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@resumosdamed_ 1 DOR CLASSIFICAÇÃO TEMPORAL DA DOR: AGUDA E CRÔNICA. A dor é classificada em dois tipos principais: dor rápida (ou dor pontual, dor em agulhada, dor aguda e dor elétrica) e dor lenta (ou dor em queimação, dor persistente, dor pulsátil, dor nauseante e dor crônica). A dor rápida é sentida 0.1 segundo, após a aplicação de um estímulo doloroso, sendo sentida quando a agulha é introduzida na pele, quando a pele é cortada por faca, quando a pele é agudamente queimada ou quando a pele é submetida a choque elétrico. A dor pontual rápida não é sentida nos tecidos mais profundos do corpo. Enquanto isso, a dor lenta começa somente após 1 segundo ou mais, aumentando lentamente durante vários segundos, e, algumas vezes, durante minutos, esse tipo de dor geralmente está associado à destruição tecidual e pode levar ao sofrimento prolongado e quase insuportável, podendo ocorrer na pele e em quase todos os órgãos ou tecidos profundos. A dor aguda tem função de alerta, segue a lesão tecidual e geralmente desaparece com a resolução do processo patológico. Quando o processo patológico persiste pode se tornar crônica. As suas fibras (A) são mielínicas e rápidas A dor crônica é associada a dano tecidual prolongado, processos patológicos crônicos ou injúria no SNC ou SNP. Resulta de mudanças complexas na via nociceptiva incluindo mudança na expressão de receptores, transmissores e canais iônicos. Suas fibras (C) são amielínicas e lentas. CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA (PATOGÊNESE): NOCICEPTIVA, NÃO-NOCICEPTIVA (NEUROPÁTICA E PSICOGÊNICA), MISTA E DISFUNCIONAL. NOCICEPTIVA O nervo periférico é constituído de axônios de três tipos diferentes de neurônio: sensitivos aferentes primários, neurônios motores e neurônios pós- ganglionares simpáticos. Os corpos celulares dos sensitivos aferentes primários localizam-se nos gânglios das raízes dorsais nos forames vertebrais. O axônio aferente primário possui dois ramos: um se projeta centralmente para a medula espinal e o outro em sentido periférico para inervar os tecidos. Os aferentes primários são classificados com base no seu diâmetro, grau de mielinização e velocidade de condução. As fibras aferentes de maior diâmetro, A-beta (Aβ), respondem em grau máximo a estímulos de tato e/ou de movimento leves, sendo encontradas principalmente nos nervos que suprem a pele. Nos indivíduos normais, a atividade dessas fibras não provoca dor. Existem duas outras classes de fibras nervosas aferentes primárias: os axônios mielinizados de pequeno diâmetro A-delta (Aδ) e os axônios não mielinizados (C). Essas fibras são encontradas nos nervos que suprem a pele e as estruturas somáticas e viscerais profundas. Alguns tecidos, como a córnea, são inervados apenas por fibras aferentes Aδ e C. Em sua maioria, as fibras aferentes Aδ e C respondem em grau máximo apenas a estímulos intensos (dolorosos) e, quando estimuladas eletricamente, produzem a experiência subjetiva da dor, característica que as define como nociceptores (receptores para dor) aferentes primários. A capacidade de detectar estímulos dolorosos é totalmente abolida quando a condução pelas fibras axônicas Aδ e C é bloqueada. Obs.: O histograma de distribuic ̧ão das velocidades de conduc ̧ão tem quatro picos: as fibras condutoras mais lentas são amielinizadas e designadas por C, enquanto as fibras mielinizadas condutoras mais rápidas são designadas por A, A e A. @resumosdamed_ 2 Os fisiologistas distinguem entre dor e nocicepça ̃o, onde a nocicepção se refere aos sinais que chegam ao sistema nervoso central (SNC) resultante da ativac ̧ão dos receptores sensoriais especializados, chamados nociceptores, que fornecem informac ̧ões sobre a lesão tecidual. Consequentemente a dor uma experie ̂ncia emocional desagradável que geralmente acompanha a nocicepc ̧ão. Quatro classes de nociceptores: mecânicos, térmicos, polimodais e silenciosos. NÃO-NOCICEPTIVA DOR NEUROPÁTICA A dor pode ser produzida por lesão do sistema nervoso central (SNC), por exemplo, em alguns pacientes após traumatismo ou lesão vascular da medula espinal, tronco encefálico ou regiões talâmicas contendo as vias nociceptivas. Essas dores são chamadas neuropáticas e com frequência são graves e caracteristicamente resistentes aos tratamentos convencionais. A dor neuropática tem um caráter incomum, sendo descrita como em queimação, formigamento ou semelhante a um choque elétrico, podendo ocorrer espontaneamente, sem qualquer estímulo ou ser desencadeada por um toque muito leve. Essas características são raras em outros tipos de dor. Ao exame físico, é característica a presença de déficit sensitivo na área de dor do paciente. A hiperpatia, uma resposta muito exagerada à dor produzida por estímulos inócuos ou nociceptivos leves, especialmente quando aplicados repetidamente, também é característica da dor neuropática; com frequência, os pacientes queixam-se de que estímulos produzidos por movimentos muito suaves provocam dor intensa (alodinia). Diversos mecanismos contribuem para a dor neuropática. A exemplo dos nociceptores aferentes primários sensibilizados, os aferentes primários lesados, incluindo nociceptores, tornam-se altamente sensíveis à estimulação mecânica e podem começar a gerar impulsos na ausência de estímulos. O aumento de sensibilidade e de atividade espontânea ocorre, em parte, pela maior concentração dos canais de sódio na fibra nervosa danificada. Os aferentes primários lesados também podem desenvolver sensibilidade à norepinefrina. Curiosamente, os neurônios medulares transmissores da dor, mesmo isolados de seus impulsos aferentes normais, também podem se tornar espontaneamente ativos. Por conseguinte, a hiperatividade de ambos os sistemas nervosos central e periférico contribui para a dor neuropática. DOR PSICOGÊNICA: Dor associada a transtornos mentais. Não tem substrato orgânico, sendo gerada por mecanismos psíquicos, tendendo a ser difusa e imprecisa. DOR MISTA Dor mista é uma associação de características causadas por dores nociceptivas (inflamatórias); neuropáticas (que afetam o sistema nervoso central) e nociplásticas (decorrente da nocicepção alterada). Ocorre em pacientes que apresentam clinicamente uma sobreposição substancial de sintomas nociceptivos e neuropáticos na mesma área do corpo. É uma dor persistente, que apresenta outros sintomas em conjunto, como formigamento ou dormência. @resumosdamed_ 3 É comum em pacientes com tumores, que por seu crescimento podem provocar inflamação, compreensão e destruição de estruturas, originando uma dor de múltiplas características e que necessite de uma correta associação de drogas para seu controle. DOR DISFUNCIONAL A dor disfuncional ocorre quando há alterações neuroquímicas em vias que levam os estímulos sensitivos até a medula e cérebro e naquelas envolvidas na modulação do processo doloroso. Não há lesão de tecido neurológico (isso ocorre na dor neuropática). O exemplo típico é a fibromialgia. Dor crônica disseminada e sintomas múltiplos como fadiga, insônia CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM: SOMÁTICA (SUPERFICIAL E PROFUNDA), VISCERAL, REFERIDA E IRRADIADA. SOMÁTICA Superficial: nocioceptores do tegumento, bem localizada, qualidade distinta, intensidade proporcional ao estímulo. Profunda: nocioceptores dos músculos, fáscias, tendões e ligamentos e articulações, mais difusa e de localização imprecisa. VISCERAL A dor visceral costuma ser mal localizada e frequentemente é atribuída a estruturas profundas, como os intestinos (p. ex., prisão de ventre, apendicite inicial) DOR REFERIDA A dor referida é quando a pessoa sente dor em uma parte do corpo que fica distante do tecido causador da dor. Mecanismo: fibras da dor visceral fazem sinapse na medula espinal nos mesmos neurônios de segundaordem que recebem sinais dolorosos da pele. Quando as fibras viscerais para a dor são estimuladas, os sinais dolorosos das vísceras são conduzidos por alguns dos mesmos neurônios que conduzem os sinais dolorosos da pele, e a pessoa tem a impressão de que as sensações se originam na pele. Exemplo: dor em órgãos viscerais geralmente é referida à área na superfície do corpo. DOR IRRADIADA Dor sentida à distância de sua origem, mas em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação é responsável pela dor. Como exemplo, a ciatalgia provocada pela compressão de uma raiz nervosa por hérnia de disco lombar. A pessoa sente dor em todo o trajeto do nervo. Apesar de possuir muitas das características da dor referida, ela difere quanto a intensidade, aos fatores agravantes e atenuantes e ao tipo de disseminação. TIPOS DE ESTÍMULOS DA DOR - MECÂNICO, TÉRMICO E QUÍMICO – RESULTADO DE LESÃO TECIDUAL COMO POTÁSSIO OU OUTRAS SUBSTÂNCIAS INTRACELULARES OU RESULTADO DE PROCESSO INFLAMATÓRIO COMO PROSTAGLANDINAS, BRADICININA, CITOCINAS, LEUCOTRIENOS, SEROTONINA, HISTAMINA E ENZIMAS PROTEOLÍTICAS: Os receptores para dor na pele e em outros tecidos são terminações nervosas livres. Eles existem dispersos nas camadas superficiais da pele, bem como em certos tecidos internos, como o periósteo, as paredes das artérias, as superfícies articulares e a foice e o tentório da abóbada craniana. A maioria dos outros tecidos profundos está esparsamente suprida com terminações nervosas para a dor; porém, lesões teciduais extensas podem se somar e causar dor lenta e crônica na maioria dessas áreas. TRÊS TIPOS DE ESTÍMULOS EXCITAM OS RECEPTORES PARA DOR —MECÂNICOS, TÉRMICOS E QUÍMICOS: @resumosdamed_ 4 A dor pode ser desencadeada por diversos tipos de estímulos que são classificados como estímulos dolorosos mecânicos, térmicos e químicos. Em geral, a dor rápida é desencadeada por tipos de estímulos mecânicos e térmicos, enquanto a dor crônica pode ser desencadeada pelos três tipos de estímulo. Algumas das substâncias que excitam o tipo químico de dor são: bradicinina, serotonina, histamina, íons potássio, ácidos, acetilcolina enzimas proteolíticas. Além disso, as prostaglandinas e a substância P aumentam a sensibilidade das terminações nervosas, mas não excitam diretamente essas terminações. As substâncias químicas são, de modo especial, importantes para a estimulação do tipo de dor lenta e persistente que ocorre após lesão tecidual. NATUREZA NÃO ADAPTATIVA DOS RECEPTORES PARA DOR: Ao contrário da maioria dos outros receptores do corpo, os receptores para dor se adaptam muito pouco e algumas vezes não se adaptam. De fato, em certas circunstâncias, a excitação das fibras dolorosas fica progressivamente maior, à medida que o estímulo persiste, em especial para a dor lenta persistente nauseante. Esse aumento da sensibilidade dos receptores para dor é chamado hiperalgesia. Pode-se compreender prontamente a importância dessa ausência de adaptação dos receptores para dor, pois isso possibilita que a pessoa fique ciente da presença de estímulo lesivo, enquanto a dor persistir. INTENSIDADE DO DANO TECIDUAL COMO ESTÍMULOPARA A DOR: A pessoa comum começa a sentir dor quando a pele é aquecida acima de 45°C. Essa é também a temperatura na qual os tecidos começam a ser lesados pelo calor; na verdade, os tecidos são enfim destruídos se a temperatura permanecer acima desse nível indefinidamente. Portanto, é evidente que a dor secundária ao calor está intimamente relacionada à intensidade em que ocorre o dano aos tecidos e não ao dano total que já ocorreu. A intensidade da dor também está intimamente relacionada à intensidade do dano tecidual, por causas diferentes do calor, como infecção bacteriana, isquemia dos tecidos, contusão dos tecidos e outras. IMPORTÂNCIA ESPECIAL DOS ESTÍMULOS DOLOROSOS QUÍMICOS DURANTE O DANO TECIDUAL: Extratos dos tecidos lesionados podem causar dor intensa, quando são injetados sob a pele normal. A maior parte das substâncias químicas, que excitam os receptores químicos para dor, pode ser encontrada nesses extratos. A bradicinina é uma substância que parece induzir a dor de modo mais acentuado do que as outras substâncias. Os pesquisadores sugeriram que a bradicinina poderia ser a principal responsável pela indução da dor após dano tecidual. Além disso, a intensidade da dor se relaciona ao aumento local da concentração do íon potássio ou à elevação da concentração de enzimas proteolíticas, que atacam diretamente as terminações nervosas e estimulam a dor por fazer as membranas nervosas mais permeáveis aos íons. ISQUEMIA TECIDUAL COMO CAUSA DA DOR: Quando o fluxo sanguíneo para um tecido é bloqueado, o tecido em geral fica muito dolorido em poucos minutos. Quanto maior for a intensidade do metabolismo desse tecido, mais rapidamente a dor aparece. Por exemplo, se o manguito de um esfigmomanômetro for colocado ao redor do braço e for inflado até a interrupção do fluxo sanguíneo, o exercício dos músculos do antebraço algumas vezes pode causar dor em 15 a 20 segundos. Na ausência de exercício muscular, a dor pode não aparecer antes de 3 a 4 minutos, mesmo que o fluxo sanguíneo para o músculo permaneça zero. Uma das causas sugeridas para a dor, durante a isquemia, é o acúmulo de grande quantidade de ácido lático nos tecidos, formada em consequência do metabolismo anaeróbico (isto é, metabolismo sem oxigênio). Também é provável que outros agentes químicos, como a bradicinina e as enzimas proteolíticas, sejam formados nos tecidos por causa do dano celular, e que a presença desses agentes, com o ácido lático, estimule as terminações nervosas para a dor. ESPASMO MUSCULAR COMO CAUSA DA DOR: O espasmo muscular também é causa comum de dor, sendo a base de muitas síndromes clínicas dolorosas. Essa dor provavelmente resulta, em parte, do efeito direto do espasmo muscular na estimulação de receptores @resumosdamed_ 5 para dor do espasmo também pode resultar de efeito indireto do espasmo muscular comprimindo vasos sanguíneos e levando à isquemia. Além disso, o espasmo aumenta a intensidade do metabolismo do tecido muscular, tornando a isquemia relativa ainda maior e criando condições ideais para a liberação de substâncias químicas indutoras da dor. PROCESSO DE TRANSMISSÃO DA DOR, DESDE OS NOCICEPTORES PERIFÉRICOS (MECÂNICOS, TÉRMICOS OU QUÍMICOS), NEUROTRANSMISSÃO (FIBRAS NERVOSAS ENVOLVIDAS – A DELTA E C), VIAS NERVOSAS PERIFÉRICAS (RÁPIDA OU TRATO TORNANDO A E LENTA OU TRATO PALEOESPINOTALÂMICO) E VIAS NERVOSAS CENTRAIS (TÁLAMO, FORMAÇÃO RETICULAR DO TRONCO CEREBRAL, CÓRTEX SOMATOSSENSOR, GIRO DO CÍNGULO - SISTEMA LÍMBICO): VIAS DUPLAS PARA A TRANSMISSÃO DOS SINAIS DOLOROSOS AO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: Apesar de todos os receptores para a dor serem terminações nervosas livres, essas terminações utilizam duas vias separadas para a transmissão de sinais dolorosos para o sistema nervoso central. As duas vias correspondem principalmente aos dois tipos de dor — uma via para a dor pontual rápida e uma via para a dor lenta crônica. FIBRAS DOLOROSAS PERIFÉRICAS — FIBRAS “RÁPIDAS” E “LENTAS”: Os sinais dolorosos pontuais rápidos são desencadeados por estímulos mecânicos ou térmicos. Eles são transmitidos pelos nervos periféricos para a medula espinal por meio de fibras Ad do tipo pequeno, com velocidade entre 6 e 30 m/s. Inversamente, o tipo de dor lenta crônica é desencadeado principalmente por estímulos dolorosos do tipo químico, mas, algumas vezes, por estímulos mecânicos ou térmicos persistentes. Essa dor lenta crônica é transmitida para a medula espinal por fibras tipo C, com velocidades entre 0,5 e 2 m/s. Devido a este sistema duplo de inervação para a dor, o estímulo doloroso súbito, em geral, causa sensação dolorosa “dupla”: dor pontualrápida que é transmitida para o cérebro pela via de fibras Ad, seguida, em 1 segundo ou mais, por uma dor lenta transmitida pela via das fibras C. A dor pontual avisa a pessoa rapidamente sobre o perigo e, portanto, desempenha papel importante na reação imediata do indivíduo para se afastar do estímulo doloroso. A dor lenta tende a aumentar com o passar do tempo. Essa sensação, por fim, produz dor intolerável e faz com que a pessoa continue tentando aliviar a causa da dor. Ao entrarem na medula espinal, vindas pelas raízes espinais dorsais, as fibras da dor terminam em neurônios-relé nos cornos dorsais. Aí novamente existem dois sistemas para o processamento dos sinais dolorosos em seu caminho para o encéfalo. VIAS DUPLAS PARA DOR NA MEDULA ESPINAL E NO TRONCO CEREBRAL — O TRATO NEOESPINOTALÂMICO E O TRATO PALEOESPINOTALÂMICO: Ao entrar na medula espinal, os sinais dolorosos tomam duas vias para o encéfalo, pelo (1) trato neoespinotalâmico; e (2) o trato paleoespinotalâmico. Trato Neoespinotalâmico para Dor Rápida: as fibras dolorosas Ad do tipo rápido transmitem principalmente as dores mecânica e térmica agudas. @resumosdamed_ 6 Elas terminam, em sua maioria, na lâmina I (lâmina marginal) dos cornos dorsais e excitam os neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalâmico. Esses neurônios de segunda ordem dão origem às fibras longas que cruzam imediatamente para o lado oposto da medula espinal pela comissura anterior e depois ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais. Terminação do Trato Neoespinotalâmico no Tronco Cerebral e no Tálamo: algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral, mas a maioria segue até o tálamo sem interrupção, terminando no complexo ventrobasal com o trato da coluna dorsal– lemnisco medial para sensações táteis. Algumas fibras terminam também no grupo nuclear posterior do tálamo. Dessas áreas talâmicas, os sinais são transmitidos para outras áreas basais do encéfalo, bem como para o córtex somatossensorial. Capacidade do Sistema Nervoso Central em Localizar a Dor Rápida no Corpo: a dor pontual rápida pode ser localizada com muito mais precisão nas diferentes partes do corpo do que a dor crônica lenta. Entretanto, quando somente são estimulados os receptores para dor, sem a estimulação simultânea dos receptores táteis, mesmo a dor rápida pode ser mal localizada, em geral, dentro de 10 centímetros da área estimulada. Quando os receptores táteis que excitam o sistema da coluna dorsal– lemnisco medial são estimulados simultaneamente, a localização pode ser quase exata. Glutamato, o Provável Neurotransmissor das Fibras Dolorosas Rápidas do Tipo Ad: acredita-se que o glutamato seja a substância neurotransmissora secretada nas terminações nervosas para a dor do tipo Ad da medula espinal. O glutamato é um dos transmissores excitatórios mais amplamente utilizados no sistema nervoso central, em geral com duração de ação de apenas alguns milissegundos. Via Paleoespinotalâmica para a Transmissão da Dor Crônica Lenta: a via paleoespinotalâmica é um sistema muito mais antigo e transmite dor sobretudo por fibras periféricas crônicas lentas do tipo C, apesar de transmitir alguns sinais das fibras do tipo Ad também. Nessa via, as fibras periféricas terminam na medula espinal quase inteiramente nas lâminas II e III dos cornos dorsais, que, em conjunto, são referidas como substância gelatinosa, pelas fibras da raiz dorsal do tipo C mais laterais. Em seguida, a maior parte dos sinais passa por um ou mais neurônios de fibra curta, dentro dos cornos dorsais propriamente ditos, antes de entrar principalmente na lâmina V, também no corno dorsal. Aí, os últimos neurônios da série dão origem a axônios longos que se unem, em sua maioria, às fibras da via de dor rápida, passando primeiro pela comissura anterior para o lado oposto da medula e depois para cima, em direção do encéfalo, pela via anterolateral. Substância P, o Provável Neurotransmissor Crônico Lento das Terminações Nervosas do Tipo C: pesquisas sugerem que os terminais de fibras para dor do tipo C que entram na medula espinal liberam tanto o neurotransmissor glutamato quanto a substância P. O glutamato atua instantaneamente e persiste apenas por alguns milissegundos. A substância P é liberada muito mais lentamente, com sua concentração aumentando em período de segundos ou mesmo minutos. De fato, foi sugerido que a sensação “dupla” de dor, sentida após agulhada, resulte parcialmente do fato do neurotransmissor glutamato gerar sensação de dor rápida, enquanto o neurotransmissor substância P gera sensação mais duradoura. A despeito de detalhes ainda não conhecidos, parece claro que o glutamato é o neurotransmissor mais envolvido na transmissão da dor rápida para o sistema nervoso central, e a substância P está relacionada à dor crônica lenta. Projeção da Via Paleoespinotalâmica (Sinais Dolorosos Crônicos Lentos) para o Tronco Cerebral e o Tálamo: a via paleoespinotalâmica crônica lenta termina, de modo difuso, no tronco cerebral, na grande área sombreada. Somente entre um décimo e um quarto das fibras ascende até o tálamo. A maioria das fibras termina em uma entre três áreas: (1) nos núcleos reticulares do bulbo, da ponte e do mesencéfalo; (2) na área tectal do mesencéfalo profundamente até os colículos superior e inferior; ou (3) na região cinzenta periaquedutal, que circunda o aqueduto de Sylvius. Essas regiões basais do encéfalo parecem ser importantes para o tipo de sofrimento da dor, pois animais cujos cérebros foram seccionados acima do mesencéfalo, para bloquear os sinais de dor que chegam ao cérebro, ainda demonstram evidências inegáveis de sofrimento quando qualquer @resumosdamed_ 7 parte do corpo é traumatizada. De áreas do tronco cerebral, vários neurônios de fibras curtas transmitem sinais ascendentes da dor pelos núcleos intralaminar e ventrolateral do tálamo e em direção de certas regiões do hipotálamo e outras regiões basais do encéfalo. Capacidade Fraca do Sistema Nervoso de Localizar Precisamente a Fonte de Dor Transmitida pela Via Crônica Lenta: a localização da dor transmitida pela via paleoespinotalâmica é imprecisa. Por exemplo, a dor crônica lenta em geral só pode ser localizada em uma parte principal do corpo, como no braço ou na perna, mas não em ponto específico do braço ou da perna. Isso se deve à conectividade multissináptica difusa dessa via. Esse fenômeno explica porque os pacientes, em geral, têm sérias dificuldades em localizar a fonte de alguns tipos de dor crônica. Função da Formação Reticular, Tálamo e Córtex Cerebral na Avaliação da Dor: a remoção completa das áreas somatossensoriais do córtex cerebral não evita a percepção da dor. Portanto, é provável que os impulsos dolorosos que cheguem à formação reticular do tronco cerebral, do tálamo e outras regiões inferiores do encéfalo causem percepção consciente de dor. Isso não significa que o córtex cerebral não tenha relação com a avaliação normal da dor; o estímulo elétrico das áreas somatossensoriais corticais faz com que o ser humano perceba dor leve em cerca de 3% dos pontos estimulados. Entretanto, acredita-se que o córtex desempenhe papel especialmente importante na interpretação da qualidade da dor, mesmo que a percepção da dor seja função principalmente dos centros inferiores. Capacidade Especial dos Sinais Dolorosos em Desencadear uma Excitabilidade Geral do Cérebro: a estimulação elétrica das áreas reticulares do tronco cerebral e dos núcleos intralaminares do tálamo, áreas onde terminam os sinais da dor lenta, tem forte efeito de alerta sobre a atividade neural de todo o encéfalo. De fato, essas duas áreas constituem parte do principal “sistema de alerta”, que será discutido no Capítulo 60. Isso explica porque é quase impossívelpara a pessoa dormir nos casos de dor grave. Interrupção Cirúrgica das Vias Dolorosas: quando a pessoa apresenta dor grave e intratável (algumas vezes, resultante de câncer de disseminação rápida), é necessário aliviar a dor. Para proporcionar alívio da dor, as vias neurais da dor podem ser cortadas em um entre vários pontos. Se a dor se localizar na parte inferior do corpo, a cordotomia, na região torácica da medula espinal, em geral alivia a dor durante algumas semanas ou meses. Para realizar uma cordotomia, a medula espinal, no lado oposto ao da dor, é parcialmente cortada em seu quadrante anterolateral para interromper a via sensorial anterolateral. A cordotomia nem sempre é bem-sucedida no alívio da dor por dois motivos. Primeiro, muitas fibras dolorosas, da parte superior do corpo, não cruzam para o lado oposto da medula espinal até que tenham atingido o encéfalo, de modo que a cordotomia não transecciona essas fibras. Segundo, a dor com frequência retorna vários meses depois, em parte, como resultado da sensibilização de outras vias que normalmente são muito fracas para serem eficientes (p. ex., vias esparsas na medula espinal dorsolateral). Outro procedimento cirúrgico experimental para aliviar a dor é a cauterização de áreas dolorosas específicas nos núcleos intralaminares no tálamo, o que geralmente alivia os tipos de dor crônica, mantendo intacta a avaliação da dor “aguda”, importante mecanismo protetor. MECANISMOS PERIFÉRICOS DA DOR: Os receptores da dor distribuem-se por praticamente todos os tecidos do organismo. Uma notável exceção é o sistema nervoso central. Não há nociceptores no tecido nervoso, embora eles estejam presentes nos vasos sanguíneos cerebrais mais calibrosos e nas meninges que circundam o SNC. Essa característica é que permitiu a Penfield estimular eletricamente pacientes operados sob anestesia local do crânio e das meninges e mantê- los acordados para analisar sua resposta à estimulação. Com a exceção do tecido nervoso, os nociceptores estão presentes em todos os tecidos: na superfície cutânea, na parede das vísceras ocas, no parênquima das vísceras sólidas, na vasculatura, nos ossos e nas articulações, na córnea, nas raízes dentárias. Há nociceptores para diferentes estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. Não há nociceptores para luz, embora algumas fontes muito intensas provoquem dor pela ação do calor que emitem junto com a luz. "Luz fria" intensa pode lesar a retina sem a ocorrência de dor, embora esta apareça posteriormente junto com os processos inflamatórios consequentes à lesão. @resumosdamed_ 8 Sons muito intensos podem provocar dor porque a forte vibração mecânica que produzem atinge os nociceptores situados nas estruturas vibráteis do ouvido. A auto-observação é suficiente para identificarmos dois tipos de dor. Pense no que acontece quando alguém pressiona a sua pele com uma agulha. Aparece uma dor aguda que você localiza pronta e precisamente. Se a agulha é pressionada com mais força, e efetivamente fere a pele, a sua retirada não impede a ocorrência de um segundo tipo de dor que se prolonga durante um certo tempo, tanto maior quanto maior a gravidade do ferimento. O primeiro tipo chama-se dor rápida ou aguda, porque cessa com a interrupção do estímulo. O segundo chama-se dor lenta ou crônica, que ocorre pelo disparo de reações inflamatórias no tecido ferido, mesmo após a interrupção do estímulo inicial. Os neurocientistas verificaram que cada um desses dois tipos de dor envolve mecanismos celulares diferentes e é veiculado por diferentes receptores e vias ascendentes. A dor rápida consiste principalmente na ativação de terminações livres de fibras do tipo A gama (finas, com pouca mielina e velocidade média-baixa de condução de PAs, por volta de 20 m/s). Algumas dessas terminações livres podem ser sensíveis a estímulos mecânicos (como no exemplo da agulha), outras a estímulos térmicos (se a agulha estiver muito quente), outras a ambos (terminações bimodais). Em todos os casos ocorrerá um potencial receptor nas extremidades livres, e estes serão codificados em salvas de potenciais de ação conduzidos ao longo das fibras A gama através dos nervos espinhais até a medula, ou através dos ramos do trigêmeo em direção ao tronco encefálico. A dor lenta é mais complexa. Como é provocada por lesão dos tecidos que circundam os nociceptores, ocorrem diversos fenômenos celulares que acentuam e prolongam a dor. Imagine um instrumento cortante que perfura a pele. Haverá sangramento e, portanto, anóxia do tecido nutrido pelos vasos que se romperam. Ocorre também lesão celular e depois inflamação. Além de células vermelhas (hemácias), o sangramento liberará no tecido células brancas do sangue (leucócitos), dentre eles os mastócitos, que produzem e secretam substâncias algogênicas (i. e., que provocam dor), como a serotonina (5-HT) e a histamina. As próprias células lesadas do tecido atingido (a pele, em nosso exemplo) também liberam substâncias fortemente algogênicas, como o peptídeo bradicinina, e substâncias irritantes, como os derivados do ácido araquidônico (as prostaglandinas), que por si sós não são algogênicas, mas que potenciam a ação das primeiras. Os nociceptores ativados por esse coquetel de substâncias liberadas pela ação lesiva da agulha são principalmente terminações livres de fibras do tipo C (as mais finas de todas, amielinicas e com baixa velocidade de condução de PAs, em tomo de 2 m/s). Tanto as agulhas, diretamente, como as substâncias químicas liberadas após a lesão, ativam ou sensibilizam os nociceptores do tipo C, que são comumente polimodais, ou seja, sensíveis a mais de um tipo de estímulo. A simples sensibilização dos nociceptores, isto é, uma leve despolarização de seu potencial de repouso, aproximando-o do limiar de disparo de potenciais de ação, faz com que qualquer estímulo normalmente inócuo passe a provocar dor. É o fenômeno da hiperalgesia, que todos sentimos em uma região inflamada, como uma espinha ou um furúnculo, ou na pele que se toma dolorida aos menores estímulos após uma queimadura do sol de verão. Essa percepção exacerbada de dor decorre da sensibilização dos receptores moleculares situados nos terminais sensitivos (sensibilização periférica) ou então dos receptores sinápticos no como dorsal da medula (sensibilização central). A sensibilização periférica resulta da ação aditiva dos estímulos termoalgésicos e das substâncias liberadas pela reação inflamatória. Cada um desses estímulos, fortes ou fracos, químicos, térmicos ou mecânicos, provoca a abertura de diferentes canais iônicos, gerando potenciais receptores posteriormente codificados em salvas de potenciais de ação. Estes, finalmente, são conduzidos em direção ao SNC. E mais: a despolarização dos nociceptores provoca a secreção - pelas próprias terminações nervosas periféricas - de prostaglandinas e neuropeptídeos com ação vasodilatadora local, que acentuam a vermelhidão e o edema, prolongando a dor. Esta ação neurossecretora resulta na reação inflamatória neurogênica que acompanha a reação inflamatória primária causada pelo primeiro estímulo lesivo sobre o tecido (a penetração da agulha). Aliás, é justamente aí que atua a aspirina, inibindo a enzima ciclo- oxigenase, responsável pela síntese das prostaglandinas. A baixa velocidade de condução dos impulsos nervosos pelas fibras C e a reação @resumosdamed_ 9 inflamatória que se segue à lesão do tecido contribuem para o caráter "lento" do tipo de dor que essas fibras veiculam. A sensibilização central provoca o fenômeno da alodínia, que vem a ser a indução de dor por estímulos que em geral são inócuos, sem que haja necessariamente inflamação periférica. A forma mais simples de sensibilização central advém da estimulação repetitiva de nociceptores, que provoca somação pós-sinápticana medula espinhal, potenciais póssinápticos maiores, e ativação dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA, que amplificam a transmissão sináptica. A forma mais complexa e duradoura de alodínia é provocada por um fenômeno semelhante à potenciação de longa duração, que ativa a expressão gênica provocando aumento da síntese da enzima ciclo-oxigenase (COX), e assim uma maior secreção de prostaglandinas. À medida que o tecido ferido cicatriza, a sensibilização declina e o limiar da dor retoma aos níveis pré-lesionais. Em certas condições patológicas, entretanto, os próprios neurônios nociceptivos são atingidos, como ocorre no diabetes, AIDS, esclerose múltipla e em acidentes vasculares, resultando em dor neuropática, uma experiência dolorosa crônica, intensa e de difícil tratamento, durante a qual o paciente sente dor até mesmo provocada pelas roupas que veste. VIAS ASCENDENTES E MECANISMOS CENTRAIS DA DOR: Uma vez estimulados química, mecânica ou termicamente, os nociceptores produzem potenciais receptores como todos os demais receptores sensoriais, e esses são codificados em salvas de potenciais de ação na membrana vizinha à extremidade especializada na transdução. Tanto as fibras A gama como as fibras C se incorporam aos nervos periféricos, terminando por penetrar na medula através dos nervos espinhais e no tronco encefálico através de alguns nervos cranianos, principalmente o trigêmeo. Ao entrar pelas raízes dorsais, essas fibras se ramificam e distribuem ramos ascendentes e descendentes que penetram no como dorsal em vários segmentos medulares. Essa divergência multissegmentar das fibras nociceptivas é mais uma característica que confere à dor um baixo poder de localização. Os corpos dos neurônios primários da dor localizam-se - como em todas as demais submodalidades somestésicas - nos gânglios espinhais e no gânglio trigêmeo. A maioria dos neurônios de segunda ordem, entretanto, situa-se em diversas lâminas do como dorsal da medula e no núcleo espinhal do trigêmeo, onde recebem as sinapses excitatórias (geralmente glutamatérgicas) dos aferentes de primeira ordem e de outros aferentes, formando aí pequenos circuitos locais de grande importância para a percepção final da dor. Do mesmo modo que no caso da termossensibilidade, muitos aferentes primários da dor fazem sinapses especificamente com neurônios da lâmina I da medula, no como dorsal, integrando também o sistema somestésico interoceptivo. Os neurônios de segunda ordem da dor emitem axônios dentro da medula que cruzam para o lado oposto, nos mesmos segmentos em que entraram os aferentes primários, e se incorporam aos feixes espinotalâmicos situados na coluna anterolateral da medula, que carreiam também algumas fibras do tato e as da termossensibilidade. Os feixes espinotalâmicos ascendem por toda a medula até o tronco encefálico, onde se encontram com as fibras nociceptivas de segunda ordem do núcleo espinhal do trigêmeo para formar o lemnisco espinhal. Até este ponto, as fibras da dor rápida (principalmente A gama) estão misturadas às da dor lenta (principalmente C), embora alguns anatomistas façam distinção entre um feixe chamado neospinotalâmico ou espinotalâmico lateral, que conduziria ao tálamo os impulsos nociceptivos da dor rápida, e outro chamado paleospinotalâmico ou espinotalâmico medial, que conduziria os impulsos nociceptivos da dor lenta ao tálamo passando através da formação reticular. Outras fibras desse sistema nociceptivo mais antigo terminariam em regiões do tronco encefálico (formação reticular, núcleo parabraquial e grísea periaquedutal) encarregadas de promover reações comportamentais e fisiológicas à dor. O fato é que os impulsos da dor rápida são veiculados diretamente a dois núcleos talâmicos (posterior e ventral posterior), onde estão os neurônios de terceira ordem, cujos axônios projetam às áreas corticais SI e S2. A via "direta" da dor rápida (apenas três neurônios e duas sinapses antes do córtex) explica as suas características fisiológicas @resumosdamed_ 10 principais: estrita correlação com o estímulo e precisa localização espacial. Essas características fazem com que a dor rápida consista em um sistema de sinalização de maior velocidade, capaz de ativar reflexos que possam contribuir para afastar o organismo do estímulo nocivo que a provocou. PROCESSO DE MODULAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOLOROSA E SISTEMAS ANALGÉSICOS ENDÓGENOS (VIAS DE LIBERAÇÃO DE ENCEFALINAS E ENDORFINAS): Uma observação cotidiana de todas as pessoas é que a percepção da dor depende do contexto psicológico e social em que ela é provocada, e que em certa medida a sua intensidade pode ser autocontrolada. Há inúmeros exemplos disso, e vários estudos científicos sérios que os validam. Soldados feridos durante uma batalha sentem menos dor do que indivíduos com ferimentos semelhantes ocorridos em situações domésticas. É que a motivação para lutar ou a expectativa de ser removido do campo de batalha são fatores psicológicos atenuadores da experiência dolorosa. Pessoas submetidas à dor crônica podem melhorar consideravelmente quando passam por sessões de hipnose, e esse efeito pode ser comprovado em estudos científicos cuidadosos. É o conhecido efeito placebo, o mesmo que faz com que a administração de substâncias inócuas a pacientes com dor provoque melhora às vezes até maior que a administração de medicamentos analgésicos. Já se sabe que o efeito placebo não é uma mera "sugestão" psicológica, pois pode ser abolido por certas substâncias que interferem com os mecanismos endógenos de controle da dor. Existem então mecanismos analgésicos endógenos, ou seja, um sistema de regiões neurais conectadas às vias aferentes nociceptivas, que modulam, ou bloqueiam completamente, a passagem das informações da dor em sua trajetória ascendente em direção ao córtex cerebral. O primeiro desses mecanismos é muito simples e atua logo na entrada das fibras nociceptivas na medula. As sinapses destas com os neurônios de segunda ordem estão localizadas no como dorsal. Esses neurônios, no entanto, recebem também sinapses inibitórias de inteneurônios situados nas redondezas, os quais, por sua vez, são ativados pelas fibras A-Beta que veiculam as informações táteis. A consequência funcional desse circuito intramedular é que os impulsos táteis, quando chegam à medula ao mesmo tempo que os impulsos dolorosos (cada um através de suas vias aferentes específicas, é claro), podem inibir a transmissão sináptica entre o neurônio nociceptivo primário e o neurônio de segunda ordem. Quem já não percebeu que a dor de um ferimento pode ser aliviada por um carinho tátil suave em torno da região lesada? A descoberta desse circuito simples de bloqueio ou modulação da dor nos anos 1960 levou uma dupla de pesquisadores britânicos, Ronald Melzack e Patrick Wall, a propor a teoria da comporta da dor, que propõe que a passagem da dor pelos estágios sinápticos intermediários seria controlada por "comportas" (isto é, sinapses inibitórias) que se abririam em certas condições, mas poderiam ser fechadas em outras. Mais recentemente, descobriu-se que as sinapses moduladoras da dor não estão presentes apenas na medula, mas nos vários níveis das vias nociceptivas, e que a origem dos circuitos inibitórios não se restringe às fibras aferentes A-Beta. De fato, sabe-se hoje que existem vias descendentes moduladoras da dor, que se originam no córtex somestésico e no hipotálamo, projetando-se a uma região mesencefálica situada em torno do aqueduto cerebral (chamada substância cinzenta ou grísea periaquedutal), daí a diferentes núcleos bulhares, especialmente o núcleo parabraquial e os núcleos da rafe, e destes, por sua vez, ao corno dorsal da medula. A estimulação elétrica ou farmacológica experimental desses núcleos inibe a transmissão sináptica nociceptiva na medula, provocandoo bloqueio da dor. Um grande avanço na elucidação desses mecanismos analgésicos endógenos veio com a descoberta dos peptídeos opioides e seus efeitos. Desde tempos imemoriais é conhecida a ação da morfina. A morfina é uma droga obtida da papoula, aparentada ao ópio (daí o termo "opioide" ou "opiáceo"), cujas ações euforizantes e analgésicas têm sido há muito apreciadas pelos usuários de drogas e pelos médicos. Nos anos 1970, raciocinou-se que o efeito neurofarmacológico da morfina só poderia existir se houvesse receptores moleculares correspondentes no cérebro, e que a @resumosdamed_ 11 existência de receptores naturais para a morfina no cérebro obrigaria a pensar na ocorrência também de ligantes endógenos desses receptores, cuja estrutura molecular fosse análoga à da morfina. Esse raciocínio lógico se confirmou: o uso de opioides radioativos identificou a presença de receptores específicos em diversas regiões cerebrais, e a busca dos opioides naturais encontrou as encefalinas, as endorfinas e, mais recentemente, as dinorfinas. Esses peptídeos diferem quanto ao peso molecular, mas todos compartilham uma mesma sequência de aminoácidos com ação analgésica. Todos eles são encontrados na substância cinzenta periaquedutal, nos núcleos da rafe e no corno dorsal da medula. Embora os detalhes de sua ação molecular ainda estejam sob investigação, sabe-se que exercem uma função moduladora nas sinapses nociceptivas, bloqueando a liberação de neurotransmissor excitatório pelo terminal pré-sináptico e hiperpolarizando a membrana pós-sináptica. Dessa forma, tanto os desígnios da razão (possivelmente através do córtex cerebral) como os determinantes da emoção (através do hipotálamo) podem modular a dor que sentimos, permitindo-nos em muitos casos buscar proteção e alívio sem sucumbir à gravidade dos ferimentos que a provocam. O grau de reação da pessoa à dor varia muito. Essa variação resulta, parcialmente, da capacidade do próprio encéfalo de suprimir as aferências de sinais dolorosos para o sistema nervoso, pela ativação do sistema de controle de dor, chamado sistema da analgesia. O sistema da analgesia consiste em três grandes componentes: (1) as áreas periventricular e da substância cinzenta periaquedutal do mesencéfalo e região superior da ponte que circundam o aqueduto de Sylvius e porções do terceiro e do quarto ventrículo. Os neurônios dessas áreas enviam sinais para; (2) o núcleo magno da rafe, delgado núcleo da linha média, localizado nas regiões inferior da ponte e superior do bulbo, e o núcleo reticular paragigantocelular, localizado lateralmente no bulbo. Desses núcleos, os sinais de segunda ordem são transmitidos pelas colunas dorsolaterais da medula espinal; para (3) o complexo inibitório da dor localizado nos cornos dorsais da medula espinal. Nesse ponto, os sinais de analgesia podem bloquear a dor antes de ela ser transmitida para o encéfalo. A estimulação elétrica, tanto na área cinzenta periaquedutal quanto no núcleo magno da rafe, pode suprimir muitos sinais de dor fortes que entram pelas raízes espinais dorsais. Além disso, a estimulação de áreas encefálicas, ainda mais altas, que excitam a substância cinzenta periaquedutal, também pode suprimir a dor. Algumas dessas áreas são (1) os a dor, localizados na região adjacente ao terceiro ventrículo; e (2) em menor grau, o terceiro ventrículo, também no hipotálamo. Vários neurotransmissores estão envolvidos no sistema da analgesia; em especial, destacam-se a encefalina e a serotonina. Muitas fibras nervosas, derivadas dos núcleos periventriculares e da substância nervosas, derivadas, secretam encefalina por suas terminações. Assim, as terminações de várias fibras, no núcleo magno da rafe, liberam encefalina quando estimuladas. As fibras que se originam nessa área enviam sinais aos cornos dorsais da medula espinal para a secreção de serotonina em suas terminações. Serotonina faz com que os neurônios locais da medula também secretem encefalina. Acredita- se que a encefalina cause as inibições pré-sináptica e pós-sináptica das fibras de dor, os aferentes dos tipos C e Ad, em suas sinapses nos cornos dorsais. Assim, o sistema da analgesia pode bloquear os sinais dolorosos, no ponto de entrada inicial para a medula espinal. De fato, ele também pode bloquear muitos reflexos locais da medula espinal que resultem de sinais dolorosos, especialmente os reflexos de retirada. CONCEITUAR A ANAMNESE PARA DOR: LOCALIZAC ̧ÃO, IRRADIAC ̧ÃO, QUALIDADE OU CARÁTER, INTENSIDADE, DURAC ̧ÃO, FREQUE ̂NCIA OU EVOLUC ̧ÃO, RELAC ̧ÃO COM FUNC ̧ÕES ORGA ̂NICAS, FATORES DESENCADEANTES, AGRAVANTES OU DE PIORA, FATORES ATENUANTES OU DE MELHORA, MANIFESTAC ̧ÕES CONCOMITANTES OU SINTOMAS ASSOCIADOS. PERGUNTAS QUE SE PODE FAZER @resumosdamed_ 12 • Onde a dor começa ou e mais intensa? • Consegue compará-la? • Qual é o tamanho da dor? • A dor irradia para algum lugar? • Qual é a intensidade da dor? • Existem fatores de melhora ou piora? • Quais os fenômenos que acompanham? • Qual horário e duração? DECÁLOGO DA DOR 1. Duração 2. Início e evolução 3. Localização 4. Irradiação 5. Intensidade 6. Qualidade 7. Sinais e sintomas concomitantes 8. Fatores desencadeantes, agravantes e que aliviam 9. Repercussão 10. Tratamentos realizados DEFINIR OS SINTOMAS DE DOR: DISESTESIA, PARESTESIA, HIPERESTESIA, HIPERALGESIA, HIPERPATIA E ALÍNEA • DISESTESIA: Sensação anormal, espontânea, desconfortável, dolorosa. • PARESTESIA: sensação anormal, geralmente não desagradável, espontânea ou provocada, como formigamento, adormecimento. • HIPERESTESIA: aumento da sensibilidade à estimulação. • HIPERALGESIA: sensibilidade aumentada do nociceptor, resulta na diminuição do limiar para estímulos nocivos. • HIPERPATIA: Reação álgica intensa e exagerada após estímulos repetitivos. Exemplo: Agulhamento sequencial em mesmo ponto da pele; fenômeno de somação. • ALODÍNEA: dor à estímulos que normalmente não provocam dor. Exemplo: Tátil ou mecânica - (roupas ou vento tocando a pele), toque suave dos dedos, algodão, escova. AVALIAÇÃO DA DOR POR ESCALAS ESCALA VERBAL O paciente quantifica a experiência dolorosa usando frases que representam diferentes intensidades subjetivas de dor, como nenhuma dor, dor leve, dor moderada, dor forte, dor insuportável e a pior dor possível. Essas escalas mostraram-se válidas e fidedignas na mensuração da experiência dolorosa em idosos. Entretanto, alguns pacientes apresentaram dificuldade em utilizá-las, por falta de habilidade cognitiva ou introspecção para entender as palavras. O paciente deve interpretar e expressar sua dor verbalmente, sendo a escala preferida por muitos idosos, inclusive aqueles com leve e moderado déficit cognitivo. A variação dessa escala, em forma de termômetro, é preferida para pacientes com alterações moderadas e severas ou para pacientes que têm dificuldades de abstração e de comunicação verbal. ESCALA NUMÉRICA Permite quantificar a intensidade da dor usando números. Geralmente possui 11 pontos, de 0 a 10. Podendo ser de 6 pontos (0 a 5), de 21 pontos (0 a 20) e de 101 pontos (0 a 100). O ponto 0 (zero) representa nenhuma dor e 10 (dez) representa a pior dor possível. Os demais números representam quantidades intermediárias de dor. Pode ser aplicada gráfica ou verbalmente. A Escala Numérica mostrou-se fidedigna quando utilizada para mensuração da intensidade de dor entre idosos, embora proporção considerável de indivíduos tenha apresentado dificuldades em utilizá-la, dada a necessidade de domínio das propriedades aritméticas. ESCALA ANALÓGICA VISUAL Consiste frequentemente em uma linha reta, de 10 cm, que representa o contínuo dor, ancorada pelas palavras sem dor e pior dor. Porém, pode ser @resumosdamed_ 13 uma linha vertical ou curva,de diferentes comprimentos. Solicita-se que o indivíduo marque na linha o lugar que representa a intensidade da dor sentida. O observador deve medir, em centímetros, a distância entre a extremidade ancorada pelas palavras sem dor e a marca feita pelo paciente, que corresponderá à intensidade de sua dor. A Escala Analógica Visual requer nível maior da função cognitiva. Algumas variações têm sido sugeridas para remediar essas limitações. Essa escala pode ser inapropriada para pacientes com baixos níveis de educação e com alterações cognitivas e visuais. ESCALA DE FACES Consiste em uma série de faces expressando níveis progressivos de angústia. Solicita-se ao paciente que escolha a face que representa a intensidade de sua dor. Essa escala tem sido utilizada para mensuração da dor em idosos com demência e, embora os resultados mostrassem que as queixas dolorosas são pouco frequentes nesse grupo, quando existem, são indicadores confiáveis de sua presença. Adaptações da Escala de Faces, originalmente desenvolvida para uso pediátrico, mostrou, preliminarmente, reforço para fidedignidade, quando utilizada com indivíduos idosos. Mostra- se como alternativa fidedigna para avaliar a intensidade de dor em indivíduos com baixo nível educacional, sem alterações cognitivas ou com alterações cognitivas leves, porém, apresenta limitações quando utilizada em pacientes com alterações cognitivas graves. REFERÊNCIAS 1. https://health.uconn.edu/cell-biology/wp- content/uploads/sites/115/2017/10/nociceptores_tradutpo_2012_fein.p df 2. https://ictq.com.br/farmacia-clinica/1686-entenda-como-detectar-a- dor-mista-na-farmacia 3. https://www.sanarmed.com/principios-da-dorcolunistas 4. Medicina Interna de Harrison 2º volume https://health.uconn.edu/cell-biology/wp-content/uploads/sites/115/2017/10/nociceptores_tradutpo_2012_fein.pdf https://health.uconn.edu/cell-biology/wp-content/uploads/sites/115/2017/10/nociceptores_tradutpo_2012_fein.pdf https://health.uconn.edu/cell-biology/wp-content/uploads/sites/115/2017/10/nociceptores_tradutpo_2012_fein.pdf https://ictq.com.br/farmacia-clinica/1686-entenda-como-detectar-a-dor-mista-na-farmacia https://ictq.com.br/farmacia-clinica/1686-entenda-como-detectar-a-dor-mista-na-farmacia https://www.sanarmed.com/principios-da-dorcolunistas
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