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53 1 Prof. Rodrigo Andrés de Souza Penaloza A Filosofia Maçônica: Valores, Virtudes e Verdades Aula 1 53 2 Conversa Inicial 53 3 Princípios fundamentais: Crença no Princípio Criador Imortalidade da alma 1. Poemas homéricos 2. Tragédias 3. Filosofia 4. Mito fúnebre: Ísis e Osíris 53 4 “Mas nós somos ridiculamente temerosos de uma só morte, nós, já tantas [mortes] tendo morrido e que [ainda] estamos morrendo.” ἀλλ' ἡμεῖς ἕνα φοβούμεθα γελοίως θάνατον, ἤδη τοσούτους τεθνηκότες καὶ θνήσκοντες. (Plutarco, de e citado por Delphos, 392 d.C.) 53 5 Tema 1 – Poemas homéricos 53 6 “Nisto erramos: em que vemos a morte à frente. Uma parte grande dela já ocorreu. Qualquer que seja o tempo em nossas costas, a morte já se apoderou dele.” “In hoc enim fallimur, quod mortem prospicimus. Magna pars eius iam praeterit. Quicquid aetatis retro est, mors tenet.” (Seneca, Epistulae ad Lucilium, I.1) 53 7 Usos do termo psyché (ψυχή): sombra (σκιά) força vital, que se extingue com a morte e é aplicável somente aos humanos Concepção homérica de alma A alma de Aquiles é confundida com uma sombra que vive no Hades, mas o verdadeiro Aquiles morreu 1. Poemas homéricos 53 8 Tema 2 – Tragédias 53 9 Começa a haver uma mudança na concepção da psyché Ésquilo (c. 525-455 a.C.) e Eurípedes (480-406 a.C.) já entendiam a psyché como a força vital que anima o corpo 2. Tragédias 53 10 Em Agamêmnon 1455-1457, (Ésquilo), o coro diz: “Oh, oh, demente Helena/ Uma única, muitas, muitíssimas/ Almas destruíste sob Troia.” 53 11 Em Antígona 175-177, de Sófocles (c. 497-405 a.C.), a alma aparece como um agente psicológico que pensa e planeja e é sujeito a sentimentos de prazer e dor: “É impossível de todo homem conhecer/ tanto a alma como a vontade e o juízo, até que/ pelos princípios e pelas leis mostre-se testado.” 53 12 Tema 3 – Filosofia 53 13 Anaxímenes Heráclito Demócrito e Leucipo Sócrates e Platão Aristóteles Plotino Proclo Marsilio Ficino 3. Filosofia 53 14 Até o século V a.C., psyché era expressão da poesia. Com Anaxímenes, a alma ganha o status de princípio e identificada com o ar Fragmento B2: “Como a nossa alma, que é ar, nos mantém, assim também a respiração (pneuma) e o ar envolvem o mundo inteiro.” 3.1. Anaxímenes 53 15 Divergindo de Homero, para quem o que era soprado para fora do corpo na morte era uma sombra que se desvaneceria no Hades, para Anaxímenes o que era soprado era uma alma, constituída de sopro 3.1. Anaxímenes 53 16 Descreve a alma não apenas como um princípio vital, mas também como um princípio de racionalidade e de integridade moral Fragmento B117: “Quando um homem está embriagado, é guiado, cambaleante, por uma criança impúbere, não percebendo aonde vai, porque está com a alma úmida” 3.2 Heráclito 53 17 Fragmento B85: “É difícil lutar contra a paixão, pois o que quer que ela deseje, compra a preço da alma.” Esse fragmento aponta para o conflito entre as paixões e a vontade humana, ou seja, entre o desejo do corpo e a vontade da alma 3.2 Heráclito 53 18 Fragmento B118: “Um brilho de luz é a alma seca, mais sábia e melhor.” 3.2 Heráclito 53 19 Demócrito e Leucipo descrevem a alma como composta de átomos suaves e esféricos que colidem no espaço vazio aleatoriamente Toda causa é tida como mecânica, não como causa final O período pré-socrático termina, assim, com duas visões diametralmente opostas 3.3 Atomistas 53 20 Cicero, De Natura Deorum, II, XXXVII, 93. “Não me admiraria eu de haver alguém que se persuada de que certos corpos sólidos e indivisíveis sejam carregados pela força e pelo peso e de que o mundo seja ornadíssimo e belíssimo graças ao concurso fortuito de seus corpos?” 53 21 Hic ego non mirer esse quemquam qui sibi persuadeat corpora quaedam solida atque individua vi et gravitate ferri mundumque effici ornatissimum et pulcherrimum ex eorum corporum concursuine fortuita? 53 22 Fédon: a alma humana é a pessoa real e é imortal A alma e o corpo são apresentados como substâncias distintas A alma do filósofo deve evitar e desprezar o corpo, almejando ficar sozinha consigo mesma, transformar-se a si mesma a fim de conhecer a Verdade 3.4 Sócrates e Platão 53 23 Fédon 65d1-2: “Não é lá [no pensamento] que a alma do filósofo despreza muitíssimo o corpo e foge dele e procura transformar-se segundo si mesma?” “οὐκοῦν καὶ ἐνταῦθα ἡ τοῦ φιλοσόφου ψυχὴ μάλιστα [65δ] ἀτιμάζει τὸ σῶμα καὶ φεύγει ἀπ᾽ αὐτοῦ, ζητεῖ δὲ αὐτὴ καθ᾽ αὑτὴν γίγνεσθαι?” 53 24 A alma é, assim, a pessoa interna Não fica claro quão pessoal é essa pessoa interna, embora a maior parte das vezes ela seja tomada como sendo de natureza intelectual 53 25 A alma não é física, mas é influenciada pelo físico. A natureza dessa influência é órfica, ou seja, tem o caráter de purificação pelo comprometimento com o conhecimento 53 26 Além do princípio cognitivo e da pessoa interna, Sócrates toca em outros três sentidos da alma: Como força vital (como em Homero) Como intermediária ontologicamente entre os objetos perceptíveis e as formas Como dotada de um fluido vital que permeia o corpo e o liga ao espírito 53 27 Em De Anima, I.2 (403b1, 404b1), Aristóteles faz uma revisão das teorias e conclui que: Todos reconhecem duas características que distinguem corpos com alma de corpos sem: movimento e sensação A alma deve ser identificada com a origem do movimento: É o que dá vida ao corpo animado 3.5 Aristóteles 53 28 Hilemorfismo: Todas as coisas são matéria (passiva, potência) e forma (ativa, enteléquia ou ato) ἐντελέχεια = ἐν+τέλος+ἔχειν = ter finalidade: realização completa de uma potência Três tipos de alma: Vegetativa Sensitiva Racional 53 29 A alma vegetativa tem três funções: Nutrição Crescimento Geração Note que há uma ordem: O crescimento pressupõe a nutrição A geração pressupõe a nutrição e o crescimento 53 30 A alma sensitiva tem três funções: Sensação Apetite Movimento 53 31 Sensação fantasia (φαντασία, imagens), memória (conservação das imagens) e experiência (acúmulo de memórias) Apetite: deriva da sensação (pelo menos o tato) (prazer e dor) desejo Movimento: deriva do desejo 53 32 Alma intelectiva ou racional possui intelecção A vida intelectiva se divide em: Atividade de conhecimento (inteligência) Atividade de apetência (vontade) 53 33 A inteligência é a capacidade e potência de conhecer as formas puras. Esse é o intelecto potencial. No entanto há o intelecto em ato (agente), que capta em ato a forma que está em potência nas sensações: quid est? O intelecto ativo é separado, é uma dimensão suprafísica, espiritual 53 34 Concebeu o universo como uma estrutura quádrupla. Numa ordem descendente de emanação: O Uno (ἥν πρῶτη) A Mente Divina (νοῦς) ou Mundo Inteligível (κόσμος νοητός) 3.6 Plotino (204-270 d.C.) 53 35 A Alma (ψυχή), com duas porções: um aspecto superior voltado para a Mente Divina, e outro aspecto inferior, que penetra a natureza e a matéria e A Matéria (ὕλη), que corresponde ao Mundo Estético (κόσμος αἰσθητός) 3.6 Plotino (204-270 d.C.) 53 36 Essa partição tem a ver com a passagem entre o reino do Uno Absoluto ao reino do Múltiplo O aspecto noético da alma refere-se ao princípio espiritual, ou melhor, às características do princípio individual que participa da Mente Divina, ou seja, o intelecto 53 37 O aspecto hilético ou material corresponde aos instintos materiais e à porção material da alma 53 38 Proclo, ao tratar da imortalidade da alma, argumenta que a alma possui três veículos: (a) carnal (b) pneumático (c) divino ouuniversal 3.7 Proclo (412-485 d.C.) 53 39 Proposição 184 da Elementa Theologiae: 53 40 “Toda alma ou é divina ou sujeita à mutação da inteligência para a ignorância ou intermédia entre essas ordens, sendo ela, por um lado, inteligente, por outro, inferior às almas divinas” (πᾶσα ψυχὴ ἢ θεία ἐστιν, ἢ μεταβάλλουσα ἀπὸ νοῦ εὶς ἄνοιαν, ἢ μεταξὺ τούτων ἀεὶ μὲν νοοῦσα, καταδεεστέρα δὲ τῶν θείων ψυχῶν) 53 41 O veículo... Carnal refere-se ao corpo material Pneumático é retirado dos elementos planetários, o que pode ser uma referência ao corpo perispiritual, de natureza sutil e semimaterial Divino é obviamente o princípio espiritual 53 42 Tanto para Proclo como para Porfírio (c. 233-c. 309 d.C.), somente o veículo divino é imortal, no sentido de que o carnal é evidentemente perecível, mas que o pneumático é purificado gradualmente até seu completo desaparecimento, após isso, atingir-se-ia a perfeição 53 43 Há quatro tipos de causa: eficiente, final, material e formal Quando os antigos aplicavam essa classificação ao homem (corpo-alma), diziam que sua causa eficiente era a natureza universal, sua causa final a felicidade, a causa material o corpo e a causa formal a alma 3.8 Marsilio Ficino 53 44 “Quatro causas das coisas naturais são enumeradas pelos físicos: eficiente, de fim, pela matéria e pela forma. A causa eficiente do homem é a natureza universal e o homem; a de fim é a felicidade humana; a pela matéria é o corpo; a pela forma é a alma.” 53 45 (Quattuor naturalium rerum causae a physicis numerantur, efficiens, finis, materia, forma. Efficiens hominis causa est natura universalis et homo; finis humana felicitas; materia corpus; forma est anima [Ficino, TP, V, cap. 5, 1].) 53 46 Se algo existe sem que haja uma causa, diz-se que esse algo existe per se Somente Deus é incausado e, portanto, somente Deus existe per se, é absoluto (absolutus), ou seja, Ele se soluciona (solutus) junto a (ab) Si mesmo; não necessita de causa externa a Ele Em outras palavras, Deus prescinde de todos os tipos de causa 53 47 Já o corpo em particular ou a matéria em geral precisam da simultaneidade de todas as quatro causas Essa é a natureza passiva da matéria, muitas vezes representada alegoricamente como um receptáculo ou taça (patera, κράτηρ [kráter]), apta a receber A matéria existe integralmente por outros, omnino per alia 53 48 Deus e matéria são, portanto, dois extremos opostos em termos causais: enquanto Deus prescinde das quatro causas, a matéria necessita de todas Deve haver, por isso, entre Deus e matéria, algo que não seja nem per se nem omnino per alia. Esse algo intermédio é a alma (anima) 53 49 “A terceira essência, embora não dependa da matéria − feita, entretanto, longínqua de Deus e próxima da matéria − a ela [à matéria] de certo modo se inclina, em razão de cuja inclinação é dita alma. E embora se incline, não depende, porém, da mesma [da matéria].” [Ficino, TP, V, cap. 5, 5] 53 50 Essentia tertia, licet a materia non dependeat, tamen a deo facta longinquior et propinqua materiae, ad eam quodammodo inclinatur, ob quam inclinationem anima nuncupatur. Et licet inclinetur, non tamen ab ipsa dependet. 53 51 Tema 4 – Mito fúnebre: Ísis e Osíris 53 52 “Porquanto nada, para o homem, é mais grandioso receber, nem, para Deus, é mais augusto agraciar que a verdade”. (Plutarco, De Iside et Osiride, 1) ὡς οὐδὲν ἀνθρώπωι λαβεῖν μεῖζον οὐδὲ χαρίσασθαι θεωῖ σεμνότερον ἀληθείας 4. Mito fúnebre: Ísis e Osíris 53 53