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BEREKICE DIAS 6:a edição reformulada da obra União hom- °afetiva: o preconceito e a justiça 266 I nomoArErivi DAM II OS ~tinos In311 Nesta hipótese impõe-se Ou a suspensão do inventílrio até ue seja declarada a existência da união ou a reserva de bens. Quer em uin caso, querem outro:cabe a concessão de medidas acautelatórias para tornar os bens indisponíveis 3. . Se o parceiro busca o reconhecimento da união como único herdeiro, fazendo' jus à integralidade do acervo sucessório, o inventário precisa ficar suspenso.. No entanto, havendo herdeiros necessários que ocupem posição prevalênte^ na ordem sucessória - descendentes ou ascendentes - basta a reserva de bens. O inventário pode prosseguir. Depois de julgada a demanda, são divididos os bens, reservados. E, caso o inventário já tenha acabado, os bens que haviam sido reser- vados serão alvo de sobrepartilha.38 Quando a ação de reconhecimento da união homoafetiva é proposta depois de ultimado o inventário, deve ser cumulada com ação de petição de herança. Acolhida a demanda, a partilha levada a efeito é desconstituída, para que seja contemplado o convivente. equilibrar o poder dos litigantes nas ações que visam reconhecer o estabelecimento das uniões estáveis hornoafetivas, cabe analisar o art. 100, I, do CPC conforme a Consti- tuição Federal para que seja interpretado à luz do princípio da isonomia, aplicando-o também na fixação de competência das ações de reconhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo. 5. Atualmente, tendo sido conferido às uniões homoafetivas os mesmos direitos dos relacionamentos heteroaferivos, também deve ser garantido aos envolvidos em relacionamentos familiares de pessoas do mesmo sexo, o foro privilegiado conferido à parte mais vulnerável financeira ou juridicamente nessas relações, quando, examinando cada caso concreto, de fato, verificar-se que a pretensão da parte menos favorecida ficará manifestamente prejudicada caso tenha que litigar em local diferente da sua residência. 6. Na hipótese, tendo em vista que o aludido consorte sobrevivente se mostrou vulnerável, financeira e juridicamente, mormente em caso de remessa dos autos à Comarca do interior do pais, levando-se em consideração ainda os princípios da celeridade e da economia processuais, haja vista que, as provas do relacionamento, aparentemente, deverão ser colhidas no Distrito Federal, local da última residência dos supostos companheiros, data venha o entendimento do eminente juiz de primeiro grau, a ação de reconhecimento de união estável homoafetiva post mortem deve permanecer no juízo de origem, privilegiando a regra do art. 100,1. do CPC, em ordem ao princípio constitucional da isonomia, a fim de garantir o equilíbrio entre as partes. 7. Recurso conhecido e provido. Decisão reformada. (TJ DF, Rec. 2013.00.2.019467-8, Ac. 748.333, P T. Civ., Rel. Des. Alfeu Machado, p. 15/01/2014). Ação declaratória e constitutiva incidental em autos de inventário. Pretensão de reco- nhecimento da existência de união homoafetiva entre a autora e a inventariada. Pedido de antecipação da tutela para determinar a expedição de ofícios para bloqueio de bens e outras providências. Indeferimento pela julgadora singular. Recurso conhecido e pro- vido em parte, para o parcial atendimento dos pleitos formulados pela autora (TJPR, AI .404.392-7, 1-1 C. Cív„ Rel: Des. Mário 'Rau, j. 01/08/2007). Maria Berêniee Dias; Manual das sucessões, .81 15 TRANSEXUALIDADE E O DIREITO DE MUDAR SumÁRio: 15.1 Feminino ou masculino? - 15.2 Pessoas trans - 15.3 Troca de sexo? - 15.4 Questões éticas e lega is - 15.5 A despatologização da identidade trans - 15.6 Alteração do nome e da identidade de gênero - 15.7 Nome social - 15.8 Um homem que todos veem e uma mulher que não existe - 15.9 Avan- ços e retrocessos - 15.10 Ação cabível e foro competente - 15.11 O direito ao sigilo - 15.12 A possibilidade de casar - 15.13 A omissão da verdade - 15.14 O transexual casado- 15.15 Reflexos na prole. 15.1 Feminino ou masculino? Menino ou menina? Homem ou mulher? Sempre é esta a primeira pergunta feita, seja quando do nascimento, seja depois de um exame de ultrassonografia. A identificação do indivíduo como pertencente a um ou a outro sexo é feita- segundo o aspecto da genitália externa. De acordo com o tipo genital revelado aos olhos, será a criança considerada menino ou menina e assim será designada, no momento de ser efetuado seu registro de nascimento.' Mas essa constatação não ultrapassa as fronteiras de uma observação anatõmica.' A determinação da identidade sexual decorre de critério morfológico, e o papel do gênero se apresenta como expressão pública dessa identidade. O atestado de nascimento é, dessa forma, um registro do ingresso da pessoa no universo jurídico, disposto a conferir segurança e estabilidade nas relações jurídicas. O registro civil exerce; nesse plano, uma chancela normalmente imodificável, que marca o indivíduo em sua vida social'. É um sinal uniforme e monolítico, incapaz de compreendera pluralidade psicossomática das pessoas.' Existe a falsa crença de que o sexo civil ou jurídico deve espelhar e coincidir como sexo vivido socialmente pela pessoa e, por isso, não admite anibiguiáades.4 : Elimar Szaniawski, Limites e possibilidades do direito de redesignação do estado sexual, 35. José Francisco Oliosi da Silveira, O transexualismo na justiça, 30. Luiz Edson Fachin, Aspectos jurídicos da união..., 47. El imar Szaniawski, Homossexualidade: um lugar na história..., 264. 208 I 110MOAFETIVIDADE E OS DIREITOS 1,01,11 O homem só pode ser assim denominado por possuir um pènls, e a mulher, uma vagina. Por isso, a sociedade adota o critério do sexo morfológico para a divisão da espécie humana nos polos homem e mulher. A Medicina admite ser o sexo uma conjugação de elementos que devem manter harmonia entre si, sendo eles o elemento biológico, o psicológico e o comportamento] do indivíduo. Logo, para o diagnóstico completo e exato da sexualidade, importante atentar ao aspecto plurivetorial: o sexo biológico (formado pelo sexo morfológico, sexo genético e sexo endócrino), o sexo psíquico co sexo civil.' Para a Medicina Legal, não se pode mais considerar o conceito de sexo fora de uma apreciação plurivetorial, resultante de fatores genéticos, somáticos, psicológicos e sociais.° A Psicologia define a sexualidade humana como uma combinação de vários elementos: o sexo biológico (o sexo que se tem): as pessoas por quem se sente desejo (a orientação sexual); a identidade sexual (quem se acha que é); co comportamento ou papel sexual. Como os fatos acabam se impondo ao Direito, a rigidez do registro identificatório da sexualidade não pode deixar de curvar-se à pluralidade psicossomática do ser humano. 15.2 Pessoas trans A expressão pessoa trans é a mais bem aceita na atualidade pelospesquisadores de género e sexualidade, por funcionar como um termo "guarda-chuva": Incluem-se ai travestis e transexuais, bem como todos aqueles cuja expressão de gênero esteja de algum modo em trânsito, ou seja, diverso do sexo anatõmico. Tradicionalmente sempre se definiu o transexual como a pessoa que sofre uma dissociação entre o sexo físico e o sexo psíquico, dissociação definida tecnicamente como disforia de gênero. Em face da certeza de ter nascido no corpo errado, tem ojeriza a seu órgão sexual biológico, desejando realizar urna cirurgia de mudança de sexo — cirurgia de transgenitalização — e não querendo que as pessoas saibam que se trata de um transexual. Contudo, atualmente, muitos transexuais não desejam realizar a cirurgia, ainda que não sintam prazer sexual não sentem repulsa por seus órgãos genitais.' Não há como confundir transexuais com travestis e intersexuais. As travestis, ainda qu e tenham uma iden tidade com osexo opos to— do masculino para o feminino Márcia Maria Menin, Um novo nome, uma nova identidade sexual..., 17. Antonio Chaves, Direito à vida eao próprio corpo, 33. Paulo Roberto lotti Vecchiatti, Manual da homoafetividade, 83. ittmwatintannott 110 ntaatmou mutwitt 1 2i.+9 e adquiram todas as cartum ertsticas femininas, mantêm a funeionalidade ,tios órgãos sexuais. Os intersexuais, que eram-chamados de hertnafroditas,- com características genitais de mais deuni sexo. . A tranSexualidade é uma divergência entre o estado psicológico de'gêner4..-:- características físicas e morfológicas perfeitas que associam o indivíduo ao gêneitei oposto .8 Caracteriza-se por um forte conflito entre o corpo e a identidade degênet6 e compreende um arraigado desejo de adequar— hormonal ou cirurgicamente corpo ao gênero almejado.° Existe uma ruptura entre o corpo e a mente, o transexual sente-se como se tivesse nascido no corpo errado, como se esse corpo fosse um castigo ou mesmo uma patologia congênita. O transexual se considera pertencente ao sexo oposto, entalhado com o aparelho sexual errado, o qual quer ardentemente' erradicar. Enquanto o homossexual aceita seu sexo biológico, o transexual rejeita seu próprio sexo anatõmico. O transexual masculino tem ego corporal e psíquico femininos. Com o transexual feminino, ocorre o contrário.' A definição de sexo como um atributo de ordem cromossennica imutável ou corno a presença ou não de cena genitália — fere a autonomia do transexual afronta odirei to à intimidade que integra os direitos da personalidade, cuja tutela é uma função inderrogável do Estado. É o direito à intimidade que possibilita que o indivíduo, em prol da construção de sua identidade sexual, disponha até certo ponto de seu próprio corpo, em conformidade com sua intimidade, isto é, a vida que escolheu para si, sua vida construída voluntariamente. As pessoas transexuais e travestis têm sua sexualidade constitucionalmente tutelada, pois gozam do direito à identidade, à dignidade (CF 1.0 111), à igualdade (CF 5.0 I), cidadania (CF 1 .0 11) e à privacidade (CF 5.0 X). Mais que colocá-las à prova sobiè a posse ou não de genitália tida como adequada, o Estado tem o dever de protegé- Ias contra os outros e mesmo contra a própria ingerência. As pessoas trans sofreram marginalizações múltiplas, sem recursos e tampouco familiaridade com instituições civis, e restam mais uma vez à margeni do Estado. Muitos abandonam a escola, não frequentam hospitais, não fazem carteira de identidade e evitam se socorrer dos órgãos públicos pelo medo de Serem tratados com desrespeito à sua identidade e expressão de gênero. Preconceitás, discriminações e violências homofóbicas se agravam sensivelmente em relaçãó a travestis e transexuais. Sem poderem se conformar à "pedagogia do armário", ficam sujeitos às piores formas de desprezo, abuso e violência. Seus direito S são sistematicamente negados e violados, sob a indiferença geral. Leandro Lopes Pontes Paraense, Direito à identidade sexual..., 148. Tereza Rodrigues Vieira, Transexualidade, 412. Tereza Rodrigues Vieira, Nome e sexo..., 221. Marco Aurélio Máximo Prado e Rogério Diniilútegieira,Homofobia, hierarquização e humilhação social, 61. 110M0Allil IVIDADE OS Dtnertosi.ram São as maiores-vítimas 'do ballying homofóbico. 'do acolhimento ;letivo, em face das -suas experiências de expulsão e abandono per parte cid' ámiliares -aniigos, as travestis são alvo de violência per parte de vizinhok- :onlpecidos;deScenhecidos einstituições. Com suas basesemocionais fragilizadas- , ravestis e transexuais na escola têm que encontrar forças para lidar como estigma t a discriminação sistemática e ostensiva. Expostas a experiências de chacota,e iumilhação e a contínuos processos de exclusão, segregação e guetização, são trrastadas por uma rede de exclusão." Desfeita a correlação presumida entre sexo e gênero, necessário- o tconhecimento identitário do cidadão por meio do ajuste do nome ao gênero :orrespenden te. A escolh a ea determinação d e um nomepressu põ em co n fonn idade ;exo-genérica, ou seja, de que a criança que nasceu com sexo feminino terá uni. ;ênero feminino pelo qual será reconhecida socialmente. A partir do instante em lue essa pressuposição não se concretiza, imperativo que se reajuste o nome à real dentidade de gênero. A necessidade de propor urna ação em juízo para a mudança registrai do. leme atinge a parcela mais vulnerável da população LGBTI, não somente por sua liversa condição sexo-genérica, mas também por sua situação socioeconômica. )everia ser suficiente que o pedido de troca do nome e da identidade de gênero 'osse feita em sede administrativa, perante simples requerimento junto ao :anon° do Registro Civil onde reside. O Estatuto da Diversidade Sexual garante um maior número de direitos às Pessoas trans (arts. 33 a 45). Assegura acesso à hormonioterapia e outras técnicas não irreversíveis a partir los 14 anos de idade, desde que haja indicação terapêutica (art. 37), sendo que as rurgias de redesignação sexual podem ser levadas a efeito ao ser atingida a idade le 18 anos (art. 38). É garantida a retificação do nome e da identidade sexual, independentemente ie realização da cirurgia de transgenitalização (art. 39). O pedido de retificação é :^cito diretamente junto ao registro civil sem a necessidade de ação judicial (art. 40). A. dispensa do serviço militar também depende de simples requerimento (art. 42). É proibido o oferecimento de tratamento de. reversão da orientação sexual ali identidade de gênero, bem corno fazer promessas de cura (art. 53). assegurado direito ao nome Sociái - desde ensino fundamental à tniversidade, mediante simples requerimento do próprio aluno, não havendo TRANSEXUALIDADU II O DIREITO MI MUDAR 271 necessidade de o pedido..ser feito bu ratificado peloá' pais owresponsáveris se á estudante,fer Menor de idade Ou incapaz. Este direito é garantido em tádos ;:ps assentamentos acadêmicos e nas listas de freqtiên cia,(art: 65). OEstatutotambémgaranteousodasclependêneiaseinstalaçõescorres-pondentes à identidade de gênero em todos os espaços públicos e aberto ao público (art. 45). Do mesmo modo garante quotas para o acesso ao mercado de trabalho (art. 73). 15.3 Troca- de sexo? Apesar de dizer com um punhado de direitos fundamentais ligados à própria personalidade do indivíduo, os aspectos legais da identidade de gênero ainda carecem de regulamentação. A concepção do masculino e do feminino não são determinadas pelo corpo biologico.'2 A incoincidência entre o sexo anatômico e o psicológico gera problemas de diversas ordens. Além de profundo conflito individual, há repercussões nas áreas médica e jurídica, pois o transexual tem a sensação de que a biologia se equivocou com relação a ele.° Ainda que reúna em seu corpo todos os caracteres orgânicos de um dos sexos, seu psiquismo pende, irresistivelmente, ao sexo oposto. Mesmo sendo aparentemente "normal", - nutre profundo inconformismo com o seu sexo biológico. O intenso desejo de modificá-lo leva à busca de adequar a externalidade à sua alma. O processo de redesignação começa com o vestir-se como o outro sexo, passa por tratamento hormonal e terapêutico e ultima com a realização de inúmeras cirurgias. Não é um processo passageiro. É a busca consistente de integração física, emocional, social, espiritual e sexual, conquistada com muito esforço e sacrifícios por pessoas que vivem infelizes e muitas vezes depressivas quanto ao próprio sexo.14 A hormonioterapia e as cirurgias de redesignação buscam apenas corrigir o que é considerado um "defeito": ter alguém nascido homem num corpo de mulher ou ter nascido mulher num corpo de homem.L5 Não se pode aceitar que a pessoa transexual fique totalmente desprotegida, ridicularizada em seu sofrimento e à margem da sociedade, sem possibilitar-lhe a alteração de seu nome e de seu sexo em virtude de um preconceito e de uma fobia social que, ao negar proteção aos seus direitos fundamentais, visa a punir a .pessoa-transexual por algo de que ela não tem culpa, poralgo que não é mera Opção, mas necessidade psicológica imutáve1.16 Daniel Dall'Igna Ecker, Felipe Luckmann, Transexuais e travestis: gênero, censura e resistência. Silvia_ Morici, Homossexualidade: um lugar na história..., 169. Edvaldo Souza Couto, Transexualidade — O corpo em mutação, 20. Idem, 28: Silvia Vassilieff, Direito à adequação do nome ao novo estado pessoal..., 9. 272 1 ticivammn vi !Mn A. h 05 biRRITOS traiu Quando a pessoa perde a-correspondência Mais comumente percdaida`entre carga cromossõmica-, genitálià e exteriorização de gênero, tal implica na unia alteração de sexo, em conformidade com as experiências vividas e a•exteriorização' de gênero. É incoerente e discriminatório pensar que a mesma inccinforrnidadé entre gênero e genitália seja vetada, sendo o transexual considerado uni homem falso. Todo indivíduo tem direito à proteção psicossomática da sua identidade sexual, adequando a identidade física à identidade psíquica. O sexo psíquico é imutável, ou seja, aquele sexo em que a pessoa sente verdadeiramente pertencer.- Assim, deve o registro civil expressar esta adequação; pois a sexualidade e a identidade residem principalmente no cérebro." De um modo geral as "tentativas de psicoterapia aplicadas em transexuais são ineficazes, urna vez que ele não deseja adaptar seu sexo psíquico ao seu sexo biológico, mas o contrário. Também não darão certo terapias que objetivarem trazer equilíbrio emocional pela aceitação de sua condição pessoal." A proteção do transexual precisa resguardar o direito à intimidade, quando constatada sua situação e a dificuldade de vivenciá-la. Ele poderá, se assim o quiser, permanecer na ambiguidade de sua vida dupla, conflitiva e angustiante, conforme alerta Luiz Alberto David Araújo: Trata-se, então, de seu direito à intimidade, onde define sua orientação sexual. A opção por sua sexualidade é direito seu e encontra-se no campo do direito à intimidade.' 9 Na Classificação Internacional das Doenças (CID-10), a transexualidade ainda é chamada de transexualismo (F64): Um desejo de viver e ser aceito corno um membro do sexo oposto, usualmente acompanhado por urna sensação de desconforto ou impropriedade dc seu próprio sexo anatômico e um desejo de submeter-se a tratamento honnonal e cirurgia para tornar seu corpo tão congruente quanto possível com o sexo preferido. O Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais (DSM-IV), que estabelece critérios de diagnóstico de transtornos mentais, assim descreve o que chama de Transtornos de Identidade de Gênero (COD. 302): A— Uma forte e persistente identificação com o gênero oposto (não um mero desejo de obter quaisquer . vantagensculturaisat ributdas aofato deserdo sexooposto);B—Desconfortopersistente com seu sexo ou sentimento de inadequação no papel de gênero deste sexo; C — A perturbação não é concomitante a unta condição intersexualfisica; D — A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. 27. Tereza Rodriguez Vieira, Identidade Sexual: Aspectos éticos e jurídicos da adequação de prenome e sexo no registro civil, 187. ; IA. Márcia Maria Menin, Um novo nome, uma nova identidade sexual..., 21. 19. Luiz Alberto David Araújo, A proteção constitucional do transexual, 69. RANSMUA1,11)A1313 h O iSIREITO MUUAR I 27I Ainda que tais catálogos mantenham a identidade de gênero como transtorno mental não .se justifica continuar utilizando a expressão transeknalismo. linpositivo adotar o termo transexualidade para se começar areverter o perverso estigma de que são vítimas transexuais e travestis. A edição do DSM-V, que só chega ao Brasil em 2015, não mais classifica a transexualidade como transtorno mental ou transtorno de identidade de gênero. Passa a falar em disferia de gênero. Resolução do ConselhoFederalde Medicina20defineo transexualismo como: 1) Desconforto com o sexo anatõmico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente por, rio mínimo, dois anos; 4) Ausência de outros transtornos mentais. Também os Princípios de Yogyakarta trazem o tema: compreende-se como identidade de gênero a profundamente sentida experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos. 15.4 Questões éticas e legais Coma evolução das técnicas cirúrgicas, tornou-se p ossível muda r a morfologia sexual externa para encontrar a identificação da aparência com o gênero desejado. Os avanços no campo médico não foram acompanhados pela legislação, inexistindo qualquer previsão legal a esse respeito. A omissão regulamentadora acabou levando a classe médica a um problema ético-jurídico sobre a natureza das intervenções cirúrgicas e a possibilidade de sua realização. Mas os princípios da bioética não podem fazer com que a pessoa se torne refém do próprio corpo, ou melhor, que o corpo venha a ser um cativeiro para a pessoa." O IV Congresso Brasileiro de Medicina Legal, realizado em 1974, classificou corno mutuante, e não corretiva, a cirurgia para troca de sexo, concluindo que sua prática feria o Código de Ética Médica. Mereceu enorme destaque a condenação do cirurgião plástico Roberto Farina à pena de dois anos de reclusão pela, prática do delito de lesões corporais gravíssimos. Ele foi processado porque, em um Congresso de Urologia, realizado Resolução 1.955/2010, art. 3.° (íntegra no Anexo 111). Adriana Caldas Dabus Maluf, Novas modalidades de família..., 185. 274 itOMOAPIITIVIDADE E OS DIREITOS L.GBTI em 1975, exibiu o'filme de Uma-cirtitgia de .reversão e confessou que já a havi realizado em nove, pacientes.22 O lúcido parecer do jurista Heleno Cláucf Fragoso23 entendeu que. o réu atuou dentro dos limites do exercício regular d direito, não tendo praticado crime algum. Afirmou: a condenação revela a cargad reprovação moral própria do espírito conservador de certos magistrados. O extinto Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, em 06/11/1979, acabou absolvend acusado, por decisão majoritária assim ementada: Não age dolosamente o médico que, através de cirurgia, faz a ablação de órgãos genitais externos de transexual, procurando curá-lo ou reduzir seu sofrimento físico ou mental Semelhante cirurgia não é vedada pela lei, nem pelo Código de Ética Médica." Afinal, não pode haver crime sem ofensa, lesão ou perigo concreto de lesão a uni bem jurídico. Faltaria lesividade para punir o médico que realizou a cirurgia." Não apenas pela lesão corporal, mas havia um impedimento formal para a• retirada de estruturas essenciais à função reprodutora. O Código de Ética Médica então em vigor (arts. 12 e 13) incluía tais procedimentos entre as práticas que ensejavam processos ético-disciplinares contra os médicos." O atual, não mais." Em face desta restrição, os interessados em se submeter à cirurgia passaram a 'sé socorrer da via judicial. Data do ano de 1980 o julgamento da Justiça gaúcha, deferindo pedido de alvará para a realização da cirurgia?' Depois de uma batalha judicial, o Ministério da Saúde ,29autorizou a realização do Processo Transexualizador no âmbito do Sistema Único de Saúde — SUS, que foi devidamente regulamentado." Com isso solucionou-se antigo problema referente aos altos custos de todo o procedimento transformatório. Esse tipo de cirurgia é procedimento ético, com o objetivo de ressocializar o indivíduo, visto. que a identidade de gênero, bem personalíssimo, encontrava-se comprometida." Aindaquesejapossívelarealizaçãodoprocedimentodereadequaçãodaidentidadede gênero pelo SUS, como são poucos os complexos hospitalares que dispõem deste serviço, longos são os prazos para ingressar no programa e para realizar a cirurgia. A Justiça Federal deferiu antecipação de tutela para que a União providenciasse, em 60 Sentença publicada na Revista dos Tribunais, 363-372, v. 545. Heleno Cláudio Fragoso, Transexualismo..., 299-304. TACrimSP, AC 201.999, acórdão publicado na Revista dos Tribunais, 353-365, v. 545. Tereza Rodrigues Vieira e Roberta Martins Pires, Responsabilidade penal do cirurgião, 463. Jorge Paulete Vanrell, Sexologia forense, 71. CEM, de 13/04/2010E TJRS, AC 37.023, V C. Cív., Rel. Des. Gervásio Barcellos, j. 11/12/1980. Portaria 1.707/2008 (íntegra no Anexo III). Portaria 457/2008 (íntegra no Anexo 111). . Adriana Dabus Maluf, Novas modalidades de família na pós-modernidade, 182. TRANSEXUALIDADII E ti D11011701/11 MUDAR -Z7541 — dias, o encaminhamento dó autor para-as consultas pré-operatórias; a culminar na realização cirúrgica de mudança de sexo, indicando o hospital ou equipe médica aos cuidados da qual deve o requerente permanecer.32 Tambérn.foi imposto ao Município encargo de fornecer os medicamentos para a realização da cirurgia." Resolução do Conselho Federal de Medicina34 retirou o caráter expe- rimental da cirurgia de redesignação sexual de transexuais femininos do tipo tieocolpovulvoplastia (construção da vagina), podendo ser realizada em qualquer hospital público ou privado. Já quanto aos transexuais masculinos passou a con- siderar que os procedimentos de retiradas de mamas, ovários e útero deixam de ser experimentais, podendo ser feitos em qualquer hospital público ou privado que sigam as recomendações do Conselho. Já o tratamento de neofaloplastia (cons- trução do pênis), em face das limitações funcionais do órgão construído cirurgi- camente, permanece em caráter experimental. É autorizada a cirurgia de transgenitalização somente quando o paciente é considerado portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo, com tendência à automutilação ou autoextermínio. O paciente deve, pelo período de dois anos, submeter-se a acompanhamento de equipe interdisciplinar formada por médico psiquiatra, cirurgião, psicólogo e assistente social. Somente após o diagnóstico médico de transgenitalismo é que a cirurgia pode ser realizada. Depois da realização da cirurgia, é importante que o paciente tenha acompanhamento terapêutico, visto que precisa reconhecer o novo corpo e questões específicas relativas às funções e comportamentos sexuais." Agravo de instrumento. Administrativo. SUS. Fornecimento de medicamento. Antecipa- ção de tutela. 1. ti obrigação do Estado, no sentido genérico (União, Estados e Municípios) assegurar às pessoas desprovidas de recursos financeiros o acesso à medicação necessária para a cura de suas mazelas, em especial, as mais graves. 2. A saúde é direito inalienável e indisponível, sendo dever do Estado a concretização deste direito constitucionalmente tolerado. Considerando que o SUS é composto pela União, Estados e Municípios, resta caracterizada a solidariedade entre os três entes no polo passivo da demanda. 3. Além da perspectiva biomédica, a transexualidade possui a perspectiva social, fundada em direitos previstos na Carta Magna: o direito à saúde e o direito à autodeterminação da identidade sexual, este último informado pelos direitos fundamentais à liberdade, à igualdade. eà proteção da dignidade humana. (TRF 4 Região, A12008.04.00.011319-0/PR, 3" T., Rei: Des. Luiz Carlos de Castro Lugon, j. 14/05/2009). Mandado de Segurança. Medicamento. Portador do distúrbio do sexo"lisicol-ÓgIedi. Transexualismo. Necessita obter o medicamento prescrito por médico da Unicamp, para realização da cirurgia de mudança de sexo. Obrigação do Município em fomeCer medicamento. Segurança concedida. Recursos não providos. (TJSP,.AC,0040148,, 58.2007.8.26.0309, Ac. 4979769,10" C. Dir. Pub., Rel. Des. Urbano Ruiz,j..21/02/2011). Resolução 1.955/2010 (íntegra no Anexo 111). TerezaRodrigues Vieira, Transexualidade, 415.. -27i5"- I 110M0A1 h I IVIOA IX I. OS Miolos tx,rsn Permanece o debate :em relação à exigência do praw de dois anos atendimento já que muitos trans, ao procurarem a transexualização já vive e são reconhecidos pelo sexo social há um tempo significativo. A necessidád do diagnóstico de um transtorno de identidade de gênero, como psicopatolog' psiquiatra, desconsidera o sofrimento psíquico e corporal independentemente d diagnóstico de doença. Assim, há a necessidade de possibilitar a transformação corporal dos caracteres sexuais secundários sem que seja necessária a realizaçãO da transgenitalização. A proibição de tais procedimentos condena as transexuais a se verem impedidas de manifestar livremente a expressão de sua personalidade, É estabelecida a idade de 21 anos para a cirurgia transgenital. Porém, corríd houve a redução da maioridade para os 18 anos, nada justifica a imposição deste limite etário. Mais adequado seria deixar à equipe médica o encargo de indicar o ... momento de sua realização. O Estatuto da Diversidade Sexual admite cirurgias de redesignação sexual à partir dos 18 anos de idade (art. 37). No entanto, havendo indicação terapêutica por equipe médica e multidisciplinar, é admitida a hormonioterapia e procedimentos complementares não cirúrgicos, de natureza reversível, a partir dos 14 anos (art. 38): 15.5 A despatologização da identidade trans Há um movimento mundial buscando retirar o caráter patológico da transe- xualidade. Tanto é assim que dia 20 de outubro é o Dia Internacional de Ação pela Despatologização Trans. Talvez melhor seria usar a expressão vivência sexual para transpor ideias de patologização. Em 2012 surgiu a Campanha Internacional Stop Trans Pathologization, pela retirada das identidades trans dos catálogos de doenças. A iniciativa é apoiada no Brasil pelo Conselho Federal de Psicologia que, já no ano de 1999, publicou Reso- lução36 que normaliza a atuação dos psicólogos e proíbe tratamentos e promessas de cura da homossexualidade, já que não constitui nem doença, nem distúrbio e nem perversão. A décima revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde," que retirou a homossexualidade da categoria das doenças, incluiu os transtornos da identidade sexual (F 64), dentre os quais se encontram o travestisrno e o transexualismo. As mais recentes versões do Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais 38 também patologizam ' 'Resolução CFP 1/1999 (Integra no Anexo III). ' CID-10, Organização Mundial da Saúde, 1993. DSM - IV, APA, 1994; DSM-IV-TR, APA, 2000. ir TRANSCXUALIDADII Il. O 01i2EITO DE MUDAR I 277 as manifestações de género que fogem ab binômio homem/mulher, classificando- as dentro do diagnóstico amplo de transtorno da identidade de gênero-(F64.x). Á Resolução do Conselho Federal de Medicina" que regulamenta os proce- dimentos de transgenitalização deixa evidente o caráter patológico do paciente ao exigir ausência de outros transtornos mentais. Também exige a constatação de desconforto com o sexo anatômico natural pelo prazo de dois anos. Deste modo,.ao contrário do que acontece com a maioria dos doentes que vão ao médico com sintomas desconhecidos em busca de um diagnóstico, os tran- sexuais é que precisam convencer a equipe médica de seu intenso sofrimento e dá-necessidade de submeterem-se aos procedimentos hormonais e cirúrgicos. O paciente já se sente transexual; muitas vezes, desde muito jovem. Não busca um diagnostico conhecido, busca acesso ao resultado do diagnóstico: a cirurgia. Ele não vai ao médico para saber o que tem, vai para fazer o médico acreditar o que ele tem para pennitir=lhe o tratamento. Estabelece-se uma relação às avessas, um circulo vicioso: o paciente conta ao médico o que ele acha que o médico precisa ouvir. Em qualquer outra doença, o sofrimentopessoal não é elemento essencial, condição de para sua caracterização e posterior acesso ao tratamento. Isto é, uma pessoa com câncer não deve provar que o câncer a faz sofrer para ser tratada. Para os transexuais o discurso do sofrimento faz parte do diagnóstico, ex- presso pelo desconforto e vontade de aniquilar os genitais, É o sofrer do cidadão que lhe assegura direitos, e não sua própria cidadania, sua autonomia, seu direito ao livre-desenvolvimento da personalidade. O cidadão transexual tem de, por dois anos, demonstrar descontentamento com o seu corpo e alegar que isso lhe causa sofrimento para ser considerado transexual, seja isso verdade ou não. A verdade, afinal, ele já traz consigo desde que se descobriu transexual. Mas para ter acesso à cirurgia, à saúde, precisa mostrar que somente ela fará cessar seu sofrimento, real, inventado ou exagerado: O sofrimento, no entanto, pode ser causado pelo próprio diagnóstico: obri- gação de dois anos de tratamento, de subordinação da identidade subjetiva a uma autoridade médica, para:receber o diagnóstico esperado. Não basta a mera von- tade de retirar os genitais. Essa vontade deve se consubstanciar em um descon- forto recorrente, comduração mínima de dois anos. Significativa a instituição do chamado Processo Transexualizador pelo Sis, tema único de Saúde --SUS, mas o tratamento pelos serviços públicos de saúde não deve estar .c-ondicionadb um diagnóstico psiquiátrico. Diante do atual con, ceito de saúde,- que não.maià:significa ausência de doença, mas bem-estar bio- -psíquico-social, é de se reconhecer o acesso à saúde como um direito de todas as Resoligão.CFM 1.955/20.10lart 3 ° 278 1tom0ÁrtliWitmlit: ur) nuterroS Gni pessoas; é também das:pessoas trans à assistência medica psteólógica: já se teeo rihece -que as sexualidades; os gêneros é os corpos gim não se encáixam Conceito convencional de masculino ou feminino, macho .ou fêmea, não mais podendo servir de base para uma classificação psicopatológica. A pluralidade das. idenW dades de gênero deve ser vista como manifestação da diversidade huniaria,- ei não transtorno mental. . A alegação que despatologizar a transexualidade criaria um problema para'a re- alização de tratamentos e cirurgias pelo SUS, não procede. Nem todos que recOtrem aos serviços de saúde, quer pública, quer privada, sofrem de algum mal ou distúitio, A-gravidez, por exemplo, não é uma doença, mas requer tratamento especial. Tam- bém nas campanhas de vacinação, pessoas não doentes recorrem à saúde publica; Camisinhas e anticoncepcionais são fornecidos a pessoas saudáveis. Desde 2010, a 'França deixou de considerar a transexualidade como tranS, torno. Na Austrália, em 20] 1, um indivíduo foi considerado "sem sexo", por não se encaixar nas categorias de homem e mulher. Na América Latina, a Argentina deu o primeiro passo, e criou urna lei de reconhecimento à identidade do cidadão' transexual diretamente junto ao cartório civil pela simples afirmativa do requerente. A patologização das identidades trans fortalece estigmas, fomenta postiiL ras discriminatórias e contribui para a marginalizaçâo de transexuais, travestis, crossdressing e drag queens. Considerá-los como doentes mentais só traz mais Só; frimento a quem já é visto com tanta discriminação. Retirar o rótulo de "doente mental" significa proporcionar-lhes o direito de se apropriarem de sua verdadeira identidade. A "doença" trans é social. A ausência de reconhecimento destas pessoas como cidadãs, nada mais é do que negar-lhes o direito de existir, de amar, de de- sejar e de ser feliz. 15.6 Alteração do nomé e da identidade de gênero O nome é o identificador essencial da pessoa. É o que diz o Código Civil, art. : 16: toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. A sociedade tem interesse em não confundir seus Membros entre si, e a esse inte-; t'eSse público se soma o int'eresse privado do ihdiViduo em se identificar e não ser confundido com outrem. Assim, o nome deve refletir o âmago da personalidade Individual, condizer com seu estado pessoal e social, bem como deve estar con sortcrom o seu psiquismo, sua honra, imagem pessoal e social, não podendo ser rid falto ou vexatório. 40 Sílvia Vassilieff, Direito à adequação do nome'áo novo estado pessoal..., 3. TRANSEXUALIDADE CO DIREITO DE-MUDAR I 279 O nome é um direito de.personalidadePor exce1ência,4],Cumpre a função -de sinal distintivo, assentado na dignidade da pessoa humana, que não é apenas fundamento da República, como é também valor-fonte básico do próprio sistema eonstitucional de direitos fundamentais." Dado o desenvolvimento tecnológico e o dinamismo das relações sociais, Pa- trícia Sanches afirma que o nome passou a operar função secundária. E questiona: Afinal, o que significa um nome para a identificação do indivíduo na modernidade? Em uni mundo onde a impressão digital, exame da íris ou biomet ria das mãos avançam como os mais seguros e eficazes meios para se identificar unia pessoa, a utilização de um nome com a imprescindibi 'idade de outrora se torna exagerada e sem propósito.'" Tanto o nome quanto o gênero sexual —que é a identificação através da desig- nação do grupo social — não têm mais importância na identificação do indivíduo. O nome co gênero sexual cumprem duas funções: de representação, que é como o sujeito se reconhece e assim se apresenta ao meio social; e de identificação, como o meio social o reconhece. Convenção social determina que o prenome seja capaz de identificar o gênero sexual» Assim, incoerente e atentatório ao próprio fundamento que justifica e le- gitima a incidência do nome sobre o cidadão que este seja uma imposição ou urna fonte geradora de discriminação, como no caso dos indivíduos transexuais e travestis." Após o processo de transformação a que se submetem os transexuais, para adaptar o sexo anatõmico à sua identidade psicossocial, questão de outra ordem se apresenta. Ninguém duvida ser aflitiva a situação de quem, com características de um gênero, tem documentação que o declara como pertencente ao sexo cor- poral em que foi registrado. O nome deve existir para identificar a pessoa e não para expõ-la ao burlesco, como refere Tereza Rodrigues Vieira: Aliás, a ridicularia nos casos de transexualidade está patente na desconformidade da aparência física e psíquica do indivíduo com o exarado em sua documentação legal.46 Um dos fundamentos para negar a mudança da identidade é de natureza registral, uma vez que o Código Civil"' proíbe vindicar estado contrário ao que Euclides de Oliveira, Direito ao nome, 71. Maria Celina Bodin de Moraes, Sobre o Nome da Pessoa Humana, 43. Patrícia Corréa Sanches, Mudança de nome e da identidade de género, 427. Idem, 428. Cláudio Ari Mello, Contribuição para urna teoria híbrida dos direitos de personalidade, 79. Tereza Rodrigues Vieira, Nome e sexo..., 48. CC, art. 1.604: Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro. 14. 11OMQÁtiv!1)AJ t OS DIRB1105 Idwri resulta do registro de nascitnento, alvo provando-se erro ou falsidade do registro Como .o registro .foi .levado a *efeito ;consignando-corretamente. ° sexo aparen a alegação é - de que não teria havido 'qualquer erro, o' que -sempre serviu justificativa ao indeferimento do pedido de retificação. " É alegado que o princípio da imutabilidade relativa do nome não chancel qualquer pretensão à mudança. Mas o tradicional princípio da indisponibilidael do estado das pessoas não pode ser um obstáculo à mudança de sexo no regis civil. Não se trata de desestruturar o sistema, mas de adequar a complexidad- da ordem jurídica à complexidade da ordem natura I." Assim, há que se atenua certas exigências legais. A própria Lei dos Registros Públicos diz que o prenom é definitivo, mas pode ser substituído. Igualmente é admitida sua alteração, pedido do interessado,contanto que não prejudique o sobrenome da família Na busca da alteração, cabe ser invocado também o art. 6.° da Constituição Federal,5' que, entre os direitos sociais, assegura o direito à saúde, encargo (Me é imposto ao próprio Estado» Conforme a Organização Mundial da Salide OMS: Satide é o completo estado de hem-estar físico, psíquico e social. A falta de identidade do transexual provoca desajuste psicológico, não se podendo falar em bem-estar nem físico, nem psíquico e nem social. Assim, o direito à adequação do registro é uma garantia à saúde, e a negativa de modificação afronta imperativo constitucional, revelando severa violação aos direitos humanos. Nenhuma justificativa serve para negar a mudança, não se fazendo necessária sequer alteração de dispositivos legais para chancelar a pretensão.53 Os direitos de personalidade são direitos subjetivos num duplo sentido. Além de pertencerem á cada pessoa, também são direitos cujo conteúdo e respeito dependem, de maneira. importante, da vontade individual. Cabe a cada um definir sua personalidade. Imposta do exterior, a noção de personalidade perde seu sentido." Ana Paula Ariston Barion Peres, Transexualismo..., 170. Lei 6.015/73, art. 58:0 prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. Lei 6.015/73, art. 56: O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não' prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa. 51. CE art. 6.°: São direitos sociais a educação, a saúde, a aiimentação, o trabalho, a mora- dia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a . assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. CE art. 196: A saúde é direito de todos e devei- do Estado (...). 53., José-Francisco Oliosi da Silveira, O transexualismo na Justiça, 141. 54. Tereza Rodrigues Vieira,.Transexualidade..., 414. , TRANsexuALamon 110 Datárro De MUDAR I 281 t mesmo paradoxal que'a plasticidade do corpo,que enfrenta várias. inter- venções cirúrgicas profundas e,arri:scadas, seja maior que aplasticidade do nome; convenção formal.-É mais fácil mudar toda a estrutura corporal de um sujeito, para emprestar-lhe contornos femininos ou masculinos, que simplesmente mudar seu nome, que está vinculado ao gênero, não ao sexo. O nome registrai do cidadão trans não remete à sua identidade, mas jus- tamente afronta-a. A despeito de sua expressão de gênero, de sua vestimenta, a despeito das intervenções cirúrgicas, a falta de um nome correspondente ao gê- nero sujeita transexuais e travestis a ter sua identidade constantemente revelada e violada, a ser humilhado e tratado pelo sexo que não o identifica. Além disso, há que ser respeitado o direito de as pessoas trans não realizarem as cirurgias de redesignação sexual. No entanto, a tendência da jurisprudência é negar a alteração do sexo quando não houve a mudança dos órgãos sexuais. Cla- ramente trata-se de uma afronta da Justiça ao direito à identidade, à intimidade, à privacidade de quem quer simplesmente adequar-se à sua identidade social sem violar sua integridade física. Obrigar alguém a submeter-se a uma cirurgia para garantir-lhe o direito à identidade, além de violar o direito à liberdade de quem não quer submeter-se a delicado e arriscado procedimento cirúrgico, viola o próprio dever do Estado de proteger seus cidadãos. O nome é um direito, não uma via-crúcis. O direito ao nome decorre do direito fundamental à integridade moral que encerra a identidade pessoal, familiar e social, além de outros aspectos, como a liberdade civil, política e religiosa, a honra, a imagem, a intimidade, a identidade sexual etc." No entanto, é tudo tão demorado, que gera, durante anos, enormes sofri- mentos a quem tem uma identidade registral diversa da sua identidade social. Vez por outra, quando a pessoa é há anos conhecida por seu nome social, a solução é requerer a adoção de apelido público e notório." Para evitar enormes constrangimentos, há quem utilize meios não legais na busca de uma nova identidade. Mas a Justiça não criminaliza quem procedeu a alteração registrai do nome sob o fundamento de que o Direito Penal deve ter por finalidade assegurar a coexistência livre, pacífica e feliz dos homens.57 Apesar de Cláudio Ari Mello, Contribuição para uma teoria ¡Onda dos direitos de personalidade, 70. Ação de Retificação de Registro Civil. Alteração de prenome. Possibilidade. Autorização em situações excepcionais. Apelido público e notório. Ocorrência no caso concreto. Recurso proVido. (TJSP, APL 0015086-39.2009.8.26.0602, 7 C. Dir. Priv., Rel. Luiz Antônio Çost,a, j.,31/08/2011). Processo penál:Ilabeas corpus. Transexualidade. Falsificação de certidão de nascimento. Princípiii da.ofensividade. 1. O sexo não é determinado tão somente, ou exclusivamen- te., pela genitália ou demais características físicas exteriores. Aparentar mão é ser. 2. O 282 HOMOAPIMV113A1)1., ti OS 1)ittInTOSI-011T1 a sentença ter absolvido quem utilizou o passapOrte de uma irmã, por inexigibi lidade de outra conduta, a:decisão do colegiado, apesar de reconhecer o acerto d tese da magistrada, acabou decidindo pela condenação, talvez por o criniejá esta prescrito.58 transexual é um indivíduo que quer viver e ser respeitosamente aceito como pessoa do sexo oposto. Não se adapta à vida que leva, quer mudar de sexo, em face do terrfv.él— conflito com sua identidade de gênero. 3. Temos, no transexual, ou "um homem pies num corpo de mulher", ou "urna mulher presa no corpo de homem", gerando problema psíquicos, sociais e jurídicos 4. Falsificar uma certidão de nascimento para fazer consta que um transexual é mulher e não homem, psicossexualmente feminino, o que veiaa ser reconhecido em sentença judicial, não pode constituir crime, pois, não alterowa verdade. Tanto assim que, no caso em estudo, o transexual foi submetido a cirargia,e ficou unia mulher, liberada do corpo de homem, e veio a casar-se com um homem. 5.Q agente procurou ajudar, sem burlar os fatos, um ser humano, procurando diminuir seus traumas e constrangimentos, fazendo-o feliz, ante a demora da solução judicial do pro- blema. 6.0 Direito Penal deve ter por finalidade assegurara coexistência livre, pacífica e feliz dos homens. 7.0 Direito Penal só pode ser acionado quando o ato lesiona de forma efetiva, ou expõe a perigo, o bem jurídico tutelado pela norma penal. (TRF 1' Região, HC 2007.01.00.047822-3,3" T., Rel. Desig. Juiz Federal Tourinho Neto, j. 13/11/2007). 58. TRF 3' Região — São Paulo — Penal. Uso de passaporte adulterado. Acusado transexual que utilizava passaporte em nome de sua irmã. Absolvição por ausência de culpabili- dade. Acusado que se utilizava também de passaporte verdadeiro, com seu nome real: lnexigibilidade de conduta diversa afastada. Recurso provido. Prescrição retroativa. Extinção da punibilidade decretada de ofício. 1. Apelado denunciado por ter se utilizado de passaporte falso, em nome de sua irmã (Código Penal. art. 304) 2. Laudos médicos . juntados aos autos confirmando que o recorrido é pessoa de sexo genético masculino, mas com sexo morfológico-fenotípico feminino, já tendo se submetido à emasculação-. 3. Advento de sentença absolutória, sob o fundamento de inexigibilidade de conduta diversa, já que seria constrangedor e humilhante ao apelado, que aparentava ser mulher, ostentar identificação masculina. 4. Acerto, em princípio, da tese absolutória adotada pela sentença. Contudo, no caso concreto, constata-se que o apelado fez uso, ern'mais. de uma oportunidade, de seu passaporte verdadeiro, com nome masculino: Percebe-se'', assim, que, para o recorrido, aparentar ser pessoa do sexo feminino e ostentar identi- ficação masculina, ao contrário do que entendeu a r. Sentença, não era tão vexatório ou constrangedor. Se o apelado utilizou-sedo passaporte em nome de "Américo" para embarcar em voo com destino ao exterior, então era dele exigível que exibisse o mesmo passaporte ao reingressar em solo nacional e não outro, em nome de sua irmã. 5. Por outro lado, se a apresentação de docUmentos com nome masculino fosse realmente in- sustentável, o apelado já cleveria ter promovido judicialmente a retificação de seu registro de nascimento, pois, segundo consta do histórico do laudo médico, o recorrido já havia se submetido à intervenção cirúrgica paramtidança de sexo há mais de três anos, lapso de tempo suficiente para judicialmente regularizar sua situação. 6. Recursoministerial a que se dá provimento; condenando-se o apelado nos exatos termos da denúncia. 7. Tomada a pena aplicada, constata-se que, entre a data da presente decisão condenatória até a data do despacho de recebimento da denúncia, já foi ultrapassado o lapso temporal TRANSEXUALIDADE E O DIRIRTO DE MUDAR I 283 O Superior Tribunal de Justiça confere aos transexuais o direito à alte-ração clo'nome e identidade de gênero,59 e reiteradamente tem homologado sentenças estrangeiras que autorizaram a redesignação sexual em países outros.80 15.7 Nome social Em face das enormes dificuldades de as pessoas trans obterem a alteração do nome e da identidade sexual, muitos Estados e instituições públicas e priva- das vem implantando .a carteira social. Ainda que não seja uma solução ideal mi definitiva, já é um passo em direção à proteção da identidade de transexuais e travestis, historicamente marginalizados pela desvinculação entre seu gênero e seu sexo biológico. Por isso, o seu uso, sem a alteração do nome registrai, muda o reconhecimento social e estende o exercício da cidadania a grupos historicamente marginalizados, que se intimidam frente à possibilidade de ter seu nome registrai revelado e, com isso, sua identidade violada. Essa medida altera tão somente o reconhecimento social do primeiro nome dos indivíduos, que poderão ser referenciados pelo nome. que verdadeiramente lhes representa e lhes identifica. A solução é inclusiva e não marginalizadora das identidades múltiplas de uma sociedade plural. Em todos os atos de suas vidas, os indivíduos trans identificam-se pelo nome social. Quando há a necessidade da divulgação do nome registrai para fins de cor- reta identificação, a prática mostra que transexuais e travestis o escondem com afinco, o que provoca desconcerto e mal-estar. A duplicidade de prenomes não gera insegurança jurídica não podendo ser- vir como pretexto para impedir o exercício do direito à identidade. Para eventuais investigações, há várias formas de identificação, basta que as buscas necessárias se pautem pelo Registro Geral ou pelo Cadastro de Pessoas Físicas, não pelo nome registrai. de 04 anos, prevista no art. 109, V do C.P., pelo que, de ofício, com fundamento no art. 61 do Código de Processo Penal, decreta-se extinta a punibilidade do delito tipificado no art. 304 do Código Penal, pela ocorrência dá prescrição da pretensão punitiva, na modalidade retroativa (art. 110, §§ 1.°e 2.° do Código Penal). (TRF Região,.ACr 3973, Proc. 94031010673, 5° T., Rel. Juiz Helio Nogueira, j. 21/08/2001). . STJ, REsp 678.933/RS, 3' T., Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direi to, j. 22/03/2007, STJ, REsp 1.008.398/SP, 3' T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/10/2009, STJ, REsp 737.993/ MG, 4' T., Rel:"Min. João Otávio de Noronha, j. 10/11/2009. STJ, SE 1.058-1T 2005/0067795-4, Rei; "Min. Barros Monteiro, j. 01108/2006; STI, SE 2.149, 1T 2006/0186695-0, Rel. MM: Barros Monteiro, j. 04/12/2006,STJ, SE 2.732, iT 2007/0105198-0, Rel. MM. Cesar Asfor Rocha, j. 07/04/2009,. STJ,'SE 4.179,1T 2008/0273512-0, Rel. MM. Cesar Asfor Rocha, j. 07/04/2009. "---ZW-1—JiZJA-1431 OS Dlitt1.1 larrt .Sempre que 'ouso de nome é obrigatório, ,não se exige que Naja o nome registrai' Portanto, não tá norma que vede expressamente a possibilidade do uso, com carát de atribuição de cidadania, do nome reconhecido e utilizado. É necessário um nom- e o novo paradigma do Direito estabelece o nome como um elemento identificado real, não meramente formal, adormecido e odiado em uma folha do Registro Civil.° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão estabelece o uso do nome social adotado por travestis e transexuais servidores públicos, no âmbito Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional" e o Ministério da Educação assegura o direito à escolha de tratamento nominal nos atos e proe0 diment os promovidos no âmbito do IVIinistério.63 Do mesmo modo o Conselho Federal de Psicologia expediu Resolução" adini rindo a inclusão do nome social nas carteiras profissionais, junto com o nome registrá. Resolução Conjunta do Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten; ciaria e o Conselho Nacional de Combate à Discriminação,6' assegura a travestis e transexuais o direito de serem chamados pelo nome social quando recolhidos em estabelecimentos prisionais. A Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB encami- nhou ao Conselho Federal pedido para que na carteira profissional de advogados e estagiários conste exclusivamente o nome social. O Estatuto da Diversidade Sexual garante aos transexuais, travestis e inter- sexuais, que possuem identidade de gênero distinta do sexo morfológico, o direito ao nome social, pelo qual são reconhecidos e identificados em sua comunidade (art. 44). Tal direito é garantido tanto para ser inscrito na Carteira de Trabalho (art. 72), como nas instituições de ensino, públicas ou privadas, por simples re- querimento do aluno. Caso o aluno seja menor de idade ou incapaz, dispensável que o pedido seja feito ou ratificado pelos pais ou responsáveis (art. 65). 15.8 Um homem que todos veem e uma mulher que não existe Isto ou: uma mulher que todos veem e um homem que não existe. Esta é a situação em que vivem todos os que nasceram com um corpo que não corresponde à sua identidade psíquica. Como o procedimento de redesignação é longo e poucos são os hospitais habilitadosa realizá-lo, o que impõesigni ficativo tempo de espera, tem sidoautorizada 61, Adriana Caldas Dabus Maluf, Novas modalidades de família..., 190. Portaria 233/2010 (íntegra no Anexo 111). . Portaria 1.612/2011 (íntegra no Anexo III). Resolução 14/2011 (integra no Anexo III). : 65. Resolução 1/2014 (integra no Anexo 111). - TRANSEXUAUDADIE E O DIREITO DE MUDAR 1 285 ii alteração do nome de transexuais mesmo que não tenha sido realizada a cirurgia de transgenitalizaçâo. Basta haver a identificação social com as características sexuais. É da Justiça gaúcha o precedente 66 que autorizou a alteração do registro civil de um Minsexual, mesmo sem ter ele se submetido à cirurgia de redesignação dos órgãos genitais. Porém, não foi determinada a troca da identidade de gênero. Esta restrição foi afastada em outro julgamento, que permitiu a troca não só do nome como do sexo, invocando um punhado de princípios constitucionais.'" Ainda que a parte manifeste não ter a intenção de se submeter à cirurgia genital, poucas decisões autorizam a dupla alteração. A primeira data do ano de 2002. do TJSP." A mais recente é de justiça de Goiás." No entanto, a tendência é 66 Apelação cível. Registro civil. Alteração do registro de nascimento relativamente ao sexo. Transexualismo. Possibilidade, embora não tenha havido a realização de todas as etapas cirúrgicas, tendo em vista o USO concreto. Recurso provido (TJRS, AC 70011691185, 8' C. Civ., Rel. Des. Alfredo Guilherme Englert. j. 15/09/2005). Alteração de registro civil. Transexualidade. Cirurgia de transgenitalização. 13 fato de o ape- lante ainda não ter se submetido ã cirurgia para a alteração de sexo não pode constituir óbice ao deferimento do pedido de alteração de registro civil. O nome das pessoas, enquanto fator determinante da identificação e da vinculação de alguém a um determinado grupo familiar, aSSU m e fundamen tal importância individuale social. Paralelamente a essa conotação pública, não se pode olvidar que o nome encerra fatores outros, de ordem eminentemente pessoal, na qualidade de direito personalíssimo que constitui atributo da personalidade. Os direitos fundamentais visam à concretização do princípio da dignidade da pessoa humana, o qual atua como sendo uma qualidade inerente, indissociável, de todo e qualquer ser humano, relacionando-se intrinsecamente com a autonomia. razão e autodeterminação de cada indi- víduo. Fechar os olhos a esta realidade, que é reconhecida pela própria medicina, implicaria infração ao principio da dignidade da pessoa humana, norma esculpida no incisollIdo art. I.° da CE que deve prevalecer sobre a regra da imutabilidade do prenome. Por maioria, proveram em parte (TJ RS, AC 70013909874,7" C. Civ., Rel. Des. Maria Berenice Dias, j. 05/04/2006). Retificação de registro civil. Assento de nascimento. Transexual. Alteração na indicação do sexo. Deferimento. Necessidade da cirurgia para a mudança de sexo reconhecida por acompanhamento médico multidisciplinar. Concordância do Estado com a cirurgia que não se compatibiliza com a manutenção do estado sexual originalmente inserto na certidão de nascimento. Negativa ao portador de disforia do género do direito à adequação do sexo morfológico e psicológico e à consequente redesignação do estado sexual e do prenome no assento de nascimento que acaba por afrontar a Lei Fundamental. Inexisténcia de interesse genérico de uma sociedade democrática em impedir a integração do transexual. Alteração que busca obter efetividade aos comandos previstos nos arts. 1.0,111, e 3.0, IV, da Constituição Federal. Recurso do Ministério Público negado, provido o do autor para o fim de acolher integralmente o pedido inicial, determinando a retificação de seu assento de nascimento não só no que diz respeito ao nome, mas também no que concerne 20 sexo. (TJSP, AC 209.101.4/0,1" C. Dir. Priv., Rel. Des..Elliot Akel, j. 09/04/2002). GO-Goiânia —Proc. 201203179418, sentença proferida pela Juiza de Direito Sirlei Martins da Costa, j. 16/10/2013 (íntegra no si te <wsVw.direitohomoafetivo.com.br>). 286 I HOMOAVETIVIDADfi E OS DIREITOS LOUT1 de possibilitar tão só a alteração do nome, não da identidade Séaltal Ésta solução, no entanto; cria uma situação para lá de 'insustentável.. Pratleatriente constrói um ser híbrido. Tem' o nome correspondente a um sexo, mas sua identidade é de outro. É como diz a música do Ney Matogrosso: sou masculino-e feminino A sociedade Consegue identificar o sexo de um indivíduo tão somente por suà . aparência e comportamento. Ou seja, o gênero sexual delineia-se por sua função social, mais pelo fenótipo cornportamental do que o aspecto da genitália. Assim, cabe questionar se é necessária a mudança no corpo para ensejar a mudança do sexo. Submeter alguém a urna série:de cirurgias para definir seu gênero sexual é totalmente desnecessário, restando tais hipóteses tão somente àquelas pessoas inconformadas com seu aspecto genital, que entra em contrariedade com seu sexo psicológico." Eprecisoatentarquehaumadistãnciaconsiderávelnosresultadosdascirurgias de redesignação sexual. Para as transexuais masculino/feminino, a construção de urna neovagina permite uma vida sexual ativa. No entanto, a situação inversa não alcança igual sucesso. Os transexuais feminino/masculino, ao decidirem se submeter à cirurgia de neofaloplastia, não têm qualquer certeza quanto ao procedimento em si e, especialmente, quanto ao resultado da intervenção. De outro lado, o uso de homionioterapia e a realização da mastectomia (retirada das mamas), asseguram resultados muito satisfatórios e acabam conferindo a identidade masculina desejada. Por isso poucos dão seguimento ao processo de readequação sexual, até porque a falta do órgão sexual masculino não significa ausência de masculinidade, porquanto a sexualidade não se limita à anatomia dos órgãos genitais, mas sim a um conjunto de outros fatores psicológicos, sociais e culturais. Tanto é assim que o Conselho Federal de Medicina somente admite em caráter experimental a neofaloplastia, ato cirúrgico para a formação de um pênis a partir do órgão sexual feminino. Este cuidado decorre da complexidade da cirurgia e das complicações que podem levar, em grande número dos casos, à necrose do neofalo e consequente perda do órgão sexual. Diz Gerald Ramsey:Não encontrei relatos de construções de neofalos etn que a função de ereção se parecesse com a função própria de um pênis congênito. Além dos riscos cirúrgicos normais, tais como os relacionados à anestesia e a infecções, o transexual confronta-se com Apelação eive]. Retificação de registro. Transexual não submetido à cirurgia de mudança de sexo. Sentença que determinou a alteração do nome do autor em seu registro, mas indeferiu a mudança de sexo-. Recurso.que pretende a alteração do género biológico constante no registro de masculino para feminino— impossibilidade—descompasso entre a verdade real e a verdade registrai. Principio da segurança jurídica. Sentença mantida. Recurso conhecido e improvido. À unanimidade. (USE, AC 2013223538, Ac. 161/2014, 1 C. Civ., Rel. Des. Ruy Pinheiro da Silva; j. 13/01/2014). Patrícià Corrêa Sanches, Mudança de nome e da identidade de gênero, 437. TRANSIDWAEIDADE E O Dluárrone MUDA muitos oulTOS risco-5, Fístulas, estreitamentos, incontinência- tiritiolria e uri na resi4ità1 são- cornpli cações comuns na nova- 'construção -uretral:,:Q uso -de• próteses;paja.-- micção traz um risco substancial de infecção e trauma, além de-sereni estetica.men- t insatisfatórias para a maioria dos transexuais.72 A neofaloplastia é um procedimento com uma promessa- de êxito e reticente, que traz consigo uma quantia atemorizante de possíveis,,efat.4. colaterais, variando de infecções até a perda completa da estrutura -genital do indivíduo ou mesmo sua morte. Não é preciso que os transexuais.se sujeiteií',' procedimento de alto risco, e com potenciais sequelas graves à vida e à saúde, para - obter a adequação do registro civil. Deste modo, não há como exigir que todo transexual seja'subirietidCr:k cirurgia de transgenitalização para só então obter a alteração de seu regis-trOcivil.:. O principal mal-entendido entre o Judiciário e a Medicina é que a "ctira'Pata--6 transexualismo" não se dá com a cirurgia de alteração do sexo. Caso reconhecido como um "distúrbio de personalidade", não desaparece com a genitália-renioVida; Esta é somente parte do tratamento de redesignação sexual. A cirurgia não pode se" -r critério para a alteração do registro civil. Ela é consequência da vontade, advinda da experiência pessoal de cada transexual, do nível do conhecimento rnédico,:da disposição em enfrentar uma cirurgia arriscada. Enfim, fatores de ordem péSSoal e tecnológica não podem ser um limitador à obtenção da tutela jurídica, sol; pena de afrontar-se o direito à saúde. Quando se trata de transexual masculino, para a concessão da alteração do - nome e da identidade sexual a tendência é a Justiça exigir prova da retirada dos, : órgãos reprodutores (histerectomia). Isto porque, o fato de alguém ter assiainido a identidade de um homem, não provoca a alteração de suas característieá genéticas femininas, podendo assim procriar. Existem alguns antecedentés adquiriram notoriedade e que foram divulgados na imprensa mundial" corno homem grávido". Há notícias de outros casos nos Estados Unidos,- iriglaterré Argentina. Apesar de alguma estranheza inicial, nada justifica impedir Rtie alguéni' tenha um filho pelo só fato de ter adotado identidade sexual masculina. Indispensável assegurar ao transexual o direito à sua real identiclade,, qual seja, a identidade vivida, que correspondente às suas emoções, à sua maneira de encarar o mundo, a seus projetos futuros. Esta é a identidade que merece-ser , • , reconhecida e protegida pelo Estado, respeitando-se a liberdade dealterarótiriáo os órgãos genitais.Considerado prevalecente o interesse privado,::o'res. Ultádoirá: único: g indiC4aCáio rregistro deverá ser compatível com a do seXO-de.-áPárêia clà.jiéssdá'" átó'é;b'desua escolha", como afirma Maria CeliriáSb.diii'áè. Moráésig ". 72. Geraid Rainsey, Transexuais..., 24. Aqui, .a-vontade individual será novamente mereectioM.kprivilegiada tuteia, a partir do momento em que se passou a considerar a noçA0 de saúde-corno o bem- estar psicofísico e se.entendeu ser a síndrome transexual urna grave disfunção psicofísica." Não há como o Judiciário, em claro confronto com o direito à saúde, com a dignidade da pessoa humana, com o direito à intimidade e a promoção do bem comum, exigir que transexuais se submetam à cirurgia de transgenitalização para só então admitir a alteração de sua identidade sexual. A cirurgia não -pode ser requisito para a retificação de assento registral, eis que possui caráter secundário, complementar, visando a conformação das características anatõmicas ao sexo psicológico. Submeter-se ou não ao procedimento cirúrgico é opção do indivíduo e a exigência de tal procedimento; como requisito à retificação do nome, é postura incompatível da Justiça que tem o dever de promover o bem de todos. A sociedade consegue identificar o sexo de um indivíduo tão somente pela sua aparência e comportamento. Ninguém verifica seus órgãos sexuais para definir a que gênero pertente. Portanto, se insere a pessoa em determinado grupo social pelo que aparenta ser, como se comporta socialmente e não pela genitália que não está aparente. Deste modo é totalmente desnecessário submeter alguém à cirurgia para definir seu gênero sexual." Cabe atentar que travestis. do mesmo modo, não realizam cirurgias de redesignação genital. Nem por isso deixam de ter a identidade social feminina, ainda que mantendo íntegros e ativos os seus órgãos sexuais. O jeito tem sido buscar a substituição para adequá-lo a apelidos públicos. É gaúcha a primeira sentença que admitiu a troca do nome de uma travesti, sem, no entanto, deferir o pedido de alteração da identidade sexual." A outra decisão é do Estado do Maranhão." 15.9 Avanços e retrocessos A tendência da jurisprudência, inclusive no Superior Tribunal de Justiça," é assegurar o direito à alteração do nome e da identidade de gênero somente quando vencidas todas as etapas da redesignação genital. - A primeira decisão que se tem notícia admitindo a modificação do tiottik e da identidade de gênero é do ano de 1989, sentença de um magistrado :4t; rH Pernambuco-78: •,- Significativa a possibilidade assegurada a urna transexual de ser re.elíj a um presídio feminino ou em cela especial, conforme já assegurou a jtistras gaúcha." Para evitar idas e vindas que só geram inseguranças, imperios. normalização legal. Mas a via legislativa é lenta. Muitos projetos de lei estão "tramitando", se é que se pode assim chamar o verdadeiro engavetamento a 4t.tç- todossão subm e ti d os por absoluto descaso do PoderLegislativo. Desde01/11/.201,2 aguarda votação em plenário da Câmara Federal o PL 70/1995,8° que propõe a inclusão de um parágrafo ao art. 129 do Código penal, criando exdudente. de criminalidade à intervenção cirúrgica destinada a alterar o sexo dos transexUais'. O mesmo Projeto acrescenta os §§ 2.° e 3.° ao art. 58 da Lei 6.015/1973; a. Lei dos Registros Públicos, autorizando a mudança do prenome e a averbação da - identidade como transexual. Em conjunto tramitam vários outros projetos, qc a ele foram apensados: PL 5.872/2005 — Proíbe a mudança de prenome em casas de transexualismo; PL 2.976/2008 — Acrescenta o art. 58-A à Lei dos Registros Públicos, criando a possibilidade das pessoas que possuem orientação de gênero travesti, masculino ou feminino, utilizarem ao lado do nome e prenome oficial, um nome social; PL 1.281/2011 — Dispõe sobre a mudança de prenome da pessoã. transexual que realizar cirurgia para troca de sexo; PL 4.241/2012 — Dispõe sobre O direito à identidade de gênero e a chamada Lei João Nery, PL 5.002/2013 —Dispõé sobre o direito à identidade de gênero. alterando o art. 58 da Lei dos Regisirós Públicos. O Estatuto da Diversidade Sexual proíbe quaisquer referências à mudançá levada a efeito, a não ser a requerimento da parte ou por determinação judicial (art. 40, parágrafo único). Também é assegurada .a retificação em todos os outros registros e documentos, sem qualquer referência à causa da mudança (art. 41). 288 HOMOAKTWIDADV 11 t Dlitli1TO$1.411111 TRANSLXUAUDADE E O DIREITO DE MUDAR PE-Recife—Proc. 2098-2/89, Rel. Juiz de Direito José Fernandes de Lemos, j. 21104/1989 (integra no si te <www.direitohomoafetivo.com.br>). Habeas corpus. Possibilidade de prisão. Paciente fez recentemente cirurgia ele trans- genitatização (redesignação sexual). Necessidade de que, na hipótese de prisão, seja a pácien teencaminhada para penitenciária feminina ou em cela especial, mantidae_m loc.* próprio para pessoas do sexo feminino. Medida de cautela. Habeas eorpus parcialmente concedido. (TJRS, HC 70032179459, 8 C. Civ., Rel. Des. Claudir Fidélis FaccendaoW 24/09/2009). A tramitação dos projetos de lei encontram-se no si te <WWW.direlt0h01110afetiVà:COM-br> Maria Cçlina Bodin de Morais, Danos a.pessoa humana, 123. . Patricia Corrêa Sanches, Mudança de nome e da icientidade.de ,genero, 437 RS-Porto Alegre — Proc. 001/1.09.0240035-9, Juiz de Direito Antonio C. A. Nascimento e Silvad. 3071172010 (integra da sentença no.site.<www.direitohomoafetivo.coin.br>). MASão Luis, Proc. 35526-89.2011.8.100001, 8' Vara Cíveljuiz de Direito Luiz Gonzaga Almeida Pilho, j. 18/01/2012 (íntegra no site <www.direitohomoafetivo.com.br>). '17. As decisões se encontram disponíveis no site ssAvw.direitohomoafetivo.com.br>. 290 I i inmoArnivi DAM. P OS DIREITOS iam.] 15.10 Ação cabfv. el e foro competente Pela falta de regulamentação legal, sendo o estado da pessoa matéria disciplinadapornormas de ordempública, sua alteração.dep- endedeprocediniento judicial. Mas a inexistência de lei ou previsão administrativa sobre o procedimento retificativo enseja controvérsia sobre o foro competente para a demanda. Com frequência, as ações buscando a mudança do nome e da identificação do sexo to registro civil, são propostas nas Varas dos Registros Públicos.8' Soba alegação de que não se trata de erro no assentamento e de que a pretensão é de alteração do estado individual, há tribunais que se inclinam a reconhecer a competência das Varas de Família." Claro que o ideal é ser dispensada a intervenção do Poder Judiciário. Nada justifica impedir que a alteração seja levada a efeito mediante solicitação da parte diretamente junto ao Cartório do Registro Civil, da residência do requerente. Não necessita ser na Comarca em que ocorreu o registro de nascimento. Ao depoisbastaa si mplesafirrnativa do sob citanteque desejaprocederà retificação para adequar o nome e o sexo à sua identidade social. Sequer é necessária ajuntada de qualquer prova, quer da realização de cirurgia, quer atestado médico ou psicossocial. Em muitos países, corno Argentina, Austrália, Canadá, Dinamarca, Espanha Equador, Inglaterra e Noruega, a mudança de nome é levada a efeito administrativamente. 15.11 O direito ao sigilo Nasdecisõesjudiciaisque au torizama alteração do registro civil do transexual, não existe uniformidad e sobre a divulgação da mudança levada a efeito. Há decisões Conflito negativo de competência. Ação de retificação de registro civil. Modificação de pre- nome e sexo. Transexualismo. Mera adequação de sua orientação no plano social, eis que já vive publicamente corno mulher. Pedido estritamente registrai. Competência para processar e julgar do juiz da vara de registros públicos, acidentes do trabalho e precatórias cíveis da capital. Conflito procedente para declarar a competência do d. Juiz suscitado. (TJ PR, Conf. Comp. 381763-6, Ac. 54, 1.2 C. Cív, Rel. Des. Rafael Augusto Cacsetari, j.28/03/2007). Conflito negativo de competência. 5° Vara de Família de Cariacica. Vara da fazenda pública estadual, registros públicos e meio ambiente de Cariacica. Retificação de registro civil decorrente de cirurgia de mudança de sexo. Estado da pessoa. Conflito de competência julgado improcedente. 1. Compete ao juízo de família o processamento e julgamento das causas que envolvam retificação de registro civil relaciona a transexualidade. Afinal essa situação demanda a análise de um contexto muito mais amplo do que a simples aferição da-correção ou não do tegistro civil da pessoa natural:, já que diz respeito ao seu próprio estado. 2. Precedentes de aderentes tribunais da federação. 3. Conflito negativo de competência julgado improcedente para declarar o juízo da 5' Vara de Família de Vitória competente para o julgamento do processo 0011036-53.2013.8.0à.0b12. (TJES, CC 0027088-63.2013.8.08.0000, 1 C. Cív., Ra Des.Janete Vargas Simões, j. 11/03/2014). TRANSENUALIDADE O DIREjTO 1511 MODAR I 291 que nada referem sobrepl pont0.83 Ou ti-as au torizama extração de certidão; sen dó que há juízes que determinam a publicação'decdital. Alguns julgamentos vetam a publicidade da mudança e determinam que a-averbação:permaneça éntsegredo de justiça, impedindo a extração de certidões revelando a situação anterior, talv6 mediante requerimento do próprio interessado ou determinação ji.dicial. São gaúchas as decisões que melhor atendem ao direito do transexual dever respeitado direito à intimidade, um dos atributos do direito de personalidade. Além de impedirem a publicidade de qualquer referência à alteração do registro 'civil, proíbem extração de certidões referentes à situação anterior," bem como qualquer referência à alteração do registro civil." A tendência atual é determinar,a alteração 83. Direito Civil. Registro público. Transexual submetido à cirurgia de redesignação Sexual, Alteração do prenome e do sexo. Decisão judicial. Averbação. Princípio da dignidade da pessoa humana. Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida. 1.A interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei n. 6.015/73, confere amparo legal para que transenutil operado obtenha autorização judicial para a alteração de seu prenome, substituindo.° por apelido público e notório pelo qual é conhecido no meio em que vive. 2. Conser- var o "sexo masculino" no assento de nascimento do apelado, em favor da realidade biológica e em detrimento das realidades psicológica c social, bem como morfológica, pois a aparência do transexual redesignado (em tudo se assemelha ao sexo feminino), equivaleria a mantê-lo em estado de anomalia, deixando de reconhecer seu direito de viver dignamente. 3. Assim, tendo o apelado se submetido à cirurgia de redesignação sexual, existindo, portanto, motivo apto a ensejar a alteração para a mudança de sexo no registro civil, e a fim de que os assentos sejam capazes de cumprir sua verdadeira função, qual seja, a de dar publicidade aos fatos relevantes da vida social do indivíduo, forçosa , se mostra a admissibilidade de sua pretensão, devendo ser alterado seu assento de nas- cimento a fim de que nele conste o sexo feminino, pelo qual é socialmente reconhecido. 4. Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida in totum, no sentido de retificar registro civil de nascimento de xxxx, para constar o nome xxxxxx e o sexo feminino, tudo conforme o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e da Lei de Registros Pet. blicos. (TJCE, Proc. 0030853-06.2010.8.06.0064, Rel. Maria Vilauba Fausto lopes,J. 14/11/2012). Apelação cível. Transexualismo. Retificação de registro civil. Nome e sexo. Cerceamento do direito de defesa reconhecido. Procedimento cirúrgico de transgenitalização realizado. É possível a alteração do registro de nascimento relativamente ao sexo e ack nome em virtudeda realização da cirurgia de redesignação sexual. Vedação de extração &certidões referentes situação anterior do requerente. Apelo provido (TJ RS, AC 70013580055,8* ; C. Cív., Rel. Des. Claudir Fidelis Faccenda, j. 17/08/2006). • Apelação eiVel..Registro civil. Alteração. Prenome e gênero. Transexualismo: Proibição. de referência quanto à mudança. Possibilidade. Determinada a alteração-do régiStrócN de -nascimento em casos - de tiansexualidade, desde que demonstra-da á. éXistênefitélk alopatia, e imperiosa a proibição de referência no registro civil quantaà mudança—At de preservara intimidade do apelado. Negaram provimento (TJRS, AC .70021-1203221- 8" C. Civ., ReL, Des. Rui Portanova, j. 11/10/2007). certidões do registro não pódem ser dadas a terceiro-, salvo aái;róprionitéMáAdo....., oti-por requisição judicial'. • . • • tITI.V,IIMI) ,.!.....-E.:..:,., dffl{gfl,.,94l9fç.rI.' r l'ein- • .,,-,,,,'..' woálr,-0-2;nstalagisülnit!sr, ei #y dri"dr urtlanieraei etuilemouL,.,,,,,,,,...r, .. o:argúi-Vai/lento, , p ' Indispensável '' i ''' .i;ic.ki.ge ',46-.:-Dã&O'i-li¥st-rãdti.'Exj5- '-'-)'U'OI'O'eers'SVtligfilité'E;(ksgroc?,ds199,:e ip.g,?..i.m..,„..9?-bai:s.. ressaniepte-Teço,rIle áfieici dó regiStaicriviféfiíe não seja feíta-élità14tier rfWi 7el-di•;Sittiaçãã e A necessidade de proteger o direito à identidade impõe tainhern tutela:: modificação levada a efeito quanto ao nome e ao sexo. Não basta siMiileSWeillíte proteger a identidade. Há que se tutelar também a modificação dos caracte4í? sexuais levada a efeito. A identidade do transgênero só será assegurada quáriliá3 representar de modo fiel a rea1idade.88 Despiciendo proceder à alteração regi St?" se restar desnudada a causa da alteração. Permanecerá limitado o seu direito de viver. Qualquer menção em documentos de ser o indivíduo um transexual atenta- contra seu direito de personalidade, além de se estar criando a categoria de um, terceiro sexo.89 Essa é a única solução aceitável e que não afronta os direitos e as garantias individuais constitucionalmente assegurados. 15.12 A possibilidade de casar Como qualquer pessoa, o transexual também tem vontade de casar e formar uma família, e não há na lei nenhum impedinien to ao casamento. Nada justifica SP-São Paulo— Proc. n. 0045549-04.2012.826.0005. Rel. Juiz de Direito Michel Chakur Parati, j: 10/05/2013 (íntegra no si te <v,r‘vvv.direitohomoafetivo.coni.br>). Alteração de registro civil. Transexual. RedeSignaçãO do generb nó registro civilinexisténcia no ordenamento jurídico de uma previSãO qiie torne o pedidci iriviável. Art. II I; art. 3.0, IV e art. 5.0, X da-CF/8$. Princípicis da dignidade da pessoa húniana édainVidlabilidade da - intimidade. Se não ciaste no ordenamentá jinidico qtia lquer vedação à alteração ®istro de pessoa transexual, não há que se falar em impossibilidade jurídica dopédido;que é en, contra da n os princípios e valores que a Constituição da República sobreleva.•Seguindo-se os preceitos constitucionais, a dignidadedapéssoa humana, enquan toprincípio fundamental da república federa tivad o Bfasilxonstitui diretriz:que deve norteara alteração de registro civil de transexual:.A,Carta:Magna objetiva em-seu art..3.° promovei o,bem 'de todos sem qualqúer preconceito de sexo'e salientano.inc. x•de seivart. 5.? ser-invi °lavei a intimidade? a honra e a vida privadade'titriaPéSsog: Deve-sei destalórnia?adaptat atcleSWiaçãO sexual prenome à nova situação do cidadão., gptioelpio davet2acicladc que portela gregistro ptiblicoimpõe,,que:seja.feita. a anotação:asna:rum:geai de,quejSe-tratá clçavçfliação feita ,.nPrdemjudJGiali.cijMG., AC 08167,62g9.:20978.13.0.647.,1W:.Cív.,.Re_40c.s4-Vanessa -Verdolim-Hudson . 4TerikzaRódrigilieSyleira;Ocasaánentoefint ~.5dpfileSriláSéxóncidireitetbiaSiteifó...,-254. ifría'rSzariiaWSki; nicissãiiálidadet..nirOiligatnahiSt<5132•:,t:; ou o sexo pelo qual optou. Nem ó juiz e nem o legislador devem 'niers-yr?. à identidade pessoal. Integra o restrito campo do livre arbítrio der.todtkeqi indivíduo o direito de revelar ou ocultar seu sexo real, o sexo com o‘citiabeà de respeito
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