Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NUTRIÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar os principais pontos históricos que influenciaram na evolução do homem em relação à alimentação. > Relacionar a formação de hábitos alimentares com sua contribuição histórica. > Ilustrar o contexto atual da alimentação. Introdução Desde os tempos mais remotos até os dias de hoje, comer é um ato diretamente relacionado com a socialização. Na pré-história, os ancestrais dos seres humanos tinham uma vida norteada pela busca por alimentos para alimentar a si e a seu núcleo familiar, o que, de certo modo, se repete até a atualidade. Partindo da obtenção de mantimentos por meio da caça e da coleta, os seres humanos desen- volveram a agricultura, domesticaram animais e modernizaram seus instrumentos e suas técnicas de cultivo e preparo de alimentos, até chegarem à produção de alimentos totalmente industrializados. Paralelamente a esse processo, houve diversas outras transformações sociais, culturais e políticas, das quais fizeram parte o alimento e as relações construídas em torno dele. Na contemporaneidade, a modernização das tecnologias, a intensa industria- lização, as mudanças na dinâmica das relações sociais e a força da publicidade criaram um cenário bastante propício para uma grande e rápida mudança nos padrões alimentares da população. Um número muito expressivo de pessoas ao redor do mundo tem adotado uma dieta baseada em alimentos de fácil e rápido consumo, muitos deles com excesso de carboidratos simples e gorduras saturadas. História da alimentação humana Ivonilce Venturi Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Como consequência, surgiram as doenças crônicas não transmissíveis, que não existiam no passado. Frente a esse problema de saúde pública, os profissionais da saúde têm se esforçado em um movimento de retorno a hábitos alimentares saudáveis. Neste capítulo, você vai conhecer os principais eventos históricos relaciona- dos à evolução da alimentação humana, compreendendo como o alimento está intimamente ligado com as relações sociais, como a cultura e a economia, por exemplo. Além disso, será aqui apresentado o processo de formação dos hábitos alimentares ao longo da história, sendo ela influenciada pelo meio ambiente e pelas necessidades dos povos. Por fim, descreveremos o contexto atual da alimentação, discutindo a transição nutricional e os seus impactos diretos sobre a saúde e a qualidade de vida da população. Alimentação e evolução humana A evolução dos seres humanos foi um processo fortemente influenciado pelo meio ambiente e pelos hábitos alimentares, o que pôde ser comprovado por meio de análises minuciosas de fósseis e de outros registros arqueológicos (ANDREWS; JOHNSON, 2020). A seguir, descreveremos como ocorreu essa evolução, desde o ancestral macaco até os hominídeos, relacionando-a com os fatores ambientais e as mudanças na alimentação e, como consequência, no organismo da espécie. Os macacos fósseis mais antigos datam do início do período Mioceno (aproximadamente 25–18 milhões de anos atrás), tendo sido encontrados em florestas da África. Exemplares mais recentes da espécie, datados de 16–8 milhões de anos atrás, foram encontradas em bosques, o que indica um processo de locomoção terrestre. Dentro desse período, por volta de 16–15 milhões de anos atrás, ocorreu um grande aumento da temperatura global, fato que estimulou a primeira migração de macacos da África para o território onde hoje é a Turquia e para a Europa Ocidental e, como conse- quência, provocou mudanças no seu estilo de alimentação. Posteriormente, frente a um inverno rigoroso na Europa, os macacos retornaram para a África (ANDREWS; JOHNSON, 2020). Na pré-história, os macacos e os hominídeos compartilhavam os mesmos ambientes e, inicialmente, tinham uma dieta semelhante, com pouco consumo de proteína animal e alta quantidade de frutose. Essa dieta se manteve por alguns milhões de anos até a ocorrência de mudanças significativas (entre 5 e 3 milhões de anos atrás). Como as frutas consumidas por macacos e hominídeos ficavam dispersas no espaço, eles precisaram desenvolver boa História da alimentação humana2 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 memória e senso de localização para serem capazes de retornar ao local e coletar mais exemplares. Para além disso, nesse período o desenvolvimento da habilidade de andar ereto sobre os dois pés deu espaço para que as mãos pudessem ser usadas no preparo de alimentos. Embora as mãos tenham sofrido poucas mudanças morfológicas quando da evolução dos hominídeos ancestrais para o Homo sapiens, os dentes e a mandíbula passaram por transformações significativas devido à mastigação de alimentos mais duros e grosseiros, ocorrendo, por exemplo, uma ampliação e um espessamento do esmalte dentário (ANDREWS; JOHNSON, 2020). Também na pré-história aconteceram diversas mutações genéticas, ampliando a capacidade de armazenamento de gordura e glicogênio a partir da frutose (uma das principais fontes alimentares na época), de modo a criar uma proteção diante da escassez de alimentos nos invernos rigorosos. Essas mutações influenciaram diretamente a formação de ácido úrico, estimulando o acúmulo de gordura e a resistência insulínica, além de aumentarem a pressão arterial e a gordura no fígado (JUNEJA et al., 2019). Foi entre 3 e 2 milhões de anos atrás que começaram a ocorrer grandes mudanças na alimentação dos hominídeos. Um grande resfriamento global alterou a dinâmica dos ventos e o fluxo de água, impactando diretamente a disponibilidade de frutas. Então, diante de uma grande restrição dietética, os hominídeos passaram a incluir animais em sua dieta. Essa transformação teve como consequência o surgimento do Homo habilis (período após 3 milhões de anos atrás), espécie com um cérebro maior, uma dentição adaptada à alimentação mais carnívora e um intestino menor devido à maior facilidade de digestão de alimentos (ANDREWS; JOHNSON, 2020). Cerca de 1 milhão de anos atrás, surgiu o Homo erectus, hominídeo que, em comparação ao Homo habilis, tinha pernas mais longas e dentição me- nor, bem como caixa torácica e cérebro maiores, aproximando-se mais das características apresentadas pelo Homo sapiens. Nesse período, ocorreu um aumento no consumo de produtos de origem animal e a vida passou a ser totalmente terrestre, havendo grande disseminação da espécie pelos continentes africano, europeu e asiático. Ademais, a descoberta do fogo possibilitou o cozimento de alimentos, o que facilitou sua mastigação, sua digestão e a produção de energia, além de reduzir a presença de microrganis- mos patogênicos nas carnes e, consequentemente, as mortes por intoxicação alimentar (JUNEJA et al., 2019). Os mais antigos fósseis descobertos do Homo sapiens datam de 300.000 e 100.000 a.C., tendo sido eles encontrados nas regiões onde hoje são o Marrocos, a Grécia e o Oriente Médio. Tais registros e outros mais recentes História da alimentação humana 3 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 indicam que esses seres humanos praticavam caça e coleta até 10.000 a 12.000 a.C., além de haver evidências arqueológicas de que, em 30.000 a.C., já ocorriam processamento de farinha e elaboração de pão sem fermento (JUNEJA et al., 2019). Também datam da pré-história os primeiros registros de assentamentos e domesticação de animais (bovinos e ovinos), bem como a introdução da agricultura — sendo cultivados, inicialmente, o trigo e a cevada. O consumo desses grãos aumentou a presença de amido na dieta dos seres humanos, o que acarretou modificações genéticas no que se refere ao aumento da ami- lase salivar, necessária para a digestão inicial do amido. Em relação ao arroz, há algumas contradições sobre o início da sua domesticação. A evidência genética mais aceita indica que ele foi domesticado entre 8.200 e 13.500 a.C., na China, a partir do arroz selvagem Oryza rufipogon (ANDREWS; JOHNSON, 2020). No Neolítico, haviagrande diversificação no cultivo de cereais, fru- tas e legumes, como figo, banana, abóbora, batata, milho, azeitonas, etc. Os registros também indicam que, nesse período, a fermentação era usada para o preparo de bebidas alcoólicas. Em 6.000 a.C., inicia o cultivo de uvas, havendo registros de produção de vinhos. Já o início da fabricação de queijo data de 5.500 a.C., tendo ocorrido onde hoje é a Polônia. E, em 5.000 a.C., feijões eram cultivados no continente americano (ANDREWS; JOHNSON, 2020). A transição do Neolítico para a Idade do Cobre foi marcada por grandes transformações no estilo de vida das pessoas. Além de mudanças culturais, houve alterações na estrutura dos assentamentos e nas estratégias de sub- sistência (ANDREWS; JOHNSON, 2020). Na Idade dos Metais, iniciada cerca de 3.300 a.C., as tecnologias agrícolas foram melhoradas e os minérios, como o cobre, passaram a ser extraídos e utilizados para produzir artefatos. Esse período é marcado por um aumento significativo no comércio e, como consequência, na movimentação de pes- soas. O hábito de cozinhar alimentos passa a ser mais comum, assim como o consumo de águas obtidas de fontes modificadas. Além disso, devido ao aumento no comércio, houve a disseminação do vinho e da cerveja (DE ANGELIS et al., 2021). A Idade do Bronze marca um grande avanço na tecnologia dos alimentos domésticos, devido a grandes inovações na culinária. Embora o consumo de sal tenha começado a ocorrer no Neolítico, foi na Idade do Bronze que esse ingrediente passou a ser amplamente utilizado, seja para conservar alimentos, seja para melhorar o sabor das preparações, seja para curtir couro de animais — além disso, o sal também começou a ser utilizado com fins medicinais e religiosos (POKUTTA, 2017). História da alimentação humana4 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Os processos de produção de alimentos para o consumo incluíam técnicas como cozimento, defumação, vaporização, fermentação, desidratação ao sol e uso de sal para a preparação de conservas. Todos os processos térmicos relacionados aos alimentos tornaram-se mais fáceis em decorrência do melhor controle de combustão dos fornos. Apesar de os primeiros equipamentos para cozinha datarem do Paleolítico, foi com o uso de minérios em sua construção que os fornos puderam se tornar mais eficazes, melhorando significativa- mente os processos de cocção dos alimentos. Além disso, a Idade do Bronze também foi marcada pelo desenvolvimento de utensílios de cozinha, pois o bronze, como bom condutor de calor, tornava o processo de cozimento mais eficiente. Porém, esse metal não era acessível para todas as famílias, dado o seu alto valor (POKUTTA, 2017). Outra grande mudança ocorrida nesse período corresponde à produção de bebidas alcoólicas, como hidromel, cerveja, sidras, etc. Embora já ocorresse no Neolítico, é na Idade do Bronze que o consumo dessas bebidas passa a ser institucionalizado e socialmente aceito. Ademais, importa destacar que a produção de cobre acarretou um grande aumento no consumismo, o que fez o mercado da época apresentar uma movimentação superior à ocorrida no período anterior (POKUTTA, 2017). No Sudoeste Asiático, eram cultivados trigo e cevada, cujas sementes foram espalhadas para o Leste e para a China, ao passo que as safras chinesas de milho foram disseminadas para a Europa. Na Ásia Central, uma cultura muito importante era a do painço, sobretudo por causa do seu ciclo curto (40–90 dias), pois a população local ainda era seminômade. Na região do atual Cazaquistão, onde predominava o pastoreio, a alimentação se baseava principalmente em produtos de origem animal, e, com o desenvolvimento de foices e pedras de amolar, o cultivo de cereais foi sendo cada vez mais explorado. Desse modo, o consumo foi aumentando de acordo com a produção, a colheita e o processamento (POKUTTA, 2017). Assim que foi descoberto, o ferro começou a ser usado em grande parte da Europa, da África e da Ásia na fabricação de ferramentas, armas e utensílios, substituindo o bronze, mineral menos resistente em comparação ao seu substituto. Na Idade do Ferro, houve importantes inovações no desenvolvi- mento de ferramentas para produção, colheita e processamento de alimentos. O trigo se tornou o grão mais popular em diversas regiões, inclusive onde hoje é a Inglaterra. Nesse local, os celtas aprimoraram o cultivo das terras, desenvolvendo celeiros para armazenar o trigo para os períodos de seca, usando arados e máquinas de madeira e ferro puxados por animais e/ou humanos e aplicando fertilizantes no solo para obter safras mais produtivas. História da alimentação humana 5 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Assim, essa sociedade conseguia se alimentar nos períodos em que não havia produção de grãos (LODWICK, 2017). Pesquisadores identificaram que nesse período havia assentamentos próximos às áreas de plantio. Além disso, outras inovações da Idade do Ferro foram a adoção do pão feito com farinha de trigo, a prática de trocas de alimentos excedentes por produtos importados para atender à demanda do povo local, o pastoreio em grandes extensões de terra para produção de carne, leite e roupas, bem como a domesticação de porcos para a alimentação humana (LODWICK, 2017). Na África, a Idade do Ferro foi marcada pela divisão entre terras para a agricultura e terras para as práticas agropastoris. Nesse território, houve uma grande expansão na horticultura, sendo empregadas técnicas de irrigação e outras inovações que o advento do ferro proporcionou para as práticas agrícolas. A produção de grãos — realizada em grande medida perto de rios, devido à facilidade de obtenção de água — era sobretudo de sorgo, painço, ervilha e feijões, e, dentre os animais domesticados, destacavam-se bovinos e caprinos. Também é nesse período que objetos de cerâmica passaram a ser desenvolvidos, sendo uma parte deles usada para a alimentação (JIMENEZ, 2021). Na Idade Antiga, cujo início se deu por volta de 550 a.C., são encontradas evidências de produção de pão fermentado e extração de azeite da azeitona. Nesse período, a prática agrícola se estende por todo a região Nordeste do continente europeu, a melancia passa a ser cultivada na África Central, a criação de peixes tem início na China e o cultivo do arroz é levado para os romanos pela expedição de Alexandre, o Grande. Também é na Idade Antiga que a pastelaria grega passa a utilizar como ingredientes o trigo, o mel, o azeite, as tâmaras, as amêndoas, o leite, o vinho, além de misturas à base de mel. Durante as guerras, cozinheiros gregos foram herdados pelos romanos, que, assim, absorveram elementos da culinária grega. Diversos documentos escritos em argila trazendo receitas culinárias desses povos foram encon- trados por arqueólogos (JIMENEZ, 2021). O período também é marcado pela abrangência do consumo de carnes (de gazelas, cabras, carneiros, cervos e vacas), que se tornou mais comum em toda a população. Esses produtos passam a ser preparados com molhos contendo condimentos, sal e alho. O consumo de queijos, cerveja e vinho foi mantido, assim como o consumo de grãos e frutos. No Oriente Médio, começa a ser produzida pizza, montada em pão sírio com cobertura de carnes e cebola, e, na Mesopotâmia, surgem os pratos doces, como a massa folhada. É provável que a expansão territorial dos povos árabes e de todo o Império Turco tenha levado consigo as tradições alimentares dessas populações para outras regiões, História da alimentação humana6 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 influenciando a produção de alimentos como, por exemplo, os pastéis portu- gueses, o strudel e o sfogliatelli na Europa (CREANZA; KOLODNY; FELDMAN, 2017). Já na Idade Média, entre os séculos V e XV, houve uma grande dissemi- nação de alimentos entre os continentes em função de um comércio ativo e da introdução de agricultura e animais domésticos em diferentes áreas geográficas.Tanto gregos quanto romanos tinham um grande e ativo comércio, que envolvia, entre os diversos produtos comercializados, o azeite de oliva e as plantas comestíveis, além de importarem especiarias do Extremo Oriente. Durante esse período, não houve grandes mudanças no perfil de produção de alimentos; o que houve, aliás, foi um recuo em relação às práticas alimentares, principalmente nas épocas de fome. Os romanos cultivavam seus próprios alimentos, e a base de sua alimentação eram cereais, legumes e frutos. Nos banquetes, em que o prato mais apreciado era a carne, os legumes eram sempre servidos crus (ABREU et al., 2001). Com o início das Cruzadas, milhares de peregrinos chegaram ao Oriente Médio, intensificando o comércio. Uma vez que as especiarias e as ervas aro- máticas eram bastante usadas no preparo de banquetes, sendo uma forma de ostentar riqueza, Portugal, Espanha e Veneza começam a patrocinar viagens marítimas para descobrir novos produtores de especiarias (e também de alimentos), o que acarreta um intenso intercâmbio cultural (ABREU et al., 2001). Na Idade Moderna, não houve grande diversidade na alimentação. Isso se deveu à escassez de alimentos vivida na época e a um consequente período de fome, que dizimou parte da população europeia. Nesse período, a criação de animais e a agricultura eram as principais atividades econômicas da Europa, sendo possível verificar um aumento no consumo de pão e um declínio no consumo de proteína animal. Além disso, foram introduzidos na cultura eu- ropeia o café, o chocolate e o açúcar, e passaram a ser utilizadas especiarias para auxiliar na conservação de alimentos, como a carne, por exemplo. Com o intercâmbio gastronômico iniciado no período anterior, o tomate e a pera começaram a ser levados para os continentes asiático, europeu, americano e africano (GRENHA, 2011). É nesse período que ocorre a Revolução Francesa, e, a fim de atender à demanda de seu exército, Napoleão Bonaparte ofereceu um prêmio a quem desenvolvesse uma técnica para conservar alimentos por longo período. Surge, então, a conserva em vidros. Em seguida, os vidros deram lugar às latas, impulsionando significativamente a indústria da época. As técnicas de conservação de alimentos continuaram evoluindo, sendo descoberto, por exemplo, o processo de pasteurização de alimentos. Com essas inovações, ampliou-se muito o mercado de alimentos conservados (GRENHA, 2011). História da alimentação humana 7 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Devido à significativa modernização dos processos de conservação de alimentos e à consequente ascensão dos alimentos industrializados, a tran- sição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea foi marcada por uma grande mudança nos hábitos alimentares. Na Inglaterra, por exemplo, ocorreu uma importante mudança no perfil agrícola, com a adoção de novas técnicas de plantio, como o uso de máquinas agrícolas e a rotação de culturas, que possibilitaram aumentar a produtividade da terra. Os animais destinados à produção de alimentos passaram a ser criados em espaços mais fechados, e cereais, batata e vegetais foram amplamente cultivados, tornando-se aces- síveis a toda a população. Esse processo de modernização se espalhou por toda a Europa (GRENHA, 2011). Tem início nesse período um forte processo de migração de pessoas para áreas com mais oportunidade de emprego. Milhares de pessoas são enviadas de Portugal para o Brasil a fim de colonizá-lo (GRENHA, 2011). Já na Idade Contemporânea, a independência do Brasil, em 1822, coloca Portugal em dificuldades econômicas, sobretudo em relação aos tratados comerciais existentes na época. Nesse contexto, a agricultura se torna a saída mais importante para a economia portuguesa (GRENHA, 2011). Nos Estados Unidos, houve abundância e excesso de consumo. Em compa- ração à população de muitos outros países, os estadunidenses desfrutavam de melhores condições nutricionais, com fartura de carne (bovina e suína), cereais (milho, centeio e trigo), frutas e legumes. Essa grande variedade e produtividade se deveu às amplas áreas de litoral existentes no território dos Estados Unidos, que facilitaram o processo de produção de alimentos (GRENHA, 2011). Entre as décadas de 1830 e 1840, emerge nos Estados Unidos a figura de William Sylvester Graham. Defensor da doutrina vegetariana, o reverendo afir- mava que as leis da saúde estavam ligadas às leis de Deus e que, portanto, não deveria haver consumo de animais, pois estes prejudicavam a alma. Graham também pregava que, além do consumo da carne, o consumo de produtos fora de seu estado natural, produtos de pastelaria, bebidas alcoólicas e es- peciarias provocava um estado de excitação sexual, acarretando um estado de inflamação e redução da capacidade física e emocional. Lançando mão da frase “Que nenhum homem separe o que Deus uniu!”, Graham defendia que o pão deveria ser apenas integral (GRENHA, 2011). Então, o vegetarianismo passa a ser difundido em muitos países, alcan- çando toda a Europa. As ideias de Graham são acolhidas por muitas pessoas, e começam a surgir comunidades orientadas por esses ideais revolucionários. História da alimentação humana8 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Um dos seguidores da doutrina de Graham foi John Harvey Kellogg, herdeiro do sanatório Western Health Reform Institute. Inaugurada em 1866, por Ellen White, essa casa de saúde adotava dietas vegetarianas para o tratamento dos pacientes, tornando-se referência na cura de diversas doenças. Nesse contexto, foi criada a granola, que era servida como um pequeno almoço. Posteriormente, em 1895, foi fundada a empresa Kellogg’s, oferecendo ao público produtos à base de trigo, milho e arroz. Entre eles, estava o cereal All-Bran, indicado para auxiliar no tratamento de problemas intestinais, levando ao público geral novos conceitos de alimentos (GRENHA, 2011). Hábitos alimentares: sociedade, cultura e identidade A alimentação está intimamente relacionada com questões sociais, políticas e culturais, sendo possível observar, por exemplo, relações de hierarquia em torno do alimento: há serviçais ou empregados que o produzem/preparam para os seus superiores. Para além disso, o preparo de um alimento agradável é uma atividade complexa, que pode demandar noções de cálculo e escrita, assim como estratégias para servi-lo com aparência, sabor e aromas que despertem no consumidor o desejo de comê-lo (SALINAS, 2002). Antes de estudarmos a formação do hábito alimentar, é importante definir alguns termos para a compreensão do conteúdo. Uma vez que a conceituação de termos está atrelada a uma linha de pesquisa ou de formação do autor, relacionando-se ao que se compreende sobre o tema, é possível encon- trar vários conceitos ligados a um mesmo termo. Assim, o termo “nutrição”, em uma conceituação mais tecnicista, é usado para denotar a “[...] ciência dos alimentos, dos nutrientes, sua ação-interação e equilíbrio relacionado à saúde e à doença, e o processo pelo qual o organismo ingere, digere, absorve, transporta, utiliza e elimina as substâncias alimentares” (MITCHELL, 1978, p. 11). Extrapolando esse conceito, também se pode empregar o termo “nutrição” para se referir à nutrição da alma, das memórias e da cultura. Já o termo “alimento” será aqui utilizado para se referir a: [...] toda substância que se ingere em estado natural, semi-industrializada ou in- dustrializada, e se destina ao consumo humano, incluídas as bebidas e qualquer outra substância que se utilize em sua elaboração, preparação ou tratamento, mas não inclui os cosméticos, o tabaco, nem as substâncias que se utilizam unicamente como medicamento (SALINAS, 2002, p. 20). História da alimentação humana 9 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 O alimento também pode estar relacionado com os valores culturais e as representações sociais de um povo, que, por meio dele, se destaca e mostra sua história de vida.Ademais, o alimento é uma fonte de renda, sendo usado para estabelecer valores financeiros no mercado. O acesso aos alimentos elimina a fome, ou seja, o termo “fome” é empregado para denotar uma condição de ausência de alimentos, que leva as pessoas a uma situação de desnutrição física. Ainda, há a fome de nutrientes, que acarreta uma desnutrição que, embora não seja visível aos olhos, influencia significativamente a vida da população, tendo impactos negativos sobre a sua saúde física e mental. A fome, portanto, se relaciona intimamente com a saciedade. Estar saciado pode significar estar completamente satisfeito, farto, cheio de alimentos sem valor nutricional, que não vão auxiliar o corpo no correto desenvolvimento de suas habilidades nem na expressão de um sistema imunológico adequado. Então, um indivíduo poderá estar saciado, mas desnutrido. Isso vai depender exclusivamente do tipo de alimento con- sumido por ele, que vai determinar sua condição de nutrição. Essa relação entre nutrição, alimento, fome e saciedade pode ser observada em todo o processo histórico da humanidade (SALINAS, 2002). Desde os tempos mais remotos, a humanidade esteve envolvida com o ato de se alimentar, seja por uma questão de sobrevivência, seja por ser a alimentação um ato social e cultural de um povo. Inicialmente, os seres humanos adquiriam o alimento por meio da caça e da coleta, em um modelo ecológico-comportamental caracterizado pela necessidade de se elaborarem estratégias para a obtenção de alimentos, de modo que a busca por estes não lhes consumisse mais energia do que a que seria fornecida pelos alimentos. Ou seja, eram procurados alimentos que maximizassem sua ingestão calórica em função do tempo, sendo necessário avaliar o “custo calórico” da caça (MINTZ; DU BOIS, 2002). Nesse período, os seres humanos viviam em harmonia com a natureza, extraindo dela apenas o necessário para a sobrevivência. O hábito alimentar dessa população era determinado pelo solo do local onde viviam, pelo tipo de vegetação existente e pela sazonalidade dos alimentos. Até os dias de hoje, esses fatores contribuem fortemente para a formação dos hábitos alimentares, pois a produção de determinados alimentos em determinadas regiões e épocas do ano favorece o seu consumo nesses lugares e períodos, devido à facilidade de acesso a eles e ao seu custo mais baixo, entre outras razões (MINTZ; DU BOIS, 2002). História da alimentação humana10 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Durante a Idade Antiga e a Idade Média, os sistemas alimentares moti- varam a descoberta de novas terras, incentivando navegações e processos de migração de povos em busca de especiarias e outros alimentos. Como já mencionamos, a realização de banquetes, com abundância de alimentos, era sinônimo de riqueza e ostentação, e, desse modo, as diferenças de poder aquisitivo entre a população também eram marcadas pelos seus hábitos alimentares. Assim, os sistemas alimentares foram sendo usados para formar uma ampla gama de sistemas organizacionais, políticos, sociais e culturais, além de serem responsáveis pelo estabelecimento de povos em determinadas regiões geográficas. Com isso, os alimentos foram se tornando referência para a construção de culturas e memórias, estando relacionados com reuniões familiares e comemorações (BOILEAU, 2010). Ainda na Idade Média, houve muitas descobertas envolvendo os alimentos e os seus processos de produção, colheita e preparo. A partir do conhecimento de alimentos tóxicos ou não próprios para o consumo, formaram-se tabus alimentares. Ademais, nesse período também foram desenvolvidas técnicas de conservação dos alimentos, que possibilitaram uma grande evolução industrial relacionada aos alimentos, além de contribuírem para a alimentação de soldados e para os processos de migração, uma vez que as navegações demandavam uma grande quantia de mantimentos para alimentar os viajantes. Vê-se, portanto, que o alimento esteve diretamente envolvido com os processos de evolução da sociedade (BRITO JÚNIOR; ESTÁCIO, 2013). No entanto, o alimento também foi o protagonista de grandes desastres, com mortes atribuídas ao consumo de água e alimentos contaminados, animais doentes, bem como o uso de embalagens contaminadas, etc. Ainda hoje, a contaminação dos alimentos causa prejuízos à humanidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). Na atualidade, a agricultura capitalizada tem produzido alimentos gene- ticamente modificados, que têm provocado no consumidor diversas reações, tanto positivas quanto negativas. A biotecnologia vem sendo usada com muita ênfase para melhorar a produção e a disponibilidade de alimentos, o que acaba elevando o preço dos produtos orgânicos; com isso, a compra desses produtos muitas vezes se torna inviável para pessoas com baixa renda. Nesse cenário, a todo momento são lançados no mercado produtos de preparo fácil, alimentos que muitas vezes são muito refinados, ricos em açúcares, gorduras e aditivos químicos. Esse é um processo importante na formação de hábitos alimentares na contemporaneidade, que privilegia uma alimentação voltada para a facilidade e a praticidade em detrimento da qualidade nutricional — o que vem desencadeando uma série de novas doenças na população (GHANIAN et al., 2015). História da alimentação humana 11 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Tem ocorrido, portanto, uma transição nutricional na sociedade. Os avanços tecnológicos mais recentes transformaram a vida das pessoas e, consequentemente, a forma como elas preparam seu alimento. Isso pode ser atestado pela disseminação de utensílios que tornam a preparação de alimentos muito mais fácil, prática e rápida, como é o caso, por exemplo, do forno micro-ondas, da chaleira elétrica, da batedeira, do liquidificador, entre tantos outros (CREANZA; KOLODNY; FELDMAN, 2017). As principais mudanças na alimentação ocorreram após o ano de 1910, quando houve uma grande inversão no consumo alimentar. Como resul- tado, reduziu-se significativamente o consumo de ácidos graxos ômega-3 e aumentou-se o de gorduras saturadas, ômega-6, trans e hidrogenadas, entre outras. Além disso, houve redução no consumo de antioxidantes, vitaminas, minerais e fibras, ao passo que se aumentou de forma muito expressiva o consumo de sal, açúcar e alimentos refinados, com pouco valor nutricional. Ainda, essas mudanças foram acompanhadas de uma diminuição na prática de atividade física pela população e uma elevação nos índices de poluição ambiental, consumo de álcool e estresse psicossocial. Todos esses fatores vêm contribuindo para a transformação do perfil epidemiológico da população, havendo um aumento na incidência de doenças crônicas não degenerativas (JUNEJA et al., 2019). Cada vez mais frequentes, os processos de industrialização e urbanização induzem a população a um consumo muito reduzido de frutas e verduras e, por outro lado, a uma maior ingestão de alimentos pró-aterogênicos, alimentos ri- cos em aditivos, como glutamato, sódio, corantes, conservantes, etc. Com essa mudança de hábitos alimentares, todas as regiões do mundo têm verificado entre sua população um aumento nos casos de doenças intestinais, doenças inflamatórias, obesidade, diabetes melito, hipertensão, entre muitas outras afecções. A fim de mudar esse cenário, vêm sendo colocadas em evidência dietas como a do mediterrâneo, a paleolítica, a DASH e a japonesa, devido ao seu potencial como protetoras da saúde (JUNEJA et al., 2019). Além de estar intimamente relacionado com os processos de saúde e do- ença, o alimento, como já mencionamos, é um elemento central das relações sociais. É com o aleitamento materno que têm início a formação do hábito alimentar, que também é influenciada pela relação que as pessoas próximas à criança estabelecem com o alimento. Ou seja, os hábitos alimentares são transmitidos entre gerações, contribuindo para a expressão e a manutenção da cultura de um povo. Esseshábitos também podem estar relacionados a sistemas de crenças, à simbologia e aos rituais das religiões, como ocorre, por exemplo, com o hinduísmo, o budismo e o islã (MINTZ; DU BOIS, 2002). História da alimentação humana12 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Portanto, os hábitos alimentares constroem identidades culturais e me- mórias afetivas. Os alimentos preparados e servidos nas datas comemora- tivas exemplificam muito bem a sua importância para construção do ritual festivo, estando eles relacionados a fatores geográficos, históricos e sociais (RATCLIFFE; BAXTER; MARTIN, 2019). Alimentação na atualidade As seções anteriores apresentaram as diversas mudanças pelas quais a alimentação passou desde a pré-história até a contemporaneidade. Nos dias de hoje, as pessoas fazem suas escolhas alimentares em supermercados, restaurantes, lanchonetes, etc., motivadas pelo preço do produto, seu sabor, seu aroma, bem como pela proximidade do estabelecimento, entre outros fatores (DACREMONT; SESTER, 2019). Os fatores contextuais que modulam o comportamento alimentar são apresentados de forma esquemática na Figura 1. Nela, é possível observar que, no cenário atual da alimentação, vários fatores interferem no processo de escolhas de alimentos e, consequentemente, na formação de hábitos alimentares. Assim como ocorre com outros hábitos, os hábitos alimenta- res são formados pela repetição de experiências, ou seja, se, por exemplo, um indivíduo consumir um hambúrguer toda sexta-feira, com o tempo isso vai se tornar um hábito alimentar. Figura 1. Representação esquemática dos fatores contextuais que modulam o comportamento alimentar. Fonte: Adaptada de Dacremont e Sester (2019). Ambiente/localização Recipientes/apresentação Ambiente social Marca do produto Hora do dia Estação do ano Recorrência Processos perceptuais/afetivos/cognitivos Estável Sensibilidade Histórico cultural/social Conhecimento/experiências Atitudes/crenças Hábitos Transitório Estado fisiológico Estado afetivo Atividade Experiência do produto Processos decisórios Escolhas alimentares Motivações Episódios de consumo Meio ambiente Comida Individual Temporalidade História da alimentação humana 13 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 Como se vê na Figura 1, os hábitos alimentares estão atrelados ao meio ambiente, à temporalidade, aos aspectos individuais e ao alimento em si. Desse modo, é possível afirmar que o comportamento alimentar de um indivíduo é diretamente influenciado pelos padrões da sociedade em que ele vive. Em relação ao meio ambiente, é um fator importante para as escolhas alimentares a localização do alimento, isto é, se é fácil chegar ao local onde ele é oferecido, se o estabelecimento fica perto ou longe da residência do consumidor, se há estacionamento disponível no local, etc. Também dizem respeito ao meio ambiente as características do estabelecimento que oferece o alimento: a climatização, a iluminação, a decoração, a música. Ademais, o consumo de determinado alimento também é influenciado por aspectos visuais (rótulo, embalagem, etc.), bem como pela relevância da marca dos produtos (marcas consolidadas no mercado tendem a ser mais apreciadas que marcas novas) (POPOVIC; BOSSINK; SIJDE, 2019). Já a temporalidade está relacionada ao horário do dia em que a refeição é realizada. Em geral, as pessoas costumam almoçar em um horário próximo ao meio-dia, consumindo arroz, feijão, saladas, uma fonte proteica e uma guarnição — cardápio este que será definido pelo indivíduo conforme seus hábitos alimentares. A temporalidade também diz respeito à estação do ano: o inverno é mais propício para o consumo de, por exemplo, sopas, ao passo que o verão está mais associado ao consumo de saladas (DACREMONT; SESTER, 2019). Também relacionado à temporalidade, outro fator importante para as escolhas alimentares é a recorrência do consumo, isto é, o número de vezes que o indivíduo consumiu a mesma preparação. Então, são despertados os aspectos individuais no que se refere aos conhecimentos sobre um de- terminado alimento, incluindo experiências pregressas com determinado ingrediente (se ele foi apreciado ou não), as atitudes e as crenças sobre determinadas preparações, o contexto histórico e social dessa preparação, além dos hábitos alimentares do indivíduo, que vão despertar ou não o seu desejo por um alimento específico (DACREMONT; SESTER, 2019). Os aspectos transitórios também devem ser considerados em relação às escolhas alimentares. Estados fisiológicos (fome, sede, doenças, etc.) e afetivos (raiva, tristeza, felicidade, etc.) podem limitar, inibir ou incentivar determinados consumos alimentares. Eventos sociais, por exemplo, podem induzir comportamentos alimentares devido à promoção de alterações no estado afetivo dos indivíduos — uma festa pode induzir o consumo de ali- mentos mais doces ou em maiores quantidades. A atividade que o indivíduo desempenha (se é ativo ou sedentário) também pode demandar um aporte História da alimentação humana14 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 maior ou menor de energia e nutrientes, atuando na sua decisão de comer maiores ou menores quantidades de alimentos (MATTES, 2010). A experimentação de alimentos pode evocar memórias afetivas tanto boas quanto ruins. Quando boas, essas memórias podem servir de motivação para o consumo de determinado alimento, e, se esse consumo for frequente, poderá mudar os hábitos alimentares do indivíduo. Nesse sentido, o grupo social a que o indivíduo pertence também exerce influência sobre as suas escolhas alimentares, seja pela construção de memórias afetivas boas, seja pela necessidade de aceitação social (COHEN; PHAM; ANDRADE, 2008). Para além desses fatores, há de se considerar a influência da mídia sobre as escolhas alimentares da população. Nos meios de comunicação, o apelo ao consumo de alimentos industrializados é muito mais forte se comparado ao incentivo dado aos alimentos in natura. Uma vez que pequenos agricultores não investem na publicidade de seus produtos, os espaços da mídia são preenchidos pelo marketing alimentar, que, entre outras estratégias, investe em embalagens com cores chamativas para atrair a atenção do consumidor (KASSAHARA; SARTI, 2018). Carregados de gordura saturada, ômega-6, gorduras trans e hidrogenada, farinhas refinadas, açúcares, sódio e com baixo conteúdo de fibra, vitaminas, minerais e compostos antioxidantes, esses alimentos industrializados, associados à inatividade física, têm modificado o perfil nutricional da população. Um maior consumo de calorias e um menor gasto energético acarreta sobrepeso e todas as doenças a ele relacionadas, como diabetes melito, hipertensão arterial, hipotireoidismo, deficiência de vitami- nas (como as vitaminas D e B12), além de doenças neurológicas e intestinais diretamente relacionadas a maus hábitos alimentares (JUNEJA et al., 2019). Neste capítulo, você pôde compreender que a história da humanidade está intrinsecamente ligada com a história da alimentação. Desde os pri- mórdios, o alimento foi um elemento chave para a constituição da memória e da identidade de povos, para o estabelecimento de relações sociais e para a manutenção da saúde, além de ter sido personagem central em impor- tantes eventos históricos. No entanto, as mudanças ocorridas nos hábitos alimentares da população se voltaram, sobretudo na contemporaneidade, para escolhas não saudáveis. Houve um aumento preocupante no consumo de frituras, gorduras saturadas e açúcares, que favorecem o aparecimento e o agravamento de diversas doenças. Para mudar esse cenário, foram de- senvolvidos os guias alimentares, que são direcionados não apenas para a população, mas também para os profissionais da saúde. Assim, tanto o profissional nutricionista quanto os outros profissionais da saúde podem se informar adequadamente para oferecer à população orientações básicas História da alimentaçãohumana 15 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 sobre bons hábitos alimentares e, assim, contribuir para a manutenção de uma sociedade mais saudável. Referências ABREU, E. S. et al. Alimentação mundial: uma reflexão sobre a história. Saúde e Socie- dade, v. 10, n. 2, p. 3–14, dez. 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/ LbJtCSFxbyfqtrsDV9dcJcP/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 25 maio 2021. ANDREWS, P.; JOHNSON, R. J. Evolutionary basis for the human diet: consequences for human health. Journal of Internal Medicine, v. 287, n. 3, p. 226–237, Mar. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1111/joim.13011. Acesso em: 25 maio 2021. BOILEAU, J. P. A culinary history of the portuguese eurasians: the origins of luso-asian cuisine in the sixteenth and seventeenth centuries. 2010. 419 f. Tese (Doctor of Philoso- phy) — School of History and Politics, University of Adelaide, Adelaide, 2010. Disponível em: https://digital.library.adelaide.edu.au/dspace/bitstream/2440/77948/8/02whole. pdf. Acesso em: 25 maio 2021. BRITO JÚNIOR, L. C. de; ESTÁCIO, A. G. Tabus alimentares em medicina: uma hipótese para fisiopatologia referente aos alimentos remosos. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 59, n. 3, p. 213–216, maio/jun. 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j. ramb.2013.04.001. Acesso em: 25 maio 2021. COHEN, J. B.; PHAM, M. T.; ANDRADE, E. B. The nature and role of affect in consumer behavior. In: HAUGTVEDT, C. P.; HERR, P. M.; KARDES, F. R. (ed.). Handbook of consumer psychology. New York: Routledge2008. (Marketing and consumer psychology series, 4). p. 297–348. CREANZA, N.; KOLODNY, O.; FELDMAN, M. W. Cultural evolutionary theory: how culture evolves and why it matters. Proceedings of The National Academy of Sciences, v. 114, n. 30, p. 7782–7789, Jul. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1073/pnas.1620732114. Acesso em: 25 maio 2021. DACREMONT, C.; SESTER, C. Context in food behavior and product experience: a review. Current Opinion in Food Science, v. 27, p. 115–122, June 2019. Disponível em: http://dx.doi. org/10.1016/j.cofs.2019.07.007. Acesso em: 25 maio 2021. DE ANGELIS, F. et al. Exploring mobility in italian neolithic and copper age communi- ties. Scientific Reports, v. 11, n. 2697, não paginado, 2021. Disponível em: https://doi. org/10.1038/s41598-021-81656-z. Acesso em: 25 maio 2021. GHANIAN, M. et al. Attitudes of agricultural experts toward genetically modified Crops: a case study in Southwest Iran. Science And Engineering Ethics, v. 22, n. 2, p. 509–524, June 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1007/s11948-015-9653-1. Acesso em: 25 maio 2021. GRENHA, P. A. M. Transformações do consumo alimentar na época contemporâ- nea. 2011. 155 f. Dissertação (Mestrado em alimentos) — Faculdade de Letras, Uni- versidade de Coimbra, Coimbra, 2011. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/ handle/10316/18528?locale=em. Acesso em: 25 maio 2021. JIMENEZ, R. Food production, environment, and mobility among late iron age nguni- -speakers of South Africa. Quaternary International, v. 591, p. 1–9, Jul. 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.quaint.2020.09.038. Acesso em: 25 maio 2021. História da alimentação humana16 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 JUNEJA, L. R. et al. Evolutionary diet and evolution of man. In: SINGH, R. B.; WATSON, R. R.; TAKAHASHI, T. (ed.). The role of functional food security in global health. London: Elsevier, 2019. p. 71–85. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/b978-0-12-813148- 0.00005-0. Acesso em: 25 maio 2021. KASSAHARA, A.; SARTI, F. M. Marketing of food and beverage in Brazil: scientific litera- ture review on regulation and self-regulation of advertisements. Interface, v. 22, n. 65, p. 589–602, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622016.0630. Acesso em: 25 maio 2021. LODWICK, L. A. Agricultural innovations at a late iron age oppidum: archaeobota- nical evidence for flax, food and fodder from calleva atrebatum, UK. Quaternary International, v. 460, p. 198–219, Dec. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j. quaint.2016.02.058. Acesso em: 25 maio 2021. MATTES, R. D. Hunger and thirst: issues in measurement and prediction of eating and drinking. Physiology & Behavior, v. 100, n. 1, p. 22–32, April 2010. Disponível em: https:// doi.org/10.1016/j.physbeh.2009.12.026. Acesso em: 25 maio 2021. MINTZ, S. W.; DU BOIS, C. M. The anthropology of food and eating. Annual Review Of Anthropology, v. 31, n. 1, p. 99–119, Oct. 2002. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1146/ annurev.anthro.32.032702.131011. Acesso em: 25 maio 2021. MITCHELL, H. S. Nutrição. Rio de Janeiro: Interamericana, 1978. POKUTTA, D. A. Food, economy and social complexity in the bronze age world: a cross- -cultural study. Musaica Archaeologica, v. 2, n. 1, p. 22–40, 2017. Disponível em: http:// www.diva-portal.org/smash/get/diva2:1261262/FULLTEXT01.pdf. Acesso em: 25 maio 2021. POPOVIC, I.; BOSSINK, B. A. G.; SIJDE, P. C. van D. Factors influencing consumers’ decision to purchase food in environmentally friendly packaging: what do we know and where do we go from here? Sustainability, v. 11, n. 24, p. 7197–7219, Dec. 2019. Disponível em: https://www.mdpi.com/2071-1050/11/24/7197/pdf. Acesso em: 25 maio 2021. RATCLIFFE, E.; BAXTER, W. L.; MARTIN, N. Consumption rituals relating to food and drink: a review and research agenda. Appetite, v. 134, p. 86–93, Mar. 2019. Disponível em: http:// dx.doi.org/10.1016/j.appet.2018.12.021. Acesso em: 25 maio 2021. SALINAS, R. D. Alimentos e nutrição: introdução à bromatologia. Porto Alegre: Artmed, 2002. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Food safety. WHO, 2020. Disponível em: https://www. who.int/news-room/fact-sheets/detail/food-safety. Acesso em: 25 maio 2021. Leituras recomendadas CANESQUI, A. M. (org.). Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. CASCUDO, L. da C. História da alimentação no Brasil. 4. ed. São Paulo: Global, 2011. FLANDRIN, J.; MONTANARI, M. História da alimentação. 8. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2015. HENRIQUE, C. Comida e sociedade: uma história da alimentação. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2013. História da alimentação humana 17 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1 MONTANARI, M. (org.). O mundo na cozinha: história, identidade, trocas. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2009. SCAGLIONI, S. et al. Factors influencing children’s eating behaviours. Nutrients, v. 10, n. 6, p. 706–723, May 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.3390/nu10060706. Acesso em: 25 maio 2021. YAMAGATA, F. C.; SAUERBRONN, J. F. R. Alimento e comida: reflexões sobre história do alimento, consumo e significados. Diálogo com a Economia Criativa, Rio de Janeiro, v. 4, n. 10, p. 7–19, jan./abr. 2019. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. História da alimentação humana18 Identificação interna do documento A02WYHZHN3-7PKYOC1
Compartilhar