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Resumo O Setting -A Criação de um Novo Espaço Livro Zimmermman

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Resumo
O Setting: A Criação de um Novo Espaço
Setting (comumente traduzido em português por “enquadre”), que pode ser
conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e
possibilitam o processo psicanalítico.
Assim, o setting resulta de uma conjunção de regras, atitudes e combinações, tanto
as contidas no “contrato analítico” (conforme descrito no capítulo anterior) como também
aquelas que vão se definindo durante a evolução da análise.
Estarte, o setting, por si mesmo, funciona como um importante fator terapêutico
psicanalítico, pela criação de um novo espaço que possibilita ao paciente reproduzir, no
vínculo transferencial, seus aspectos infantis e, a um mesmo tempo, poder usar a sua parte
adulta para ajudar o crescimento daquelas partes infantis, possivelmente frágeis e algo
desamparadas. Igualmente o enquadre age.
Como modelo de um provável novo funcionamento parental, no interior do psiquismo
do paciente , que consiste na criação, pelo analista, de uma atmosfera de trabalho, a um
mesmo tempo de muita firmeza (é diferente de rigidez) no indispensável cumprimento e na
preservação das combinações feitas, juntamente com uma atitude de acolhimento, respeito
e empatia.
Pelo contrário, hoje é consensual que a estrutura psíquica do terapeuta, sua
ideologia psicanalítica, empatia, conteúdo e forma das interpretações, demais atributos de
sua personalidade e modo de “ser”, enfim, a sua pessoa real contribuem de forma decisiva
nos significados e nos rumos da terapia analítica.
FUNÇÕES TERAPÊUTICAS DO SETTING
Seguem, enumeradas, algumas das características que me parecem ser sobremodo
relevantes na prática clínica:
1. De uma maneira geral, o setting analítico é o mesmo para qualquer tipo de paciente;
2. Com pacientes autistas: uma nova condição de maternagem, que permita, por meio de
sua atividade analítica, a suplementação de falhas e vazios originais, assim possibilitando a
internalização de uma figura materna suficientemente boa, que sempre lhe faltou.
3. Uma vez instituído, o setting deverá ser preservado ao máximo.
4. A vantagem de preservar ao máximo o enquadre combinado encontra respaldo em
argumentos analíticos como o de estabelecer o aporte da realidade exterior.
5. Assim, as regras do setting ajudam a prover uma necessária delimitação entre o “eu” e
“os outros”, por meio de desfazer a indiscriminação e indiferenciação e, portanto, facilitando
a obtenção das capacidades adultas de diferenciação, separação e individuação.
6. Igualmente, as regras que foram instituídas no enquadre auxiliam a definir a noção de
limites, limitações, lugares e diferenças que provavelmente estão algo borradas pela
influência da onipotência e onisciência, próprias da parte psicótica da personalidade.
7. Neste contexto, o enquadre auxilia a desfazer as fantasias daquele analisando que, de
alguma forma, sempre está em busca de uma ilusória simetria – pela qual ele busca a
mesma hierarquia de lugar e de papéis que o analista tem – e de uma similaridade, ou seja,
a crença do paciente de que ele tem uma igualdade nos valores, funções e capacidades do
seu analista.
8. Da mesma forma como pode haver um desvirtuamento do enquadre em decorrência de
uma excessiva rigidez do analista, também não podemos ignorar os inconvenientes, por
vezes graves, que decorrem de uma exagerada permissividade na aplicação e na
indispensável preservação – da essência – das condições normativas que foram
combinadas no contrato, e se essas não foram claramente definidas, torna-se ainda mais
sério o erro técnico.
9. Deve ficar claro que, como seres humanos, não deve existir uma distinção entre analista
e paciente, porém, na situação analítica, é fundamental que os direitos, deveres, papéis,
lugares a serem ocupados, atribuições e funções a serem desempenhadas por cada um.
10. É imperioso estabelecer uma nítida distinção entre o que é ser um analista “bom”
(frustra adequadamente, quando necessário) e “bonzinho” (nunca frustra).
11. Assim, no caso do terapeuta “bonzinho”, ele não só não saberá provocar eventuais
frustrações a certos pedidos e expectativas do paciente como também não terá condições
de colocar limites e definir limitações, nem propiciar a possibilidade de analisar sentimentos
difíceis (mergulhar na depressão do paciente ou nas suas partes psicóticas, etc.) e,
tampouco, despertará o lado adulto do paciente que deve aprender a enfrentar as
dificuldades, no lugar de fugir delas por meio de diferentes táticas de evitação e de fuga, o
que perpetua o estado de onipotência, ou, ainda, a de usar o recurso de acionar a que
outros enfrentem as dificuldades por ele, o que vai reforçar a condição de criança
dependente.
12. Também devemos considerar o fato de que o analista, que evita ao máximo frustrar o
paciente em seus pedidos por mudanças nas combinações do setting, chegando a ponto de
fazer alguns sacrifícios pessoais, pode estar encobrindo uma atitude sedutora a serviço de
seu narcisismo ou o seu medo diante de uma possível revolta e rejeição por parte do
analisando. Além disso, também acresce o inconveniente de um reforço no paciente, de
uma falsa concepção de que a frustração é sempre má e que deve ser evitada, assim como
também a de que o analista deve ser poupado de suas cargas de avidez; nesses casos, o
enquadre corre o risco de ficar estruturado em uma busca única de gratificações recíprocas,
o que desvirtua a essencialidade do processo analítico.
13. Em contrapartida, outras vezes pode ocorrer o inverso, isto é, o analista cria exagerados
obstáculos para atender certos pedidos dos pacientes, por mais justos e inofensivos que
sejam (por exemplo, mudar a hora de uma sessão para uma outra possível, em uma
mesma semana, pois aquele horário coincide com um exame que deve prestar...), de sorte
a repetir uma provável conduta similar a que o paciente, quando criança pequena, teve com
os pais. Trata-se de pacientes que, desde pequeninos, foram condicionados pelos pais a
ganhar as coisas com muito choro, luta, promessas, formações reativas e prováveis
humilhações, de modo que uma atitude análoga por parte do analista pode incrementar no
paciente a crença de que para que ele consiga ganhar algo, deve ser como prêmio pelo
sofrimento, ou merecimento pelo seu esforço, ou por um bom comportamento.
14. o controle sádico, inconsciente, por parte do analista (não é a mesma coisa que impor
frustrações necessárias) pode levá-lo a utilizar frustrações e privações severas e
desnecessárias, podendo ele pensar que está acertadamente obedecendo à regra da
abstinência e que Freud se orgulharia dele.
15. É relevante que o analista reconheça que é unicamente sofrendo as inevitáveis
frustrações impostas pelo setting, desde que essas não sejam exageradamente excessivas,
escassas, incoerentes e injustas, que o analisando (tal como no passado evolutivo da
criança com seus educadores) pode desenvolver a, fundamental, capacidade para pensar e
simbolizar.
16. Pode-se dizer que a função mais nobre do setting consiste na criação de um novo
espaço onde o analisando terá a oportunidade de reexperimentar com o seu analista a
vivência de antigas, e decisivamente marcantes, experiências emocionais conflituosas que
foram mal compreendidas, atendidas e significadas pelos pais do passado e, por
conseguinte, mal solucionadas pela criança de ontem, que habita a mente do paciente
adulto de hoje.
17. Agressividade sadia: Por meio de um trabalho analítico de ressignificação dessas
experiências emocionais, o paciente foi resgatando a capacidade de fazer um bom uso da
agressividade sadia.
18. Esse exemplo também serve para ilustrar que a capacidade de o analista sobreviver a
possíveis ataques dos pacientes (agressivos, eróticos, narcisistas, perversos...) constitui-se
em um dos fatores mais importantes do clima emocional do setting.
19. Acredito que dificilmente haverá uma experiência mais fascinante do que aquela que ele
está revivendo com o seu analista, fortes emoções, os aspectos agressivos destrutivos
incluídos, e que os resultadospodem ser bem diferentes daqueles que imaginava e aos
quais ele já estava condicionado.
20. A importância disso decorre do fato de que, apesar de todos os sentimentos, atos e
verbalizações, significados pelos pacientes como proibidos e perigosos, o setting mantém
se inalterado. O analista não está destruído, nem deprimido, tampouco colérico, não revida
nem retalia, não apela para a medicação quando essa não está indicada e, muito menos,
para uma hospitalização, não o encaminha para outro terapeuta, sequer modificou o seu
estado de humor habitual e ainda se mostra compreensivo e o auxilia a dar um novo
significado, um nome, proporcionando-lhe, ainda, extrair um aprendizado com a experiência
que, de forma tão sofrida, ele reexperimentou no campo analítico, tanto diretamente, na
transferência com o analista, ou, simplesmente, por meio da verbalização, carregada de
afetos, de experiências antigas, fato que, mais do que uma simples catarse, possibilitará a
realização de novos significados, com outros sentimentos em torno daquelas recordações
traumáticas.
21. Às vezes, por razões distintas, o enquadre instituído sofre algumas transgressões, em
grau maior ou menor, porém o importante é que o analista sinta que está com o controle da
situação, e que possa voltar à situação original, sempre que julgar necessário. Em situações
mais extremas, o setting pode ficar desvirtuado a um tamanho tal que cabe a expressão
perversão do setting, em cujo caso formamse diversos tipos de conluios inconscientes e
até, por vezes, conscientes, sendo o mais freqüente deles aquele que foi determinado pela
recíproca necessidade de sedução, para agradar e ser agradado, um “faz-de-conta” que a
análise está evoluindo quando ela pode estar totalmente estagnada, além daqueles casos
mais graves do ponto de vista de uma terapia analítica séria, nos quais há uma quebra de
ética e uma total perversão analítica, sob a forma de envolvimento erótico, negócios em
comum, programas duvidosos fora do enquadre, etc.
22. Uma forma nada rara de perversão do setting é aquela na qual determinados pacientes,
mais comumente por parte dos narcisistas de “pele grossa” (ver o capítulo referente aos
transtornos do narcisismo), tentam, e muitas vezes conseguem, efetivar uma mudança de
lugares e de papéis que, normalmente, o analista e o paciente devem desempenhar.
23. Um ponto importante em relação à preservação do setting é o que diz respeito à
inclusão, ou não, de parâmetros por parte do analista. Na atualidade, o critério de
“transgressão” do enquadre está bastante flexível de modo que, ao contrário dos primeiros
tempos, o analista permite-se responder a certas perguntas que os pacientes fazem, sugerir
nomes de médicos especialistas no caso de os pacientes desconhecerem e solicitarem,
providenciar o uso de medicação concomitante com o curso da psicanálise, recomendar
determinadas leituras ou filmes e demais coisas do gênero. No entanto, é necessário que o
analista fique atento à possibilidade de estar cometendo pequenas, mas reiteradas,
transgressões, como faltar muito, atrasar-se sistematicamente, ou se, continuadamente,
muda os horários, encurta ou prolonga excessivamente o tempo da sessão, faz espúrias
combinações relativas ao pagamento, estimula os contatos telefônicos de forma ilimitada,
envolve-se exageradamente com as circunstâncias externas da vida do analisando, expõe
demais a sua vida íntima para o paciente, usa o analisando para satisfazer a sua
curiosidade particular, ou para atraí-lo como aliado contra algum colega desafeto seu, ou
rival, detrator, etc.
24. Na época pioneira da psicanálise, o mais comum era a prática de seis sessões
semanais; após algumas décadas, o número oficial ficou reduzido para cinco,
posteriormente passou a prevalecer um consenso de quatro sessões e, na atualidade, por
razões de custo econômico e coisas afins, existe um grande movimento nas sociedades
psicanalíticas no sentido de oficializar o número mínimo de sessões para três, medida essa
que já vige em algumas instituições, como na França, entre outras.
25. A clara evidência de um certo esvaziamento dos consultórios está obrigando os
analistas a repensarem o problema do modelo tradicional de quatro ou cinco sessões
semanais, de modo a não se prender rigidamente nesse número mínimo e, em seu lugar,
pensar, prioritariamente, em como viabilizar um espaço de análise de acordo com as
necessidades de cada paciente em particular.
26. Algo equivalente poderia ser dito quanto à possibilidade de serem feitas mais de uma
sessão em um mesmo dia; a obrigatoriedade, ou não, do uso do divã, etc. Penso que, indo
muito além desses aspectos exteriores, o fundamental é o fato de que o setting, levado a
sério, comporta-se, por si só, com uma importante função de “continente”, em que o
paciente sabe que conquistou um espaço sagrado, unicamente seu, que será contido nas
suas angústias, entendido (é diferente de “atendido”) em suas necessidades, desejos e
demandas, respeitado no ritmo de análise que ele é capaz e respirará uma atmosfera de
calor e paz, não obstante a possibilidade de que esteja em plena transferência negativa,
caso já tenha se desenvolvido uma “aliança terapêutica” entre o par analítico.
27. O campo analítico deve ser regido por algumas regras técnicas que foram originalmente
legadas por Freud e que, embora conservem muito da sua essência, sofreram profundas
transformações,

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