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4 TUTORIA 1.2 – Alícia Camyle (MEDICINA FITS-PE) Objetivos: 1. Compreender a fisiopatologia do câncer de esôfago (quadro clínico, epidemiologia, etiologia, diagnóstico e tratamento); 2. Conhecer os fatores de risco para o câncer de esôfago; 3. Apontar os programas do Ministério da Saúde na prevenção do homem; 4. Entender o estadiamento do câncer e a sua importância para o prognóstico/tratamento. CÂNCER DE ESÔFAGO A neoplasia de esôfago é um câncer que normalmente se apresenta de forma muito agressiva, e é dividido em duas entidades distintas, com diferentes fatores predisponentes, características histológicas e epidemiologia: o Adenocarcinoma esofágico o Carcinoma escamocelular (CEC) do esôfago. Epidemiologia / Etiologia O câncer de esôfago apresenta alta incidência no mundo, principalmente em países como Japão, China, Singapura e Porto Rico, sendo que no Brasil consta entre os 10 cânceres mais incidentes. Nas regiões de alta incidência, principalmente no Leste da Ásia e da África, o carcinoma escamoso (ou espinocelular) é o mais comum entre os subtipos, contribuindo com até 96% dos casos de câncer de esôfago. A área do sul, sudeste e leste asiático que apresenta as maiores taxas mundiais de câncer de esôfago é conhecida como Cinturão do Câncer de Esôfago. No entanto, tem sido percebido principalmente no mundo desenvolvido um aumento gradativo do adenocarcinoma esofágico e redução da incidência de CEC. Isso é explicado pelos diferentes fatores predisponentes de cada tipo histológico de câncer esofágico. O CEC está relacionado a: o Baixos indicadores socioeconômicos o Cor negra o Tabagismo o Etilismo o Alimentos ricos em nitratos e nitritos o Consumo de bebidas quentes. Nas regiões do globo com maiores incidências de CEC, sugere-se que fatores sociais e culturais contribuam para a união de diversos desses fatores, principalmente o tabagismo, etilismo e consumo de bebidas quentes que são prevalentes no leste africano e leste asiático. A exposição à substâncias com potenciais mutagênicos, principalmente tabaco, álcool, nitrosaminas, bem como estresses físicos e químicos como a esofagite por estase 4 TUTORIA 1.2 – Alícia Camyle (MEDICINA FITS-PE) que ocorre nos pacientes com megaesôfago e consumo de bebidas demasiadamente quentes, induz um processo de perda de genes, principalmente a perda do p53 e p16/INK4a que são genes supressores de tumor. Com a perda da ação desses genes, ocorre desregulação do processo de multiplicação celular, reparo de defeitos no genoma e indução de apoptose, o que acaba resultado na multiplicação desregulada de células que não obedecem ao ciclo celular normal e somam diversas mutações e heterogeneidade entre elas, caracterizando o câncer. O adenocarcinoma se correlaciona com: o População branca o Obesidade o Doença do refluxo Gastroesofágico o Esôfago de Barret (metaplasia) o Consumo de álcool o Tabagismo. O refluxo gastroesofágico que induz a progressão da metaplasia que leva ao esôfago de Barret com aquisição gradual de alterações genéticas e epigenéticas, de forma que a metaplasia intestinal do esôfago já tem mais semelhanças genéticas com o adenocarcinoma esofágico do que com o epitélio esofagiano saudável, configurando o esôfago de Barret como uma lesão pré- maligna do adenocarcinoma. Molecularmente, isso é observado através de mutações do p53, alterações dos genes c-ERB-B2, ciclina D1, ciclina E, entre outras alterações possíveis, que resultam em um processo de desregulação da sobrevivência celular. Quadro clínico A disfagia progressiva costuma ser o sintoma mais frequente associado a perda ponderal recente. A disfagia apresenta progressão rápida (no curso de alguns meses), sendo inicialmente limitante para alimentos sólidos até progredir para semissólidos e líquidos. Quando surgem esses sintomas, a doença já está avançada, porque a dificuldade de deglutição não ocorre até que >60% da circunferência do esôfago estejam infiltrados com o câncer. Apenas 6-10% dos pacientes nos Estados Unidos são diagnosticados ainda assintomáticos. Normalmente, esses pacientes realizam endoscopias digestivas altas periódicas para acompanhamento de Esôfago de Barret, podendo descobrir o câncer esofágico em estágios precoces e ainda assintomáticos. Cerca de 20% dos pacientes relatam também odinofagia, que irradia para tórax ou dorso, causando a regurgitação dos alimentos. Em casos raros, a regurgitação pode causar episódios de pneumonia aspirativa. Pode ocorrer disfonia em caso de invasão do nervo laríngeo recorrente, que passa adjacente ao esôfago. A anemia também é um achado frequente, causada por sangramento crônico, podendo se apresentar como anemia ferropriva ou anemia de doença crônica Fístulas traqueobrônquicas podem ocorrer em casos muito avançados, por disseminação por continuidade do tumor. Esses casos são gravíssimos, associados a pneumonias aspirativas graves e normalmente apresentam sobrevida de menos de 1 mês. Há também diversos sintomas que podem ocorrer quando a doença se apresenta em estágio metastáticos. Esses sintomas variam grandemente a depender dos sítios de metástases. Diagnóstico O diagnóstico é feito principalmente com a esofagografia baritada e com a endoscopia digestiva alta com biópsia e escovados. A esofagografia é um exame útil na investigação de pacientes com queixas como disfagia progressiva, por permitir avaliar a presença de contraturas, obstruções e até certo ponto, também alterações motoras do esôfago. Sinais sugestivos de câncer de esôfago na esofagografia baritada são: o sinal de maçã mordida ou de degrau. 4 TUTORIA 1.2 – Alícia Camyle (MEDICINA FITS-PE) A endoscopia, por outro lado, permite visualizar o tumor diretamente, avaliar diretamente o aspecto macroscópico da mucosa esofágica e realizar a biópsia para alcançar o diagnóstico de certeza do câncer, bem como realizar a classificação histológica do tumor e estadiamento acerca da profundidade de acometimento da parede esofágica. Outro exame útil na avaliação dos pacientes com suspeita de câncer esofágico é a tomografia computadorizada. Apesar de não ser um exame tão importante no diagnóstico do tumor em si, ela permite avaliação de estruturas adjacentes ao esôfago e a disseminação da doença através de metástases a distância, como também o acometimento de linfonodos regionais. O exame complementar considerado essencial no estadiamento da doença por permitir, de forma muito acurada, a avaliação da profundidade do acometimento da parede esofágica, dos linfonodos regionais e das estruturas vizinhas é a ultrassonografia (USG) endoscópica, essencial para guiar o médico no tratamento cirúrgico ou clínico da doença. Há outros exames que podem ser úteis, mas ainda não têm papel tão bem estabelecido na investigação da doença, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET scan). Uma alternativa é a utilização de cirurgia minimamente invasiva para o estadiamento dos pacientes, através de toracoscopia e laparoscopia, avaliando linfonodos e estruturas adjacentes ao tumor. Tratamento Com base em diversos parâmetros do paciente como a idade, estado nutricional, estado hemodinâmico, estadiamento e tipo histológico do tumor, o médico pode optar por uma cirurgia curativa, tratamento rádio e quimioterápico ou iniciar os cuidados paliativos. O tipo histológico do tumor é particularmente importante pois o CEC apresenta maior resposta ao tratamento quimioterápico, enquanto o adenocarcinoma costuma infiltrar áreas mais extensas da parede esofágica acometida pelo esôfago de Barret, exigindo abordagens cirúrgicas um pouco mais agressivas. A cirurgia de escolha é a esofagectomia com linfadenectomia,sendo a melhor opção para a cura. Em lesões de esôfago cervical, deve-se realizar esofagectomia total, necessitando de um acesso torácico por toracotomia ou toracoscopia direta, bem como de uma dissecção de cervical em colar, para remover as cadeias linfonodais até as fossas supra claviculares bilaterais. Já nas lesões de esôfago torácico, aplica-se a esofagectomia com linfadenectomia de 3 campos, para realizar a dissecção dos linfonodos em nível cervical, torácico e abdominal, sendo necessário unir a incisão em colar cervical, toracotomia e a laparotomia. Deve-se lembrar que este procedimento cirúrgico deve ser feito apenas em pacientes com estadiamento mais favorável, ou seja, lesões restritas à 4 TUTORIA 1.2 – Alícia Camyle (MEDICINA FITS-PE) parede esofágica com evidência de no máximo poucos linfonodos regionais acometidos e sem metástase. Além disso, essa esofagectomia pode ser realizada por videotoracoscopia, o que reduziria as complicações resultantes de uma toracotomia aberta, por exemplo. Outra forma de realizar a esofagectomia é por via transdiafragmática, consistindo na dissecção do esôfago por via combinada cervical e abdominal sem abertura do tórax, sendo suas principais indicações: os tumores intramucosos do esôfago, situações de indicação de esofagectomia paliativa, situações de contraindicação para toracotomia e tumores da junção esofagogástrica. Tumores classificados como T1 não apresentam indicação de tratamento quimio e radioterápico, sendo realizado apenas o tratamento cirúrgico. Nos casos T2, pela alta taxa de disseminação linfonodal da doença, há grande discussão entre o tratamento cirúrgico agressivo com ressecção via esofagectomia associada à linfadenectomia regional ou de combinação com rádio e quimioterapia. Já no caso de tumores T3, é bem estabelecida a necessidade de tratamento rádio e quimioterápico adjuvante. Discute-se também a possibilidade de tratamento neoadjuvante, aquele tratamento através de quimio e radioterapia que se realiza antes do tratamento cirúrgico. Ele se correlaciona com maior taxa curativa após a operação, no entanto, também é associado a maior morbimortalidade cirúrgica. Tumores T4 apresentam prognóstico muito reservado, exigindo avaliação cuidadosa entre tratamento multimodal agressivo ou tratamento paliativo, a depender de outros fatores do paciente e da presença de metástases linfonodais a distância e em outros órgãos. Pacientes com câncer de esôfago inoperável e incurável, os principais problemas no tratamento são disfagia, desnutrição e controles das fístulas traqueoesofágicas. O tratamento paliativo inclui repetidas dilatações endoscópicas, realização de gastrostomias ou jejunostomias para hidratação e alimentação, colocação endoscópica de um stent metálico expansivo para by- pass do tumor, e radioterapia. FATORES DE RISCO Os fatores de risco podem variar de acordo com o tipo histol.ógico do câncer de esôfago. Carcinoma escamoso o Tabagismo o Consumo excessivo de álcool o Comidas ricas em nitrato o Deficiência de zinco e vitamina A o Estreitamentos induzidos por radiação o Acalasia crônica o Estenose cáustica o Consumo de bebidas muito quentes (chimarrão, chás, por exemplo) o Tilose Adenocarcinoma o Obesidade o Doença do refluxo gastroesofágico o Epitélio de Barret o Etilismo ESTADIAMENTO DO CÂNCER É utilizada a escala TNM, permitindo a avaliação do tumor, de possíveis linfonodos acometidos e metástase. O item T avalia a extensão local do tumor, com a profundidade do acometimento da parede do esôfago e também avalia a presença ou não de invasão por continuidade de estruturas próximas como a traqueia e o tecido paraesofágico. O item N avalia a presença ou não de metástases em linfonodos regionais e o item M avalia a presença ou não de metástases a distância, como linfonodos distantes do esôfago (cervicais, celíacos e mediastinais). 4 TUTORIA 1.2 – Alícia Camyle (MEDICINA FITS-PE) Estadiamento TNM para câncer esofágico: T: Tumor primário TX O tumor não pode ser avaliado T0 Sem evidências de tumor Tis Displasia de alto grau T1 O tumor invade a lâmina própria, muscular da mucosa ou submucosa, mas não rompe a submucosa. T2 Tumor invade, mas não ultrapassa a muscular própria. T3 Tumor invade tecido paraesofágico, mas não invade estruturas adjacentes. T4 Tumor invade estruturas adjacentes N: Linfonodos regionais N X Linfonodos regionais não podem ser avaliados N 0 Ausência de metástases para linfonodos regionais N 1 Metástases em linfonodos regionais M: Metástases a distância MX Metástases a distância não podem ser avaliadas M 1 a Lesão do esôfago torácico superior com metástases para os linfonodos cervicais Lesão do esôfago torácico médio em metástase ara os linfonodos mediastinais Lesão do esôfago torácico inferior com metástase para os linfonodos celíacos M 1 b Lesão do esôfago torácico superior com metástase para os linfonodos mediastinais ou celíacos Lesão do esôfago torácico médio em metástase para os linfonodos cervicais ou celíacos Lesão do esôfago torácico inferior com metástase para os linfonodos mediastinais superior ou cervicais ESTÁDIOS T N M Estádio 0 Tis N0 M0 Estádio I T1 N0 M0 Estádio IIA T2/T3 N0 M0 Estádio IIB T1/T2 N1 M0 Estádio III T3/T4 N1/ Qualquer N M0 Estádio IVA Qualquer T Qualquer N M1A Estádio IVB Qualquer T Qualquer N M1B
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