricular é a organização da dinâmica escolar. Trata‑se de um instrumento que sistematiza as ações escolares do espaço físico às avaliações da aprendizagem. As diretrizes do Conselho Federal de Educação devem ser seguidas para a organização curricular no que se refere ao núcleo comum. 3.2.4 Planejamento didático ou de ensino O planejamento didático ou de ensino retrata a personalidade do professor, suas concepções individuais, sua capacitação profissional. Planos elaborados por outros, ou mesmo por equipes de educadores, poderão ser consultados como fontes de ideias, mas nunca deveremoscopiá‑los. “Todo trabalho didático tem de ser criativo, jamais repetitivo” (CARVALHO apud HAYDT, 2008, p. 100). O docente, ao planejar, deve organizar as etapas do seu trabalho. As etapas são: o que o professor deseja alcançar, quais os recursos disponíveis, quais os objetivos educacionais e selecionar os conteúdos que serão tratados na aula. O planejamento didático envolve operações mentais, como: refletir, analisar, selecionar, definir e prever as formas para essas ações. Seja criativo. O plano de ensino ou programa da disciplina deve conter os dados de identificação da disciplina, ementa, objetivos, conteúdo programático, metodologia, avaliação e bibliografia básica e complementar da disciplina. Para Libâneo, o plano de ensino “é a previsão dos objetivos e tarefas do trabalho docente para um ano ou um semestre; é um documento mais elaborado, no qual aparecem objetivos específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológico” (LIBÂNEO, 1994, p. 222). O planejamento didático pode ser classificado do seguinte modo: 20 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Quadro 2 –Tipos de planejamento didático Planejamento de curso O objetivo são os conteúdos, as metodologias, os procedimentos e as técnicas a serem utilizadas no processo de ensino‑aprendizagem. Planejamento de unidade Esse plano procura reunir, de forma organizada, temas ou conteúdos listados, que devem se inter‑relacionar e se complementar, para formar um conjunto compreensível, devido a sua significação. Planejamento de aula É um instrumento de trabalho do professor, que especifica o que será realizado em sala, buscando com isso aprimorar a sua prática pedagógica e o melhor para a aprendizagem do discente. Todo planejamento deve retratar a prática pedagógica da escola e do professor. No entanto, a história da educação brasileira demonstra que o planejamento educacional tem sido uma prática desvinculada da realidade social, marcada por uma ação mecânica, repetitiva e burocrática, contribuindo pouco para mudanças na qualidade da educação escolar. Por isso, caro(a) aluno(a), ao estudar esta unidade, reflita sobre a importância do planejamento como uma prática crítica e transformadora do pedagogo; por isso, faz‑se necessário que se compreendam as duas dimensões que constituem o planejamento: dimensão política – toda ação humana é eminentemente uma ação política. O planejamento não pode ser uma ação docente encarada como uma atividade neutra, descompromissada e ingênua. Mesmo quando o docente “não” planeja, ele traduz uma escolha política. A ação de planejar é carregada de intencionalidades, por isso, o planejamento deve ser uma ação pedagógica comprometida e consciente. Dimensão técnica – o saber técnico é aquele que permite viabilizar a execução do ensino, é o saber fazer a atividade profissional. No caso da prática do planejamento educacional, o saber técnico determina a competência para organizar as ações que serão desenvolvidas visando à aprendizagem dos alunos. Cabe ao professor saber fazer, elaborar e organizar a prática docente. Morin (1999) diz sobre as quatro aprendizagens fundamentais para alicerçarem o conhecimento. Verifique que a dimensão técnica é a segunda aprendizagem: aprender a fazer – para poder agir sobre o meio envolvente. A dimensão técnica do conhecimento é o aprender do aluno a fazer fazendo. O planejamento de aula organiza ações referentes ao trabalho na sala de aula. É o que o professor prepara para o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos coerentemente articulado com o planejamento curricular, com o planejamento escolar e com o planejamento de ensino. Por ser uma atividade de natureza prática, o planejamento organiza‑se em etapas sequenciais, que devem ser rigorosamente respeitadas no ato de planejar: 1. Diagnóstico sincero da realidade concreta dos alunos. Estudo real da escola e a sua relação com todo contexto social que está inserida. 2. Os alunos e os professores possuem uma experiência social e cultural que não pode ser ignorada pelo planejamento. 3. Organização do trabalho pedagógico. Nesta etapa os elementos da didática são sistematizados através de escolhas intencionais. Definição de objetivos a serem alcançados, escolha de conteúdos a serem aprendidos pelos alunos e a seleção das atividades, técnicas de ensino, que serão desenvolvidas para que a aprendizagem dos alunos se efetive. Esse momento representa a organização da metodologia de ensino. 4. Sistematização do processo de avaliação da aprendizagem. Avaliação entendida como um meio, não um fim em si mesma, mas um meio que acompanha todo processo da metodologia de ensino. A avaliação deve diagnosticar, durante a aplicação da metodologia de ensino, como os alunos estão aprendendo e o que aprenderam, para 21 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA que a tempo, se for necessário, a metodologia mude seus procedimentos didáticos, favorecendo a reelaboração do ensino, tendo em vista a efetiva aprendizagem. Um plano de aula deve apresentar objetivo, metas, estratégias, avaliação e o principal, entender as dificuldades do aluno. Trata‑se de um instrumento que sistematiza todos os conhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar em uma determinada aula, tendo em vista o que se espera alcançar como objetivos junto aos alunos, segundo Libâneo (1993). O plano de aula é um detalhamento do plano de curso/ensino, devido à sistematização que faz das unidades deste plano, criando uma situação didática concreta de aula. Gil (2012, p. 39) explica que “o que difere o plano de ensino do plano de aula é a especificidade com conteúdos pormenorizados e objetivos mais operacionais”. Para Piletti (2001), plano de aula É a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo. [...] É a sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino‑aprendizagem (PILETTI, 2001, p. 73). O plano de aula visa a liberdade de ação e não pode ser planejado somente pelo bom senso, sem bases científicas que norteiem o professor (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2001). Segundo Gutenberg (2008, p. 21) essa base científica utilizada para organizar o trabalho pedagógico são os pilares e princípios da Educação, anunciados e exigidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96). O professor deve ensinar os conteúdos e formar o aluno para que ele se torne um cidadão atuante na sociedade, então seu plano de aula deve estar organizado para que o estudante perceba a importância do que está sendo ensinado, no contexto histórico, no cotidiano e para seu futuro. Para elaborar o plano de aula, o docente tem de conhecer a si e a seus alunos, bem como a epistemologia e a metodologia mais adequada para eles. Para Fusari (2008), O preparo das aulas é uma das atividades mais importantes do trabalho do profissional de educação escolar. Nada substitui a tarefa de preparação da aula em si. [...] faz parte da competência teórica do professor, e dos compromissos com a democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas aulas [...] (FUSARI, 2008, p. 47). Com relação ainda aos conteúdos a serem elencados no plano de ensino é obrigatório ter‑se em mente que se deve ensinar o que é significativo sobre o mundo, a vida, a experiência existencial, as possibilidades de mudança, o trabalho, o passado, o presente e o futuro do homem (MARTINS, 1995) Veja o que escreve o professor Libâneo sobre os conteúdos de ensino: 22 Re vi sã o: K le be r S ou za - Dia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua vida prática. Englobam, portanto: conceitos, ideias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras; habilidades cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho e de convivência social; valores, convicções e atitudes. São expressos nos programas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, nas atitudes e convicções do professor, nos exercícios, nos métodos e forma de organização do ensino. Podemos dizer que os conteúdos retratam a experiência social da humanidade no que se refere a conhecimentos e modos de ação, transformando‑se em instrumentos pelos quais os alunos assimilam, compreendem e enfrentam as exigências teóricas e práticas da vida social. Constituem o objeto de mediação escolar no processo de ensino, no sentido de que a assimilação e compreensão dos conhecimentos e modos de ação se convertem em ideias sobre as propriedades e relações fundamentais da natureza e da sociedade, formando convicções e critérios de orientação das opções dos alunos frente às atividades teóricas e práticas postas pela vida social (LIBÂNEO, 1991, p. 128‑129). Desta forma, fica evidente que a ação de promover a construção do conhecimento está para além do simples ato de elencar conteúdos e formas de desenvolvê‑lo, mas sim promover a articulação entre realidade, aquisição do conhecimento e estratégias de ensino. Lembrete Todo planejamento deve retratar a prática pedagógica da escola e do professor. 3.3 Projeto político-pedagógico O Projeto Político‑Pedagógico (PPP) é uma referência norteadora de todos os âmbitos da ação educativa da escola, portanto a sua elaboração deve ser coletiva, ter a participação de todos da comunidade escolar. Segundo o MEC (Ministério da Educação e Cultura) o PPP é: O planejamento geral que envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. É um processo de organização e coordenação da ação dos professores. Ele articula a atividade escolar e o contexto social da escola. É o planejamento que define os fins do trabalho pedagógico (BRASIL, 2006, p. 42). Nas Orientações Curriculares (BRASIL, 2006), o projeto pedagógico e o currículo da escola devem ser objetos de ampla discussão para que, suas propostas se aproximem sempre mais do currículo real e que se efetiva no interior da escola e de cada sala de aula. 23 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA A escola faz parte da história do homem, que passou por muitas transformações, então planejar implica preocupar‑se com a aprendizagem, com a obtenção do conhecimento. Assim, como fazer? O domínio do conteúdo é primordial, por ser entendido, como um conjunto de conhecimentos que são transmitidos pelo professor ao aluno. De que forma? E o ensino de Química? Saber lidar com alunos em sala de aula, manter a harmonia no ambiente, a concentração nas disciplinas ministradas e assimilação dos conteúdos são tarefas desafiadoras para o professor, ainda mais com o avanço da tecnologia e da globalização. Nos dias atuais, o trabalho pedagógico tem sido solicitado em forma de projeto, o planejamento escolar pode estar contido no Projeto Político‑Pedagógico (PPP), ou no Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE). 4 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS Segundo Freire (2000), “só aprende aquele que se apropria do aprendido transformando‑o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá‑lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido‑apreendido a situações existentes concretas”. As tendências pedagógicas brasileiras foram originadas dentro dos movimentos sociais e contextos históricos que influenciaram as práticas pedagógicas para atender à sociedade. O objetivo da tendência pedagógica é nortear o trabalho do professor e ela pode ser definida como as diversas teorias filosóficas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história humana (LUCKESI, 1990, p. 52). As tendências pedagógicas são importantes na condução de um trabalho docente consciente e esse conhecimento por parte dos professores é fundamental para a realização de uma prática docente significativa, que tenha algum sentido para o aluno, para responder as perguntas a fim de estruturar o processo de ensino: o que ensinar? Para quem? Como? Para que? Por quê? As práticas pedagógicas podem ser: • Liberais: — Tradicional — Renovada progressivista — Renovada não diretiva — Tecnicista 24 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA • Progressistas: — Libertadora — Libertária — Crítico‑social dos conteúdos Consideram‑se como tendência pedagógica as diversas teorias filosóficas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história humana (LUCKESI, 1990, p. 53). 4.1 Práticas pedagógicas liberais 4.1.1 Liberal tradicional O ensino tradicional trabalha basicamente a transmissão de conhecimentos e, de acordo com Saviani (2001), a escola tradicional foi instituída para combater a ignorância, não tendo cumprido seu papel. O método da escola tradicional era baseado em exposição verbal, exercícios, repetições e no professor transmissor do conteúdo e a escola tinha por função preparar os indivíduos para assumir papéis na sociedade. Ela era frequentada pelos filhos dos burgueses. Segundo Libâneo (2003), no âmbito da pedagogia tradicional a escola detém a concepção de que a capacidade intelectual dos alunos é a mesma e que seu sucesso, logo o seu percurso formativo, depende exclusivamente de seu esforço a seguir padrões preestabelecidos, metas. Ainda, para tendência tradicional o conhecimento científico é a verdade absoluta e o separa das experiências e realidades contextuais dos alunos. O professor é o detentor do conhecimento. 4.1.2 Liberal renovada progressista A liberal progressita tem em John Dewey e Anísio Teixeira seus maiores representantes, e é a educação que tem como objetivo preparar os alunos para exercer o seu papel na sociedade. Na liberal progressista o importante é fazer aprender, ou seja, o foco é o aluno. 4.1.3 Liberal renovada não diretiva A pedagogia de tendência liberal renovada não diretiva procura defender que a escola deve cumprir na sua formação das atitudes dos alunos. Assim, a teoria defende que só se aprende o que estiver relacionado com as percepções fundamentais das exigências do meio social, isso é compreender o meio. Para Libâneo (2002), a pedagogia de tendência liberal renovada não diretiva procura defender na sua formulação pedagógica a função que a escola deve cumprir na formação das atitudes dos alunos. 25 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA 4.1.4 Liberal tecnicista O educador Anísio Teixeira trouxe ao Brasil um modelo de educação associado a uma concepção filosófica da construção de uma ideia democrática, no qual o objetivo da educação era a experiência. A tendência liberal tecnicista surge com o objetivo de implementar omodelo empresarial na escola, para Saviani (2003), a “pedagogia tecnicista” parte do pressuposto da neutralidade científica e se inspira em seus princípios de eficiência e produtividade, advogando para uma reordenação do processo educativo que o torne mais objetivo e operacional. Aranha (2006, p. 21) acrescenta que a tendência tecnicista possui influências da filosofia positivista e da psicologia behaviorista, sendo herdeira do cientificismo e que busca a aplicação de condicionantes e controle de comportamento passíveis de observação e avaliação. 4.2 Prática pedagógica progressista 4.2.1 Progressista libertadora A escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido. Assim, para Freire, no contexto da luta de classes, o saber mais importante para o oprimido é a descoberta da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da exploração política e econômica, através da elaboração da consciência crítica passo a passo com sua organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limites da pedagogia, situando‑se também no campo da economia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti (1988). Quanto à tendência libertadora da pedagogia progressista, Libâneo destaca que [...] a educação é uma atividade onde professores e alunos mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo da aprendizagem atingem um nível de consciência dessa mesma realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de transformação social [...] (1996, p. 64). 4.2.2 Progressista libertária Na escola progressista libertária, o vivenciado pelo educando é incorporado e utilizado em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se for possível seu uso prático. A pedagogia libertária, assim como outras tendências, [...] tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor‑aluno, técnicas pedagógicas etc. (LIBÂNEO, 2002, p. 19). 26 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA 4.2.3 Progressista crítico-social A escola é valorizada como um instrumento de apropriação do saber e parte do todo social. Ela possui uma tendência crítico‑social. Para Libâneo (1994, p. 70), A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo‑lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Exemplo de aplicação Mediante a exposição da escola tradicional, reflita a respeito das diferenças entre a escola nos dias atuais e como ela era em sua época. Os progressos na psicologia da aprendizagem também interferiram nas ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon e, com a autonomia da escola na construção de sua proposta pedagógica, a partir da LDB nº 9.394/96, exigiram uma atualização constante do professor. Através do conhecimento dessas tendências pedagógicas e dos seus pressupostos de aprendizagem, o professor terá condições de avaliar os fundamentos teóricos empregados na sua prática em sala de aula e identificar a concepção pedagógica da escola. O educador atual deve ser crítico, entender as diferenças sociais, culturais e tecnológicas, estimular o aluno a buscar. Autores como Luckesi, Libâneo, Paulo Freire, Saviani e Gadotti se dedicaram a estudar o avanço da educação, e desenvolveram teorias para nortear as práticas pedagógicas. Assim, os professores devem conhecer as correntes pedagógicas a fim de obter um aprofundamento no processo ensino‑aprendizagem. Para ajudar no trabalho do professor, as perguntas do início deste capítulo devem ser respondidas com a finalidade de estruturar o processo de ensino e a partir de convicções pessoais, profissionais e sociais, contribuindo para uma prática significativa. Constam na sequência citações conclusivas de pesquisadores sobre as tendências pedagógicas. Libâneo (1994, p. 25) afirma que didática é a “teoria de ensino”, porque ela investiga os fundamentos e as condições adequadas para essa atividade. A Didática é uma disciplina teórico‑prática que pretende subsidiar o professor em todos os elementos constitutivos da dinâmica escolar, quais sejam: a reflexão pedagógica necessária à implementação de um projeto educativo, com suas concepções explicitadas através de seus planejamentos e efetivadas através de sua dinâmica cotidiana (MELO; URBANETZ, 2008, p. 152). 27 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Saviani (1997, p. 17) denominou as teorias do primeiro grupo de “teorias não críticas” e classificou nelas as pedagogias tradicional, nova e tecnicista, pois elas acreditavam ter a educação o poder de determinar as relações sociais. O autor prossegue explicando a relação entre a pedagogia nova e a tecnicista, vejamos: Isso mostra, de um lado, a força da nova tendência e, de outro, que a base ideológica do escolanovismo, o liberalismo, é a mesma da pedagogia tecnicista, bastando, para esta impor‑se, que o desenvolvimento da sociedade atinja um grau maior de homogeneidade. Por isso afirma Anísio que “para a análise de sistema poder ser praticada, há de haver, primeiro, uma rigorosa classificação dessas situações (educacionais), para se caracterizarem algumas uniformidades sobre as quais se possa pensar e argumentar com lógica e plausibilidade”. E considera que, já se tendo conseguido isso nos países desenvolvidos, lá é possível a utilização do método, ao passo que, ‘entre nós, o método somente será possível’ quando se atingir o grau de padronização e homogeneidade necessário ao seu funcionamento (SAVIANI 2007a, p. 370). Lembrete O educador atual deve ser crítico, entender as diferenças sociais, culturais e tecnológicas, estimular o aluno a buscar 5 A REGULAMENTAÇÃO NACIONAL SOBRE A EDUCAÇÃO “Escolha um trabalho que ama e você nunca terá que trabalhar um dia sequer na vida” Confúcio, filósofo 5.1 LDB – Lei de Diretrizes e Bases A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 9.394/1996 é a lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e, em seu artigo 1°, diz o seguinte: que a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996). A Lei nº 13.415/2017 (BRASIL, 2017) altera a LDB nº 9.394/96 (BRASIL, 1996), propondo uma reforma do Ensino Médio. Apresenta implicações curriculares, com flexibilização e aligeiramento da formação, altera o formato de financiamento público com privatização, atinge a formação docente e, entre outros, impacta a docência da rede particular de ensino. 28 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA 5.2 DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais Conforme a Resolução n° 4 (BRASIL, 2010), as DCN são normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). As diretrizes buscam promover a equidade de aprendizagem, garantindo que conteúdos básicos sejam ensinados para todos os alunos, sem deixar de levar em consideração os diversoscontextos nos quais eles estão inseridos As DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais) têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que assinala ser incumbência da União “estabelecer, em colaboração com os estados, Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a Educação Básica, que nortearão os currículos e os seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum” (BRASIL, 1996). As DCN são um conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Básica que orientam as escolas na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas. As diretrizes curriculares são normas que escolas e professores são obrigados a seguir, e elas são reforçadas por lei. Elas estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras. Nesse momento deve‑se comentar sobre Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. Parâmetros curriculares são “recomendações” de normas para as escolas e professores seguirem, cujas diretrizes não são reforçadas pela lei. O processo de elaboração dos PCNs começou em 1995, eles foram elaborados para a reorganização curricular em áreas do conhecimento através da utilização de temas contextualizados e interdisciplinares, visando facilitar o desenvolvimento de conteúdos na prática escolar e também podem ser utilizados como um material de apoio para a formação continuada dos docentes. Os PCNs cumprem seu papel, e foram reformulados algumas vezes, gerando os PCN+ (BRASIL, 1999b) e as Orientações Curriculares Nacionais (BRASIL, 2006). Nos PCNs do Ensino Médio, a Química participa do desenvolvimento científico‑tecnológico com importantes contribuições específicas, cujas decorrências têm alcance econômico, social e político, em 29 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA que há a interação da sociedade com o conhecimento químico. Os PCNs apontam metas que ajudem o aluno a enfrentar o mundo em que vive como cidadão participativo e reflexivo. Os PCNs são diretrizes elaboradas para orientar os educadores, por meio da normatização de alguns aspectos fundamentais concernentes a cada disciplina, eles não possuem força de lei, mas buscam orientar “o ensino das disciplinas e de sua articulação dentro de cada área, dando alguns contornos do que poderá vir a ser empreendido em nossas escolas” (MENEZES, 2000, p. 6). A orientação dos PCNs enfatiza a inserção dos temas transversais na educação e no ensino de Química busca‑se vincular a esse ensino o enfoque CTS. Nos PCN+ (BRASIL, 1999b, p. 87), [...] a Química pode ser um instrumento da formação humana que amplia os horizontes culturais e a autonomia no exercício da cidadania, se o conhecimento químico for promovido como um dos meios de interpretar o mundo e intervir na realidade, se for apresentado como ciência, com seus conceitos, métodos e linguagens próprios, e como construção histórica, relacionada ao desenvolvimento tecnológico e aos muitos aspectos da vida em sociedade. Os PCNs servem de referencial para o trabalho do professor respeitando a concepção pedagógica própria e a pluralidade cultural brasileira, podendo ser adaptáveis à realidade de cada região. Eles apresentam os conteúdos com eixos temáticos que indicam como abordar e informam a organização dos conteúdos, fazendo conexão entre diferentes conteúdos com eixos distintos. Nos Parâmetros, em especial na secção “Conhecimentos de Química”, apresentam várias teorias; a presença de influências construtivistas, de Piaget ou Vygotsky, a teoria do desenvolvimento de competências, da interdisciplinaridade como metodologia adequada de trabalho das habilidades necessárias ao estudante de Ensino Médio. Segundo os PCN+ (BRASIL, 1999b), no ensino de Química, a aquisição do conhecimento, mais do que a simples memorização, pressupõe habilidades cognitivas lógico‑empíricas e lógico‑formais. Alunos com diferentes histórias de vida talvez desenvolvam leituras ou perfis conceituais sobre fatos químicos que poderão inferir nas habilidades cognitivas. O aprendizado deve ser conduzido levando‑se em conta essas diferenças. Enfim, as competências e habilidades cognitivas e afetivas desenvolvidas no ensino de Química deverão capacitar os alunos a tomarem suas próprias decisões em situações problemáticas, contribuindo assim para o desenvolvimento do educando como pessoa humana e como cidadão. Os PCNs adotam em suas estruturas alguns aspectos que proporcionam organização e graus de percepções na prática escolar para diversas áreas do conhecimento. Os conteúdos são organizados em conceituais, procedimentais e atitudinais, e estes, relacionados com os pilares da educação, aprender 30 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA a conhecer, aprender a fazer e aprender a viver juntos e aprender a ser, podem ser trabalhados indissociavelmente em cada um dos ciclos (FERNANDES, 2010). O aspecto conceitual é o aprender a conhecer, ou seja, compreender o conteúdo de forma científica e intelectual. O aspecto procedimental encontra‑se ligado ao aprender a fazer, proporcionando por meio de estratégias e métodos o aprimoramento dos conceitos de maneira experimental. O aspecto atitudinal dos conteúdos encontra‑se relacionado ao aprender a viver junto e aprender a ser, de forma que o indivíduo, na sua vivência ao relacionar‑se com outros, adquira valores e concepções de mundo e seja atuante e crítico no mesmo. Esta dimensão dos conteúdos demanda a reflexão sobre situações concretas, para que valores e posturas sejam promovidos tendo em vista o cidadão que se tem a intenção de formar (BRASIL, 1998c, p. 30). Saiba mais A fim de obter informações adicionais sobre os critérios utilizados na abordagem do meio ambiente com os pilares da educação em livros didáticos, leia o artigo a seguir: ALMEIDA, O. S.; BOAS, I. F. V.; AMARAL, C. L. F. Abordagem das dimensões conceitual, procedimental e atitudinal da temática meio ambiente em livros didáticos de ciências com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Eletrônica de Biologia, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 29‑53, 2015. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/reb/article/viewFile/15466/16654%20>. Acesso em: 7 fev. 2019. Na leitura do artigo citado se observará que os conteúdos constituem a base da formação escolar, ou seja, é tudo que se precisa aprender para alcançar os objetivos que não só abrangem a capacidade cognitiva, mas também as capacidades motoras, afetivas e sociais. Os conteúdos podem ser conceituais (o que se deve saber), procedimentais (o que saber fazer) e atitudinais (como se deve fazer). De acordo com Pozo e Gómes Crespo (2009), o eixo central da maior parte dos currículos de Ciências/Química são os conteúdos conceituais. Estes conteúdos podem ser conceitos, dados ou princípios. Para ambos, um dado ou um fato é uma informação que afirma ou declara algo sobre o mundo. Porém, uma coisa é ter um dado, conhecer algo com um fato, e outra é dar‑lhe sentido ou significado. Compreender um dado requer utilizarconceitos, ou seja, relacioná‑los dentro de uma rede de significados que explique por que ocorrem e que consequências eles possuem. 31 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA Os conteúdos conceituais podem ser classificados em: fatos/dados e conceitos. Desse modo, por exemplo, a temperatura de fusão da água ao nível do mar é de 0 °C, isso é um fato que declara algo do mundo. Um exemplo de conceito pode ser a densidade. Segundo Zabala (1998), “sempre que estes dados, fatos e acontecimentos disponham dos conceitos associados que permitam interpretá‑los, sem os quais se converteriam em conhecimentos estritamente mecânicos” (ZABALA, 1998, p. 41). Este tipo de conteúdo se aprende a partir da cópia, “a fim de ser integrado nas estruturas do conhecimento, na memória” (ZABALA, 1998, p. 42), e é avaliado pela sua reprodução. 5.3 BNCC – Base Nacional Comum Curricular A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação. A reforma do Ensino Médio é uma mudança na estrutura do seu sistema atual. E propõe a flexibilização da grade curricular. A nova estrutura terá uma parte comum e obrigatória, a BNCC e outra parte flexível. A formação técnica e profissional será mais uma alternativa para o aluno. Hoje, se o jovem quiser cursar uma formação técnica de nível médio, ele precisa cursar 2.400 horas do Ensino Médio regular e mais 1.200 horas do técnico. Conforme definido na LDB, a base comum deve nortear os currículos do sistema e redes de ensino de Unidades Federativas e também as propostas pedagógicas de todas as escolas privadas e públicas. A BNCC estabelece conhecimentos, competências habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. O artigo nº 35 da LDB (BRASIL, 1996) propõe que o Ensino Médio apresente ênfase na educação tecnológica, compreensão da ciência, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. A BNCC definirá direitos e objetivos de aprendizagem do Ensino Médio, conforme as diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento: • Linguagens e suas Tecnologias. • Matemática e suas Tecnologias. • Ciências da Natureza e suas Tecnologias. • Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Assim, a LDB, em seu artigo 22, consagrou o Ensino Médio como educação básica, que é um aspecto na identidade da etapa escolar, e define que a educação escolar deve estar vinculada ao 32 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA mundo do trabalho e à prática social e que compete à ela possibilitar uma formação comum com vistas ao exercício da cidadania e ao fornecimento dos meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. A Base Nacional Comum que corresponde à área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias é onde se encontram a Química, a Física e a Biologia. Então, observa‑se que é preciso desenvolver uma articulação interdisciplinar e contextualizada. Saiba mais Assista ao filme a seguir que relata a história de uma professora com o desafio de educar um grupo de alunos. ESCRITORES DA Liberdade. Dir. Richard Lagravenese, 1997. 123 minutos. No que se refere à preocupação e ao foco da BNCC para com a Química, que está intrínseca à área da Ciência da Natureza, é preciso enaltecer que o referido setor, no Ensino Fundamental, propõe aos estudantes investigar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural e tecnológico, explorar e compreender alguns de seus conceitos fundamentais e suas estruturas explicativas, além de valorizar e promover os cuidados pessoais e com o outro, o compromisso com a sustentabilidade e o exercício da cidadania. No Ensino Médio, a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias oportuniza o aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos explorados na etapa anterior. Trata a investigação como forma de engajamento dos estudantes na aprendizagem de processos, práticas e procedimentos científicos e tecnológicos, e promove o domínio de linguagens específicas, o que permite aos estudantes analisar fenômenos e processos, utilizando modelos e fazendo previsões. Dessa maneira, possibilita aos estudantes ampliar sua compreensão sobre a vida, o nosso planeta e o universo, bem como sua capacidade de refletir, argumentar, propor soluções e enfrentar desafios pessoais e coletivos, locais e globais. Segundo a BNCC (2017), em seu documento norteador, as Ciências da Natureza devem promover seus objetivos de ensino para a multiplicidade, interdisciplinaridade e foco temático, uma vez que, nas sociedades contemporâneas, muitos são os exemplos da presença da Ciência e da Tecnologia e de sua influência no modo como vivemos, pensamos e agimos: do transporte aos eletrodomésticos; da telefonia celular à internet; dos sensores óticos aos equipamentos médicos; da biotecnologia aos programas de conservação ambiental; dos modelos submicroscópicos aos cosmológicos; do movimento das estrelas e galáxias às propriedades e transformações dos materiais. Além disso, questões globais e locais com as quais a Ciência e a Tecnologia estão envolvidas – como desmatamento, mudanças climáticas, energia nuclear e uso de transgênicos na agricultura – já passaram a incorporar as preocupações de muitos brasileiros. Nesse contexto, a Ciência e a Tecnologia tendem a ser encaradas não somente como ferramentas capazes de solucionar problemas, tanto os dos indivíduos como os da sociedade, mas como uma abertura para novas visões de mundo. Todavia, poucas pessoas aplicam os conhecimentos e procedimentos científicos na resolução de seus problemas cotidianos (como estimar o consumo 33 Re vi sã o: K le be r S ou za - D ia gr am aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 20 /0 3/ 20 19 DIDÁTICA ESPECÍFICA – QUÍMICA de energia de aparelhos elétricos a partir de suas especificações técnicas, ler e interpretar rótulos de alimentos etc.). Tal constatação corrobora a necessidade de a Educação Básica – em especial, a área de Ciências da Natureza – comprometer‑se com o letramento científico da população. É importante destacar que aprender Ciências da Natureza vai além do aprendizado de seus conteúdos conceituais. Nessa perspectiva, a BNCC da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias – por meio de um olhar articulado da Biologia, da Física e da Química – define competências e habilidades que permitem a ampliação e a sistematização das aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental no que se refere: aos conhecimentos conceituais da área; à contextualização social, cultural, ambiental e histórica desses conhecimentos; aos processos e práticas de investigação e às linguagens das Ciências da Natureza. Na área de Ciências da Natureza, os conhecimentos conceituais são sistematizados em leis, teorias e modelos. A elaboração, a interpretação e a aplicação de modelos explicativos para fenômenos naturais e sistemas tecnológicos são aspectos fundamentais do fazer científico, bem como a identificação de regularidades, invariantes e transformações. Portanto, no Ensino Médio, o desenvolvimento do pensamento científico envolve aprendizagens específicas, com vistas a sua aplicação em contextos diversos. Na definição das competências específicas e habilidades
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