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1 Victoria Diniz Magalhães MICOSES SISTÊMICAS São infecções causadas por fungos capazes de comprometer a unidade dermo-epidermica, tecido celular subcutâneo e outros órgãos extra cutâneos. Apresentam diversas características em comum, entre elas: Distribuição geográfica limitada - (patógenos endêmicos). Os agentes etiológicos estão presentes no solo, em dejetos animais. A principal porta de entrada são as vias aéreas superiores. O indivíduo pode inalar o fungo, ele cai na corrente sanguínea e pode causar lesões até mesmo em camadas cutâneas Todos se encontram na forma filamentosa no ambiente, produzindo esporos, que ao serem inalados, no pulmão, estabelecerá relação de parasitismo e serão encontrados na forma de levedura. O diagnostico é feito a partir das caracteristicas das leveduras encontradas, como: o PCM tem forma de “roda de leme” (multibrotamento), histoplasma é encontrado dentro dos macrofagos, CDM forma de esférula e na blastomicose tem apenas um brotamento. Coccidioidomicose (CDM) Agente etiológico: Coccidioides immitis ou Coccidioides posadasii. Conhecida: micose do Novo mundo – descrita pela 1ª vez na Argentina. Micose sistêmica, predominantemente pulmonar, podendo, também, comprometer pele, laringe, ossos, articulação, meninges, entre outros. Forma de artroconídeos (ambiente) Esférulas (parasitando) 2 Victoria Diniz Magalhães Epidemiologia Prevalente em regiões áridas e semiáridas do continente americano, sendo o sudoeste dos EUA e o norte do México as áreas de maior prevalência. Ocorre também em áreas endêmicas da América do Sul – Brasil → ocorre exclusivamente no Nordeste. Fatores de risco Habitat – terrestre. Não causa doença em apenas serem humanos. Associado a escavações em sítios arqueológicos, treinamentos militares em áreas endêmicas – além de distúrbios naturais como terremotos e alterações climáticas. Afeta qualquer idade, raça ou gênero (ocorrendo mais em homens). Não precisa necessariamente ter alguma imunossupressão para desenvolver a doença, basta entrar em contato com o agente. Brasil – relacionado a caça de tatus, encontrado no Piauí, Ceará, Maranhão e Bahia. Epidemiologicamente, como detectar? Inquérito epidemiológico: é feito um teste intradérmico, onde se faz um levantamento de quem já teve a doença ou tem; é feito para identificar surtos. Injeta o antígeno na pele do paciente e observa a reação de sensibilidade, se vai formar ou não um alo de reação de hipersensibilidade, indicando que o paciente já teve ou está com a doença. Antígeno: Coccidioidina ou esferulina – detecção de casos e análises ambientais durante surtos. O pequeno conhecimento da coccidioidomicose no Brasil leva a muitos casos de diagnósticos errôneos, nos quais a doença é definida como pneumonias, tuberculose e mesmo silicose. Coccidioides immitis: fungo geofílico dimórfico que acomete o homem e uma ampla variedade de animais. 25°C - assume forma de micélio vegetativo hialino, formando colônias esbranquiçadas parecidas com algodão. 3 Victoria Diniz Magalhães 37°C - Levedura, assume formas atípicas esféricas ou ovais de 5 a 60 μm de diâmetro com dezenas de endósporos/esférula (leveduras envoltas em uma estrutura circundada por uma membrana). O esporo cresce na região de hifa, e vai se destacando (artroesporo que veio de uma região de artroconídio). Se o esporo cai em uma região de solo, ele se desenvolve na forma filamentosa, se ele é inalado, ele cresce na forma de levedura (esférula/endósporo, que depois se rompe liberando as leveduras). Transmissão/ Contágio Artroconídeos infectantes presentes no solo, onde o fungo cresce sob a forma filamentosa. Os artroconídeos (esporos) são inalados e se desenvolvem em leveduras, na forma de esférulas, nos pulmões. Aspectos clínicos O fungo Coccidioides immitis tem as vias aéreas superiores como porta de entrada no organismo. Principais formas clínicas (por inalação do artroesporo): 4 Victoria Diniz Magalhães - Pulmonar primária - Pulmonar progressiva - Forma Sistêmica Cutânea primária: rara – ocorrendo pela inoculação de artroesporo presentes nos cactos ou por acidente laboratorial – observa-se pápula, nódulos verrucosos que podem evoluir para ulceras e abcessos. Pode ser inoculado por meio de lesões na pele. OBS: Ulcera pode lembrar de esporotricose. Lesão que evolui de pápula para nódulos verrucosos, lembra cromoblastomicose. Pulmonar primária Forma mais frequente/comum. Subclínica: maioria dos indivíduos infectados (cerca de 60%) não apresenta manifestações e chegam à cura espontânea sem nenhuma intervenção médica. Identifica esses pacientes quando se faz o inquérito epidemiológico. Sintomas de doença respiratória aguda semelhante à gripe, com febre, sudorese noturna, tosse e dor torácica. A intensidade dos sintomas depende da carga infectante, podendo apresentar quadro de infecção respiratória grave inespecífica e manifestações alérgicas, principalmente o eritema nodoso. Pulmonar progressiva ou secundária Acometimento difuso dos pulmões quando há inalação de grandes quantidades de artroconídios infectantes ou após disseminação hematogênica (forma tardia e secundária). Neste caso ocorrem múltiplos infiltrados difusos, com cavidades e manifestações respiratórias graves com alta letalidade. Coccidioidomicose disseminada Rara – 0,2% dos pacientes. Disseminação das lesões para a pele, sistema nervoso central, ossos, articulações. Não tem uma região específica de acometimento. 5 Victoria Diniz Magalhães Ocorre em pacientes com algum imunocomprometimento anterior. Lesões cutâneas são as mais comuns e se localizam principalmente na face, podendo ser papulosas, verrucosas, em forma de placa, abcessos superficiais, pústula ou ainda lesões granulomatosas. Diagnóstico diferencial Devido às diferentes manifestações clínicas o diagnóstico diferencial deve ser realizado com cautela. Manifestações com sintomatologia semelhante: tuberculose, pneumonia, câncer de pulmão e outras. Manifestação pulmonar: assemelha à paracoccidicidomicose, histoplasmose, criptococcose e tuberculose. Forma nodular isolada: comumente confundida com neoplasia pulmonar. Não é de notificação compulsória. Diagnóstico Laboratorial Exame Histopatologico: avaliar a presença de C. immitis no tecido inflamatório. Observa-se também granulomas. Exame Microscópico: exame a fresco do escarro ou da secreção retirada das ulcerações, punção dos nódulos ou abscesso observa-se a presença do microrganismo com sua morfologia característica (esférulas). Cultura: semear o material suspeito. Deixar alguns tubos em temperatura ambiente, 25° C, e outros em estufa a 37° C. Observar os artroconídios característicos. Em laboratório consegue o crescimento em leveduras, não consegue reproduzir em forma de esférulas, apenas quando o fungo está em parasitismo. Exame radiológico: o resultado deste exame revela um quadro semelhante ao da tuberculose. Observa- se lesões pneumônicas de infiltração, lesões nodulares, processo pleural. 6 Victoria Diniz Magalhães Tratamento Como a doença se apresenta de muitas formas, é difícil elaborar um esquema geral de tratamento, devendo cada caso ser avaliado individualmente. Drogas mais comumente usadas: Fluconazol: bons resultados, mas apresenta recidivas. Itraconazol: resultado superior quando não há envolvimento do sistema nervoso central, e menos recidivas. Anfotericina B: usada nas formas mais graves da doença. Paracoccidioidomicose (PCM) Agente etiológico: Paracoccidioides brasiliensis (mais comum) e Paracoccidioides Lutzii. Infecção granulomatosa de evolução crônica, com grande polimorfismo clínico (várias formas), onde as formas pulmonares e cutâneo-mucosas predominam. Órgãos, como gânglioslinfáticos, suprarrenal, baço, fígado, intestinos, ossos também são comprometidos. Causada por um fungo dimórfico e sua distribuição geográfica é restrita aos países latino-americanos. Caracterizada pela formação de aglomerados de células epiteliais com áreas centrais de necrose e agregados de leucócitos polimorfonucleares. Doença de instalação insidiosa (aos poucos) e evolução crônica → depende principalmente do estado imunitário do hospedeiro, podendo apresentar flutuações em sua apresentação. PCM → doenças infecciosas negligenciadas → não recebe atenção das instituições envolvidas em políticas de saúde pública e da indústria farmacêutica que não investe no desenvolvimento de novos antifúngicos. 7 Victoria Diniz Magalhães Epidemiologia Micose sistêmica de maior prevalência na América Latina (Brasil). 10 milhões de pessoas infectadas - 2% risco de desenvolver a doença. Endêmica no Brasil, Venezuela, Colômbia e Argentina. Brasil tem o maior número de casos da doença - ocorrem aproximadamente 150-200 mortes/ ano-estados mais afetados: São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Rondônia. Aumento crescente de registros de casos nos estados da região Centro-Oeste e Norte associados ao avanço da fronteira agrícola nos limites da floresta amazônica. A real prevalência da PCM-doença não é estabelecida → maioria dos estados brasileiros não é de notificação compulsória. Epidemiologicamente, como detectar? Intradermorreação (injeta o antígeno) → paracoccidioidina. Auxiliam no mapeamento das regiões endêmicas. O tamanho do alo de reação indica a presença ou não da doença. Prevalência em áreas endêmicas de 11,0 a 43,8% de contato com o fungo, sendo semelhante entre os sexos. Entre adultos, há proporção de acometimento de 5,4 a 10 homens para uma mulher. A faixa etária na qual há maior ocorrência da doença é entre 30 e 50 anos de idade. A maioria dos casos ocorre no sexo masculino porque o hormônio feminino 17-B-estradiol impede que o fungo atinja a forma de levedura, que é a forma causadora da paracoccidioidomicose. Fatores de risco Atividades relacionadas ao manejo do solo: atividades agrícolas; terraplenagem; preparo do solo. Sexo masculino: - Produção de hormônios diferenciada em homens e mulheres. - Somente até a puberdade a incidência da doença é a mesma entre os dois sexos. 8 Victoria Diniz Magalhães Tabagismo e etilismo, devido ao comprometimento pulmonar, uma menor carga viral já é capaz de causar a doença. Epidemiologia: Idade: 30-50 anos (trabalhadores rurais) – 90% são homens. Habitat Saprófita de solos e vegetais - Florestas úmidas (tropicais e subtropicais) → Temperatura: 17 a 24°C. Solos de diferentes locais – Brasil, Venezuela e Argentina. Mamíferos selvagens (reservatórios da doença): porco-da-índia, porco-espinho, guaxinim e tatus → evidencias de doenças nestes animais. Dimorfismo termo-dependente A paracoccidioidomicose é causada por um fungo dimórfico térmico possuindo forma micelial (25°C) e a forma de levedura (37°C). 25°C filamentoso - colônia algodonosa branca e hifas finas, septadas e com esporos terminais. Parede celular do micélio é composta basicamente por β-1,3 glucana, a camada interna por quitina. 37°C leveduras – células arredondadas com parede refringente com multibrotamentos. Levedura é multinucleada, camada externa da parede é rica em α-1,3 glucana. A infecção se dá através da inalação dos esporos (células) do fungo (na forma filamentosa) existentes no solo, normalmente em meio rural. No interior dos pulmões, os esporos se modificam para a forma de levedura, a causadora da PCM. 9 Victoria Diniz Magalhães P. brasiliensis em amostra de tecido sob formas de gemulação, com o aspecto patognomônico/característico de roda de leme. A melhor forma de dar o diagnóstico é encontrar o patógeno. Transmissão Conídeos O que vai determinar se será uma PCM doença (clinica) ou infecção (doença subclinica) será determindo pela cepa; pela quantidade de carga infectante; e do sistema imunologico do indivíduo. PCM 10 Victoria Diniz Magalhães doença: formação de granuloma ao redor da levedura para tentar conter o patógeno, gera broncoalveolite e terá a disseminação do patógeno por outras areas do corpo. Alveolite com migração de neutrófilos → substituídos por linfócitos e macrófagos. Alterações → similares ao da tuberculose. Há a formação do granuloma, que é a forma mais típica de reação inflamatória tecidual ao P. brasiliensis. Conídeos Depende do tipo de célula imune que será induzida que definirá se será mais branda ou grave a doença. Th1 é uma resposta mais celular. Th2 é uma resposta mais humoral. Granuloma Relacionado à resposta imune do hospedeiro e deve representar uma resposta tecido-específica ao fungo na tentativa de destruí-lo e prevenir a sua multiplicação. Precisa de uma resposta imune mais celular para ser formado. Formação do granuloma: as células do sistema imune vão chegando perto do patógeno e vão formando camadas de células. Primeiro chegam os macrófagos que vão se fundindo, depois chegam os linfócitos e os fibroblastos, formando assim um granuloma. Quando mais compacto o granuloma, mais ele vai conter a doença. Formar muito granuloma não é muito bom, pois irá obstruir muitas áreas do órgão afetado. Para ter formação de granuloma deve ter uma resposta imune mais voltada para a imunidade celular. 11 Victoria Diniz Magalhães Patogênese Os granulomas podem apresentar formas variadas, desde compactos e com poucos fungos (polo hiperérgico) até frouxos e supurativos, com necrose extensa e; muitos fungos (polo anérgico), que se associam, respectivamente, à defesa imunológica eficaz ou comprometida. IMUNOPATOLOGIA Aspectos imunológicos P. brasiliensis pode viver no meio intracelular ou no extracelular (na área central do granuloma). Imunidade mediada por células: principal defesa. Associada à padrão Th1: síntese de citocinas que ativam macrófagos e linfócitos T CD4 e CD8, resultando na formação de granulomas compactos. Menos grave. Uma resposta eficiente, permite o controle da replicação do fungo. Na PCM-infecção podem persistir fungos viáveis no interior do granuloma. Pacientes infectados que evoluem para PCM-doença Hipergamaglobulinemia é o aumento das imunoglobulinas (ou anticorpos) no sangue. As respostas Th1 e Th2 não estão elevadas juntas, quando uma está mais elevada, a outra está baixa. 12 Victoria Diniz Magalhães Aspectos clínicos PCM – infecção: Cura: a carga infectante foi pequena, a cepa pode não ser tão virulenta e há destruição do fungo. Eliminação da doença. Como gerou uma resposta imune, no inquérito epidemiológico ele pode apresentar positivo no teste. Latência: fungo infectou um órgão, resposta imune foi potente, formou granuloma contendo o fungo que ficou em latência. PCM – doença: Doença: - Forma Aguda - Forma Crônica Unifocal Multifocal PCM associado à imunossupressão Forma sequelar – residual: não tem mais a doença, mas ela deixou sequelas. PCM-infecção Indivíduos de ambos sexos Aparentemente sadios Residem/residiram áreas endêmicas Sem manifestação clinica Reação intradérmica positiva Anticorpos específicos à Ags de P. brasiliensis PCM-doença Acomete principalmente, homens trabalhadores rurais, idade média de 45 anos. Doença granulomatosa. 13 Victoria Diniz Magalhães PCM forma aguda ou juvenil: mais severa, evolução rápida, atinge jovens de ambos os sexos. Responsável por 3 a 5% dos casos – predomina em crianças e adolescentes. Evolução rápida: manifestação em 4 a 12 semanas. Envolvimento disseminado de órgãos do sistema linfoide. Letalidade -11%. Lesões mucosas e pulmonares são raras. PCM forma crônica ou adulta: duração prolongada,lesões unifocais ou multifocais, prevalência em adultos do sexo masculino (questão hormonal). Responsável por 90% dos casos – adultos entre 30 e 60 anos, predominantemente do sexo masculino. Evolução lenta. Pulmões, mucosas e pele. Na maioria das vezes as lesões na face são secundarias, primeiro acomete os pulmões. Acometimento pulmonar em 90% dos casos. Critérios de gravidade: leve, moderado e grave. Diferenças e semelhanças entre a paracoccidioidomicose e a tuberculose pulmonares 14 Victoria Diniz Magalhães PCM associado à imunossupressão Forma disseminada. 15 Victoria Diniz Magalhães Formas sequelares São frequentes: Pulmonares → alterações do tipo obstrutivo – doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou predomínio de fibrose e enfisema – incapacitação para o trabalho. Lesões neurológicas. Lesões cutâneas desfigurantes – perioral e intraoral (interferindo na deglutição, fonação e prejuízo estético). Insuficiência renal e da suprarrenal. Diagnóstico diferencial Principalmente com Tuberculose pulmonar: semelhanças em relação às alterações radiográficas e às manifestações clínicas. Associação TB e PCM em 5,5 a 25% dos casos. Principais diagnósticos diferenciais para PCM. 1- Tuberculose pulmonar e micobacterioses atípicas 2- Sarcoidose 3- Histoplasmose 4- Pneumonia intersticial difusa idiopática 5- Silicose crônica 6- Coccidioidomicose 7- Cromoblastomicose 8- Leishmaniose cutânea e visceral 9- Hanseníase 10- Neoplasias cutâneas e da laringe Diagnóstico Laboratorial Padrão ouro para o diagnóstico de PCM → encontro de elementos fúngicos nas amostras. Coleta de amostras: - Raspado de lesões - Biópsias - Escarro - Secreções - Aspirado ganglionar – material obtido por broncoscopia 16 Victoria Diniz Magalhães Exame direto – histopatológico – isolamento – comprovação do dimorfismo. • Exames por imagem. Tratamento P. brasiliensis é sensível à maioria das drogas antifúngicas. Formas leves e moderadas: Itraconazol ou combinação de sulfametoxazol- trimetoprim VO. Formas graves: Anfotericina B (ambiente hospitalar) ou associação sulfametoxazoltrimetoprim por via intravenosa. Tempo de tratamento depende da gravidade da doença. Normalmente é de longa duração, para permitir controle das manifestações clinicas da doença e evitar recaídas. O paciente deve receber tratamento e ser acompanhado até atingir os critérios de cura. Critério de cura: - Melhora clínica, radiológica e micológica. - Estabilização da ID em 1:2 ou negativação em duas amostras com intervalo de 6 meses após o tratamento. - Solicitação de sorologia a cada 6 meses, ou em período menor se não houver resposta clinica satisfatória. - Redução dos títulos de Acs deverá ocorrer 6 a 10 meses após o tratamento. 17 Victoria Diniz Magalhães Lesões cutâneas em pápulas e nódulos eritematocrostosos na face, na forma crônica multifocal, antes (A) e após (B) o tratamento. 1- Tuberculose pulmonar (TB). Caso clínico 1: Homem de 74 anos, portador de diabetes mellitus (DM) insulinodependente em tratamento, com diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e quadro de depressão. Historia de tabagismo e etilismo por cerca de 30 anos. Residiu na região de Mirandópolis, interior do estado de São Paulo, até ́ aproximadamente 20 anos de idade. Como ocupação principal, na maior parte de sua vida foi motorista de caminhão, transportando agrotóxicos. Há 15 anos queixava-se de dor torácica e tosse produtiva crônica, além de dispneia progressiva aos pequenos e médios esforços. Na época, foram realizadas inúmeras baciloscopias de escarro, todas negativas, entretanto vários exames radiológicos de tórax mostravam infiltrado pulmonar, com derrame pleural à esquerda em algumas situações. Recebeu tratamento empírico para TB por duas ocasiões: há 15 anos, no início da história, e recentemente, uma vez que as imagens aos raios X (RX) de tórax se mantinham com infiltração em ápice bilateral. Nessa ocasião, a pesquisa de bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR) manteve-se negativa, apesar de uma reação de purified protein derivative (PPD) forte, igual a 10 mm. Esse tratamento não resultou em melhora, ao contrário, houve piora do estado geral do paciente, emagrecimento e permanência das imagens pulmonares, mesmo com tratamento para TB. Somente nessa fase, amostras de escarro e sangue do paciente foram incluídas em um projeto do laboratório de micologia para a pesquisa de PCM. Importância da investigação paralela de TB e PCM Cinco amostras de escarro foram analisadas, das quais duas exibiram estruturas fúngicas compatíveis com Paracoccidioides brasiliensis (Figura 1). Esses achados foram confirmados pela técnica de impregnação pela metenamina-prata, segundo Gomori-Grocott, em esfregaços de escarro. O teste de imunodifusão radial dupla, exame sorológico de rotina, apresentou resultado negativo, porém teste de maior sensibilidade, o western blot, mostrou anticorpos contra o componente marcador da PCM. Além disso, a reação de ensaio imunossorvente ligado à enzima (ELISA) também indicou para a presença de níveis elevados de anticorpos frente ao antígeno de P. brasiliensis.
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