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LITERATURA BRASILEIRA III Rio de Janeiro 2020 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO LICENCIATURA: Letras - Português DISCIPLINA: Literatura Brasileira III PROFESSOR(A) TUTOR(A): Márcia Pereira da Veiga Buched TÍTULO DA ATIVIDADE ESTRUTURADA: APONTAR AS LEITURAS POSSIVEIS QUE O OLHAR CONTEMPORANEO PRODUZ SOBRE RAÇA E ETNIA DE FORMA PRECONCEITUOSA, A PARTIR DA LEITURA DOS CONTOS: “NEGRINHA” DE MONTEIRO LOBATO E “CLARA DOS ANJOS” DE LIMA BARRETO. ALUNO(A) AUTOR(A) DA ATIVIDADE: Daniele Nogueira Santiago INTRODUÇÃO É verdade que a Literatura tem o poder de formar indivíduos culturalmente, de formar uma sociedade e transformar o pensamento. Neste trabalho, o objetivo será analisar dois autores e duas obras que marcaram criticamente o pensamento, a cultura e o modelo da sociedade em que viviam: Monteiro Lobato em sua obra “Negrinha” e Lima Barreto em sua obra “Clara dos Anjos”. Ambos os autores se situam no Pré- Modernismo, período no qual precedeu a Semana de Arte Moderna. Suas obras têm como temas centrais os problemas sociais como o racismo, a pobreza, a miséria, as desigualdades sociais e de gênero, as injustiças, o analfabetismo e o preconceito como forma de violência. Problemas estes ainda presentes nos dias atuais. Monteiro Lobato: escritor brasileiro autor do famoso “Sitio do Pica-Pau Amarelo”, obra em que ficou conhecido e destaque na Literatura Infantil. Fundou a Editora Monteiro Lobato e é um dos primeiros autores da Literatura Infantil do nosso país e de toda a América Latina. Suas obras retratam vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba durante a crise do café. Monteiro Lobato traz em seu conto “Negrinha” a triste história de uma menina negra, órfã, magra, filha de escravos e com os olhos assustados. Vivia pelos cantos escuros da cozinham atrofiados eram seus dedos, sentia fome e frio e não podia chorar porque sua patroa, Dona Inécia, não gostava de ouvir choro de criança. Dona Inécia era uma mulher gorda, rica, viúva, sem filhos e mimada pelos padres. Negrinha tinha como seu único divertimento ver o cuco do relógio, quando batia a hora, abrir e fechar o bico; sofria castigos e injúrias constantemente. Um dia, as sobrinhas de Dona Inécia foram passar férias em sua casa e foi assim que Negrinha teve sua primeira experiência com o universo infantil e brinquedos, algo que ela não conhecia. Essa experiência foi a sua maior felicidade, mas também foi a sua maior tristeza, porque quando as férias acabaram, as meninas foram embora levando a boneca, brinquedo que despertou seu encanto, felicidade e sonhos. Também foi esses momentos de pena infância que Dona Inécia, sua patroa, teve seu único momento de bondade, deixando Negrinha brincar as férias inteiras com suas sobrinhas. Com a partida das meninas, Negrinha voltou a sofrer castigos, injúrias e injustiças. Negrinha faleceu de tanta tristeza com suas memórias cômicas das meninas, da boneca e o único momento de bondade de Dona Inécia. O conto “Negrinha” narra a história de uma menina negra que nasceu em uma senzala e filha de escravos. Mesmo após a abolição da escravatura, a menina continuava a sofrer castigos, xingamentos e injustiças por ser negra e filha de escravos. Monteiro Lobato se utiliza do conto para fazer referência ao intenso processo econômico-social pelo qual o Brasil estava passando nas primeiras décadas do século XX e como era os tempos de escravatura. A abolição é retratada como um fato de não garantir o fim do preconceito no Brasil: “O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a ganha”. Neste trecho do conto, fica bem claro o conceito como forma de violência; sentimento de repudio e estranhamento sobre aquele que não condiz com o modelo ideal de ser humano e, sendo este, condenado a violência, segregação e exclusão da sociedade. Lima Barreto: escritor e jornalista negro, nasceu no Rio de Janeiro. Não foi um escritor de sucesso, tanto que suas maiores obras foram publicadas pelo seu próprio custeio e teve negada por três vezes sua candidatura a Academia de Letras. Lima Barreto conhecia bem os problemas de sua cidade, principalmente o racismo, o qual ele sofria na pele, e o social. Suas obras tem o tom de livros-reportagem ao trazer a história do desenvolvimento do Rio de Janeiro e o inicio das discussões sociais. Lima Barreto narra a triste história de Clara dos Anjos, moça mulata, pobre, dos subúrbios do Rio de Janeiro. Clara, uma moça ingênua, superprotegida pelos pais e seu padrinho estrangeiro Marramaque. Acreditava no poder do amor e acabou sendo seduzida por Cassi Jones, um jovem branco, sedutor e de classe média. Cassi Jones a convence e a ilude com cartas de amor e Clara se rende aos encantos do rapaz, e acaba então entregando-se a ele. Com o passar do tempo, Clara descobre que está grávida e Cassi, ao tomar consciência disso, desaparece em fuga. Então, Clara resolve procurar por reparo a mão de Cassi, mas a mãe do rapaz a humilha por causa de sua condição social: mulher negra e pobre. Clara se dá conta de sua posição na sociedade. Após o dicurso opressor, preconceituoso e racista de Dona Salustiana, mãe de Cassi, Clara retorna para casa de sua mãe e desabafa. (Última página do livro): “Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que estava sentada e abraçou sua mãe, dizendo, com grande desespero. - Mamãe, Mamãe! - Que é minha filha? - Nós não somos nada nesta vida.” A obra de Lima Barreto denuncia o preconceito racial diante das mulheres negras, a população pobre, e o lugar das mulheres naquela época, principalmente, as negras e pobres, alvo da sociedade e violência (feminicídio). CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar as obras “Negrinha” de Monteiro Lobato e “Clara dos Anjos” de Lima Barreto, nos deparamos com duas narrativas situadas em tempos distintos, mas com os mesmos problemas sociais. O conto “Negrinha” é situado, historicamente, após a abolição da escravatura, e “Clara dos Anjos”, situada, historicamente, na formação da cidade do Rio de Janeiro, período no qual os descendentes de escravos foram empurrados para os cortiços, vielas e subúrbios para que a cidade fosse “limpa” para ter uma imagem padrão europeia e, assim, esconder a realidade dos problemas sociais que ainda não são presentes nos dias atuais. Fica claro, ao analisar as duas obras, a tragédia histórica da visão estereotipada colonizadora e suas profundas marcas ainda sentidas nos dias atuais. Anos e anos voltados e dedicados, apenas, para a história do continente europeu e suas culturas, privando-nos de entender a formação e identidade do nosso povo brasileiro. Tragédia que percorreu, e ainda percorre, como um ciclo vicioso e violento. Nossa identidade brasileira não deve mais ser entendida como europeia e perifericamente negra e Indígena. Não basta criar leis que tornam crimes os preconceitos raciais e de gênero. É preciso mexer na estrutura e a história do nosso povo nos trazendo a luz o reconhecimento da nossa riqueza cultural, a formação, a história e a identidade do povo brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Negrinha de Monteiro Lobato, disponível em: https://metavest.com.br/livros/negrinha-Monteiro-Lobato.pdf Clara dos Anjos de Lima Barreto, disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000048.pdf Literatura Brasileira III Estácio de Sá.