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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE TUTORIAL 5 Sara Oliveira Boa Sorte Costa 1. Compreender as diferenças entre o uso da voz no rádio e na TV: O LOCUTOR PROFISSIONAL O locutor profissional é licenciado, tem formação específica, passou por um processo seletivo e, portanto, já atua em uma emissora de rádio. Dessa feita, o foco do trabalho está voltado à necessidade de ajustá-lo ao perfil da empresa, às características da programação para a qual foi contratado o que direciona o trabalho em fonoaudiologia, de aprimoramento de suas habilidades comunicativas, sem deixar de lado a promoção da saúde vocal4. A atuação do locutor radialista vai além da transmissão de informações e abarca a comunicação em sua essência, por meio da exploração de todos seus recursos expressivos numa concreta interação com seu ouvinte. Aspirante à locutor Geralmente, o aspirante à locução é aluno de cursos de formação de locutores radialistas, com pouca ou nenhuma experiência nessa atividade, com ensino médio completo, exigência básica para frequentar os cursos licenciados para tal formação. Esse futuro locutor deseja desenvolver competências que o levem a alcançar sua meta e, assim, a atuação fonoaudiológica baseia-se na capacitação desse indivíduo junto ao desenvolvimento de suas habilidades de comunicação. O fonoaudiólogo também está sempre atento a incentivar o aspirante a locutor a utilizar seus próprios recursos vocais, pois, geralmente, no início da carreira, o radialista imita as vozes de locutores renomados, que são seus ídolos e modelos de comunicação. O rádio sempre buscou a interação com seu público em suas diferentes esferas e demonstra a flexibilidade que deve ocorrer para que haja o envolvimento com o seu ouvinte. Há de se ressaltar que a criatividade e a ousadia na busca de recursos de comunicação para atrair os ouvintes estiveram e estão presentes até o momento atual na comunicação radiofônica. O fonoaudiólogo deve estar atento a esses ajustes de comunicação empregando seu conhecimento não só voltado à visão estética da voz como à forma de falar e organizar a linguagem do locutor radialista. A linguagem radiofônica é criativa e dinâmica. Seu emprego considera o tipo de rádio (AM, FM, internet), a emissora e sua filosofia e os estilos de programações. Assim, o caráter e os modos de uso são multiformes, levando o ouvinte, elo final da cadeia comunicativa, nesse caso, a trabalhar com o imaginário, a partir das muitas diversidades. Talvez aí resida a resistência da radiofonia através dos tempos. A locução demanda dinamismo e a interação locutor-ouvinte é a premissa fundamental. Dessa maneira esse profissional deve buscar estilos próprios e marcar, por meio de sua voz e fala, a sua personalidade. Aspectos como articulação clara, expressividade convincente ajustada ao estilo de discurso e certa agradabilidade vocal caracterizada por uma ressonância equilibrada, são componentes básicos na locução. Postura corporal, respiração e coordenação pneumofônica O espaço básico de atuação do locutor radialista é o estúdio de rádio composto por mesa de som, computador, microfone e todo um aparato tecnológico necessário para a transmissão radiofônica. Nesse espaço, geralmente o radialista trabalha em pé ou sentado. A postura é fundamental para uma emissão equilibrada, sem tensões. Ao fazer a locução e manipular, simultaneamente, os recursos técnicos que tem à disposição, o locutor deve manter o alinhamento do eixo cabeça- tronco sempre que possível, sem perder a livre movimentação do seu corpo, dentro das possibilidades do espaço em que se encontra. Os gestos e os movimentos corporais contribuem de maneira indireta para a efetividade da comunicação, pois o locutor que se expressa livremente com o corpo dá mais veracidade à emissão. Postura corporal, respiração e coordenação pneumofônica Do mesmo modo que o radialista deve estar atento à postura, ele também deve cuidar da respiração e da coordenação pneumofônica. Ao gravar comerciais, narrar partidas esportivas, transmitir notícias e comentar as informações, o locutor passa horas seguidas falando, com alguns intervalos entre as emissões. Portanto, o cuidado com a respiração e principalmente com o emprego das pausas durante a fala é essencial para a saúde vocal, estabilidade e controle da regularidade da voz durante o tempo que durar sua locução. Além de ser base da saúde vocal, a coordenação respiratória também é utilizada como um importante recurso expressivo em diferentes atividades desse profissional. O locutor comercial faz uso calculado das pausas durante sua locução como uma das formas de garantir a interpretação desejada do texto Frequência, intensidade, ressonância e projeção da voz Nos dias de hoje, não há um padrão de frequência que se busque atingir para o locutor, como no passado. Há algumas décadas esperava-se que o locutor tivesse uma voz grave e “impostada” como se dizia; a ressonância tinha um foco mais oral. Atualmente, o que conta é a clareza da mensagem e a forma do emprego da voz e da fala de forma contextualizada. No início da carreira, ainda encontram-se locutores utilizando voz bastante grave na tentativa de imitar profissionais famosos que têm como modelo. O fonoaudiólogo deve dissuadir o radialista a manter esse tipo de locução se o padrão vocal estiver muito distante da sua emissão habitual ou no caso de não combinar com a mensagem a ser transmitida. Da mesma maneira, o locutor deve ter controle e flexibilidade vocal para variar a intensidade da voz de acordo com a necessidade. A locução de uma partida de futebol e a gravação de um comercial clássico exigem ajustes bem distintos de intensidade. Se por um lado a narração esportiva requer forte intensidade de acordo com a emoção do discurso, o comercial clássico, por sua vez, deve ser emitido com fraca intensidade dependendo da interpretação do texto. Frequência, intensidade, ressonância e projeção da voz O uso diversificado de frequência e intensidade vocais, associado à variação da modulação, garante uma das características fundamentais da locução radiofônica: naturalidade. Assim como a flexibilidade vocal é essencial para o locutor, indica-se o equilíbrio ressonantal para esse profissional. O uso equilibrado das cavidades de ressonância também vai possibilitar a projeção vocal do locutor em diferentes situações em que ocorre aumento da intensidade sem esforço ou tensões associadas. Os desvios excessivos nos focos de ressonância devem ser evitados, principalmente se comprometerem a naturalidade e a clareza da mensagem. Contudo, podem ser considerados recursos expressivos em situações específicas, como nas vozes caricatas. Articulação e velocidade da fala Como já foi dito anteriormente, a comunicação radiofônica não fornece as pistas geralmente presentes nas expressões faciais e corporais e que são tão importantes para a compreensão da mensagem. Portanto, a utilização de um padrão articulatório bem definido torna-se fundamental para que a locução seja clara e precisa. Além dos demais recursos vocais de que dispõe, o radialista deve garantir movimentos amplos de abertura de boca sem perder o dinamismo e a fluência da fala. Uma situação comumente observada é a redução da amplitude de abertura de boca quando o radialista usa velocidade rápida de fala. Nessas situações, além de uma articulação bem definida, o locutor também deve ter agilidade articulatória, pronunciando cada som com exatidão. Expressividade na peça radiofônica A voz necessita de tempo e espaço para realizar-se como arte e não apenas como instrumento. No rádio, a voz não é um elemento a mais a completar a concepção total do espetáculo audiovisual. Ela compõe com sons, silêncios e música o espetáculo sonoro. Compor um personagem radiofônico é transportar para a voz e para a escuta o mundo visível do personagem, suplantando a imitação. Assim como no teatro, o locutor radialista deve ter autoconhecimento corporal geral como também consciência e controle de seu aparelho fonador. Ele deve ainda desenvolver de modorefinado suas habilidades de observação, para que seja possível a transposição daquilo que ele apreende e deseja manifestar na sua composição vocal conseguindo, assim, os ajustes do trato vocal e dos órgãos fonoarticulatórios necessários à tarefa. Treino de leitura como recurso de fluência e expressividade A escolha dos textos deve ser cuidadosa dependendo do objetivo a se alcançar nessa atividade, podendo ser usados textos radiofônicos ou não. Por meio da leitura, o locutor treina aspectos relacionados com coordenação pneumofônica, modulação, articulação e velocidade de fala. Além disso, as questões referentes à interpretação do texto também podem ser trabalhadas, uma vez que a voz é utilizada na veiculação de diferentes sentidos do texto. As leituras devem ser gravadas e ouvidas pelo locutor e pelo fonoaudiólogo. Esses registros servem de referência para o treino da percepção auditiva, importante elemento para se ter um uso consciente e controlado dos recursos vocais e interpretativos. Desde a década de 1980 aos dias atuais, a atuação fonoaudiológica junto ao profissional de telejornalismo tornou-se mais abrangente. O olhar fonoaudiológico, que antes se restringia às queixas e/ou problemas vocais, hoje compreende este profissional como um comunicador que depende da voz e, principalmente, de sua habilidade comunicativa diante de uma câmera para exercer sua profissão. Um breve histórico mostra que as narrações da década de 1980 eram marcadas com foco de ênfases em todas as palavras da frase, o que caracterizava um estilo único e mais formal de fala. Logo depois, a comunicação do corpo, a voz e a expressividade, com destaque à postura, à expressão facial, às pausas e às ênfases no discurso, começam a ser valorizados2. O repórter e o apresentador, com voz típica e estereotipada, tornaram-se obsoletos. O telejornalismo assumiu características próprias, principalmente quanto à exploração da imagem e à aproximação com telespectador. Atuação Fonoaudiológica no Telejornalismo O tipo de atuação do repórter, seja como apresentador de um telejornal, como repórter propriamente dito, narrador ou comentarista, incide em formas de comunicação distintas que exigirão um trabalho fonoaudiológico específico. Geralmente, o apresentador de tevê trabalha em um estúdio, um local asséptico, com condições de temperatura e iluminação constantes. O horário de trabalho tende a ser mais regular, o que facilita o estabelecimento de rotinas de descanso e alimentação, favorecendo a saúde geral e, consequentemente, a saúde vocal. Durante a apresentação, ele fica de pé ou sentado e, normalmente, lê no teleprompter – equipamento utilizado na frente da câmera, que possibilita a leitura do texto – as “cabeças”, parte que introduz a matéria, ou as “notas-pé”, parte que finalizam a matéria. Durante a leitura, ele precisa passar a impressão de que está olhando diretamente para a lente da câmera e falando ao telespectador, tarefa que exige habilidade e uma autopercepção refinada da comunicação. Esse profissional tem o conforto de trabalhar dentro de um estúdio de gravação, mas o desafio de se envolver com temas dos mais variados, os quais ele não participou ativamente da elaboração. Além disso, precisa transmitir de modo expressivo e com credibilidade O repórter de tevê sai a campo para elaborar as suas reportagens. Ele vai ao local da notícia e expõe-se às condições climáticas e do ambiente. Ele faz entrevistas, busca informações, grava a passagem, retorna à emissora, elabora seu texto e faz a gravação do off – fala coberta por imagens. Para isso, ele tem o desafio diário de contar a notícia, muitas vezes de improviso, outras por meio de leitura, procurando a espontaneidade e a naturalidade comunicativa. Em geral, a atuação dos narradores esportivos acontece num local preparado, dentro do próprio estádio. Esse profissional chega com antecedência ao local dos jogos, apura dados relevantes sobre a partida, orienta-se sobre características dos times e dos jogadores e elenca informações e curiosidades para comentar durante a narração, o que exige grande atenção e conhecimento técnico. O comentarista esportivo atua com o narrador, e seu papel é comentar os lances mais importantes do jogo. Ele costuma atuar junto aos apresentadores, nos estúdios, ou em cabines nos grandes estádios. 2. Identificar os tipos de locuções em rádios AM e FM: LOCUÇÃO EM AM Este locutor desempenha seu trabalho em emissoras de amplitude modulada. Igual no FM os estilos de locução também mudam conforme a emissora. A locução no AM exige do profissional de locução um maior preparo, pois ele fala bem mais do que no FM. Sua postura é mais próxima ao ouvinte. Seja numa emissora popular onde suas características seja o entretenimento ou numa rádio onde o jornalismo seja seu segmento, o locutor é mais próximo ao ouvinte. Por isso que você, ao ouvir o AM, vai observar profissionais mais maduros e experientes, pois é mais complexo o trabalho junto ao microfone. No caso da rádio AM, trabalha-se com a Amplitude Modulada (AM), que é uma das formas mais econômicas de fazer a transmissão de um som de rádio. A modulação é a variação de um parâmetro de uma onda portadora senoidal, de forma proporcionalmente linear ao valor instantâneo do sinal modulante ou da informação. Por meio de um transmissor AM, o microfone consegue converter a voz do locutor em voltagem variada (tensão). A Amplitude Modulada foi o meio de transmissão de rádio que se tornou popular mais rápido, pois chegava a mais equipamentos – logo, mais ouvintes. No entanto, esse tipo de frequência também sofre mais com as interferências de outras ondas, por isso começou a perder força e preferência do público. A vantagem é que a AM é uma das formas de transmissão mais baratas e simples, por isso costuma ser a primeira opção para muitas pessoas que estão montando uma rádio. LOCUÇÃO EM FM É o profissional que desempenha sua função em emissoras de Frequência Modulada. Os estilos de comunicação no FM variam conforme o estilo da emissora. A locução no FM é direcionada a um público que tem suas preferências na programação musical e não no locutor em si. O grande destaque vai para a emissora e não para o apresentador. A Frequência Modulada (FM) surgiu como uma alternativa à AM, que apresentava muitos problemas. A frequência foi desenvolvida para ser uma solução para a ineficiência, alcance curto, interferências que a AM apresentava frequentemente. Por isso, é um modelo mais complexo e que gera mais custos de manutenção. A principal vantagem é a qualidade que proporciona, sem ruídos, sem interferências e, em consequência disso, com um alcance muito maior. Além disso, mesmo que dois sinais estejam sintonizados na mesma frequência, apenas o sinal mais forte será reconhecido pelo receptor. Com tantas diferenças entre rádio AM e FM, naturalmente uma das duas seria mais utilizada. Isso gerou uma necessidade muito forte de migração das emissoras que ainda utilizavam a frequência AM. Por isso, a expectativa é que em 2021, as rádios que ainda estão na frequência AM consigam mudar para a FM. Locução narrativa: é aquela que sente o texto lido, usa as emoções. Ela é mais interpretativa, sendo o locutor quase um ator. É muito utilizada em vídeos, seja institucional, comercial ou de arte. Locução esportiva: é aquela locução vibrante, tem que ser bom de improviso e ter espontaneidade. Locução em notícias (noticiarista): normalmente trabalha em rádio e lê as notícias escritas pela redação. Seu tom é mais sóbrio e sério. Locução comercial: é a interpretação da peça publicitária. É preciso encontrar a entonação necessária que aquela mensagem exige, além de prender a atenção do ouvindo do começo ao fim. Locução apresentador: é o que comanda um programa de rádio, por exemplo. Faz o trabalho de “âncora” e dá diversas informações no andamento do programa. https://cicavoz.com.brproject/cinderela-narracao-dublagem/ https://cicavoz.com.brproject/nestle-locucao-institucional/ https://cicavoz.com.br/anunciar-em-radio-vale-a-pena/https://cicavoz.com.br/o-que-e-video-marketing/ https://cicavoz.com.brproject/locutora-starbucks/ https://cicavoz.com.brproject/locutora-starbucks/ 3. Discutir o trabalho fonoaudiológico no rádio e no telejornalismo. O LOCUTOR RADIALISTA E A FONOAUDIOLOGIA O fonoaudiólogo que pretende trabalhar com locutores radialistas deverá compreender o processo de locução e, logicamente, considerar seus diferentes gêneros (esportivo, publicitário, comercial e informativo, entre outros) e programações. Devem ser considerados os limites claros que existem entre o locutor profissional e o aspirante à locução. A boa locução implica domínio de habilidades básicas que devem ser consideradas pelo fonoaudiólogo atento, como postura corporal facilitadora à projeção de voz sem tensão; e coordenação respiratória com adequado uso das pausas de modo a regularizar a emissão vocal, além de subsidiar necessidades de ênfases no discurso. Também requer abertura de mandíbula; postura de órgãos fonoarticulatórios; colocação adequada de ponto e modo articulatórios; qualidade vocal compatível com adequado fechamento glótico; domínio de leitura; e fluência verbal. Avaliação do locutor Tanto no trabalho em grupo quanto no individual, a avaliação da comunicação do locutor ou aspirante a locutor é indispensável. Ela deve conter uma entrevista e avaliação da voz, fala e leitura. Nos casos de locutores profissionais, em geral há uma queixa específica em relação a sua voz e/ou fala que o incomodam. Durante a entrevista, a escuta crítica do fonoaudiólogo e sua experiência em conduzir anamnese revelam-se fatores fundamentais. Além de serem levantadas informações básicas sobre a pessoa como sua identificação, nível de escolaridade, modalidade de atuação que tem ou aspira ter no rádio, o fonoaudiólogo pode perceber dados de voz, fala, fluência e linguagem por meio de uma emissão espontânea, o que revela muito do domínio de linguagem da pessoa, entre outros aspectos. Avaliação do locutor Um trecho dessa entrevista pode ser gravado, como, por exemplo, sua apresentação. Essa amostra é um registro inicial que também poderá ser usado para comparação com futuras gravações ao longo da evolução do trabalho. No caso de locutores profissionais que relatam dificuldades pontuais, além de uma emissão que demonstre a queixa, é interessante que se registrem amostras de sua locução radiofônica para análises perceptivo-auditivas de voz e fala, envolvendo locutor e fonoaudiólogo, como também para arquivo e posterior comparação. Sempre é interessante solicitar ao profissional que traga uma gravação em que ele julgue seu desempenho como tendo sido satisfatório. Avaliação do locutor É importante se conhecer a demanda vocal e as necessidades particulares inerentes a cada locutor. É essencial ter informação sobre o tempo de uso da voz dentro e fora da emissora, no caso de outros trabalhos que exijam da voz; a distribuição ao longo da semana de trabalho; as circunstâncias ambientais; as necessidades quanto ao emprego de volume de voz8; e, principalmente no caso do locutor esportivo, se há maior tendência à perda de líquido durante o trabalho e como é feita a reposição hídrica. O conhecimento de dados sobre saúde geral é muito importante, com destaque àqueles relacionados com alergias, refluxo gastroesofágico e problemas respiratórios. Ainda é preciso conhecer os hábitos do locutor. Estes podem ser deletérios à saúde da voz como: alimentação inadequada, horas de sono insuficientes, tabagismo, excesso de uso de cafeína e álcool, uso de drogas ilícitas, medicação sem orientação médica e os famosos gargarejos com receitas que passam de um locutor para outro e que, no entanto, são inadequados. O fonoaudiólogo acompanha o radialista em sua exploração vocal e participa de forma ativa da criação de diferentes vozes. O fonoaudiólogo trabalha a expressividade vocal do locutor sem deixar de lado as orientações sobre saúde vocal, para que tais ajustes não ocorram de modo a agredir as pregas vocais. No caso da realização de vozes caricatas, de acordo com os efeitos desejados pelo locutor, os ajustes podem ser transpostos para mecanismos supraglóticos, visando à preservação da fonte sonora. Gravações de tais emissões devem ser realizadas e analisadas entre fonoaudiólogo e locutor até que se obtenha a produção esperada pelo radialista, dentro dos limites da saúde vocal. Treino de leitura como recurso de fluência e expressividade O fonoaudiólogo trabalha com a linguagem do locutor em sua forma mais abrangente e, para isso, utiliza-se de estratégias específicas para o treinamento vocal desse profissional como, por exemplo, atividades de improvisação e exercícios de leitura em voz alta. As leituras dos alunos de locução foram consideradas melhores ao final do curso na avaliação das juízas que apontaram o uso de ênfase como a principal característica da emissão pós-treinamento. Leitura e interpretação de textos são atividades corriqueiras do locutor. Portanto, tarefas de leitura em voz alta têm se mostrado muito úteis para o treino da fluência de fala e da expressividade na emissão. Treino de leitura como recurso de fluência e expressividade O fonoaudiólogo que atua na capacitação desses estudantes tem, dentre muitos objetivos, o desafio de ajudá-los a compreender o que leem. A autora propôs um programa de intervenção fonoaudiológica com foco em leitura em voz alta e obteve resultados positivos com melhora da compreensão do texto pós-treinamento. A avaliação fonoaudiológica para o telejornalismo compreende uma série de procedimentos investigativos. Ela retrata o uso da voz e da fala, possibilita diagnosticar possíveis distúrbios vocais; determina aspectos inerentes ao dia a dia do repórter; avalia a adequação dos gestos, postura e expressão facial na construção da comunicação e possibilita identificar a autopercepção do telejornalista quanto à sua comunicação. A avaliação deve considerar o portfólio do repórter e, caso o profissional ainda não esteja no mercado de trabalho, é importante que se façam gravações de áudio e vídeo. A avaliação fonoaudiológica completa compreende cinco etapas. Avaliação fonoaudiológica no telejornalismo Ela é necessária para se realizar um diagnóstico confiável e para se traçar os objetivos terapêuticos da assessoria fonoaudiológica. Retrata a queixa ou o histórico de problemas de fala, voz e do desempenho comunicativo no vídeo, bem como o histórico sobre o tempo e a trajetória profissional e possibilita estabelecer um contato mais próximo com o telejornalista. Anamnese Para essas avaliações, sugere-se a utilização do protocolo proposto por Cotes e Kyrillos Tal modelo de avaliação é dividido em quatro partes. A primeira parte incluiu uma impressão geral da expressividade e seu impacto na comunicação. A segunda parte da avaliação envolve os aspectos de fala, no qual são abordados o uso da curva melódica e aspectos prosódicos específicos, como o uso da ênfase com descrição para o local de escolha, a forma da ênfase e a acentuação dentro na palavra. Podem ser, ainda, avaliados os aspectos de pausa, ritmo e velocidade, além da combinação dos sons em palavras. A terceira parte aborda a avaliação específica da voz. O quarto item refere-se à avaliação do corpo, expressão facial e uso dos gestos na comunicação. Ao final do protocolo, há um espaço para a conclusão, que possibilita ao fonoaudiólogo a descrição dos achados e o acréscimo de outros dados, como os resultados de uma avaliação auditiva ou otorrinolaringológica. Avaliação perceptivo-auditiva da voz e da prosódia e avaliação perceptivo-visual dos recursos corporais Para uma avaliação completa, também é importante considerar a autopercepção do repórter. Este aspecto avaliativo contempla como o repórter percebe sua narração e sua apresentação no vídeo, qual o seu gosto, sua autocrítica e seus anseios profissionais e emocionais. Os dados desse discurso devem ser analisados com atenção. Isso porque estes perpassam muito da personalidade e expectativa do telejornalistae auxiliarão na construção de uma assessoria fonoaudiológica customizada, priorizando-se a personalidade e a real motivação do telejornalista. Autopercepção do corpo, voz e fala ao vídeo Para a análise acústica do sinal sonoro, o fonoaudiólogo pode utilizar vários programas como o PRAAT http://www.praat.org ou Fono Tools e Voxmetria (CTS), que auxiliam não só na avaliação, mas podem ser amplamente utilizados na reabilitação como uma ferramenta terapêutica, conforme já sugerida, por diversos autores7. O uso da análise acústica é uma ferramenta que torna possível uma análise mais objetiva da fala e da voz. Ela possibilita comparações posteriores e é um ótimo recurso de acompanhamento terapêutico, permitindo a melhor compreensão dos ajustes trabalhados e seu monitoramento mais efetivo. Avaliação acústica da voz Por meio dessa avaliação, verifica-se como o profissional interage com o ruído ambiente, com fatores de estresse na fala ao vivo ou mesmo como ele se organiza para a leitura no teleprompter, ou em situação de entrevistas. Avaliação in loco Inicialmente o enfoque da atuação Fonoaudiologia era voltado para a reabilitação vocal, depois para a prevenção. Hoje, tal atuação transcende e se amplia para uma assessoria comunicativa, cujo objetivo é auxiliar no desempenho expressivo do telejornalista, buscar eficiência e evitar ruídos comunicativos que comprometam a informação transmitida. Os ruídos comunicativos podem ser compreendidos como aspectos que desviam a atenção do telespectador sobre a notícia e interferem nos aspectos da fala, da voz ou do corpo. Muitas vezes, é a produção de um /s/ sibilado demais, um ritmo de fala repetitivo e monótono, um movimento de corpo exagerado ou mesmo uma expressão facial mais rude, diante de uma comunicação mais alegre podem configurar ruídos. Para esses aspectos, o olhar e a escuta do fonoaudiólogo devem ser atentos e apurados. Assessoria fonoaudiológica no telejornalismo A assessoria fonoaudiológica vai auxiliar o telejornalista a potencializar a sua voz e sua expressividade e, dessa maneira, o especialista em voz atuará como um assessor específico, especialista para a comunicação dos repórteres. A atuação pode acontecer em consultórios e/ou clínicas, em escolas de jornalismo e em oficinas ou cursos, além da inserção do profissional em emissoras de televisão. A atuação fonoaudiológica dentro na emissora de televisão possibilita que fonoaudiólogo conheça de perto a rotina dos telejornalistas e acompanhe sua atuação, interferindo pontualmente em diferentes demandas. Nesse local de atuação, é possível também considerar o trabalho junto às equipes que compõem o jornalismo de tevê (produtores, editores de texto e de imagem, repórteres cinematográfico). Os dois grandes eixos da assessoria fonoaudiológica se dividem em saúde vocal e a expressividade. A saúde vocal compreende a utilização da voz e seu comportamento. O fonoaudiólogo aperfeiçoará ou fará a adequação dos ajustes utilizados na produção da fala, buscando a instalação de ajustes que possibilitem a máxima eficiência, sem esforço. Os hábitos adequados e inadequados continuam a ser orientados como preconizados pela literatura. Geralmente, a fala profissional do telejornalista acontece com pequena demanda, mas com alta exigência de qualidade. Vale relembrar que, segundo diretores de tevê, a estrela de um telejornal é a notícia. É a notícia que precisa alcançar de modo claro o telespectador, com segurança e credibilidade. Assim, não há nenhuma hesitação em se substituir um profissional que eventualmente esteja com a voz ligeiramente alterada. A qualquer sinal de desconforto ou sintomas vocais, o jornalista logo deve procurar o fonoaudiólogo para ser orientado, espontaneamente ou direcionado por sua chefia. Assim, muitas vezes os fonoaudiólogos precisam lidar com as chamadas “emergências vocais”. Emergências vocais são problemas que atingem o aparelho respiratório (resfriados, gripes, rinites e amigdalites) e o aparelho digestório (refluxo gastroesofágico) ou grandes abusos vocais interferem na voz. O mecanismo é bastante semelhante nos diferentes quadros: produção aumentada de muco e secreções, edema e alterações ressonantais. Os procedimentos recomendados se resumem a dois grandes grupos: Hidratoterapia: tanto para a fluidificação das secreções quanto para maior sensação de conforto ao falar, a hidratação é necessária e considerada uma intervenção eficaz. Sugere-se a ingestão de maior quantidade de água, água de coco e bebidas quentes (chás). Orienta-se também a ingestão de pequenos goles de água durante a atuação profissional. Além da hidratação sistêmica, que produz resposta em nível corporal global, sugere-se a hidratação direta, com um efeito mais direcionado ao aparelho respiratório; Procedimentos de adequação da voz: a presença de edema nas pregas vocais dificulta sua movimentação, agrava o tom da voz e produz emissão mais abafada. Recomenda-se a realização de exercícios de curta duração e grande número de repetições: sons de apoio vibrantes, nasais, em emissão natural e modulada. A orientação é repetir a sequência a cada meia hora, até o momento próximo ao uso profissional da voz, quando então entram os procedimentos de aquecimento vocal. Nesses casos, o uso de sons alternados hiperagudos e graves promove boa resposta, diante do desafio de obter boa voz para pequenos intervalos de tempo, que é a demanda desses profissionais. As situações de emergências vocais são parte do trabalho fonoaudiológico, mas devem ser evitadas sempre que possível. Desse modo, recomenda-se manter um padrão de fala habitual que aconteça com eficiência e sem esforço, o que garante o uso equilibrado da voz. Para tanto, o trabalho deve envolver a adequação ou a potencialização dos parâmetros vocais, semelhantes à proposta do atendimento clínico tradicional. Recomenda-se suavização da emissão, equilíbrio de ressonância, articulação ampla e precisa, adequação do tom, maior modulação, adequação da loudness, ataque vocal suave e coordenação pneumofonoarticulatória. Esse comportamento vocal, sem dúvida, possibilita a flexibilidade das estruturas do aparelho fonador, garantindo as possibilidades de variação da fala de acordo com o conteúdo, o que caracteriza a fala natural, objetivo buscado cada vez mais no telejornalismo. A expressividade configura hoje a grande demanda fonoaudiológica junto aos vários tipos de profissionais da voz. Seu foco na atuação junto aos telejornalistas busca a conjunção e a coerência de três grupos de recursos: verbais, não verbais e vocais. Os recursos verbais dizem respeito à seleção dos vocábulos e à construção das frases para a transmissão das mensagens. Nesse sentido, o jornalista de tevê vive uma situação que é um verdadeiro desafio: ele parte muitas vezes de um texto escrito, como a leitura do teleprompter e do off, e precisa passar a impressão de que está falando. A linguagem gráfica é bastante diferente da linguagem oral; a maior diferença refere-se ao nível de complexidade: a fala é muito mais simples que a escrita, que quanto mais “rebuscada” mais revela o preparo do autor. Para tanto, orienta-se a escolha de palavras simples, de uso mais corriqueiro; frases curtas, sempre na voz ativa e na ordem direta, de preferência afirmativa, podem auxiliar o telejornalista na sua narração. Apesar de todos esses cuidados, sabe-se, por meio de uma pesquisa da Universidade de Los Angeles (Ucla), que os recursos verbais são responsáveis por apenas 7% do impacto final da comunicação Expressividade no telejornalismo Os recursos não verbais relacionam-se com todo o entorno da comunicação: o cenário, o enquadramento da câmera, a iluminação, o vestuário, a maquiagem e os acessórios. Geralmente, há profissionais nas tevês responsáveis por esses aspectos. Assim, consideraremos e abordamos neste grupo os aspectos do corpo: postura, gestos e expressão facial. A tevê tem a capacidade de ampliar detalhes. Tudo no vídeo ganha uma proporção aumentada. Por isso, o fonoaudiólogo deve cuidar e orientaro cuidado com a postura corporal. A base precisa estar estável, a coluna ereta com o corpo confortável. Quanto aos gestos, eles devem acompanhar a linha da cintura, sem comprometimento e sem competição com a fala. Os gestos acompanham naturalmente a fala, mas, como a situação na tevê é construída, torna-se necessária a orientação quanto a esses aspectos. Gestos naturais ocorrem em maior número nos momentos de ênfase ou para simbolizar a fala. O microfone, quando de mão, deve ser seguro com firmeza, na altura do peito, sem esconder o rosto. O repórter não deve movimentar a mão que segura o microfone enquanto fala e apenas a outra mão deve se movimentar. A expressão facial deve modificar-se de acordo com o conteúdo, com movimentação acentuada dos lábios, dando mais clareza à articulação. Segundo a mesma pesquisa norte americana, recursos não verbais correspondem a 55% do impacto, merecendo, portanto, muita atenção do fonoaudiólogo. Vários autores chamam a atenção para este aspecto. Recursos vocais têm a ver com o modo como utilizamos a fala. Compreende o impacto de todos os parâmetros da qualidade vocal, como tipo de voz, ressonância, pitch, loudness, articulação, ataque vocal, coordenação respiração-fala e os recursos de ênfase, pausa, duração de vogais, variações de velocidade, de intensidade e curva melódica. Trabalha-se aqui com a adequação desses aspectos, além do uso consciente dos recursos e do treinamento em textos, leituras, poesias, etc. Recursos vocais correspondem a 38% do impacto final. Para tanto, é importante buscar a voz preferida para este profissional. Os traços preferidos são: voz grave, intensidade média, ressonância difusa, articulação precisa, regionalismos minimizados, velocidade média, modulação dependente do conteúdo semântico da reportagem, do perfil, do programa e da emissora, com uso de pausas expressivas, harmonia entre voz, expressão facial e gestos. A psicodinâmica dessa voz preferida é de credibilidade, verdade e competência, traços sempre buscados junto a esse grupo. Segundo o mesmo estudo, o grau de risco vocal é discreto. A coerência entre os três grupos de recursos é sempre necessária. O treinamento desta coerência é realizado utilizando-se os textos escritos pelos próprios telejornalistas, ou por colegas, com temas bem diversos. Essa interação dos recursos verbais, vocais e não verbais deve se complementar de maneira harmônica. Assim, as técnicas vocais e o trabalho da expressividade desenvolvido pelos fonoaudiólogos ajudam o telejornalista a contar a sua história. Em contrapartida, o telespectador terá a impressão de que o profissional está “falando”, “contando” e não simplesmente lendo um texto. Isso está associado à credibilidade e à clareza que o telejornalista apresentador precisa transmitir, com naturalidade. 4. Compreender as alterações laríngeas ocasionadas pelo refluxo gastroesofágico e a atuação fonoaudiológica: O refluxo laringofaríngeo se refere ao refluxo gastresofágico que alcança estruturas superiores ao nível do esfíncter esofágico superior, e isso implica em uma série de alterações otorrinolaringológicas, incluindo laringite posterior crônica, nódulos vocais, laringoespasmo, edema de Reinke, úlceras, granuloma, e sensação de bola na garganta ou globus pharyngeus Anatomicamente, a laringe posterior localiza-se em frente da abertura do esôfago na faringe. Pequenos volumes de refluxo, se em forma de bolhas de líquido, podem facilmente chegar à parede posterior da laringe. Este é um importante motivo pelo qual esta é a área onde primeiro se observa sinais de inflamação em pacientes com sintomas de laringite. Para prevenir o refluxo, o esfíncter esofágico inferior, que está localizado no nível do hiato diafragmático, e que atua como principal barreira deve manter uma pressão maior do que a do estômago. Quando esse equilíbrio não é mantido, a pressão gástrica torna-se maior do que a do próprio esfíncter esofágico inferior, ocorrendo, então, a regurgitação, sendo que a diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior pode ocorrer por afrouxamento muscular, hérnia de hiato ou por relaxamento transitório. Em relação ao tratamento fonoaudiológico, este ocorrerá nos casos em que o refluxo causar alterações vocais ou até mesmo lesões laríngeas secundárias. Na presença dessas, o processo de reabilitação terá como objetivo a reabsorção, diminuição ou estabilização da lesão, a melhora da movimentação da mucosa, a melhor coaptação glótica e o uso de comportamentos vocais que não piorem as alterações já apresentadas.
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