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Autor: Prof. Rene Maria Ignácio Colaboradores: Prof. Antônio Palmeira de Araújo Neto Profa. Larissa Rodrigues Damiani Gestão Financeira de TI Professor conteudista: Rene Maria Ignácio Mestre em Ciências da Sustentabilidade pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp - 2015). Mestre em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP - 2006). Engenheiro químico pela Escola Superior de Química das Faculdades Oswaldo Cruz (1986). Oficial Aviador da Força Aérea Brasileira pela Academia da Força Aérea (1979). Atua como docente nos cursos de graduação em Automação Industrial, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Gestão da Tecnologia da Informação, Redes de Computadores e Jogos Digitais; e na pós-graduação no curso de Tecnologia da Informação para a Estratégia de Negócios. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) I24g Ignácio, Rene Maria. Gestão Financeira de TI / Rene Maria Ignácio. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 172 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Administração. 2. Investimento. 3. Financiamento. I. Título. CDU 658.15 U512.82 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Unip Interativa Profa. Dra. Cláudia Andreatini Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Elaine Pires Bruna Baldez Sumário Gestão Financeira de TI APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA .....................................................................................................................9 1.1 Estrutura organizacional da área financeira ............................................................................. 12 1.1.1 Tesouraria ................................................................................................................................................... 12 1.1.2 Controladoria............................................................................................................................................ 15 1.2 Papel do administrador financeiro ................................................................................................ 17 1.3 Decisões fundamentais na administração financeira ............................................................ 19 1.3.1 Decisões de investimento .................................................................................................................... 20 1.3.2 Decisões de financiamento ................................................................................................................. 21 1.3.3 Decisões sobre capital circulante e resultados ........................................................................... 23 2 GESTÃO DE CUSTOS ....................................................................................................................................... 24 2.1 Conceitos básicos em custos ........................................................................................................... 26 2.2 Classificação dos custos .................................................................................................................... 27 2.3 Custos em TI ........................................................................................................................................... 30 2.3.1 TCO ................................................................................................................................................................ 31 2.3.2 ITIL® .............................................................................................................................................................. 32 2.3.3 COBIT ............................................................................................................................................................ 35 2.3.4 Melhores práticas para a redução de custos em TI ................................................................... 38 Unidade II 3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS .............................................................................................................. 47 3.1 Balanço Patrimonial (BP) .................................................................................................................. 49 3.1.1 Análise do Balanço Patrimonial ........................................................................................................ 52 3.2 Demonstração de Resultado de Exercício (DRE) ...................................................................... 56 3.3 Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC)....................................................................................... 59 3.4 Análise das demonstrações financeiras ....................................................................................... 60 3.4.1 Índices de liquidez .................................................................................................................................. 62 3.4.2 Índices de atividade ou eficiência operacional ........................................................................... 63 3.4.3 Índices de endividamento ................................................................................................................... 64 3.4.4 Índices de lucratividade ou rentabilidade ..................................................................................... 65 3.4.5 Índices de mercado ................................................................................................................................ 67 4 DECISÕES DE INVESTIMENTO ..................................................................................................................... 68 4.1 Revisão de matemática básica ........................................................................................................ 70 4.2 Cálculos com juros simples .............................................................................................................. 71 4.3 Cálculos com juros compostos ....................................................................................................... 76 4.4 Valor presente e valor futuro .......................................................................................................... 79 Unidade III 5 ANÁLISE DE RETORNO DE INVESTIMENTOS ......................................................................................... 90 5.1 Cálculo de Retorno sobre o Investimento (ROI) ...................................................................... 93 5.2 Cálculo de payback simples e descontado ................................................................................. 94 5.2.1 Payback simples ....................................................................................................................................... 94 5.2.2 Payback descontado.............................................................................................................................. 97 5.3 Cálculo de Valor Presente Líquido (VPL) ...................................................................................100 5.4 Cálculo de Taxa Interna de Retorno (TIR) .................................................................................104 6 DECISÕES DE FINANCIAMENTO ...............................................................................................................106 6.1 Custo de capital e seus tipos .........................................................................................................107 6.1.1 Capital de terceiros ..............................................................................................................................108 6.1.2 Capital próprio .......................................................................................................................................108 6.1.3 Análise de investimento baseada no custo de financiamento ..........................................109 6.2 Estrutura de capital ...........................................................................................................................110 6.2.1 Indicadores de estrutura de capital ............................................................................................... 112 6.2.2 Estrutura de capital ideal .................................................................................................................. 114 6.3 Fontes e tipos de financiamento .................................................................................................114 6.3.1 Financiamento com capital próprio ..............................................................................................116 6.3.2 Financiamento com capital de terceiros ..................................................................................... 117 Unidade IV 7 GESTÃO DE RISCOS FINANCEIROS .........................................................................................................127 7.1 Conceitos básicos de risco financeiro ........................................................................................128 7.2 Análise de risco ..................................................................................................................................130 7.2.1 Análise de risco sob condições de incerteza ..............................................................................131 7.3 Risco e retorno ....................................................................................................................................142 8 GESTÃO FINANCEIRA DE CURTO PRAZO ..............................................................................................145 8.1 Conceitos de gestão de curto e de longo prazo ....................................................................146 8.2 Planejamento de curto prazo ........................................................................................................146 8.3 Administração do caixa, de crédito e de estoques ...............................................................147 8.3.1 Administração do caixa ..................................................................................................................... 149 8.3.2 Administração de crédito ................................................................................................................. 156 8.3.3 Administração de estoques .............................................................................................................. 158 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem como objetivo apresentar os conceitos de gestão financeira das empresas e desdobrá-los para dentro da área de TI. Dessa forma, ela aborda os conceitos de finanças e de contabilidade, visando à capacitação na utilização de ferramentas e conceitos em gestão financeira de TI. Este material não visa torná-lo um(a) especialista em finanças, mas permitir que você conheça os conceitos e aprenda a utilizar algumas das principais ferramentas sem se aprofundar demais. Dessa forma, cria bases para a compreensão de outros conceitos e para a utilização de outras ferramentas que possam ser necessárias em sua carreira de gestor. Portanto, este livro-texto tem como escopo geral contribuir para você compreender o papel da gestão financeira dentro da área de TI, ser capaz de analisar o desempenho da área de TI – a partir de parâmetros financeiros – e conhecer técnicas de gestão financeira. Boa leitura! INTRODUÇÃO A Tecnologia da Informação (TI) já faz parte de nosso cotidiano. Todas as pessoas utilizam-se diariamente da TI para suas atividades mais triviais, e isto não é diferente nas organizações. Nelas, a TI está presente nos mais diversos níveis de utilização, desde a simples utilização de smartphones ou softwares de controle de estoque até os equipamentos mais sofisticados de robótica e automação. Diante desse papel estratégico que a TI representa atualmente, as empresas buscam analisar com muito critério os investimentos na área, uma vez que a tecnologia está sempre – e muito rapidamente – evoluindo, e porque, geralmente, representa um alto investimento. A gestão financeira de TI, assim como a gestão financeira de uma organização como um todo, visa ao lucro e à prosperidade dessa organização, e, portanto, deve planejar e gerenciar o uso dos recursos financeiros com cautela, evitando desperdícios, melhorando os processos e aumentando a competitividade e a lucratividade. Este livro-texto é apresentado em quatro unidades, e cada unidade é subdividida em dois tópicos, perfazendo um total de oito tópicos. A primeira unidade apresenta a estrutura organizacional da área financeira, mostrando qual o papel do administrador financeiro e quais as decisões fundamentais na administração financeira; aborda também a gestão de custos numa organização. A unidade II aborda as demonstrações financeiras que as organizações devem apresentar e alguns conceitos para a tomada de decisões de investimentos. 8 Na unidade III, são abordados os cálculos para análise de retorno de investimentos e os custos envolvidos com o financiamento de capital para investimentos, o que permite a análise e a tomada de decisão de um investimento. Por fim, a unidade IV tem como objetivo apresentar os conceitos de gestão de risco financeiro e a gestão financeira de curto prazo. 9 GESTÃO FINANCEIRA DE TI Unidade I 1 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Segundo Gitman (2010, p. 3): O termo finanças pode ser definido como a arte e a ciência de administrar o dinheiro. Praticamente todas as pessoas físicas e jurídicas ganham ou levantam, gastam ou investem dinheiro. Finanças diz respeito ao processo, às instituições, aos mercados e aos instrumentos envolvidos na transferência de dinheiro entre pessoas, empresas e órgãos governamentais. A área de administração financeira de uma organização é responsável pelos recursos financeiros necessários à existência e ao funcionamento dela, como, por exemplo, a compra de máquinas, equipamentos e matérias-primas ou como o pagamento de salários, insumos e impostos. Toda organização precisa de recursos financeiros (dinheiro) para existir, desde a constituição da empresa (abertura) até suas operações diárias. Assim, o objetivo da administração financeira de uma organização é garantir que o processo de captação de recursos (financiamento) e a alocação (investimento) sejam eficientes. O administrador financeiro é o responsável pela administração dos recursos financeiros de uma organização. Assim, como esses recursos são caros e escassos, é sua responsabilidade captá-los e geri-los de forma a obter o melhor retorno no futuro (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). Algumas das tarefas realizadas pelo administrador financeiro são: o planejamento; a concessão de crédito a clientes; a avaliação de propostas de investimento; e a captação de fundos. Mais recentemente,as tarefas incluem a implementação de estratégias para o desenvolvimento, crescimento e melhoria competitiva da empresa (GITMAN, 2010). Isso significa que o responsável pela área financeira precisa desenvolver uma visão mais completa da empresa e de seu relacionamento com o ambiente externo. As três decisões fundamentais que são tomadas pelo administrador financeiro são: as decisões de investimento; as decisões de financiamento; e as decisões de resultado (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). A globalização, ao mesmo tempo que tornou as economias mundiais mais interdependentes, elevou os riscos de mercado, fazendo com que as operações financeiras se tornassem mais complexas e mais sujeitas a riscos. Isso levou a uma preocupação com a gestão dos riscos, o que promoveu o desenvolvimento de ferramentas e conceitos de controle novos e sofisticados. 10 Unidade I Os escândalos financeiros, por sua vez, levaram à adoção da governança corporativa pelas empresas, focando na ética empresarial e na transparência entre as organizações e seus stakeholders (partes interessadas, em português). Da mesma forma, a responsabilidade social e a sustentabilidade vêm ganhando importância nas finanças modernas, definindo mais claramente a atuação e as responsabilidades das empresas. No entanto, é preciso lembrar que qualquer ação adotada por uma empresa somente tem sentido se agregar valor econômico para seus acionistas. Saiba mais Para entender melhor o que são stakeholders, visite: O QUE são stakeholders. Dicionário Financeiro. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3jnj9KU. Acesso em: 3 ago. 2021. Uma empresa ou organização é constituída a partir do investimento de seus sócios ou acionistas. Para isso, os sócios podem investir capital (dinheiro) ou conhecimento, um exemplo são os investidores anjo, pessoas físicas que investem capital próprio em empresas nascentes com alto potencial de crescimento (startups). O investimento na constituição de uma empresa é um investimento de risco, pois o sócio assume totalmente o risco do negócio na esperança de obter lucro. Assim, se o negócio der certo, haverá lucro; caso contrário, o sócio pode não só perder o capital investido como também incorrer em dívidas. O retorno financeiro do investimento em uma empresa é realizado por meio da distribuição de dividendos, que são a parte do lucro da empresa que é repassada aos acionistas de tempos em tempos. Observação Não confundir dividendos com pró-labore (remuneração dos sócios e administradores pelo seu trabalho na empresa). Os dividendos só são distribuídos quando a empresa realiza lucro, já o pró-labore é uma forma de pagamento realizada aos sócios que é parecida com o salário. Assim, podemos perceber que um dos primeiros e principais objetivos de uma empresa é proporcionar ganho financeiro a seus investidores, aumentando a riqueza dos acionistas. As empresas podem ser de diversos tamanhos e formadas por uma única pessoa ou por centenas. Atualmente, as formas jurídicas existentes no Brasil são, segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010): 11 GESTÃO FINANCEIRA DE TI • Firmas individuais: empresas formadas por uma única pessoa. Geralmente, são pequenos empreendimentos, como uma cabeleireira, um pedreiro, uma assistência técnica para smartphones ou um desenvolvedor de aplicativos. A característica dessa forma jurídica é ser uma atividade comercial, industrial ou de prestação de serviços que não dependa de profissional legalmente habilitado. • Autônomos: empresas formadas por um único proprietário profissional liberal que não caracterize atividade própria de empresário. São os profissionais que exercem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo se contar com auxiliares ou colaboradores, como, por exemplo, médicos, dentistas, advogados, engenheiros etc. • Sociedades de pessoas (partnership): empresas formadas por dois ou mais proprietários e estabelecidas por meio de um documento formal conhecido como contrato social. No Brasil, elas podem ser sociedade empresária (exercício de atividade própria de empresário) ou sociedade simples (exercício de atividade como a dos autônomos). Essas empresas são definidas pelo seu faturamento como pequenas, médias ou grandes e estão presentes nos mais diversos ramos. • Sociedades por ações ou sociedades anônimas: as sociedades por ações ou sociedades anônimas são empresas com capital diluído entre seus acionistas. Podem ser de capital fechado, quando suas ações estão nas mãos de pessoas físicas e jurídicas determinadas e não são comercializadas em bolsas de valores; ou de capital aberto, quando suas ações são comercializadas em bolsas de valores, sendo acessíveis a qualquer interessado. As pequenas empresas, de uma forma geral, são administradas pelos seus proprietários – que desempenham o papel de administrador financeiro – e por uma empresa de contabilidade, até que elas cresçam e seja necessário contratar pessoas para essa função. Já as empresas maiores possuem um funcionário contratado para os cargos de diretor financeiro, gerente financeiro, entre outros, que exercem o papel de administrador financeiro (GITMAN, 2010; MEGLIORINI; VALLIM, 2009). Saiba mais O artigo a seguir apresenta a evolução da administração financeira ao longo de cem anos, mostrando como a função e a visão dessa área mudaram. Além disso, apresenta uma análise das mudanças para o século XXI em função da globalização e da utilização massiva da TI nos negócios. PLANTULLO, V. L. O papel do administrador financeiro neste início de século XXI. 2004. Disponível em: https://bit.ly/2TWfLy6. Acesso em: 3 ago. 2021. 12 Unidade I 1.1 Estrutura organizacional da área financeira A estrutura organizacional de uma empresa é planejada conforme os objetivos estabelecidos pela organização e depende do seu tamanho e ramo de atividade. A área financeira, especialmente em grandes empresas, se divide em dois setores subordinados a um diretor ou vice-presidente financeiro, que são encarregados de um grupo de atividades específicas que cuidam de todos os aspectos da administração financeira: a tesouraria e a controladoria. Um exemplo de estrutura organizacional da área financeira de uma empresa de médio a grande porte pode ser observado na figura a seguir. Caixa Contas a pagar Tesouraria Contas a receber Relações bancárias Diretor financeiro Contabilidade Controle de orçamento Controladoria Auditoria Figura 1 – Estrutura organizacional da área financeira de uma empresa de médio a grande porte O diretor financeiro, também conhecido pela sigla em inglês CFO (Chief Financial Officer), supervisiona todas as operações financeiras de uma empresa, sendo responsável pela saúde financeira, pela otimização dos lucros e pela limitação de gastos e desperdícios. O tesoureiro é o principal administrador financeiro, sendo responsável pelas atividades relacionadas a capital. Essas atividades são, por exemplo, o planejamento financeiro, a captação de fundos, a tomada de decisões de investimento de capital, a gestão de caixa, a gestão de atividades de crédito, a gestão de fundos de pensão e a gestão de câmbio (quando compras ou vendas no exterior forem importantes para a empresa) (GITMAN, 2010). O controller (que, em português, significa controlador) é o principal contador, sendo responsável pelas atividades contábeis, como a contabilidade empresarial, a gestão tributária, a contabilidade financeira e a contabilidade de custos (GITMAN, 2010). 1.1.1 Tesouraria A tesouraria tem como foco o ambiente externo à empresa. Seu objetivo é manter contato direto com os clientes, os fornecedores, os bancos, o mercado financeiro e os diversos órgãos do governo. Tem como responsabilidade a gestão direta da obtenção e do uso dos recursos financeiros na companhia. Dessa forma, gerencia o dinheiro que entra na empresa utilizando-o nas operações diárias e no pagamento dos compromissos financeiros, e aplicando o excedente no mercadofinanceiro. 13 GESTÃO FINANCEIRA DE TI Para exercer todas essas atividades, a tesouraria contém setores como o caixa, o contas a pagar, o contas a receber e o relacionamento bancário, conforme podemos ver na figura a seguir. Caixa Contas a pagar Tesouraria Contas a receber Relações bancárias Figura 2 – Estrutura da tesouraria O caixa é o setor responsável pelo fluxo de dinheiro, visando aproveitar ao máximo os recursos financeiros disponíveis. Dessa forma, lida com os recebimentos, que são os resultados de suas operações, e com os pagamentos dos compromissos da empresa. Seus objetivos principais são: • O pagamento de fornecedores da maneira mais lenta possível, seguindo a política de crédito oferecida por estes. • O recebimento pelos clientes por produtos ou serviços vendidos da maneira mais rápida possível, tendo em vista não perder oportunidades de venda por não oferecer crédito e prazo de pagamento adequados aos clientes. Uma das obrigações do caixa é manter um volume ideal de dinheiro disponível. É preciso garantir recursos suficientes para pagar as contas devidas nas datas acordadas, mas não se deve deixar o dinheiro parado (sem investir), pois deixa de gerar rendimentos. Essa atividade é chamada de fluxo de caixa, que é o movimento constante de entradas e saídas de recursos no caixa da empresa. O planejamento de caixa é a forma utilizada para equilibrar o fluxo de caixa, sendo o planejamento financeiro de curto prazo da empresa. Em geral, ele cobre um período de 12 meses e permite visualizar os pagamentos e recebimentos previstos para o período. Para isso, utiliza a previsão de vendas, estimando as receitas que serão geradas a partir da venda dos produtos ou serviços nesse período e por meio da previsão de vendas, que estima as despesas relacionadas. Assim, utilizando as informações de entradas e saídas, é possível projetar todos os recebimentos previstos e todos os pagamentos que deverão ser efetuados para o período. O resultado da subtração entre recebimentos e pagamentos é chamado de fluxo líquido de caixa, que apresenta um saldo positivo quando há sobra de recursos, ou um saldo negativo quando o volume de recursos é insuficiente para pagar as despesas relacionadas. Quando existe excesso de recursos em caixa, o administrador financeiro pode optar por fazer uma aplicação financeira de curto prazo com o dinheiro excedente, permitindo um rendimento extra. Por outro lado, quando há falta de recursos financeiros, pode se optar por obter um financiamento de curto prazo. O contas a pagar representa uma fonte de financiamento de curto prazo, uma vez que os bens ou serviços adquiridos sejam pagos à vista. O fornecedor costuma oferecer um prazo para o pagamento 14 Unidade I ao comprador, o que financia a operação da empresa. Como as empresas têm como objetivo pagar seus fornecedores no prazo mais longo possível, respeitando as políticas de crédito oferecidas, a gestão de contas a pagar sempre procura aproveitar ao máximo as possibilidades existentes. Algo importante a observar é que o fornecedor tem um custo para poder oferecer um prazo para pagamento, pois ele investe na produção dos itens vendidos e só tem o retorno do investimento em uma data futura. Portanto, esse custo é embutido no preço da mercadoria, e o comprador paga por essa facilidade. Muitas vezes, os fornecedores oferecem um desconto para os clientes que optam por pagar por suas compras à vista. A empresa sempre deve analisar as opções existentes para decidir qual a melhor alternativa naquele caso específico e verificar se o valor a pagar para um prazo maior compensa quando comparado ao pagamento com desconto. Qualquer que seja a decisão, o pagamento normalmente é feito sempre no último dia acordado com o fornecedor. O contas a receber é responsável por oferecer crédito aos clientes para pagamento dos produtos ou serviços oferecidos pela empresa, ou seja, é o inverso do contas a pagar. Seu objetivo é oferecer condições de pagamento aos clientes com o intuito de aumentar o volume de vendas da empresa. Para a empresa, a situação ideal seria efetuar todas as suas vendas à vista, uma vez que a concessão de crédito aos clientes cria um custo, pois precisam financiar suas operações utilizando outros recursos até que ocorra o recebimento pelos bens ou produtos vendidos (como comentamos no contas a pagar). Outra questão importante é que, toda vez que se concede um crédito, a empresa incorre em risco, pois sempre existe a possibilidade de não receber o pagamento na data prevista ou em tempo algum. No dia a dia real das empresas, vendas totalmente à vista raramente acontecem, pois a empresa restringiria demasiadamente seu mercado de atuação a clientes que tivessem condições e disposição para efetuar o pagamento à vista. Assim, a concessão de crédito aos clientes na forma de prazo de pagamento é uma prática comum, mas que precisa ser criteriosa, já que representa um custo e um risco de não recebimento. Para minimizar os riscos associados à concessão de crédito, a empresa deve estabelecer padrões de crédito, definindo os requisitos mínimos que um cliente deve ter para receber o crédito oferecido e as condições de oferta. Uma opção é restringir o número de clientes que podem receber crédito ou reduzir o prazo de pagamento, mas isso pode levar à redução no volume de vendas. Outra opção é diminuir os requisitos, o que pode levar a um aumento nas vendas, mas aumenta o risco e o custo. Volume de vendas Custo de contas a receber Risco de inadimplência Afrouxamento de crédito Aperto de crédito Figura 3 – Minimização de riscos associados à concessão de crédito 15 GESTÃO FINANCEIRA DE TI A avalição de crédito do cliente deve ser sempre atualizada. Para isso, deve utilizar informações que demonstram sua capacidade atual de pagar seus compromissos, seu histórico de pagamentos anteriores, suas condições financeiras etc. Da mesma forma, o contas a receber deve fazer o monitoramento de crédito para verificar se os clientes estão pagando conforme os prazos e os valores estabelecidos, e, caso existam clientes que não efetuem os pagamentos nas datas de vencimento, a empresa pode colocar em prática suas políticas de cobrança ativa, de renegociação das dívidas e até mesmo cobranças por meio de ações judiciais. O setor de relações bancárias é responsável pela relação entre a empresa e os bancos, assim como outras entidades do mercado financeiro, para a obtenção de empréstimos e financiamentos e para a aplicação e investimento dos recursos financeiros excedentes da companhia. O objetivo principal é negociar e conseguir as condições mais vantajosas para a empresa, tanto para uma melhor remuneração de seus recursos excedentes, como para conseguir os menores custos de empréstimos para o financiamento de suas operações no curto, médio ou longo prazo. Saiba mais O filme Grande demais para quebrar (Too big to fail) apresenta relatos bem didáticos sobre assuntos de tesouraria. Trata-se de um longa que aborda como líderes financeiros entram em ação quando a economia dos Estados Unidos ameaça entrar em colapso no ano de 2008, início da crise financeira. GRANDE demais para quebrar. Direção: Curtis Hanson. EUA: HBO Films, 2011. 99 min. 1.1.2 Controladoria A controladoria é responsável pelas atividades contábeis, tais como contabilidade gerencial, gestão de assuntos fiscais, contabilidade financeira e contabilidade de custos (GITMAN, 2010). Seu foco é o interior da empresa e, para isso, fornece controles e informações financeiras aos gestores para que eles possam acompanhar o funcionamento da empresa e tomar as decisões necessárias com base em informações sólidas. A controladoria verifica o desempenho da empresa, analisando se o planejamento financeiro está sendo seguido ao longo do tempo e se os padrões e normas estabelecidos para o funcionamento da empresa são cumpridos. Algumas subdivisões da controladoria são a contabilidade, o controle de orçamentoe a auditoria, conforme podemos observar na figura a seguir. 16 Unidade I Contabilidade Controle de orçamento Controladoria Auditoria Figura 4 – Estrutura da controladoria A função da contabilidade é coletar e fornecer dados e informações para a verificação do desempenho financeiro da empresa e para a tomada de decisão dos gestores. Para isso, utiliza princípios padronizados para a elaboração de relatórios, como o Balanço Patrimonial e as demonstrações de resultados financeiros (que serão estudados na unidade II), que se baseiam em um plano de contas. Esses relatórios também permitem verificar os valores devidos de impostos e taxas que deverão ser recolhidos aos cofres públicos. É de importância fundamental que os dados colhidos e apresentados pela contabilidade sejam confiáveis e representem um retrato fiel das operações da empresa. O plano de contas é o relatório produzido pela Contabilidade em que se organizam e se dispõem os registros de todas as informações financeiras da empresa, sendo uma importante ferramenta para o controle e para o suporte das decisões dos administradores. Nele, as contas contábeis (conjunto de registros de créditos e débitos de uma organização) são organizadas em diferentes níveis, que apresentam um grau cada vez maior de detalhamento das informações. Para isso, cada conta contábil apresenta as informações financeiras referentes a um determinado item e as suas subdivisões separam essas informações em grupos ainda mais específicos. Apesar de seguir padrões e normas estabelecidas, o plano de contas é personalizado para cada empresa, buscando refletir as necessidades de informações específicas do negócio. De forma geral, o plano de contas é bastante longo e complexo, possuindo vários níveis de informação e diversas contas e subcontas contábeis. As empresas que têm suas ações negociadas em bolsas de valores são obrigadas por lei a divulgar suas demonstrações financeiras, de forma que todos os acionistas tenham acesso aos dados financeiros das empresas que são sócios. Isso garante que todos os interessados em investir em ações de uma determinada empresa tenham acesso às mesmas informações e ao mesmo tempo, evitando a utilização de informações privilegiadas que podem levar a vantagens e lucro ilícito. As bolsas de valores e os órgãos que regulam os mercados de ações procuram garantir a igualdade no acesso às informações e à transparência. O controle de orçamento tem como responsabilidade acompanhar a execução dos orçamentos que foram planejados por cada um dos setores da empresa. Esse acompanhamento permite verificar se os gastos planejados inicialmente ocorrem da maneira prevista, averiguando eventuais desvios e permitindo que sejam realizadas correções em tempo, evitando um problema de caixa no futuro. Os orçamentos são planejamentos a partir de gastos feitos em investimentos de médio e longo prazo, como a aquisição de bens imóveis, máquinas e equipamentos, e também gastos com a operação da empresa, como o pagamento de salários, compra de matérias-primas etc. Os orçamentos costumam ser feitos anualmente de forma a prever todos os gastos a serem realizados naquele período. Os orçamentos 17 GESTÃO FINANCEIRA DE TI são feitos por cada departamento da empresa, determinando o valor e como os valores previstos poderão ser utilizados ao longo do tempo. A auditoria é responsável por controlar e certificar que as normas e procedimentos estabelecidos para o funcionamento da empresa são cumpridos à risca. Uma responsabilidade dessa área é a de verificar se os procedimentos contábeis padronizados estão sendo seguidos, uma vez que são fundamentais para a área de administração financeira e para a determinação dos impostos e taxas a pagar. A auditoria também é responsável pelo controle de diversos processos da empresa e por apontar eventuais falhas em relação aos padrões estabelecidos. Ainda, é responsável por garantir que a empresa esteja trabalhando de acordo com as leis e regulamentações. 1.2 Papel do administrador financeiro “O administrador financeiro é o principal responsável pela criação de valor e pela mitigação de riscos e, para isso, se envolve nos negócios como um todo” (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). “Aquele que gerencia ativamente os assuntos financeiros de qualquer tipo de organização, financeira ou não financeira, privada ou pública, grande ou pequena, com ou sem fins lucrativos” (GITMAN, 2010). Gestor financeiro ou administrador financeiro é o profissional responsável pela área de administração financeira de uma empresa. Ross et al. (2013, p. 2) afirmam que: Uma característica surpreendente das grandes empresas é o fato de que, em geral, os proprietários (os acionistas) não estão diretamente envolvidos na tomada de decisões dos negócios, principalmente nas decisões diárias. Em vez disso, a empresa emprega administradores que representam os interesses dos proprietários e que tomam decisões em seu nome. O administrador financeiro é responsável por tomar as decisões fundamentais voltadas à maximização da riqueza dos acionistas, sendo elas as decisões de investimento, de financiamento e de resultados. Para isso, é necessário que esteja sempre atualizado sobre o mercado em que a empresa está inserida. São várias as responsabilidades do administrador financeiro, entre elas estão: • análise das entradas e saídas financeiras da empresa; • controle financeiro; • análise do mercado; • tomada de decisões financeiras; 18 Unidade I • redação e manutenção das declarações financeiras; • realização de auditorias; • administração do risco. Dessa forma, o administrador financeiro pode atuar como analista de crédito e cobrança, gerente de projetos, gerente financeiro, controller, coordenador de planejamento e controle financeiro, analista de investimentos, enfim, todos os cargos que envolvem, direta ou indiretamente, a gestão de recursos financeiros em uma empresa. Praticamente todas as áreas de uma companhia precisam relacionar-se com o administrador financeiro, uma vez que todos os recursos são gerenciados, avaliados e classificados pela área financeira da empresa. O administrador financeiro é responsável pela captação dos recursos financeiros necessários às operações da empresa e, também, pelas decisões sobre como os recursos financeiros são utilizados na empresa, planejando e controlando o uso do dinheiro, priorizando o maior retorno financeiro. Além disso, ele tem a responsabilidade da aplicação dos recursos financeiros excedentes e deve analisar todas as alternativas possíveis para decidir o melhor destino desses recursos, uma vez que o lucro gerado pela empresa pode ter diferentes usos, podendo ser distribuído aos sócios, ser aplicado no mercado financeiro para gerar rendimentos extras, ser reinvestido no próprio negócio da empresa mediante a compra de novos equipamentos ou de imóvel para a expansão das instalações etc. O tamanho da área de administração financeira de uma empresa depende do tamanho da própria empresa. Nas pequenas empresas, muitas vezes o papel de gestor financeiro é exercido por um dos sócios. Nas empresas um pouco maiores, a administração financeira costuma ser feita por um profissional de contabilidade. Nas empresas grandes, a área financeira é um setor separado dos demais e apresenta diversas subdivisões, com departamentos destinados a cuidar de diferentes tipos de tarefas e, assim, com diversos administradores financeiros. Saiba mais O artigo a seguir descreve a função de administrador financeiro, seu papel e habilidades em uma organização. LIMA, J. R.; OLIVEIRA, R. F. O administrador financeiro: seu papel e suas habilidades dentro das organizações sob a percepção dos gestores. Rev. Eletrôn. Organizações e Sociedade, Iturama, v. 5, n. 3, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3ikNASE. Acesso em: 2 ago. 2021. 19 GESTÃO FINANCEIRA DE TI 1.3 Decisões fundamentais na administração financeira Como vimos, o objetivo principal da administraçãofinanceira de uma empresa é maximizar o valor da empresa. A maximização do valor da empresa tem foco no acionista, de forma que o ganho dos investimentos seja superior ao seu custo de financiamento. Ou seja, existe criação de valor quando o retorno dos ativos é maior que o custo total dos passivos e do patrimônio líquido. Os ativos representam todos os direitos e bens da empresa, os passivos representam as obrigações (ou seja, dívidas) contraídas e o patrimônio líquido é a diferença entre ativos e passivos. Lembrete Toda empresa é um investimento. Observação Apenas o ganho de investimento ser superior ao custo de financiamento não indica criação de valor. Só há criação real de valor quando os ganhos superam o custo de financiamento e o custo de oportunidade (o custo daquilo que se deixa de fazer ao fazer uma escolha). Para que uma empresa atinja a maximização no seu valor, há três decisões financeiras que devem ser tomadas: • Decisão de investimento (aplicação de recursos): toda a aplicação de capital em algum ativo, que pode ser tangível ou não, para obter determinado retorno futuro (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). • Decisão de financiamento (captação de recursos): envolve a composição das fontes de financiamento, em termos de capital próprio e de terceiros (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). • Decisão sobre capital circulante (entradas e saídas de recursos) e resultados (alocação do resultado líquido da empresa): refere-se à administração do capital de giro e ao montante ideal de lucros que a empresa deve pagar a seus acionistas. 20 Unidade I Decisões financeiras Decisão de investimento Decisão de financiamento Decisão sobre capital circulante e resultados Figura 5 – Decisões financeiras para maximização do valor da empresa Lembrete As três decisões fundamentais que são tomadas pelo administrador financeiro são: as decisões de investimento; as decisões de financiamento; e as decisões de resultado (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). Assim, pode-se dizer que o valor da empresa será maximizado à medida que as decisões de investimento, financiamento, capital de giro e resultados forem otimizadas. Observação Bens tangíveis são bens de natureza permanente utilizados para a manutenção da atividade da organização e para manter a integridade do patrimônio. 1.3.1 Decisões de investimento Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 7): Entende-se por investimento toda a aplicação de capital em algum ativo, tangível ou não, para obter determinado retorno futuro. Um investimento pode ser a criação de uma nova empresa ou implantação de um projeto em uma já existente, por exemplo. O processo de planejamento e gerenciamento desses investimentos é chamado de orçamento de capital e consiste na geração de propostas, determinação das alternativas viáveis, tomada de decisão, implantação e avaliação de desempenho. 21 GESTÃO FINANCEIRA DE TI Com a utilização do orçamento de capital, o administrador financeiro tenta identificar oportunidades de investimento que apresentem bom custo-benefício, ou seja, oportunidades em que o valor do fluxo de caixa gerado pelo ativo excede o seu custo de aquisição e manutenção (ROSS et al., 2013). Além de olhar para o retorno do investimento, o administrador financeiro também precisa se preocupar com a probabilidade de recebê-lo. Dessa forma, a avaliação do tamanho, do tempo e do risco dos fluxos de caixa futuros é a essência do orçamento de capital (ROSS et al., 2013). O quadro a seguir apresenta as principais questões que devem ser respondidas antes de tomar uma decisão de investimento, utilizando-se da estrutura do ativo. Quadro 1 – Principais questões para tomar uma decisão de investimento Ativo Questões a serem respondidas Ativo circulante Caixa e bancos Contas a receber Estoques Outros Ativo não circulante Realizável a longo prazo Investimentos Imobilizado Intangível Total - Onde estão aplicados os recursos financeiros? - Quanto está aplicado em ativos circulantes? - Quanto está aplicado em ativos permanentes? Em quais? - Qual a melhor composição dos ativos? - Qual o risco do investimento? - Qual o retorno do investimento? - Quais as novas alternativas de investimentos? - Em quais novos ativos investir? - Como maximizar a rentabilidade dos investimentos existentes? - O que deve ser descartado, reduzido ou eliminado por não acrescentar valor? Fonte: Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 8). Observação Ativo e passivo circulantes são, respectivamente, bens/direitos e obrigações a curto prazo (em geral, menos de 12 meses). Ativo e passivo não circulantes são, respectivamente, bens/direitos e obrigações a longo prazo (em geral, mais de 12 meses). 1.3.2 Decisões de financiamento As decisões de financiamento também são chamadas de decisões sobre estrutura de capital. Essas decisões consideram a composição das fontes de financiamento, capital próprio e capital de terceiros, para a tomada de decisão. Ou seja, consideram quanto de cada tipo de capital deve ser aplicado no 22 Unidade I investimento. Essa composição de recursos é chamada de estrutura financeira e pode ser verificada do lado direito do Balanço Patrimonial (demonstração financeira apresentada na unidade II), o passivo. O capital próprio é formado por recursos dos acionistas da empresa, enquanto o capital de terceiros é obtido externamente (instituições financeiras). O quadro a seguir apresenta uma série de questões que devem ser respondidas antes de tomar uma decisão de financiamento, com base no passivo. Quadro 2 – Principais questões para tomar uma decisão de financiamento Passivo Questões a serem respondidas Passivo circulante Fornecedores Empréstimos e financiamentos Debêntures Outros Passivo não circulante Exigível a longo prazo Financiamentos Patrimônio líquido Capital social Reservas de capital Ajustes de avaliação Reservas de lucros Ações em tesouraria Prejuízos acumulados Total - Qual a estrutura de capital? - De onde vêm os recursos? - Qual a participação de capital próprio? - Qual a participação de capital de terceiros? - Qual o perfil do endividamento? - Qual o custo de capital? Como reduzi-lo? - Quais as fontes de financiamento utilizadas e seus respectivos custos? - Quais deveriam ser substituídas ou eliminadas? - Qual o risco financeiro? - Qual o sincronismo entre os vencimentos das dívidas e a geração de meios de pagamentos? Fonte: Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 9). Segundo Ross et al. (2013, p. 4): Além de decidir a combinação de financiamentos, o administrador financeiro precisa decidir exatamente como conseguir o dinheiro e de que fontes. As despesas associadas aos financiamentos de longo prazo podem ser consideráveis, de modo que várias possibilidades devem ser analisadas com cuidado. Além disso, as empresas tomam dinheiro emprestado de vários financiadores e de maneiras diferentes, às vezes, exóticas. Selecionar credores e tipos de empréstimos é outra tarefa que cabe ao administrador financeiro. 23 GESTÃO FINANCEIRA DE TI 1.3.3 Decisões sobre capital circulante e resultados Essas decisões dizem respeito à administração do capital circulante, como estoques e recursos devidos aos fornecedores. Segundo Ross et al. (2013, p. 4): A administração do capital circulante é uma atividade diária para garantir que a empresa tenha recursos suficientes para manter suas operações e evitar interrupções caras. Isso envolve várias atividades relacionadas às entradas e saídas de caixa da empresa. Algumas perguntas que podem ser feitas com respeito à administração do capital de giro. Segundo Ross et al. (2013), podemos perguntar: • Quanto de caixa e estoque deve ser mantido? • Devemos vender a crédito? Nesse caso, quais condições devemos oferecer e para quem serão concedidas? • Como obteremos o financiamento de curto prazo necessário? Compraremos a crédito ou tomaremos empréstimos de curto prazo e pagaremos as comprasem dinheiro? Se fizermos empréstimos de curto prazo, como e onde devemos fazê-lo? Segundo Júnior, Rigo e Cherobim (2010), podemos perguntar: • Os objetivos de vendas estão sendo alcançados? • Os preços praticados estão adequados? • Quais os resultados obtidos? Como mantê-los ou melhorá-los? • Qual o crescimento das vendas? E dos custos? E das despesas? • Qual a participação percentual dos custos e das despesas em relação às receitas? • Qual a margem líquida de venda? • Quais os custos e as despesas que podem ser reduzidos? • As receitas obtidas estão compatíveis com os investimentos? • Os lucros têm atingido as metas estabelecidas? Como são quando comparados com os das melhores empresas do ramo? 24 Unidade I As respostas a essas questões dependem de diversos fatores, como ramo do negócio, porte da empresa, estágio de desenvolvimento, situação econômica do país, entre outros, assim como as decisões de investimento e de financiamento. Cabe, portanto, ao administrador financeiro planejar, acompanhar e controlar todas as atividades e os projetos para garantir que os objetivos de resultados definidos sejam cumpridos (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). 2 GESTÃO DE CUSTOS A gestão de custos engloba as técnicas e os métodos de planejamento, a avaliação e o aperfeiçoamento dos produtos ou serviços de uma empresa. A finalidade da gestão de custos é aumentar a rentabilidade da empresa. O conhecimento dos custos permite à empresa uma melhor formação de preço de seus produtos ou serviços comercializados. Dessa forma, permite um melhor posicionamento no mercado em que atua, levando a uma condição melhor em relação aos seus concorrentes. O conhecimento dos conceitos de custos e despesas – e sua identificação nos processos da empresa – é fundamental para a correta gestão dos custos de forma a não interferir na correta formação de preços. Além de permitir uma melhor definição do preço final do produto ou serviço, a gestão de custos também auxilia na alocação racional dos custos, o que permite aproveitar melhor os recursos disponíveis da empresa. O conhecimento da origem dos custos da empresa e da formação de suas despesas permite administrar de forma a atender aos anseios da empresa, tornando a administração mais forte financeiramente e visando à longevidade do negócio, uma vez que, a longo prazo, muitas empresas chegam à falência por não administrar seus custos de forma racional. O quadro a seguir ilustra os motivos para conhecer e administrar os custos. Quadro 3 – Motivos para conhecer e administrar os custos Controle Operações Estoques Padronização Comparação entre previsto e realizado Tomada de decisões O que, quanto, como e quando fabricar/desenvolver Formação de preços Fabricação/desenvolvimento próprio ou terceirização Determinação do lucro Registro de dados Processamento das informações 25 GESTÃO FINANCEIRA DE TI A falta de conhecimento dos custos faz com que algumas decisões sejam tomadas de forma intuitiva, o que pode levar a prejuízos. Questões como as seguintes precisam ser decididas com conhecimento dos custos: • Quanto cobrar por um novo produto? • Quanto cobrar por um pedido especial? • Qual o nível de descontos que pode ser concedido? • É possível eliminar produtos que apresentam prejuízos? • É possível terceirizar as atividades? • É possível adquirir novos equipamentos? • Realizar mudanças no processo de fabricação pode aumentar o faturamento ou reduzir os custos? Observação Quando uma empresa não entende seus custos, pode promover mercadorias e serviços ou apostar em projetos que não sejam lucrativos. A estruturação de um sistema de custos pode ser a chave do sucesso para uma empresa. A gestão de custos surgiu como uma atividade contábil, a partir da necessidade de resolver problemas de quantificação de estoques e resultados. No entanto, com a evolução das empresas e a sofisticação de suas atividades, acabou por se transformar em um importante instrumento gerencial. O levantamento dos custos contábeis ou gerenciais utiliza técnicas que permitem planejar, administrar e controlar as atividades econômicas, tendo como base a redução e a melhoria dos custos. É um mecanismo de registro, controle e mensuração que tem como função fornecer dados, contribuir para o aprimoramento do processo produtivo e dar ênfase ao cálculo e à interpretação dos custos dos bens fabricados (BERBEL, 2017). Existem diversas ferramentas que permitem modelar um sistema de custos adequado às necessidades de cada empresa em função de seu porte e atuação. Empresas de pequeno porte podem utilizar ferramentas simples, como planilhas eletrônicas, enquanto empresas de grande porte podem utilizar sistemas mais complexos e desenvolvidos especialmente para suas necessidades. 26 Unidade I 2.1 Conceitos básicos em custos Alguns conceitos são primordiais para entender e aplicar corretamente o controle e a gestão dos custos. Inicialmente, é preciso diferenciar o que é custo e o que é despesa. De uma forma geral, quando falamos fora do ambiente contábil, despesa, gasto e custo acabam tendo o mesmo significado. No entanto, no gerenciamento de custos, essas três palavras têm significados diferentes e podem ser mais bem compreendidas quando analisamos as atividades da empresa. As receitas resultantes das vendas de bens e/ou serviços pela empresa são resultado da atividade explorada pela empresa, conhecida como atividade-fim. As demais atividades realizadas por uma empresa são denominadas atividades-meio. Dessa forma, os gastos realizados com as atividades-fim são chamados de custos, e os gastos realizados com as atividades-meio são chamados de despesas. Observação Gastos são todos os desembolsos realizados pela empresa. As despesas são os gastos realizados com bens ou serviços utilizados, consumidos ou transferidos que não têm relação direta com a atividade-fim, como, por exemplo, as despesas administrativas, que são despesas vinculadas às atividades-meio. São exemplos de despesas: aluguel; pró-labore; internet; comissões de vendas; materiais de escritório; salários administrativos; impostos. Os custos são todos os gastos em bens e serviços utilizados na produção de outros bens e serviços. Por exemplo, os gastos com a matéria-prima para a fabricação de um produto, a compra de uma mercadoria que será vendida no comércio e o pagamento do funcionário que realiza a prestação de um serviço são caracterizados como custos porque são gastos realizados com a atividade-fim. São exemplos de custo: matéria-prima; energia; salários dos profissionais da produção/serviço; equipamentos utilizados na produção/serviço. Portanto, somente será custo aquele gasto feito que irá atuar diretamente no produto final. Observação O que é custo para uma empresa pode ser uma despesa para outra. A figura a seguir exemplifica a diferenciação entre custos e despesas. 27 GESTÃO FINANCEIRA DE TI Ga st os Despesas Custos Matéria-prima Energia Salários dos profissionais da produção/serviço Equipamentos utilizados na produção/serviço Aluguel Internet Pró-labore Comissões de vendas Figura 6 – Diferenciação entre custos e despesas Observação A aplicação errada do termo custo pode causar uma interpretação equivocada dos relatórios gerenciais e influenciar erroneamente as tomadas de decisão. Em uma empresa industrial, a matéria-prima sempre será considerada um custo, pois é pela transformação desta que será gerado o produto final que a empresa comercializará. Da mesma forma, o produto, o material secundário e o material de embalagem também fazem parte dos custos da empresa, uma vez que todos eles são aplicados ao produto final. Além destes, a mão de obra que está diretamente ligada ao produto final, como o funcionário que trabalha na linha de produção ou os gerentes e supervisores que estão vinculados aos produtos, também são considerados custos (BERBEL, 2017). 2.2 Classificação dos custos Os custos podem ser classificados emfunção da produção/desenvolvimento em custos diretos e indiretos, e em função da alteração do volume produzido/desenvolvido em custos fixos e variáveis. • Custo direto: é tudo que pode ser diretamente ligado à entrega final do produto e/ou serviço. Assim, trata-se do custo que pode ser atribuído a determinado produto ou serviço de maneira direta, que é incluído diretamente no cálculo do valor do produto oferecido e que pode ser mensurado de 28 Unidade I maneira clara e objetiva. São exemplos: a matéria-prima em uma empresa industrial; o produto a comercializar em uma empresa comercial; e a mão de obra em uma empresa de serviços. • Custo indireto: é todo o necessário para o funcionamento da cadeia produtiva, mas não diretamente relacionado ao produto final. Trata-se dos custos atribuídos ao cálculo do valor daquilo que é oferecido por meio de um rateio e que não podem ser relacionados diretamente com a atividade-fim desempenhada pela empresa. São exemplos: a energia elétrica usada para o funcionamento das máquinas; os setores da empresa, como parte administrativa; as peças e os equipamentos necessários para executar um serviço etc. • Custo fixo: é aquele que ocorre frequentemente e permanece o mesmo independentemente da venda de produtos/serviços mensal ou do desempenho da empresa. Assim, são custos que possuem uma certa regularidade e não sofrem alterações de acordo com a demanda de produção. São exemplos: aluguel; material de limpeza; salários administrativos etc. • Custo variável: é aquele que varia em função da quantidade vendida, ou seja, são custos que dependem diretamente da demanda de produção para ter o seu valor definido. São exemplos: matéria-prima; embalagens; comissões; impostos que incidem sobre as receitas (ICMS/ISS/ Cofins) etc. O critério de atribuição dos custos indiretos na formação do custo dos produtos deverá ser definido pela própria empresa. A distribuição dos custos indiretos aos produtos é chamada de rateio, e o critério escolhido para essa distribuição denomina-se base de rateio. A figura a seguir ilustra a diferença entre custos fixos e variáveis. Custos fixos Demanda Cu st o Custos variáveis Demanda Cu st o Figura 7 – Diferença entre custos fixos e variáveis Observação Identificar corretamente os custos de cada produto/serviço permite avaliar se o preço de comercialização é lucrativo, se a empresa deve/pode aumentar sua margem de lucro ou, ainda, se é possível diminuir alguns custos relacionados a sua produção/serviço. 29 GESTÃO FINANCEIRA DE TI A figura a seguir ilustra a identificação dos custos. Cu st os Fixos Constantes em relação ao volume produzido Aluguel, material de limpeza e salários administrativos Variáveis Variam em relação ao volume produzido Matéria-prima, embalagens, comissões e impostos que incidem sobre as receitas Diretos Diretamente ligados à construção do produto ou serviço Matéria-prima, mão de obra e insumos Indiretos Indiretamente ligados à construção do produto ou serviço Manutenção, limpeza, almoxarifado, logística e energia elétrica Figura 8 – Identificação dos custos Observação Os custos podem ser identificados como diretos e fixos ou variáveis, ou como indiretos e fixos ou variáveis, como, por exemplo, é o caso da matéria-prima, que é um custo direto e variável. Exemplo de aplicação Exemplo 1 A área de administração financeira de uma empresa, especialmente nas grandes, se divide em dois setores encarregados de um grupo de atividades específicas: tesouraria e controladoria. Com base nessa informação, analise as afirmativas a seguir. I – A tesouraria é responsável pela gestão direta da obtenção e do uso dos recursos financeiros na companhia. II – A controladoria verifica o desempenho da empresa, se o planejamento financeiro é seguido ao longo do tempo e se os padrões e normas estabelecidos para o funcionamento da empresa são cumpridos. III – Tesouraria e controladoria são áreas subordinadas a um diretor ou vice-presidente financeiro. As afirmativas corretas são: A) I, II e III. B) Apenas I e II. C) Apenas I e III. 30 Unidade I D) Apenas II e III. E) Nenhuma das afirmativas está correta. Resolução A resposta correta é a alternativa A, pois todas as afirmativas são verdadeiras. Exemplo 2 Os custos podem ser classificados em função da produção/desenvolvimento em custos diretos e indiretos, e em função da alteração do volume produzido/desenvolvido em custos fixos e variáveis. Analise as afirmativas a seguir. I – Matéria-prima é um custo direto. II – Energia elétrica é um custo indireto. III – Energia elétrica é um custo fixo, enquanto salários administrativos são custos variáveis. As afirmativas corretas são: A) I, II e III. B) Apenas I e II. C) Apenas I e III. D) Apenas II e III. E) Nenhuma das afirmativas está correta. Resolução A resposta correta é a alternativa B. As afirmativas I e II estão corretas. No entanto, energia elétrica é um custo variável, enquanto salários administrativos são custos fixos. 2.3 Custos em TI Atualmente, a TI é um ativo estratégico das empresas, uma vez que muitas se encontram imersas na transformação digital que está atrelada à inovação, às comunicações e aos processos de melhoria contínua. As empresas tornaram-se totalmente dependentes dos sistemas de informação para funcionarem, o que pode consumir uma boa parte dos recursos delas. Assim, é muito importante criar estratégias para 31 GESTÃO FINANCEIRA DE TI a redução de custos de TI de forma que eles não consumam recursos em excesso, reduzindo o potencial de investimento em outras áreas importantes. As duas formas básicas de fazer cortes em TI são com a redução das equipes e das tecnologias utilizadas ou com a melhoria dos processos. Porém, isso deve ser feito tendo em mente que não se deve reduzir a qualidade do serviço prestado. Além do mais, existe a necessidade de expandir a área continuamente para atender a demandas externas e inovações. Existem métodos que podem ser utilizados para planejamento de estratégias que visam ao aumento da produtividade e à redução das despesas. Entre eles estão o TCO, o ITIL® e o COBIT. 2.3.1 TCO O TCO (Total Cost of Ownership) ou, em português, Custo Total de Propriedade é um dos métodos mais conhecidos de gestão eficiente de custos de TI que consiste na análise dos gastos relacionados à aquisição, utilização e manutenção dos ativos de TI de uma empresa. O TCO é uma métrica que visa estimar financeiramente todos os custos diretos e indiretos envolvidos na compra de hardware ou software, visando identificar o impacto financeiro que a implementação de tecnologia tem para o negócio. Para isso, leva em conta todo o ciclo de vida da implementação, o que inclui o treinamento de usuário, a aquisição do sistema, a aquisição de hardware, a contração de profissionais ou fornecedores externos e os custos com suporte ou manutenção. Para calcular o TCO, inicialmente, é necessário definir e classificar os custos de aquisição, os custos de implementação e os custos de suporte ou manutenção. A compra de hardware e software é considerada como custo de aquisição. Entram no cálculo desse custo: • depreciação das máquinas; • compra de equipamentos necessários para compor ou atualizar a estrutura; • tempo gasto em pesquisa de mercado para a escolha dos fornecedores ou da plataforma a ser utilizada. Quanto aos custos de implementação, devem ser calculados: • contratação de consultores externos para o processo de implementação; • configuração do sistema para desempenhar uma finalidade específica; • mão de obra de instalação de hardware; 32 Unidade I • mão de obra de instalação de software; • contratação de conexão mais potente e eventual mudança de fornecedor de banda larga; • mão de obra de configuração do novo sistema; • mão de obra de implementação do novo sistema; • treinamento dos usuários. Os custos de suporte ou manutenção devem contabilizar: • implementações de funcionalidadesnovas ou adicionais; • licenças e atualizações; • contratação de fornecedores externos; • contratação de novos profissionais para gerenciamento do processo. O quadro a seguir resume os custos calculados no TCO. Quadro 4 – Custos calculados no TCO Custos de aquisição Custos de implementação Custos de suporte - Compra de hardware/software - Depreciação de máquinas - Compra de equipamentos para compor ou atualizar uma estrutura de software - Tempo gasto em horas de trabalho para pesquisa de mercado com relação à escolha de fornecedores e plataformas - Contratação de consultores externos - Configurações de sistema - Instalação de hardware e software - Eventuais mudanças nos servidores de internet banda larga - Implementação de novas funcionalidades ou sistemas - Garantias - Licenças - Atualizações - Contratações de fornecedores externos e de recursos humanos Não é possível listar todos os fatores que determinam os custos envolvidos com implementações em TI, no entanto é possível ter um cenário de como é feito o cálculo do TCO. 2.3.2 ITIL® O ITIL® (Information, Technology Infrastructure Library) ou, em português, Biblioteca de Infraestrutura de Tecnologia da Informação é um conjunto de boas práticas para a administração de serviços de tecnologia. 33 GESTÃO FINANCEIRA DE TI Trata-se de um método que apresenta procedimentos estruturados, baseados em estudos sólidos resultantes de estratégias já utilizadas e que provaram ter bons resultados. Assim, o ITIL® envolve a infraestrutura, as operações e os serviços da área de TI de uma empresa. O ITIL® foi criado na década de 1980 por uma agência do Reino Unido, a Central Computer and Telecommunications Agency (CCTA). Atualmente, está sob os cuidados do Cabnet Office, e os direitos da marca pertencem à Axelos, uma joint venture criada para gerenciar, desenvolver e aumentar o portfólio de melhores práticas globais que inclui outros métodos além do ITIL®, como PRINCE2®, MSP® e RESILIA®. A seguir são relacionados alguns benefícios do ITIL® e seu impacto na gestão de custos em TI de uma organização. Maior alinhamento entre a TI e o negócio A área de TI deve ser vista como uma parceira pelos diversos setores da empresa, pois pode promover a entrega mais rápida dos produtos ou serviços oferecidos, permitir tomadas de decisão mais estratégicas, auxiliar no planejamento e na qualidade no gerenciamento, entre outras ações, permitindo ganho em qualidade. Redução de custos A aplicação do ITIL® permite que os investimentos feitos no setor de TI, que geralmente são de alto custo, sejam mais controlados. Ao adotar boas práticas, com um maior controle das atividades realizadas e um planejamento das ações a serem tomadas no setor de TI, insere mais critério nas decisões de forma que os valores investidos possam ser reduzidos. Para isso, utiliza relatórios e controle das atividades executadas, permitindo ao gestor de TI maior conhecimento sobre o direcionamento das verbas e uma visão melhor de quais gastos são desnecessários. Isso permite, ao mesmo tempo, evitar que os serviços de TI sejam afetados por cortes inadequados. Maior visibilidade dos custos de TI Apesar de ser visto, muitas vezes, como um departamento meramente operacional e com pouca atuação estratégica, ao aplicar as técnicas do ITIL®, os gestores da organização passam a perceber melhor a relevância da área de TI, pois passam a ver resultados positivos financeiramente. Ambiente de serviço mais estável A aplicação do ITIL® permite oferecer aos colaboradores da organização uma infraestrutura mais adequada para o desenvolvimento do seu trabalho, com mais infraestrutura e com o fluxo de trabalho devidamente organizado. Dessa forma, os colaboradores passam a exercer suas funções com mais motivação, aumentando a produtividade e, assim, gerando mais resultados para a empresa. Além do mais, a aplicação do ITIL® permite a realocação de equipes, evitando a contratação de mais pessoas para executar as mesmas funções, reduzindo os custos. 34 Unidade I Possibilidade de fazer um gerenciamento de riscos A aplicação das técnicas do ITIL® auxilia na prevenção e no tratamento de erros (risco de retrabalho) por meio do desenvolvimento de metodologias para que eles sejam evitados. Mediante o mapeamento de todas as funções desempenhadas na organização, é possível desenhar um organograma para que cada colaborador saiba exatamente qual a sua função na empresa. Dessa forma, evitam-se retrabalhos ou erros cometidos por esquecimento. Facilidade de implementação A implantação do ITIL® tem início com os gestores e profissionais com cargos de maior responsabilidade. A partir daí, são verificadas as mudanças necessárias na infraestrutura, como equipamentos, compra de softwares e licenças etc. Com relação às boas práticas de trabalho, é desenvolvida uma biblioteca com as atividades que os colaboradores necessitam executar. Essas atividades são então incorporadas à cultura organizacional, por meio de eventos internos e outras práticas de comunicação. Para implantação do ITIL®, é preciso seguir recomendações que seguem cinco conceitos, conforme ilustrado na figura a seguir. Estratégia de serviço — Pilar principal do ITIL®. — A partir dela que se gerenciam todos os outros. — Determinação de demandas, objetivos, requisitos e necessidades que serão abordadas. — Definição de uma direção estratégica como diferenciais no mercado, funcionalidades para o serviço, responsabilidades etc. — Sem isso, não há foco nem escopo para os próximos passos. Transição de serviço — Ponte entre planejamento e execução. — Estágio em que se define como o serviço será modificado, implementado e entregue. Design de serviço — Utiliza o planejamento realizado anteriormente e formata suas definições em um serviço executável e aplicável. — Definição de como será o serviço na criação de uma cadeia de desenvolvimento para atingir esse objetivo da forma mais ágil e eficiente. Operação de serviço — Diz respeito a toda parte de execução no desenvolvimento e na entrega de um produto. — As etapas anteriores permitem uma visão completa dos fluxos e processos de produção, o que permite adaptar a rotina do serviço. — Garantia de uma TI mais produtiva e otimizada. Figura 9 – Melhoria de serviço continuada 35 GESTÃO FINANCEIRA DE TI Observação A implantação de ITIL® segue o conceito de melhoria de serviço continuada. Para isso, utiliza-se a documentação das melhores práticas requeridas, visando melhorar a eficácia e a eficiência dos processos e serviços, bem como sua relação custo-benefício. Em administração, eficácia e eficiência podem ser definidas da seguinte forma: • Eficácia: a coisa certa; o resultado. Exemplo: um administrador eficaz faz coisas certas, otimiza a utilização dos recursos, obtém resultados, aumenta os lucros e produz com criatividade. • Eficiência: fazer certo; meio para atingir um resultado; atividade. Exemplo: um administrador eficiente faz as coisas corretamente, resolve problemas, cuida dos recursos e reduz os custos. O benefício da implantação de ITIL® é contar com mais eficiência e estratégia no desenvolvimento de serviços, permitindo à equipe pegar atalhos e aumentar a qualidade do trabalho desenvolvido, visando à diminuição dos gastos. Saiba mais Para conhecer melhor o ITIL®, visite a página da Axelos em: Disponível em: https://www.axelos.com/. Acesso em: 3 ago. 2021. 2.3.3 COBIT O COBIT® (Control Objectives for Information and Related Technology) ou, em português, Objetivos de Controle para Tecnologia de Informação e Relacionados é um framework de boas práticas de gestão e governança de TI criado na década de 1990 que tem objetivos alinhados às estratégias da empresa. Observação Framework, de forma geral, é um conjunto de conceitos usado para resolver um problema de um domínio específico. Em desenvolvimento de software, framework é um conjunto de códigos que provê uma funcionalidade genérica. 36 UnidadeI O COBIT® 2019 é a última versão até o momento. Ele utiliza métricas para avaliação dos resultados (Key Performance Indicators – KPI, Key Goal Indicators – KGI e Critical Success Factors – CSF) que auxiliam na tomada de decisão. É recomendado na otimização dos investimentos de TI, visando à melhora do retorno sobre o investimento. A tecnologia, sua função e a maneira como é usada em muitas organizações mudaram drasticamente nos últimos anos. Os modelos de fornecimento de serviços de TI mudaram, e a transformação digital está mudando os modelos de negócio de muitas organizações. O cenário regulatório está em constante evolução, impondo regras mais rígidas para muitas empresas comerciais e públicas, e também para o setor de TI. O cenário de padrões e estruturas de governança e gerenciamento também evoluiu. Todas essas mudanças exigem ajustes no sistema de governança que uma empresa coloca em prática sobre a TI corporativa, e, por consequência, foi necessária uma revisão e atualização do núcleo do COBIT, seus processos e componentes de governança, altamente relevantes e oportunos. Essas mudanças foram incorporadas na última versão (STEUPERAERT, 2019). Diferentemente do ITIL®, que é direcionado aos serviços de TI e tem foco em planejamento e em operações, o COBIT® se concentra no nível estratégico e tem como principal objetivo alinhar as estratégias de gestão e governança corporativa da organização às do setor responsável pela administração dos recursos tecnológicos da empresa. Para isso, utiliza métricas como a auditoria de processos, a melhoria das rotinas internas e o controle sobre a infraestrutura interna. O COBIT® ajuda a direcionar ou priorizar os esforços e recursos da TI para atender aos requisitos do negócio por meio da identificação dos processos da TI que impactam ou geram riscos para o negócio, de modo a priorizar o gerenciamento desses processos, ajudando, assim, a guiar os investimentos, analisar riscos e atender à legislação pertinente. Dessa forma, auxilia na redução de custos e na decisão de investimentos em TI. Os processos do COBIT® são agrupados em quatro domínios, conforme ilustrado no quadro a seguir. Quadro 5 – Processos do COBIT® Planejar e organizar — Responsável pela estratégia e tática. — Identifica como a TI pode auxiliar em alcançar os objetivos do negócio. Adquirir e implementar — Responsável pela identificação, desenvolvimento e obtenção de soluções de TI. — Alterações em sistemas também estão incluídas neste domínio. Entregar e suportar — Responsável pela entrega dos serviços, gerenciamento de segurança e continuidade, suporte, gestão dos dados e infraestrutura operacional. Monitorar e avaliar — Responsável pela monitoração e avaliação dos processos de TI; monitoração de controles internos e de avaliações externas e internas. 2.3.3.1 Planejar e organizar Esse domínio cobre o uso de informação e tecnologia e sua utilização para que a empresa atinja seus objetivos e metas. Os processos desse domínio são: 37 GESTÃO FINANCEIRA DE TI • definir um plano estratégico de TI; • definir a arquitetura de informação; • determinar o direcionamento tecnológico; • definir os processos, organização e relacionamentos de TI; • gerenciar o investimento em TI; • comunicar as diretrizes e expectativas da diretoria; • gerenciar os recursos humanos de TI; • gerenciar a qualidade; • avaliar e gerenciar os riscos de TI; • gerenciar projetos. 2.3.3.2 Adquirir e implementar Para executar a estratégia de TI, as soluções precisam ser identificadas, desenvolvidas ou adquiridas, implementadas e integradas ao processo de negócios. Os processos desse domínio são: • identificar soluções; • adquirir e manter software aplicativo; • adquirir e manter infraestrutura de tecnologia; • habilitar operação e uso; • adquirir recursos de TI; • gerenciar mudanças; • instalar e homologar soluções e mudanças. 2.3.3.3 Entregar e suportar Esse domínio foca nos aspectos de entrega de TI e cobre a execução de aplicações dentro do sistema e seus resultados, e os processos de suporte que permitem a execução de forma eficiente e efetiva, incluindo segurança da informação e treinamento de usuários. Os processos desse domínio são: 38 Unidade I • definir e gerenciar níveis de serviço; • gerenciar serviços de terceiros; • gerenciar capacidade e desempenho; • assegurar continuidade de serviços; • assegurar a segurança dos serviços; • identificar e alocar custos; • educar e treinar usuários; • gerenciar a central de serviço e os incidentes; • gerenciar a configuração; • gerenciar os problemas; • gerenciar os dados; • gerenciar o ambiente físico; • gerenciar as operações. 2.3.3.4 Monitorar e avaliar Lida com a estimativa estratégica das necessidades da organização e avalia se o atual sistema de TI atinge os objetivos para os quais ele foi especificado, além de controlar os requisitos para atender objetivos regulatórios. Os processos desse domínio são: • monitorar e avaliar o desempenho; • monitorar e avaliar os controles internos; • assegurar a conformidade com requisitos externos; • prover a governança de TI. 2.3.4 Melhores práticas para a redução de custos em TI Uma das práticas que visa à diminuição de despesas e à melhora da qualidade dos produtos e serviços é a padronização dos processos, das ferramentas e dos recursos utilizados. Dessa forma, o negócio tem mais agilidade, resultados mais efetivos e menores custos. 39 GESTÃO FINANCEIRA DE TI A utilização da computação em nuvem é uma prática que traz diversos benefícios ao negócio, sendo um dos pilares da transformação digital. Os benefícios vão desde o armazenamento de dados até a virtualização completa da infraestrutura. Essa prática permite a redução dos gastos com licenciamento e instalação de softwares, downloads, atualizações, manutenção de servidores, contratação de pessoal especializado, espaço físico, entre outros, permitindo trabalhar apenas com os recursos necessários. A computação em nuvem também permite maior mobilidade, necessitando apenas de conexão com a internet, além de reduzir os custos de pagamento de soluções que não estão sendo utilizadas, ou seja, paga-se apenas pelo que se usa. Uma prática importante é a reavaliação de contratos. É bom manter boas e longas relações com fornecedores, mas é importante estar sempre atento a novas oportunidades com custos menores. Sempre há possibilidades de renegociações de valores, alterações de formas de pagamento, métodos de entrega, entre outros. Outra prática importante é a reavaliação das ferramentas que são utilizadas, avaliando se elas estão ajudando ou se há outras ferramentas melhores ou com menor custo. Sempre se deve investir na automação de processos, uma vez que as tarefas repetitivas podem ser automatizadas com bons sistemas de gestão, contribuindo também na eficiência, na segurança e na minimização de erros, evitando retrabalhos e perdas de tempo produtivo. Podem ser a automatizados, por exemplo, os backups em nuvem, as varreduras, a identificação de falhas em códigos-fonte, o monitoramento de rede, a atualização de software e a instalação de patches. Um dos desafios do setor de TI é a integração de equipes de desenvolvimento e operações, criando um ambiente favorável ao DevOps (contração de development e operations), cujo objetivo é a dinamização do ciclo de desenvolvimento, testes e implementação de aplicações, o que possibilita a entrega de soluções mais eficientes e rápidas. Outra prática que está sendo aplicada em função da computação em nuvem é o BYOD (Bring Your Own Device), ou, em português, Traga seu Próprio Aparelho. Dessa forma, os funcionários utilizam seus dispositivos pessoais no trabalho, o que reduz gastos e aumenta a produtividade. O BYOD, no entanto, traz um problema de segurança que deve ser corretamente acessado antes de implantá-lo. A capacitação da equipe é outra prática que traz redução de custos. Os colaboradores precisam se atualizar em relação às principais
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