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Autora: Profa. Daniela Patto Colaboradores: Profa. Sabrina Martins Boto Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Química Analítica QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Professora conteudista: Daniela Patto Nascida em São Paulo, é engenheira química formada pela Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP), mestre em química pelo Instituto de Química da Unicamp, doutora em ciências na área de química orgânica pelo Instituto de Química da Unicamp, com pós-doutorado pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Atuou como química de pesquisa na indústria farmoquímica, no desenvolvimento de produtos farmacêuticos e cosméticos, atuando também como auditora interna do sistema de gestão da qualidade (ISO 9001, ISO 14000 e Ohsas 18000). Atualmente, é professora titular da Universidade Paulista (UNIP), ministra aulas nos cursos de farmácia, ciências biológicas, engenharia civil e elétrica. De 2014 a 2016 foi coordenadora auxiliar do curso de gestão ambiental. Além disso, é conteudista de materiais para o ensino a distância, incluindo gravações de aulas. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P322q Patto, Daniela. Química Analítica / Daniela Patto. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 200 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-057/19, ISSN 1517-9230. 1. Gravimetria. 2. Volumetria. 3. Espectrofotometria. I. Título. CDU 543 U501.43 – 19 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Rose Castilho Ricardo Duarte Vitor Andrade QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Sumário Química Analítica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 DEFINIÇÕES ........................................................................................................................................................ 11 2 INTRODUÇÃO À ANÁLISE QUALITATIVA ................................................................................................. 14 2.1 Técnicas gerais da análise qualitativa .......................................................................................... 15 2.1.1 Reações por via seca ............................................................................................................................. 15 2.1.2 Reações por via úmida ......................................................................................................................... 18 2.2 Classificação de cátions e ânions ................................................................................................. 19 2.3 Amostragem e preparação de amostra para análises............................................................ 30 2.4 Dissolução da amostra ....................................................................................................................... 37 2.5 Interferências ........................................................................................................................................ 40 2.6 Métodos gerais de separação .......................................................................................................... 42 3 ESTATÍSTICA APLICADA AOS CÁLCULOS EM QUÍMICA QUANTITATIVA ...................................... 51 3.1 Distribuição gaussiana ....................................................................................................................... 52 3.2 Média e desvio padrão ....................................................................................................................... 52 3.3 Algarismos significativos ................................................................................................................... 54 3.3.1 Operações com algarismos significativos ..................................................................................... 55 3.4 Erros ........................................................................................................................................................... 58 3.5 Intervalos de confiança ..................................................................................................................... 66 3.6 Teste Q para dados incorretos ......................................................................................................... 69 3.7 Método dos mínimos quadrados ................................................................................................... 70 4 VALIDAÇÃO DO MÉTODO E ADIÇÃO DE SOLUÇÕES PADRÃO ........................................................ 72 4.1 Validação do método .......................................................................................................................... 72 4.1.1 Especificidade ........................................................................................................................................... 72 4.1.2 Linearidade ................................................................................................................................................ 73 4.1.3 Exatidão ...................................................................................................................................................... 74 4.1.4 Precisão ....................................................................................................................................................... 75 4.1.5 Limites de detecção e de quantificação ........................................................................................ 76 4.1.6 Robustez ..................................................................................................................................................... 78 4.2 Adição de soluções padrão ............................................................................................................... 78 4.2.1 Adição padrão .......................................................................................................................................... 78 4.2.2 Padrões internos ...................................................................................................................................... 80 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di agra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade II 5 CONCEITOS FUNDAMENTAIS: GRAVIMETRIA E TITRIMETRIA ........................................................ 86 5.1 Tipos de análise titrimétrica e gravimétrica .............................................................................. 86 6 GRAVIMETRIA DE PRECIPITAÇÃO ............................................................................................................. 91 6.1 Precipitados coloidais ......................................................................................................................... 95 6.2 Precipitação a partir de uma solução homogênea ...............................................................102 6.3 Secagem e calcinação de precipitados ......................................................................................104 6.4 Análise gravimétrica por combustão .........................................................................................106 6.5 Aplicações dos métodos gravimétricos .....................................................................................110 6.6 Gravimetria de volatilização ..........................................................................................................115 6.7 Métodos eletrogravimétricos ........................................................................................................117 Unidade III 7 ANÁLISE VOLUMÉTRICA: VOLUMETRIA DE NEUTRALIZAÇÃO E DE PRECIPITAÇÃO ............128 7.1 Volumetria de neutralização ..........................................................................................................133 7.1.1 Titulações de ácidos e bases fortes ............................................................................................... 137 7.1.2 Curvas de titulação para ácidos fracos ....................................................................................... 142 7.2 Volumetria de precipitação ............................................................................................................148 7.2.1 Método de Mohr .................................................................................................................................. 152 7.2.2 Método de Fajans ................................................................................................................................ 153 7.2.3 Método de Volhard .............................................................................................................................. 154 8 VOLUMETRIA DE COMPLEXAÇÃO, DE OXIRREDUÇÃO E ESPECTROFOTOMETRIA ................156 8.1 Volumetria de complexação ..........................................................................................................156 8.1.1 Efeito de tampões e agentes mascarantes .............................................................................. 168 8.2 Volumetria de oxirredução .............................................................................................................171 8.3 Aplicações das medidas de energia radiante: espectrofotometria ................................178 8.3.1 Espectrofotometria de ultravioleta/visível ................................................................................ 178 7 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 APRESENTAÇÃO Nesta disciplina, vamos estudar as técnicas mais comuns para determinação da identidade química de uma amostra e/ou sua quantificação. Temos como objetivo aprender, aplicar e questionar os aspectos teóricos e práticos envolvidos nas várias técnicas que serão apresentadas. A química analítica envolve reações químicas que nos permitem reconhecer e quantificar substâncias de maneira precisa, desde que o método utilizado seja o correto. Podemos dividir a química analítica na utilização dos métodos clássicos e métodos instrumentais. Nos métodos clássicos, a maioria das análises qualitativas são realizadas por separação dos componentes de interesse (os analitos) de uma amostra, empregando-se os métodos de precipitação, extração ou destilação. Para a análise quantitativa, a quantidade do analito era determinada por medidas titulométricas ou gravimétricas. Os métodos instrumentais exploram outros fenômenos, distintos daqueles usados nos métodos clássicos, para resolver os problemas analíticos. Utilizam propriedades físicas, tais como condutividade, potencial de eletrodo, emissão ou absorção de luz, razão massa/carga e fluorescência, para construir equipamentos capazes de identificar e quantificar amostras. Dessa forma, técnicas como cromatografia começaram a substituir a destilação, a extração e a precipitação. Neste livro-texto estudaremos os métodos clássicos, como escolher o método mais adequado, a preparação da amostra e o tratamento estatístico dos resultados, quando aplicável. Este livro-texto será divido em três unidades, nas quais estudaremos técnicas gerais de análise qualitativa, métodos de separação dos principais cátions e ânions, noções de amostragem e preparação de amostras, incluindo métodos de dissolução de analitos. Para garantir a qualidade dos dados gerados nas análises, é importante conhecer as principais interferências que podem atrapalhá-las. Para todo resultado gerado, é importante realizar um estudo estatístico para garantir a precisão e a exatidão dos resultados. A estatística ainda nos auxilia, através do teste F, a manter ou descartar dados que, às vezes, nos deixam em dúvida se estão corretos ou não. Para garantir a qualidade do método utilizado, ainda estudaremos os parâmetros de validação de métodos analíticos. Depois, veremos os conceitos fundamentais das análises titrimétricas ou volumétricas e da análise gravimétrica, dando ênfase nos tipos de métodos existentes. Estudaremos também os métodos de análise titrimétrica de neutralização, de precipitação, de oxirredução e complexação, apresentando as principais aplicações de cada um deles, com exemplos de cálculos, e, por fim, estudaremos os métodos utilizados em análise gravimétrica. Esperamos que, ao final desta disciplina, você, aluno, seja capaz de identificar os principais cátions, expressar os resultados quantitativos com o rigor científico e reconhecer as técnicas empregadas para as diversas determinações quantitativas. 8 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Temos um longo caminho para explorar todos os detalhes dos tópicos listados acima. Espero que este material seja muito útil durante o seu aprendizado nessas técnicas. Bons estudos! INTRODUÇÃO Considerada uma ciência de medição, a química analítica é constituída por um conjunto de métodos muito úteis em vários campos da medicina e da ciência. Podemos citar como exemplo o fato que aconteceu em 4 de julho de 1997, dia em que a nave espacial Pathfinder aterrissou em Marte e desembarcou o robô Sojourner (SKOOG et al., 2009). A missão do robô era mandar para Terra informações sobre a constituição do planeta vermelho. Sojourner usou um espectrômetro de raios X por prótons alfa (APXS), o qual combina três técnicas instrumentais avançadas. Os dados coletados pelo robô tinham como objetivo determinar a identidade e a concentração da maioria dos elementos da tabela periódica, permitindo que os cientistas pudessem comparar os dados obtidos em Marte com os dados conhecidos da Terra. A missão Pathfinder é um ótimo exemplo da aplicação da química analítica a problemas práticos. O exemplo da Pathfinder mostra que tanto as informações qualitativas como as quantitativas são importantes para uma análise. A análise qualitativa tem como objetivo determinar a identidade química da substância presente na amostra, enquanto a análise quantitativa estabelece asquantidades relativas às substâncias presentes na amostra, em termos numéricos. Os dados coletados pela Pathfinder permitiram a determinação da composição elementar das rochas do planeta vermelho pelos geólogos, por meio de análises qualitativas e quantitativas. Neste caso, não foi necessária a separação química de vários elementos existentes nas rochas, mas frequentemente a etapa de separação é uma parte necessária e muito importante do processo analítico, como estudaremos na análise qualitativa. A química analítica é aplicada em muitas áreas, como na medicina, na indústria e na ciência de forma geral. A determinação das concentrações de dióxido de carbono e oxigênio em amostras de sangue utilizadas para diagnóstico e tratamento de inúmeras doenças. A determinação da composição dos gases que saem do escapamento de veículos para avaliar a eficiência de dispositivos de controle de poluição do ar. A quantificação de cálcio iônico no sangue auxilia no diagnóstico de distúrbios da tireoide em humanos. A determinação da concentração de nitrogênio em alimentos mostra o seu valor proteico e, assim, o seu valor nutricional. Durante a produção do aço, a sua análise possibilita ajustar a concentração de elementos como o níquel, o cromo e o carbono, promovendo propriedades físicas desejadas, como: resistência mecânica, resistência à corrosão, dureza e flexibilidade, entre outras. Os fazendeiros, baseados em análises quantitativas das plantas e do solo, estabelecem a programação de fertilização e irrigação para obter as melhores condições para o crescimento das plantas de suas lavouras (SKOOG et al.; 2009). 9 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Nas áreas de pesquisas em química, bioquímica, biologia, geologia, física, entre outras, a química analítica também representa um papel fundamental. Muitos pesquisadores passam muito tempo dentro do laboratório produzindo informações quantitativas sobre os sistemas estudados por eles. Na figura a seguir, podemos observar que a química analítica está relacionada a muitas áreas. A química é geralmente chamada de ciência central; sua posição superior central, sua posição central superior e a posição central da química analítica ressaltam essa importância. A análise química possui uma natureza interdisciplinar, sendo considerada uma ferramenta vital em laboratórios, indústrias, espaços acadêmicos, governamentais e médicos. Química analítica Química Bioquímica Química inorgânica Química orgânica Físico-química Ciências sociais Arqueologia Antropologia forense Engenharia Civil Química Elétrica Mecânica Medicina Química clínica Química medicinal Farmácia Toxicologia Geologia Geofísica Geoquímica Paleontologia Paleobiologia Ciências do meio ambiente Ecologia Meteorologia Oceanografia Biologia Botânica Genética Microbiologia Biologia molecular Zoologia Física Astrofísica Astronomia Biofísica Agricultura Agronomia Ciência dos animais Ciência da produção Ciência dos alimentos Horticultura Ciência dos solos Ciência dos materiais Metalurgia Polímeros Estado sólido Figura 1 – Relações entre a química analítica e outras áreas da ciência 10 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 11 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Unidade I 1 DEFINIÇÕES Existem muitas definições para a química analítica; entre elas, podemos dizer que é a aplicação de um ou uma série de processos destinados a quantificar e identificar uma substância, os componentes de uma mistura ou solução ou ainda determinar a fórmula de um composto químico. Isso quer dizer que a química analítica é muito abrangente e inclui um grande número de técnicas e procedimentos instrumentais, manuais e químicos (VOGEL, 2015). Mesmo que de maneira inconsciente, usamos, no nosso dia a dia, alguma forma de análise química, por exemplo, quando cheiramos um alimento para saber se está estragado ou quando provamos frutas para saber se estão doces ou ácidas. São procedimentos muito simples, quando comparados com alguns procedimentos mais complexos que estudaremos ao longo deste livro-texto. Como vimos, para realizarmos uma análise química, nem sempre é necessário usar um procedimento instrumental avançado, e muitas vezes uma análise rápida e simples é mais vantajosa que métodos complicados e demorados. Para a escolha do melhor método, é muito importante levar em consideração o objetivo da análise (VOGEL, 2015). Quando temos que analisar uma amostra desconhecida, a primeira coisa que devemos fazer é a identificação das substâncias presentes. Também podemos considerar essa questão de maneira inversa, identificando quais as impurezas presentes na amostra. Esses problemas envolvem a análise qualitativa (VOGEL, 2015). Após identificar os componentes da amostra, devemos determinar a quantidade de cada componente ou de uma substância em especial. Essas questões envolvem a análise quantitativa e existe um grande número de técnicas para essas determinações (VOGEL, 2015). Para garantir que suas matérias-primas contemplem determinadas especificações, as indústrias de transformação dependem de análises quantitativas e qualitativas, promovendo a qualidade desejada para o produto final. Para terem certeza de que as matérias-primas atendem às especificações, elas são analisadas para verificar se certas impurezas que podem afetar o processo de fabricação não estão presentes. Analisamos as matérias-primas para a determinação da concentração dos componentes essenciais, visto que o seu preço depende das quantidades desses componentes, realizando a análise quantitativa da amostra. Esse processo é chamado de dosagem. De forma geral, o produto final de um processo produtivo é submetido ao controle de qualidade, para garantir que as quantidades dos componentes da amostra estejam dentro das faixas estabelecidas na especificação (VOGEL, 2015). 12 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Uma análise química é formada por várias etapas e procedimentos, mesmo quando a amostra é formada por uma única substância. Cada etapa deve ser realizada com cuidado e atenção, visando minimizar os erros ao máximo e mantendo a reprodutibilidade e conformidade. Veja a seguir uma lista das etapas do processo analítico, com alguns procedimentos que devem ser usados para obtermos resultados confiáveis. Quadro 1 Etapas Exemplo de procedimentos 1. Amostragem Depende da natureza física e do tamanho do analito. 2. Preparação da amostra analítica Diminuição do tamanho das partículas, homogeneização, secagem, determinação da quantidade da amostra. 3. Dissolução da amostra Aquecimento, ignição, fusão, utilização de solventes, diluição. 4. Eliminação de interferentes Extração, filtração, separação, cromatografia. 5. Análise da amostra Calibração, padronização, medida da resposta. 6. Resultados Cálculo do resultado e sua avaliação estatística. 7. Apresentação dos resultados Impressão dos resultados, gráficos e arquivamento dos dados obtidos. Fonte: Vogel (2015, p. 2). A amostragem deve ser realizada de forma correta, utilizando técnicas de coleta de forma a gerar uma amostra que realmente represente o todo. Quando a substância a ser analisada é um líquido homogêneo, a amostragem é simples, mas quando é sólida, a tarefa é mais complexa, e devemos retirar várias partes do sólido, juntar todas as partes e homogeneizá-las, para garantir uma amostra representativa.Dessa forma, devemos conhecer os procedimentos padrão de amostragem para os vários tipos de materiais. A preparação do analito é uma das etapas mais difíceis da análise. Geralmente, quando a amostra é sólida, podem ser necessárias várias etapas antes da quantificação das propriedades do material a ser analisado (VOGEL, 2015). Observação Os analitos são os componentes de uma amostra a serem determinados. O próximo passo de um processo analítico é a seleção do método analítico, entre muitas possibilidades, para determinada amostra. Para realizar a melhor escolha, devemos conhecer detalhes práticos das várias técnicas e seus princípios teóricos. Devemos saber ainda as condições em que cada método é confiável e saber quais são as possíveis interferências e como contorná-las, se ocorrerem. Devemos nos preocupar com a exatidão, a precisão, o tempo de análise e o custo. Métodos muito complexos para uma determinação podem exigir reagentes caros e ser muito lentos. Devemos levar em consideração o 13 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA meio ambiente e a economia de recursos, e às vezes um método menos exato pode levar a resultados satisfatórios em um tempo razoável (VOGEL, 2015). Na hora de selecionarmos um método para análise de uma determinada substância, devemos levar em consideração: • O tipo de informação procurada. • A quantidade disponível de amostra. • O uso dos resultados na análise. Geralmente, as análises químicas podem ser classificadas em (VOGEL, 2015): • Análise aproximada: quando se estabelece a quantidade de cada elemento em uma amostra, mas não as substâncias presentes. • Análise parcial: quando se estabelecem alguns constituintes da amostra. • Análise de traços: quando se estabelece que certos constituintes da amostra se encontram em quantidades muito pequenas; é um tipo de análise parcial. • Análise completa: quando se estabelece a proporção de cada componente da amostra. Os métodos de análise podem ser classificados de acordo com o tamanho da amostra: • Macro: quantidades maiores ou iguais a 0,1 g. • Meso ou semimicro: quantidades entre 0,01 e 0,1 g. • Submicro: quantidades entre 10-3 e 10-2 g. • Ultramicro: quantidades inferiores a 10-4 g. • Traços: quantidades entre 102 e 104 µg/g (100 a 10.000 partes por milhão). • Microtraços: quantidades entre 10-1 e 102 pg/g (10-7 a 10-4 ppm). • Nanotraços: quantidades entre 10-1 e 102 fg/g (10-10 a 10-7 ppm). Quando a escala das reações for reduzida, notaremos que a concentração dos íons não varia. Foram desenvolvidas técnicas especiais para a manipulação de pequenos volumes e pequenas quantidades de precipitados. Geralmente, a escolha das escalas para estudantes pode variar entre semimicro e macroanálise. No entanto, existem muitas vantagens em adotar a técnica semimicro (VOGEL, 1981): • Consumo reduzido de substâncias químicas, com uma boa economia no orçamento do laboratório. 14 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I • Maior velocidade de análise, devido à menor escala; redução de tempo na execução das operações de filtração, lavagem, evaporação, entre outras. • Maior eficiência na separação, como a lavagem de precipitados, que pode ser realizada de forma rápida e eficaz, substituindo o filtro por uma centrífuga. • A quantidade de sulfeto de hidrogênio é bem menor. • Economia de espaço no armazenamento de reagentes. Podemos considerar um composto principal com quantidades entre 1% e 100% da amostra analisada, um composto secundário possui quantidades entre 0,01% e 1% da amostra e um composto traço possui menos de 0,01% da amostra (VOGEL, 2015). Vários detalhes de procedimentos utilizados para a análise de muitos materiais são publicados por instituições acadêmicas e oficiais, como a Sociedade Americana de Testes e Materiais (American Society for Testing and Materials, ASTM), o British Standards Institution e a comissão europeia. Podemos fazer uma pesquisa em periódicos e revistas especializadas, que trazem informações recentes sobre procedimentos analíticos específicos. Avaliações gerais de métodos e resultados estão disponíveis em jornais de revisões, como o Annual Reports of the Chemical Society, além de em jornais especializados em química analítica (The Analyst e Analytical Chemistry) (VOGEL, 2015). 2 INTRODUÇÃO À ANÁLISE QUALITATIVA A química analítica qualitativa tem como objetivo identificar a composição química de uma amostra. Dependendo da natureza do material a ser analisado, utilizamos um tipo de análise. A análise química qualitativa orgânica é empregada para identificar quais compostos orgânicos constituem a amostra. A análise química qualitativa inorgânica é empregada para estabelecer a identidade dos íons que formam a amostra, visto que a maioria dos compostos inorgânicos são iônicos (BACCAN et al., 1995). A análise qualitativa é constituída por dois tipos de experimentos: reações por via seca e reações por via úmida. As reações por via seca são empregadas em substâncias sólidas. Grande parte dessas reações podem ser usadas nas técnicas de semimicroanálise com pequenas modificações. Atualmente, os ensaios por via seca são pouco utilizados, mas fornecem informações úteis em um curto período de tempo (VOGEL, 1981). As reações por via úmida são empregadas em substâncias líquidas. Geralmente esses experimentos usam escala macro, semimicro e microanálise (VOGEL, 1981). 15 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA 2.1 Técnicas gerais da análise qualitativa É muito importante para os químicos ter conhecimentos sobre a análise química qualitativa, pois: • Promove a oportunidade de relembrar conceitos de química já estudados, como as reações ácido- base, de precipitação, de oxidorredução, que serão empregados para identificar os íons separados. • Auxilia na resolução de problemas analíticos, empregando técnicas de detecção, separação e confirmação. • Auxilia na obtenção de prática em manipulação de reagentes em laboratório. 2.1.1 Reações por via seca Muitos ensaios podem ser realizados por via seca, sem dissolver a amostra. A seguir, mostraremos alguns dos procedimentos mais comuns: Aquecimento: a amostra é colocada em um tubo pequeno de calcinação, feito a partir de um tubo de vidro mole e aquecido na chama do bico de Bunsen. Podemos usar, também, pequenos tubos de ensaio, de baixo custo. Durante o procedimento pode ocorrer a sublimação, a fusão ou a decomposição da amostra, acompanhada pela alteração na coloração ou desprendimento de gás, que pode ser reconhecido por certas características (VOGEL, 1981). Ensaio do maçarico de sopro: para esse ensaio, usamos a chama de aproximadamente 5 cm de comprimento, gerada por um bico de Bunsen com a entrada de ar completamente fechada. Uma chama redutora é produzida quando colocamos o bico de um tubo de sopro bucal quase fora da chama e sopramos levemente, de forma que o cone interno atue sobre a amostra. A chama oxidante é obtida mantendo a extremidade do tubo de sopro aproximadamente um terço para dentro da chama e soprando um pouco mais vigorosamente em direção paralela ao topo do queimador, a ponta extrema da chama age sobre a amostra. A figura a seguir mostra as chamas oxidantes e redutoras (VOGEL, 1981). Oxidante Redutora Figura 2 – Chamas do maçarico de sopro 16 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Os ensaios são realizados sobre um pedaço de carvão vegetal limpo, noqual foi produzida uma pequena cavidade com um canivete. Na cavidade, colocamos uma pequena quantidade de amostra, que é aquecida na chama oxidante. Os sais cristalinos se quebram em fragmentos menores; a queima indica a presença de agentes oxidantes, como nitratos (NO3 -), nitritos (NO2 -), cloratos (ClO3 -), entre outros. Geralmente, a amostra pulverizada é misturada com o dobro de seu volume de carbonato de sódio anidro ou com uma mistura fundente na chama redutora, uma mistura equimolar de carbonato de sódio e potássio, sendo que esta mistura possui um ponto de fusão mais baixo que o carbonato de sódio separadamente (VOGEL, 1981). A reação inicial tem o objetivo de formar carbonatos de cátions presentes e de sais alcalinos, como ânions, os quais são facilmente absorvidos pelo carvão poroso, e os carbonatos são decompostos em dióxidos e óxidos de carbono. Em seguida, os óxidos dos metais podem ou não se decompor ou ser reduzidos a metais. Os produtos finais da reação são metais, metais e seus óxidos, e óxidos. Os óxidos de ouro e prata são decompostos, sem a ajuda do carvão, em metal, que é geralmente obtido como um glóbulo e oxigênio. Os óxidos de chumbo, cobre, bismuto, antimônio, estanho, ferro, níquel e cobalto são reduzidos a um glóbulo de metal fundido (chumbo, bismuto, estanho e antimônio), a uma massa sintetizada de cobre ou a fragmentos metálicos cintilantes (ferro, níquel e cobalto). Os óxidos de cádmio, arsênio e zinco são prontamente reduzidos a metal, mas são tão voláteis que se evaporam e são levados da zona redutora para a oxidante da chama, onde eles são convertidos em óxidos pouco voláteis. Esses óxidos são depositados como incrustação ao redor da cavidade do carvão. O zinco produz uma incrustação amarela quando quente e branca quando fria. A incrustação do cádmio é marrom e com volatilidade moderada; a do arsênio é branca e acompanhada de odor de alho, por causa da sua volatilização (VOGEL, 1981). Alguns óxidos, como os de alumínio, cálcio, estrôncio, magnésio e bário, não são reduzidos pelo carvão, pois são infundíveis, incandescendo-se quando aquecidos a altas temperaturas. Se no carvão for deixada uma incrustação branca e esta for tratada com uma gota de solução de nitrato de cobalto e for novamente aquecida, produzindo uma cor azul brilhante, pode ser um composto sólido dos óxidos de cobalto e alumínio, indicando a presença de alumínio; uma coloração verde-pálida indica a presença de óxido de zinco; e uma massa rosa-pálida é formada na presença do óxido de magnésio (VOGEL, 1981). Ensaio da chama: para entendermos os experimentos de coloração de chama, é necessário ter algumas noções sobre a estrutura da chama não luminosa do bico de Bunsen, como podemos observar na figura a seguir. Uma chama não luminosa de Bunsen consiste em três partes: um cone interno azul (ADB), incluindo principalmente o gás não queimado; uma ponta luminosa em D (que só é visível quando os orifícios de ar estão ligeiramente fechados); um manto externo (ACBD), no qual ocorre a combustão completa do gás. As partes principais da chama de acordo com Bunsen são mostradas na figura a seguir. A temperatura mais baixa está na base da chama (a), que é usada para testar substâncias voláteis, a fim de determinar se elas comunicam alguma cor à chama. A parte mais quente é a zona de fusão (b), que fica a aproximadamente um terço da altura da chama, equidistante do interior e exterior do manto, e é empregada para ensaios de fusibilidade 17 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA das substâncias e também, conjugada com a base (a), para testar as volatilidades relativas das substâncias ou de uma mistura de substâncias. A zona oxidante inferior (c) encontra-se na borda mais externa da zona de fusão (b) e pode ser utilizada para a oxidação de compostos dissolvidos em: pérolas de bórax, carbonato de sódio ou sal microcósmico. A zona oxidante superior (d) é a ponta não luminosa da chama; aqui um grande excesso de oxigênio está presente e a chama não é tão quente como na zona oxidante inferior (c). Pode ser utilizada para todos os procedimentos de oxidação nos quais não são necessárias altas temperaturas. A zona redutora superior (e) está na ponta do cone interno azul e é rica em carbono incandescente, muito útil para reduzir incrustações de óxidos a metal. A zona redutora inferior (f) está situada na borda interna do manto próximo ao cone azul e é aqui que os gases redutores se misturam com o oxigênio do ar. É uma zona redutora de menor poder que a superior (e) e pode ser usada para a redução de bórax fundido e pérolas semelhantes (VOGEL, 1981). Zona oxidante superior (d) Zona oxidante inferior (c) Zona redutora superior (e) Zona redutora inferior (f) Porção mais quente da chama (b) Porção de temperatura mais baixa (a) C D A B FE Figura 3 – Chama do bico de Bunsen Agora podemos estudar o ensaio da chama. Alguns compostos metálicos são volatilizados na chama não luminosa de Bunsen, liberando cores características. Os cloretos estão entre as substâncias mais voláteis e eles podem ser preparados in situ, misturando a substância com um pouco de ácido clorídrico concentrado (HCl), antes da realização do ensaio. Utiliza-se um fio fino de platina de cerca de 5 cm de comprimento e 0,03 a 0,05 mm de diâmetro fixado na extremidade de um bastão de vidro, que serve como suporte. A limpeza do fio é feita com ácido clorídrico concentrado contido em um vidro de relógio e em seguida aquecido na zona de fusão (b) da chama de Bunsen. O fio está limpo quando não confere cor à chama. 18 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I O fio é mergulhado no ácido e então colocado em uma porção da amostra; desta forma um pouco do sólido fica aderido ao fio. Ele é, então, introduzido na zona oxidante inferior (c) e em seguida observa-se a coloração emitida pela chama. As substâncias menos voláteis são aquecidas na zona de fusão (b); assim a diferença de volatilidade pode ser usada para separar os constituintes da amostra (VOGEL, 1981). No quadro a seguir podemos observar as cores emitidas pela chama quando diferentes metais são ensaiados. Faça os ensaios com cloretos de sódio, potássio, cálcio, estrôncio e bário. Anote as cores obtidas e repita os testes com uma mistura de cloretos de sódio e potássio. A cor amarela emitida pelo sódio mascara a coloração do potássio. Se observarmos a coloração da chama através de um vidro de cobalto, a cor amarela do sódio é absorvida e a chama do potássio aparece como carmesim (VOGEL, 1981). Quadro 2 – Ensaio da chama Observação Interferência Chama amarela Sódio Chama violeta Potássio Chama vermelho-carmim Cálcio Chama vermelho-tijolo Estrôncio Chama carmesim Bário Chama verde-limão Boratos, cobre Chama verde-escura Chumbo, arsênio, antimônio, bismuto Chama azul-clara Cobre Fonte: Vogel (1981, p. 432). O cloreto de potássio é muito mais volátil do que os cloretos dos metais alcalino terrosos. Assim, é possível detectar potássio na chama oxidante inferior, e cálcio, estrôncio e bário na zona de fusão. Após todos os ensaios, o fio de platina deve ser limpo com ácido clorídrico concentrado. É melhor conservar o fio permanentemente no ácido. Para isso, devemos escolher uma rolha que se encaixe em um tubo de ensaio e fazer um furo na rolha, através do qual será inserido o bastão de vidro do fio de platina. Colocamos ácido clorídrico até a metade do tubo de ensaio, de forma que, quando colocamos o bastão de vidro no furo, o fio de platina fique imerso no ácido (VOGEL, 1981). 2.1.2 Reações por via úmida A análise qualitativa envolveum número muito grande de procedimentos entre os métodos mais modernos, como: cromatográficos, nucleares e espectrográficos. No entanto, o método mais utilizado inclui a dissolução da amostra e a análise da solução por meio de reações químicas. Dessa forma, na maioria dos casos, a primeira etapa do procedimento analítico é preparar a 19 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA solução aquosa da amostra. Essa etapa pode ser extremamente simples, colocando água sobre a amostra sólida, ou pode exigir um tratamento mais complexo, como reações com ácidos. Uma vez preparada a solução, a análise ocorre por separações, detecções e confirmações (BACCAN et al., 1995). Quando uma solução é constituída por muitos íons diferentes, há grande chance de qualquer teste realizado com o objetivo de identificar um deles sofrer interferência de outros. Observação O Ag+ forma o AgCl, que é um precipitado branco, mas o Pb2+ e o Hg2 2+, quando reagem com o íon cloreto, também formam precipitados brancos. As separações são empregadas para separar o íon de interesse dos outros, que podem provocar interferências. Essas separações podem ser realizadas por meio de precipitações de um ou vários cátions, enquanto outros ficam dissolvidos na solução. A detecção em análise qualitativa é uma espécie de identificação, mas não definitiva, do íon. Isso pode ser feito assim que a amostra é recebida, por meio de observações da cor, estado físico, odor ou procedência da amostra. A observação do comportamento de uma espécie química frente a vários reagentes diferentes estabelece procedimentos para sua identificação com certo grau de certeza. A identificação dos íons é realizada por meio de reações químicas que produzem precipitados, liberação de gás ou reações coloridas (BACCAN et al., 1995). É necessário ainda realizar um teste confirmatório, para se ter certeza da identidade do íon, geralmente realizado por meio de uma solução contendo apenas um tipo de íon, e o comportamento característico deste com determinados reagentes comprova a presença da espécie em questão (BACCAN et al., 1995). 2.2 Classificação de cátions e ânions Os cátions são classificados em cinco grupos, com base em seu comportamento ao reagir com determinados reagentes. Através dessa classificação, podemos separar e concluir a presença de determinados cátions em solução, para análise posterior. Os reagentes mais comuns utilizados na separação dos cátions são: o ácido clorídrico (HCl), o ácido sulfúrico (H2SO4), o ácido sulfídrico (H2S), o sulfeto de amônio ((NH4)2S) e o carbonato de amônio ((NH4)2CO3). A classificação foi baseada na forma como os cátions reagem com alguns reagentes, formando precipitados ou não. Assim, podemos dizer que a classificação dos íons foi estabelecida por diferenças de solubilidade de seus cloretos, sulfetos e carbonatos (VOGEL, 1981). 20 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Os cinco grupos de cátions são (VOGEL, 1981): • Grupo I: seus cátions precipitam com a adição de ácido clorídrico diluído, formando cloretos insolúveis. São o chumbo, a prata e o mercúrio I. • Grupo II: seus cátions formam precipitados com o ácido sulfídrico em meio ácido diluído, mas não reagem com o ácido clorídrico. São mercúrio II, cobre, bismuto, cádmio, que formam o grupo IIa, e arsênio III, arsênio V, antimônio III, antimônio V, estanho II, estanho III e estanho IV, que formam o grupo IIa. Os cátions do grupo IIb são solúveis em polissulfetos de amônio, os do grupo IIa não. • Grupo III: os cátions deste grupo são divididos em IIIa, que formam precipitados com o hidróxido de sódio, e IIIb, que formam precipitados com sulfeto de amônio em meio amoniacal ou neutro, não reagem com o ácido clorídrico, nem com o ácido sulfídrico. São: ―— IIIa: ferro II, ferro III, cromo III, alumínio. ―— IIIb: cobalto II, níquel II, zinco em manganês II. • Grupo IV: os cátions deste grupo formam precipitados com o carbonato de amônio na presença de cloreto de amônio, em meio levemente ácido ou neutro, não reagem com o ácido clorídrico, o ácido sulfídrico, nem o sulfeto de amônio. São cálcio, estrôncio e bário. • Grupo V: são cátions que não reagem com nenhum dos reagentes utilizados até o momento. São sódio, potássio, amônio e magnésio. Na figura a seguir podemos observar um esquema da marcha analítica por via úmida, representada por um fluxograma, no qual dentro dos quadros os íons representam as espécies que estão dissolvidas em água na solução. Do lado esquerdo estão representados os sais precipitados em cada etapa. Nota-se que, nesse momento, os sais de cada grupo estão misturados. Do lado direito do fluxograma estão representados os reagentes adicionados em cada etapa para precipitação de cada grupo. Para explicarmos a sequência de etapas mostradas na figura, vamos imaginar que temos uma amostra de água contaminada com metais pesados, mas não sabemos exatamente quais são os metais presentes nessa amostra. Uma maneira de identificar alguns metais é através da marcha analítica por via úmida. 21 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Ni2+, Co2+, Zn2+, Mn2+, Ca2+, Sr2+, Ba2+, Mg2+, Na+, K+ e NH4 + Ag+, Hg2 2+, Pb2+, Hg+2, Bi3+, Cu2+, Cd2+, As3+, As5+, Sb3+, Sb5+, Sn2+, Sn4+, Fe3+, Al3+, Cr3+, Ni2+, Co2+, Zn2+, Mn2+, Ca2+, Sr2+, Ba2+, Mg2+, Na+, K+ e NH4 + Hg+2, Bi3+, Cu2+, Cd2+, As3+, As5+, Sb3+, Sb5+, Sn2+, Sn4+, Fe3+, Al3+, Cr3+, Ni2+, Co2+, Zn2+, Mn2+, Ca2+, Sr2+, Ba2+, Mg2+, Na+, K+ e NH4 + Fe3+, Al3+, Cr3+, Ni2+, Co2+, Zn2+, Mn2+, Ca2+, Sr2+, Ba2+, Mg2+, Na+, K+ e NH4 + Ca2+, Sr2+, Ba2+, Mg2+, Na+, K+ e NH4 + Mg2+, Na+, K+ e NH4 + AgCl, Hg2Cl2, PbCl2 Grupo I 1) H2O2 3% 2) ajustar HCl 0,3 M 3) ∆ e saturar com H2S 1) ∆ 2) HNO3 concentrado NaOH 4 M H2O2 3% ∆ (aquecimento) (NH4)2S 0,2 M ∆ (aquecimento) HCl 6 M + NH4 OH 6 M (NH4)2CO3 1,5 M 1) HCl diluído HgS, Bi2S3, CuS, CdS, As2S3, Sb2S3, Sb2S5, SnS2 Grupo IIa e IIb Al(OH)3, Fe (OH)3, Cr (OH)3 Grupo IIIa NiS, CoS, MnS, Zns Grupo IIIb CaCO3, SrCO3, BaCO3 Grupo IV Grupo V Figura 4 – Classificação dos cátions, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) Para conseguirmos separar os cátions dos quatro grupos, devemos realizar a sequência de reações desde o início, e não apenas a etapa dos cátions de interesse para obtermos sucesso na separação. Para iniciarmos a análise, adicionamos ácido clorídrico diluído a uma amostra de água. Caso haja a formação de precipitado, indica a presença dos cátions do grupo I, todos os cátions podem estar presentes simultaneamente ou apenas um deles. O precipitado formado pode conter uma mistura dos sais AgCl, Hg2Cl2, PbCl2, ou apenas um deles. O precipitado é filtrado e retirado da solução, sendo armazenado para posterior análise. Na solução que foi filtrada, adicionamos H2O2 3%, HCl 0,3 M, aquecemos e saturamos com H2S. Caso os cátions do grupo II estejam presentes, haverá a formação de precipitado, que pode conter um 22 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I ou uma mistura dos seguintes sais: HgS, Bi2S3, CuS, CdS, As2S3, Sb2S3, Sb2S5, SnS2. Esse precipitado é separado da solução por filtração e armazenado para posterior análise. Aquecemos o filtrado e nele adicionamos ácido nítrico concentrado, solução 4 M de hidróxido de sódio, peróxido de hidrogênio 3%, mantendo o aquecimento. Se houver a formação de precipitado, nele pode conter um ou uma misturados sais: Al(OH)3, Fe(OH)3, Cr(OH)3. Os sais são removidos da solução por meio de uma filtração, mas ainda podem existir cátions do grupo III na solução. Para removê-los, precisamos adicionar uma solução 0,2 M de sulfeto de amônio e aquecer. Se houver a formação de precipitado, os sais NiS, CoS, MnS e ZnS podem estar presentes. Para isso, devemos reservar o sólido para posterior investigação. Para verificarmos a presença dos cátions do grupo IV, adicionamos ao filtrado uma solução 6 M de HCl, uma solução 6 M de NH4OH e uma solução 1,5 M de carbonato de amônio. Se houver a formação de precipitado, podemos encontrar um ou uma mistura dos seguintes sais: CaCO3, SrCO3, BaCO3. Estes serão separados da solução por meio de uma filtração e o precipitado será armazenado para posterior separação. Finalmente, se houver cátions do grupo V em solução, eles poderão ser isolados de acordo com o fluxograma da figura a seguir. Mg2+, Na+, K+ e NH4 + Mg2+, Na+, K+ Mg(NH4)PO4.6H2O K3[Co(NO2)6] NaZn(UO2)3(CH3COO)9 NH4Cl, Na2HPO4 Zn(UO2)3(CH3COO)8 Na3[Co(NO2)6] NH3↑ Grupo V NaOH, ∆ Figura 5 – Separação de cátions do grupo V, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) Para separarmos os cátions do grupo V, adicionamos hidróxido de sódio ao filtrado e aquecemos, se houver o desprendimento de gás, indica a presença do cátion amônio, sendo liberado na forma de amônia (NH3). Em seguida, adicionamos a solução cloreto de amônio e fosfato ácido de sódio, se o cátion magnésio estiver presente na solução, o precipitado Mg(NH4) PO4 hexahidratado será formado. Uma vez que este for filtrado, adicionamos o complexo reagente 23 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Zn(UO2)3(CH3COO)8. Caso haja a formação de um precipitado, indica a presença do cátion sódio na solução, com a formação do complexo NaZn(UO2)3(CH3COO)9. Esse complexo será filtrado e, ainda na solução, adicionamos o reagente Na3[Co(NO2)6]. Se o cátion potássio estiver presente na solução, haverá a formação de um precipitado de fórmula K3[Co(NO2)6]. Assim, separamos todos os cátions do grupo V. Voltamos agora à mistura de precipitados filtrados na separação de cátions do grupo I. A separação do chumbo, prata e mercúrio ocorrerá de acordo com a figura a seguir. HCl diluído Ag+, Hg2 2+, Pb2+ AgCL, Hg2CL2, PbCL2 Pb2+ PbCrO4 AgCL, Hg2Cl2 Hg0 + Hg(NH2)Cl [Ag(NH3)2] + AgCl H2O ∆(aquecimento) K2CrO4 1M em CH3COOH dil. NH3 ∆ HNO3 diluído Figura 6 – Separação dos cátions do grupo I, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) Adicionamos água à mistura de precipitados e aquecemos com o objetivo de solubilizarmos parte da amostra. Em seguida, filtramos os sólidos insolúveis. Adicionamos ao filtrado uma solução de 1 M de dicromato de potássio em ácido acético diluído. A formação de um precipitado amarelo indica a presença do cátion chumbo. O sólido não solubilizado é colocado em uma solução contendo amônia, sob aquecimento. Se houver a formação de um complexo de coloração escura, indica a presença de mercúrio. Esse complexo é filtrado e, na solução, adicionamos ácido nítrico diluído. A formação de um precipitado branco indica a presença de prata. 24 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I HgS, Bi2S3, CuS, CdS, As2S3, Sb2S3, Sb2S5, SnS2 AsO3 3-, AsS3 3-, SbO2 -, SbS2 -,SbSO3 3-, SbS4 3-, SnO3 2-, SnS3 2- As2S3, Sb2S3, Sb2S5, SnS2 As2S3 Sb2S3 As2S3, Sb2S3, Sb2S5, SnS2 Sb3+, Sn4+ Sn4+ HgS, Bi2S3, CuS, CdS HgS, Bi2S3, CuS, CdS HgS Bi3+, CuS2+, CdS2+ Cu(NH3) 2+, Cd(NH3) 2+ Cd(NH3) 2+ CdS Cu2[Fe(CN)6] Bi(OH)3 KOH 2M H2S HCl concentrado H2S H2S NH3 HCl conc. e ∆ HNO3 diluído K4 [Fe(CN)6] em ác. acético NH3 Grupo lla Grupo llb Figura 7 – Separação de cátions do grupo IIa e IIb, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) A mistura de precipitados, filtrados na separação de cátions do grupo II, é dissolvida em uma solução de hidróxido de potássio 2M e ácido sulfídrico. Uma parte do precipitado não se dissolve, correspondendo aos cátions do grupo IIa, enquanto os cátions do grupo IIb se dissolvem. Em seguida, separamos por filtração os cátions insolúveis do grupo IIa. No filtrado estão os cátions do grupo IIb. A ele adicionamos ácido clorídrico concentrado e ácido sulfídrico, obtendo a mistura insolúvel dos sulfetos de arsênio III, antimônio III, antimônio V e estanho IV. Essa mistura de sais é filtrada e posteriormente dissolvida em ácido clorídrico concentrado. Se a solução ainda apresentar uma parte insolúvel, indica a presença do arsênio, que é separado da solução por filtração. Adicionamos ácido sulfídrico e amônia à solução e a formação de um precipitado indica a presença de antimônio. O estanho permanece dissolvido na solução. 25 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA O precipitado contendo os cátions do grupo IIa é dissolvido em ácido nítrico diluído. Se uma parte do sólido ainda permanecer insolúvel, indica a presença do mercúrio II. Este deve ser separado por filtração. Ao filtrado, adicionamos uma solução contendo amônia. A formação de um precipitado indica a presença de bismuto, que será precipitado na forma de hidróxido de bismuto, o qual será filtrado. À solução filtrada, adicionamos ferricianeto de potássio em ácido acético. A formação de um precipitado, o ferricianeto de cobre II, indica a presença do cobre, que será filtrado. À solução remanescente adicionamos ácido sulfídrico e a formação de um precipitado indica a presença de cádmio, separando assim todos os cátions do grupo II. O grupo III foi dividido em IIIa e IIIb. Para separarmos os cátions do grupo IIIa, adicionamos as misturas de sais em uma solução de NaOH e peróxido de hidrogênio 3% e aquecemos, com o objetivo de solubilizar parte da amostra. Se ainda houver uma parte sólida, indica a presença do ferro na forma do sal Fe(OH)3. Este é removido da solução por filtração. À solução filtrada, adicionamos ácido clorídrico, amônia e aquecemos. A formação de um precipitado indica a presença de alumínio, já o cromato permanece dissolvido na solução, como podemos observar na figura a seguir. Grupo IIIa HCl, NH3, ∆ Al(OH)3, Fe(OH)3, Cr(OH)3 Fe(OH)3 Al(OH)4, CrO4 2- CrO4 2-Al(OH)3 NaOH H2O2 3% ∆ Figura 8 – Separação de cátions do grupo IIIa, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) O precipitado do grupo IIIb foi solubilizado em uma solução de ácido clorídrico 2 M. Apenas uma parte do precipitado foi dissolvida, a outra foi filtrada e separada. À solução, foi adicionada uma solução de hidróxido de sódio, peróxido de hidrogênio e a mistura foi aquecida. A formação de um precipitado indica a presença de manganês, que deve ser separado por filtração. A formação de um novo precipitado na solução do filtrado após a adição de sulfeto de hidrogênio indica a presença de zinco. Retornando à parte insolúvel da primeira etapa dessa separação, o sólido foi solubilizado em uma solução contendo NaOCl, HCl sob aquecimento. Após solubilização total, foi adicionada dimetilglicina (DMG). A formação de um precipitado indica a presença de níquel e o cobalto permanece dissolvido na solução, como podemos observar na figura a seguir. 26 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Grupo IIIb NaOH, H2O2 3%, ∆ H2S HaOCl, HCl, ∆ DMG NiS, CoS, MnS, ZnS NiS, CoS Ni2+, Co2+ Mn2+, Zn2+ [Zn(OH)4]2+ Co2+ ZnS MnO2xH2O Ni(DMG)2 HCl 2 M Figura 9 – Separação de cátions do grupo IIIb, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) A figura a seguir mostra o fluxograma para a separação dos cátions precipitados no grupo IV. A mistura foi totalmente solubilizada em ácido acético e, em seguida, foi adicionado cromado de potássio. A formação de um precipitado indica a presença do bário, que foi separado por filtração. Ao filtrado, foi adicionada uma solução de sulfato de amônio e a formação de um precipitado indica a presença do estrôncio. O cátion cálcio permanece dissolvido na solução. Grupo IV (NH4)2SO4 Ca2+, Sr2+ BaCrO4 Ca2+ SrSO4 ácido acético K2CrO4 CaCO3, SrCO3, BaCO3 Ca2+, Sr2+, Ba2+ Figura 10 – Separação de cátions do grupo IV, conforme Vogel (1981) e Baccan et al. (1995) Após a separação e detecção dos cátions, podemos dar início à identificação de ânions, visto que já temos muitas informações sobre a presença de alguns deles. Não apenas os ensaios por via seca, mas os ensaios por via úmida também nos trouxeram informações durante as separações dos grupos e cátions. Pudemos observar, por exemplo, a presença de boratos, fosfatos, oxalatos e fluoretos antes da precipitação dos cátions do grupo III, assim como cromatos, arseniatos e permanganatos também puderam ser encontrados de forma semelhante em algumas etapas da separação (VOGEL, 1981). 27 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Podemos classificar os ânions em grupos, porém isso não é muito comum porque, ao contrário dos cátions, não existe uma separação sistemática para eles. A classificação dos ânions tem como base as reações que se processam em meio ácido diluído na ausência ou presença de cátions prata. Podemos observar essa classificação na tabela a seguir (ABREU et al., 2006). Os ânions que se decompõem em solução ácida diluída, formando gases, são do grupo I. Dessa forma, o CO3 2- gera CO2, NO2 - se decompõe em NO e NO2, o S 2- produz H2S e SO3 - e S2O3 2- formam o SO2. Os ânions do grupo II não precipitam quando reagem com cátion prata em meio ácido e os ânions que precipitam em meio neutro com o cátion prata são do grupo III. Não existe um reagente comum para o grupo IV. Como podemos observar na tabela a seguir, alguns ânions aparecem em mais de um grupo (ABREU et al., 2006). Para a análise de ânions, o grupo no qual cada ânion aparecerá depende da sequência de reações adotada para os testes de identificação. Se uma amostra constituída por todos os ânions apresentados na tabela for acidificada inicialmente, todos os ânions do grupo I serão precipitados e, na sequência, não precipitarão novamente. Mas, caso o meio não seja acidificado, esses ânions não serão eliminados e precipitarão como sais de prata. Por exemplo: os ânions C2H3O2 -, NO2 - e SO4 2- são classificados como pertencentes ao grupo III. Porém, os ânions desse grupo precipitarão apenas como sais de prata se sua concentração em solução for maior que 5 mg/mL, uma concentração considerada alta. Por isso, C2H3O2 - e SO4 2- também aparecem no grupo IV (ABREU et al., 2006). Tabela 1 – Classificação de ânions Grupos Reagente de grupo Ânions constituintes I HClO4 diluído (6 mol/L) CO3 2-, NO2 -, S2-, SO3 -, S2O3 2- II HClO4 diluído (6 mol/L) e AgNO3 Br -, Cl-, I-, S2- e S2O3 2- III Solução neutra e AgNO3 C2H3O2 -, AsO4 3-, CO3 2-, Cr04 2-, NO2 -,C2O4 2-, PO4 3-, BO3 3-, SO4 2-, SO3 -, S2O3 2- IV Não Possui reagente de grupo C2H3O2 -, F-, NO3 -, MnO4 -, SO4 2- Fonte: Abreu et al. (2006, p.1.382). Observação Os ânions em negrito na tabela são classificados em mais de um grupo. Para a identificação dos ânions, precisamos preparar um extrato de soda e, a partir dele, descrevermos vários testes para a identificação dos ânions. Extrato de soda: aqueça, até a fervura, 1 g de amostra sólida, finamente dividida, em uma solução saturada de CaCO3 puro por dez minutos, fazendo uso de um frasco de Erlenmeyer e de um pequeno funil, colocado na boca do Erlenmeyer com o objetivo de reduzir a perda da solução por evaporação. Em seguida, filtre para eliminar os resíduos sólidos e lave-os com água destilada quente, recolha todas as porções de água de lavagem e o filtrado. O volume total deve ser de cerca de 30 a 35 ml. Não descarte o resíduo sólido (VOGEL, 1981). 28 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Ensaio para sulfato: adicione algumas gotas de HCl diluído a 2 ml do extrato de soda. Em seguida, adicione mais 1 ou 2 ml de ácido em excesso. Aqueça até a fervura e deixe ferver por 2 minutos para eliminação do CO2 e, em seguida, adicione 1 ml de BaCl2. A formação de um precipitado branco indica a presença de sulfato (VOGEL, 1981). Ensaio para agentes redutores: adicione gotas de ácido sulfúrico a 2 ml do extrato de soda. Em seguida, adicione 1 ml de excesso de ácido. Adicione 0,5 ml de uma solução 0,4 M de KMnO4 lentamente, por meio de um conta-gotas. Se houver o branqueamento da solução, indica a presença de um ou uma mistura dos ânions arsenito, iodeto, brometo, tiocianato, cianeto, nitrito, sulfeto, sulfito e tiossulfato. Se a solução não sofrer descoloração, submeta a aquecimento e observe. Se houver branqueamento, oxalato, tartarato e formiato podem estar presentes. Um ensaio com resultado negativo indica a presença dos ânions acima, exceto quando o cianeto apresentar concentração baixa, pois não conseguirá descolorir o permanganato (VOGEL, 1981). Ensaio para agentes oxidantes: para a realização deste ensaio, é importante que a solução saturada de cloreto de manganês II em HCl concentrado seja convertida em sal de manganês III de cor marrom-escuro, contendo íons complexos, por agentes oxidantes fracos. Adicione 1 ml de HCl a 2 ml de extrato de soda e 2 ml do reagente de cloreto de manganês II. Se a solução ficar marrom, podem estar presentes os íons pemanganato, cromato, iodato, bromato, clorato, nitrito e nitrato. Um resultado negativo indica a ausência de íons oxidantes, com exceção de quantidades pequenas de arseniatos, nitrato e nitritos. Em caso de ânions redutores serem encontrados, este ensaio não pode ser considerado conclusivo (VOGEL, 1981). Ensaio com solução de nitrato de prata: com esse reagente, é possível separar um grande número de ânions presentes no extrato de soda. Porém, podemos encontrar algumas dificuldades na separação dos ânions caso o tiossulfato, sulfito, sulfeto e cianeto estejam presentes. Desta forma, esse ânions devem ser testados antecipadamente e removidos. O ensaio preliminar para detectar o tiossulfato é feito com ácido sulfúrico diluído. Caso seja positivo, o ânion deverá ser removido por aquecimento da mistura com ácido sulfúrico diluído até que não haja a formação de SO2 gasoso. A mistura residual deve ser evaporada até a secura e, em seguida, deve ser aquecida com solução 1,5 M de carbonato de sódio. Podemos identificar o sulfeto com a adição de algumas gotas de solução de nitrato de chumbo a 0,5 ml de extrato de soda, com a formação de um sólido preto de sulfeto de chumbo. O cianeto pode ser identificado com um ensaio prévio com HCl diluído. Enquanto o sulfito pode ser identificado com um ensaio prévio com H2SO4 diluído (VOGEL, 1981). Ensaio com solução de cloreto de ferro III: adicione ao reagente da bancada, que contém ácido clorídrico livre, uma solução de amônia diluída, até a formação de um precipitado. Filtre e utilize o filtrado, solução neutra de cloreto de ferro III, para o ensaio. Adicione à segunda parte do extrato de soda neutralizado a solução de FeCl3, gota a gota, até que não ocorra nenhuma mudançaposterior (VOGEL, 1981). 29 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Ensaio para silicato: adicione à terceira parte do extrato de soda neutralizado NH4Cl e uma solução de (NH4)2CO3. Caso ocorra a formação de um precipitado gelatinoso, existe a presença de silicato. O hidróxido de hexamino de zinco [Zn(NH3)6](OH)2 é o reagente mais indicado para essa precipitação, visto que o silicato de zinco é menos solúvel em uma solução alcalina diluída que o ácido silícico livre. Assim, o reagente é adicionado em excesso e a solução é aquecida à fervura até que toda a amônia seja eliminada na forma de vapor (VOGEL, 1981). Ensaio para fluoretos: podemos identificar fluoretos em ensaios preliminares, quando, no tubo de ensaio, surgir uma substância de aparência oleosa, com a adição de ácido sulfúrico ou ainda por um ensaio utilizando uma solução de cloreto de cálcio. Prepare um tubo de ensaio pequeno com uma rolha, na qual haja um tubo de vidro com as duas extremidades abertas. Corte a lateral da rolha, fazendo um entalhe em V, permitindo a expansão do ar no tubo, durante o aquecimento. Em um cadinho, misture uma pequena quantidade da substância original com aproximadamente três vezes seu volume de sílica em ignição e transfira essa mistura para o tubo. Adicione cerca de duas vezes o volume de sólido de ácido sulfúrico concentrado usando um conta-gotas. Umedeça o tubo de vidro com água e introduza a parte molhada no tubo, formando um anel de água na extremidade inferior. Ajuste a altura do tubo, de maneira que sua extremidade fique próxima à mistura no fundo do tubo. Aqueça suavemente a mistura sobre uma chama por cerca de 2 a 3 minutos. A formação de uma película branca de ácido silícico na água indica a presença de fluoreto (VOGEL, 1981). Ensaio para o cianeto: o cianeto pode ser perdido no ensaio preliminar com o ácido sulfúrico diluído e no ensaio com o permanganato de potássio para ânions redutores. Para um ensaio de cianeto conclusivo devemos colocar 2,0 g da amostra no tubo de ensaio, adicionar 3 ou 4 pedrinhas de mármore e adicionar 5 ml de ácido clorídrico 2 M. Tampe imediatamente com uma rolha, a qual foi furada com um tubo de vidro aberto das duas extremidades. A extremidade externa ao tubo foi conectada a uma mangueira de silicone que foi mergulhada em uma solução de 5 ml de solução de hidróxido de sódio 2 M para borbulhar o gás desprendido. Após 5-10 minutos, adicione 0,5 ml de solução saturada de FeSO4 à solução alcalina, aqueça até a fervura e deixe esfriar. Adicione algumas gotas de Fe2(SO4)3. A formação de um precipitado azul indica a presença de pequenas quantidades de cianeto, a solução torna-se azul ou verde-azulado (VOGEL, 1981). Este ensaio ainda pode ser feito com 2 ml do extrato de soda. A presença de nitrito pode causar interferências na reação devido à oxidação do HCN, enquanto o carbonato, sulfito e tiossulfato não interferem. A presença de sulfeto provoca a precipitação do FeS preto, quando o sulfato é adicionado à solução alcalina. Dessa forma, devemos ferver a solução novamente para eliminar o H2S dissolvido. Quando adicionamos 1 gota de solução de Fe2(SO4)3, produzimos um precipitado azul na presença de cianeto (VOGEL, 1981). Ensaio para o cromato: quando extrato de soda é incolor, indica a ausência de cromato, mas se é amarelo indica sua presença. A confirmação da presença do cromato ocorre com a precipitação do hidróxido de cromo III verde, utilizando uma solução de nitrato de prata. 30 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Adicione ácido sulfúrico diluído a 2 ml do extrato de soda e aqueça a fervura por 1 minuto para eliminar o dióxido de carbono, filtre se for necessário, adicione de 1 a 2 ml de álcool amílico, seguido de 1 a 2 ml de H2O2 10 volumes e agite. Se houver a formação de uma cor azul de álcool amílico, o cromato está presente (VOGEL, 1981). Ensaio para o iodato: o iodato pode ter sua presença indicada nos ensaios para agentes oxidantes, mas geralmente não é detectado na análise sistemática. No extrato de soda, sua presença pode ser identificada tratando 2 ml do extrato de soda com uma solução de AgNO3 até que a precipitação acabe, em seguida aquecer até a fervura por 2 a 3 minutos e filtrar. Adicione ácido clorídrico, para diminuição de pH, e 2 ml de solução de FeSO4. Agite com 2 ml de CCl4. A presença de uma coloração púrpura na parte orgânica indica a presença do iodato (VOGEL, 1981). 2.3 Amostragem e preparação de amostra para análises O processo de amostragem inclui a obtenção de uma pequena quantidade de material que represente de forma exata o que está sendo analisado como um todo. A coleta de uma amostra representativa envolve métodos estatísticos, pois grande parte dos métodos analíticos não é absoluto e precisam que os seus resultados sejam comparados com os resultados obtidos por padrões, que são amostras de composição conhecida. Muitos métodos incluem a comparação direta com padrões, mas alguns precisam de um procedimento de calibração indireto (SKOOG et al., 2009). Podemos classificar os métodos analíticos de muitas maneiras, uma delas se baseia no tamanho da amostra. A quantidade de amostra pode ser usada para classificar o tipo de análise a ser feito. Lembrete Uma amostra considerada ultramicro possui massa até 0,0001 g ou 0,1 mg; uma amostra micro, entre 0,1 e 10 mg; uma amostra semimicro, entre 10 mg e 100 mg. Amostras com massas maiores que 100 mg são consideradas macro. Ultramicro Semimicro Macro Micro 0,0001 0,001 0,01 0,1 Dimensão da amostra, g Ti po d e an ál ise Figura 11 – Classificação da amostra pela quantidade 31 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Uma amostra de solo de 1 g usada para determinação de um provável poluente, por exemplo, poderia ser classificada como macroanálise, enquanto 5 mg de um pó suspeito de ser uma substância ilegal poderia ser considerada uma microanálise. Um laboratório analítico trabalha com amostras que variam de tamanhos entre macro e micro, podendo chegar a ultramicro. As técnicas usadas para análise são bem diferentes, dependendo do tamanho da amostra. A constituição da amostra pode ter uma grande faixa de concentração, o que também influencia na escolha do método mais adequado. Muitos métodos são apropriados para determinação de constituintes majoritários, nos quais as concentrações variam de 1% a 100%. Os constituintes ditos minoritários estão presentes na amostra em concentrações que variam de 0,01% a 1%, constituintes em concentrações menores são chamadas de traços ou subtraços. Podemos citar como exemplo a determinação da concentração de mercúrio em amostras de água de rios, na faixa de ppb a ppm, em amostras de 1 ml. Essa análise pode ser classificada como microanálise de um constituinte traço (SKOOG et al., 2009). A análise de amostras reais pode ser complexa devido à sua matriz, que pode ser constituída de espécies com propriedades químicas semelhantes às do analito. Essas espécies podem interferir na análise, reagindo com os mesmos reagentes, assim como a espécie a ser analisada, ou podem provocar uma resposta instrumental que não pode ser distinguida da resposta do analito. Essas interferências podem ser causadas por espécies estranhas contidas na matriz, as quais são chamadas de efeito matriz. Esses efeitos podem ser causados pela matriz, mas também por reagentes e soluções usadas na preparação da amostra para a análise. A composição da matriz pode sofre variação por causa do tempo, perdendo água por desidratação,sofrendo reações fotoquímicas durante o armazenamento, entre outros. Assim, podemos analisar amostras, determinando as concentrações de seus constituintes, por exemplo: podemos determinar a concentração de glicose em soro sanguíneo (SKOOG et al., 2009). Uma análise química é realizada em uma fração do material em que se quer determinar sua composição. A composição dessa amostra precisa refletir a composição do material como um todo, para que o resultado da análise tenha algum valor. O processo pelo qual coletamos uma fração representativa é conhecido como amostragem. Em muitos casos a amostragem é uma etapa difícil no processo analítico, pois pode limitar a exatidão do procedimento. Isso pode ocorrer quando o material a ser analisado tiver grande volume e for um líquido heterogêneo, como um lago, um minério, caso seja um sólido, um solo ou um pedaço de tecido animal (SKOOG et al., 2009). Lembrete A amostragem para análise química envolve métodos estatísticos, uma vez que serão tiradas conclusões de uma quantidade muito maior de material a partir da análise de uma fração. 32 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I O processo de amostragem precisa garantir que os itens escolhidos representem o material como um todo. Esses itens são chamados de unidades de amostragem. Se considerarmos que uma coleção possui 100 moedas, podemos determinar a concentração média de chumbo em cada uma delas. Nossa amostra deve possuir cinco moedas, cada uma é uma unidade de amostra. Do ponto de vista estatístico, a amostra corresponde a várias pequenas partes tiradas de diferentes partes do todo. Os químicos chamam a coleção de unidades de amostragem de amostra bruta. As composições da amostra bruta e da amostra de laboratório precisam ser similares à composição média da massa de material a ser analisada (SKOOG et al., 2009). A amostra bruta geralmente é reduzida em tamanho para se tornar amostra de laboratório. Materiais em pó, líquido ou gases podem não ser homogêneos e serem formados por partículas microscópicas de composições variadas. Para esses materiais, para garantir a representatividade da amostra, devemos recolher partes do material de regiões diferentes de todo o material. A figura a seguir mostra as três etapas para a obtenção de uma amostra de laboratório. Identificar a população Coletar uma amostra bruta Reduzir a amostra bruta para uma amostra de laboratório Figura 12 – Etapas para preparação de uma amostra de laboratório Do ponto de vista estatístico, a amostragem tem como objetivo: • Obter um valor médio que seja uma estimativa real média do todo. Este objetivo só pode ser alcançado se todos os membros da população tiverem uma probabilidade igual de estarem inclusos na amostra. • Obter uma variância que seja uma estimativa real da variância da população, para que os limites de confiança válidos para a média possam ser encontrados e alguns testes de hipóteses possam ser aplicados. Esse objetivo pode ser alcançado apenas se toda amostra possível puder ser igualmente coletada (SKOOG, et al., 2009). Os dois objetivos precisam de uma amostra aleatória. Nesse caso, o termo aleatório não indica que as amostras sejam escolhidas de forma casual, mas que o procedimento seja randômico. Isto é, se considerarmos que a nossa amostra seja formada por 10 tabletes farmacêuticos a serem coletados de 1.000 tabletes de uma linha de produção. Uma maneira de garantir uma amostra aleatória é escolher os tabletes para análise a partir de uma tabela com números aleatórios. Isto pode ser gerado a partir de uma tabela de números aleatórios ou a partir de uma planilha de cálculos. Designaríamos um número de 1 a 1.000 para cada tablete e usaríamos os números escolhidos aleatoriamente exibidos na coluna C da planilha, retirando para a análise os tabletes 37, 71, 171 e assim por diante. 33 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA A figura a seguir ilustra a geração de 10 números aleatórios de 1 a 1.000 por meio de uma planilha. A função número aleatório do Excel [=ALEATÓRIO ( )] gera números aleatórios entre 0 e 1. O multiplicador mostrado na documentação garante que os números gerados na coluna B estejam entre 1 e 1.000. Para se obter números inteiros, usamos o comando Formatar/Células na barra de menus, escolhemos o número e então zero nas casas decimais. Desta forma, o número de dígitos não varia a cada cálculo, os números aleatórios da coluna B são copiados e colados como valores na coluna C usando o comando copiar/colar especial da barra de menus. Na coluna C os números foram colocados em ordem crescente, usando-se o comando Dados/Classificar, contido na barra de menus do Excel (SKOOG et al., 2009). Figura 13 – Planilha de números aleatórios Os erros sistemáticos e os erros aleatórios, quando aparecem em dados analíticos, podem ser devido a causas instrumentais, do método e pessoais. A maioria dos erros sistemáticos pode ser reduzida ou eliminada, de forma cuidadosa, por meio de calibração e pelo uso apropriado de padrões de controle e de amostras de referência. Os erros aleatórios, que estão representados na precisão dos dados, podem ser mantidos em níveis aceitáveis através do controle rigoroso das variáveis que podem influenciar as medidas. Erros provenientes da amostragem são únicos, no sentido de que não são controláveis pelo uso de brancos e padrões ou pelo controle rigoroso das variáveis experimentais. Por esse motivo, os erros de amostragem são tratados separadamente das demais incertezas ligadas à análise (SKOOG et al., 2009). Para as incertezas independentes e aleatórias, o desvio padrão global Sg para uma medida analítica está relacionado com o desvio padrão do processo de amostragem Sa e com o desvio padrão do método Sm pela relação: Sg2 = Sa2 + Sm2 A variância do método será conhecida a partir de réplicas de medidas realizadas em uma única amostra de laboratório. Dessa forma, Sa pode ser calculada a partir de medidas de Sg para uma série de amostras de laboratório, cada uma delas obtida de várias amostras brutas. Uma análise de variância pode revelar se as variações entre as amostras são muito elevadas. Se não puderem ser melhoradas, muitas vezes, é preciso utilizar um método de análise menos preciso, porém mais rápido, podendo analisar mais amostras em um certo tempo. Como consequência, se a incerteza da amostragem for 34 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I muito alta e não puder ser melhorada, muitas vezes é importante mudar para um método de análise menos preciso, porém mais rápido. Assim, mais amostras podem ser analisadas em um dado intervalo de tempo. Quando o desvio padrão é menor em relação à média, por um fator de √N, a aquisição de um número maior de amostras pode melhorar a precisão (SKOOG et al., 2009). A amostra bruta é uma réplica menor da massa inteira do material que vai ser analisado. Ela deve ser correspondente ao todo do material em relação à sua composição química e à distribuição de tamanho de partículas, se for aplicável. A amostra bruta não pode pesar mais que o necessário, por questões econômicas. Esse peso é determinado pela incerteza que pode ser tolerada entre a composição da amostra bruta e do todo, pelo grau de heterogeneidade do todo e do nível de tamanho de partícula no qual a heterogeneidade se inicia. Uma solução homogênea, bem misturada, de um gás ou líquido heterogêneo somente em escala molecular e os pesos das moléculas governam o peso mínimo da amostra bruta. Um sólido particulado, como um solo ou um minério, representauma situação oposta. Nesse caso, os pedaços individuais dos sólidos diferem uns dos outros em composição. A heterogeneidade pode se desenvolver em partículas que podem ter dimensões na ordem de centímetros ou mais e podem ter a massa de vários gramas. Entre os extremos, estão as substâncias coloidais e os metais solidificados. Nos primeiros, a heterogeneidade é inicialmente encontrada na faixa de 10-5 cm ou menos. Em uma liga, a heterogeneidade ocorre primeiro nos grãos dos cristais (SKOOG et al., 2009). Para obtermos uma amostra bruta verdadeira e representativa, um determinado número N de partículas precisa ser tomado. A magnitude desse número depende da incerteza que pode ser tolerada e da heterogeneidade do material. O número pode variar de algumas poucas partículas até 1012 partículas. A necessidade de um grande número de partículas não é extremamente importante para gases e líquidos homogêneos, pois a heterogeneidade entre as partículas ocorre em nível molecular, primeiro. Desta forma, mesmo uma pequena massa da amostra deve conter mais que o número necessário de partículas. As partículas individuais de um sólido particulado podem pesar um grama ou mais, enquanto as amostras brutas podem pesar várias toneladas. A amostragem de tais materiais é, no mínimo, um procedimento oneroso e que consome muito tempo. Para diminuir custos, é importante determinar o menor peso do material necessário para gerar a informação desejada. As leis da probabilidade governam a composição de uma amostra bruta coletada aleatoriamente de um material como o todo. Por causa disso, é possível prever quanto uma fração selecionada de um todo é semelhante a esse todo. Podemos citar um caso ideal de uma mistura de dois componentes como um exemplo. Uma mistura farmacêutica contém somente dois tipos de partículas de mesmo tamanho, as partículas que chamaremos de A, que são constituídas pelo ativo, e as partículas B, constituídas pelo excipiente inativo. Desejamos coletar uma amostra bruta que permitirá determinarmos a porcentagem de partículas contendo o ativo no material como um todo (SKOOG et al., 2009). Para materiais líquidos ou gasosos, a amostra bruta pode ser pequena, uma vez que a não homogeneidade ocorre em nível molecular. Quando possível, o líquido ou gás a ser analisado deve ser agitado imediatamente antes da amostragem para assegurar que a amostra bruta seja homogênea. Com grandes volumes de soluções, esta agitação pode ser impossível, desta forma é melhor amostrar várias porções do recipiente com um coletor de amostras, um frasco que pode ser aberto e preenchido 35 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA em qualquer local desejado da solução. Esse tipo de amostragem é importante na determinação de constituintes de líquidos expostos à atmosfera. Desta maneira, o conteúdo em oxigênio da água de um lago, por exemplo, pode variar de um fator de 1.000 vezes ou mais em uma diferença de profundidade de poucos metros (SKOOG et al., 2009). Com a existência de sensores portáteis, podemos levar o laboratório até a amostra. A maioria dos sensores mede somente concentrações locais e não determina a média ou é sensível a concentrações remotas. No controle de processos e outras aplicações, as amostras são coletadas das correntes de fluxo. Assim, é necessário ter cuidado para que a amostra coletada represente apenas uma fração não representativa do fluxo total e que todas as porções da corrente sejam amostradas. Os gases podem ser amostrados por meio de muitos métodos. Em alguns casos, um saco de amostragem é simplesmente aberto e preenchido com o gás. Os gases podem ser absorvidos em um líquido ou adsorvidos na superfície de um sólido. Em alguns casos é difícil obter uma amostra aleatória a partir de um material particulado. A amostragem aleatória pode ser mais bem realizada enquanto o material está sendo transferido. Os dispositivos mecânicos têm sido desenvolvidos especialmente para o manuseio de muitos tipos de materiais particulados. Identificar a população a ser analisada Coletar aleatoriamente N partículas Estocar a amostra de laboratório Coletar aleatoriamente N partículas para gerar uma amostra bruta Reduzir o tamanho das partículas e homogeneizar a amostra bruta Remover porções da amostra para análise no laboratório A amostra tem o tamanho adequado para o laboratório? Sim Não Figura 14 – Etapas envolvidas na amostragem de um sólido particulado 36 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Amostras de metais e suas ligas são obtidas por meio de limalhas, moagem ou perfuração. Geralmente, não é seguro considerar que pedaços de um metal removido da superfície sejam representativos do todo, então os materiais do interior também precisam ser amostrados. No caso de alguns materiais, uma amostra representativa pode ser obtida serrando o material em intervalos aleatórios e coletando o pó residual como amostra. Uma alternativa é perfurar o material, novamente a distâncias espaçadas aleatoriamente, e coletar como amostra o material removido pela perfuração. A broca deve perfurar totalmente o bloco ou metade da espessura em cada um dos lados opostos. O material pode ser quebrado e misturado, ou ainda fundido conjuntamente em um cadinho especial feito de grafite. Podemos obter uma amostra granular vertendo o fundido em água destilada (SKOOG et al., 2009). Na preparação de uma amostra para um material sólido não homogêneo, a amostra bruta pode ser pesada na faixa de centenas de gramas até quilogramas, tornando-se necessária a redução da quantidade de amostra bruta para a amostra de laboratório. Finamente moída e homogênea, deve pesar no máximo algumas centenas de gramas. Como mostrado na figura anterior, esse processo envolve um ciclo de porções que inclui esmagar e moer, peneirar, misturar e dividir a amostra para reduzir seu peso. Uma vez que a amostra de laboratório esteja preparada, a questão que permanece é quantas amostras devem ser analisadas. Se tivermos reduzido a incerteza da medida de forma que ela seja menor que um terço da incerteza da amostragem, a última vai limitar a precisão da análise. O número depende do intervalo de confiança que desejamos utilizar para descrever o valor médio e do desvio padrão do método. Se o desvio padrão da amostragem sa for conhecido a partir da experiência prévia, podemos usar os valores de z contidos na tabela a seguir. C para µ = x + (zσa) / (√N) Tabela 2 – Níveis de confiança para vários valores de z Nível de confiança (%) z 50 0,67 68 1,00 80 1,28 90 1,64 95 1,96 95,4 2,00 99 2,58 99,7 3,00 99,9 3,29 Fonte: Skoog et al. (2009, p. 134). Usamos a estimativa com frequência, assim precisamos usar a tabela seguinte, contendo os valores de t. IC para µ = x + (tsa) / (√N) 37 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA O último termo dessa equação representa a incerteza absoluta que podemos tolerar a um nível de confiança específico. Se dividirmos esse termo pelo valor médio, x, podemos calcular a incerteza relativa σr que é tolerada em um determinado intervalo de confiança. σr = tsa x N√ Resolvendo a equação, teremos o número de amostras N: N = t2sa 2 x2 σr Tabela 3 – Largura do intervalo de confiança como uma função do número médio de medidas Número médio de medidas Largura relativa do IC 1 1,00 2 0,71 3 0,58 4 0,50 5 0,45 6 0,41 7 0,32 Fonte: Skoog et al. (2009, p. 134). 2.4 Dissolução da amostra A maior parte dassubstâncias orgânicas se dissolve facilmente em um solvente orgânico adequado. Algumas se dissolvem em água, em ácidos ou em bases. Várias substâncias inorgânicas se dissolvem em água ou ácidos diluídos. Devemos testar os materiais complexos, como minérios refratários e ligas, com vários solventes até se encontrar o mais adequado. A análise qualitativa preliminar indica o melhor procedimento a ser adotado. Cada caso deve ser visto isoladamente, mas vale a pena considerar a dissolução de uma amostra em água ou em ácidos e o tratamento das substâncias insolúveis. Pese em um béquer as substâncias que se dissolvem facilmente. Cubra-o com um vidro de relógio com o lado convexo para baixo. O béquer deve ter um bico para permitir o escapamento de gases e vapores. Adicione o solvente, derramando-o cuidadosamente com o auxílio de um bastão de vidro cuja extremidade inferior se apoia na parede do béquer. O bastão desloca ligeiramente o vidro de relógio. Caso aconteça a liberação de gases durante a adição do solvente, mantenha o béquer o mais coberto possível. É melhor usar uma pipeta ou um funil de haste curva, colocado por baixo do vidro para acrescentar o solvente. Esse procedimento ajuda a evitar as perdas por nebulização ou projeção. Quando cessar a evolução de gás, com dissolução total da substância, lave bem o lado de baixo do vidro de relógio com o jato de água de um frasco de lavagem, fazendo com que a água de lavagem escorra pelas paredes 38 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I do béquer e não caia diretamente na solução. Se for necessário aquecer, use um Erlenmeyer com um pequeno funil na boca. Evita-se, desta maneira, perdas de líquido por projeção e não se impede o escapamento do gás. No caso de solventes voláteis, use um frasco provido de condensador de refluxo (VOGEL, 2015). Pode ser necessário diminuir o volume da solução ou, às vezes, evaporar até a secura. Use para isso recipientes largos e rasos devido à maior área exposta ao ar, acelerando a evaporação. Podemos usar cápsulas para evaporação em vidro borossilicato (Pyrex), cadinhos, caçarolas de porcelana, bacias de sílica ou platina. O material selecionado depende da agressividade do solvente quente e dos constituintes a serem determinados na análise subsequente. A evaporação deve ser processada em banho de vapor ou em placa aquecedora em temperatura baixa. É preferível a evaporação lenta à fervura turbulenta, porque neste último regime podem ocorrer perdas mecânicas, mesmo que se tomem precauções. Durante a evaporação de solventes, cubra o recipiente com um vidro de relógio de Pyrex de diâmetro levemente maior do que do recipiente usado, que se apoia em um triângulo de vidro ou em três ganchos de vidro Pyrex em forma de U pendurados na borda do recipiente. Quando a evaporação terminar, lave as paredes internas do recipiente, o lado inferior do vidro de relógio e o triângulo, com água destilada, desviando o líquido para dentro do recipiente (VOGEL, 2015). Para evaporação na temperatura de ebulição, use um Erlenmeyer com um pequeno funil de Pyrex na boca ou um balão de fundo redondo inclinado a 45°. Isso faz com que as gotas de líquido que se protejam fiquem retidas na parede interna do balão e os gases e vapores escapem livremente. Quando se usam solventes orgânicos, o balão deve ter um colo longo dobrado ligado a um condensador para recuperar o solvente. Podemos usar um evaporador rotatório. Devemos levar em consideração a possibilidade de perdas durante o procedimento de concentração. O ácido bórico, os halogenetos de hidrogênio e o ácido nítrico são evaporados durante a ebulição de soluções desses compostos em água. Substâncias insolúveis em água, muitas vezes, dissolvem-se em um ácido apropriado. Lembre-se de que pode ocorrer eliminação de gases. As evoluções de CO2, H2S e SO2, provenientes de carbonatos, sulfetos e sulfitos, são fáceis de perceber. São mais difíceis de perceber as perdas de boro e silício, como fluoretos, durante as evaporações com HF, ou halogênios, durante o tratamento com halogenetos com oxidantes fortes, como o ácido nítrico. Alguns reagentes podem ser utilizados em materiais de difícil dissolução, podemos citar alguns (VOGEL, 2015): • Ácidos concentrados: o ácido clorídrico concentrado dissolve muitos metais e óxidos. O ácido nítrico concentrado a quente dissolve a maior parte dos metais, mas transforma os metais antimônio, estanho e tungstênio em ácidos pouco solúveis. Essa propriedade pode ser usada na separação desses elementos de outros componentes de uma liga. O ácido sulfúrico concentrado e quente dissolve muitas substâncias. Nesse tratamento, os compostos orgânicos são inicialmente carbonizados e depois oxidados. • Água régia: é a mistura de 75% em volume de ácido clorídrico com 5% de ácido nítrico. Devido ao seu caráter oxidante, é um excelente solvente cuja eficácia aumenta ainda mais pela adição de outros oxidantes, como bromo e peróxido de hidrogênio. 39 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA • Ácido fluorídrico: é usado na decomposição de silicatos. A remoção do excesso de ácido é feita por evaporação com ácido sulfúrico e o resíduo contém sulfatos metálicos. Os complexos do íon fluoreto, com muitos cátions metálicos, são muito estáveis e as propriedades normais desses cátions podem ser evidentes. É essencial garantir a remoção completa do íon fluoreto, o que se faz pela evaporação repetida, duas a três vezes, com ácido sulfúrico. Como o ácido fluorídrico causa queimaduras sérias e muito dolorosas na pele, o uso desse ácido deve ser realizado com muito cuidado. • Ácido perclórico: ataca o aço inoxidável e várias ligas de ferro que não se dissolvem em outros ácidos. As misturas de ácido perclórico e ácido nítrico são bons solventes oxidantes de muitos materiais orgânicos e produzem soluções que contêm os constituintes inorgânicos da amostra. Por questões de segurança, trate a substância sólida com ácido nítrico concentrado, inicialmente. Aqueça a mistura e adicione o ácido perclórico cuidadosamente em pequenas quantidades até completar a oxidação. Mesmo assim, não deixe a mistura evaporar, porque o ácido nítrico é eliminado preferencialmente, fazendo com que o ácido perclórico atinja concentrações elevadas. Quando se usa uma mistura de 60% de ácido nítrico, 20% de ácido perclórico e 20% de ácido sulfúrico, em volume, o ácido perclórico também é eliminado, restando para análise uma solução de ácido sulfúrico. A parte orgânica do material é destruída por meio de um processo chamado de incineração úmida. O ácido perclórico concentrado a quente tem reações explosivas com materiais orgânicos ou inorgânicos que se oxidam facilmente. Nas reações de evaporação com ácido perclórico, use sempre uma boa capela, livre de materiais orgânicos combustíveis. Manuseie o ácido perclórico com muito cuidado (VOGEL, 2015). • Reagentes de fusão: também conhecidos como fluxos, são usados para solubilizar substâncias insolúveis nos solventes comuns ou em ácidos. Os fluxos típicos são o carbonato de sódio anidro puro ou misturado com nitrato de potássio, podemos ainda utilizar o peróxido de sódio, os pirossulfatos de sódio e de potássio, o peróxido de sódio e os hidróxidos de sódio e de potássio. O metaborato de lítio anidro é adequado para a fusão de materiais que contêm sílica. Quando a massa resultante da fusão é dissolvida em ácidos diluídos, não ocorre separação da sílica, como acontece quando se faz o mesmo tratamento com carbonato de sódio. O metaborato de lítio tem outras vantagens (VOGEL, 2015): — Não há eliminação de gases durante a fusão ou durante a dissolução da massa fundida, logo, não há perigode perdas por projeção. — As funções com metabotato de lítio são mais rápidas e podem ser realizadas em temperaturas mais baixas do que com outros fluxos. — A perda de platina do cadinho é menor na fusão com metaborato de lítio do que na fusão com carbonato de sódio. — Muitos elementos podem ser determinados diretamente na solução ácida resultante da fusão, sem a necessidade de separações tediosas. O fluxo utilizado depende da natureza da substância insolúvel. Materiais ácidos são atacados por fluxos básicos e materiais básicos são atacados por ácidos. Geralmente, é necessário um meio oxidante 40 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I e, neste caso, usamos peróxidos de sódio ou carbonato de sódio misturado com peróxido de sódio ou com nitrato de potássio. Devemos escolher o recipiente a ser usado com cuidado. Utilize cadinhos de platina no tratamento com carbonato de sódio, metaborato de lítio e pirossulfato de potássio; cadinhos de níquel ou prata, com hidróxidos de potássio ou de sódio; e cadinhos de níquel, ouro, prata ou ferro, com carbonato de sódio e peróxido de sódio. Os cadinhos de níquel são úteis no caso de misturas de carbonato de sódio e nitrato de potássio (VOGEL, 2015). Ao preparar amostras para a espectroscopia de fluorescência de raios X, use metaborato de lítio como fluxo, porque o lítio não interfere nas emissões de raios X. A fusão pode ser feita em cadinhos de platina ou de grafite especiais. Estes últimos também podem ser usados na fusão a vácuo de amostras metálicas para a análise de gases ocluídos. Para fusão, coloque uma camada de fluxo no fundo do cadinho e adicione uma mistura íntima do fluxo e da substância a ser analisada, finamente dividida. Encha o cadinho somente até a metade e mantenha-o coberto durante todo o processo. Aqueça o cadinho bem lentamente no início, aumentando a temperatura gradualmente até o valor desejado. A temperatura final não deve ser mais elevada do que o necessário para evitar o ataque posterior do fluxo sobre o cadinho. Quando a fusão terminar, pegue o cadinho com pinças próprias e gire-o suavemente, inclinando-o de modo a distribuir o material fundido ao longo das paredes do recipiente para que solidifique como uma camada fina. Este procedimento facilita a etapa subsequente de desprendimento e solubilização de massa fundida. Quando o cadinho estiver esfriado, coloque-o sobre uma caçarola ou uma cápsula de porcelana e cubra com água. Caso seja necessário, adicione ácido. Tampe o recipiente com um vidro de relógio e aumente a temperatura até 95 a 100 °C, mantendo-a até a solubilização total (VOGEL, 2015). Várias substâncias que precisam de fusão para solubilização se dissolvem em ácidos minerais, se a digestão for realizada sob pressão e temperaturas mais elevadas. Esse tratamento drástico precisa de um recipiente capaz de resistir à pressão e aos ataques químicos. Utiliza-se, para isso, um recipiente de digestão ácida. Esses recipientes são frascos de pressão em aço inoxidável com uma tampa que desliza e revestimento de Teflon. As bombas podem ser aquecidas de 150 a 180 °C e suportam pressões entre 80 e 90 atm. Nessas condições, os materiais refratários decompõem-se em cerca de 45 minutos. Além de economia de tempo e dinheiro, já que não há necessidade de instrumentos em platina, não ocorrem perdas durante o tratamento e a solução resultante não contém a grande quantidade de metais alcalinos que acompanha os procedimentos normais de fusão (VOGEL, 2015). 2.5 Interferências Independentemente do método escolhido para uma determinada análise, ele deve ser capaz de medir com precisão a quantidade da substância de interesse, sejam quais forem as outras substâncias presentes. Na prática, poucos procedimentos analíticos atingem esse ideal, mas muitos deles podem ser usados para determinar um grupo limitado de íons ou moléculas na presença de muitos outros íons ou moléculas. A melhor seletividade pode ser obtida realizando a análise sob condições cuidadosamente controladas. Isso ocorre no caso de separações e determinações 41 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA cromatográficas. Geralmente, a presença de outros compostos torna mais difícil realizar as medições desejadas. A ocorrência de interferentes significa que outros procedimentos devem ser executados para remover o interferente ou evitar que ele atrapalhe o processo analítico. Procedimentos que envolvem íons são utilizados para substâncias inorgânicas. Extração com solventes e processos cromatográficos são melhores para substâncias orgânicas. Os procedimentos para atacar o problema da interferência podem ser divididos em classes (VOGEL, 2015): • Precipitação seletiva: reagentes apropriados podem ser usados para converter os íons que interferem em precipitados que podem ser retirados por filtração. Para se conseguir separações eficientes, o controle cuidadoso do pH é geralmente necessário. Os precipitados tendem a absorver substâncias das soluções, por isso é preciso garantir a menor perda de quantidade da substância a ser analisada. • Mascaramento: adicionamos um complexante e, se os complexos formados forem estáveis, eles não sofrerão reações com substâncias adicionadas posteriormente. Isso se aplica a processos volumétricos ou gravimétricos. • Oxidação ou redução seletiva: a amostra é tratada com um oxidante ou um redutor que vai reagir com alguns íons presentes. A alteração do estado de oxidação pode facilitar o processo de separação. Dessa forma, para precipitar o íon ferro com hidróxido, a solução é sempre tratada com um oxidante para que o hidróxido de ferro III precipite. Isso ocorre a um pH menor do que o necessário para a precipitação do hidróxido de ferro II, que poderia se contaminar com os hidróxidos de muitos outros metais bivalentes. • Extração com solvente: quando íons metálicos são quelados com reagentes orgânicos adequados, os complexos resultantes são solúveis em solventes orgânicos e podem ser extraídos de soluções aquosas. Muitos complexos de associação iônicos que têm íons volumosos com caráter orgânico pronunciado são solúveis em solventes orgânicos e podem ser usados para a extração de certos íons metálicos de soluções aquosas. A extração com solvente, com ácidos e bases adequados, também pode ser usada para separar compostos orgânicos uns dos outros antes da quantificação. • Troca de íons: resinas de troca iônica insolúveis contêm ânions ou cátions que podem ser trocados com íons das soluções ou para enriquecer soluções nas espécies de interesse. O uso da troca iônica no aumento da concentração de íons em solução antes da quantificação com métodos pouco sensíveis é muito importante. • Cromatografia: inclui técnicas de separação em que produtos químicos percorrem colunas ou superfícies impelidas por líquidos ou gases, sendo separadas em função de suas características moleculares. Os métodos cromatográficos podem ser aplicados a quase todas as substâncias orgânicas e inorgânicas. Uma exceção é a dos polímeros muito insolúveis. Os processos cromatográficos têm muita importância na obtenção de dados quantitativos em análises de drogas para fins forenses e análise de alimentos. 42 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I 2.6 Métodos gerais de separação Os métodos de separação podem ser divididos em dois grupos: Separação em grande escala: são as separações em grande escala de dois componentes. Elas incluem a filtração, os processos que dependem de efeitos térmicos (destilação, evaporação e secagem), os procedimentos que usamefeitos de solubilidade (extração com solvente, cristalização e precipitação), a troca iônica, a diálise e a liofilização. Separações com instrumentos: as separações mais comuns feitas com a ajuda de instrumentos são as cromatografias em fase gasosa (CG), cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), cromatografia de camada delgada (TLC) e cromatografia de fluido supercrítico (SFC) e as eletroforeses, especialmente a eletroforese capilar (CE). As quantidades de analito necessárias nessas técnicas são reduzidas para microgramas para serem analisadas (VOGEL, 2015). As separações em grande escala dependem de mecanismos físicos, enquanto as separações instrumentais se baseiam em mecanismos químicos. Existem muitas exceções a essa regra. Às vezes, a distinção pelos mecanismos empregados é difícil de fazer. Dessa forma, mesmo empregadas em grande escala como técnica de separação, a extração por solvente e a troca iônica são dependentes das interações solvente-soluto, que são interações químicas (VOGEL, 2015). A filtração parece ser um processo de separação de material sólido de uma solução simples, feito com o auxílio de algum tipo de filtro. Porém, quando a filtração é analisada com muito mais cuidado, a situação não é tão simples como inicialmente imaginada. A distinção entre o que é sólido e o que é líquido, embora clara do ponto de vista teórico, é mais difícil de definir na prática. Partículas de 0,1 mm de diâmetro médio ou maiores, que são visíveis a olho nu e tendem a se depositar na parte inferior da solução, são sólidas e podem ser separadas usando papel de filtro em um funil. As partículas de diâmetro igual a 0,3 mm são sólidas ou não? Se utilizarmos papéis de filtro comum, essas partículas passarão pelos poros do papel e serão consideradas como parte do líquido durante o restante do experimento (VOGEL, 2015). Como a separação entre o líquido e o sólido depende do tamanho dos poros do filtro, existe a tendência de se usar membranas com poros muito pequenos, capazes de reter até alguns coloides e vírus. Isso pode levar a várias dificuldades na etapa de separação, por causa da redução do diâmetro dos poros da membrana filtrante, que reduz drasticamente a velocidade da filtração. Desta forma, a força da gravidade deixa geralmente de ser suficiente para a separação em um tempo razoável. A solução é aplicar uma pressão positiva no topo do vaso de filtração ou usar vácuo para fazer a sucção do líquido através do filtro (VOGEL, 2015). Os processos de separação que dependem de efeitos térmicos são rotina de laboratório, mas algumas precauções podem ser necessárias quando eles são empregados em separações analíticas. A destilação pode ser usada para esse fim. Se a vidraria estiver em uma escala adequada à amostra, a destilação é uma maneira simples de separar substâncias. A evaporação e a secagem são dois lados de um mesmo processo: a remoção de um líquido em contato com um sólido. 43 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Quando o analito é uma fase líquida que deve ser separada de uma matriz sólida, pode-se usar uma aparelhagem bastante simples constituída por uma fonte de calor e algum tipo de condensador, eventualmente com a ajuda de um sistema de vácuo, como em um evaporador rotatório. Às vezes o processo é levado até o fim sob atmosfera inerte. Se o que se deseja é efetuar medidas quantitativas, pode ser difícil conseguir coletar toda a fase líquida sem modificar a fase sólida usando aquecimento. Desta forma, a avaliação do conteúdo de umidade de sólidos não é uma tarefa fácil. A maior parte das amostras sólidas contém água e medidas quantitativas precisas requerem o conhecimento prévio da quantidade de água existente no sólido. Em análises mais precisas é de interesse a padronização da umidade da amostra. Embora longe de ser um método infalível, o procedimento mais aceito é a secagem até o peso constante em 105 °C ou uma temperatura próxima. Para amostras de natureza biológica, o processo de aquecimento do material altera sua composição, o que torna inadequado esse método de pré-tratamento. Nessa situação, precisamos de métodos mais delicados, como a homogeneização da amostra em um liquidificador de alta velocidade para produzir uma lama ou podemos usar o método de secagem sob congelamento. Em todos os casos em que se declara a quantidade de analito presente em uma dada quantidade de amostra, devemos deixar bem claro como foi obtido o peso da amostra (VOGEL, 2015). A extração de materiais sólidos com solventes ainda é muito usada. As técnicas mais simples são a agitação da mistura sólido-líquido, seguida por filtração ou centrifugação, e a utilização de aparelhagens de extração contínua, como o aparelho de Sohxlet. A extração com solvente é especialmente apropriada no caso de determinações quantitativas. A extração de analitos de uma fase líquida para a outra, a extração líquido-líquido, é a técnica mais usada nas separações em grande escala com quantidades apreciáveis de analito envolvidas. Esse tipo de extração envolve a partição do analito entre duas fases líquidas imiscíveis, por agitação em um funil de separação. E, na maioria dos casos, uma das fases é água pura ou uma solução tampão e a outra fase é um solvente orgânico. Os analitos podem estar em uma das fases. A seletividade da separação e sua eficiência são controladas pela escolha das duas fases (VOGEL, 2015). Quando o solvente de extração, que inicialmente não contém o analito, é a água, podemos garantir a sua pureza e que não contribuirá para contaminar a amostra final. Mas, quando precisamos adicionar à água agentes modificadores, como bases, ácidos e tampões, estes também devem possuir um grau de pureza elevado. Por outro lado, se o analito estiver em água contendo outras substâncias e precisar ser removido, o analista deve ponderar o efeito dos demais componentes sobre a extração. Outro problema que devemos considerar é que se o analito estiver dissolvido, inicialmente em água, para a extração com uma fase orgânica eficaz, será necessário modificar o analito de maneira a torná-lo solúvel na fase orgânica, sendo necessário torná-lo menos hidrofílico e mais hidrofóbico. 44 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Quadro 3 – Solventes usados na extração líquido-líquido Fase aguda Fase orgânica Água pura Solvente clorado Solução ácida (pH = 0 a 6) Diclorometano Solução básica (pH = 8 a 14) Clorofórmio Força iônica elevada (salting out) Hidrocarbonetos Agentes complexantes Alifáticos: C5 (pentano) e superiores Reagentes para pares iônicos Aromáticos: tolueno e xilenos Agentes complexantes Álcoois: C6 e superiores são imiscíveis com a água Ésteres Cetonas: C6 e superiores Éteres: dietil-éter e superiores Fonte: Vogel (2015, p. 117). A escolha do segundo solvente é determinada por um critério simples: ele tem que ser imiscível com a água. Sabemos que não existem dois líquidos que, em contato, sejam totalmente imiscíveis, pois pequenas quantidades de um dissolvem-se no outro. Por razões práticas, a solubilidade de um solvente no outro não deve ultrapassar 10%. As densidades do solvente orgânico e da água devem ser bem diferentes para que se formem duas camadas bem definidas. Se a densidade do solvente orgânico for maior do que a da água, a fase aquosa ficará na parte de cima, caso contrário a água ficará na parte inferior do funil. Quando as densidades forem muito próximas, emulsões podem ser formadas, como líquidos contendo surfactantes em contato com materiais muito oleosos. Se a fase orgânica for usada na etapa seguinte do processo, aconselhamos utilizar um solvente orgânico volátilpara ser removido por evaporação. O solvente orgânico deve ser o mais puro possível para não contaminar a amostra final. Sabemos que grandes quantidades de solvente orgânico são utilizadas nesses processos, e não podemos esquecer sua toxicidade e as consequências de seu descarte inadequado. Se possível, é interessante optar pela utilização de clorofórmio, ao invés de tetracloreto de carbono, por ser menos tóxico. Solventes como benzeno e diclorometano são interessantes por razões químicas, mas devem ser evitados devido a sua toxicidade. Devemos também levar em consideração a polaridade do solvente, pois quanto mais polar for o soluto, mais polar deve ser o solvente de extração. A frase “semelhante dissolve semelhante” deve ser sempre lembrada no caso de processos de separação envolvendo partição (VOGEL, 2015). A cristalização foi um dos primeiros métodos utilizados para purificar compostos em rotas de síntese. Na maioria dos casos, se as condições são escolhidas cuidadosamente, pode-se isolar com alta pureza um material cristalino a partir de soluções que contêm muitos outros componentes. Quando as concentrações são baixas, a cristalização, ou um processo conhecido como salting out, deslocamento com sal, por adição de um solvente orgânico à fase aquosa que contém o analito, pode ser usada como primeira etapa de purificação. A precipitação de espécies inorgânicas, por adição de reagentes seletivos como ácido sulfídrico, ou pela alteração de pH, 45 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA também permitem a identificação e a quantificação de materiais existentes em concentrações muito pequenas (VOGEL, 2015). O termo troca iônica significa troca de íons de cargas de mesmo sinal entre uma solução e um material insolúvel em contato com ela. O sólido contém seus próprios íons e, do ponto de vista prático, para que a troca se processe com rapidez necessária e de maneira extensiva, o sólido deve ter uma estrutura molecular aberta e permeável, de modo que os íons e as moléculas do solvente possam circular livremente pela estrutura. Muitas substâncias naturais, como argilas, e substâncias sintéticas são capazes de realizar a troca iônica para o trabalho analítico, os trocadores de íons orgânicos sintéticos são os de maior interesse, embora alguns materiais inorgânicos, como o fosfato de zircônia e o 12-fosfomolibdato de amônio, também sejam úteis como trocadores de íons em aplicações especiais. Esses trocadores de íons possuem algumas propriedades em comum, como insolubilidade em água e em solventes orgânicos, contém contra-íons capazes de realizar trocas reversíveis com íons da solução, sem modificação física aparente no material (VOGEL, 2015). Geralmente, o trocador de íons é um polímero complexo cuja carga elétrica é neutralizada pelas cargas dos contra-íons. Esses íons são cátions em um trocador de cátions e ânions em um trocador de ânions. Desta forma, um trocador de cátions é um trocador ânions é um policátion polimérico com ânions ativos. Uma das resinas de troca catiônica mais extensiva é obtida pela copolimerização do estireno com uma pequena quantidade de divinil-benzeno, seguida de sulfonação. A estrutura da resina pode ser observada na figura a seguir. CH CH CHCH2 CH2 SO3H +- SO3H +- SO3H +- SO3H +- CHCH CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH CH CH CH CH2 CH2 CHCH Resina Estireno Divinil-benzeno Figura 15 – Estrutura de uma resina catiônica A fórmula permite a visualização da estrutura de uma resina trocadora de cátions típica. A estrutura consiste em um esqueleto polimérico rígido em consequência das ligações cruzadas que ocorrem entre várias cadeias do polímero. Os grupos de troca iônica estão ligados ao esqueleto. As propriedades físicas da resina dependem da qualidade das ligações cruzadas. 46 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I As resinas com alto grau de ligações cruzadas são mais quebradiças, mais duras e menos permeáveis do que as resinas com baixo grau de ligações cruzadas. A preferência de uma resina por um determinado íon é influenciada pelo grau de ligações cruzadas. Os grânulos de resina sólida incham em contato com a água para dar uma estrutura de gel e o inchamento é limitado pelas ligações cruzadas (VOGEL, 2015). No exemplo, as unidades de divinil-benzeno ligam as cadeias de poliestireno evitando que elas inchem indefinidamente e se dispersem pela solução. A estrutura resultante é uma grande rede, similar a uma esponja com grupos sulfonados com carga negativa, firmemente ligados à estrutura. Essas cargas negativas fixas são equilibradas por um número equivalente de cátions: íons hidrogênios na resina protonada, íons sódio na resina de sódio. Os contra-íons se movem livremente nos poros preenchidos pela água, este íons é que são permutáveis (VOGEL, 2015). Quando uma resina trocadora de cátions com íons móveis C+ entra em contato com uma solução que contém cátions B+, estes últimos difundem-se pela estrutura da resina, ocupando as posições dos cátions C+ que se difundem para a solução até atingirem o equilíbrio. Desta forma, a resina e a solução contêm os cátions C+ e B+ em proporções que dependem da posição de equilíbrio. Um mecanismo similar opera no caso de uma resina trocadora de ânions (VOGEL, 2015). Os trocadores de ânions são também polímeros de alto peso molecular com ligações cruzadas. O caráter básico decorre da presença de grupos amino, grupos amino substituídos ou grupos amônio substituídos. Os polímeros que contêm grupos amônios substituídos são bases fortes. Os que contêm grupos amino ou grupo amino substituídos são bases fracas. Uma das resinas trocadoras de ânions mais usada é preparada pela copolimerização de estireno com um pouco de divinil-benzeno, seguida por cloro-metilação e reação com uma base como a trimetilamina. A estrutura da figura a seguir mostra a estrutura hipotética de uma resina de troca de ânions derivada de poliestireno. CH CHCH2 CH2 CH2 CH2NMe3Cl - + CH2NMe3Cl - + CH2NMe3Cl - + CH2NMe3Cl - + CHCH CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH CH CH Figura 16 – Estrutura de uma resina aniônica 47 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Uma resina útil deve possuir quatro requisitos fundamentais: • A resina deve possuir um grau de ligações cruzadas suficiente para que sua solubilidade seja desprezível. • A resina deve ser suficientemente hidrofílica para permitir a difusão de íons pela estrutura em uma velocidade finita a razoável. • A resina deve ter um número suficiente de grupos de troca de íons acessíveis e deve ser quimicamente estável. • A resina, quando inchada, deve ser mais densa do que a água. Novos tipos de resinas de troca iônica também foram desenvolvidos para atender às necessidades específicas da cromatografia líquida (HPLC). Elas incluem resinas peculiares e o empacotamento com micropartículas. Em HPLC são usadas colunas empacotadas com trocadores de íons à base de sílica. Sua preparação é similar à dos empacotamentos com fase ligada. Os grupos de troca iônica são introduzidos subsequentemente no esqueleto orgânico. O pequeno tamanho das partículas (10 a 15 mm de diâmetro) e a distribuição estreita levam à maior eficiência da coluna. Aplicações típicas incluem a análise com alta resolução de aminoácidos, peptídeos, proteínas, nucleotídeos, entre outros. Os recheios à base de sílica são preferidos quando a eficiência da coluna é o critério principal, mas os recheios de resina microparticulada devem ser empregados quandoa capacidade é o requisito principal (VOGEL, 2015). A liofilização é um processo de remoção de água congelada, pela aplicação de vácuo, também chamada de secagem por congelamento. A técnica pode ser muito útil na remoção de água de espécies inorgânicas e orgânicas, quando o analito não é muito volátil nas condições de análise. Aparelhos semiautomáticos foram desenvolvidos para aplicações biológicas, que podem trabalhar com volumes de até 1 litro por amostra. Como a remoção da água ocorre em temperaturas razoavelmente baixas, esperamos que a amostra sofra menos alterações do que na destilação convencional, com o processo feito a vácuo, com menor contaminação. A matriz remanescente ao fim do processo, que comumente se resume a uma pequena porção de pó seco, é geralmente bastante estável e, por isso, a técnica é conveniente para processar amostras que não podem ser analisadas imediatamente. Na análise de materiais orgânicos de baixo peso molecular, é aconselhável verificar se o material não foi perdido durante o tratamento com vácuo. A diálise é outra forma mais usada por biólogos do que por químicos. Uma membrana semipermeável (acetato de celulose ou material semelhante com poros de diâmetro de 1 a 5 nm) é geralmente colocada entre duas soluções contendo concentrações diferentes de íons metálicos em água. Após certo período de tempo, que pode chegar até 48 horas, as espécies pequenas (íons) passam pela membrana para igualar as concentrações. Em aplicações biológicas, uma das fases contém espécies iônicas e biomoléculas grandes e a outra, água pura (VOGEL, 2015). 48 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Separações instrumentais: o equilíbrio que se forma reduz a concentração de íons na primeira fase sem perdas ou alterações substanciais nas moléculas grandes, geralmente proteínas. Esse é o processo usado na dessalinização de soluções de proteínas. Porém, como muitos coloides têm, também, partículas com cerca de 1 a 5 nm de diâmetro, a técnica pode ser útil na separação ou na pré-concentração de certas soluções coloidais inorgânicas pouco estáveis. A técnica pode ser usada na preparação de amostras para análise por métodos instrumentais. Desta forma, costuma-se eliminar as proteínas de amostras antes de usar a cromatografia líquida de alta eficiência, porque as proteínas podem dificultar o processo de separação e entupir de forma irreversível a coluna (VOGEL, 2015). A escolha do método de separação é feita com base na sensibilidade, na velocidade de obtenção dos resultados ou até mesmo na disponibilidade de equipamentos e materiais. As moléculas orgânicas de baixo peso molecular, voláteis e neutras, são geralmente separadas por cromatografia com fase gasosa, enquanto íons ou moléculas facilmente transformadas em íons são separadas usando eletroforese, especialmente no caso de moléculas de alto peso molecular. Tanto a eletroforese como a cromatografia são técnicas que compartilham o mesmo mecanismo simples de migração diferenciada do analito por meio de uma fase estacionária. Sendo que, de forma geral, os problemas de limitações são os mesmos. Isso quer dizer que, independentemente da escolha da técnica, só é possível obter separações confiáveis, reprodutíveis e eficientes se o analista puder controlar a química e a física das fases móvel e estacionária. Alterações pequenas na composição química e de temperatura podem causar grandes mudanças no processo de separação. Os mecanismos de separação, em uma interface, podem ocorrer em fase líquida, em fase gasosa, e ocorrem somente por adsorção e por partição. Acredita-se que 20% dos produtos químicos são estáveis e voláteis para serem separados por cromatografia com fase gasosa. Em princípio, os demais 80% poderiam ser separados por cromatografia líquida, mas, na prática, algumas misturas podem ser separadas por eletroforese com facilidade. A adsorção é provavelmente o mecanismo mais conhecido e menos usado em cromatografia, apesar de a adsorção de um gás ou de um líquido na superfície de um sólido ser um processo que tem muitas aplicações científicas e comerciais. A adsorção de gases e vapores em carvão ativo é usada em várias residências para a remoção de odores nos exaustores de fogão. O carvão é utilizado em muitos processos industriais na remoção de impurezas coloridas de soluções, podemos citar como exemplo a produção de açúcar. Outros adsorventes muito utilizados são a sílica ou sílica gel, que é uma forma muito hidratada de dióxido de silício, com área superficial muito grande de óxido de alumínio, chamada de alumina. O maior problema da adsorção nas separações é que a interação tem a tendência a ser forte e, uma vez adsorvidos, os analitos são dessorvidos com dificuldade, o que torna a cromatografia, em certas circunstâncias, difícil ou pouco confiável. Apesar disso, a adsorção é usada em cromatografia líquida e em cromatografia com fase gasosa. No caso da cromatografia com fase gasosa, a desativação das superfícies de sílica em injetores e em colunas é essencial para reduzir a adsorção e permitir que a separação ocorra por outro mecanismo. 49 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA A partição também é muito usada em separações cromatográficas, sendo o fato mais importante a solubilidade relativa do soluto em duas fases imiscíveis. Na cromatografia gasosa, o processo implica a partição do soluto entre uma fase móvel gasosa e uma fase estacionária líquida depositada sobre pequenas partículas em colunas empacotadas ou ligadas quimicamente a paredes internas de uma coluna capilar. A partição é o mecanismo de separação mais comum em cromatografia com fase gasosa. A solubilidade relativa dos analitos entre uma fase móvel líquida e uma fase estacionária é mais importante em cromatografia líquida de alta eficiência. A fase estacionária é normalmente ligada a um suporte inerte para evitar problemas de dissolução na fase móvel. Uma regra simples que funciona na cromatografia de partição é: semelhante separa semelhante. Materiais não polares dissolvem-se e são separados em fases não polares. Materiais polares precisam de fases estacionárias ainda mais polares (VOGEL, 2015). A afinidade é o mecanismo mais recente usado e mais seletivo entre todos. Ela se baseia no aproveitamento de interações muito específicas que podem existir entre a fase estacionária e certos solutos. Estas interações são, provocadas por reações enzimáticas ou de anticorpo- antígeno e podem ter seletividade muito elevada para um determinado tipo de molécula como proteínas em misturas complexas. Sabemos que os anticorpos são muito específicos em suas reações com antígenos e isso pode ser aproveitado na cromatografia por afinidade. No processo, um anticorpo imobilizado em uma fase estacionária através de uma ligação covalente pode reagir com uma certa proteína, um antígeno, em uma mistura que contém muitas proteínas semelhantes, ligando-as a uma coluna. Após lavar a coluna para remoção das demais proteínas, muda-se a força iônica do eluente para liberar a substância desejada, que é então coletada (VOGEL, 2015). O mecanismo é chamado de chave-fechadura devido à alta especificidade entre a fase estacionária e o analito. Esse tipo de mecanismo é utilizado somente na fase líquida e simplificou muito a separação e a determinação de misturas biológicas que, até recentemente, eram consideradas muito difíceis de separar. A cromatografia de troca iônica só pode ocorrer na fase líquida. Os íons da fase móvel se ligam temporariamente aos contra-íons imobilizados na fase estacionária, a resina de troca iônica, de onde podem ser seletivamente deslocados por eluição com um tampãode força iônica crescente. A permeação em gel é um mecanismo simples de separação de espécies segundo seu tamanho. Essa técnica também pode ser chamada de filtração em gel, cromatografia de exclusão molecular e peneira molecular. A fase estacionária é um material polimérico conhecido como gel. Entre os géis mais usados estão o Sephadex, produzidos pela indução de graus variáveis de ligações cruzadas em uma estrutura do tipo dextrano (figura a seguir), que é um carboidrato polimérico. O controle do número de ligações cruzadas permite a produção de poros de diferentes tamanhos na estrutura. 50 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 O O O O O O C C C C C C O O O C O O C C C C C C C C C C O C C C C C C C C C C O C C O O C H H H H H H H H H H H H OH OH HO OH OH H HH H H H H H H H H H H H OH OH H H OH OHOH OH OH OH OH OH O HO OH OH OH HC HC Figura 17 – Estrutura parcial da resina Sephadex Na cromatografia de exclusão por tamanho ou permeação em gel, as moléculas grandes são sempre eluídas primeiro, seguindo-se sucessivamente por moléculas cada vez menores. Isso acontece porque as moléculas pequenas podem penetrar mais profundamente nos orifícios do gel e são retidas de forma mais forte do que as moléculas maiores, que não podem fazer o mesmo (VOGEL, 2015). A eletroforese convencional envolve o deslocamento de uma substância coloidal ou de um soluto em uma solução tampão em consequência da aplicação de um campo elétrico. O resultado é a migração de partículas na direção do cátodo ou do ânodo, dependendo da carga efetiva da espécie. O termo eletroforese por zona é usado para sistemas em que as mobilidades iônicas são estudadas em tiras de papel, de acetato de celulose ou de acrilamida. Esses sistemas foram muito usados no estudo de sistemas bioquímicos e biológicos, principalmente na separação de proteínas. As aplicações mais 51 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA recentes em impressões digitais de DNA em laboratórios de ciência forense, inclusive na investigação de paternidade, mostram o valor dos métodos eletroforéticos. Saiba mais Para saber mais sobre eletroforese, leia o artigo a seguir (em inglês): MIKKERS, F. E. P.; EVERAERTS, F. M.; VERHEGGEN, T. P. E. M. High- performance zone electrophoresis. Journal of Chromatography, v. 169, p. 11-20, 1979. Disponível em: <https://pure.tue.nl/ws/ files/2459317/620232.pdf>. Acesso em: 4 set. 2018. 3 ESTATÍSTICA APLICADA AOS CÁLCULOS EM QUÍMICA QUANTITATIVA Medidas experimentais sempre trazem variações, assim não podemos tirar nenhuma conclusão com certeza absoluta. A estatística fornece ferramentas que permitem tirar conclusões com a maior probabilidade de acerto e de descartar conclusões que não estejam corretas. Podemos considerar que a variação dos resultados experimentais está distribuída quando a repetição das medidas mostra uma distribuição, como vista na figura a seguir. No caso, a probabilidade de que a medida tenha o valor correto, acima ou abaixo da média, é a mesma. Na medida em que aumenta a distância em relação à média, diminui a probabilidade de que o respectivo valor seja encontrado experimentalmente (HARRIS, 2008). 500 600 700 800 900 1000 1100 Tempo de vida (h) 400 300 200 100 N úm er o de lâ m pa da s x = 845,2 h s = 94,2 h Figura 18 – Curva gaussiana 52 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I 3.1 Distribuição gaussiana Quando um experimento é repetido várias vezes, e se erros são puramente aleatórios, então os resultados possuem a tendência a se agruparem de maneira simétrica em volta de um valor médio. Quanto maior o número de repetições, maior a probabilidade de o resultado estar próximo de uma curva idealmente suave, conhecida como distribuição gaussiana. Geralmente não podemos fazer um grande número de medidas em um experimento de laboratório. Normalmente, repetimos o mesmo experimento de 3 a 5 vezes, ao invés de 2.000 vezes. No entanto, podemos estimar os parâmetros estatísticos que descrevem um conjunto grande de resultados a partir de um conjunto de resultados menor. Isto é, podemos estimar o comportamento estatístico a partir de um número pequeno de medidas (HARRIS, 2008). 3.2 Média e desvio padrão No exemplo da figura anterior, uma fábrica testou o tempo de vida de 4.768 lâmpadas elétricas. O gráfico mostra o número de lâmpadas com um tempo de vida em cada intervalo de 20 horas. Os tempos de vida se aproximam de uma distribuição gaussiana devido às variações nos componentes das lâmpadas, como a espessura de filamentos ou a qualidade das conexões, que são aleatórias. A curva suave é a distribuição gaussiana que melhor se ajusta aos dados. Qualquer conjunto finito de dados vai ser levemente diferente da curva gaussiana. O tempo de vida das lâmpadas e a curva gaussiana são baseados em dois parâmetros, a média aritmética x, conhecida apenas como média, que nada mais é do que a soma dos valores medidos dividida por n, que é o número de medidas. Média: ii x n ×=∑ Onde xi é o tempo de vida de uma lâmpada individual. A letra grega maiúscula sigma Σ indica um somatório Σixi= x1 + x2 + x3 + ... + xn. Na figura, o valor da média é 845,2 horas. O desvio padrão, s, indica como os dados estão agrupados em torno da média. Quanto menor for o desvio padrão, mais próximos os dados estão agrupados em torno da média, como podemos ver na figura a seguir. 53 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA 845,2 Tempo de vida (h) 800 600 400 200 N úm er o de lâ m pa da s s = 94,2 h s = 47,1 h Figura 19 – Curva gaussiana com desvios padrão diferentes Desvio padrão: 2 ii (x x ) s n 1 − = − ∑ O desvio padrão na figura 18 é de 94,2 horas. Um conjunto de lâmpadas elétricas tendo um pequeno desvio padrão nos tempos de vida é fabricado mais uniformemente do que um conjunto com um desvio padrão grande. Os graus de liberdade são dados por n − 1. O quadrado do desvio padrão é chamado de variância. O desvio padrão é expresso como uma porcentagem do valor médio (= 100 X s/x) e é chamado de desvio-padrão relativo ou coeficiente de variação. Desvio padrão relativo: s . 1 00 x Exemplo: suponhamos que foram realizadas quatro medidas: 821, 783, 834 e 855. Calcule a média aritmética e o desvio padrão. A média é x = (821+ 783 + 834+ 855) /4 = 823,2 Para evitar o acúmulo de erros de arredondamento, conserve mais um algarismo para a média e para o desvio padrão do que os apresentados nos dados de origem. O desvio padrão é: s = √{[(821 - 823,2)2 + (783 – 823,2)2 + (834 – 823,2)2 + (855 – 823,2)2]/ (n – 1)} s = 30,3. 54 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I 3.3 Algarismos significativos Algarismo significativo é o número mínimo de algarismos necessários para escrever um determinado valor em notação científica, sem perder exatidão. Por exemplo: o número 142,7 tem quatro algarismos significativos e pode ser escrito como 1,427 x 102. Quando escrevemos 1,427 x102 entendemos que o digito após o 7 é conhecido, o que não é o caso para 142,7. O número 1,4270 x 102 possui cinco algarismos significativos. O número 6,302 10-6 possui quatro algarismos significativos e todos os quatro são necessários para expressar a grandeza. Porém, podemos escrever o mesmo número como 0,000006302, que também possui quatro algarismos significativos. Os zeros à esquerda do algarismo 6 são usados apenas para mostrar a ordem de grandeza do número, isto é, o número correto de casas decimais. O número 92.500 pode ser representado de várias maneiras, como podemos observar: 9,25 x 104 3 algarismos significativos 9,250 x 104 4 algarismos significativos 9,2500 x 104 5 algarismos significativos É mais correto escrever uma das três formas acima, em vez de 92.500, para indicar quantos algarismos são realmente conhecidos. O algarismo zero é significativo quando se encontra no meio do número ou no fim do número, do lado direito da vírgula decimal. O último algarismo significativo em um número que foi determinado experimentalmente sempre terá uma incerteza incorporada. A incerteza mínima deve ser de ±1 no último algarismo. Na figura a seguir podemos observar a escala de um espectrofotômetro. O ponteiro indica um valor de absorbância de 0,234. Dizemos que existem três algarismos significativos, pois os números 2 e 3 são completamente certos e o número 4 constitui uma estimativa. O valor pode ser lido por pessoas diferentes como 0,233 ou 0,235. A transmitância percentual está próxima de 58,3. Por ser a escala de transmitância menor do que a escala de absorbância, há uma maior incerteza no último algarismo da transmitância. Uma estimativa razoável da incerteza pode ser 58,3 ± 0,2. Existem três algarismos significativos em 58,3 (HARRIS; 2008). 0 2 0 10 1,0 0,5 0,050,4 0,3 0,2 0,1 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Transmitância percentual Absorbância ∞ Figura 20 – Escala do espectrofotômetro 55 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Geralmente, quando se lê a escala de qualquer instrumento, procura-se estimar o mais próximo do décimo da menor divisão que se lê na escala. Assim, numa bureta de 50 ml que está graduada a 0,1 ml, lemos a posição do nível do líquido, procurando estimar o mais próximo possível de 0,01 ml. Quando usamos uma régua graduada em milímetros, procuramos fazer uma estimativa da distância o mais próximo possível de 0,1 mm. Em qualquer quantidade de medida existe uma incerteza, mesmo que o instrumento de medida tenha um mostrador digital que não flutua. Quando um medidor de pH digital indica um pH de 3,51, há uma incerteza no algarismo 1 e possivelmente no algarismo 5. Mas, alguns números são exatos, representados com um número infinito de algarismos significativos que não estão escritos. Para calcular a altura média de quatro pessoas, devemos dividir a soma das alturas, que são números com alguma incerteza, pelo número quatro inteiro. São exatamente quatro pessoas, e não 4,000 + 0,002 pessoas (HARRIS; 2008). 3.3.1 Operações com algarismos significativos Temos que considerar quantos algarismos devem existir numa resposta depois de realizar operações matemáticas com dados que apresentam diferentes números de algarismos significativos. O arredondamento deve ser feito somente na resposta final, para evitar o acúmulo de erros de arredondamento. Subtração e adição Se os números a serem subtraídos ou somados têm o mesmo número de algarismos significativos, a resposta deve ter o mesmo número de casas decimais que os números envolvidos na operação (HARRIS; 2008): 1,362 x 10-4 + 3,111 x 10-4 4,473 x 10-4 O número de algarismos significativos pode ser menor ou maior que o número existente nos dados: 5,345 7,26 x 1014 + 6,728 - 6,69 x 1014 12,073 0,57 x 1014 Se os números a serem somados não tiverem o mesmo número de algarismos significativos, a resposta ficará limitada ao número que tiver o menor número de algarismos significativos. Por exemplo, a massa molecular do KrF2 é conhecida somente até a terceira casa decimal, pois a massa atômica do Kr é conhecida apenas até a terceira casa decimal (HARRIS, 2008). 18,998 4031 (F) + 18,998 4031 (F) 83,798 (Kr) 121,7948064 Não significativos 56 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I O número 121,7948064 deve ser arredondado para 121,795 na resposta final. Quando se arredonda um número, deve-se observar todos os algarismos além da última casa decimal desejada. No exemplo anterior, os algarismos 8064 se situam além da última casa decimal significativa. Em razão deste número ser maior do que a metade do intervalo até o último algarismo significativo, devemos arredondar o algarismo 4 para 5 (isto é, arredondamos para cima e obtemos o número 121,795 em vez de arredondarmos para baixo e obtermos o número 121,794). Se os algarismos não significativos forem menores do que a metade do intervalo, devemos arredondar para baixo. O número 121,7943, por exemplo, deve ser arredondado para 121,794 (HARRIS, 2008). Há uma situação especial, que acontece quando os algarismos não significativos são exatamente iguais à metade do intervalo. Neste caso, devemos arredondar para o algarismo par mais próximo. Desta forma, o número 43,55 é arredondado para 43,6, se levarmos em consideração apenas três algarismos significativos. Se devemos manter três algarismos significativos no número 1,425 x 10-9, ele fica 1,42 x 10-9. O número 1,42501 x 10-9 é arredondado para 1,43 x 10-9, porque 501 é maior que o intervalo para o próximo algarismo. A razão pela qual arredondamos para um algarismo par é evitar o aumento ou a diminuição sistemática devido a erros sucessivos de arredondamento. A metade dos arredondamentos será para cima e a outra metade para baixo (HARRIS, 2008). Em somas ou subtrações de números expressos em notação científica, todos os números precisam ser convertidos ao um mesmo expoente: 1,632 x 105 1,632 x 105 + 4,107 x 103 0,04107 x 105 + 0,984 x 106 9,84 x 105 11,51 x 105 A soma 11,51307 x 105 é arredondada para 11,51, porque o número 9,84 x 105 limita a operação a duas casas decimais quando todos os números são expressos como múltiplos de 105. Divisão e multiplicação Na divisão e na multiplicação, ficamos limitados ao número de algarismos contidos no número com menos algarismos significativos: 3,26 x 10-5 4,3179 x1012 34,60/2,462 87 x 1,78 x 3,6 x 10-19 = 14,05 5,80 x 10-5 1,6 x 10-6 A potência de 10 não influencia em nada o número de algarismos significativos que devem ser mantidos. 57 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Logaritmos Um logaritmo é composto de uma característica e uma mantissa. A característica é a parte inteira do número e a mantissa é a parte decimal: log 339 = 2,530 log 339 x 10-5 = -4,470 Característica = 2 Característica = -4 Mantissa = 0,530 Mantissa = 0,470 Observação O logaritmo na base 10 de n é um número cujo valor é tal que n = 10ª. 2 é o logaritmo de 100, pois 100 = 102. O logaritmo de 0,001 é -3, pois 0,001 = 10-3. Para encontrar o logaritmo de um número com a sua calculadora, digite o número e aperte a função log. O número 339 pode ser escrito como 3,39 x 102. O número na mantissa do log 339 deve ser igual ao número de algarismos significativos existentes em 339. O logaritmo de 339 é expresso corretamente como 2,530. A característica, 2, corresponde ao expoente em 3,39 x 102. Para verificar quea terceira casa decimal é a última casa significativa, devemos considerar os seguintes resultados: 102,531 = 340 (339,6) 102,530 = 339 (338,8) 102,529 = 338 (338,1) Os números entre parênteses são os resultados antes do arredondamento para três algarismos significativos no antilogaritmo, o número de algarismos significativos. Mudando o expoente na terceira casa decimal, muda a resposta na terceira casa decimal para 339. Na conversão de um logaritmo em seu antilogaritmo, o número de algarismos significativos no antilogaritmo deve ser igual ao número de algarismos existentes na mantissa. Desta forma: Antilog (-3,42) = 10-3,42= 3,8 x 10-4 Seguem alguns exemplos para mostrar o uso apropriado de algarismos significativos: log 0,001237 = -2,9076 antilog 4,37 = 2,3 x 104 log 1237 = 3,0924 104,37 = 2,3 x 104 log 3,2 = 0,51 10-2,600 = 2,51 x 10-3 58 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Observação O logaritmo na base 10 de n é um número a cujo valor é tal que n = 10ª. O número n é o antilogaritmo de a, isto é, o antilogaritmo de 2 é 100 pois 102 = 100 e o antilog de -3 = 0,001 pois 10-3 = 0,01. Na sua calculadora há a tecla 10x ou uma tecla antilog. Para determinar o antilogaritmo de um número, digite-o em sua calculadora e aperte 10x . Geralmente, escrevemos os resultados experimentais como: média ± desvio padrão = x ± s. É razoável escrever os resultados do exemplo anterior como sendo 823 ± 30. Com a incerteza na segunda casa decimal da média, alguns escreveriam 8,2 (+0,3) x 102 para indicar que a média tem apenas dois algarismos significativos. Embora as expressões 823 ± 30 ou 8,2 (±0,3) x 102 estejam corretas para um resultado final, elas não são adequadas para cálculos que estejam desenvolvendo, nos quais média e desvio padrão são resultados intermediários. Nos cálculos, retemos um ou mais algarismos não significativos para evitar erros de arredondamento. 3.4 Erros Toda medida possui alguma incerteza, que conhecemos como erro experimental. As conclusões sobre os resultados podem ter um baixo ou um alto grau de confiança, mas jamais uma certeza absoluta. O erro experimental é classificado como erro sistemático ou aleatório. Erro sistemático O erro sistemático também é conhecido como erro determinado, que pode aparecer devido a uma falha de um equipamento ou na falha do projeto do experimento. Se efetuarmos o experimento de novo, da mesma forma, o erro é reprodutível. A princípio, o erro sistemático pode ser descoberto e corrigido, embora isso não seja fácil. O emprego de um medidor de pH que foi calibrado incorretamente produz um erro sistemático. Supomos que o pH do tampão para calibração indique pH 7,00, mas realmente o pH seja de 7,08. Então, as medidas de pH serão 0,08 unidades de pH menores. Quando se lê um pH de 5,60, o pH real da amostra é de 5,68. Esse erro sistemático pode ser descoberto pela utilização de um segundo tampão de pH conhecido para testar o medidor (HARRIS, 2008). A utilização de uma bureta não calibrada pode ser outro exemplo. A tolerância do fabricante para uma bureta de 50 ml classe A é de + 0,05 ml. Isso indica que se o volume transferido for de 29,43 ml, o volume real pode ser algo entre 29,38 e 29, 48 ml, devido ao limite de tolerância. Uma maneira de corrigir esse tipo de erro é a construção de uma curva de calibração. Nesse procedimento, transfere-se água destilada de uma bureta para um frasco e faz-se a sua pesagem. Determina-se o volume da água 59 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA a partir da sua massa utilizando a tabela a seguir. A figura seguinte nos indica a aplicação de um fator de correção de -0,03 ml para o valor medido de 29,43 ml. Tabela 4 – Massa específica da água Volume de 1 g de água (ml) Temperatura (°C) Massa específica (g/ml) A temperatura observada Corrigida para 20 °C 10 0,9997026 1,0014 1,0015 11 0,9996084 1,0015 1,0016 12 0,9995004 1,0016 1,0017 13 0,9993801 1,0017 1,0018 14 0,9992474 1,0018 1,0019 15 0,9991026 1,0020 1,0020 16 0,9989460 1,0021 1,0021 17 0,9987779 1,0023 1,0023 18 0,9985986 1,0025 1,0025 19 0,9984082 1,0027 1,0027 20 0,9982071 1,0029 1,0029 21 0,9979955 1,0031 1,0031 22 0,9977735 1,0033 1,0033 23 0,9975415 1,0035 1,0035 24 0,9972995 1,0038 1,0038 25 0,9970479 1,0040 1,0040 26 0,9967867 1,0043 1,0042 27 0,9965162 1,0046 1,0045 28 0,9962365 1,0048 1,0047 29 0,9959478 1,0051 1,0050 30 0,9956502 1,0054 1,0053 Fonte: Harris (2008, p. 36). + 0,04 + 0,02 0.00 - 0,02 - 0,04 Co rr eç ão (m L) Volume transferido (mL) 10 20 30 40 50 29,43 mL Figura 21 – Curva de calibração para bureta de 50 ml 60 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Uma característica-chave do erro sistemático é que ele é reprodutível. Para a bureta em questão, o erro é de 0,03 ml, quando a leitura da bureta é 29,43 ml. O erro sistemático pode ser positivo em algumas regiões e negativo em outras. Com cuidado e habilidade, podemos detectar e corrigir um erro sistemático (HARRIS, 2008). Erro aleatório O erro aleatório também é conhecido como erro indeterminado, provocando efeitos de variáveis que não são controladas nas medidas. A probabilidade de o erro aleatório ser positivo ou negativo é a mesma. Ele está sempre presente e não pode ser corrigido. Existe um erro aleatório associado à leitura de uma escala. Um analista lendo o mesmo instrumento várias vezes provavelmente também vai obter várias leituras diferentes. Outro tipo de erro aleatório é aquele que ocorre devido ao ruído elétrico em um instrumento. Flutuações positivas e negativas ocorrem com frequência, praticamente iguais e não podem ser completamente eliminadas (HARRIS, 2008). Quantificando erros experimentais Precisão e acurácia são palavras que normalmente se confundem. A precisão descreve reprodutibilidade dos resultados, isto é, o quanto duas medidas estão próximas entre si, quando replicadas. A reprodutibilidade, e, portanto, a precisão, do conjunto de dados pode ser vista na dispersão das leituras. A precisão de um conjunto de dados pode ser avaliada pelas seguintes medidas: • Desvio padrão. • Desvio padrão relativo (coeficiente de variação). • Variância. A acurácia dos dados descreve a proximidade dos dados em relação ao valor verdadeiro aceito para a medida. A acurácia do valor de um dado talvez nunca seja determinada com exatidão, já que isso seria supor que o verdadeiro valor já era conhecido com certeza absoluta. A acurácia dos dados pode ser descrita em termos do erro na leitura (HIGSON, 2009). O erro absoluto O erro absoluto do sistema é igual à diferença entre a leitura efetiva, xi, e o valor verdadeiro, xt ou aceito: E A = xi - xt É necessário lembrar que talvez seja muito difícil determinar, ou mesmo chegar a um consenso, sobre o verdadeiro valor de t, que dificulta a utilização do erro absoluto (HIGSON, 2009). 61 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA O erro relativo O erro relativo Er descreve o erro em relação à magnitude do valor verdadeiro e pode ser mais útil do que se considerarmos o erro absoluto isoladamente. O erro relativo geralmente é descrito como uma porcentagem do valor verdadeiro ou em partes por mil do valor verdadeiro. Se o erro relativo for descrito em termos de porcentagem, então Er poderá ser calculado de acordo com a equação (HIGSON, 2009): Er =xi –xt .100% xt Da mesma forma, se o erro relativo for expresso em termos de partes por mil, o valor verdadeiro pode ser calculado pela equação: Er = xi –xt .1000 ppt xt Exemplo de cálculo: Calcule o erro relativo em termos de porcentagem para uma análise de ferro que dá um valor de 115 ppm de conteúdo em Fe, quando o valor verdadeiro é, de fato, 110 ppm. Atribua o valor verdadeiro xt e xi e depois calcule o erro percentual no resultado. Xt = 110 ppm de Fe, Xi = 115 ppm Fe. Er = (115 – 110) / 110 x 100 Er = 5 / 110 x 100 Er = 4,5% Observação Se o valor medido for menor que o valor verdadeiro, o erro relativo vai ser negativo. O sinal negativo indica que a leitura é baixa. Se o valor medido for maior que o valor verdadeiro, o erro relativo vai ser positivo. Podemos comparar acurácia ou exatidão e precisão observando um alvo usado por diferentes atiradores. Se um atirador habilidoso tiver bom desempenho, espera-se que acerte repetidas vezes o centro do alvo. Essa situação é análoga a um procedimento analítico de alta acurácia e precisão. Da mesma forma, se levarmos em consideração o desempenho de um atirador amador, sua inexperiência pode resultar em um considerável espalhamento dos tiros em volta do centro do alvo. Esta condição é semelhante a uma baixa precisão analítica. 62 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I O atirador habilidoso pode não ser capaz de acertar o centro do alvo se a mira estiver mal ajustada. Sua habilidade, a precisão, vai garantir que todos os tiros sejam próximos um do outro, mas todos ficarão deslocados do centro. Esta condição é semelhante a um procedimento analítico que mostra alta precisão, mas uma baixa acurácia ou exatidão (HIGSON, 2009). (a) (b) (c) Tiro ao alvo Acurácia e precisão altas Precisão baixa Acurácia alta Acurácia baixa Precisão alta Figura 22 – Precisão e exatidão Precisão e exatidão A precisão é uma medida da reprodutibilidade de um resultado. Se uma grandeza for medida muitas vezes e os valores forem muito próximos uns dos outros, a medida é precisa. Se os valores variarem muito, a medida não é precisa. A exatidão se refere a quão próximo um valor de uma medida está do valor real. Se um padrão conhecido estiver disponível, a exatidão é o quão próximo o valor determinado está do valor padrão (HARRIS, 2008). O resultado de um experimento pode ser reprodutível, porém errado. Se um erro for cometido na preparação de uma solução visando a uma titulação, poderemos fazer uma série de titulações reprodutíveis em que os resultados serão incorretos, pois a concentração da solução titulante não era o que se planejava. Para esse caso, a precisão será boa, mas a exatidão será ruim. Ao contrário, é possível realizar uma série de medidas pouco reprodutíveis em torno de um valor correto. Dessa forma, a precisão é ruim, mas a exatidão é boa. Um procedimento ideal é, ao mesmo tempo, preciso e exato. 63 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA A exatidão é definida como a proximidade do valor “real”. A palavra real está entre aspas, pois alguém mediu o valor considerado real e existe um erro associado a qualquer medida. O valor real é obtido por um operador experiente, utilizando um procedimento muito bem testado. É aconselhável testar o resultado usando procedimentos diferentes, pois mesmo que cada método seja preciso, erros temáticos podem levar a uma má concordância entre os métodos. Uma boa concordância entre os vários métodos nos proporciona alguma confiança, porém nunca uma comprovação de que os resultados são exatos (HARRIS, 2008). Saiba mais Para saber mais sobre os parâmetros de validação, leia o artigo: RIBANI, M. et al. Validação em métodos cromatográficos e eletroforéticos. Quim. Nova, São Paulo, v. 27, n. 5, p. 771-780, set./out. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/qn/v27n5/a17v27n5.pdf>. Acesso em: 4 set. 2018. Erros determinados, indeterminados e crassos Qualquer medida terá erros, por mais cuidadosa que seja. Quanto à origem, os erros podem ser classificados em indeterminados ou determinados. Erros indeterminados são aqueles que causam uma distribuição aleatória dos dados em volta de um ponto médio, também podem ser chamados de erros aleatórios. Esse tipo de erro geralmente está associado ao efeito líquido de flutuações pequenas e imprevisíveis que podem não ser facilmente identificadas. Esse tipo de erro geralmente leva a uma baixa precisão (HIGSON, 2009). Lembrete Erros sistemáticos ou determinados deslocam todos os dados em uma única direção, fornecendo valores muito altos ou muito baixos, resultando em uma baixa exatidão. Um outro tipo de erro, também chamado de erro crasso, pode acontecer. Esse tipo de erro geralmente é grande e aparece basicamente quando se comete um erro significativo no próprio procedimento analítico, invalidando a leitura. Erros crassos levam a resultados discrepantes que podem ser rejeitados de forma que o conjunto de dados não sofra distorção. A influência dos erros indeterminados, determinados e crassos pode ser mostrada na figura a seguir. Em A, há erros indeterminados, que simplesmente causam uma dispersão dos dados em torno de um ponto médio que, na maioria das vezes, está próximo ao valor verdadeiro. Considerar o valor médio de certo número de medidas replicadas, em geral, reduz o efeito de erros dessa natureza (HIGSON, 2009). 64 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I (a) Erros indeterminados ou aleatórios (b) Erros sistemáticos ou determinados (c) Um erro crasso que leva a outro Muito baixo Muito baixo Muito baixo Muito alto Muito alto Muito alto Valor verdadeiro Valor verdadeiro Valor verdadeiro Um ponto encontra-se significativamente afastado do conjunto principal de dadosConjunto principal de dados Figura 23 – Efeito dos erros indeterminados e determinados Em B, os erros sistemáticos deslocam todos os dados numa única direção, e todos na mesma quantidade. Erros determinados são muito significativos quando se tratam de valores menores, já que o erro percentual para os dados pode aumentar proporcionalmente. O erro crasso faz um determinado ponto de dados cair longe do restante, sendo assim facilmente identificado. Fontes de erro indeterminado Erros aleatórios ou indeterminados podem ocorrer quando surgem pequenas variações imprevisíveis. A fonte de erro pode ser: humano, alterações pequenas de temperatura ou pequenas diferenças nas quantidades de reagentes usados. Já que existem várias fontes diferentes de erro que, às vezes, podem, aleatoriamente, tornar a leitura mais baixa ou mais alta, os dados se distribuem em volta do valor verdadeiro. Raramente, dois ou mais erros aleatórios podem somar para aumentar o valor dos dados. Em alguns casos, os dados podem causar uma redução efetiva nos pontos de dados medidos. O efeito final pode ser desprezível em razão de diferentes fatores que, em boa parte, se cancelam mutuamente (HIGSON, 2009). A natureza e a magnitude dos erros indeterminados são aleatórias em sua origem. O efeito final desses erros é causar uma distribuição gaussiana de dados. 65 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Fontes de erro determinado Erros sistemáticos e determinados deslocam os dados em uma única direção. Os erros geralmente são de magnitude muito semelhante. Esse comportamento é causado pelo mesmo tipo de erro quecontinua acontecendo toda vez que uma medida é realizada. É fácil ver como um erro desse tipo pode acontecer. Imagine uma balança analítica de prato superior que foi zerada antes da primeira medida e que fez uma leitura de 0,5 g, mesmo quando nada foi colocado no prato. Toda massa posteriormente pesada será 0,5 g menor que o valor mostrado pela balança. Notamos que o erro fica maior quando pesamos quantidades pequenas (HIGSON, 2009). Podemos citar três fontes de erros sistemáticos: • Erro de instrumento. • Erro de método. • Erro de operador. Os erros instrumentais geralmente ocorrem como resultado de manutenção inadequada dos instrumentos ou falta de calibração com padrões conhecidos. Os erros de método podem acontecer devido ao equívoco na escolha do método ou a uma execução incorreta. Podemos citar como exemplo a utilização de uma pipeta de vidro cuja ponta esteja trincada, não permitindo a retenção de um pequeno volume residual do titulante. A pipeta é calibrada para considerar esse volume, pois se ele não for retido, todos os pontos de equivalência da titulação serão deslocados pelo mesmo valor. Da mesma forma, o analista pode sacudir a pipeta, deixando cair a última gota, quando a boa prática diz que ela deve ser retida. Assim, o ponto de equivalência da titulação será distorcido (HIGSON, 2009). Os erros de operador estão associados a erros de julgamento do operador. Muitas análises precisam da interpretação do operador, como a identificação do ponto de equivalência na titulação ou a estimativa da posição de uma leitura em uma escala. Alguns analistas passam além do ponto final da titulação sistematicamente se forem daltônicos, enquanto outros sempre possuem a tendência de arredondar para cima ou para baixo do valor correspondente à marca divisória mais próxima. Esse tipo de erro é difícil de identificar e eliminar, já que todos temos alguns vícios interiorizados de observação, por mais objetivos que tentamos ser. É muito comum ter uma ideia preconcebida do resultado que deve ser obtido antes do experimento ser realizado (HIGSON, 2009). Incertezas absoluta e relativa A incerteza absoluta expressa a margem de incerteza associada a uma medida. Se a incerteza estimada na leitura da bureta calibrada for ± 0,02 ml, chamamos a grandeza ± 0,02 ml de incerteza absoluta associada à leitura. 66 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I A incerteza relativa é uma expressão que compara o tamanho da incerteza absoluta com o tamanho de suas medidas associadas. A incerteza relativa da leitura 12,35 ± 0,02 ml de uma bureta é o quociente adimensional: Incerteza relativa = Incerteza absoluta = 0,02 ml = 0,002 Valor da medida 12,35 ml Para obter a incerteza relativa percentual, basta multiplicar a incerteza relativa por 100. Assim: Incerteza relativa porcentual = 0,002 x 100 = 0,2%. Se a incerteza absoluta na leitura de uma bureta é constante em ± 0,02 ml, a incerteza relativa percentual é 0,2% para um volume de 10 ml e 0,1% para um volume de 20 ml (HARRIS, 2008). 3.5 Intervalos de confiança O teste t de Student é uma ferramenta estatística utilizada com muita frequência para expressar intervalos de confiança e para a comparação de resultados de experimentos diferentes. É uma ferramenta que pode ser usada para calcular a probabilidade de que sua contagem de hemácias será encontrada em um certo intervalo nos dias normais. A partir de um número limitado de medidas não podemos encontrar a média real de uma população (µ) ou o desvio padrão verdadeiro (σ). O que podemos determinar é a média e o desvio padrão das amostras. O intervalo de confiança é uma expressão condicionante de que a média real (µ) provavelmente tem uma posição dentro de uma certa distância da média medida (x). O intervalo de confiança de m é dado por: Intervalo de confiança: ts x n µ = ± Onde s é o desvio padrão medido, n é o número de observações e o t é o valor do teste t de Student obtido na tabela a seguir. Tabela 5 – Valores do teste t-Student Graus de liberdade Nível de confiança 50 90 95 98 99 99,5 99,9 1 1,000 6,314 12,706 31,821 63,656 127,321 636,578 2 0,816 2,920 4,303 6,965 9,925 14,089 31,598 3 0,765 2,353 3,182 4,541 5,841 7,453 12,924 4 0,741 2,132 2,776 3,747 4,604 5,598 8,610 5 0,727 2,015 2,571 3,365 4,032 4,773 6,869 6 0,718 1,943 2,447 3,143 3,707 4,317 5,959 7 0,711 1,895 2,365 2,998 3,500 4,029 5,408 67 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA 8 0,706 1,860 2,306 2,896 3,355 3,832 5,041 9 0,703 1,833 2,262 2,821 3,250 3,690 4,781 10 0,700 1,812 2,228 2,764 3,169 3,581 4,587 15 0,691 1,753 2,131 2,602 2,947 3,252 4,073 20 0,687 1,725 2,086 2,528 2,845 3,153 3,850 25 0,684 1,708 2,060 2,485 2,787 3,078 3,725 30 0,683 1,697 2,042 2,457 2,750 3,030 3,646 40 0,681 1,684 2,021 2,423 2,704 2,971 3,551 60 0,679 1,671 2,000 2,390 2,660 2,915 3,460 120 0,677 1,658 1,980 2,358 2,617 2,860 3,373 ∞ 0,674 1,645 1,960 2,326 2,576 2,807 3,291 Fonte: Harris (2008, p. 66). Se dividirmos a massa por um volume para calcular a massa específica, a incerteza na massa específica tem origem nas incertezas na leitura da massa e do volume. Assim, as estimativas mais comuns da incerteza são o desvio padrão e o intervalo de confiança (HARRIS, 2008). Por exemplo: o volume de um recipiente medido cinco vezes demonstrou os valores, em ml: 6,375; 6,372; 6,374; 6,277; 6,375. A média aritmética é x = 6,374 ml e o desvio padrão é s = 0,0018 ml. Podemos escolher um intervalo de confiança para a estimativa da incerteza. Utilizando a equação de intervalo de confiança com quatro graus de liberdade, observamos que um intervalo de confiança de 90% corresponde a ± ts / n = ± (2,132) ( 0,0018)/ 5 = ± 0,0017. Por este critério, a incerteza do volume é de ± 0,0017 ml. Podemos reduzir a incerteza fazendo mais medidas. Se fizermos 21 medidas e obtivermos a mesma média e o mesmo desvio padrão, o intervalo de confiança de 90% é reduzido de ± 0,0017 para ± ts / n = ± (1,725) ( 0,0018)/ 21 = ± 0,0007 ml. Com frequência, usamos o desvio padrão como uma estimativa de incerteza. Para cinco medidas, obtemos o volume de 6,374 ± 0,0018 ml. É uma boa prática indicar o número total de medidas, de forma que os intervalos de confiança apropriados possam ser calculados (HARRIS, 2008). 6,372 6,373 6,374 6,375 6,376 6,377 + Desvio padrão confiança de 90% para 5 medidas confiança de 90% para 21 medidas Figura 24 – Representação gráfica do exemplo 68 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I A figura a seguir mostra o significado dos intervalos de confiança. Um computador escolhe, aleatoriamente, números de uma população gaussiana com uma média populacional (µ) de 10.000 e um desvio padrão populacional (σ) de 1.000. No experimento 1, quatro números foram escolhidos, sua média e desvio padrão foram calculados. O intervalo de confiança de 50% foi calculado usando t = 0,765 e 3 graus de liberdade da tabela anterior, com confiança de 50%. Esse experimento está representado graficamente como o primeiro ponto à esquerda da figura a seguir, o quadrado está centrado no valor médio de 9.526 e a barra de erros se prolonga do limite inferior até o limite superior do intervalo de confiança de 50% (± 290). O experimento foi repetido 100 vezes para produzir todos os pontos no primeiro dos gráficos a seguir. 13000 12000 11000 10000 9000 8000 7000 13000 12000 11000 10000 9000 8000 7000 Números de experimentos Númerosde experimentos Intervalos de confiança de 50% Intervalos de confiança de 90% 0 0 20 20 40 40 60 60 80 80 100 100 M éd ia d e 4 va lo re s M éd ia d e 4 va lo re s Figura 25 – Intervalos de confiança de 50% e 90% para o conjunto de dados O intervalo de confiança de 50% é definido de tal maneira que, se repetirmos esse experimento um número infinito de vezes, 50% das barras de erro na figura incluirão a média populacional real de 10.000. O segundo gráfico da figura anterior ilustra o mesmo experimento com o mesmo grupo de números aleatórios, mas agora calculou-se o intervalo de confiança de 90%. Para um número infinito de experimentos, podemos esperar que 90% dos intervalos de confiança incluam a média populacional de 10.000 (HARRIS, 2008). O teste t é usado para comparar um grupo de medidas com o outro com o objetivo de decidir se são ou não diferentes. Os estatísticos dizem que estamos testando a hipótese nula, a qual estabelece que os valores médios de dois conjuntos de medidas são iguais. Devido a erros aleatórios, inevitáveis, não esperamos que os valores médios sejam exatamente iguais, mesmo sendo as grandezas físicas as mesmas que estão sendo medidas. A estatística nos permite obter a probabilidade de que a diferença 69 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA observada entre duas médias seja devida a erros aleatórios de medida. Geralmente rejeitamos a hipótese nula se existe uma chance menor do que 5% de que a diferença de que a conclusão esteja correta, isto é, a cada 20 tentativas, em que concluímos que as duas médias não são diferentes, vamos errar apenas uma vez (HARRIS, 2008). A seguir analisaremos um estudo de caso: Estudo de caso: medimos uma quantidade várias vezes, calculando um valor médio e um desvio padrão. Precisamos agora comparar o nosso resultado com um determinado valor que é conhecido e aceito. A média que obtivemos não concorda exatamente com o valor que é aceito. Será que essa diferença é aceitável, considerando o erro experimental? Estamos comparando o valor medido com um valor conhecido. Uma amostra de carvão foi comprada como um material padrão de referência, contendo 3,19% de enxofre. Estamos testando um novo método analítico para determinar se o valor conhecido pode ser reproduzido ou não. Os valores medidos são 3,29, 3,22, 3,30, 3,23% de enxofre, fornecendo uma média de 3,26% e um desvio padrão de 0,04. Essa resposta concorda com a resposta obtida e notamos que esta faixa inclui a resposta conhecida. Se a resposta conhecida não está dentro do intervalo de confiança de 95%, os dois resultados são considerados diferentes. Para quatro medidas, teremos n – 1 = 3 graus de liberdade. Ao consultarmos a tabela anterior, a linha correspondente a 3 graus de liberdade e a coluna de confiança de 95%, encontramos na tabela t = 3,182. O intervalo de confiança de 95% é de: (HARRIS,2008). ts x n µ = ± µ = 3,260 ± (3,182 x 0,04)/ 4 = 3,260 + 0,065 Intervalo de confiança de 95% = 3,195 até 3,325 % de enxofre. O valor conhecido 3,19% está um pouco fora do intervalo de confiança de 95%. Portanto, concluímos que há menos do que uma chance de 5% de que o nosso método concorde com a resposta. Podemos concluir que o nosso método fornece um resultado um pouco diferente do valor conhecido. Porém, nesse caso, o intervalo de confiança de 95% está tão próximo de incluir o valor conhecido que seria prudente fazer mais medidas antes de concluir que o novo método não é exato (HARRIS, 2008). 3.6 Teste Q para dados incorretos Em alguns casos, um dado é inconsistente com os dados restantes. O teste Q é usado para ajudar a decidir se o dado questionado deve ser mantido ou descartado. Considere, por exemplo, as seguintes medidas: 12,53; 12,56; 12,47; 12,67; 12,48. O ponto 12,67 deve ou não ser considerado? O primeiro passo para o uso do teste é organizar os números em ordem crescente de valores e calcularmos Q, conforme a figura a seguir: 70 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I 12,47 12,48 12,53 12,56 12,67 Intervalo = 0,20 Valor questionável (muito alto?) Variação = 0,11 Qcalculado = variação intervalo Figura 26 – Teste Q O intervalo é a dispersão total dos dados, isto é, a diferença entre o ponto que está sendo questionado e o menor valor. A variação é a diferença entre o valor questionado e o valor mais próximo a ele. Depois de calculado o valor de Q, veja a tabela a seguir. Se Qcalculado > Qtabelado, o ponto em questão deve ser descartado. Tabela 6 – Valores de Q Q (confiança de 90%) Número de observações 0,76 4 0,64 5 0,56 6 0,51 7 0,47 8 0,44 9 0,41 10 Q = variação/intervalo. Se Qcalculado> Qtabelado, o valor em questão pode ser rejeitado com uma confiança de 90%. Fonte: Harris (2008, p. 74). Para os números do exemplo, Qcalculado = 0,11 / 0,20 = 0,55. Na tabela, encontramos Q = 0,64. Como Qcalculado < Qtabelado, o ponto em questão deve ser mantido. Há uma chance maior do que 10% de que o valor 12,67 seja um membro da mesma população que os outros quatro números (HARRIS, 2008). Alguns pesquisadores afirmam que um resultado nunca deve ser descartado a menos que se saiba que existe um erro no procedimento que realizou a medição do resultado. Outros podem repetir a medida questionada mais algumas vezes para ganhar maior confiança de que ela está ou não fora do conjunto de dados. A decisão é do analista e é subjetiva (HARRIS, 2008). 3.7 Método dos mínimos quadrados Para grande parte das análises químicas, a resposta de um método deve ser inicialmente avaliada em relação a quantidades conhecidas de amostra. Somente depois disso poderemos interpretar qual seria a resposta correspondente ao analito, com quantidades desconhecidas. Para isso, geralmente preparamos uma curva de calibração. Normalmente, trabalhamos em uma região em que a curva de calibração é uma linha reta. 71 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Podemos usar o método dos mínimos quadrados para achar a melhor reta que passa através de um conjunto de pontos que apresentam alguma dispersão e não estão perfeitamente localizados sobre a linha da reta. A melhor reta é aquela em que alguns pontos ficam acima ou abaixo dela. 1 1 2 3 4 5 2 3 x y 4 5 6 Coef. linear = b Coef. angular = = m y = mx + b ∆y ∆x ∆x ∆y σy Desvio vertical yi - y (xi,yi) Figura 27 – Gráfico de curva de calibração O ajuste de uma reta pelo método dos mínimos quadrados: veja que os pontos (1,2) e (6,5) não se localizam exatamente sobre a reta, mas estão muito próximos a ela para mostrar seus desvios. A curva gaussiana desenhada sobre o ponto (3,3) é uma indicação esquemática do fato de que cada valor de y está normalmente distribuído em torno da reta. Isto é, o valor mais provável de y irá cair sobre a reta, mas há uma probabilidade finita de medir y a uma certa distância da reta. O procedimento que usaremos pressupõe que os erros nos valores de y são muito maiores que os erros nos valores de x. Essa condição é geralmente verdadeira em uma curva de calibração, na qual a resposta medida experimentalmente (valores de y) tem erros maiores que a quantidade de amostra presente no experimento (valores de x). Uma segunda suposição é que as incertezas (desvios padrão) em todos os valores de y são semelhantes. Suponhamos que pretendemos traçar a melhor reta através dos pontos da figura, reduzindo os desvios verticaisentre os pontos da reta. Reduzimos apenas os desvios verticais, pois consideramos que as incertezas nos valores de y são muito maiores do que as incertezas nos valores de x. A equação da reta pode ser descrita como: y = mx + b 72 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Onde m é o coeficiente angular e b é o valor no qual a reta corta o eixo y, este valor também é chamado de coeficiente linear. O desvio vertical para o ponto (xi, yi), na figura, é Yi – y, onde y é ordenada da reta quando x = xi. y x ∆x = x2 - x1 ∆y = y2 - y1 b (x1, y1) (x2, y2) Equação de uma reta y = mx + b Coeficiente angular (m) = � � y x y y x x � � � 2 1 2 1 Interseção com o eixo y (b) = ponto em que a reta cruza o eixo y Figura 28 – Equação de uma reta 4 VALIDAÇÃO DO MÉTODO E ADIÇÃO DE SOLUÇÕES PADRÃO 4.1 Validação do método O processo de validação prova que um método analítico é aceitável para os propósitos a que ele se destina. Na química farmacêutica, as exigências da validação de um método para submissão ao órgão adequado incluem estudos da especificidade do método, linearidade, exatidão, precisão, faixa, limite de quantificação e robustez. 4.1.1 Especificidade A capacidade de um método analítico em distinguir o analito de todo o resto que possa estar presente na amostra é chamada de especificidade. A eletroforese é um método analítico no qual as substâncias podem ser separadas entre si devido às velocidades de migração diferentes, quando submetidas a um forte campo elétrico. Um eletroferograma é um registro gráfico da resposta do detector versus o tempo em uma separação eletroforética. Na figura a seguir podemos observar um eletroferrograma da droga cefotaxima, no pico 4, contaminada intencionalmente com 0,2% em massa de impurezas conhecidas, geralmente presentes desde a síntese. Uma exigência razoável para a especificidade pode ser de que há separação da linha de base da amostra de todas as impurezas que estão presentes. A separação da linha de base indica que o sinal do detector retorna à linha de base antes do próximo composto alcançar o detector. 73 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Cefotaxima 0,002 0,001 0,000 Tempo (min) Ab so rb ân ci a 6 10 14 18 22 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 29 – Eletroferrograma da cefotaxima contaminada O pico da impureza 3 não está completamente separado do pico da cefotaxima. Outro critério razoável para a especificidade poderia ser que as impurezas não resolvidas em suas concentrações máximas esperadas não afetarão em mais de 0,5% a determinação da cefotaxima. Se fôssemos determinar as impurezas, um critério razoável para a especificidade é que todos os picos correspondentes às impurezas que tenham mais que 0,1% de ares no eletroferrograma são separadas da linha base da cefotaxima. Quando desenvolvemos um método analítico, precisamos decidir quais impurezas devem ser adicionadas para testar a especificidade. Na análise da formulação de uma droga desejamos comparar a droga pura com uma amostra contendo as adições de todos os subprodutos de síntese, excipientes, intermediários e produtos de degradação. Os produtos de degradação podem ser adicionados através da sujeição do material puro ao calor, luz, ácidos, bases, umidade e oxidantes, de modo a decompor 20% da amostra original (HARRIS, 2008). 4.1.2 Linearidade A linearidade indica o quanto a curva de calibração é uma linha reta. Se conhecermos o valor da concentração desejada da amostra na formulação de uma droga, podemos também verificar a linearidade da curva de calibração com cinco soluções padrão, varrendo a faixa de 0,5 a 1,5 vezes a concentração esperada do analito. Cada padrão deve ser preparado e analisado três vezes para esse objetivo. A execução desse método exige 15 amostras e três brancos. Para a elaboração da curva de calibração para uma impureza, que pode estar presente entre 0,1% e 1% em massa, temos que preparar uma curva de calibração com cinco padrões envolvendo a faixa de 0,05 a 2% em massa (HARRIS, 2008). 74 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Uma medida superficial, mas de uso comum, da linearidade é o quadrado do coeficiente de correlação R2: ( )( ) ( ) ( ) 2 2 i i 2 2 i i [ x x y y ] R x x y y ∑ − − = ∑ − ∑ − Onde x é a média de todos os valores de x, e y é a média de todos os valores de y. Podemos calcular o valor de R2 através da função PROJ.LIN no Excel. O R2 deve ser o mais próximo possível de 1 para mostrar um verdadeiro ajuste linear. Para o constituinte principal presente em uma amostra de origem desconhecida, um valor de R2 acima de 0,995 ou 0,999 indica um bom ajuste na maioria dos casos (HARRIS, 2008). Um outro critério para testar a linearidade é a interseção com o eixo y da curva de calibração, que deve ser próxima de zero. Um grau aceitável da proximidade do zero pode ser de 2% do valor do sinal esperado para o analito. Durante a determinação das impurezas que estão presentes em concentrações pequenas, em relação ao produto principal da amostra, um valor de R2 aceitável pode ser ≥ 0,98 para faixa de padrões e entre 0,1% e 2% em massa e a interseção com o eixo y deve ser de ≤10% da resposta para o padrão com 2% em massa. 4.1.3 Exatidão A exatidão é definida como a proximidade do valor verdadeiro, também conhecida como acurácia. Podemos verificar a exatidão da seguinte forma: • Analisando o material de referência padrão em uma matriz semelhante àquela da amostra desconhecida. O método utilizado na análise precisa fornecer o valor certificado do analito no material de referência dentro da precisão do método a ser usado. • Comparando os resultados obtidos por dois ou mais métodos analíticos diferentes. Os resultados devem ser semelhantes dentro da precisão esperada para cada método. • Analisando um branco que foi contaminado com uma determinada quantidade conhecida de analito, de propósito. A matriz tem que ser a mesma da amostra desconhecida. Nas medições do constituinte principal da amostra, normalmente, empregam-se três amostras repetidas, cujos três níveis de concentrações varrem a faixa de 0,5 a 1,5 vezes o valor esperado da concentração da amostra. Nas determinações de impurezas, as inclusões propositais devem ultrapassar três níveis, varrendo uma faixa de concentração esperada de 0,1% a 2% em massa. • Caso não seja possível preparar o branco com a mesma matriz da amostra a ser analisada, então é apropriado que sejam realizadas adições padrões de analito à amostra a ser analisada. Uma análise exata vai determinar o valor conhecido do analito que foi incluído (HARRIS, 2008). 75 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Contaminar a amostra propositalmente é o método mais comum na avaliação da exatidão, pois nem sempre os materiais de referência usados estão disponíveis e um segundo método analítico pode não ser acessível. A contaminação realizada propositalmente assegura que a matriz do analito permaneça a mesma. Podemos citar como exemplo de uma especificação para a exatidão: a análise pode identificar 100% ± 2% do valor contaminado de forma proposital do constituinte principal. No caso de uma impureza, pode ser que a identificação fique dentro de 0,1% em massa do valor absoluto ou 10% do valor relativo (HARRIS, 2008). Saiba mais Para saber mais sobre ferramentas de validação, leia o artigo:RIBEIRO, F. A. L. et al. Planilha de validação: uma nova ferramenta para estimar figuras de mérito na validação de métodos analíticos univariados. Quim. Nova, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 164-171, 2008. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/qn/v31n1/a29v31n1.pdf>. Acesso em: 5 set. 2018. 4.1.4 Precisão Lembrete Precisão está relacionada com a reprodutibilidade de um resultado, quando uma medida é realizada diversas vezes. A precisão de um instrumento pode ser conhecida como precisão de injeção, é a reprodutibilidade observada quando a mesma quantidade de amostra é inserida repetidamente em um instrumento, podemos considerar 10 vezes ou mais. As variações na precisão de injeção resultam na variação da quantidade injetada e, consequentemente, na variação da resposta do instrumento (HARRIS, 2008). A precisão intrínseca da análise é avaliada em um mesmo dia, com o mesmo analista, realizando repetitivamente a análise de quantidades do material homogêneo, usando o mesmo equipamento. Cada análise é independente, assim, a precisão intrínseca da análise pode nos mostrar o quão reprodutível é o método analítico usado. Esperamos que a possibilidade de variações dentro da própria análise seja maior do que do instrumento, pois existem mais etapas envolvidas. Exemplos de especificações que podem ser feitas: a precisão do instrumento sendo ≤ 1% e que a precisão intrínseca do ensaio seja ≤ 2%. 76 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I A robustez pode ser chamada de precisão intermediária. É a variação medida quando uma análise é realizada por dois analistas diferentes, em instrumentos diferentes e em dias diferentes, mas em um mesmo laboratório. Cada análise pode envolver reagentes preparados recentemente e diferentes colunas cromatográficas. A precisão interlaboratorial é a medida de reprodutibilidade realizada com a mesma amostra por analistas diferentes em laboratórios diferentes. Essa precisão torna-se ruim quando o teor de material na amostra diminui (HARRIS, 2008). 4.1.5 Limites de detecção e de quantificação O limite de detecção é a menor quantidade de analito que é significativamente diferente de um branco. Descreve-se a seguir um procedimento que produz um limite de detecção que tem ~99% de probabilidade de ser maior que o branco. Apenas ~1% das amostras desprovidas do analito fornecerá um sinal maior que o limite de detecção. Vamos supor que o desvio padrão do sinal proveniente das amostras com concentrações próximas ao limite de detecção seja comparável aos desvios padrão provenientes dos brancos (HARRIS, 2008): a) Estimar o limite de detecção a partir da nossa experiência prévia com o método; preparamos uma amostra cuja concentração seja aproximadamente 1 a 5 vezes maior que o limite de detecção. b) Medir o sinal de n amostras repetidas, n ≥ 7. c) Calcular o desvio padrão(s) das medidas. d) Medir o sinal de n amostras em brando e determinar o valor médio, que vamos chamar de ybranco e) O sinal mínimo detectável é chamado de limite de detecção (yld) e é definido como: Limite de detecção do sinal: yld = ybranco + 3s f) O sinal corrigido, yamostra – ybranco, é proporcional à concentração da amostra: Linha de calibração: yamostra – ybranco = m . concentração na amostra Onde yamostra é o sinal observado para a amostra e o m é o coeficiente angular da curva de calibração. A concentração mínima detectável é obtida substituindo-se yld por yamostra. Limite de detecção: concentração mínima detectável = 3 s/m+ 77 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA s s 3s Amplitude do sinal Limite de detecção ybranco yamostra Distribuição de probabilidade para o branco Distribuição de probabilidade para a amostra ~ 1% da área do branco localiza-se à direita do limite de detecção 50% da área da amostra localiza-se à esquerda do limite de detecção Figura 30 – Limite de detecção As curvas mostram a distribuição de medidas esperadas para um branco e uma amostra cuja concentração se situa no limite de detecção. A área de uma região qualquer é proporcional ao número de medidas naquela região. Apenas ~1% das medidas para um branco devem exceder o limite de detecção. Porém, 50% das medidas para a amostra contendo um analito em seu limite de detecção vão estar abaixo desse limite. Existe uma probabilidade de 1% de concluir que um branco tem analito acima do limite de detecção. Quando uma amostra contém o analito em seu limite de detecção existe uma probabilidade de 50% de concluir que ele está ausente, porque seu sinal é menor que o limite de detecção. As curvas na figura correspondem à distribuição t-Student, que é mais larga do que a distribuição gaussiana (HARRIS, 2008). O menor limite de detecção é 3 s/m, onde s é o desvio padrão de uma amostra com baixa concentração e m é o coeficiente angular da curva de calibração. O desvio padrão é a medida do ruído em um branco ou sinal pequeno. Quando o sinal é três vezes maior que o ruído, ele é facilmente detectável, mas ainda é pequeno demais para uma medida exata. Um sinal dez vezes maior que o ruído é chamado de limite de quantificação, ou seja, a menor quantidade que pode ser medida com uma exatidão razoável (HARRIS, 2008). Limite inferior de quantificação = 10s / m O limite de detecção do instrumento é obtido por meio de medidas repetidas de alíquotas provenientes de uma mesma amostra. O limite de detecção do método, que é maior do que o limite de detecção do instrumento, que é obtido preparando n ≥ 7 amostras individuais e analisando cada uma delas uma vez (HARRIS, 2008). 78 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I 4.1.6 Robustez A robustez é a capacidade de um método analítico não ser afetado por pequenas variações, deliberadamente feitas, nos parâmetros de operação. Por exemplo, um método cromatográfico é robusto se ele continua fornecendo resultados aceitáveis quando feitas pequenas variações na composição do solvente, pH, na temperatura, na concentração do tampão, no volume de injeção e no comprimento de onda de detecção. Nos testes para robustez, a composição do solvente orgânico na fase móvel pode ser variada em ± 2%, o pH do eluente pode ser variado em ± 0,1 unidades e a temperatura da coluna em ± 5 °C. Se são obtidos resultados aceitáveis, o procedimento escrito deve estabelecer que essas variações são toleráveis. A eletroforese capilar precisa de volumes de solução tão pequenos que uma determinada solução pode ser usada por vários meses antes de ser substituída. Desta forma, a estabilidade da solução é um fator a ser avaliado para a robustez. Os parâmetros operacionais geralmente requerem ser otimizados quando desenvolvemos um método analítico. A mínima maneira eficiente de se fazer isso é variar um parâmetro de cada vez, mantendo os demais constantes (HARRIS, 2008). 4.2 Adição de soluções padrão 4.2.1 Adição padrão Na adição padrão, quantidades conhecidas de analito são adicionadas à amostra desconhecida. A partir do aumento do sinal, deduzimos quanto de analito estava presente na amostra original. Este método precisa de uma resposta para o analito. A adição padrão é especialmente apropriada quando a composição da amostra é desconhecida ou complexa e afeta o sinal analítico. A matriz é tudo que existe na amostra desconhecida e afeta o sinal analítico. O efeito de matriz é definido como uma alteração no sinal analítico provocado por qualquer substância na amostra diferente do analito (HARRIS, 2008). 0 0 2 4 6 8 20 40 60 80 Perclorato (µg/l)Matriz = água comum Matriz = água reagente Ár ea re la tiv a do p ic o do e sp ec tr o de m as sa Figura 31 – Curva de calibração do perclorato em água pura e comum 79 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA A figura anterior mostra um forte efeito de matriz na análise do perclorato, por espectrometria de massas. O perclorato em um nível acima de 18 g/l em água potável é um problema, pois pode diminuir a produção do hormônio da tireoide. A curva de calibração superior da figura foi realizada a partir de soluções padrão de perclorato em água pura. A mesma análise para as soluções padrão com as mesmas concentrações de perclorato, mas utilizando a água que estava sendo analisada, mostrou uma resposta que era 15 vezes menor, como se vê na curva inferior da figura. A diminuição do sinal de perclorato é o efeito matriz atribuído aos outros ânions presentes na água que está sendo analisada (HARRIS, 2008). Como águas de fontes naturais distintas têm concentrações diferentes de ânions, não há uma forma de se construir uma curva de calibração para esta análise que se aplique a mais de uma água específica. Assim, o método adição padrão é necessário. Quando se adiciona um volume pequeno de padrão concentrado a uma amostra desconhecida, a concentração da matriz não muda muito (HARRIS, 2008). Existem dois procedimentos para realizarmos a adição padrão. No método mostrado na figura a seguir, volumes iguais foram pipetados para vários balões volumétricos. Desta forma, volumes crescentes de padrão foram introduzidos a cada balão e cada um deles é diluído ao mesmo volume final. Cada balão contém a mesma concentração da amostra desconhecida e diferentes concentrações de padrão. Precisamos ressaltar que o padrão é a mesma substância presente na amostra desconhecida. Para cada balão, uma medida do sinal analítico é realizada. O padrão adicionado vai aumentar o sinal analítico em um fator entre 1,5 e 3. O método apresentado é usado quando a análise consome parte da solução (HARRIS, 2008). 1 1 1 2 3 4 5 2 2 3 3 4 4 5 5 Encha cada balão volumétrico até a marca de 50 mL e misture Coloque 5 mL de amostra desconhecida em cada balão volumétrico Adicione 0, 5, 10, 15 ou 20 mL de padrão Figura 32 – Experimento de adição padrão com volume total constante 80 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Se a análise não consome a solução, então não há necessidade de prepararmos amostras individuais para cada medida. Assim, começamos com uma solução desconhecida e medimos seu sinal analítico. Então, adiciona-se um pequeno volume de uma solução padrão concentrada e mede-se o sinal outra vez. Adiciona-se, várias vezes, volumes pequenos de padrão e mede-se o sinal depois de cada adição. O padrão deve estar concentrado de modo que somente pequenos volumes sejam introduzidos na amostra e a matriz não seja modificada. Por exemplo: a quantidade de Vitamina C (ácido ascórbico) foi medida em uma amostra de suco de laranja através de um método eletroquímico. A corrente entre o par de eletrodos imersos no suco é proporcional à concentração de vitamina C. A adição de oito padrões elevou a corrente de 1,78 para 5,82 µA, que se encontra no limite superior final da faixa recomendada de aumento de sinal analítico, de 1,5 a 3 vezes (HARRIS, 2008). 4.2.2 Padrões internos Um padrão interno é uma quantidade conhecida de um composto diferente do analito, que é introduzido na amostra desconhecida. O sinal do analito é comparado com o sinal do padrão interno para a determinação da quantidade do analito presente. Os padrões internos são especialmente úteis para análises em que a quantidade da amostra analisada ou a resposta do instrumento variam um pouco a cada análise por razões que apresentam alta dificuldade de controle. Podemos citar como exemplo as vazões de fase móvel ou gás, em cromatografia, que podem sofrer uma pequena alteração, modificando a resposta do detector. Uma curva de calibração é exata somente para o conjunto de condições em que ela foi obtida. Porém, a resposta relativa do detector ao analito e ao padrão é, em geral, constante para um intervalo largo de condições. Se o sinal aumenta em 8,4%, por causa da variação de vazão, o sinal do analito também varia 8,4%. Mas a concentração do padrão precisa ser conhecida para que a concentração correta do analito seja determinada. Padrões internos são muito utilizados em cromatografia, visto que uma pequena quantidade de amostra injetada no equipamento não é reprodutível (HARRIS, 2008). Se durante a preparação da amostra, que antecede a análise, houver perda de amostra, é interessante utilizar padrões internos. Se uma quantidade conhecida de padrão for introduzida à amostra desconhecida antes de qualquer manipulação, a razão entre o analito e o padrão deve permanecer constante, pois a mesma fração de cada um deles é perdida em qualquer operação. Exemplo: para utilizarmos um padrão interno, preparamos uma mistura conhecida de padrão e analito de forma a medir a resposta relativa do detector para as duas espécies. No cromatograma da figura a seguir, a área sobre cada pico é proporcional à concentração das substâncias injetadas na coluna. 81 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA Tempo (min) Si na l d o de te ct or 0 5 10 X S Figura 33 – Cromatograma com padrão interno Porém, o detector, em geral, apresenta uma resposta diferente para cada componente, assim, se o analito X e o padrão interno S possuem concentrações de 10 mM, a área do pico que corresponde ao analito pode ser 2,3 vezes maior que a área sob o pico correspondente ao padrão. Diz-se que o fator de resposta F é cerca de 2,3 vezes maior para X do que para S (HARRIS, 2008): Fator de resposta = área do sinal do analito = F ( área do sinal do padrão) concentração do analito (concentração do padrão) Resumo Quando temos que analisar uma amostra desconhecida, a primeira coisa que devemos fazer é a identificação das substâncias presentes. Também podemos considerar esta questão de maneira inversa, identificando quais as impurezas presentes na amostra. Após identificar os componentes da amostra, devemos determinar a quantidade de cada componente, ou de uma substância em especial. Essas questões envolvem a análise quantitativa e existe um grande número de técnicas para essas determinações. No teste da chama, alguns compostos metálicos são volatilizados na chama não luminosa de Bunsen, liberando cores características. Os cloretos estão entre as substâncias mais voláteis e eles podem ser preparados in situ, misturando a substância com um pouco de ácido clorídrico concentrado (HCl) antes da realização do ensaio. 82 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I Os cátions são classificados em cinco grupos, baseados em seu comportamento ao reagir com determinados reagentes. Através dessa classificação, podemos separar e concluir a presença de determinados cátions em solução, para análise posterior. Os reagentes mais comumente utilizados na separação dos cátions são: o ácido clorídrico (HCl), o ácido sulfúrico (H2SO4), o ácido sulfídrico (H2S), o sulfeto de amônio ((NH4)2S) e o carbonato de amônio((NH4)2CO3). A classificação foi baseada na forma como os cátions reagem com alguns reagentes, formando precipitados ou não. Assim, podemos dizer que a classificaçãodos íons foi estabelecida por diferenças de solubilidade de seus cloretos, sulfetos e carbonatos. Podemos classificar os ânions em grupos, porém isso não é muito comum porque, ao contrário dos cátions, não existe uma separação sistemática para eles. A classificação dos ânions tem como base as reações que se processam em meio ácido diluído na ausência ou presença de cátions prata. Os ânions que se decompõem em solução ácida diluída, formando gases, são do grupo I. Desta forma, o CO3 2- gera CO2, o NO2- se decompõe em NO e NO2, o S 2- produz H2S, e SO3 - e S2O3 2- formam o SO2. Os ânions do grupo II não precipitam quando reagem com cátion prata em meio ácido, e os ânions que precipitam em meio neutro com o cátion prata são do grupo III. Não existe um reagente comum para o grupo IV. O processo de amostragem inclui a obtenção de uma pequena quantidade de material que represente de forma exata o material que está sendo analisado como um todo. O processo de coleta de uma amostra representativa envolve métodos estatísticos, pois grande parte dos métodos analíticos não são absolutos e precisam que os seus resultados sejam comparados com os resultados obtidos por padrões, que são amostras de composição conhecida. Muitos métodos incluem a comparação direta com padrões, mas alguns precisam de um procedimento de calibração indireto. A maior parte das substâncias orgânicas se dissolve facilmente em um solvente orgânico adequado. Algumas se dissolvem em água ou em ácidos ou em bases. Várias substâncias inorgânicas se dissolvem em água ou ácidos diluídos. Devemos testar os materiais complexos, como minérios refratários e ligas, com vários solventes, até se encontrar o mais adequado. A análise qualitativa preliminar indica o melhor procedimento a ser adotado. Cada caso deve ser visto isoladamente, mas vale a pena considerar a dissolução de uma amostra em água ou em ácidos e o tratamento das substâncias insolúveis. Independentemente do método escolhido para uma determinada análise, ele deve ser um método capaz de medir com precisão a quantidade 83 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA da substância de interesse, sejam quais forem as outras substâncias presentes. Na prática poucos procedimentos analíticos atingem esse ideal, mas muitos deles podem ser usados para determinar um grupo limitado de íons ou moléculas na presença de muitos outros íons ou moléculas. A melhor seletividade pode ser obtida realizando a análise sob condições cuidadosamente controladas. Isso ocorre no caso de separações e determinações cromatográficas. Geralmente, a presença de outros compostos torna mais difícil realizar as medições desejadas. A ocorrência de interferentes significa que outros procedimentos devem ser executados para remover o interferente ou evitar que ele atrapalhe o processo analítico. Medidas experimentais sempre trazem variações, assim não podemos tirar nenhuma conclusão com certeza absoluta. A estatística fornece ferramentas que permitem tirar conclusões com a maior probabilidade de acerto e de descartar conclusões que não estejam corretas. Algarismo significativo é o número mínimo de algarismos necessários para escrever um determinado valor em notação científica, sem perder exatidão. Temos que considerar quantos algarismos devem existir numa resposta depois de realizar operações matemáticas com dados que apresentam diferentes números de algarismos significativos. O arredondamento deve ser feito somente na resposta final, para evitar o acúmulo de erros de arredondamento. Toda medida possui alguma incerteza, que conhecemos como erro experimental. As conclusões sobre os resultados podem ter um baixo ou um alto grau de confiança, mas jamais uma certeza absoluta. O erro experimental é classificado como erro sistemático ou aleatório. O erro sistemático também é conhecido como erro determinado, que pode aparecer devido a uma falha de um equipamento ou falha do projeto do experimento. Se efetuarmos o experimento de novo, da mesma forma, o erro é reprodutível. A princípio, o erro sistemático pode ser descoberto e corrigido, embora isso não seja fácil. O erro aleatório também é conhecido como erro indeterminado, provocando efeitos de variáveis que não são controladas nas medidas. A probabilidade de o erro aleatório ser positivo ou negativo é a mesma. Ele está sempre presente e não pode ser corrigido. Existe um erro aleatório associado à leitura de uma escala. Um analista lendo o mesmo instrumento várias vezes provavelmente também vai obter várias leituras diferentes. 84 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 Unidade I A precisão é uma medida da reprodutibilidade de um resultado. Se uma grandeza for medida muitas vezes e os valores forem muito próximos uns dos outros, a medida é precisa. Se os valores variarem muito, a medida não é precisa. A exatidão se refere a quão próximo o valor de uma medida está do valor real. Se um padrão conhecido estiver disponível, a exatidão é o quão próximo o valor determinado está do valor padrão. O teste t de Student é uma ferramenta estatística utilizada com muita frequência para expressar intervalos de confiança e para a comparação de resultados de experimentos diferentes. Em alguns casos, um dado é inconsistente com os dados restantes. O teste Q é usado para ajudar a decidir se o dado questionado deve ser mantido ou descartado. O processo de validação prova que um método analítico é aceitável para os propósitos a que ele se destina. Na química farmacêutica, as exigências da validação de um método para submissão ao órgão adequado incluem estudos da especificidade do método, linearidade, exatidão, precisão, faixa, limite de quantificação e robustez. Exercícios Questão 1. O ânion fluoreto (F–1), o neônio (Ne) e o cátion sódio (Na+1) têm em comum o mesmo número: A) De prótons. B) Atômico. C) De nêutrons. D) De massa. E) De elétrons. Resposta correta: alternativa E. Análise da questão Analisando a tabela periódica, observamos que 9F 19, 10Ne 20 e 11Na 23 apresentam números atômicos (números de prótons) e de massa diferentes. Logo, as alternativas A, B e D estão incorretas. Eles não apresentam o mesmo número de nêutrons, com exceção do F e do Ne. Veja: 85 QU IIM - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 6/ 10 /2 01 8 QUÍMICA ANALÍTICA F = 19 − 9 = 10 nêutrons Ne = 20 − 10 = 10 nêutrons Na = 23 − 11 = 12 nêutrons Em relação ao número de elétrons, eles se equivalem, pois o flúor é um ânion monovalente (9F -1, seu número de elétrons é maior do que o número atômico) e o sódio é um cátion monovalente (11Na +1, perde um elétron em relação ao seu número atômico): 9F -1 = 10 elétrons 10Ne = 10 elétrons 11Na +1 = 10 elétrons Questão 2. (Cesgranrio 2012) Observe as afirmativas a seguir, que relacionam testes estatísticos e suas aplicações para o tratamento de dados analíticos: I – O teste t de Student serve para avaliar se dois resultados analíticos (por exemplo, dois resultados médios obtidos, cada um, de um número de réplicas) são estatisticamente iguais dentro de um nível de confiança. II – O teste de Fisher (teste F) serve para verificar se as variâncias (precisões) de dois resultados são similares. III – O teste Q de rejeição de resultados serve para testar a linearidade de uma faixa de resposta analítica. Está correto apenas o que se afirma em: A) I. B) II. C) III. D) I e II. E) II e III. Resolução desta questão na plataforma.