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Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Módulo 1 | PBL 4 Objetivos 1. Conhecer a etiologia e a epidemiologia da Doença de Chagas Etiologia A doença de Chagas (ou Tripanossomíase americana) ou “tripanossomíase americana” é a antropozoonose/infecção causada pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi; Apresenta uma fase aguda (doença de Chagas aguda – DCA) que pode ser sintomática ou não, e uma fase crônica, que pode se manifestar nas formas indeterminada (assintomática), cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva; As principais formas de transmissão: • Vetorial: contato com fezes de triatomíneos infectados, após picada/repasto (os triatomíneos são insetos popularmente conhecidos como barbeiro, chupão, procotó ou bicudo); • Oral: ingestão de alimentos contaminados com parasitos provenientes de triatomíneos infectados; • Vertical: ocorre pela passagem de parasitos de mulheres infectadas por T. cruzi para seus bebês durante a gravidez ou o parto; • Transfusão de sangue ou transplante de órgãos de doadores infectados a receptores sadios; • Acidental: pelo contato da pele ferida ou de mucosas com material contaminado durante manipulação em laboratório ou na manipulação de caça; - Sexual: considerando o potencial das mucosas para a transmissão, inclui-se também a via sexual como teoricamente possível, tendo sido demostrada a transmissão em modelos animais e possibilidade de transmissão em população humana (Araújo et al., 2017; Rios et al., 2018); O período de incubação da Doença de Chagas é dividido da seguinte forma: • Transmissão vetorial: de 4 a 15 dias • Transmissão transfusional/transplante: de 30 a 40 dias ou mais • Transmissão oral: de 3 a 22 dias • Transmissão acidental: até, aproximadamente, 20 dias Vetor A distribuição espacial da doença é limitada primariamente ao continente americano em virtude da distribuição de mais de 140 espécies do inseto vetor (Triatominae, Hemiptera, Reduviidae). Transmissão Na sua forma clássica: A infecção chagásica é adquirida pelo homem por meio de triatomíneos hematófagos (transmissão vetorial), dos quais se conhecem até hoje mais de 140 espécies de "barbeiros"; Tem-se a importância dos triatomíneos que vivem no ambiente intradomiciliar, sendo que 17 espécies estavam presentes em domicílios e 5 foram identificadas como responsáveis por transmissão direta da doença a seres humanos: Triatoma infestans, Panstrongylus megistus, Triatoma b ras i l i ens i s , Tr i a toma sód ida e Tr i a toma pseudomaculata; Vertical: Para que ocorra a passagem de T. cruzi da mãe ao feto, é necessário haver parasitemia materna (maior na fase aguda) e que o T. cruzi atravesse o epitélio corial e vá parasitar o estroma vilositário, atingindo a circulação fetal. Epidemiologia Em função das ações de controle de vetores realizadas a partir da década de 1970, o Brasil recebeu em 2006 a certificação Internacional da interrupção da transmissão vetorial pelo Triatoma infestans, espécie exótica e responsável pela maior parte da transmissão vetorial no passado; Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Porém, estima-se que existam pelo menos um milhão de pessoas infectadas por T. cruzi; Apesar da grande redução na incidência dos casos de doença de Chagas aguda (DCA), evidencia-se nos últimos 15 anos a ocorrência sistemática destes casos relacionados à transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados, principalmente na região amazônica, bem como à transmissão vetorial extradomiciliar, com a exposição acidental ao ciclo silvestre do agente etiológico; A alteração do quadro epidemiológico da doença de Chagas no Brasil promoveu a mudança nas ações e estratégias de vigilância, prevenção e controle; O risco de transmissão vetorial da doença de Chagas persiste em função da: • Existência de espécies de triatomíneos autóctones com elevado potencial de colonização; • Presença de reservatórios de T. cruzi e da aproximação cada vez mais frequente das populações humanas a esses ambientes; • Persistência de focos residuais de T. infestans no estado da Bahia; • Somado a isso, há a ocorrência de casos e surtos por transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados (caldo de cana, açaí, bacaba, entre outros), vetorial domiciliar sem colonização e vetorial extradomicil iar, principalmente na Amazônia Legal; Entre o período de 2010 a 2019, foram registrados casos confirmados de doença de Chagas aguda na maioria dos estados brasileiros; - A maior distribuição, cerca de 84%, concentra-se na região Norte. Destes, o estado do Pará é responsável por 71% dos casos; - Em relação às principais formas prováveis de transmissão ocorridas no país, 76% foram por transmissão oral, 8% por transmissão vetorial e em 15% não foi identificada a forma de transmissão; Em 2020, foram confirmados 146 casos de DCA no Brasil, com uma letalidade de 2% (3/146), sendo que todos os óbitos ocorreram no estado do Pará. No período de março a agosto de 2020, foram registrados 125.691 óbitos por COVID-19, dos quais 0,2% (n=207) faziam menção à doença de Chagas enquanto comorbidade a qual contribuiu para a morte – parte II da DO – com maior proporção nas regiões Sudeste e Nordeste; Em relação aos óbitos por doença de Chagas como causa básica, no período de março a agosto de 2020 foram registrados no país 1.746 óbitos. 2. Descrever o ciclo e a fisiopatologia da Doença de Chagas Ciclo de vida Ao se alimentar de sangue, o inseto vetor infectado libera tripomastigotas nas fezes perto do local da picada; As tripomastigotas penetram no hospedeiro pela ferida ou pelas mucosas íntegras; No hospedeiro, as tripomastigotas caem na corrente circulatória, invadem as células próximas ao local da inoculação (de qualquer tecido ou órgão para cumprir novo ciclo celular ou são destruídos por mecanismos imunológicos do hospedeiro), onde se diferenciam em amastigotas intracelulares; Os amastigotas se multiplicam por fissão binária e se diferenciam em tripomastigotas, que saem da célula e entram na corrente sanguínea; Os tripomastigotas na corrente sanguínea podem infectar as células em vários tecidos nos quais se transformam em amastigotas intracelulares e causam infecção sintomática; Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Os tripomastigotas não se multiplicam na corrente sanguínea, diferentemente dos tripanossomas africanos. A multiplicação só é retomada quando os parasitas entram em outra célula ou são ingeridos por outro vetor. O triatomíneo é infectado ao se alimentar de sangue h u m a n o o u a n i m a l c o n t e n d o p a r a s i t a s (tripomastígostas) na circulação; As tripomastigotas ingeridas se transformam em epimastigotas (ou em organismos arredondados, denominados esferomastigotas) no estomâgo/ intestino médio do vetor; Os epimastigotas se multiplicam, no intestino médio, por divisão binária simples (sendo responsáveis pela manutenção da infecção no vetor); No intestino distal/reto, se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos infecciosos, que são eliminados nas fezes ou na urina, durante ou logo após o repasto sanguíneo. Ciclo Silvestre O parasito se abriga em mamíferos de pequeno e médio portes e em muitas espécies de triatomíneos silvestres, interação esta geralmente estável quando o ambiente é preservado; É também comum a transmissão do T. cruzi por via oral neste ciclo, desde que muitos daqueles reservatórios são carnívoros e insetívoros, contaminando-se por meio da ingestão de outros mamíferos e de triatomíneos infectados ou de suas dejeções; Os principais reservatórios silvestres são os marsupiais, os roedores, tatus e tamanduás, gatos e cachorros-do-mato, vários tipos de macacos e morcegos etc; Parece ser rara a transmissão congênita do parasito. Ciclo Doméstico O ciclo doméstico do parasito é muito mais recente em sua evolução, produto da inserção do homem no ambiente silvestre;Variedade de espécies domiciliadas de triatomíneos, aqui detecta-se 2 tipos principais de relação homem- vetor: em um deles, o mais clássico, o ser humano promove um desbalanceamento ambienta l (desmatamentos, aberturas de pastos e culturas extensivas), deslocando triatomíneos silvestres (nativos da área) de seus ecótopos naturais, muitas vezes deixando-os sem abrigo e/ou alimentação; e no outro, no âmbito de casarios e localidades rurais, esses insetos passam ativamente de casa a casa, sempre elegendo aquelas de má qualidade que lhes oferecem abrigo fácil e alimentação abundante. Fisiopatologia O T. cruzi produz alterações moleculares ou morfológicas em diferentes tecidos e órgãos; • Podem ocorrer em qualquer tecido ou órgão, acometendo, contudo, com maior frequência e gravidade, o coração, o tubo digestivo e o sistema nervoso Processos patológicos fundamentais que o T. cruzi induz no tecido dos vertebrados: a resposta inflamatória, as lesões celulares e a fibrose; Resposta Inflamatória O T. cruzi parasita preferencialmente macrófagos, fibroblastos, células de Schwann e miócitos estriados e lisos, dentro dos quais, em sua forma amastigota, se multiplica formando ninhos; Enquanto as células parasitadas permanecem íntegras, não há inflamação em torno delas; Em determinado momento do ciclo evolutivo, a célula parasitada se rompe, liberando no interstício as formas epi, tripo e amastigotas do parasito (íntegras ou degeneradas) e restos da célula hospedeira, induzindo a resposta inflamatória; Essa é a razão por que, inicialmente, a flogose é focal e relacionada com o parasitismo; Formam-se tantos microfocos quanto os ninhos de parasitos e células que se romperam; Com a evolução da infecção, os microfocos podem confluir, conferindo à inflamação aspecto difuso. Portanto, a inflamação deve-se a vários fatores, entre os quais se realçam os papéis do parasito, de seus antígenos e da resposta imunitária celular. Lesões Celulares Podem ser de natureza e intensidade variadas, desde degenerações discretas até a necrose; Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Especial importância têm as lesões das miocélulas e dos neurônios pelas repercussões que acarretam; O T. cruzi, multiplicando-se e se desenvolvendo no interior de células, causa-lhes alterações, agravadas com a ruptura dos ninhos parasitários; Nas miocardites de cardiopatas chagásicos crônicos, o infiltrado contém células T CD8+, citotóxicas, menor número de células CD4+, mescladas com poucos macrófagos que expressam fator alfa de necrose tumoral. Esses dados sugerem a existência de mecanismo envolvendo citotoxicidade mediada por células nas lesões das miofibras cardíacas. Fibrose Instala-se lenta e progressivamente; É considerada o principal fator responsável pela progressiva perda da atividade contrátil do miocárdio nos chagásicos crônico; Morfologicamente, origina áreas irregulares de neoformação colágena e capilarizadas; Na maior parte, apresenta-se como uma fibrose de substituição de miocélulas desaparecidas; O conjunto das fibroses focais, composto ao longo dos anos, forma o quadro final, extenso e grave, observado especialmente nos chagásicos falecidos após manifestações de insuficiência cardíaca. 3. Explicas as formas clínicas (aguda, indeterminada e crônica) da Doença de Chagas Fase Aguda As mani festações c l ín icas da fase aguda desaparecem espontaneamente em um período de 2 a 4 meses; Os sinais de porta de entrada surgem se a contaminação se foi pelo barbeiro; • Quando penetra pela conjuntiva, origina-se o sinal de Romaña; • Quando a penetração se dá na pele, formam-se os chagomas de inoculação; • Geralmente, são comprometidos também os linfonodos satélites que, juntamente com as lesões conjuntivas ou cutâneas, formam os denominados complexos oftalmo-linfonodal ou cutâneo- linfonodal; - Edema bipalpebral unilateral, elástico e indolor, coloração róseoviolácea das pálpebras, congestão e edema conjuntival e das regiões vizinhas; A febre é diária, por vezes elevada (> 39ºC) e frequentemente mostra ascensões vespertinas, com duração longa e pode variar de 1 a 2 meses, embora temperaturas subfebris possam persistir por várias semanas; Mal-estar, mialgias, astenia, anorexia e cefaleia são outros sintomas presentes; O exame físico mostra linfadenopatia generalizada, com linfonodos palpáveis, são móveis, indolores, não coalescidos; A hepatoesplenomegal ia é frequentemente reconhecida ao exame clínico, o aumento desses órgãos é apenas moderado apresentando as bordas e superfícies lisas, consistência ligeiramente aumentada e pouco dolorosa à palpação; Acometimento cardíaco com miocardite aguda, que pode evoluir para a insuficiência cardíaca congestiva; A ausculta do precórdio mostra taquicardia, independente da elevação térmica, e hipofonese de bulhas, sopro sistólico funcional e arritmias cardíacas; O eletrocardiograma pode demonstrar taquicardia sinusal, baixa voltagem do QRS, alterações primárias d a re p o l a r i z a ç ã o v e n t r i c u l a r e b l o q u e i o atrioventricular de 1º grau. Pode haver acometimento do SNC, sob a forma de uma meningoencefalite difusa, que praticamente ocorre apenas em lactentes; é comum estar associada à miocardite aguda; Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII O hemograma revela anemia discreta, leucocitose leve a moderada, neutropenia, linfocitose com presença de numerosos linfócitos atípicos e, ocasionalmente, plasmocitose. Coração As manifestações clínicas da cardite aguda parecem resultar, basicamente, das lesões miocárdicas descritas; O comprometimento cardíaco é frequente; Origina-se epicardite, miocardite e endocardite parietal; Constitui-se em uma pancardite, à qual se associam lesões do sistema nervoso autônomo intracardíaco; A miocardite pode ser constituída por exsudato de mononucleares com macrófagos, linfócitos e plasmócitos, e quantidade variável de granulócitos, neutrófilos e eosinófilos, além de mastócitos; A falência miocárdica leva à dilatação das câmaras ventriculares e, consequentemente, dos óstios das valvas atrioventriculares, cuja insuficiência contribui para maior dilatação das câmaras cardíacas, com agravamento da falência miocárdica e instalação do quadro de insuficiência cardíaca congestiva; Macroscopicamente, observam-se: aumento da área cardíaca; saco pericárdico distendido, congesto, com aumento do líquido pericárdico; cardiomegalia (especialmente devida à dilatação das câmaras); miocárdio flácido, congesto; espessamentos nodulares no epicárdio/ao longo das artérias coronárias; linfonodos subepicárdicos aumentados de volume; trombose parietal. Tubo Digestivo Os processos patológicos são encontrados predominantemente nas camadas musculares e nos plexos nervosos intramurais das vísceras ocas; Há miosite focal com lesões das células musculares e dos componentes do interstício; Nos plexos intramurais, as lesões inflamatórias são de distribuição irregular e imprevisível, encontrando- se gânglios aparentemente normais ao lado de outros alterados ou até completamente destruídos; O parasitismo tecidual é frequente. Sistema Nervoso Nos pacientes com manifestações neurológicas g raves , há men ingoence fa l i t e mu l t i f oca l , caracterizada pelo arranjo nodular do exsudato inflamatório, constituído por células mononucleadas; Amastigotas do T. cruzi, com frequência, são encontrados na intimidade dos focos inflamatórios ou em células gliais, no tecido adjacente. Forma Crônica Forma Indeterminada Há cardite focal, discreta em 80% dos casos, e de grau moderado ou intenso em 20%; O comportamento morfológico do sistema de condução revela discretas lesões inflamatórias e/ou fibróticas ou ausência de alterações; Por ser a cardite focal, em geral discreta, não produz alterações funcionais, o que explica a ausência de sinais e sintomas e a normalidade do ECG convencional;Não há aumento da área cardíaca ao exame radiológico do tórax; Contudo, as lesões explicam os achados nos exames não invasivos de maior sensibilidade; Trata-se da forma clínica mais comum da DCH ao nível da população geral das áreas endêmicas, apresentando enorme interesse médico-social por: • São pacientes sempre assintomáticos que podem evoluir para uma forma “determinada”, assim fazendo jus a um acompanhamento • Em sua total maioria, esses indivíduos podem levar vida normal, não devendo a maioria dos tipos de trabalho sofrer restrições; • Mesmo sendo assintomáticos, esses indivíduos não devem doar sangue, como forma de prevenção da DCH transfusional. Forma Crônica Cardíaca Fatores básicos do desenvolvimento da CCC: ação direta do parasito (principalmente destruição da fibrocélula cardíaca), os fenômenos flogísticos adjacentes à infecção, as consequências da dilatação compensatória das miocélulas cardíacas, os fenômenos hipóxicos resultantes de alterações da microcirculação, a desnervação autonômica, a Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII desarticulação da estrutura celular do coração e a fibrose; • Fases iniciais: transcorrem com o coração de tamanho normal, ocorrendo alguma hipertrofia celular compensatória e mínima dilatação; • F a s e s i n t e r m e d i á r i a s : p re d o m i n a m a s manifestações de arritmia, já se mesclam a hipertrofia com graus iniciais de dilatação, notando-se discinesias de paredes, um início de redução da fração de ejeção e, histologicamente, princípios de fibrose; • Fases avançadas: o coração está francamente dilatado e descompensado, com discinesias extensas, fibrose universal, presença de trombos e aneurismas parietais, havendo obrigatoriamente algum grau de ICC; A CCC é geralmente progressiva; Consequências clínicas principais: arritmias, ICC e tromboembolismo; As principais queixas dos pacientes com CCC decorrem das alterações do ritmo e da insuficiência cardíaca, isolada ou associadamente; A palpitação é sintoma precoce e bastante comum, ligada geralmente às ectopias ventriculares e taquiarritmias, eventualmente se manifestando em crises que correspondem a salvas prolongadas de extrassístoles e à taquicardia paroxística ventricular, podendo suceder-se por síncope por baixo débito; Sensações de vertigem e tontura são também frequentes nas taquiarritmias e na fibrilação atrial, aparecendo ainda nas bradiarritmias dos BAV avançados e na doença do nó sinusal; Alterações muito sugestivas na cardiopatia chagásica crônica são as seguintes: • Bloqueio completo de ramo direito; • Hemibloqueio anterior esquerdo; • Hemibloqueio posterior esquerdo; • Arritmia ventricular (extrassístoles polimorfas, aos pares e taquicardia ventricular); • Manifestações de doença do nó sinusal (bradicardia sinusal < 40 bpm, bloqueio sinoatrial e parada sinusal); • Fibrilação atrial; • Bloqueio AV de 2º grau (tipo Mobitz II); • Bloqueio AV de alto grau; • Bloqueio AV de 3º grau; • Zona eletricamente inativa; • Alteração primária da repolarização ventricular. Forma Crônica Digestiva O substrato básico dessa alteração é a desnervação autonômica intramural, que leva a uma discinesia do segmento (geralmente uma descoordenação motora, com hipertonia ou acalásia esfincteriana) e, posteriormente, à sua dilatação e alongamento (“megas” e dolicomegas); • Megas: dilatações permanentes e difusas de vísceras ocas ou de canais, acompanhadas ou não de alongamento (dól ico) da parede, não provocadas por obstrução mecânica e cujo substrato anatomofuncional é uma lesão do sistema nervoso autônomo intramural (SNAIM); Acomete principalmente o esôfago e o cólon terminal; outros segmentos afetados são o estômago, o duodeno e, menos frequentemente, o delgado e o grosso proximal; Alterações salivares (sialorreia e hipertrofia das parótidas) e de algumas secreções digestivas podem ser detectadas; A alteração mais precoce é a esofagopatia (sintoma fundamental é a disfagia) • Forma anectásica: esôfago de calibre normal, apenas • com pequena retenção de contraste, um minuto após a deglutição • Esôfago discinético, com pequeno aumento de calibre e retenção franca de contraste • Esôfago francamente dilatado, atividade motora reduzida e grande retenção de contraste, não ocorrendo alongamento do órgão • Dolicomegaesôfago Colopatia crônica chagásica produz quadros graves de desconforto e morte em um número importante de pacientes que desenvolvem volvo da sigmoide; • Tem como principal sintoma a obstipação; Lourrane Felício plexos mioentéricos do esôfago e do cólon alteram o funcionamento normal da musculatura lisa destas vísceras, levando aodesenvolvimento dos megas Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII • Meteorismo e a disquezia (dificuldade de expulsão da massa fecal, mesmo quando a sua consistência é normal); • Complicações: fecaloma, impactação fecal e o volvo da sigmoide; • Baseada na desnervação, a colopatia chagásica apresenta desordens motoras importantes, geralmente ao nível das últimas porções do intestino grosso, que anatomicamente se traduzem em uma dilatação do colo (“megacolo”) e também, frequentemente, em um alongamento do mesmo; • A obstipação é progressiva e, nos estágios iniciais da doença, pode alternar-se com diarreias devidas à hipermotilidade (lei de Cannon); Outros acometimentos crônicos Duodeno: é o segmento mais afetado, depois de esôfago e colo, apresentando discinesia e, eventualmente, dilatação (bulbar ou total). Sintomas vagos (dispepsia alta); Estômago: alterações da motilidade e da secreção gástricas; ocorre hipossecreção cloridropéptica, paralelamente a um estado de gastrite crônica; em graus mais avançados, surgem hipertrofia do piloro e dilatação do estômago; Intestino delgado: raros os casos de “mega”, embora descritos no jejuno, íleo e apêndice, quase sempre acompanhando uma esofagopatia ou colopatia. Há distonia nas alças e o trânsito se apresenta ora lento, ora rápido. Em paralelo, há aumento da flora b a c t e r i a n a e a u m e n t o d a a b s o r ç ã o d e monossacarídeos, como a glicose (este fato explicando hiperglicemia precoce em chagásicos com insulina normal); Parótidas: hipersalivação e hipertrofia de todas as g lându las sa l i va res em consequênc ia da esofagopat ia chagás ica , prob lemas estes decorrentes do reflexo esofagosalivar de Roger; Fígado: ocorrem hepatomegalia e parasitismo na fase aguda, com algumas alterações funcionais que regridem na fase crônica. Nesta última, os principais achados correspondem a uma hepatomegalia e tendências à esteatose, decorrentes da insuficiência cardíaca congestiva da CCC. Vias biliares extra-hepáticas: megavesícula e megacolédoco têm sido relatados, sempre associados à desnervação. Podem ocorrer hipertonia do esfíncter de Oddi e discinesias da vesícula biliar (enchimento mais lento); 4. Diferenciar as formas de diagnóstico da Doença de Chagas O diagnóstico laboratorial também é diferente para as duas fases em que a doença se apresenta: durante a fase aguda, o diagnóstico deve ser parasitológico, enquanto que na fase crônica, sorológico; O que define a fase aguda (do ponto de vista laboratorial) é a presença do parasito facilmente demonstrável no sangue periférico. Ao contrário, a baixa parasitemia é característica da DC na sua fase crônica; Quando o número de parasitos é baixo, tenta-se aumentá-lo por técnicas de multiplicação do parasito. As três técnicas mais empregadas (xenodiagnóstico, hemocultivo e PCR) têm o mesmo objetivo: a partir de um número baixo de parasitos, procura-se a sua multiplicação, seja em insetos, meio de cultivo ou métodos bioquímicos; • Exame a fresco de tripanossomatídeos: de execução rápida e simples, sendo mais sensível que o esfregaço sanguíneo. A coleta deve ser realizada em pessoa com síndrome febril e até 30 dias do início de sintomas. Caso a primeiracoleta Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII seja negativa e a suspeita clínica persistir, recomenda-se nova coleta entre 12 a 24 horas da primeira. • Métodos de concentração (Strout, micro- hematócr i to ou creme leucoci tár io ) : são recomendados nos casos em que o exame a fresco for negativo. Entretanto, visando a otimização do diagnóstico, recomenda-se que sejam realizados simultaneamente ao exame a fresco. Em suspeitos com mais de 30 dias de sintomatologia, os métodos de concentração são mais sensíveis. • Lâmina corada de gota espessa ou esfregaço sanguíneo: possui menor sensibilidade que os m é t o d o s a n t e r i o r e s , s e n d o r e a l i z a d o s prioritariamente na região da Amazônia Legal, em virtude de aspectos operacionais pela sua utilização sistemática para o diagnóstico da malária. Xenodiagnóstico Realizado em face da baixa parasitemia, durante a fase crônica, para haver a multiplicação do parasito; O xenodiagnóstico é habitualmente realizado com 40 ninfas de terceiro estádio de Triatoma infestans ou de primeiro estádio de Dipetalogaster maximus; Esse exame pode ser efetuado de forma seriada; Em casos de reações alérgicas pela picada dos triatomíneos, pode ser efetuado o xenodiagnóstico artificial, colhendo sangue com anticoagulante (heparina) com resultados similares aos do xenodiagnóstico convencional; Existem variações, como o xenocultivo; É possível ter falso resultado posit ivo no xenodiagnóstico em duas circunstâncias nas quais outros tripanossomatídeos podem ser encontrados nas fezes dos triatomíneos utilizados: contaminação da colônia de barbeiros com Blastocrithidia triatomae e presença de Trypanosoma rangeli (infecta com certa frequência indivíduos residentes na América Central, Colômbia e Venezuela transmitidas pelo Rhodnius prolixus, não sendo patogênico para o homem). Para evitar estes falsos resultados, além do controle periódico da colônia de triatomíneos, é desejável corar a lâmina para facilitar a diferenciação do T. cruzi com outros tripanossomas. Exames Complementares • Urinálise (exame do sedimento urinário - EAS): útil para verificar a ocorrência de sangramento pelas vias urinárias; • Hemograma completo com plaquetas; • Eletrocardiograma (ECG); • Radiografia de tórax; • Testes de função hepática: são importantes marcadores para verificação do acometimento hepático, especialmente em casos de doença de Chagas aguda por transmissão oral; • As aminotransferases (AST e ALT) frequentemente aparecem elevadas. Bilirrubinas (totais e frações) também podem estar alteradas, com ou sem icterícia visível. Tempo de protrombina (TAP ou TP) prolongado sugere dano hepático; • Provas de coagulação (TTPA): devem ser realizadas sempre que possível, especialmente nos casos com acometimento hepático importante ou manifestações hemorrágicas; • Endoscopia digestiva alta: indicada em casos de dor epigástrica intensa refratária ao tratamento específico ou na vigência dos seguintes sinais de alarme: hematêmese (vômito de sangue), melena (sangue nas fezes), vômitos persistentes, disfagia ou anemia; • Ecocardiograma: em casos de sintomas sugestivos de miopericardite; • Exame do liquor cefalorraquidiano: suspeita clínica de meningoencefalite. Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII 5. Analisar o tratamento (farmacológico/não farmacológico -profilaxia) e o prognóstico Tratamento Profilaxia A prevenção da doença de Chagas está intimamente relacionada à forma de transmissão; Uma das formas de controle é evitar que o inseto “barbeiro” forme colônias dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas residuais por equipe técnica habilitada; Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, podem-se usar mosquiteiros ou telas metálicas; Recomenda-se usar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc.) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata; Quando o morador encontrar triatomíneos no domicílio: • Não esmagar, apertar, bater ou danificar o inseto; • Proteger a mão com luva ou saco plástico; • Os insetos deverão ser acondicionados em recipientes plásticos, com tampa de rosca para evitar a fuga, preferencialmente vivos; • Amostras coletadas em diferentes ambientes (quarto, sala, cozinha, anexo ou silvestre) deverão ser acondicionadas, separadamente, em frascos rotulados, com as seguintes informações: data e nome do responsável pela coleta, local de captura e endereço; Em relação à transmissão oral, as principais medidas de prevenção são: Intensificar ações de vigilância sanitária e inspeção, em todas as etapas da cadeia de produção de alimentos suscetíveis à contaminação, com especial atenção ao local de manipulação de alimentos; Instalar a fonte de iluminação distante dos equipamentos de processamento do alimento para evitar a contaminação acidental por vetores atraídos pela luz; Realizar ações de capacitação para manipuladores de alimentos e de profissionais de informação, educação e comunicação; Resfriamento ou congelamento de alimentos não previne a transmissão oral por T. cruzi, mas sim o cozimento acima de 45°C, a pasteurização e a liofilização; Prognóstico O Escore de Rassi é uma das melhores formas de se predizer o prognóstico de um paciente com DC a longo prazo; Avalia 6 características para dizer o risco de mortalidade em 5 e 10 anos; Mnemônico CHAGAS: • Classe funcional III ou IV • Hipocontratilidade no ECO • Amplitude reduzida do QRS • Grande coração na radiografia • Arritmia no Holter 24h (TVNS) • Sexo masculino Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Referências bibliográficas: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/doenca-de-chagas https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/abril/14/boletim_especial_chagas_14abr21_b.pdf https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/multimedia/image/v1015885_pt Veronesi R., Focaccia R. Tratado de Infectologia. 3ª ed. São Paulo: Ed Atheneu; 2005. http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2018/Recomendacao/Relatorio_PCDT_Doenca_de_Chagas.pdf
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