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Responsabilidade de Administrador de S.A.

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Alice Vassilievna Chuk – 201851245103
Manuela Machado - 201851273611
Rafael Silva Fortes - 201951442644
 
 
 
 
 
Responsabilidade de Administrador de S.A.
 
Rio de Janeiro
2021
 Alice Vassilievna Chuk – 201851245103
Manuela Machado - 201851273611
Rafael Silva Fortes - 201951442644
Responsabilidade de Administrador de S.A.
Trabalho apresentado para a disciplina Direito Empresarial III, pelo Curso de Direito na Faculdade Ibmec, ministrada pela professora Carla Marshall.
Rio de Janeiro
2021
1. Introdução
O presente trabalho visa abordar o tema de Responsabilidade do Administrador na Sociedade Anônima, sobretudo, do ponto de vista legal, jurisprudencial e doutrinário, de forma a indicar os mais importantes assuntos pertinentes ao tema.
O administrador da Sociedade Anônima pode ser tanto um membro da diretoria quanto do conselho da administração, que são os dois órgãos os quais compõem a administração da S.A. , conforme disposto no Art. 138 da Lei das S.A. Portanto, o tema que será abordado neste presente trabalho abrange tanto a responsabilização por atos do diretor quanto do conselho de administração.
A lei das S.A. estabelece alguns deveres para os administradores e estes estão pautados entre os Art. 153 a 157 da respectiva lei. O Art. 153 trata sobre o dever de diligência, ou seja, o administrador de uma companhia deve ser probo, ativo e não pode agir com atos ímprobos, nem tão pouco pode se negligenciar acerca das questões da companhia. Por exemplo, não poderá o administrador desperceber a cerca de atos praticados por seus pares ou por administradores daquela mesma companhia. 
Além do dever de diligência, o administrador também deve ser leal na forma dos Art. 155 e 156. A lealdade está atrelada ao fato de que o administrador deve voltar-se totalmente para a sociedade, ou seja, ele deve ser centrípeto, de modo a agir sempre em favor dos interesses da própria sociedade, respeitando os princípios norteadores do mercado, a fim de praticar todos os atos necessários à concepção do objeto social e buscando lucro. Como também, não deve praticar atos em proveito próprio ou de terceiros em detrimento da cia. 
Deve o administrador se atentar também para o dever de informação, previsto no Art. 157 da Lei das S.A. Isto é, manter a sociedade, os acionistas e o mercado informados de fatos relevantes que possam influenciar na precificação das ações. O termo “disclosure” refere-se a abertura das informações à sociedade e ao mercado, e contudo, o oposto disto responsabiliza o administrador do chamado “insider information”, que é quando leva-se em consideração que informações privilegiadas não foram abertas a aqueles que possuem interesse. 
2. Aspecto Material da Responsabilização: 
O tema da responsabilidade em si dos administradores é tratado no Art. 158 da Lei das S.A. Em princípio, o administrador age em nome da sociedade e não em nome próprio. Portanto, os atos por ele praticado leva a responsabilização da companhia e não dele. Porém, responderá os administradores quando: 1) Não atenderem aos deveres impostos pela lei; 2) Agirem com dolo ou culpa, mesmo que dentro das suas atribuições - isso acarretará a responsabilização pessoal, e, portanto, o atingimento do patrimônio particular dos administradores. 
Em princípio, portanto, não é responsabilidade do administrador a obrigação contraída por ele em nome da sociedade. Entretanto, pelos atos que cabe a responsabilização do administrador todos são responsabilizados solidariamente. Neste caso, os administradores respondem não só por seus próprios atos, como também, por atos alheios, aqueles que têm conhecimento, mas não comunicam a assembleia ou não consignam o ato para elidir a sua responsabilidade. Ademais, mesmo não tendo ciência dos atos praticados por outros administradores, os administradores da companhia também serão responsabilizados, pois deveriam saber - ou seja, respondem quando negligenciam em saber, e, não só quando quando sabem e não atuam, mas também quando não sabem e deveriam saber.
 Vale ressaltar que, na S.A. de capital aberto é possível fixar certos poderes e atribuições, os quais limitam a responsabilização dos administradores da companhia. E, nesse caso, o administrador não poderá ser responsabilizado por ato de outro, isto quando ele não tem conhecimento do ato. Contudo, caso haja conhecimento, mas não foi externado à cia, ou seja, consignado em ata ou comunicando a assembleia de acionistas poderá o administrador ser responsabilizado.
Na S.A. fechada, mesmo que o Estatuto faça uma secção de poderes e atribuições, todos são solidários pelos atos praticados por cada administrador. Portanto, será o administrador solidariamente responsável quando outro praticar ato irregular, como também quando for omisso ao saber de ato praticado pelo seu par e não comunicar, ou porque não sabia do ato praticado mas deveria saber.
3. Aspecto Processual da Responsabilização: 
Em relação ao aspecto processual tratado no Art. 159 da Lei das S.A. o ato praticado pelo administrador, que causa prejuízo à sociedade, faz com que se legitime a propositura de ação indenizatória à própria sociedade. No caso, se o administrador causar prejuízo por ato próprio é da companhia a legitimidade ordinária para ajuizamento da ação indenizatória, mas isso demanda aprovação em assembleia. 
Na Assembléia Geral Ordinária a discussão do tema não precisa de prévia convocação específica, pois a pauta indica a prestação de contas daquele administrador. Com isso, se for verificado que existem atos supostamente imbrósticos por parte do administrador ou outros que decorram da sua ação ou omissão, pode haver o debate na mesma assembleia sobre o ajuizamento de ação indenizatória. 
Enquanto que, na Assembleia Geral Extraordinária, em princípio, será necessário uma convocação indicando o tema para pauta, salvo se o motivo que leva a propositura da ação de responsabilidade civil estiver vinculado a um dos elementos que vai estar na pauta daquela assembleia. Por exemplo, quando é discutido o interesse/ viabilidade de determinado contrato a ser firmado, e na mesma Assembleia se desconfia, que a verdadeira intenção é privilegiar terceiros em desproveito da sociedade, de modo que irá beneficiar direta ou indiretamente o administrador, então, naquela mesma Assembléia Extraordinária poderá discutir a deliberação pela propositura da ação indenizatória. No caso de ser aprovada a matéria, o administrador ficará afastado do seu cargo. A Assembléia tem até 3 meses para ajuizar ação, caso contrário, qualquer acionista poderá ajuizar numa espécie de legitimidade extraordinária, em que o acionista em nome próprio busca direito alheio (da sociedade). Por outro lado, se a matéria não for aprovada na Assembleia, os acionistas que representem pelo menos 5% do capital podem propor ação em nome próprio, mas em proveito da companhia, ou seja, numa modalidade de legitimação extraordinária. Ressalta-se que, quando um administrador praticar um ato causador de dano direto a um acionista, este então terá a legitimidade ordinária para propor em nome próprio, ação em face daquele administrador. 
4. Análise Jurisprudencial
4.1. AgInt no REsp 1803162/SP
Trata-se de Agravo Interno em Recurso Especial do STJ, de origem, São Paulo, de tema principal a desnecessidade de comprovação de dolo ou culpa do administrador ou controlador. 
O caso em questão era originalmente Ação de Declaração de Inexistência de Responsabilidade interposta por Pedro Suplicy de Barros Barreto contra o Banco Central do Brasil visando à declaração de inexistência de atribuição de responsabilidade pela liquidação do Banco de financiamento Internacional S.A. – BFI, com a consequente desincumbência de qualquer ônus e revogação da indisponibilidade que recai sobre seus bens.
O juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido, tendo o Tribunal Regional Federal da 3ª Região mantido a sentença. Na qual é sustentado que as normas da Lei 6.024/74 e 9.447/97 são expressas, de maneira a responsabilizar os administradores em geral econtroladores da sociedade, ainda que indiretos. Mais especificamente, abordando os artigos 36, 37 e 38 da Lei 6.024/74, indicando que aborda acerca da indisponibilidade dos bens dos administradores das instituições financeiras em intervenção, liquidação extrajudicial ou em falência. Já o artigo 2º da Lei 9.447/97 estende a indisponibilidade acima mencionada aos bens das pessoas, naturais ou jurídicas, que detenham o controle, direto ou indireto, das instituições financeiras em intervenção, liquidação extrajudicial ou administração especial temporária.
Assim, concluiu-se que independente de dolo ou culpa, deve ser decretada a indisponibilidade de bens na forma acima disposta, isto é, pelo simples fato de ser administrador ou controlador direto ou indireto da instituição financeira.
Ainda, o apelante além de administrador é sócio da empresa, detendo de quase 67% das ações com direito a voto do Banco de Financiamento Internacional S.A. – BFI.
Assim se mantém o Sr. Ministro Herman Benjamin, atual presidente do STJ, ao falar: “Ser administrador ou controlador direto ou indireto de instituição financeira traz pesadas responsabilidades, entre elas a de responder com seu patrimônio por prejuízos causados e de sofrer indisponibilidade de bens independentemente de apuração de dolo ou culpa”.
Contudo, na presente ação, houve violação a Súmula 7/STJ, onde se tem que "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial", afastando a ideia de simples valoração da prova e conclui-se que a parte agravante busca nova análise do conteúdo fático-probatório dos autos, o que é vedado na estreita via do Recurso Especial, conforme rege a Súmula 7 do STJ.
O Ministro então, dispõe que “as duas decisões tratam de questões jurídicas diferentes e não podem ser analisadas a título de dissídio jurisprudencial, sendo, portanto, patente que o Recurso Especial igualmente não deve ser provido no que diz respeito a esse ponto”.
Referencial legal: Súmula 7/STJ; LEI: 6.024/74;
Referencial jurisprudencial: STJ - AgRg no REsp 1472530-RS; STJ - REsp 86431-DF;
Referencial doutrinário: Não há.
Conclusão Parcial: Com o R. Acórdão, é entendido que independente de dolo ou culpa, o administrador ou controlador pode ser responsabilizado com fito de garantia de eventual execução, dessa forma que é citado e se entende a decisão: "A indisponibilidade não priva o ex-administrador de administrar os seus bens patrimoniais, cria-se somente restrição ao direito de livre disposição, com o fito de conservá-los como garantia de eventual execução" (REsp 86.431/DF, Relator Min. Milton Luiz Pereira, Primeira Turma, DJ 25/11/1996, p. 46152). 
Ou seja, por força da Lei 6.024/74, frente a intervenção, liquidação extrajudicial ou administração temporária de instituição financeira, a decretação de indisponibilidade de bens - medida preventiva e acautelatória, sem caráter punitivo - independe de qualquer consideração sobre o grau de culpabilidade, dolo ou culpa, do sujeito, decorre o administrador de maneira objetiva, vinculada e de pleno direito, sob a condição pessoal de administrador, ex-administrador ou controlador direto ou indireto.
4.2. Ag 0011912-40.2016.4.02.0000/ TRF-2
Trata-se de embargos de declaração opostos pela Fazenda Nacional em face do acórdão que negou provimento ao agravo de instrumento. Tendo origem no juízo da 11ª Vara Federal de Execução Fiscal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, nos autos de nº 2010.51.01.505593-3.
O tema objeto de análise é responsabilidade por sucessão comercial.
Na origem, foi interposto agravo de instrumento com pedido de efeito suspensivo opostos pela Fazenda Nacional em face da decisão proferida pela 11ª Vara, na qual, indeferiu o pedido de prosseguimento da EF contra a alegada sucessora Drogarias Pacheco S.A, entendendo que não restou elemento que permita estabelecer a correlação entre a sociedade executada e a operação de transferência de estabelecimento comercial. Com isso, alega a agravante que tal decisão agravada não foi suficiente provado que a executada veio a ser sucedida pelas Drogarias Pacheco S.A., devendo continuar a EF por força do artigo 133, II, CTN. 
Cercando a questão na insurgência do agravante contra o indeferimento do pedido de prosseguimento da demanda contra as Drogarias Pacheco, por assim entender evidente sucessão empresarial. Sendo indeferido o pedido pelo juízo de origem.
O magistrado Luiz Antonio Soares do TRF-2 discorreu sobre a sucessão tributária no artigo 133, I e II do CTN de forma que se mostrou necessária, para a sucessão tributária incidental à execução fiscal, somente a superveniente comprovação dos fatos que dão gênese à responsabilidade tributária por sucessão, conforme o dispositivo.
De acordo com o dispositivo ora mencionado, no qual estabelece a ocorrência de sucessão quando presentes os requisitos de aquisição, por qualquer título, de fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional; e continuidade da exploração anterior, sendo que a responsabilidade será “integral” ou subsidiária, conforme ocorram as hipóteses do inciso I ou II do caput do artigo em comento. Exige-se, assim, para a sucessão tributária incidental à execução fiscal, somente a superveniente comprovação dos fatos que dão gênese à responsabilidade tributária por sucessão, acima aludidos. Alegando ainda, que cabe à exequente, Fazenda Nacional o ônus de comprovar a aquisição do fundo de comércio que se pretende incluir no polo passivo. Nega-se provimento ao Agravo.
Referencial legal: CTN, artigos 133, I e II;
Referencial jurisprudencial: Não há;
Referencial doutrinário: Não há.
Conclusão parcial: Entendido por este acórdão que há responsabilidade do administrador por sucessão de companhias conforme dispõe o artigo 133, CTN, desde que presentes os requisitos de aquisição e continuidade da exploração anterior.
4.3. REsp 1.721.239/ SP
Trata-se de recurso especial interposto por Caoa Montadora de Veículos LTDA. contra Banco Santos S/A - Massa Falida. Caos Montadora de Veículos LTDA. as quais pertencem ao conglomerado, requerer a desconsideração inversa da personalidade jurídica, com a justificativa de que o sócio majoritário ou administrador alienou a quase totalidade das cotas da principal empresa do grupo para sua esposa, configurando assim fraude à execução. A decisão do juiz de origem foi no sentido de indeferir o pedido feito pelo mesmo. 
Sobre a sentença dos autos de origem, no primeiro julgamento o Tribunal de origem entendeu que não poderia haver a desconsideração inversa das personalidades jurídicas, porque não havia ativos suficientes entre a pessoa física e o grupo de empresas. 
Passado um tempo, o sócio-controlador passou grande parte das quotas para a sua esposa. Diante desse ocorrido, Massa Falida entrou novamente com o pedido de desconsideração inversa da Caoa Montadora de Veículos LTDA. e assim o pedido foi mais uma vez indeferido.
Inconformados com a decisão, Massa Falida interpôs agravo de instrumento contra o indeferimento do seu novo pedido de desconsideração inversa. O recurso foi deferido, por causa do reconhecimento de abuso da personalidade jurídica por parte do executado e da confusão patrimonial. Além disso, foi reconhecida a insuficiência da obrigação e houve a perseguição dos bens junto ao patrimônio da empresa.
O Recurso Especial foi impetrado porque a parte alegou que o acórdão recorrido viola o artigo 50 do Código Civil, porque diante da falta de requisitos autorizadores, a descaracterização inversa da personalidade jurídica é indevida. Além disso, outro argumento utilizado foi que não caracteriza confusão patrimonial a transferência de patrimônio entre cônjuges. 
Com a atual defesa, o recurso especial n° 2.208.393/SP foi admitido. Ademais, o pedido de tutela provisória n° 881/SP também foi deferido acrescentando efeito suspensivo ao presente recurso especial, com a interposição de agravo interno contra a decisão pela Massa Falida. 
Sobre o recurso, a Terceira Turma, negou o provimento do recurso especial, por unanimidade. 
Referencialjurisprudencial: Resp 279.273/SP, Resp 1.111.153/RJ, Resp 1572655/RJ, Resp 1693633/RJ, Resp 1.111.153/RJ;
Referencial legal: Artigo 50 do Código Civil, artigo 133, §2° do CPC, 535 do CPC, 28, §5° do CDC, 135 do CTN;
Referencial doutrinário: Salamon v Salamon & Co. apreciado pela “House of Lords”, na Inglaterra, em 1897[footnoteRef:0]. [0: Caso muito bem dissertado em SILVA, Daniel Magalhães Albuquerque. A Desconsideração Da Personalidade Jurídica Na Relação Consumerista: Uma Análise Da Jurisprudência Do Superior Tribunal De Justiça. Página 65.] 
5. Conclusão
Ao longo do trabalho foram destacados os relevantes pontos acerca da Responsabilidade do administrador na S.A., onde se fez presente noções introdutórias e conceituais, legais, doutrinárias e por fim, análises jurisprudenciais recentes.
Figura indispensável para o desenvolvimento das diversas sociedades, encontra em seu papel, especial importância, já que em geral é aquele que detém conhecimento técnico, bem como do objeto social de sociedade anônima. 
Desta forma, conclui-se que o administrador é uma figura importante para o desenvolvimento da sociedade, seu papel é imprescindível para o alcance do resultado esperado. Detém o dever de ser zeloso, cuidadoso, vigilante e perseverante no comando e condução dos negócios, entende-se responsabilidade pela obrigação meio, percebendo o funcionamento econômico exercido pela empresa, de maneira que a sua governança se torne principal objeto de anseio da corporação, sendo ele, o ganho, o dividendo, o lucro.
Referências bibliográficas:
Almeida Advogados. Da Responsabilidade dos Administradores de Sociedades Anônimas. Disponível em: <https://www.almeidalaw.com.br/midia/2017/11/da-responsabilidade-dos-administradores-de-sociedades-anonimas/> Acesso em: 08 de Jun. de 2021.
EIRAS, Marcelo. A Sociedade Limitada e a Sociedade Anônima. Disponível em: <https://marceloeirass.jusbrasil.com.br/artigos/152042039/a-sociedade-limitada-e-a-sociedade-anonima> Acesso em: 08 de Jun. de 2021
Ilan Sarue. A Responsabilidade Civil dos Administradores na Sociedade Anônima. Disponível em: <https://ilansarue.jusbrasil.com.br/artigos/338015965/responsabilidade-civil-dos-administradores-na-sociedade-anonima> Acesso em: 08 de Jun. de 2021
Lisiane Anzzulin Ayub. A Responsabilidade do Sócio na Sociedade Anônima de Capital Fechado. Disponível em: <http://ayubeanzzulin.com.br/a-responsabilidade-do-socio-na-sociedade-anonima-de-capital-fechado/> Acesso em: 08 de Jun. de 2021.

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