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AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 Diabetes mellitus é um grupo de doenças que se observa um metabolismo anormal de carboidratos, caracterizado por hiperglicemia. Essa alteração decorre de defeitos na secreção e/ou ação da insulina. A concomitância entre o diabetes mellitus e a gravidez foi, por muitos anos, sinônimo de altas taxas de mortalidade materna e fetal. A descoberta da insulina modificou esse prognóstico. A mortalidade perinatal, apresentou uma queda relevante, mas menos acentuada devido a dificuldade de instituição de programas que consigam garantir o controle glicêmico adequado e, com isso, gerar quedas nas taxas de malformações fetais. Assim, o objetivo é conseguir a normoglicemia, o que envolve a monitoriazação da glicemia capilar de 4-7 vezes ao dia e ajustes na dieta, no esquema e na dose de insulina. A manutenção da normoglicemia associa-se à queda de resultados perinatais adversos, como anomalias fetais, macrossomia, óbito fetal e complicações neonatais. Fisiopatologia A gestação é caracterizada por: Acréscimo na resistência periférica à insulina Em virtude da secreção placentária de alguns hormônios considerados diabetogênicos Hormônios: - Hormônio do crescimento - Cortisol - Hormônio lactogênico placentário Incremento na produção de insulina pelas células-beta do pâncreas. Na gestação, o metabolismo energético pode ser dividido em duas fases distintas: Fase anabólica Glicemia das gestantes tende a diminuir, em especial quando ocorre jejum prolongado Fase catabólica Crescente consumo de nutriente maternos pelo feto Nela torna-se evidente o aumento da resistência periférica à insulina Quando as modificações na função pancreática não são suficientes para vencer a resistência à insulina, ocorre o diabetes mellitus gestacional. Mesmo nas pacientes com DM pré-gestacional, o conhecimento do metabolismo dos carboidratos é importante para fazer o ajuste das doses de insulina durante o pré-natal, considerando que: No 2-3° trimestre há aumento da necessidade de insulina No puerpério, há diminuição considerável Classificação A classificação de DM mais utilizada é aquela que se baseia nos fatores etiológicos. Assim, são definidos 4 grupos: DM tipo 1 Destruição das células-beta pancreáticas Deficiência completa de insulina Se manifesta antes dos 30 anos de idade e mais frequentemente durante a adolescência 1 a 2% de gestantes DM tipo 2 Forma mais comum Deficiência na secreção e na ação da insulina Ocorre com maior frequência após os 40 anos de idade Obesidade com um dos fatores desencadeantes Orientação nutricional seja suficiente para que consiga o controle DM de outros tipos DM gestacional Reconhecer o momento da manifestação do DM é importante, pois o mau controle na fase periconcepcional aumenta o risco de malformações fetais. Diabetes Gestacional AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 Quanto mais longe da gestação ocorreu o surgimento do DM, maiores as chances de que, no momento da gravidez, já estejam presentes complicações de longo prazo da doença. Classificação de Priscilla White Avalia o tempo da doença e a presença de complicações vasculares Atualmente, reconhece-se que presença de vasculopatias é fator de risco para resultados materno-fetais adversos. DM gestacional Classe A1 Controlado apenas com dieta Classe A2 Controlado com insulina DM pré-gestacional Classe A Controlado apenas com dieta Classe B Iniciado após os 20 anos ou com duração < 10 anos Classe C Iniciado entre 10 e 19 anos ou com duração de 10 a 19 anos Classe D Iniciado antes dos 10 anos, com duração > 20 anos, associado à retinopatia inicial ou associado à hipertensão arterial Classe F Nefropatia com macroproteinúria Classe H Doença coronariana com evidência clínica Classe R Retinopatia proliferativa ou hemorragia vítrea Classe T Transplante renal DM diagnosticado na gestação Era definido como qualquer grau de intolerância a carboidratos diagnosticado pela primeira vez na gestação. Essa definição incluía casos de DM tipo 2 não diagnosticados antes da gestação. Pacientes que já tem DM tipo 2, que já no 1° trimestre exibem níveis glicêmicos elevados, tem maior risco para malformações fetais. Além disso, aquelas pacientes com DM gestacional são consideradas de baixo risco em comparação às com DM tipo 2. Dessa forma, ao classificar erroneamente a gestante com DM tipo 2 em DM gestacional, estaremos a classificando com um risco menor do que deveria, trazendo riscos ao bebê. Visto que pacientes que foram diagnosticadas inicialmente com DM gestacional, mas posteriormente tiveram diagnóstico confirmado como DM tipo 2, apresentam maior frequência de malformações fetais que aquelas já sabiamente diabéticas do tipo 2. Em 2010, a International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups, propôs que a DM diagnosticada durante a gravidez fosse classificada em: Diabetes pregresso desconhecido (overt diabetes) Pacientes que apresentassem na primeira consulta de pré-natal um dos critérios: - Glicemia em jejum >= 126 mg - Hemoglobina glicada >= 6,5% - Glicemia ocasional >= 200mg/dL DM gestacional Observasse valores na primeira consulta de: - Glicemia de jejum entre 95-125 - TTGO 75g Atualmente, o TTGO é realizado entre 24 e 28 semanas por todas as gestantes que apresentem resultado de glicemia de jejum solicitadas na primeira consulta inferior a 92mg/dl, ou seja, de forma universal. TODA GESTANTE DEVE FAZER TTGO Fatores de risco Idade materna > 25 anos Sobrepeso materno e/ou ganho excessivo de peso Antecedente familiar de 1° grau de DM DM gestacional em gravidez prévia Intolerância à glicose anterior à gravidez Antecedente de macrossomia fetal e/ou feto AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 grande para a idade gestacional Hipertensão arterial Uso de corticosteroide Cerca de 90% de todas as gestações apresentam pelo menos um dos fatores de risco, o que deixa claro que a utilização deles para o rastreamento é insuficiente. Esse fato é uma das justificativas para realização do teste diagnóstico de forma universal, por meio do TTGO. Investigação do DM na gravidez Glicemia em jejum na 1° consulta de pré-natal Devido ao fato de há uma verdadeira epidemia de obesidade e de DM tipo 2, é consenso que a investigação de overt diabetes deva ocorrer na 1° consulta de pré-natal Dessa forma, devemos solicitar glicemia em jejum: Glicemia em jejum >= 126 mg/dl Diagnóstico de DM pré-gestacional do tipo 2 Glicemia em jejum 95-125mg/dl Diagnóstico de DM gestacional Glicemia em jejum < 92mg/dl Normal A paciente com DM tipo 2 pré-gestacional deve ser acompanhada durante o pré-natal da mesma forma que aquelas que já sabiam que eram diabéticas Pacientes com glicemia de jejum < 92mg/dl deverão realizar, de forma universal, o TTGO de 75 g entre 24 e 28 semanas de gestação. Teste de tolerância à glicose oral de 75g O TTGO compreende a ingestão de 75g de glicose em 100 a 200 ml de água. Medidas de glicemia em jejum, após 1 hora e após 2 horas da ingestão da glicose. Deve ser realizado entre 24 e 28 semanas para as pacientes que ainda não tiverem o diagnóstico de diabetes confirmado TTGO Teste de escolha para o diagnóstico do DM gestacional Valores de TTGO de 75g para diagnóstico de DM gestacional segundo a Internacional Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups Jejum >92mg/dl 1 hora >180mg/dl 2 hora >153mg/dl Acompanhamento pré-natal Deve ser realizado quando a mulher diabética manifesta o desejo de engravidar Avaliação preconcepcional Objetivo é de avaliar e informar a mulher sobre os riscos relacionados à evolução do diabetes e dos possíveis efeitos de sua doença na gestação Deve-se instituir medidas que possam melhorar o prognóstico materno e fetal Estima-se que apenas um terço das gestações de pacientes portadores de DM seja programado Complicações Clínicas Maternas Avaliação da presença e da evolução de complicações do DM é essencial para ao acompanhamento preconcepcional quanto para que se tenha as condições adequadas ao acompanhamento pré-natal. Complicações comuns: Hipertensão arterial Complicação frequente Prevalência relacionada ao tipo de diabetes, a obesidade, a idade e a etnia Pacientes com DM tipo 1 – Usualmente é a manifestação de doença renal preexistente Glicemia em jejum (8-12 horas de jejum) na 1° consulta de pré-natal < 92 mg/dl Normal Realizar TTGO de 75g entre 24-28 semanas de gestação 95-125 mg/dl DM gestacional >= 126 mg/dl DM progresso desconhecida (overt diabetes) AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 Paciente com DM tipo 2 – Parte da síndrome metabólica (obesidade, hiperlipidemia e hiperglicemia) Se associa a maior risco de doença cardiovascular, retinopatia e nefropatia Retinopatia diabética Complicação vascular mais específica da doença Prevalência relacionada à duração da doença Controle glicêmico adequado é a principal forma de prevenir ou retardar o aparecimento da retinopatia Na maioria das vezes, não há progressão dessa complicação durante a gestação. Exceção naquele caso que há retinopatia proliferativa grave antes da gravidez. Caso a gestante tenha retinopatia proliferativa grave, deve ser orientada a realizar tratamento prévio à gestação. Se diagnosticada na gestação ou ocorra sua progressão, não há contraindicação de laserterapia Nefropatia diabética Uma das principais causas de insuficiência renal crônica Microalbuminúria é definida como a perda de 30 a 299 mg de albumina em urina de 24 horas, sendo considerada um estágio precoce da nefropatia diabética A microalbuminúria associa ao maior risco de desenvolver pré-eclampsia, devendo ser avaliada em gestantes com DM pré- gestacional Maior risco de doenças cardiovasculares A progressão para macroalbuminúria (valores de 300mg ou mais em urina de 24h), associa- se ao desenvolvimento de insuficiência renal crônica. Controle glicêmico e pressórico tem sido sugerido com o a principal forma de interferir na evolução da complicação A progressão da doença inclui a diminuição do clerance de creatinina e da taxa de filtração glomerular, que deverão ser avaliados quando houver macroalbuminúria Os efeitos da gestação na função renal não são bem estabelecidos, podendo ocorrer um aumento significativo da proteinúria e, após o parto, retorno aos valores normais. O que usualmente acontece quando a concentração de creatinina sérica se situa em valores inferiores a 1,4 mgdL. Creatinina acima de 1,5 mg/dl + Protenúria >= 3g/24h + Hipertensão de difícil controle Maior risco de progressão da doença materna e à perda de função renal Risco de malformações fetais Um dos desafios para diminuição da taxa de mortalidade perinatal em pacientes com DM é devido a frequência de malformações fetais Apesar do conhecimento da necessidade de controle metabólico estrito durante o período periconcepcional e toda a gestação, poucas gestantes se programam e procuram acompanhamento ideal Hiperglicemia nas primeiras 6-8 semanas de gestação aumenta o risco de malformações fetais Malformações afetam mais comumente o aparelho cardiovascular, SNC, sistema digestório, aparelho geniturinário e musculoesquelético. Uma das propostas para diminuir o risco de malformações é que durante o período preconcepcional se atinja valores de hemoglobina glicada inferiores a 6%. Assim, apenas após alcançar esses valores deverá engravidar. Esses valores são mais facilmente alcançados por pacientes com DM tipo 2, sendo mais difícil o controle naqueles com DM tipo 1, pois tem muitas vezes uma variação glicêmica com frequentes episódios de hiperglicemia alternados com hipoglicemia Na abordagem da mulher diabética que deseja engravidar, são necessários, a avaliação clínica detalhada e o controle glicêmico estrito (revisão da orientação dietética + estudo de rotina da paciente + modificações na terapêutica utilizada) Assistência Pré-Natal Promove o acompanhamento clínico da gestante diabética independente da classificação da doença Monitorizar as principais complicações fetais Tratamento envolve uma equipe multidisciplinar Por muitos anos, para abordagem inicial de gestante com DM, preconizava-se a internação. Atualmente, com controle da glicemia capilar realizado pela própria gestante, as internações são menos frequentes. AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 Abordagem inicial 1° consulta de pré-natal Mapear os maiores riscos de complicações nessas gestações DM tipo 1 e 2 Esses pacientes procuram atendimento médico ainda no 1° trimestre de gravidez São classificadas como portadoras ou não de vasculopatias diabéticas. Aquelas que apresentam vasculopatia são consideradas de maior risco para insuficiência placentária e progressão de complicações do diabetes. Retinopatia diabética Se a paciente não tiver realizado acompanhamento preconcepcional, deve ser feito a avaliação de retina por meio de exame de fundo de olho. Exame de fundo de olho deve ser solicitado no 1° trimestre (rastreamento), no final da gestação e 1 ano após o parto, a fim de assegurar que não houve progressão da complicação. Na presença de retinopatia proliferativa, o exame de fundo de olho deve ser realizado em intervalos menores estará indicado a fotocoagulação a laser. Controles glicêmicos e pressóricos são muito importantes na prevenção e na estabilidade da retinopatia diabética HAS Controle da pressão arterial visa ao sucesso da gestação e também ao prognóstico materno em longo prazo. A pressão sistólica deve ser mantida entre 110-129mmHg, e os de diastólica entre 65 e 79mmHg. Drogas anti-hipertensivas serão prescritas de acordo com a necessidade, com exceção dos diuréticos, que devem ser evitados pela associação com redução da perfusão placentária. Durante a gravidez, deve ser descontinuado o uso de bloqueadores dos receptores da angiotensina e de inibidores de enzima conversora da angiotensina, pelo risco de dano fetal. Preconiza-se a realização de ECG para todas as pacientes e ecocardiograma para as portadoras de vasculopatias. Função renal Avaliação da função renal consiste em pesquisa de microalbuminúria ou de proteinúria e na determinação dos valores de creatinina sérica Infecção Gestantes com DM tem risco aumentado em 3-5x de apresentar bacteriúria assintomática, sendo importantes o rastreamento e o tratamento dessa condição Função tireoidiana A função tireoidiana deve ser avaliada já no primeiro contato com a gestante, pois são descritas associações entre o diabetes tipo 1 e doenças autoimunes Estado metabólico Conhecer o estado metabólico também é essencial para estimar o risco de malformações fetal, que é viável por meio da mensuração da hemoglobina glicada, que reflete o controle glicêmico das últimas 8 a 12 semanas A ultrassonografia deve ser realizada no 1° trimestre e tem como objetivo documentar a viabilidade da gestação, estimar a idade gestacional e permitir a avaliação morfológica inicial em busca de malformações A medida da translucência nucal agregará informações relativas ao risco de cromossomopatias e malformações cardíacas A frequência de malformações fetais aumenta expressivamente quando os valores de hemoglobina glicada forem maiores, chegando a 20% quando a hemoglobina glicada for superior ou igual a 14% no período periconcepcional No acompanhamento das gestantes com DM tipo 1 e 2, os seguintes exames laboratoriais deverão ser repetidos com 20,28 e 34 semanas de IG: Microalbuminúria Proteinúria de 24 horas Creatinina sérica Urocultura DM gestacional Encaminhadas para pré-natal especializado no final do 2° ou no início do 3° trimestre Necessidades distintas e visam verificar a associação com outras doenças, como síndromes hipertensivas e AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 avaliar as repercussões fetais consequentes a intercorrência obstétrica Depois de estabelecido o diagnóstico, deve ser realizada a USG obstétrica com objetivo de avaliar o crescimento fetal No acompanhamento das gestantes com DM gestacional, é importante focar a atenção no maior risco de pré-eclâmpsia e de bacteriúria assintomática Tratamento Tratamento do DM visa ao controle glicêmico estrito, com o objetivo de conseguir normoglicemia e, com isso, diminuir as complicações maternas e fetais Mesmo mantendo controle dietético excelente, a resistência e a necessidade de insulina irão aumentar durante a gestação, o que pode levar à introdução desse medicamento ou mesmo a frequente ajustes de dose de insulina. Dieta A educação dietética, muitas vezes, é terapêutica suficiente para atingir o controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2 e em pacientes com diabetes mellitus gestacional. Os objetivos dessa terapêutica são atingir a normoglicemia, evitar a cetose, promover ganho adequado de peso e contribuir para o desenvolvimento e o bem-estar fetal Durante a gestação, há aumento da necessidade calórica diária em tomo de 300 kcal em relação à dieta basal anterior à gestação. Para se estabelecer a necessidade calórica de cada gestante, deve-se ainda levar em consideração tanto o peso atual como o peso ideal da gestante Em geral, a necessidade calórica estimada situa-se entre 1.800 e 2.200 kcal diárias totais A participação de nutricionista na elaboração e na flexibilização da dieta é essencial. A avaliação nutricional desse ser iniciada pelo conhecimento da realidade social da paciente, um fator decisivo para sua adesão a essa terapêutica Exercício físico Exercícios físicos podem promover melhor controle glicêmico, porém, em paciente diabéticas tipo l, os exercícios podem promover episódios de hipoglicemia grave, por isso, cada caso deve ser cuidadosamente analisado. Pacientes que rotineiramente praticam atividades físicas e já o faziam previamente à gestação deverão manter suas atividades com as adaptações necessárias a essa nova fase da vida. Paciente que não tinham esse hábito, por sua vez, em especial as portadoras de diabetes tipo 2 ou diabetes mellitus gestacional, poderão ter benefícios com a prática de exercícios físicos apropriados para gestantes e para o trimestre específico da gestação. A realização de atividades físicas diminui a intolerância a glicose podendo, com isso, reduzir a necessidade diária de insulina Insulinoterapia A insulina exógena é a terapêutica medicamentosa de escolha no tratamento do diabetes durante a gestação. Administração de insulina deve ser indicada quando a dieta não for suficiente para o controle metabólico adequado da gestante As mais utilizadas na gravidez são caracterizadas quanto ao tempo de ação como intermediárias - insulina neutral protamine hagedorm (NPH) - ou rápidas - insulina regular. AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 No diabetes pré-gestacional Para as pacientes com diabetes mellitus tipo l, em geral, há necessidade de associação de insulina humana NPH e insulina de ação rápida ou ultrarrápida A insulina ultrarrápida (lispro ou asparte) é aplicada 15 minutos antes das refeições, e a insulina rápida (insulina regular), 30 minutos antes Mantém-se próxima à pré-gestacional nas primeiras 7 semanas de gestação, com diminuição significativa entre 7 e 15 semanas e voltando a se elevar consideravelmente entre 28 e 32 semanas de idade gestacional. Outros fatores que contribuem para necessidades maiores são o peso da mulher antes da gestação e o ganho de peso com a evolução da gravide Habitualmente, utilizam-se dois terços da dose total como NPH e um terço da dose total como insulina ultrarrápida Importante deixar claro que, para atingir o controle glicêmico desejado, há necessidade de utilização de múltiplas doses de insulina. No diabetes gestacional A introdução da insulina no diabetes mellitus gestacional se faz quando a terapêutica dietética e a realização de exercícios físicos não são suficientes para alcançar o controle metabólico desejado. Esquemas terapêuticos que agregam uso de insulinas intermediárias com insulinas rápidas são, sem dúvida, os mais fisiológicos; porém, em vários casos, consegue-se controle glicêmico adequado utilizando-se a insulina de ação intermediária (NPH) fracionada em três tomadas (jejum, almoço e às 22 horas). A dose inicial será calculada de acordo com o peso materno, sendo de 0,5 U/kg/dia, observando-se dose maior pela manhã (metade da dose total diária) e outras duas doses menores no almoço e ao deitar-se (um quarto da dose total diária). Caso necessário, a insulina regular será introduzida antes das refeições. Fatores preditores do uso da insulina - História familiar de DM - Obesidade pré-gestacional - Número de valores anormais no TTGO de 100g - Hemoglobina glicada Hipoglicemiantes orais Têm sido considerados opção terapêutica para pacientes com diabetes tipo 2 ou diabetes mellitus gestacional. A gliburida não ultrapassa a barreira placentária, e seu uso na gestação parece ser seguro. Outra droga bastante promissora, mas ainda não liberada pelo FDA para uso rotineiro durante a gestação, é a metformina. Os fatos de esse medicamento atravessar a barreira placentária e de não existirem estudos que assegurem a sua segurança em longo prazo para os filhos de mães diabéticas fazem com que ainda se considere a insulina como droga de escolha para tratamento do diabetes durante a gravidez Monitorização glicêmica Feita por meio da glicemia sanguínea capilar pela própria paciente é considerada a forma ideal, tanto pela sua segurança como pela diminuição da necessidade de internações. Esse método traz consigo registro detalhado do perfil glicêmico Recomenda-se que a glicemia sanguínea capilar seja aferida de acordo com o tipo de diabetes e com o tipo de tratamento utilizado: Pré-gestacional (tipo 1 ou tipo 2) ou diabetes mellitus gestacional em uso de insulina 7x ao dia (perfil glicêmico completo) - jejum, pré-prandial ( almoço e jantar), 1 hora pós- prandial ( café da manhã, almoço e jantar) e madrugada. Gestacional 4x ao dia (perfil glicêmico simplificado) - jejum, 1 hora pós-prandial ( café da manhã, almoço e jantar). Objetiva -se atingir o mínimo de 7 0º/o dos valores dentro da normalidade A avaliação da glicemia sanguínea capilar durante a madrugada, apesar de incômoda, tem sua justificativa, sobretudo em casos de diabetes tipo 1, por ser este o momento do dia em que mais frequentemente se observam hipoglicemias. Muitas vezes, valores de hiperglicemia no jejum são consequência de rebote por hipoglicemias na madrugada, que precisam ser prevenidas e adequadamente tratadas AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 A hemoglobina glicada fornece informações sobre a média glicêmica das últimas 8 a 12 semanas. Não tem sido recomendada como teste para monitorização glicêmica na gestação. A meta seria conseguir valores inferiores a 6 °/o, sem ocorrerem, no entanto, episódios frequentes de hipoglicemia. Cetoacidose diabética É uma emergência médica caracterizada por hiperglicemia e acidose desencadeadas pelo déficit de insulina. O quadro clínico é composto por náuseas, vômitos, dor abdominal, poliúria, polidipsia, fraqueza, perda de peso, desidratação, hipotensão, taquicardia e hiperventilação. Habitualmente, encontram-se glicemia acima de 200 mg/dL e presença de corpos cetônicos na urina Observam-se ainda acidemia (pH arterial< 7,30) e bicarbonato < 18 mEq/L. Em 60 minutos, devem-se obter os resultados da gasometria para confirmação do diagnóstico de cetoacidose diabética (pH arterial < 7,30 e bicarbonato inferior a 18 mEq/L) e dosagem dos eletrólitos ( sódio e potássio) para definição da conduta a ser adotada Assim que os resultados desses exames estiverem disponíveis, a seguinte conduta deverá ser implementada: Cetoacidose não confirmada Repetir glicemia capilar e, se necessário, administrar insulina para controle glicêmico. Cetoacidose diabética confirmada A conduta é baseada na tríade hidratação, reposição de potássio e insulinoterapia A reposição do bicarbonato só está indicada quando o pH arterial apresentar valor inferior a 7,0. A dosagem de bicarbonato sérico deve ser reavaliada a cada 2 horas Avaliação Fetal Após avaliação inicial no primeiro trimestre que inclui exame ultrassonográfico morfológico do primeiro trimestre com a medida da translucência nucal, devem ser realizadas a ultrassonografia morfológica, entre 18 e 22 semanas, e a ecocardiografia fetal, entre 24 e 28 semanas de idade gestacional. A avaliação do crescimento fetal deve ocorrer em intervalos de 4 semanas no segundo e no terceiro trimestres. Saliente-se que pacientes com vasculopatias apresentam risco de insuficiência placentária e, portanto, de restrição do crescimento fetal. Já aquelas que não conseguem atingir controle glicêmico adequado apresentam tendência a macrossomia fetal e polidrâmnio. Pacientes com vasculopatia têm indicação para realizar Dopplervelocimetria de artérias umbilicais com 20, 26 e 32 semanas de gestação, para diagnosticar a insuficiência placentária. Caso sejam observadas alterações nesse exame, será ainda avaliado o perfil hemodinâmico fetal O perfil biofísico fetal, que inclui a cardiotocografia anteparto, será iniciado com 28 semanas de idade gestacional e repetido semanalmente até o parto DM gestacional Posteriormente à primeira avaliação, preconiza-se a ultrassonografia seriada (mensal) com o objetivo de acompanhar o crescimento fetal. A presença de macrossomia e de todas as suas possíveis complicações relaciona-se amplamente com o controle glicêmico. Após o diagnóstico de diabetes mellitus gestacional, que usualmente ocorre depois de 28 semanas, para avaliação da vitalidade fetal realiza-se semanalmente o perfil biofísico fetal (que deverá incluir a cardiotocografia em caso de mau controle glicêmico ou se outras doenças estiverem associadas ao diabetes). Momento e tipo de parto Diante de paciente com bom controle metabólico, sem repercussões fetais, pode-se permitir a evolução da gravidez até 40 semanas. AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 Situações especiais como nefropatia diabética, retinopatia proliferativa, macrossomia fetal, dificuldade no controle metabólico, associação com formas graves de hipertensão arterial, restrição do crescimento fetal e sinais de sofrimento fetal podem determinar a antecipação do parto. Mesmo nessas situações consideradas especiais, raramente há necessidade de término da gestação antes de 37 semanas de idade gestacional. A via do parto será determinada pelas condições obstétricas, sendo a via vaginal preferencial, exceto quando existirem contraindicações como peso fetal superior a 4.000 g Assistência ao parto Durante o trabalho de parto, não se pode negligenciar o controle glicêmico e da vitalidade fetal. É importante considerar que as necessidades de insulina estão diminuídas em decorrência do jejum relativo e da maior utilização de glicose. Assim, as seguintes medidas foram sistematizadas para o controle glicêmico da parturiente: Avaliação da glicemia capilar em intervalos de 2 horas, sendo os valores esperados entre 70 e 140 mg/ dL. Infusão intravenosa de solução de glicose a 5% (60 mL/h ou 20 gotas/min) nas pacientes mantidas em jejum. Preconiza-se que a paciente receba, no dia do parto, um terço da dose de insulina NPH normalmente administrada pela manhã. Caso a paciente receba o desjejum, como usualmente acontece em casos de indução de trabalho de parto, deverá também receber, além de um terço da dose de insulina NPH, a dose total de insulina rápida ou ultrarrápida prévia ao desjejum. Puerpério DM tipo 1 Retornam aos esquemas de insulinoterapia pré-gravídicos, caso tenham engravidado com bom controle glicêmico ou têm redução em metade da dose do final da gestação. Devem manter dieta especifica, considerando- se também o aumento das necessidades calóricas por causa da amamentação. São frequentes os episódios de hipoglicemia durante ou imediatamente após as mamadas. A dose de insulina deve ser ajustada em virtude da diminuição dos hormônios hiperglicemiantes, do melhor aproveitamento periférico da insulina e também do gasto energético com a amamentação DM tipo 2 Poderão utilizar metade da dose de insulina prescrita no final da gestação ou hipoglicemiantes orais para controle glicêmico no período pós-parto DM gestacional Voltam a receber dieta para não diabéticos e a insulinoterapia e o perfil glicêmico são suspensos. Considerando-se o período de 5 anos após o parto, descreve-se que até 50°/o das pacientes que apresentaram diabetes mellitus gestacional irão se tomar diabéticas Deve-se realizar teste de sobrecarga de 75 g em intervalo de 6 semanas após o parto, quando se espera que o estado metabólico tenha retomado às condições prévias à gestação. Nesse momento, são encontradas três situações distintas: Pacientes que terão confirmação do diagnóstico de diabetes mellitus. Pacientes que continuarão apresentando certo grau de intolerância a carboidratos Pacientes que exibirão resultados normais Pacientes intolerantes ou mesmo aquelas que apresentam resultados normais para o teste de sobrecarga de 75 g deverão repeti-lo anualmente, pelo risco elevado de virem a se tomar diabéticas. Deve-se ainda proceder à orientação nutricional para essas mulheres, a fim de esclarecer a importância da mudança do estilo de vida para elas, o que inclui controle de peso corporal e prática habitual de atividades físicas. Não se deve negligenciar a anticoncepção no puerpério, devendo-se orientar a puérpera e com ela discutir a escolha do método ideal para o casal. Não há evidências de contraindicação absoluta de nenhum método anticoncepcional para essas pacientes AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 Complicações Perinatais A vasculopatia presente em pacientes com doença de longa evolução pode levar a restrição do crescimento fetal e todas as suas complicações; porém, os casos que respondem pela maior parte da morbidade neonatal incluem a presença de macrossomia, hipoglicemia, polidtemia, hipocalcemia. A hiperglicemia materna acarretaria hiperglicemia fetal, estimulando o pâncreas fetal e resultando em hipertrofia e hiperplasia das células-beta, com aumento dos níveis de insulina fetal. Com a separação do binômio matemo-fetal no nascimento, a transferência de aporte glicêmico é interrompida, levando à hipoglicemia neonatal. A hiperinsulinemia traz ainda a aceleração do crescimento fetal, levando à macrossomia. Fetos macrossômicos apresentam aumento das necessidades de oxigênio, hipoxemia crônica e, decorrente dela, aumento do número de hemácias (policitemia) para compensação do transporte de oxigênio. O aumento das taxas de hemoglobina glicada fetal, ávida por oxigênio, favorece a diminuição do oxigênio sanguíneo livre e a hipoxia tecidual e pode acarretar óbito fetal, o que pode explicar o sofrimento do feto. Por outro lado, a inibição dos mecanismos de maturação pulmonar leva a maiores taxas de síndrome do desconforto respiratório. A macrossomia preocupa os obstetras, sobretudo pelos riscos que agrega ao parto vaginal, como distocia de ombro, tocotraumatismos e óbito perinatal. A associação entre diabetes não compensado na gravidez e maiores taxas de macrossomia é conhecida, e seu mecanismo parece estar relacionado com a teoria de Pedersen. A hiperglicemia é também responsável pela ocorrência de diurese osmótica fetal e que leva ao aumento do volume de líquido amniótico e, consequentemente, a polidrâmnio. No diabetes, é possível deparar-se com prematuridade espontânea ligada ao mau controle metabólico e a maiores incidências de polidrâmnio, macrossomia e infecções, sobretudo do sistema urinário; e prematuridade eletiva, em que o parto é propositalmente antecipado por necessidade materna ou fetal. A corticoterapia para maturação pulmonar fetal em gestantes diabéticas é restrita a gestantes com doença bem controlada e deve-se considerar que serão necessários introdução ou ajuste da dose diária de insulina. A hipoglicemia neonatal é definida como valores de glicemia sérica inferiores a 40 mg/dL no recém- nascido de termo durante as primeiras 12 horas de vida. Acredita-se que o mecanismo que leva o recém- nascido a exibir hipoglicemia é o aumento relativo da secreção de insulina pelo pâncreas de fetos expostos a valores plasmáticos elevados de glicose (teoria de Pedersen). A policitemia neonatal é complicação comum do diabetes e, à semelhança da hipoglicemia, é decorrente de hiperglicemia e hiperinsulinemia, que levam a diminuição do conteúdo de oxigênio livre arterial e estímulo da eritropoese. Também se descreve maior frequência de hiperbilirrubinemia neonatal em filhos de mãe diabética, além de maior frequência de hipocalcemia e hipomagnesemia nos primeiros dias de vida. A síndrome do desconforto respiratório, caracterizada por taquipneia, retração da musculatura intercostal, hipoventilação, hipoxia, evidência de broncogramas e densidades granulares finas no parênquima pulmonar à radiografia simples de tórax, ocorre mais frequentemente em casos de diabetes com controle glicêmico irregular. A hiperinsulinemia inibe a ação do cortisol no pulmão fetal, levando à inibição da produção de lecitina pelo pneumócito tipo 2. A lecitina é um fosfolípide presente no surfactante que estabiliza o alvéolo pulmonar durante a expiração, e sua diminuição leva à síndrome do desconforto respiratório. AIS IV – Saúde da Mulher Bianca Arcanjo – T16 As crianças nascidas de mães diabéticas têm maiores taxas de obesidade na infância e na vida adulta e ainda têm descritas maiores frequências de diabetes tipo 2 na vida adulta.
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