Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Joëlle Moreira - Medicina UFPE Urologia INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO É definida pela presença de bactéria na urina tendo como limite mínimo definido, a existência de 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por mililitro de urina (ufc/ml). FISIOPATOGENIA . A contaminação pode decorrer de 4 vias: 1. Ascendente: Principal - vem do distal para o proximal por refluxo vesicoureteral (crianças), coito (mulheres adultas) ou HPB (homens idosos) 2. Hematogênica: Foco a distância por bacteremia 3. Linfática: Conexões linfáticas por HPB 4. Fístula enteral: Conexão enteral por B. fragilis Termos importantes Bacteriúria significativa: paciente com sintomas, diagnóstico sindrômicos e o achado laboratorial traz um achado relevante: + Sintomas + ≥ 102 UFC (cistite não complicada) + Sintomas + ≥ 104 UFC (pielonefrite não complicada) + Sintomas + ≥ 105 UFC (complicada) ITU complicada: sintomas + bacteriúria + outros achados: + Obstrução, bexiga neurogênica, nefropatia diabética + Imunodepressão, IRC, cateter, gravidez Relapso: volta da ITU pelo mesmo patógeno após tratamento Reinfecção: volta da ITU por outro patógeno após tratamento Bacteriúria assintomática: ausência de sintomas, mas com achados de bacteriúria significativa (≥ 105) ou colhida com cateter (≥ 102) AGENTES ETIOLÓGICOS . ITU não complicada: Escherichia coli (80%), S. saprophyticus, Klebsiella (gram-negativos) ITU complicada: Escherichia coli, enterococcus, pseudomonas e serratia Nefrolitíase: Escherichia coli, Proteus e Klebsiella Foca a distância: Staphylococcus aureus Diabético: Escherichia coli e Candida spp. Cateterismo vesical: Polimicrobiana e atípicos (Morganella) Cistite hemorrágica: Adenovírus FATORES DE RISCO . RN (H): presença de válvula de uretra posterior Mulher adulta: Sexo e ITU prévia Mulher idosa: Atrofia genital Homem idoso: HPB Hospitalar: Cateterismo vesical Outras condições: gestação, transplante e SIDA ITU BAIXA . É a presença de bactérias na urina com sintomas de trato urinário inferior. Correspondem a 90% das ITUs. Epidemiologia: Sexo feminino (a uretra feminina tem cerca de 3cm, enquanto a do homem tem 15-20cm) Clínica geral: LUTS - Disúria - ardor ao urinar - Estrangúria - Frequência urinária aumentada - decorre da infecção do músculo detrusor - Urgência miccional - Incontinência de urgência - Noctúria - Desconforto suprapúbico - Hematúria (ITU é a principal causa nas mulheres) Cistite aguda: disúria + polaciúria + dor suprapúbica + hematúria + urocultura positiva Uretrite: cistite + urocultura negativa + corrimento + DST Prostatite: cistite + dor perineal + toque sensível (dor perineal) + obstrução Orquiepididimite: escroto agudo (dor no testículo - torção) + edema da bolsa escrotal + Prehn positivo (levantar o testículo alivia a dor) Diagnóstico: Clínico!! Pode tratar se o paciente for sintomático independentemente dos exames Solicitar urocultura + EAS (urina tipo 1) se: ● Alterações funcionais ● DM, AIDS ● Uso de cateter urinário ● Transplante renal ● Gestantes - risco de parto prematuro ● Homem (diagnóstico diferencial entre ITUs baixas) Opções: Clínica (disúria + polaciúria) + laboratório (EAS + teste de nitrito) - UBS Clínica + laboratório + urocultura quantitativa (≥ 102 UFC/ml) - hospital Tratamento: ATB + investigação Primeira linha de tratamento: ● Fosfomicina trometamol (Monuril) 3 g em DU ○ Vem em forma de pó para dissolver na água, utilizado a noite antes de dormir para fazer efeito a noite inteira ● Nitrofurantoína 100 mg 6/6h por 5-7 dias ➔ A duração do tratamento em geral é de 3 dias e, ao seu final, deve ser realizada uma urocultura de controle. ➔ Se sinais sistêmicos (febre, dor abdominal, náuseas ou vômitos), suspeitar de pielonefrite e adaptar o tratamento para essa situação. ➔ Idosos: tratamento mais conservador e evitar tratar casos assintomático. ➔ Mulheres idosas, sem comorbidades e com ausência de achados de pielonefrite: ciprofloxacina por 3 dias (250 mg VO 12/12 h). ➔ Homens ou mulheres com comorbidades, pela dificuldade de diagnóstico de pielonefrite nessa população, costumam ser realizados tratamentos mais longos: 7 a 10 dias para mulheres, e 14 a 28 dias (quando se considera prostatite) para homens Joëlle Moreira - Medicina UFPE Urologia Cistite: norfloxacino, fosfomicina e nitrofurantoína (3-7 dias) Prostatite: + > 35 anos: ofloxacina (30 dias) + < 35 anos: ciprofloxacino (30 dias) Hospitalar: Ciprofloxacino, ceftazidima, piperacilina + tazobactam, ampicilina + sulbactam (7-14 dias) Cistite em gestante (não usar quinolonas): amoxicilina ou cefalexina ou nitrofurantoína (7 dias) As quinolonas não são mais tão indicadas no Brasil devido a resistência Casos especiais: ATB profilaxia: Fazer nos pacientes com ITU sintomático de repetição, gestante com ITU recorrente, pós-transplante renal, prostatite crônica e criança com RVU ITU ALTA . Febre + dor lombar + calafrios + Giordano positivo PIELONEFRITE: Infecção aguda, geralmente bacteriana, dos rins e da pelve renal. ⇒ Não complicada: Ocorre em pacientes com trato urinário estrutural e neurologicamente normal ⇒ Complicada: Com alteração neurológica ou anatômica - Anormalidades funcionais - Cateteres urinários - Litíase urinária - Homens - Gestantes - Hospitalizados - Crianças Fatores de risco: Sexo feminino, atividade sexual, nova parceria sexual, ITU prévias, história familiar de ITU, diafragma com espermicidas, menopausa, anormalidades funcionais e anatômicas, instrumentação urinária, DM (pielonefrite enfisematosa), incotinência, imunossupressão. Clínica: - LUTS ( Lower Urinary Tract Symptoms) - Dos nos flancos - Fadiga - Prostração e astenia - Náuseas com vômitos - Febre e calafrios - A febre da pielonefrite exibe um padrão em “estaca de cerca” de pico alto, porém sofre resolução dentro de 72 horas de terapia. Diagnóstico: Clínica + URC + EAS - TC de abdome com contraste se: dúvida diagnóstica, falha terapêutica ou suspeita de complicações Pielonefrite enfisematosa: forma particularmente grave da doença, que está associada à produção de gás nos tecidos renais e perinefréticos e que ocorre quase exclusivamente em pacientes diabéticos. Pielonefrite xantogranulomatosa: ocorre quando a obstrução urinária crônica (frequentemente por cálculos coraliformes), juntamente com infecção crônica, leva à destruição supurativa do tecido renal. Tem associação com bactérias produtoras de urease. Tratamento: Cuidado maior por risco de sepse Internação e ATB IV: Pacientes graves, imunodeprimidos, gestantes, suspeita de complicação como abscesso (suspeitar quando a febre não ceder mesmo com ATB), obstrução de trato urinário, crianças e homens, vômitos persistentes, ausência de terapia oral adequada, má aderência medicamentosa. A pielonefrite deve ser tratada por período de 10 a 14 dias. Oral para pielonefrite não complicada: ● Levofloxacino 500-750 mg 1x/dia ● Ciprofloxacino 500 mg 2x/dia ou XR 1000mg 1x/dia Parenteral para pielonefrite não complicada: ● Ceftriaxone 1g 1x/dia ● Ciprofloxacino 400mg 2x/dia ● Levofloxacino 750 mg 1x/dia ● Aztreonam 1g a cada 8-12h Parenteral para pielonefrite complicada: ● Piperacilina-tazobactam 3,375g 6/6h ● Ticarcilina-clavulanato 3,1 g 6/6h ● Cefepime 1g 12/12h ● Meropenem 1g 8/8h ● Imipenem 500mg 6/6h Pielonefrite em gestante (não usar quinolonas): ceftriaxona ou cefotaxima ou ceftizoxima (7 dias) BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA . Presença de um mesmo microrganismo na urina com contagem ≥ 105 (classicamente gram-negativos) sem qualquer sintomas. Epidemiologia: ● Sexo feminino ● Idade > 80 anos ● DM ● Vida sexual O tratamento NÃO deve ser feito na população geral!! Explicar o achado para o paciente. Só tratamos: ● Gestante ● Pacientes no pré-operatório urológico com potencial lesão de mucosa ● Transplante renal - tratar o doar se for intervivos e receptor nos primeiros 6 meses ● Neutropênicos ITU DE REPETIÇÃO . É definida como duas ou mais infecções sintomáticas em 6 meses e/ou 3 ou mais em 1 ano. Urocultura com antibiograma – MIC. Acomete muito mais mulheres comvida sexual ativa. Tratamento: Medidas comportamentais - Urinar após relação sexual (até 1h) - Evitar relações sexuais com a bexiga vazia. - Evitar retenção urinária por longo período Joëlle Moreira - Medicina UFPE Urologia - Manter a higiene adequada - Evitar ducha vaginal - Evitar ficar com roupa molhada durante muito tempo - Maior ingesta hídrica – Diário miccional. - Depilação genital - Higienização funcional. - Uso de cremes vaginais contendo estrógeno. - Cranberry (Proanthocianidina A) ATB profilaxia - Nitrofurantoína 100 mg 1x/dia - por 3-6 meses - Fosfomicina 3 g a cada 10 dias Há autores que defendem o uso de nitrofurantoína pós-relação sexual por ter excelentes resultados. INFECÇÕES EM PACIENTES COM SONDA VESICAL . Nesses pacientes, muitas vezes a única manifestação é o quadro febril sem outras manifestações localizadoras. Retirar cateter e se houver persistência de bacteriúria 48 horas após retirada de cateter vesical, tratar. Nos pacientes críticos com diagnóstico presuntivo de ITU, tratar imediatamente. A terapia antibiótica dura 10 a 14 dias e a escolha do antibiótico depende dos resultados de culturas. ● Etiologia provável de infecção por enterococos ou estafilococos coagulase-negativos: cefalosporina de terceira geração (ceftriaxone 2 g/dia), ou fluorquinolonas (ciprofloxacina 400 mg EV 12/12h). ● Pseudomonas: ceftazidima 2 g a cada 8/8h, e considerar o uso de aminoglicosídeos. ● Enterococos: ampicilina, vancomicina e aminoglicosídeos ● Estafilococos coagulase negativos: vancomicina 1 g 12/12h. OUTROS DETALHES SOBRE A INVESTIGAÇÃO CLÍNICA SUMÁRIO DE URINA (EAS) OU URINA TIPO 1: ● Bacteriúria aumentada, hematúria e piúria ● Análise física: volume, cor, aspecto, gravidade específica e pH ● Análise química: proteínas, glicose, cetona, ácido ascórbico, bilirrubina, urobilinogênio, sangue e nitrito ● Sedimentoscopia: presença de leucócitos, bactérias, cilindros, cristais, células epiteliais, hemácias e muco ● Não é padrão-ouro para diagnóstico e conduta terapêutica da ITU, mas é o primeiro exame solicitado ● O resultado do EAS vem em 3 parâmetros: análise macroscópica, análise da fita reagente (o dipstick), análise microscópica. ● Resultado na ITU: ○ Aspecto turvo: cristais precipitados, quilúria e secreções genitais também causam ○ pH > 8: patógeno produtos de urease (ex. Proteus) ○ Nitrito positivo: patógeno com a nitrato redutase ⤍ convertem o nitrato da urina me nitrito (enterobactérias e gram-negativos entéricos, exceto pseudomonas) ○ Piúria (≥ piócitos/campo) - muito sensível (raramente negativo se ITU) ■ Causas de "piúria estéril": contaminação da amostra, nefrite intersticial, nefrolitíase, processo inflamatório intra abdominal - apendicite, diverticulite, DIPA, TB UROCULTURA: ● Se identifica o agente a partir do crescimento das cepas bacterianas de no mínimo 100 mil UFC ● Contagem de colônicas ≥ 103 unidades formadoras de colônia (UFC) por mL ● Antibiograma: auxilia delimitando os antibióticos que a bactéria apresenta sensibilidade ou resistência ● Prescrição de antimicrobianos e dosagem mais adequada à clínica do paciente ● Padrão-ouro EXAMES DE IMAGEM: INDICAÇÕES: ● ITU alta ou envolvimento sistêmico ● Presença de anormalidades anatômicas que podem predispor a complicações ● Infecção de repetição ● Má resposta à terapêutica - permanência de febre e ausência de melhora clínica por 3 ou mais dias de tratamento USG: ● Alterações de parede (cistites, pólipos e neoplasias) ● Alterações de conteúdo (cálculos, coágulos, cristais) ● Alterações de topografia e contornos ● Alterações detectadas na USG: ○ Defeitos congênitos - displasia renal/agenesia ○ Trauma ○ Abscesso/hematoma ○ Calcificações/mineralizações ○ Urolitíase ○ Infarto ○ Hidronefrose ○ Cisto renal ○ Neoplasia ○ IR aguda e crônica
Compartilhar