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3 SOCIOLOGIA CRIMINAL

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CRIMINOLOGIA
SOCIOLOGIA CRIMINAL
Por Rochester Araújo
SUMÁRIO
1. MODELOS SOCIOLÓGICOS DE CONSENSO E DE CONFLITO	3
2. TEORIAS SOCIOLÓGICAS EXPLICATIVAS DO CRIME	4
3. ESCOLA DE CHICAGO	5
4. ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL	10
5. TEORIA DA ANOMIA / SUBCULTURA DELINQUENTE	11
6. NEORRETRIBUCIONISMO (LEI E ORDEM; TOLERÂNCIA ZERO; BROKEN WINDOWS)	15
7. LABELLING APPROACH	18
8. TEORIA CRÍTICA OU TEORIA RADICAL	21
ATUALIZADO EM 26/03/2017[footnoteRef:1][footnoteRef:2] [1: 	___________________________
	 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados.] [2: 	 Atenção: este material é produzido a partir de textos autorais, compilações e transcrições. O objetivo não é esgotar o tema de criminologia. É o de facilitar o estudo desta matéria, principalmente para quem é iniciante no tema e tem dificuldade em certos conceitos ou construções. Este material deve ser desconstruído e reconstruído, como tudo que a criminologia gosta de fazer. Provavelmente você só entenderá essa “piadinha” no final dos seus estudos criminológicos. Além disso, em alguns tópicos, explorou-se a visão tradicional sobre o tema, tendo o cuidado de sempre apresentar abordagens críticas em seguida, sobretudo em atenção aos alunos Ciclos que irão prestar concurso para Defensoria Pública.] 
SOCIOLOGIA CRIMINAL
A sociologia criminal, em seu início e postulados, confundiu-se com certos preceitos da antropologia criminal, uma vez que buscava a gênese delituosa nos fatores biológicos, em certas anomalias cranianas, na “disjunção” evolutiva.
O próprio Lombroso, no fim de seus dias, formulou o pensamento no sentido de que não só o crime surgia das degenerações, mas também certas transformações sociais afetavam os indivíduos, desajustando-os.
No entanto, a moderna sociologia partiu para uma divisão bipartida, analisando as chamadas teorias macrossociológicas, sob enfoques consensuais ou de conflito.
	1. MODELOS SOCIOLÓGICOS DE CONSENSO E DE CONFLITO
Nessa perspectiva macrossociológica, as teorias criminológicas contemporâneas não se limitam à análise do delito segundo uma visão do indivíduo ou de pequenos grupos, mas sim da sociedade como um todo.
O pensamento criminológico moderno é influenciado por duas visões:
	1) uma de cunho funcionalista, denominada teoria de integração, mais conhecida por teorias de consenso;
	2) uma de cunho argumentativo, chamada de teorias de conflito.
São exemplos de teorias de consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia e a teoria da subcultura delinquente. De outro lado, são exemplos de teorias de conflito o labelling approach e a teoria crítica ou radical.
As teorias de consenso entendem que os objetivos da sociedade são atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com os indivíduos convivendo e compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras de convívio. Aqui os sistemas sociais dependem da voluntariedade de pessoas e instituições, que dividem os mesmos valores.
As teorias consensuais partem dos seguintes postulados: toda sociedade é composta de elementos perenes, integrados, funcionais, estáveis, que se baseiam no consenso entre seus integrantes.
Por sua vez, as teorias de conflito argumentam que a harmonia social decorre da força e da coerção, em que há uma relação entre dominantes e dominados. Nesse caso, não existe voluntariedade entre os personagens para a pacificação social, mas esta é decorrente da imposição ou coerção. Ou seja, há nítida influência marxista quando enxerga a existência de relações de poder na sociedade, e não uma harmonia “bambuluá”.
Os postulados das teorias de conflito são: as sociedades são sujeitas a mudanças contínuas, sendo ubíquas, de modo que todo elemento coopera para sua dissolução. Haveria sempre uma luta de classes ou de ideologias a informar a sociedade moderna (Marx).
Os sociólogos contemporâneos das teorias consensuais afastam a luta de classes, argumentando que a violação da ordem deriva mais da ação de indivíduos, grupos ou bandos do que de um substrato ideológico e político.
Como bem ressaltou Shecaira (2008, p. 141): “Qualquer que seja a visão adotada para a análise criminológica, a sociedade é como a cabeça de Janus, e suas duas faces são aspectos equivalentes da mesma realidade”.
	2. TEORIAS SOCIOLÓGICAS EXPLICATIVAS DO CRIME
Todas elas têm em comum o fato de estudar o crime sob um viés mais sociológico do que biológico ou psicológico. Partem do princípio de que os fatores sociais são mais relevantes do que os fatores individuais do criminoso para explicar o crime ou os processos de criminalização (no caso das teorias do conflito e do labelling approach).
Entre as diversas teorias sociológicas que buscam explicar todo o fenômeno criminal estão a Escola de Chicago, a associação diferencial, a anomia, a subcultura delinquente, o labelling approach e a teoria crítica (radical).
	3. ESCOLA DE CHICAGO
O contexto é o seguinte: uma revolução industrial (moderna) que proporcionou uma enorme expansão do mercado americano, consolidando a burguesia comercial. Há diversas mudanças na estrutura da vida da sociedade, com a expansão das cidades, empregos em fábricas, saída do campo, subúrbios etc.
Com a secularização, ocorreu a aproximação entre as elites e a classe baixa, sobretudo por uma matriz de pensamento, formada na Universidade de Chicago, que se denominou “teoria da ecologia criminal” ou “desorganização social” (Clifford Shaw e Henry Mckay). Em função do crescimento desordenado da cidade de Chicago, que se expandiu do centro para a periferia (movimento circular centrífugo), inúmeros e graves problemas sociais, econômicos, culturais etc. criaram ambiente favorável à instalação da criminalidade, ainda mais pela ausência de mecanismos de controle social.
A Escola de Chicago, atenta aos fenômenos criminais observáveis, passou a usar os inquéritos sociais (social surveys) na investigação daqueles. Tais investigações sociais demandavam a realização de interrogatórios diretos, feitos por uma equipe especial junto a dado número de pessoas (amostragem). Ao lado desses inquéritos sociais, utilizaram-se análises biográficas de individual cases. Os casos individuais permitiram a verificação de um perfil de carreira delitiva. Estabeleceu-se a metodologia de colocação dos resultados da criminalidade sobre o mapa da cidade, pois é a cidade o ponto de partida daquela (estrutura ecológica).
Observe que a metodologia, mas uma vez, é um elemento crucial para as deduções da escola. Aplicou-se uma metodologia urbana, misturando elementos de geografia e sociologia para observar o crime enquanto um fenômeno recorrente em um determinado recorte da sociedade.
Quais foram as principais contribuições da Escola de Chicago?[footnoteRef:3] [3: 	 Penteado Filho, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia / Nestor Sampaio Penteado Filho. – 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012. ] 
	#ATENÇÃO: enquanto contribuições, não estamos impondo uma visão positiva ou exitosa necessariamente dessa escola ou de nenhuma outra. Por contribuições estamos falando daquilo que o movimento permitiu deduzir ou enxergar, independente de correto ou não, adequado ou não ao que cada pessoa se filia. A depender de qual a finalidade do estudo da criminologia, alguns entenderão que as contribuições da Escola de Chicago são exitosas – cargos mais alinhados ao viés punitivista. Por sua vez, para outros, não houve contribuições favoráveis, mas sim, reforço de um punitivismodirecionado a população marginal – cargos como Defensoria Pública.
Uma das grandes contribuições da Escola de Chicago foi transferir o foco dos estudos de uma perspectiva punitiva e repressiva para uma perspectiva preventiva. Buscavam-se formas de prevenir o crime, e não somente de combatê-lo. Nesse sentido, por exemplo, vieram as ideias de iluminação de ruas, de construção de espaços públicos de convivência, entre outros.
Outra grande contribuição foi a análise da criminalidade a partir de uma perspectiva sociológica, e não mais biopsicológica. A criminalidade não era mais vista como algo apenas relacionado ao indivíduo, mas sim como algo dentro de uma perspectiva social.
O método de pesquisa da Escola de Chicago também foi inovador, porque preconizava o conhecimento da realidade da cidade antes de estabelecer a política criminal adequada para a intervenção estatal.
E quais críticas podem ser feitas a ela?
É possível dizer que a Escola de Chicago gerou a mudança de um determinismo biológico para um determinismo ecológico. Ou seja, apesar de romper com a ideia de criminoso nato, não deixou de ser determinista, relacionando sempre pobreza e cidades degradadas com a criminalidade. Ademais, o conceito de desorganização social na Escola de Chicago é ao mesmo tempo descrição de uma condição e causa dessa mesma condição.
	#DESCOMPLICANDO: quando falamos de um determinismo ecológico, estamos dizendo que ao invés de encontrar os criminosos medindo o crâneo e vendo aspectos faciais (Lombroso), taxou-se como criminoso aquele que vive em zonas periféricas dos grandes centros – ou seja? Yes, pobres.
Outra crítica a ser feita é que a Escola de Chicago não levou em consideração os diferentes tipos de delito que variam conforme as classes sociais e locais mais ou menos organizados. Alguns crimes são típicos de classes mais pobres, mas outros são típicos de áreas ricas, por exemplo. A Escola de Chicago não explica os crimes cometidos fora das “áreas delitivas”.
Há outras críticas possíveis: desconsideração da existência de uma cifra negra na análise da criminalidade; não questionamento do conceito de delito e da seletividade do sistema; etc.
A teoria ecológica e suas propostas
Há dois conceitos básicos para que se possa entender a ecologia criminal e seu efeito criminógeno: a ideia de “desorganização social” e a identificação de “áreas de criminalidade” (que seguem uma gradient tendency).
O crescimento desordenado das cidades faz desaparecer o controle social informal; as pessoas vão se tornando anônimas, de modo que a família, a igreja, o trabalho, os clubes de serviço social etc. não dão mais conta de impedir os atos antissociais (estas são as instituições que compõe o controle social informal).
Destarte, a ruptura no grupo primário enfraquece o sistema, causando aumento da criminalidade nas grandes cidades. No mesmo sentido, a ausência completa do Estado (não há delegacias, escolas, hospitais, creches etc.) cria uma sensação de anomia e insegurança, potencializando o surgimento de bandos armados, matadores de aluguel que se intitulam mantenedores da ordem.
O segundo dado característico é a existência de áreas de criminalidade segundo uma gradient tendency.
Explica Shecaira (2008, p. 167), “Uma cidade desenvolve-se, de acordo com a ideia central dos principais autores da teoria ecológica, segundo círculos concêntricos, por meio de um conjunto de zonas ou anéis a partir de uma área central. No mais central desses anéis estava o Loop, zona comercial com os seus grandes bancos, armazéns, lojas de departamento, a administração da cidade, fábricas, estações ferroviárias, etc. A segunda zona, chamada de zona de transição, situa-se exatamente entre zonas residenciais (3ª zona) e a anterior (1ª zona), que concentra o comércio e a indústria. Como zona intersticial, está sujeita à invasão do crescimento da zona anterior e, por isso, é objeto de degradação constante”.
Assim, a 2ª zona favorece a criação de guetos, a 3ª zona mostra-se como lugar de moradia de trabalhadores pobres e imigrantes, a 4ª zona destina-se aos conjuntos habitacionais da classe média e a 5ª zona compõe-se da mais alta camada social.
As principais propostas da ecologia criminal visando o combate à criminalidade são: alteração efetiva da situação socioeconômica das crianças; amplos programas comunitários para tratamento e prevenção; planejamento estratégico por áreas definidas; programas comunitários de recreação e lazer, como ruas de esportes, escotismo, artesanato, excursões etc.; reurbanização dos bairros pobres, com melhoria da estética e do padrão das casas.
Registre-se que a principal contribuição da Escola de Chicago deu-se no campo da metodologia (estudos empíricos) e da política criminal, lembrando que a consequência direta foi o destaque à prevenção, reduzindo a repressão.
Todavia, não há prevenção criminal ou repressão que resolvam a questão criminal se não existirem ações afirmativas que incluam o indivíduo na sociedade.
Em resumo:
	a) berço da moderna sociologia americana;
	b) empirismo, finalidade pragmática (prática);
	c) atenta ao impacto da mudança social, especialmente das grandes cidades norte-americanas no começo do século XX (explosão demográfica, industrialização, imigração, conflitos sociais etc.); interessada pelos grupos minoritários, conflitivos;
	d) estuda a criminalidade urbana (claramente diferenciada, sob todos os pontos de vista, da criminalidade produzida fora dos núcleos urbanos);
	e) a cidade “produz” a delinquência – dentro da grande cidade pode se verificar a existência de zonas muito definidas (o gangland, zona das quadrilhas; as delinquency areas) onde aquela se concentra;
	f) a deterioração da família, a superficialidade das relações interpessoais, a alta mobilidade de pessoas, a consequente perda de raízes no lugar da residência, a crise dos valores tradicionais, a superpopulação, a tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais onde se acumula riqueza e o enfraquecimento do controle social criam um meio desorganizado e criminógeno.
A Escola de Chicago possui diversos representantes, sendo que cada um deles realça determinada característica do pensamento sociológico apontado. Vejamos:
	PARK, BURGESS E MCKENZIE (1928)
	O crime é produto da “desorganização” própria da cidade, na qual se enfraquece o controle social e se deterioram as relações humanas, propagando-se um clima de vício e corrupção contagioso.
	THRASHER (1927)
	The Gang
Existia, em Chicago, uma zona das quadrilhas (gangland) ao qual pertencia a zona das fábricas, trens, escritórios, armazéns etc.
A criminalidade surge em zonas que mostram a insuficiência nas condições elementares da vida.
	SHAW E MCKAY
	Os índices de criminalidade descendem em função direta do distanciamento do centro da cidade e de sua zona industrializada.
A criminalidade potencial (ou pré-delinquência) se concretiza em tais áreas (delinquency areas), nas proximidades dos grandes armazéns e estabelecimentos comerciais, pela ausência ou enfraquecimento do controle social, fenômeno que não se produz nas redondezas e zonas residenciais dos núcleos urbanos.
	JEFFERY
	O crime é muito seletivo no que se refere ao lugar do cometimento (a maioria das áreas urbanas não é própria ao mesmo).
Mais importante do que tentar identificar os bairros onde ocorrem mais crimes, é tentar relacionar um tipo de espaço específico com um tipo de crime (ex.: terreno baldio com estupros).
	NEWMAN
	Defensible space: modelo para ambientes residenciais que crie obstáculo ao crime.
Prevenção do crime mediante desenho arquitetônico do espaço urbano: subdividir áreas públicas em zonas menores, para que os vizinhos adotem atitudes de “propriedades”; adequada colocação das janelas, aumentando ao máximo a capacidade de observação destas áreas; colocar nas zonas alguma atividade pública que não sejam fontes de perigo (parques, áreas de lazer infantil); construção de áreas públicas que gerem ao visitante a sensação de estar sendo observado.
	PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
	Consciente do impactonegativo que as instâncias oficiais do sistema legal (Polícia, Poder Judiciário etc.) causam em seu intento de abordar o crime, rejeita a utópica não intervenção radical e opta por uma via realista de intervenção, sugerindo uma profunda reestruturação da vida urbana, pelo fortalecimento das instituições comunitárias (famílias, clubes, igrejas, escolas) decisivas na socialização do indivíduo.
	4. ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL
É considerada uma teoria de consenso, desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland (1883-1950), inspirado em Gabriel Tarde.
Cunhou-se no final dos anos 1930 a expressão white collar crimes (crimes de colarinho branco) para designar os autores de crimes específicos, que se diferenciavam dos criminosos comuns.
Afirma que o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou desenvolvido pelo sujeito ativo. Sutherland não propõe a associação entre criminosos e não criminosos, mas sim entre definições favoráveis ou desfavoráveis ao delito.
Nesse contexto, a associação diferencial é um processo de apreensão de comportamentos desviantes, que requer conhecimento e habilidade para se locupletar das ações desviantes.
Isso é aprendido e promovido por gangues urbanas, grupos empresariais, aquelas despertadas para a prática de furtos e arruaças, e estes, para a prática de sonegações e fraudes comerciais.
A apreensão (aprendizagem) do comportamento delitivo se dá numa compreensão cênica, em decorrência de uma interação. Conforme o ensino de Álvaro Mayrink da Costa, “a aprendizagem é feita num processo de comunicação com outras pessoas, principalmente, por grupos íntimos, incluindo técnicas de ação delitiva e a direção específica de motivos e impulsos, racionalizações e atitudes. Uma pessoa torna-se criminosa porque recebe mais definições favoráveis à violação da lei do que desfavoráveis a essa violação. Este é o princípio da associação diferencial”.
Em outras palavras, a associação diferencial desperta as leis de imitação, porque, ao contrário do que supunha Lombroso, ninguém nasce criminoso, mas a criminalidade é uma consequência de uma socialização incorreta.
As classes sociais mais altas acabam por influenciar as mais baixas, inclusive em razão do monopólio dos meios de comunicação em massa, que criam estereótipos, modelos, comportamentos etc.
Portanto, não se pode dizer que o crime é uma forma de comportamento inadaptado das classes menos favorecidas. Não é exclusividade delas, porque assistimos a uma série de crimes de colarinho branco (sonegações, fraudes etc.), que são delitos praticados por pessoas de elevada estatura social e respeitadas no ambiente profissional (empresários, políticos, industriais etc.).
Nem todas as associações diferenciais têm a mesma força; variam na frequência, na duração, nos interesses e na intensidade.
Daí por que a teoria conduz à ideia de que a cultura mais ampla não é homogênea, levando a conceitos contraditórios do mesmo comportamento, porque se nega que o comportamento do delinquente possa ser explicado por necessidades e valores gerais.
	AUTORES
	Sutherland e Cressey (Anos 30, EUA)
	PRINCIPAIS POSTULADOS
	- Investigação da criminalidade de colarinho branco.
- A conduta criminal se aprende, em interação com outras pessoas, mediante um processo de comunicação, do mesmo modo como se aprende o comportamento virtuoso ou qualquer outra atividade.
- A aprendizagem do comportamento criminal inclui as técnicas do cometimento do crime, de justificação da conduta criminosa e as motivações.
- Uma pessoa se converte em criminosa quando por seus contatos aprende mais modelos criminais que modelos respeitosos ao Direito.
- Os contatos do indivíduo podem ser distintos conforme a frequência, intimidade, duração, prioridade e intensidade.
- O crime não pode ser imputado à desorganização social ou disfunções dos indivíduos das classes baixas, senão à aprendizagem dos valores criminais, o que pode suceder em qualquer cultura.
- No seio da comunidade existem diversas associações estruturadas em torno de distintos interesses e metas (organização social diferencial).
- Resulta inevitável que um desses muitos grupos adote e respalde modelos de condutas criminais.
- Associação diferencial: consequência lógica do princípio de aprendizagem mediante contatos em uma sociedade pluralista e conflitiva.
	5. TEORIA DA ANOMIA / SUBCULTURA DELINQUENTE
A teoria da anomia também é vista como teoria de consenso, porém com nuances marxistas. Afasta-se dos estudos clínicos do delito porque não o compreende como anomalia.
De plano, convém citar que essa teoria insere-se no plano das correntes funcionalistas, desenvolvidas por Robert King Merton, com apoio na doutrina de E. Durkheim (O suicídio). Para os funcionalistas, a sociedade é um todo orgânico articulado que, para funcionar perfeitamente, necessita que os indivíduos interajam num ambiente de valores e regras comuns.
No entanto, toda vez que o Estado falha é preciso resgatá-lo, preservando-o; se isso não for possível, haverá uma disfunção. Merton explica que o comportamento desviado pode ser considerado, no plano sociológico, um sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais e os meios desenvolvidos para alcançar tais aspirações.
Assim, o fracasso no atingimento das aspirações ou metas culturais em razão da impropriedade dos meios institucionalizados pode levar à anomia, isto é, as manifestações comportamentais em que as normas sociais são ignoradas ou contornadas.
A anomia é uma situação de fato em que faltam coesão e ordem, sobretudo no que diz respeito a normas e valores. Exemplos: as forças de paz no Haiti tentaram debelar o caos anômico naquele país (2008); após a passagem do furacão Katrina em Nova Orleans (EUA, 2005), assistiu-se a um estado calamitoso de crimes naquela cidade, como se lá não houvesse nenhuma norma.
A anomia vista como um tipo de conflito cultural ou de normas sugere a existência de um segmento de dada cultura, cujo sistema de valores esteja em antítese e em conflito com outro segmento.
Então, o conceito de anomia de Merton atinge dois pontos conflitantes: as metas culturais (status, poder, riqueza etc.) e os meios institucionalizados (escola, trabalho etc.). Nessa linha de raciocínio, Merton elabora um esquema no qual explica o modo de adaptação dos indivíduos em face das metas culturais e meios disponíveis, assinalando com um sinal positivo quando o homem aceita o meio institucionalizado e a meta cultural, e com um sinal negativo quando os reprova:
	Modos de Adaptação
	Meios Culturais
	Meios Institucionalizados
	Conformidade
	+
	+
	Inovação
	+
	–
	Ritualismo
	–
	+
	Evasão/Retraimento
	–
	–
	Rebelião
	±
	±
A conformidade ou comportamento modal (conformista), num ambiente social estável, é o tipo mais comum, pois os indivíduos aceitam os meios institucionalizados para alcançar as metas socioculturais. Existe adesão total e não ocorre comportamento desviante desses aderentes.
No modo de inovação os indivíduos acatam as metas culturais, mas não aceitam os meios institucionalizados. Quando se apercebem de que nem todos os meios estão a sua disposição, eles rompem com o sistema e, pela conduta desviante, tentam alçar as metas culturais. Nesse aspecto o delinquente corta caminho para chegar às metas culturais.
Outro modo referido por Merton é o ritualismo, por meio do qual os indivíduos fogem das metas culturais, que, por uma razão ou outra, acreditam que jamais atingirão. Renunciam às metas culturais por entender que são incapazes de alcançá-las.
Na evasão ou retraimento os indivíduos renunciam tanto às metas culturais quanto aos meios institucionalizados. Aqui se acham os bêbados, drogados, mendigos e, párias, que são derrotistas sociais.
Por derradeiro, cita-se a rebelião, caracterizada pelo inconformismo e revolta, em que os indivíduos rejeitam as metas e meios, lutando pelo estabelecimento de novos paradigmas, de uma nova ordem social. São individualmente os “rebeldes sem causa”, ou ainda, coletivamente, as revoluções sociais.
A anomia, como uma espécie de confusãode normas ou um encontro de normas conflitantes, é o primeiro passo para a análise das subculturas. A teoria da subcultura delinquente é tida como teoria de consenso, criada pelo sociólogo Albert Cohen (Delinquent boys, 1955).
Três ideias básicas sustentam a subcultura: 1) o caráter pluralista e atomizado da ordem social; 2) a cobertura normativa da conduta desviada; 3) as semelhanças estruturais, na gênese, dos comportamentos regulares e irregulares.
Essa teoria é contrária à noção de uma ordem social, ofertada pela criminologia tradicional. Identificam-se como exemplos as gangues de jovens delinquentes, em que o garoto passa a aceitar os valores daquele grupo, admitindo-os para si mesmo, mais que os valores sociais dominantes. Segundo Cohen, a subcultura delinquente se caracteriza por três fatores: não utilitarismo da ação; malícia da conduta e negativismo.
O não utilitarismo da ação se revela no fato de que muitos delitos não possuem motivação racional (ex.: alguns jovens furtam roupas que não vão usar).
A malícia da conduta é o prazer em desconcertar, em prejudicar o outro (ex.: atemorização que gangues fazem em jovens que não as integram).
O negativismo da conduta mostra-se como um polo oposto aos padrões da sociedade.
A existência de subculturas criminais se mostra como forma de reação necessária de algumas minorias muito desfavorecidas diante das exigências sociais de sobrevivência.
	CONTEXTO
	Surgem na década de 50 como resposta ao problema que suscitavam determinadas minorias marginalizadas, sobretudo nos Estados Unidos.
Foco na delinquência infanto-juvenil.
	AUTORES
	Cohen (Delinquent boys), Whyte, Matza, Sykes, Bloch, Cloward, Ohilin etc.
	IDEIAS FUNDAMENTAIS
	- Cada grupo ou subgrupo possui seu próprio código de valores, os quais nem sempre coincidem com os valores majoritários e oficiais, e todos querem fazer valê-los frene aos restantes (caráter pluralista e atomizado da ordem social).
- O crime não é produto da “desorganização” ou da “ausência de valores”, senão reflexo de outros sistemas de normas e valores distintos: os “subculturais” (respaldo normativo da conduta desviada).
- Tanto a conduta regular como a irregular contariam com uma estrutura e significação muito semelhante, visto que o autor, em última análise, reflete com sua conduta o grau de aceitação dos valores da cultura ou subcultura ao qual pertence, valores que se interiorizam mediante idênticos mecanismos de aprendizagem e socialização (semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e irregular).
	ORIGEM
	- A “subcultura” é uma espécie de cultura de reação que certas minorias marginalizadas criam dentro da cultura oficial para expressar a ansiedade e frustração que sentem ao não poder participar, por meios legítimos, das expectativas que teoricamente seriam oferecidas a todos pela sociedade (êxito, respeitabilidade, poder – meritocracia).
- A classe média põe especial ênfase na eficiência e na responsabilidade individual, na racionalidade, no respeito à propriedade, no emprego do tempo livre, na poupança, na condenação do prazer e na ascensão social.
- As classes baixas concedem maior importância à força física e à coletividade e menor à poupança e a condenação do prazer.
- Os jovens de classe baixa estão propensos ao conflito e à frustração porque se acham em desvantagem. De algum modo, participam de ambos os sistemas de valores.
- O delinquent boy resolve sua frustração de status enfrentando de forma aberta os padrões da sociedade oficial e referida rebeldia confere-lhe prestígio.
	CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS SUBCULTURAS
	- Subculturas criminais (de jovens) não são utilitárias porque predomina em seus comportamentos o significado simbólico sobre o material pecuniário,
- Comportamento malicioso, prazer em provocações e desafiar os tabus da cultura oficial.
- Rejeição deliberada dos valores da classe média.
- A subcultura criminal é uma cultura de grupo, não uma opção individual, no sentido de Merton.
	6. NEORRETRIBUCIONISMO (LEI E ORDEM; TOLERÂNCIA ZERO; BROKEN WINDOWS)
Uma vertente diferenciada surge nos Estados Unidos, com a denominação lei e ordem ou tolerância zero (zero tolerance), decorrente da teoria das “janelas quebradas” (broken windows theory), inspirada pela escola de Chicago, dando um caráter “sagrado” aos espaços públicos.
Alguns a denominam realismo de direita ou neorretribucionismo.
Parte da premissa de que os pequenos delitos devem ser rechaçados, o que inibiria os mais graves (fulminar o mal em seu nascedouro), atuando como prevenção geral; os espaços públicos e privados devem ser tutelados e preservados.
Alguns doutrinadores discordam dessa teoria, no sentido de que produz um elevado número de encarceramentos (nos EUA, em 2008, havia 2.319.258 encarcerados e aproximadamente 5.000.000 pessoas beneficiadas com algum tipo de instituto processual, como sursis, liberdade condicional etc.).	
Em 1982 foi publicada na revista The Atlantic Monthly uma teoria elaborada por dois criminólogos americanos, James Wilson e George Kelling, denominada Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory).
Essa teoria parte da premissa de que existe uma relação de causalidade entre a desordem e a criminalidade. A teoria baseia-se num experimento realizado por Philip Zimbardo, psicólogo da Universidade de Stanford, com um automóvel deixado em um bairro de classe alta de Palo Alto (Califórnia) e outro deixado no Bronx (Nova York). No Bronx o veículo foi depenado em 30 minutos; em Palo Alto, o carro permaneceu intacto por uma semana.
Porém, após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e saqueado por grupos de vândalos em poucas horas.
Nesse sentido, caso se quebre uma janela de um prédio e ela não seja imediatamente consertada, os transeuntes pensarão que não existe autoridade responsável pela conservação da ordem naquela localidade. Logo todas as outras janelas serão quebradas.
Assim, haverá a decadência daquele espaço urbano em pouco tempo, facilitando a permanência de marginais no lugar; criar-se-á, dessa forma, terreno propício para a criminalidade.
A teoria das janelas quebradas (ou broken windows theory), desenvolvida nos EUA e aplicada em Nova York, quando Rudolph Giuliani era prefeito, por meio da Operação Tolerância Zero, reduziu consideravelmente os índices de criminalidade naquela cidade.
O resultado da aplicação da broken windows theory foi a redução satisfatória da criminalidade em Nova York, que antigamente era conhecida como a “Capital do Crime”. Hoje essa cidade é considerada a mais segura dos Estados Unidos.
Uma das principais críticas a essa teoria está no fato de que, com a política de tolerância zero, houve o encarceramento em massa dos menos favorecidos (prostitutas, mendigos, sem-teto etc.).
Em resposta, afirmou-se que a crítica não seria procedente, porque a política criminal analisava a conduta do indivíduo, não a sua situação pessoal. Em 1990 o americano Wesley Skogan realizou uma pesquisa em várias cidades dos EUA que confirmou os fundamentos da teoria. A relação de causalidade existente entre desordem e criminalidade é muito maior do que a relação entre criminalidade e pobreza, desemprego, falta de moradia, segundo essa escola de pensamento.
O estudo foi de extrema importância para que fosse colocada em prática a política criminal de tolerância zero, implantada pelo chefe de polícia de Nova York, Willian Bratton, que combatia veementemente os vândalos no metrô. Do metrô para as ruas implantou-se uma teoria da lei e ordem, em que se agia contra os grupos de vândalos que lavavam os para-brisas de veículos e extorquiam dinheiro dos motoristas. Essa conduta era punida com serviços comunitários e não levava à prisão. Assim, as pessoas eram intimadas e muitas não cumpriam a determinação judicial, cujo descumprimento autorizava, então, a prisão. As prisões foram feitas às centenas, o que intimidaria os demais.
Em Nova York, após a atuação de Rudolph Giuliani (prefeito) e de Willian Bratton (chefe de polícia) com a “zero tolerance”, segundoos que defendem a teoria e prática da tolerância zero, os índices de criminalidade caíram 57% em geral e os casos de homicídios caíram 65%, o que é no mínimo elogiável.
	#DEFENSORIA:
A teoria das janelas quebradas, tolerância zero e todo o resto que segue participa de um movimento favorável ao panpenalismo, ou seja, uma expansão máxima do direito penal, algo que envolve interesses diversos e não manifestos, a utilização da mídia e do sistema de controle informal para reforçar essa necessidade, a provocação do medo como forma de controle e de escolhas não criticáveis dos representantes da sociedade etc. Nessa alusão a um direito penal máximo, utiliza-se de diversas artimanhas. Entre elas, a de colocar sobre o Direito Penal a possibilidade de “ajustar” a sociedade, acabar com o medo e a falta de segurança. Até mesmo os recentes casos “emblemáticos” de aprisionamento de pessoas de alto poder aquisitivo são explorados para reforçar a capacidade do direito penal. Nesse caminho, a sociedade aceita tranquilamente a aplicação do modelo máximo, sem perceber que os limites para a intervenção do estado vão sendo paulatinamente superados. Alerta Ferrajoli: “Ofuscaram os confins entre as esferas do ilícito penal e do ilícito administrativo, ou seja, dos ilícitos, transformando o direito penal em uma fonte obscura e imprevisível de perigos para qualquer cidadão, olvidando sua função simbólica de intervenção extrema contra ofensas graves e oferecendo, portanto, o melhor terreno à cultura de corrupção e ao arbítrio. (FERRAJOLI, 1986, p. 44) (…) A segurança e a liberdade de cada um são, com efeito, ameaçadas não apenas pelos delitos, mas também, e frequentemente, em medida ainda maior, pelas penas despóticas e excessivas, pelas prisões e pelos processos sumários, pelos controles arbitrários e invasivos de polícia, vale dizer, por aquele conjunto de intervenções que se denomina ‘justiça penal’, e que talvez, na história da humanidade, tenha custado mais dores e injustiças do que todos os delitos cometidos. (FERRAJOLI, 1986, p. 319)
O resultado dessa atuação imediatista é o estabelecimento de um Estado interventor, detentor de poderes para regulamentar qualquer relação social ou jurídica em nome da moralidade ou do interesse público – conceitos extremamente abstratos e flexíveis. Forma-se o Estado Policial, afirmado por um constante Estado de Exceção (não se obedecem as leis, portanto, o Estado pode agir fora dos seus limites padrões) que permite a mitigação sistemática da atuação do Estado. Uma mitigação seletiva, é verdade, já que recai de forma muito mais efetiva sobre pessoas marginalizadas.
Como exemplo: o Estado Policial na guerra às drogas permite que determinadas regiões da cidade (favelas) sejam tomados como locais de exceção, ou seja, que permitem que o Estado atue de tal forma que se afasta do Estado de Direito (quando tem que obedecer as leis), podendo invadir casas, matar pessoas, expulsar moradores, tudo em nome de uma prévia lesão à lei e ordem.
Junto à mitigação da sistemática de intervenção mínima, o Estado perde gradativamente a sua característica de democrático de direito, passando a exercer um poder amplamente controlador e fiscalizador, em que as liberdades individuais só encontram lugar nos lapsos de sua atuação. Da mesma forma o modelo repressivo autoriza que, em nome do bem estar social, essas liberdades sejam flexibilizadas, impedindo a efetividade absoluta das garantias fundamentais: Nessa esteira, o Estado Constitucional Democrático de Direito vê-se ameaçado pela expansão do Estado Policial, pois ocorre a busca da segurança em lugar da busca da liberdade, o discurso da segurança pública em lugar do discurso de direitos humanos, a proteção de poucos, em contraposição à proteção de todos os indivíduos. Presencia-se a política de despolitização, com a exacerbação do individualismo, multiplicação das desigualdades sociais e retificação da humanidade.
Assiste-se à passagem do Estado Providência para o Estado Policial, através da criminalização das consequências da miséria, segundo Wacquant. Verifica-se a disseminação do medo, do medo do crime, do medo do outro. Como outrora, no Brasil, se centrava no medo do escravo negro de tomar o poder. Agora, dirige-se, particularmente, ao medo do negro pobre. Dessa forma, com a revolução comunicacional o medo se prolifera por todo o planeta, e fomenta um discurso autoritário que se traduz em novos inimigos a serem combatidos. (PEDRINHA, 2011)
Sob essa observação, resta demonstrado o caráter ilusório do bem estar supostamente proporcionado uma vez que o Estado, visando garantir ao corpo social o gozo da liberdade, atua reprimindo essa mesma liberdade; proporciona a segurança através do medo. Obriga o cidadão a abrir mão daquilo que mais preza, diante da ameaça do que mais teme. Nas palavras do retórico romano Juvenal, o cidadão, “em nome da vida, perde a razão de viver”. Corrobora Salo de Carvalho: A intervenção estatal na órbita da repressão e da punitividade, portanto, ao invés de estar associada às garantias e em respeito aos direitos das pessoas, demonstra radical potência para romper com a legalidade, produzindo ofensa aos direitos humanos de todos os envolvidos: das vítimas, pela expropriação do conflito e pela revitalização operada no processo penal (vitimização secundária); e dos investigados, réus e condenados, face à inobservância das regras do jogo (penal e processual penal). (CARVALHO, 2008, p. 114)[footnoteRef:4] [4: 	Adaptado de http://revistas.ufpr.br/direito/article/viewFile/30766/19874] 
	7. LABELLING APPROACH
A teoria do labelling approach (interacionismo simbólico, etiquetamento, rotulação ou reação social) é uma das mais importantes teorias de conflito.Surgida nos anos 1960, nos Estados Unidos, seus principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker.
Por meio dessa teoria ou enfoque, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade” (estigmatização).
Assim, o criminoso apenas se diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que recebe. Por isso, o tema central desse enfoque é o processo de interação em que o indivíduo é chamado de criminoso.
A sociedade define o que entende por “conduta desviante”, isto é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo sanções àqueles que se comportarem dessa forma. Destarte, condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma sociedade rotulam às outras que as praticam.
A teoria da rotulação de criminosos cria um processo de estigma para os condenados, funcionando a pena como geradora de desigualdades. O sujeito acaba sofrendo reação da família, amigos, conhecidos, colegas, o que acarreta a marginalização no trabalho, na escola.
Sustenta-se que o desvio primário produz a etiqueta ou rótulo, que por sua vez produz o desvio secundário (reincidência). A etiqueta ou rótulo (materializados em atestado de antecedentes, folha corrida criminal, divulgação de jornais sensacionalistas etc.) acaba por impregnar o indivíduo, causando a expectativa social de que a conduta venha a ser praticada, perpetuando o comportamento delinquente e aproximando os indivíduos rotulados uns dos outros. Uma vez condenado, o indivíduo ingressa numa “instituição” (presídio), que gerará um processo institucionalizador, com seu afastamento da sociedade, rotinas do cárcere etc.	
Uma versão mais radical dessa teoria anota que a criminalidade é apenas a etiqueta aplicada por policiais, promotores, juízes criminais, isto é, pelas instâncias formais de controle social. Outros, menos radicais, entendem que o etiquetamento não se acha apenas na instância formal de controle, mas também no controle informal, no interacionismo simbólico na família e escola (“irmão ovelha negra”, “estudante rebelde” etc.).
As consequências políticas da teoria do labelling approach são reduzidas àquilo que se convencionou chamar “política dos quatro Ds” (Descriminalização, Diversificação, Devido processo legal e Desinstitucionalização).No plano jurídico-penal, os efeitos criminológicos dessa teoria se deram no sentido da prudente não intervenção ou do direito penal mínimo. Existe uma tendência garantista, de não prisionização, de progressão dos regimes de pena, de abolitio criminis, etc.
O problema criminal brasileiro ultrapassa a ridícula dicotomia de esquerda ou direita na política penal. É uma falácia pensar na criminalidade atual como subproduto de uma rotulação policial ou judicial.
Observe-se o crime organizado: uma verdadeira empresa multinacional, com produção, gerências regionais, inteligência, infiltração nas universidades e no Poder Público, lavagem de dinheiro, hierarquia, disciplina, controle informal dos presídios. Isso seria produzido por etiquetamento? Certamente não, mas os penalistas brasileiros insistem na minimização do direito penal, na exacerbação de direitos dos presos, sendo “etiquetada” de reacionária, démodé ou “conservadora” qualquer medida de contenção e ordem imposta pelo Estado. (Pegou ar! Ah, o autor é delegado de polícia. Tá explicado...)
	AUTORES
	Garfinkel, Goffman, Erikson, Cicourel, Becker, Schur, Sack etc.
	CONTEXTO
	EUA, anos 60.
	PRINCIPAIS POSTULADOS
	- Não se pode compreender o crime sem se compreender a própria reação social, o processo de definição ou seleção de certas pessoas e condutas etiquetadas como criminosas (interacionismo simbólico).
- Compreender a criminalidade a partir do mundo do criminoso e captar o verdadeiro sentido que ele atribui a sua conduta.
- Natureza “definitorial” do delito.
- Uma conduta não é criminosa em si ou por si só (qualidade negativa inerente a ela, de forma ontológica), nem seu autor é um criminoso por merecimentos objetivos (nocividade do fato, patologia da personalidade).
- O caráter criminoso de uma conduta e de seu autor depende de certos processos sociais de definição, que lhe atribuem tal caráter, e de seleção que etiquetam o autor como criminoso.
- O indivíduo se converte em criminoso não porque tenha cometido uma conduta negativa, mas por que determinadas instituições sociais etiquetam-lhe como tal.
- Para a tendência radical, as instâncias do controle social (Polícia, Poder Judiciário), não detectam ou declaram o caráter criminoso de um comportamento, senão que o geram ou produzem ao etiquetá-lo (caráter constitutivo do controle social).
- Para a tendência moderada, só cabe afirmar que a justiça penal integra a mecânica do controle social geral da conduta desviada.
- Todos infringimos a norma penal, mas os riscos para ser etiquetado como criminoso não dependem tanto da conduta executada, senão da posição do indivíduo na pirâmide social (status – seletividade e discricionariedade do controle social).
- A pena é uma resposta irracional e criminógena porque aumenta o conflito social em lugar de resolvê-lo.
- Após ser submetido a cerimônias degradantes e estigmatizadoras, o condenado assume uma nova imagem de si mesmo e redefine sua personalidade em torno do papel do criminoso, desencadeando-se, em um ciclo vicioso, a “desviação secundária” (outro crime) e uma carreira criminal (self-fulfilling prophecy).
- Substituição do paradigma etiológico (estuda as causas da criminalidade) para o paradigma do controle social (estuda os processos de criminalização).
- Os fatores que podem explicar a desviação primária do indivíduo (primeiro crime) carecem de interesse. O decisivo é o estudo dos processos de criminalização que atribuem a etiqueta de criminoso ao indivíduo.
	8. TEORIA CRÍTICA OU TEORIA RADICAL
A origem histórica dessa teoria de conflito se encontra no início do século XX, com o trabalho do holandês Bonger, que, inspirado pelo marxismo, entende ser o capitalismo a base da criminalidade, na medida em que promove o egoísmo; este, por seu turno, leva os homens a delinquir.
Afirma ainda que as condutas delitivas dos menos favorecidos são as efetivamente perseguidas, ao contrário do que acontece com a criminalidade dos poderosos.
Portanto, essa teoria, de origem marxista, entende que a realidade não é neutra, de modo que se vê todo o processo de estigmatizacão da população marginalizada, que se estende à classe trabalhadora, alvo preferencial do sistema punitivo, e que visa criar um temor da criminalização e da prisão para manter a estabilidade da produção e da ordem social.
As principais características da corrente crítica são:
	a) a concepção conflitual da sociedade e do direito (o direito penal se ocupa de proteger os interesses do grupo social dominante);
	b) reclama compreensão e até apreço pelo criminoso;
	c) critica severamente a criminologia tradicional;
	d) o capitalismo é a base da criminalidade;
	e) propõe reformas estruturais na sociedade para redução das desigualdades e consequentemente da criminalidade.
É criticada por apontar problemas nos Estados capitalistas, não analisando o crime nos países socialistas.
Destacam-se as correntes do neorrealismo de esquerda; do direito penal mínimo e do abolicionismo penal, que, no fundo, apregoam a reestruturação da sociedade, extinguindo o sistema de exploração econômica.
	AUTORES
	Taylor, Walton, Young, Platt, Takagi, Herman, Chambliss, Krisberg etc.
	CONTEXTO
	EUA, década de 70. Influência Marxista e com objetivo de criticar a criminologia tradicional.
	PRINCIPAIS POSTULADOS
	- Novo objeto: estudo da criminalização, e não da criminalidade.
- Novo método: segue o fim do paradigma etiológico e o novo paradigma do controle social (i) interacionismo de construção social do crime e do criminoso; (ii) método dialético que insere essa construção social no contexto de contradição capital/trabalho assalariado.
- Crime é sempre um produto histórico, patológico e passageiro da sociedade capitalista.
- Questiona a ordem social: ordem social se caracteriza pela luta de classes – sendo inerente que, nesse modelo, uma classe explora a outra, o Direito como um todo (e sobretudo o direito penal) servem para a manutenção da exploração e dos privilégios.
- A criminalidade é um subproduto final de um processo de criação e aplicação de leis orientadas seletivamente sempre para as classes submetidas (o castigo recai sobre os mais débeis).
- Contesta a função legitimadora do status quo que teria cumprido a Criminologia Tradicional.
- Busca demonstrar que as mudanças legislativas são fruto da evolução do capitalismo econômico.
Atenção: a relação entre o labelling approach e as teorias críticas é de proximidade, mas não se confundem. A perspectivia do labelling approach é quem permitiu o desenvolvimento das teorias críticas (entre elas, etnometodologia, criminologia radical marxista, abolicionismo etc), mas as perspectivas críticas não se esgotam no etiquetamento. Como afirma Juarez Cirino, o labelling approach é uma condição necessária da criminologia crítica, mas não suficiente.
Em decorrência, temos algumas vertentes da criminologia crítica, tais como: Abolicionismo – rejeita totalmente o papel que desempenham as instâncias punitivas e defende a abolição do sistema penal; Minimalismo – não defende o fim do direito penal, mas a sua limitação; Minimalismo garantista – redução do Direito Penal ao mínimo de intervenção e com a maximização das garantias.

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