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Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 ———————————————————————————————————————— Puerpério: fisiologia Conceito O puerpério normal se inicia com a dequitação e se estende durante 6 a 8 semanas completas desde o parto, baseando nos efeitos da gestação nos órgãos maternos, que ao final do período de puerpério já retornaram ao estado pré-gravídico. Alguns estudos postergam o puerpério até 12 meses após o parto. Puerpério imediato: duas horas desde o parto 2 HORAS Puerpério mediato: desde a terceira hora até o final do 10º dia desde o parto 3H-10 DIAS Puerpério tardio: 11º dia até o retorno das menstruações ou 6-8 semanas nas lactantes. 11 DIAS-6-8 SEMANAS → até retorno das menstruações ou 8 semanas nas lactantes Modificações anatômicas e fisiológicas Involução Uterina - Começa logo após da dequitação - Miométrio sofre retração, mantendo tamanho reduzido após sucessivas contrações, com redução do tamanho das células, sem mudanças significativas em número. → depende do tipo de parto (útero é maior em multíparas e após cesárea) e pela amamentação (mais reduzido) - Vasoconstrição dos vasos do miométrio previnem a hemorragia pós-parto e obliteração de vasos calibrosos (trombose) como mecanismo secundário de prevenção de hemorragia, dando aparência isquêmica ao útero. → Com alterações hialinas são reabsorvidos e substituídos por vasos menores. - Fundo uterino atinge a cicatriz umbilical em 24 horas, alcança a região entre a cicatriz e sínfise púbica em uma semana. Em duas semanas o útero não é mais palpável no abdome - A involução uterina é mais rápida em mulheres que amamentam, levando de 6 a 8 semanas para atingir dimensões aproximadas às do período pré-gravídico - O peso diminui de 1000g logo após o parto para 60g durante 6-8 semanas - Nos primeiros 3 dias, as contrações uterinas geram cólicas abdominais, sendo mais intensas em multíparas do que em primíparas, aumentando sua intensidade com a sucção do recém nascido, liberando ocitocina. - Nas primeiras 12 horas as contrações são coordenadas, regulares e fortes. - Decídua basal persiste após a dequitação, dividindo-se em duas novas camadas: superficial (necrosa e descama, formando os lóquios) e profunda (regeneração do novo endométrio→ completo em 16 dias) 1 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 - A regeneração da ferida placentária, junto com a involução uterina, está vinculada com a produção e eliminação de exsudatos e transudatos (lóquios), que são eritrócitos, leucócitos, porções da decídua, células epiteliais e bactérias. → nos primeiros dias, uma maior quantidade de eritrócitos faz os lóquios adquirirem cor vermelha. - A loquiação varia entre 200-500mL durante 4 semanas, podendo se estender até 6-8 semanas INVOLUÇÃO DO SÍTIO PLACENTÁRIO - Depois da dequitação há contração do local de implantação placentária, reduzindo as proporções à metade. - A contração do músculo liso das artérias locais assegura a homeostasia no puerpério imediato. - Na segunda semana o diâmetro está em 3-4cm e o endométrio começa a se regenerar a partir de glândulas e estroma da decídua basal, acelerando o processo de esfoliação local. COLO UTERINO - Logo após o parto e dequitação, o colo uterino está amolecido com pequenas lacerações, microembolia amniótica, reação termogênica depois da separação da placenta e hipotermia materna relacionada com anestesia. → evento autolimitado - O orifício externo se contrai lentamente, estreitando se ao final da primeira semana e espessando o colo. - O orifício externo não volta ao seu estado pré-gravídico, mantendo-se um pouco mais largo - Remodelação do epitélio cervical 2 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 Vagina e vulva - A vagina volta gradativamente ao seu tamanho normal e o pregueado reaparece em cerca de 3 semanas. - Dificilmente retornam ao estado pré-gravídico - O epitélio vaginal começa a se proliferar com 4-6 semanas e coincide com o reinício da produção de estrogênio pelos ovários - Hímen sofre cicatrização, carúnculas himenais - Frouxidão da musculatura pélvica Tubas uterinas Mudança do epitélio: antes células não ciliadas, depois há extrusão do núcleo e diminuição do tamanho celular. Rugosidade volta em 3 semanas Provém da ação do estrógeno e progesterona Parede Abdominal - Musculatura abdominal mais frouxa depois do parto, voltando ao tônus normal em várias semanas - A diástase do músculo reto do abdome pode persistir - Pele pode se manter frouxa, se houver rotura extensa de fibras elásticas - Ligamentos largo e redondo demoram mais para se recuperar do estiramento Alterações sanguíneas e plasmáticas - Na gestação há aumento de 30% da massa eritrocitária e após o parto há perda de 14% da série vermelha - Espera-se nesse período, a ascensão dos níveis de hemoglobina e hematócrito em 15% sobre os níveis pré-gravídicos → transitório - No trabalho de parto começa uma leucocitose que se estende ao puerpério imediato, podendo chegar a 25 mil leucócitos/mL, com aumento de granulócitos - Plaquetocitose 3 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 - Linfocitopenia relativa - Eosinopenia absoluta - Queda do número de plaquetas inicialmente após a dequitação e elevação nos dias seguintes, aumentando a adesividade plaquetária. - Fibrinogênio plasmático tem concentração reduzida no trabalho de parto, atingindo o menor nível um dia depois, voltando aos níveis pré-gestacionais entre 3 e 5 dias desde o parto. O débito cardíaco e a frequência cardíaca se mantém elevados por 24-48 horas e diminui para os níveis pré-gestacionais em 10 dias Sistema Endócrino - Depois da dequitação o B-HCG desaparece em uma curva biexponencial. - O HCG volta ao normal em 2-4 semanas depois do parto - Em 2-3 semanas os esteroides sexuais e o HCG estão em níveis baixos - Mulheres não lactantes tem o retorno da menstruação em 7 a 9 semanas, com média de 45 dias para uma nova ovulação - 70% das pacientes menstruam até a 12º semana depois do parto, 25% precedidas por ovulação - As lactantes tem atraso no retorno da ovulação, por inibição do GNRH pela prolactina. PERDA PONDERAL - É a perda do peso acumulado durante a gestação nas primeiras 6 semanas após o parto, mas nem sempre a mulher retorna ao peso pré-gravídico - Perda imediata de 4,5-6kg pelo feto, placenta e líquido amniótico e perda sanguínea, o restante ocorre entre 6 semanas e 6 meses após o parto - Acúmulo de peso pós-parto: raça negra (acumulam mais peso em relação às brancas, mesmo com IMC semelhante), obesidade (ganho no puerpério relacionado com o ganho na gestação), interrupção do consumo de cigarros (não retorno depois do parto), idade materna (adolescentes tem maior risco), paridade, intervalo entre gestações, tempo de retorno à atividade profissional. ALTERAÇÕES ÓSSEAS - Diminuição da densidade óssea na maioria das mulheres, voltando ao normal em 12 a 18 meses do pós parto . - A suplementação de cálcio não tem benefício, pois não se trata de uma deficiência de cálcio - Normalmente a perda é limitada e reversível Alterações Dermatológicas - Aparecimento de estrias, vermelhas ou prateadas - Cloasma (manchas no rosto) desaparecem no puerpério - Eflúvio telógeno (queda dos cabelos) observado entre 1 e 5 meses após o parto - A queda de cabelos no puerpério é um processo autolimitado e volta ao normal com 6 e 15 meses após o parto. 4 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 Sistema Urinário - No puerpério imediato a mucosa vesical está edemaciada pelo trabalho de parto - O fundo uterino comprime os ureteres junto à porção de entrada na pequena pelve - Bexiga apresenta maior capacidade, havendo distensão excessiva e esvaziamento incompleto - Dilatação do sistema pielocalicial (cálices renais) até a sexta semana - São todos fatores de predisposição a infecções do trato urinário no puerpério - Pode ocorrer retenção urinária(ausência de micção por 6 horas depois do parto) no puerpério imediato (0,5% dos partos vaginais) → primiparidade, parto instrumentado, parto prolongado, cesárea, epidural são fatores de risco - Pode ocorrer incontinência urinária no pós parto, sendo a incidência de 26% entre 3 e 6 meses desde o parto. - Diurese pós parto causa perda de peso de 2 a 3kg de forma rápida Mamas - Começam a secretar colostro→ cor amarelo-limão escuro - Colostro é risco em elementos imunes e contém mais sais, aminoácidos, proteínas, menos açúcar e gordura que o leite maduro. - Colostro persiste por 5 dias a 2 semanas, convertendo em leite maduro em 4 a 6 semanas. - Progesterona, estrogênio, lactogênio placentário, prolactina, cortisol, insulina atuam estimulando o desenvolvimento do sistema lactífero - A redução de progesterona e estrogênio no parto anula a inibição na produção de a- lactalbumina e estimula a lactose-sintetase para aumentar a lactose do leite Cuidados no puerpério - Se o parto foi normal com realização de episiotomia, a mulher deve manter a cicatriz limpa e seca. - Se o parto foi cesárea, a mulher deve manter a cicatriz limpa, lavando com sabonete, e os pontos devem ser retirados em 8-10 dias - Comparecer à consulta após o parto em uma semana → avaliar mãe e RN, amamentação, sangramento vaginal, cicatrização, examinar bebê (vacinação e teste do pézinho), discutir desejo de outra gestação e métodos anticoncepcionais - Aguardar 40 dias para ter relações sexuais x duas semanas?? - Dieta regular e caminhar devem ser restabelecidos o quanto antes - Exercícios de fortificação do abdome podem começar assim que o desconforto do parto passar - As mulheres submetidas a partos vaginais não necessitam de quaisquer restrições dietéticas. Duas horas depois do parto vaginal normal, não havendo complicações, a paciente poderá ter permissão para comer. Se for amamentar, as quantidades de calorias e proteínas consumidas durante a gravidez deverão ser ligeiramente maiores - Vacinação oportuna 5 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 - A paciente deve ser instruída a limpar a vulva de frente para trás - da vulva para o ânus. A aplicação de bolsa de gelo no períneo pode ajudar a reduzir o edema e o desconforto durante as primeiras 24 horas, caso tenha ocorrido laceração ou episiotomia. - Depois do parto vaginal sem complicações, a hospitalização raramente é necessária por mais de 48 horas. As mulheres de vem receber instruções sobre as alterações fisiológicas normais esperadas durante o puerpério, como padrões dos lóquios, per da de peso por diurese e descida do leite. Além disso, precisam receber instruções sobre febre, sangramento vaginal excessivo ou dor, edema ou hipersensibilidade nos membros inferiores. - Mulheres sexualmente ativas durante o puerpério e que não desejam engravidar devem iniciar a contracepção. - As mulheres que amamentam ovulam com menos frequência, quando comparadas com as que não amamentam, mas existem grandes variações. O reinício da ovulação depende de fatores biológicos individuais e da intensidade da amamentação. As que amamentam podem menstruar pela primeira vez já no segundo mês depois do parto ou demorar até 18 meses - Para as mulheres que amamentam, os contraceptivos que contêm apenas progestogênios - minipílulas, depósito de medroxiprogesterona ou implantes de progestogênios não interferem na qualidade ou na quantidade do leite. Esses contraceptivos podem ser iniciados a qualquer tempo durante o puerpério. Os anticoncepcionais combinados (estrogênio e progestogênio) tendem a reduzir a quantidade de leite materno; Ideal esperar 28 dias para iniciar o anticoncepcional hormonal - DIU: esperar um tempo para evitar expulsão uterina, mas muitas colocam logo após o parto. - Depois de duas semanas as relações sexuais podem ser reiniciadas conforme o desejo e conforto - Relações precoces podem ser desagradáveis e dolorosas pela cicatrização da episiotomia ou lacerações. O epitélio vaginal é fino e pouco lubrificado nesse período → hiperestrogenemia - Alterações psicológicas no puerpério - A gestação é um fenômeno que acarreta inúmeras alterações físicas, hormonais, psíquicas e sociais na vida da mulher. - Sentimentos ambíguos: estar contente e, ao mesmo tempo, podendo estar insegura ou deprimida. - Na volta ao lar, as possíveis preocupações que antes pareciam estar longe, agora tornam-se reais. Tais preocupações podem envolver a casa, o trabalho, o marido, os outros filhos, se houver, dentre outras. No hospital, a puérpera tem toda uma estrutura preparada; porém, em casa, ela pode sentir uma perda da proteção a qual o hospital lhe significava; além de salientarem-se as obrigações e as responsabilidades 6 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 - Com a maternidade, a mulher necessita de uma rede de apoio protetora, geradora de auxílio para que a mulher possa, no início, realizar as funções mais prementes, como manter o bebê vivo e proporcionar seu desenvolvimento psíquico e afetivo. - A ausência do apoio da rede de contatos poderá acarretar, para a mulher, insuficiência da função materna. Em ocasião de uma relação conjugal ou estável, é desejável a adaptação do casal à nova situação, pois tal ajuste constitui-se em uma das fontes de suporte social e emocional para o desenvolvimento do apego. - É de extrema relevância diferenciar entre episódio de humor pós-parto (ou depressão pós- parto) e a “tristeza pós-parto”. Esta última atinge até 70% das mulheres nos primeiros dez dias após o parto, é passageira e não prejudica o funcionamento. - Já a depressão pós-parto é uma depressão moderada a severa que começa a partir da segunda ou terceira semana após o parto, a qual afeta cerca de 10 a 15% das mulheres; desenvolve-se por semanas ou meses, quando chega a um platô ou melhora Sexualidade - Em geral, ocorre uma reestruturação familiar que inclui perda e/ou diminuição da intimidade nas inter-relações do casal, a fim de possibilitar a recepção ao recém-nascido - As mudanças na imagem corporal também interferem de forma significativa na sexualidade ao longo da gestação e no pós-parto, uma vez que o corpo feminino passa por várias transformações. - Nas culturas tradicionais, há uma dessexualização da mãe, de tal forma que a atividade sexual não combina com as funções desta nova mulher. - As dificuldades sexuais geralmente envolvem múltiplos fatores, sendo eles psicológicos, físicos, culturais, inter-relacionais e religiosos, além de medos, mitos e crenças sobre a sexualidade feminina no ciclo gravídico-puerperal. Depressão pós-parto x Baby blues Depressão pós-parto - É um quadro clínico grave que requer assistência psiquiátrica e psicológica, pois os sintomas são mais graves e deve-se considerar a possibilidade de medicação. - Todo ciclo gravídico-puerperal é um período de risco para psiquismo, pela intensidade da experiência vivida. - Acomete entre 10-20% das mulheres e pode começar na primeira semana desde o parto e durar até 2 anos FATORES DE RISCO PARA DPP: a. Sintomas depressivos antes ou durante a gestação b. Histórico de transtornos afetivos c. Problemas de infertilidade d. Dificuldades na gestação e. Submetidas à cesárea 7 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 f. Primigestas g. Carência social h. Perderam filho anterior SINTOMAS: a. Irritabilidade b. Mudança brusca de humor c. Indisposição d. Tristeza profunda e. Desinteresse pelas atividades do dia a dia f. Sensação de incapacidade ou desinteresse por cuidar do bebê g. Extremos: pensamento suicida ou homicida em relação ao bebê O diagnóstico precoce é essencial e grupos de gestantes são psicoprofiláticos I., 32 anos, segunda gestação, procura-nos, pois está deprimida desde há última gravidez, ocorrida há 3 anos. Desde que viu confirmada a gravidez, encontra-se mais prostrada e ansiosa. Não tratou o quadro depressivo há 3 anos, pois se sentiaenvergonhada. A sogra assumiu as tarefas perante o primeiro neto. O marido se afastou por achá-la “preguiçosa” e “egoísta”. I. foi encaminhou pelo atual ginecologista. Desde então, I. vem sendo medicada e acompanhada em psicanálise. Baby blues (tristeza materna) - Diferencia-se da DPP pela gravidade do quadro, quanto à incapacitação, bem estar materno e do bebê. - A tristeza materna afeta 80% das mulheres, mas como é um tabu, supõe-se que esse índice pode ser ainda maior - Ligado à mudanças hormonais - É um estado de humor depressivo que costuma aparecer na primeira semana após o parto, sendo coerente com a transformação na vida materna (torna-se mãe, responsabilidade pela criança, transformação da autoimagem corporal, administração da relação sexualidade e maternidade) - É um quadro benigno e regride em cerca de 1 mês Sintomas: a. Irritabilidade b. Mudanças de humor bruscas c. Indisposição d. Sensação de incapacidade de cuidar do bebê → é um estado que pode ser atenuado ao compartilhar com outras pessoas que entendem essa condição, que pode até ser benéfica. Preocupação Materna Primária: hipersensibilidade da mãe em relação ao bebê no primeiro mês após o parto, sendo fundamental para a criação de um vínculo com o bebê. 8 Ana Paula de Andrade Tutorial SP6 domingo, 9 de maio de 2021 L., 23 anos, primigesta, cujo bebê estava com 30 dias quando nos procurou, relata a reação de desespero de seu bebê ao ser colocado para deitar no carrinho ou “longe do corpo”, mesmo para um passeio diurno, o que a obrigava a mantê-lo permanentemente sustentado por um adulto. L. encontrava-se visivelmente extenuada, pois dormia com o bebê sobre o ventre desde seu nascimento. Ela encarava esta situação de forma ambivalente, pois se sentia culpada em deixá-lo deitar no carrinho, mas, ao mesmo tempo, não conseguiria permanecer nesta tarefa. 9
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