Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Camila Carminate – 6 FASE Câncer de Mama A mama é composta por três estruturas principais: pele, tecido subcutâneo e tecido mamário. O tecido mamário é formado por parênquima e estroma. O parênquima, que constitui a glândula mamária, compreende o sistema ductal e o lobular. O estroma é formado pelos tecidos gorduroso e conectivo, pelos vasos sanguíneos e linfáticos e pelos nervos. A drenagem linfática é de extrema importância para a disseminação metastática do câncer de mama; é realizada por plexos superficiais e profundos. O sistema superficial é avalvulado, com a drenagem direcionada para o plexo profundo (intraparenquimatoso e subcutâneo profundo). Do plexo profundo, ocorre a drenagem da linfa preferencialmente para a axila (95%) e para a cadeia da artéria torácica interna. Os linfonodos axilares são classificados em níveis, conforme a localização anatômica em relação ao músculo peitoral menor. Os de nível I estão localizados lateralmente à borda externa do músculo, os de nível II estão localizados posteriormente ao músculo e os de nível III estão localizados medialmente à borda interna do músculo. MAMOGRAFIA A mamografia é a ferramenta mais empregada na detecção do câncer de mama, sendo considerada método de rastreamento e também indicada no processo diagnóstico e no acompanhamento de lesões mamárias. O rastreamento consiste na realização de mamografias periódicas em mulheres assintomáticas, geralmente anual após os 40 anos, tendo como meta a detecção precoce. Atualmente, existe intenso debate sobre qual a idade ideal para o início do rastreamento e qual a periodicidade. Isso deve-se ao fato de a mamografia ter maior benefício nas pacientes dos 50 aos 74 anos. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) recomenda mamografias bianuais dos 50 aos 69 anos.12 Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) recomendam mamografia anual a partir dos 40 anos e sem limite de idade para interromper o rastreamento. A mamografia de rastreamento inclui duas incidências mediolateral oblíqua e craniocaudal, sendo o estudo comparativo com os dois lados e com os exames anteriores. 2 Camila Carminate – 6 FASE A habilidade em detectar lesões depende da densidade glandular, da morfologia da lesão, do treinamento dos examinadores e de fatores técnicos, como posicionamento adequado, dose e qualidade da radiação, compressão da mama, exposição correta, combinação da tela e filme e ótimo processamento do filme. As alterações mamográficas mais comumente encontradas consistem em: Nódulos – São lesões que ocupam espaço, detectadas em duas projeções, e classificadas quanto ao formato (ovoide, redondo, irregular), às margens (circunscritas, obscurecidas, microlobuladas) e à densidade (alta densidade, isodensa, contendo tecido adiposo). Geralmente, os nódulos de limites bem-precisos, arredondados ou ovalados são benignos, enquanto os irregulares e espiculados sugerem malignidade; Assimetrias – Global, focal, em desenvolvimento; Calcificações – Em geral, benignas (pele, vascular, “em pipoca”, grande em bastão, redonda, anelar, distrófica, leite de cálcio, sutura), suspeitas (amorfa, grosseira heterogênea, pleomórfica fina, linear final ou fina linear ramificada), de distribuição (difusa, regional, agrupada, linear, segmentar). As microcalcificações agrupadas, pequenas, irregulares e lineares sugerem malignidade. Distorção da arquitetura – Vista como espículas irradiadas de um ponto, pode ser decorrente de cicatriz pós-cirúrgica, cicatriz radial ou carcinoma de mama. A meta da BI-RADS é melhorar a qualidade e a comunicação, bem como padronizar os laudos de imagem da mama. A densidade mamária foi classificada em quatro categorias: a. Mama lipossubstituída, composta quase totalmente por gordura. Apresenta confiabilidade mamográfica muito alta com sensibilidade de cerca de 98%; b. Mamas com áreas de tecido fibroglandular esparsas; c. Mamas heterogeneamente densas, que podem obscurecer pequenos nódulos, com sensibilidade em torno de 70%; d. Mamas extremamente densas, que podem diminuir a sensibilidade para 40 a 50%, sendo recomendados outros procedimentos diagnósticos complementares – na maioria dos casos, a US. ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA A US mamária é um valioso complemento da mamografia, sendo o primeiro exame realizado em mulheres jovens ou grávidas. Comparado à mamografia e à RM, a US é um exame rápido, seguro, bem-tolerado e relativamente barato. Uma de suas limitações é não conseguir detectar microcalcificações agrupadas fora do tumor e em mamas adiposas, que diminuem sua acuidade diagnóstica. Seu principal papel está na diferenciação de lesões císticas e sólidas, mas presta grande auxílio na caracterização de nódulos benignos e malignos, com alta sensibilidade na diferenciação de lesões malignas. A US mamária tem indicação na avaliação de nódulos palpáveis, de achados clinicamente ocultos na mamografia e de tecido mamário denso, após cirurgia de reconstrução ou de aumento com implantes de silicone, em mulheres com alto risco e orientação durante técnicas de intervenção (agulhamentos). Os nódulos são classificados quanto a: Formato – Ovoide, redondo ou irregular; Orientação – Paralela à pele ou não paralela à pele; Margem – Circunscrita ou não circunscrita (indistinta, angulada, microlobulada, espiculada); Ecotextura – Anecoica, hiperecoica, complexa, hipoecoica, isoecoica ou heterogênea; 3 Camila Carminate – 6 FASE Características acústicas posteriores – Sem achados, reforço acústico, sombra acústica ou combinado. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A RM com contraste apresenta alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico de câncer de mama. São indicações para RM: › Casos de imagens inconclusivas por meio dos métodos convencionais como mamografia e US mamária, não sendo utilizada, entretanto, como substituta da avaliação histológica dessas lesões; › Rastreamento em pacientes de alto risco (mutações de BRCA1 e BRCA2); › Avaliação de implantes mamários; › Diferenciação de cicatriz pós-operatória e recorrência do carcinoma; › Avaliação da resposta terapêutica à quimioterapia neoadjuvante; › Estadiamento local pré-operatório, a fim de determinar a extensão da lesão, e detectar lesõessatélites bem como outros cânceres ipsolaterais ou contralaterais. Embora a RM forneça melhor estimativa do tamanho do tumor e da extensão da doença e, consequentemente, melhor planejamento terapêutico, isso poderia acarretar cirurgias mais extensas, não havendo consenso sobre quais pacientes iriam se beneficiar da RM pré-operatória. PROCEDIMENTOS INVASIVOS PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é uma técnica relativamente barata e com boa tolerância pela paciente. No entanto, a PAAF apresenta sérias limitações devido ao grande número de amostras inadequadas, à alta frequência de falsos- negativos e à acurácia limitada quando comparada à core biopsy ou à exérese cirúrgica, e não representa mais o exame-padrão para avaliação de massas mamárias. Os resultados citológicos da PAAF podem ser divididos em: benigno, sugestivo de malignidade ou inconclusivo. Além disso, o diagnóstico diferencial do estudo citológico da PAAF entre carcinoma in situ e invasor nem sempre é possível. CORE BIOPSY Biópsia percutânea com agulha grossa ou biópsia de fragmentos. A core biopsy é um método com elevada acurácia, comparável à biópsia cirúrgica, mas gera menores custos e é mais bem tolerado pelas pacientes. Consiste em procedimento minimamente invasivo, realizado com agulha de maior calibre que a PAAF, geralmente de 14 gauge, o que permite a obtenção de pequenos cilindrosdo tecido. Pode ser realizado guiado por mamografia, US ou ressonância magnética. A principal vantagem da core biopsy é permitir a avaliação histológica do tecido biopsiado, podendo diagnosticar, com clareza, lesão invasora ou in situ e, também, a análise imunohistoquímica. MAMOTOMIA (CORE BIOPSY A VÁCUO) Semelhante à core biopsy, ela remove fragmentos que permitem a análise histológica. As principais diferenças em relação ao método anterior são a obtenção de fragmentos maiores, a inserção da agulha na mama somente uma vez, evitando diversas punções, a retirada completa de lesões de até 1,5 cm e a inserção de clipe metálico no leito biopsiado. Quando o achado mamográfico é de pequeno número de microcalcificações, a mamotomia possibilita a colocação do clipe metálico que faz a localização para posterior cirurgia com agulhamento, se necessário. É uma tentativa de reduzir o número de lesões subestimadas, no entanto, deve-se ter muito cuidado ao ressecar completamente lesões que demandam avaliação do seu tamanho e status das margens, como o carcinoma in situ. 4 Camila Carminate – 6 FASE NODULOS BENIGNOS DA MAMA MACROCISTOS Os cistos mamários são expressão da etapa involutiva do lóbulo mamário e têm importância clínica porque formam tumor de aparecimento rápido, gerando ansiedade à paciente. A etiologia é desconhecida, mas recentes estudos demonstram que eles podem ser divididos em dois grandes grupos: um revestido por epitélio atrófico e com líquido intracavitário contendo proporção Na/K > 3; o outro formado por epitélio apócrino, cuja relação Na/K é < 3. Quadro clínico Tumor móvel, firme-elástico, às vezes achatado, mais frequente nas regiões centrais da mama e na pré-menopausa (é raríssimo na senectude, a não ser na vigência de terapia de reposição hormonal). A maioria é indolor. Tratamento Consiste na simples punção evacuadora do cisto, conforme descrito anteriormente. Esse simples procedimento ambulatorial afasta a possibilidade de câncer e determina enorme alívio à paciente. Nas portadoras de cistos múltiplos, não há necessidade de puncionar todos os cistos, em todas as ocasiões, desde que se disponha de adequada monitorização por meio da US. Se esta mostrar que se trata de cistos simples (não complexos e não habitados), deverão ser programadas sessões de punção dos cistos maiores, sintomáticos. Só será cogitado tratamento cirúrgico para excluir neoplasia maligna nos cistos com várias recidivas, quando houver massa restante pós-punção, se o líquido for sanguinolento ou se o cisto for complexo. FIBROADENOMA O fibroadenoma é um tumor constituído pela proliferação do tecido conectivo do estroma e pela multiplicação de ductos e ácinos. Os dois componentes estão presentes em proporções variáveis, mas é o elemento estromal que determina a classificação e o comportamento clínico dessas lesões. O fibroadenoma comum apresenta estroma de baixa celularidade com citologia uniforme e comporta-se de forma benigna. O outro grupo, com estroma hipercelular e atipias, é chamado de tumor filodes. Quadro clínico Acomete preferencialmente mulheres jovens, entre a menarca e os 30 anos; depois dessa idade, entra em degeneração e calcifica, sendo achado comum em mamografias de rotina. Apresenta-se como nódulo de limites nítidos, formato arredondado ou lobulado, consistência firme e ampla mobilidade. 5 Camila Carminate – 6 FASE O diagnóstico é eminentemente clínico, podendo ser complementado pela punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e pela US. Tratamento Consiste em excisão com anestesia local, sempre que possível. A abordagem preferencial é pela via periareolar, mas, em tumores grandes, a incisão no sulco inframamário proporciona excelente resultado estético. A exérese de pequenos fibroadenomas em pacientes jovens – com menos de 25 anos – é relativa, não havendo urgência em sua execução. Isso também vale para os que mostram tendência a formar nódulos múltiplos, recorrentes: é preferível deixá-los em observação e, depois, operar em procedimento único. HAMARTOMA É a lesão composta por uma combinação anormal de elementos de tecido glandular, gorduroso e conectivo fibroso. Essa lesão, relativamente incomum, ocorre mais na pós menopausa. Ao exame físico, em geral é macia e não difere em textura do parênquima. PAPILOMA INTRADUCTAL É uma lesão hiperplásica caracterizada pela proliferação do epitélio ductal com um eixo vasculoconectivo que enche o canalículo e, geralmente, o distende. Em geral, é solitário, não excede 2 a 3 mm e localiza-se nos ductos terminais. Não confundir com a papilomatose múltipla, cuja localização é mais periférica e se trata de hiperplasia ductal ou lobular. O diagnóstico e o tratamento já foram abordados – exérese do(s) ducto(s) atingido(s) com incisão justareolar. CICATRIZES RADIAIS As cicatrizes radiais podem parecer carcinomas em exames mamográficos, macro e microscópicos. Costumam ser descobertas acidentais, mais frequentes em tecido mamário excisado por outra anormalidade. São comumente múltiplas e, eventualmente, são tão grandes a ponto de serem detectadas na mamografia, em que aparecem como massas espiculadas indistinguíveis, com certeza, dos carcinomas, sendo necessário o diagnóstico histopatológico. Atualmente, costuma-se identificar a cicatriz radial pelo seu aspecto anatomopatológico, nomeando-a de “lesão esclerosante complexa”. Para alguns autores, nem sempre é necessária a excisão cirúrgica dessas alterações. HIPERPLASIAS O termo hiperplasia simples implica uma condição benigna; já a hiperplasia com atipias tende a ser associada a pequeno ou moderado aumento no risco de câncer de mama. As hiperplasias atípicas podem ser ductais ou lobulares e são lesões proliferativas que apresentam algumas características, mas não todas, de carcinoma in situ. Sempre que a punção-biópsia percutânea revelar hiperplasia atípica, deve-se proceder à biópsia excisional da lesão, para evitar um subdiagnóstico. LIPOMA É uma proliferação benigna das células lipídicas. Apresenta-se como nódulo amolecido, bemdelimitado e que pode atingir grandes proporções, causando deformidades. Também pode sofrer cistoesteatonecrose e causar o aparecimento de áreas endurecidas que se confundem com carcinoma. A conduta é a remoção cirúrgica, e a própria macroscopia antecipa o diagnóstico. MANEJO DAS ALTERAÇÕES BENIGNAS Os seguintes princípios gerais devem orientar o manejo das alterações benignas da mama: › Eliminar, o mais prontamente possível, o desconforto causado por essa alteração; 6 Camila Carminate – 6 FASE › Excluir câncer, utilizando todo o arsenal propedêutico necessário; › Preservar a estética, sempre que for indicada intervenção; › Classificar o risco para câncer a partir de uma biópsia benigna e propor o esquema de seguimento; › Tranquilizar sempre. NODULOS MALIGNOS NA MAMA Fatores de risco A maioria dos cânceres de mama inicia no tecido mamário glandular que produz leite (lóbulos) e nos ductos que conectam esses lóbulos até a papila. Diversos fatores estão relacionados ao aumento do risco de desenvolver câncer de mama: idade, fatores endócrinos, idade reprodutiva, fatores comportamentais/ambientais e fatores genéticos/hereditários. CARCINOMA LOBULAR IN SITU O CLIS refere-se à presença de células de aspecto neoplásico dentro dos lóbulos mamários. Apesar de sua denominação, não é considerado uma neoplasia maligna, nem mesmo lesão precursora do carcinoma lobular invasor (CLI). Ainda hoje, representa apenas um marcador de risco para o desenvolvimento do câncer de mama; Costuma ser achado anatomopatológico incidental de peças cirúrgicas, pois não tem representação imaginológica ou clínica. Não requer tratamento. Seu achado determinaclassificar a paciente acometida como de alto risco, passando a ter indicação de rastreamento rigoroso, quimioprevenção ou cirurgias redutoras de risco. Em geral, a neoplasia lobular é receptor hormonal (RH)-positiva e receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano- negativa. CARCINOMA DUCTAL IN SITU O carcinoma ductal in situ (CDIS), ou intraductal, caracteriza-se pela substituição das células ductais epiteliais normais por células neoplásicas que se expandem dentro dos ductos sem invadir a membrana basal. Dessa forma, não têm capacidade de metastatizar, seja por via linfática ou hematogênica, não requerendo tratamento sistêmico adjuvante. É considerado lesão precursora do carcinoma invasor e sua presença aumenta em 10 vezes o risco de carcinoma invasor no futuro. Comumente manifesta-se pela presença de microcalcificações pleomórficas, agrupadas e com trajeto ductal na mamografia. Sua ressecção cirúrgica na totalidade está sempre indicada, e, apesar de não ter capacidade de disseminação sistêmica, o comprometimento mamário pode ser extenso a ponto de requerer mastectomia. Nos casos em que é possível a ressecção da lesão na sua totalidade com cirurgia conservadora, as margens devem ser preferencialmente maiores do que 2 mm, e o tratamento deve ser complementado por radioterapia. CARCINOMA INVASOR DA MAMA Constituem a maioria das neoplasias malignas da mama, com origem na unidade lobular-ductal terminal. Os carcinomas invasores são aqueles nos quais as células tumorais invadem tecidos adjacentes aos ductos mamários e apresentam a capacidade de metastatizar para sítios anatômicos distantes. Na maioria das vezes, os carcinomas invasivos estão associados com uma extensão variável de componente de carcinoma in situ. CARCINOMA DUCTAL INFILTRANTE SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO É um grupo heterogêneo de tumores e o diagnóstico é feito por exclusão, quando a lesão não preenche os critérios diagnósticos (achados morfológicos/histológicos) para os tipos especiais de 7 Camila Carminate – 6 FASE carcinoma mamário, sendo classificado como carcinoma ductal infiltrante sem outra especificação (CDI-SOE). Apresentação macroscópica Costuma apresentar-se como um nódulo sólido ou uma área de condensação no parênquima, com coloração acinzentada ou esbranquiçada, em geral, endurecido, com consistência de pera verde ao corte (carcinoma cirroso), o que depende da quantidade de fibrose no estroma, da elastose peritumoral e da presença de necrose e de calcificações relativamente grosseiras. As lesões podem ter formato espiculado ou circunscrito. Histologia Pode apresentar ampla variabilidade histológica com proliferação de elementos epiteliais com atipias citológicas relativamente acentuadas, com tendência diversa a formar estruturas pseudoglandulares ou semelhantes aos ductos. O prognóstico desses carcinomas depende de muitos fatores, principalmente do grau histológico, do tamanho tumoral, do estado dos linfonodos (LNs) regionais, da invasão angiolinfática, além de outros fatores biológicos como a expressão de receptores de estrogênio (REs) e receptores de progesterona (RPs) e do HER-2. CARCINOMA LOBULAR INVASOR Mais frequente em mulheres na pós-menopausa, principalmente após os 60 anos. Estudos recentes sugerem forte associação entre a terapia de reposição hormonal pós-menopausa e o aumento da incidência de CLI. Esse carcinoma também caracteriza-se pela maior frequência de multifocalidade e multicentricidade, assim como maior tendência à bilateralidade. Os CLIs apresentam padrão de infiltração tecidual insidioso, provocando pouca reação tecidual desmoplásica adjacente, fato que pode impedir a formação de massa palpável, tornando o diagnóstico clínico difícil e acarretando dificuldades de visualização da lesão nos exames de imagem. A forma mais comum de apresentação é densidade assimétrica à palpação, sem nódulo bem definido e presença de assimetria e distorção arquitetural mamária no exame mamográfico.1 A extensão do tumor pode ser subestimada tanto pelo exame físico como pelo mamográfico. Apesar de considerado como condição única, existem subclassificações histológicas que apresentam padrões de agressividade diversos, desde o clássico (menos agressivo), o sólido, o alveolar, o em “anel de sinete” até o pleomórfico (mais indiferenciado e agressivo). CARCINOMA TUBULAR É um tipo especial de carcinoma que costuma ser bem- diferenciado e associado a um bom prognóstico. Os tumores costumam ser pequenos, com diâmetro médio de 1 cm, em geral, sem comprometimento de LNs axilares. A consistência do tumor é firme/endurecida, com coloração branco-acinzentada e aspecto estrelado ao corte. Na mamografia, a lesão tem aspecto espiculado. Histologia A lesão é composta por proliferação de túbulos glandulares, de forma irregular, revestidos por uma única camada de células bem-diferenciadas e homogêneas, apresentando secreção apócrina com frequência. O estroma adjacente aos túbulos costuma ser abundante, fibrótico e com elastase. CARCINOMA MEDULAR As pacientes costumam ser mais jovens (<35 anos) no momento do diagnóstico. Esses tumores costumam ser bem-delimitados, circunscritos, com consistência firme, em geral, com 2 a 3 cm de diâmetro, sendo, muitas vezes, confundidos com fibroadenomas ao exame físico. Tumores maiores podem sofrer degeneração cística. Na mamografia, também podem apresentar-se como tumor bem-circunscrito, sendo possível confundi-lo com tumor benigno. 8 Camila Carminate – 6 FASE Histologia É composto por células pouco diferenciadas, com alto índice mitótico, estroma escasso com intenso infiltrado linfoplasmocitário e padrão sincicial de proliferação (sem a presença de estruturas glandulares). CARCINOMA MUCINOSO Também chamado de carcinoma coloide. Esse tumor costuma ser circunscrito e de aparência bosselada e mucinosa (gelatinosa) ao corte e caracteriza-se pela presença de abundante secreção mucinosa no tumor (quase totalmente extracelular). A quantidade relativa de mucina e estroma determina a consistência da lesão: macia, gelatinosa ou firme. CARCINOMA PAPIL ÍFERO Mais frequente em mulheres na pósmenopausa e idosas (idade média: 63-67 anos) e com prognóstico favorável. Em geral, é circunscrito ou lobulado, às vezes, com componente cístico. Costuma ser mais frequente na região central da mama, e algumas pacientes apresentam derrame papilar no momento do diagnóstico. Apresenta arquitetura papilar do componente invasor e intraductal. CARCINOMA METAPLÁSICO Representa um grupo morfologicamente heterogêneo de neoplasias, em que uma porção variável de células epiteliais glandulares sofrem transformação em célula epitelial não glandular (p. ex., células escamosas) ou em célula mesenquimal (p. ex., células condroide e óssea). Apresenta-se como uma massa densa bem-delimitada. DOENÇA DE PAGET A doença de Paget (DP) é uma apresentação incomum das neoplasias malignas da mama e possui diferentes apresentações histopatológicas, podendo ser encontrada em associação com um carcinoma invasor ou intraductal. É caracterizada pela presença de epitélio glandular maligno no interior da epiderme da aréola e/ou mamilo, podendo ser assintomática ou associada à hiperemia e ao eczema. Na fase subclínica da doença, as pacientes costumam relatar dor, ardência e prurido mamilar. Ao longo da evolução da doença, os achados clínicos mais característicos são eritema, pele espessada, lesão em crosta, formação de pequenas vesículas com exsudação serosa ou sanguinolenta, que pode evoluir para ulceração à medida que ocorre a infiltração epidérmica por células neoplásicas, ocorrendo, em geral, do mamilo em direção à borda da aréola, podendo ocorrer a destruição completa do mamilo. CARCINOMA DE MAMA INFLAMATÓRIOO carcinoma de mama inflamatório (CMI) representa uma condição clinicopatológica distinta, caracterizada por comportamento agressivo e rápida progressão da doença. Parece existir tendência de maior incidência na população negra. Em geral, 90% das pacientes desenvolvem metástases em menos de 2 anos após o diagnóstico. A apresentação clínica é bastante específica, com a mama apresentando aumento de volume e endurecimento; retração mamilar é comum. Faz parte a presença de eritema e edema cutâneo, geralmente com aspecto de casca de laranja (peau d’orange), 9 Camila Carminate – 6 FASE hipersensibilidade local e calor devido à importante obstrução linfática causada pela disseminação do carcinoma acometendo a mama. Linfadenopatias axilares ou supraclaviculares palpáveis ao exame clínico estão presentes em alguns casos. A característica patognomônica que distingue o CMI do carcinoma de mama localmente avançado é a presença de numerosos êmbolos tumorais na derme papilar e reticular da pele que envolve a mama. O diagnóstico sempre deve ser anatomoclínico com a realização de biópsia percutânea e, sempre que possível, biópsia de pele tipo punch. CÂNCER DE MAMA NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL O câncer de mama à gestação é definido como aquele diagnosticado durante a gestação e até 1 ano após o parto. Durante a gestação, uma discreta massa pode ser mascarada pela hipertrofia das mamas. Além do aumento do volume, o aspecto hormonal e o aumento de vascularização das mamas parecem favorecer o crescimento do nódulo e a precocidade das metástases axilares. O desafio consiste em realizar o diagnóstico precoce, por isso, o pré-natalista desempenha papel fundamental nesse cenário. Diante de nódulo ou adensamento localizado na mama, deve-se proceder à realização de ultrassonografia mamária, seguida da biópsia percutânea com agulha grossa. O tratamento de cada caso é individualizado e vai depender do estádio da doença e da idade gestacional. Em qualquer etapa da gestação, sempre que possível, deve ser realizado o tratamento cirúrgico, porque o risco de abortamento ou perda fetal associado ao procedimento é muito baixo. Quando possível, pode-se realizar a cirurgia conservadora, e, após o término da gestação, é realizado o tratamento radioterápico complementar, caso contrário permanece a indicação de mastectomia. CARCINOMA DE MAMA NO HOMEM É rara a incidência do carcinoma de mama em homens (0,7-1%), correspondendo a 0,17% de todos os tumores malignos masculinos. O achado clínico mais frequente é um nódulo palpável, a localização mais comum é retroareolar, com consistência firme, indolor e mobilidade reduzida com ou sem fixação à pele. Pode ocorrer derrame papilar seroso/sanguinolento, retração e ulceração do mamilo ou da pele. Pelo pequeno volume do tecido mamário no homem, pode ocorrer invasão do músculo grande peitoral precoce e presença de LNs axilares comprometidos. O tratamento inclui mastectomia radical associada à quimioterapia e à radioterapia conforme necessário. CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR DO CARCINOMA INVASOR DE MAMA A análise do perfil de expressão gênica, usando a metodologia de microarranjos de DNA (microarrays), categoriza cinco subtipos moleculares diferentes de carcinoma de mama: Luminal A – Apresenta elevados índices de REs e RPs, baixo grau histológico e baixos níveis de genes de proliferação celular, caracterizando um perfil de bom prognóstico; Luminal B – Também se caracteriza pela expressão de REs e RPs, porém, é associado a grau histológico mais alto e maiores níveis de genes de proliferação celular, sendo relacionado a prognóstico mais reservado; Tipo mama normal ( normal breast-like ) – Pouco caracterizado, possui perfil mais semelhante ao tecido mamário normal, como o 10 Camila Carminate – 6 FASE próprio nome já diz, e apresenta expressão genética similar ao tecido adiposo; HER-2 – Apresenta comportamento mais agressivo, associado ao surgimento precoce de metástases à distância e metástases cerebrais. Também se caracteriza pela ausência de expressão de REs e RPs e amplificação do gene que codifica o HER-2. Basaloide (ou triplo-negativo) – Denominação devida ao perfil de expressão gênica desses tumores, semelhante ao das células basais da mama, precursoras das células epiteliais glandulares e das células mioepiteliais. Estudos que avaliaram o perfil imuno- histoquímico desse grupo de tumores revelaram que são, em geral, negativos para REs, para RPs e para o produto proteico do HER-2. ESTADIAMENTO DO CARCINOMA INVASOR DE MAMA O estadiamento TNM do carcinoma de mama (invasor e in situ), conforme o American Joint Committee on Cancer (AJCC), visa estabelecer critérios para agrupar os carcinomas de acordo com seu impacto no prognóstico da paciente. T – TUMOR PRIMÁRIO Tx – Tumor primário não pode ser avaliado T0 – Não há evidências de tumor primário Tis – Carcinoma in situ /Tis (CDIS)/Tis (CLIS)/Tis (Paget)* T1 mi – Microinvasão ≤ 0,1 cm T1a – > 0,1 cm e ≤ 0,5 cm T1b – > 0,5 cm e ≤ 1 cm T1c – > 1 cm e ≤ 2 cm T2 – > 2 cm e ≤ 5 cm T3 – > 5 cm T4 – Qualquer tamanho com extensão direta para pele e/ou parede torácica (somente invasão dérmica não caracteriza um T4) T4a – Extensão para parede torácica (não inclui invasão somente do músculo peitoral maior) T4b – Ulcerações e/ou nódulos cutâneos ipsolaterais e/ou edema da pele (peau d’orange); não preenche critérios para carcinoma inflamatório T4c – T4a + T4b T4d – Carcinoma inflamatório N – LINFONODOS REGIONAIS Nx – Linfonodos regionais não podem ser avaliados (p. ex., ressecção prévia) N0 – Ausência de metástases para linfonodos regionais N1 – Metástases para linfonodos axilares homolaterais, móveis, níveis I e II N2a – Metástases para linfonodos axilares homolaterais clinicamente aparentes** fixos entre si ou a outras estruturas N2b – Metástases SOMENTE para linfonodos mamários internos homolaterais clinicamente aparentes, SEM envolvimento de linfonodos axilares N3a – Metástases para linfonodos infraclaviculares homolaterais N3b – Metástases para linfonodos mamários internos homolaterais clinicamente aparentes E metástases para linfonodos axilares N3c – Metástases para linfonodos supraclaviculares homolaterais, com ou sem metástases para linfonodos mamários internos e axilares M – METÁSTASES Mx – A presença de metástase à distância não pode ser avaliada M0 – Ausência de metástase à distância M1 – Presença de metástase à distância Estádio 0 - Tis N0M0 Estádio IIB - T3 N0 M0 Estádio IA - T1 N0 M0 Estádio IIIA - T0 N2 M0 Estádio IB - T0 N1mi M0 Estádio IIIA - T1 N2 M0 Estádio IB - T1 N1mi M0 Estádio IIIA - T2 N2 M0 Estádio IIA - T0 N1 M0 Estádio IIIA - T3 N1 M0 Estádio IIA - T1 N1 M0 Estádio IIIA - T3 N2 M0 Estádio IIA - T2 N0 M0 Estádio IIIB - T4 N0 M0 Estádio IIB - T2 N1 M0 Estádio IIIB - T4 N1 M0 11 Camila Carminate – 6 FASE Estádio IIIB - T4 N2 M0 Estádio IV - qqT qqN M1 Estádio IIIC - qqT N3 M0 TRATAMENTO CIRÚRGICO DO CÂNCER DE MAMA MASTECTOMIA VERSUS TRATAMENTO CONSERVADOR NO CARCINOMA IN SITU A possibilidade de doença invasora não diagnosticada cresce à medida que aumenta o volume tumoral. A técnica utilizada é a mastectomia total poupadora de pele (skin- preserving), seguida da reconstrução imediata com retalho miocutâneo ou implante de silicone. Em suma, atualmente, o tratamento ideal do carcinoma in situ subclínico é a tumorectomia com margens amplas e livres histologicamente (2 mm no mínimo), complementada por irradiação da mama. CARCINOMA ESTÁDIOS I E I I (ESTÁDIOS INICIAIS) A abordagem inicial do câncer de mama será ambulatorial até que sejam estabelecidos o diagnóstico e o estadiamento. CIRURGIA NOS ESTÁDIOS INICIAIS O tratamento conservador é um método preferencial como terapia primária paraa maioria das mulheres com carcinoma de mama nos estádios iniciais. A proposta básica do tratamento conservador é obter o máximo de controle local e informação sobre a doença com o mínimo de dano estético. O tratamento conservador atualmente é definido como a ressecção do tumor com margens livres associada à abordagem axilar por meio da exérese do linfonodo-sentinela (LNS) e complementada com radioterapia. O tratamento conservador constituído por setorectomia + esvaziamento axilar ou LNS + radioterapia é o método de escolha para a maioria dos casos de câncer de mama inicial. As vantagens são: Diminui a mobilidade psicológica, preservando a autoimagem; Melhora a readaptação psicossocial; Permite ressecções mais amplas; Possibilita a amostragem histológica da mama contralateral; Utiliza ato cirúrgico-anestésico único. PAPEL DA MASTECTOMIA NO TRATAMENTO DOS ESTÁDIOS INICIAIS A mastectomia continua sendo opção importante quando o tratamento conservador não é indicado ou escolhido. Atualmente, a mastectomia preservando pele ou preservando pele e mamilo associada à reconstrução imediata com implantes ou retalho miocutâneo tem sido muito empregada no tratamento do câncer de mama, pois apresenta eficácia terapêutica semelhante à da cirurgia conservadora sem a necessidade de radioterapia nos casos iniciais. As mastectomias podem ser: Tipo Halsted ou clássica – Mastectomia com ressecção da musculatura peitoral e linfadenectomia axilar em monobloco. Tipo Patey-Dyson – Resseca o pequeno peitoral, mas preserva o grande. Linfadenectomia axilar em monobloco; Tipo Madden-Auchincloss – Preserva o pequeno e o grande peitoral. Linfadenectomia axilar em monobloco. Em ambas as 12 Camila Carminate – 6 FASE técnicas, a incisão é geralmente transversa (Stewart). É a técnica mais utilizada atualmente; Tipo total ou simples – Ressecção exclusiva da mama. Poupadora de pele; Poupadora de pele e mamilo: Expansor de tecidos; Prótese expansora; Prótese anatômica; Retalho miocutâneo. TRATAMENTO COMPLEMENTAR DO CÂNCER DE MAMA O tratamento complementar do câncer de mama invasor (ou infiltrante) compreende o uso de terapêuticas locais e sistêmicas que, associadas ao procedimento cirúrgico, acrescentam potencial significativo de benefícios à paciente, resultando em maior SLD e maior SG. Dessa forma, os usos de quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia serão abordados em pacientes sem evidência clínica de metástases à distância. QUIMIOTERAPIA ADJUVANTE Indicada em pacientes após a cirurgia, sem evidência de doença e consideradas “curadas”. Apresentam, após a utilização de quimioterapia, significativa melhora no intervalo livre de doença e, até mesmo, redução nas taxas de mortalidade. HORMONIOTERAPIA ADJUVANTE É o tratamento indicado para as pacientes que apresentam positividade na identificação dos RHs em células do tumor. Trata-se de uma proteína presente no citoplasma das células responsável pela transferência de informações ao núcleo, favorecendo a duplicação das células. Os RHs são para o estrogênio (REs) ou para a progesterona (RPs). Pacientes pré-menopausa e pós-menopausa com REpositivo e/ou RP-positivo deverão receber bloqueio hormonal após o tratamento com quimioterapia, caso tenham recebido. TERAPIA NEOADJUVANTE Também conhecida como primária ou pré-operatória, é indicada nos casos de CMLAs, inoperáveis ou não, e/ou em pacientes em que se vislumbre o tratamento conservador com diminuição do volume tumoral. RADIOTERAPIA ADJUVANTE O uso da radioterapia local adjuvante é hoje bem conhecido e estabelecido, criteriosamente, no tratamento do câncer de mama. Sua utilização está associada a um importante controle local e à diminuição das taxas de recidivas. A indicação mais comum está associada ao tratamento conservador da mama, ou seja, todas as pacientes que fazem tratamento conservador recebem radioterapia adjuvante. Recebem uma dose distribuída pelo tecido mamário com reforço adicional no leito tumoral, chamado de boost . Esse procedimento reduz a chance de recidiva local e é realizado após a irradiação global da mama a ser tratada. HIERARQUIA PARA INDICAÇÃO DE ADJUVÂNCIA Pacientes que necessitem de quimioterapia devem recebê-la prioritariamente. A aplicação da radioterapia vem a seguir, podendo ser concomitante com a hormonioterapia, mas muitos serviços preferem aguardar o término da radioterapia para iniciar o bloqueio hormonal. Nos casos de reconstrução mamária com uso de expansor tecidual, o processo de expansão deverá ser concluído antes do início da radioterapia.
Compartilhar