Buscar

Rio 12 de agosto de 2011 - Julian Chediak

Prévia do material em texto

Rio, 12 de agosto de 2011 
Direito Societário
A natureza da sociedade (contrato plurilateral), a questão da responsabilidade limitada e a questão da personalidade jurídica são os principais elementos da sociedade. No século XIX, ocorreu divergência sobre se a sociedade vem de um ato contratual ou de um complexo, negocial. No contrato bilateral, tem-se nitidamente uma oposição de interesses. O contrato de compra e venda é um exemplo clássico de contrato, já que tem-se partes em posições opostas, antagônicas. Nesse tipo de contrato, existe bem estipulada a prestação de um e a contraprestação correspondente de outras. Assim, a doutrina tinha uma dificuldade de encontrar nos atos constitutivos de uma sociedade as características da natureza contratual. Isso porque não se podia verificar o antagonismo. Portanto, a doutrina que definia a sociedade como um ato complexo indicava que a sociedade era formada por uma série de atos paralelos e não contrapostos. 
No enquanto, já no início do século XX, a maior parte da doutrina passou a entender que a sociedade possui natureza contratual. O professor Tulio Ascarelli fez uma análise sobre a natureza da sociedade, e ele defendia que não é porque os atos constitutivos de uma sociedade não possuem as mesmas características de um contrato de compra e venda que a sociedade deixa de ter natureza contratual. Isso porque os contratos podem ser de diversas espécies, entre eles o contrato plurilateral. O contrato plurilateral não tem como característica apenas a existência de mais de duas partes em oposição ao bilateral. Mesmo porque a sociedade pode ser formada por apenas dois indivíduos. O contrato plurilateral tem pluralidade de partes e, também, um objetivo (fim) comum. Os sócios desejam o mesmo empreendimento, o exercício conjunto de uma mesma atividade. E, em muitos momentos, os interesses dos sócios podem sim ser antagônicos. Portanto, essa discussão hoje em dia é um tanto quanto superada, mas é importante que se conheça porque muitas vezes com os princípios dos contratos podem-se solucionar questões societárias. Porém, nem todos serão aplicáveis. 
Antes das sociedades serem inventadas, na Idade Média, por exemplo, as pessoas respondiam com seu próprio patrimônio pelas suas dívidas – o que ampliava muito os riscos. Os Estados, com o tempo, passaram a auxiliar nas atividades empresariais. Porém, isso era ruim já que os recursos do Estado eram finitos e apenas uma classe poderia empreender. Depois, com a existência das sociedades, passou-se ter maior autonomia e desviou-se da condenação católica à usura – não seria mais necessário pegar um empréstimo, deve-se apenas se associar a alguém. 
A sociedade é diretamente relacionada à limitação da responsabilidade do empresário. Assim, se sabe de antemão qual é o risco do empreendimento – qual parte de seu patrimônio está em jogo. Assim, a economia se amplia, empregos são criados, mais tributos são coletados – dessa forma, a sociedade representou uma revolução. A civilização, com o tempo, foi adotando modelos societários com mais ou menos participação do Estado. Isso varia com o nível de capitalismo dos países. A participação do Estado na ordem econômica é como um pêndulo que oscila com a política. No Brasil, o Estado se iniciou como um agente econômico, criando inúmeras empresas estatais. Na década de 90, o Brasil passou por um movimento de retirada do Estado do papel de empresário – o que ocorreu basicamente com as privatizações. O Estado, assim, deixou de ser um ente econômico tão relevante, mesmo porque se percebeu que o Estado era ineficiente em muitos serviços que realizava. Com o governo Lula, entendeu-se novamente a necessidade da participação efetiva do Estado na atividade econômica. Discute-se até hoje a participação do Estado nos empreendimentos. 
A limitação da responsabilidade do Estado é derivada do conceito de personalidade jurídica. A partir do momento em que se adquire a personalidade, passa a ser distinto o patrimônio do empreendedor do patrimônio do empreendimento. O valor do capital social é o valor que os sócios destinam ao desenvolvimento da atividade econômica – é o valor que está alocado para aquele empreendimento. Com aquisição da personalidade jurídica, a sociedade passa a ser sujeito e objeto de direitos e obrigações. A distinção entre os patrimônios é fundamental para o desenvolvimento da empresa. A desconsideração da personalidade jurídica só deve se aplicar a casos específicos e deve ser visto como exceção. 
Dilma sancionou, nesse ano, uma lei que cria a empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI, que é uma sociedade limitada unipessoal. É o reconhecimento da característica de distinção do patrimônio da sociedade. Assim, apenas um sócio pode constituir uma sociedade limitada, de forma a empreender apenas parte do seu patrimônio na atividade econômica. O capital social de uma EIRELI tem que ser de pelo menos 100 salários mínimos. A função antiga do capital social é de ser uma garantia aos credores. A EIRELI seria uma exceção à questão ao contrato plurilateral. 
OBS: Para próxima aula, devemos ler o texto do Ascarelli.

Continue navegando