Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SÉRGIO LUIZ DE ALMEIDA RIBEIRO EXECUÇÃO CIVIL NO NOVO CPC 1ª Edição LUALRI EDITORA São Paulo 2016 LUALRI EDITORA MEI SERGIO LUIZ DE ALMEIDA RIBEIRO Diretor Responsável Rua Barata Ribeiro, 190, conjunto 12. Bela Vista Tel. 11 2528 7750 CEP 01308-000 – São Paulo, SP, Brasil TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e a sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal) com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei nº 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). ISBN: 978-85-92749-02-6 AGRADECIMENTOS E PLANO GERAL DO LIVRO “A dignidade do trabalho se baseia no amor. O grande pr ivilégio do homem é poder amar, transcendendo assim o efêmero e transitório. Fazei tudo por amor, assim não há coisas pequenas: tudo é grande. A perseverança nas pequenas coisas, por amor, é heroísmo. Na simplicidade do teu trabalho habitual, nos detalhes monótonos de cada dia, tens que descobrir o segredo – para tantos escondidos– da grandeza e da novidade: o Amor”1. As palavras acima sempre me motivaram a me doar cada vez mais ao meu trabalho, principalmente, quando estou lecionando, pois contribuo com a formação e com o aperfeiçoamento profissional de alguém. A realização deste livro se tornou possível com as aulas ministradas no período de vacatio legis do CPC de 2015, no curso de graduação da Faculdade Nacional de Direito – UFRJ, em 2015, nas aulas ministradas na Escola Superior da Advocacia de São Caetano do Sul/SP, entre 2015 e primeiro semestre de 2016, por fim, nas aulas ministradas no curso CPC in Company, este último, nos diversos escritórios de advocacia da capital paulista até a publicação deste livro. Esta breve jornada na docência permitiu-me dedicar arduamente à análise sobre as transformações que a Lei 13.105/2015 promoveu no processo de execução e cumprimento de sentença, mediante reflexões em torno das dúvidas surgidas entre os alunos, que me fizeram refletir e aprimorar os argumentos em torno da nova legislação processual civil destinada a satisfação do direito material reconhecido por decisão judicial ou por previsão na lei infraconstitucional. Os grandes temas e problemas da execução civil não respeitam fronteiras acadêmicas, quando colocados na prática forense, que provoca uma adaptação nas regras do conhecimento. 1 Novena do trabalho a São Josemaria Escrivá. Este livro não tem por escopo trazer teses doutrinárias inovadoras, tampouco, servir como um manual, mas sim, eternizar e trazer a discussão, toda reflexão dos debates oriundos das aulas por mim ministradas sobre o tema execução civil. Enfim, um estudo sobre execução civil jamais poderá se afastar da vida prática, razão pela qual busca-se aqui alinhar conhecimentos doutrinários com atividade forense, como ainda com as dúvidas oriundas de quem pela primeira vez teve contado com as técnicas para satisfação de direitos ilustrados em títulos executivos. Meus agradecimentos a todos alunos, professores, amigos, em especial a minha mãe, Maria, e minha companheira, Sandra, que nas horas mais difíceis da vida acadêmica sempre me apoiaram e incentivaram seguir firme nesse caminho. PREFÁCIO Convidou-me o advogado Sergio Almeida Ribeiro para prefaciar suma obra de sua autoria versando o processo de execução e o cumprimento de sentença sob a nova disciplina dessa matéria no novo Código de Processo Civil, o que implicou profundas modificações implantadas nesse diploma legal. Aceitei e honrado pelo convite, a fazê-lo de maneira mais adequada aos propósitos do Autor e dos advogados que constituem seu público alvo. Assim agradecendo o convite do Autor, que deixou patente o seu propósito de enfrentar as modificações impostas ao ordenamento jurídico vigente e que afetaram a execução civil a ponto de permitir e ensejar uma disciplina própria para satisfação de direitos individuais na seara dos instrumentos direcionados a esse escopo. Considerando-se a sua finalidade, o novo Código de Processo Civil, a despeito de albergar os frutos de uma elaboração doutrinária refletida no seu texto merece, ainda, uma exegese a respeito da disciplina da execução encartada nesse diploma legal. O Autor, que é mestre e doutorando em Direito Processual Civil pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aceitou a faina de enfrentar todas as questões ou, pelo menos, aquelas mais rentes à disciplina do cumprimento de sentenças, tal como resulta do texto legal atualmente em vigor. Esta opção pelo tema, que tem provocado inúmeros debates e escritos a respeito da execução como um processo ensejador de satisfação de direitos malferidos, convolou-se em também instrumento relevante para satisfação de direitos que exigem, para tanto, também no plano empírico, declaração como na tela instrumento importante no plano da tutela jurisdicional, para tal satisfação de direitos reconhecidos judicialmente mediante a atuação de normas direcionadas a esse escopo. Ciente da insuficiência dos comandos até então vigentes direcionados à satisfação de direitos na tela executiva, o Legislador impôs modificações consideradas relevantes para a satisfação dos direitos dos credores na tela executiva. Deveras o novo Código de Direito Processual Civil passou a regrar execuções emergentes de demandas, que não as ensejavam, sem previa manifestação do Judiciário. Normalmente podem convolar-se em sentenças judiciais também títulos executivos, permitindo a sua execução considerando a tipicidade do modelo adotado pelo credor do devedor inadimplente. Neles são enfocados os temas referentes à execução lastreada em títulos judiciais, aquelas já matéria judicial ou extra judicial, bem como outros sem tipificação, conforme sentença apta para esse mister, a tipicidade. Sem pretensão a exaurir, de qualquer forma, o título executivo, a matéria vem sendo adotada também como fundamento em ação de execução lastreada em, ando título executivo emergente de acordos ou avenças dotados requisitos legais para sua atuação na faina de assegurar satisfação de direitos já judicialmente reconhecidos sem necessidade, de prévia convolação destes em títulos executivos embasadores da execução. Com o advento da nova lei disciplinando a execução e seu suporte legal o título executivo, emergiram questões desafiando os juristas que versaram sobre as modificações impostas ao novo Código de Processo Civil como resultado de pesquisas e estudos a respeito da execução que, aliás, teve nessa lei os vários aspectos inovadores na sua disciplina. O Autor não se desviou no exame da obra que, como sói acontecer, envolve também a abordagem de questões correlatas à matéria arbitral, fixando o domínio desse instrumento de resolução de demandas, bem assim como de vários outros atinentes ou correlatos às suas diferentes modalidades de embargos de devedor na defesa do executado. Deveras, na obra prefaciada foram examinados ainda os vários temas referentes à execução civil, como são o título executivo e outras categorias, o processo de execução e sua natureza e suas hipóteses de cabimento como a ação executiva e a legitimidade para agir, o título executivo judicial e extra judicial e outras matérias como as relativas à s questões centradas na tela da execução tais executiva no autor manifestou de plano a abrangência de sua obra quanto às novas diretrizes impostas aos litigantes na tela executiva e reportadas nessa obra. Em verdade o Autor escolheu um tema que, pela sua natureza, encarta-se no elenco daquelas obras que, pela sua abrangência, merecem ser acolhidas na doutrina e na jurisprudência como fatoresda evolução da jurisprudência que vem se formando a respeito.. DONALDO ARMELIN APRESENTAÇÃO Minha amizade com Sérgio Almeida Ribeiro, apadrinhada por Luiz Eduardo Ribeiro Mourão e Glauco Gumerato Ramos, foi forjada em meio a bons e abundantes vinhos, suculentas carnes argentinas, karaokês, noitadas e bate-papos sem fim (sempre muito agradáveis) acerca de uma infinidade de assuntos (inclusive Direito). Tudo isso ao longo de nossa passagem pela Universidad Nacional de Rosario. Talvez porque ambos sejamos almas boemias, não tive dificuldade em logo compreender os traços que distinguem a sua personalidade: idealista, perseverante (característica que reputo ter sido nele desenvolvida à época em que era atleta profissional), dotado de forte carisma, emocional, curioso, comunicativo, pesquisador esforçado e advogado de coração, sempre fervoroso e combativo. É uma alegria incomensurável ter sido escolhido, entre aqueles que integram seu extenso círculo de amizade, para apresentar esta obra à qual os leitores agora têm em suas mãos. Minha afirmativa se assenta simplesmente no fato de que o escritor é esse meu amigo por quem nutro grande afeto. É o que por si me bastaria. Mas meu contentamento tornou-se ainda maior quando percebi que o referido livro é fruto das inquietações que lhe foram lançadas por seus alunos no que tange a alguns aspectos da execução civil, disciplina que eu próprio lecionei anos a fio, e com a qual sempre tive simpatia. Escrever sobre execução civil é exprimir preocupação com o ideal de efetividade que amiúde se pretende alcançar no âmbito jurídico-processual, sem descurar naturalmente as garantias processuais-constitucionais de todo cidadão. Para além disso, é preciso perceber que hoje vivemos uma época de transição. Temos entre nós um novo Código de Processo Civil que traz significativas mudanças, e que, se bem compreendido e aplicado, tem o condão de alterar substancialmente a prática judiciária brasileira, com ganhos qualitativos em respeito à legitimidade constitucional, com destaque para o reforço legislativo positivado em favor das garantias do contraditório, da fundamentação e da segurança jurídica. É preciso louvar a doutrina elaborada a fim de jogar luzes no dia a dia forense e, por conseguinte, facilitar a labuta dos profissionais do direito, pois há inúmeros problemas cujo desvelamento e solução se impõem. Aí entra em cena doutrinadores sérios e destemidos, que enaltecem aquilo que é bom, mas também tecem críticas necessárias, constrangem epistemologicamente práticas judiciais desafinadas e, sobretudo, desdobram-se para resolver enigmas e harmonizar dificuldades causadas pelo mal vezo que não raro identifica a técnica legislativa. Esta é uma obra que detém méritos. Encara temas variados, enfrenta problemas e sugere soluções. Aqui o que se tem, salvo engano, é o início de um projeto mais soberbo, que decerto ganhará corpo em edições futuras, algo com a potencialidade, enfim, de se tornar um manual de execução civil. Tanto que principia com temas de base e, ao fim e ao cabo, atinge outros de ordem mais pragmática, com relevo aos procedimentos de cumprimento de sentença e meios de impugnação. Tudo bem detalhado como manda a melhor técnica didática. Enfim, caros leitores, estamos diante de uma obra muito interessante e que merece ser lida. Parabéns ao Sérgio e à nova Editora Luari por presentear a comunidade jurídica com esta importante contribuição. Uberaba, 20 de junho de 2016. LÚCIO DELFINO Pós-doutor em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro-fundador da Associação Brasileira de Direito Processual (ABDPro). Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). Diretor da Revista Brasileira de Direito Processual (RBDPro). Advogado. ÍNDICE AGRADECIMENTOS E PLANO GERAL DO LIVRO............5 PREFÁCIO .....................................................................................7 APRESENTAÇÃO.......................................................................11 INTRODUÇÃO ............................................................................19 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE EXECUÇÃO CIVIL........................................................................................21 1.1 Conceito e Natureza Jurídica...............................................21 1.2 Aspectos Jurisdicionais da Execução Civil .........................24 1.2.1 Execução Por Sub-Rogação Ou Direta........................24 1.2.2 Execução Por Coerção ou Indireta...............................25 1.2.3 Da Aplicação das Normas Processuais Executivas .....25 1.3 Princípios Norteadores do Processo Executivo ...................26 1.3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Execução Civil ............................................................27 1.3.2 Princípio da Tipicidade dos Títulos .............................28 1.3.3 Princípio da Patrimonialidade (realidade) ...................29 1.3.4 Princípio da Disponibilidade .......................................30 1.3.5 Princípio da Menor Gravosidade .................................30 1.4 Legitimidade........................................................................31 1.4.1 Legitimidade Ativa ......................................................32 1.4.2 Legitimidade Passiva ...................................................34 1.4.2.1 Legitimidade Passiva Derivada............................34 1.4.2.1.1 Novo Devedor ..............................................36 1.4.2.1.2 O Fiador........................................................36 1.4.2.1.3 Da Responsabilidade Tributária ...................38 1.5 Litisconsórcio e Intervenção de Terceiros...........................39 1.6 Cumulação de Execução......................................................41 1.7 Execução Injusta e Indevida ................................................42 1.8 Competência ........................................................................44 1.9 Inclusão no Cadastro de Inadimplentes ...............................45 2 TÍTULO EXECUTIVO ............................................................49 2.1 Considerações Iniciais......................................................... 49 2.2 Conceito e Elementos essenciais......................................... 49 2.3 Tipicidade Legal do Título Executivo (nullus titulus sine legis) ........................................................................... 50 2.4 Probabilidade de Existência de Crédito .............................. 52 2.5 Título Executivo como Ato Jurídico ................................... 52 2.6 Eficácia Abstrata do Título Executivo ................................ 53 2.7 Execução Fundada em Mais de um Título Executivo......... 55 2.8 Requisitos do Título Executivo ........................................... 56 2.8.1 Certeza e Liquidez ....................................................... 57 2.8.1.1 Liquidez Suprida por Documentos Ulteriores ou por Declaração do Obrigado ........................... 58 2.8.1.2 Certeza Reduzida: As Obrigações Alternativas, o Incidente de Concentração e Obrigações Determinadas pelo Gênero e Quantidade.................................................................. 60 2.8.2 Exigibilidade................................................................ 62 2.9 Espécie de Títulos Executivos............................................. 62 2.9.1 Títulos Executivos Judiciais ........................................ 62 2.9.1.1 Decisões Proferidas no Processo Civil que Reconheçam a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia, de Fazer de Não Fazer ou de Entregar Coisa (Art. 515, I) .......................... 62 2.9.1.2 Decisão Homologatória de Autocomposição Judicial (inciso II) ....................................... 64 2.9.1.3 Decisão Homologatória de Autocomposição Extrajudicial de Qualquer Natureza (inciso III)............................................................... 64 2.9.1.4 O formal e a Certidão de Partilha, Exclusivamenteem Relação ao Inventariante, aos Herdeiros e aos Sucessores a Título Singular ou Universal (inciso IV) ............................... 65 2.9.1.5 O Crédito de Auxiliar da Justiça, quando as Custas, Emolumentos ou Honorários Tiverem sido Aprovados por Decisão Judicial (inciso V) ........................................................... 65 2.9.1.6 Sentença Penal Condenatória (inciso VI) ............ 66 2.9.1.7 Sentença Arbitral (inciso VII).............................. 68 2.9.1.8 Sentença Estrangeira Homologada pelo STJ (inciso VIII) ................................................68 2.9.1.9 Decisão Interlocutória Estrangeira, após a Concessão do Exequatur à Carta Rogatória pelo STJ ( inciso IX) ..........................................68 2.9.2 Título Executivo Extrajudicial (Art. 784)....................69 3 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL .............................72 3.1 Considerações Iniciais .........................................................72 3.2 Bens de Terceiros Submetidos à Responsabilidade patrimonial ......................................................................73 3.3 Dos Responsáveis Secundários (Art. 790) ..........................75 3.3.1 O Sucessor a Título Singular (inciso I)........................75 3.3.2 O Sócio (art. 790, II) ....................................................76 3.3.3 Do Devedor, Ainda que em Poder de Terceiros (art. 790, inciso III)......................................................77 3.3.4 Posição do Cônjuge ou Companheiro (art. 790, IV) ...............................................................................77 3.3.5 Do Responsável, nos casos de Desconsideração da Personalidade Jurídica (art. 790, VII).....................78 3.3.5.1 Do Procedimento do Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica no CPC de 2015......................................................................81 3.3.5.1.1 O Incidente da Desconsideração da Personalidade Jurídica e sua Aplicação nos Juizados Especiais Cíveis ...........................84 3.3.6 Responsabilidade Patrimonial no Regime do Direito de Superfície (art. 791 do CPC c/c art. 1.369 e 1.377 do Código Civil) .............................................88 3.4 Observação Final sobre Responsabilidade Patrimonial ......90 4 AS FRAUDES DO DEVEDOR................................................91 4.1 Conceito...............................................................................91 4.2 Ineficácia .............................................................................92 4.3 Fraude Contra Credores – o consilium fraudis....................93 4.4 Fraude à Execução...............................................................95 4.4.1 Momento para Reconhecimento da Fraude à Execução............................................................................96 4.4.2 A Posição do Adquirente .............................................97 5 DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO (art. 806 a 913)........................................................................................... 99 5.1 Requisitos da Inicial Executiva ......................................... 100 5.2 Execução das Obrigações Alternativas ............................. 101 5.3 Do Prazo Prescricional ...................................................... 101 5.3.1 Da Prescrição Intercorrente (Art. 924, V e Art. 1056) ......................................................................... 101 5.4 Da Nulidade da Execução (art. 803) ................................. 104 5.5 Da Execução para Entrega de Coisa (Certa e Incerta) ...... 105 5.6 Execução das Obrigações de Fazer e Não Fazer............... 106 6 DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA............................... 110 6.1 PARTE GERAL................................................................ 110 6.1.1 Definição de Cumprimento de Sentença ................... 111 6.1.2 Início da Fase de Cumprimento de Sentença............. 112 6.1.3 Impossibilidade de Cumprimento de Sentença Contra Terceiros não Constante no Título Judicial... 115 6.1.4 Do Protesto do Título Executivo e Negativação nos Órgãos de Proteção ao Crédito ........................... 116 6.2 Do Cumprimento Provisório da Decisão que Reconhece a Exigibilidade de Quantia Certa................................. 117 6.3 Do Cumprimento Definitivo de Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa ................................................................................. 121 6.4 Do Cumprimento de Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Prestar Alimentos (art. 528 a 533)................................................................................... 123 6.5 Cumprimento De Sentença Que Reconheça A Exigibilidade De Obrigação De Pagar Quantia Certa Pela Fazenda Pública.................................................................... 126 6.5.1 Considerações Iniciais ............................................... 127 6.5.2 Requerimento............................................................. 127 6.6 Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade das Obrigações de Fazer, Não Fazer e Entrega De Coisa ........................................................................... 129 6.6.1 Das Medidas de Apoio .............................................. 129 6.6.2 Do Regramento da Multa Astriente (art. 537) ........... 131 7 MEIOS DE DEFESA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ...................................................................................134 7.1 Introdução..........................................................................134 7.2 Da Impugnação ao Cumprimento de Sentença..................134 7.3 Momento para Apresentação de Impugnação ao Cumprimento de Sentença................................................135 7.4 Do Objeto da Impugnação ao Cumprimento de Sentença..................................................................................137 7.4.1 Falta ou Nulidade da Citação.....................................138 7.4.2 Ilegitimidade de Parte ................................................138 7.4.3 Inexigibilidade do Título ou Inexigibilidade da Obrigação ..................................................................138 7.4.4 Penhora Incorreta ou Avaliação Errônea ...................139 7.4.5 Excesso de Execução ou Cumulação Indevida..........140 7.4.6 Incompetência Absoluta ou Relativa .........................140 7.4.7 Causas Modificativas ou Extintivas da Obrigação ....140 7.4.8 Suspeição e Impedimento do Juiz..............................140 7.4.9 Impugnação Apresentada pelo Exequente (art. 526).......................................................................141 7.5 Da Exceção de Pré-executividade .....................................142 7.6 Defesa do Executado no Cumprimento de Sentença que Reconheça Obrigação de Fazer, Não Fazer e Entrega de Coisa Certa ..............................................142 7.7 Recurso na Fase de Cumprimento de Sentença.................143 BIBLIOGRAFIA........................................................................145 ANEXO – ENUNCIADOS SOBRE PROCESSO DE EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA APROVADOS NO FORUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS. SÃO PAULO, 18, 19 e 20 de março de 2016 ............................149 INTRODUÇÃO Antigamente, na sociedade primitiva, a autotutela era empregada para defesa de interesses privados. Era meio pelo qual fazia valer seu interesse na medida da sua força e não pelo seu direito. Seguindo a linha evolutiva do direito romano, o Estado cada vez mais consolidava a judicialização das contendas, no sentido de fazer cumprir o direito e restringir a autotutela. Para tanto, a execução forçada, por influência do cristianismo, passou ser mais humana. Da execução corporal, passou-se à patrimonial, e esta principiou incidindo sobre todo o patrimônio do devedor, para só num estágio ulterior restringir-se ao necessário à satisfação do direito violado. Hodiernamente, a pacificação social e a administração da justiça é realizada pelo Estado-juiz, mediantesua atuação jurisdicional, que impõe a vontade concreta da lei para solucionar conflitos entre as pessoas acerca de um direito material. O processo de execução tem por escopo realizar no mundo dos fatos a certeza de um direito obrigacional expressa num título executivo, no caso de inadimplência. No CPC de 2015, o tratamento dispensado ao processo de execução e o cumprimento de sentença, instrumentos de realização do direito que são, visou adequar os respectivos institutos ao mundo moderno, para serem mais eficientes, sem, contudo, promover grandes inovações, além daquelas já promovidas pelas Leis Federais nº 11.232/2005 e 11.382/2006, no CPC de Buzaid. Atendendo a linha mestra, apresentada na exposição de motivos, no tocante ao processo de execução e cumprimento de sentença, o legislador procurou ser pragmático, dar maior rendimento à prestação jurisdicional voltada à satisfação do direito, bem como resolver problemas. Este trabalho, sem grandes pretensões, buscou sistematizar as diversas reflexões e dúvidas extraídas nas aulas ministradas pelo autor, sobre o tratamento que o legislador infraconstitucional deu ao processo de execução e ao cumprimento de sentença na Lei 13.105/2015, o novo Código de Processo Civil. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE EXECUÇÃO CIVIL 1.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA Falar em execução civil é o mesmo que dizer efetivação de algo, pois remete à ideia de realização, que em termos jurídicos satisfaz e da realidade a um fato.2 No caso do Direito Processual Civil, execução significa produzir a satisfação de um direito (reconhecido numa sentença condenatória ou num título executivo extrajudicial), que tem lugar quando o devedor não cumpre, no plano prático, espontaneamente com a obrigação a qual se comprometeu ou se sujeitou. Antes de ingressar no conceito de execução, mister alguns esclarecimentos: Por execução processual, Chiovenda a define como sendo aquela em que “a atuação prática, da parte dos órgãos jurisdicionais, de uma vontade concreta da lei que garante a alguém um bem da vida e que resulta de uma verificação; e conhece-se por execução o complexo dos atos coordenados a esse objetivo”. Trata-se, portanto, de um conceito genérico da realização da vontade da lei. 2 Nos dizeres do Eduardo Couture “en su acepción común el vocablo ejecución alude a la acción y efecto de ejecutar. Ejecutar es, a su vez, realizar, cumplir, satisfacer, hacer efectivo y dar realidade a um hecdo”. (COUTURE, Eduardo J. Fundamentos del derecho procesal civil. Montevideo -Buenos Aires: Editorial B de F Ltda, 2004, p. 357). Há que se fazer distinção entre execução forçada ou processual, da execução voluntária e das outras formas de execução previstas na lei. A execução voluntária é a forma espontânea do direito, em que se fala de execução das obrigações para referir-se à ação mediante a qual o devedor (obrigado), por vontade própria, cumpre com sua obrigação seja de dar, fazer e não fazer. Consuma-se sem qualquer interferência dos órgãos jurisdicionais. Prevê a legislação ordinária meios com escopo de incutir no obrigado a sensação de adimplir sua vontade manifestada no negócio jurídico obrigacional sem a necessidade de intervenção dos órgãos jurisdicionais, como por exemplo: o réu na ação possessória fica privado do direito de promover o processo petitório enquanto não cumprir inteiramente a sentença, ou então, o devedor fica privado de exercitar um direito enquanto não satisfazer a prestação que deve. Também prevê a lei, excepcionalmente, algumas modalidades de autotutela, no sentido de autorizar o credor a praticar atos em defesa do próprio direito (ex: separação do patrimônio do de cujos), que não necessita da atividade executiva dos órgãos jurisdicionais. Por fim, temos a execução processual que são atos realizados pela atividade de órgãos jurisdicionais com fito de executar a vontade da lei no campo dos fatos, no sentido de obter efetivamente o bem da vida por ela (lei) garantido. Nas lições de Leonardo Greco3, a finalidade da execução é o desenvolvimento de atividades práticas para propiciar ao credor o mesmo bem que alcançaria através do adimplemento voluntário da obrigação pelo devedor, para produzir na situação de fato as modificações necessárias à efetivação da regra sancionadora. 3 GRECO, Leonardo. O processo de execução, Vol I. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. Incumprida a obrigação pelo devedor, põe o Direito à disposição do credor um conjunto de sanções, cuja atuação se realiza sem a colaboração voluntária do inadimplente. Pois bem, diante da ausência de um cumprimento espontâneo de uma obrigação, o sistema processual impôs a sanção executiva como meio de impor medidas que, independentemente da vontade do obrigado, produz o mesmo resultado que assegura ao credor a satisfação do direito material ilustrado no título. A execução civil como sanção, distingue-se da sanção obrigacional de direito material (multas contratuais, administrativas e tributárias), pois esta é um direito a mais do credor que não altera o mundo fático, sem transformação, apenas agrava a situação do devedor, que continua inadimplente, enquanto que o credor continua detendo um direito perante aquele. No caso da sanção executiva, resolve-se em atos práticos de invasão patrimonial ou de pressão sobre a vontade da pessoa, destinada a impor resultados efetivos referentes às relações entre dois ou mais sujeitos. A execução é judicial, típica modalidade de tutela jurisdicional do Estado, quando tem por objetivo imediato a tutela dos interesses dos particulares envolvidos na relação jurídica de direito material por um órgão estatal independente. Mas ela também pode ser extrajudicial, confiando a lei os atos executórios a um órgão auxiliar administrativo, ou ao próprio credor, desde que assegurado o amplo e imediato acesso dos interesses à proteção judiciária para o controle da legalidade e da adequação dos atos executórios. Nesse caso, a atividade jurisdicional não é primária e imediata, mas secundária e mediata. Não é o próprio juiz que pratica diretamente as mudanças do mundo sensível para o efetivo cumprimento da obrigação, mas a ele incumbe legitimar essa atividade através do controle provocado por qualquer interessado. Das lições de Leonardo Greco tem-se por execução, como sendo a modalidade de tutela jurisdicional consistente na prática pelo juiz ou sob o seu controle de uma série de atos coativos concretos sobre o devedor e sobre seu patrimônio, para, a custa dele e com ou sem o concurso da sua vontade, tornar efetivo o cumprimento de prestação por ele inadimplida, desde que previamente constituída na forma da lei. Daí, pode-se conceituar execução como o conjunto de medidas com as quais o terceiro imparcial produz ou propicia a satisfação do direito de uma pessoa à custa do patrimônio da outra, quer com o concurso da vontade desta, independentemente ou mesmo contra ela. 1.2 ASPECTOS JURISDICIONAIS DA EXECUÇÃO CIVIL A jurisdição como função pública tem como natureza a substitutividade para fazer atuar concretamente a vontade da lei. Como ensina Dinamarco, “na atividade desenvolvida pelo Estado, no processo executório, encontram-se as características essenciais da jurisdição, como o escopo de atuação da vontade concreta da lei e o traço de substitutividade”4. Esse papel, no entanto, substitutividade, pode ser desempenhado também por outros órgãos estatais, inclusive por Poderes, que não seja o Judiciário, assim como este desempenha atividade não jurisdicional (autogoverno). Não se pode negar que a execução tem natureza publicista, no entanto entende- se que pertence à função administrativa do Estado, mas vinculada à atividade jurisdicional. Esse entendimento decorre do princípio da autonomia dos oficiais de justiça que vigorou a partir da Idade Média na França, Alemanha e Itália. 1.2.1 Execução por Sub-Rogação ou Direta A natureza jurisdicional da execução se externa através da sub-rogação, quando o Poder Judiciário substitui o devedor no cumprimento da obrigação, a fim de satisfazero direito do credor. 4 DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. São Paulo: Malheiros. A sub-rogação, portanto, se constitui numa técnica para eliminar o inadimplemento e satisfazer a obrigação ilustrada no título, mediante o uso da força legitimada pelo devido processo legal. Tal técnica de execução só tem cabimento nas obrigações que não tem cunho personalíssimo. 1.2.2 Execução por Coerção ou Indireta Aplica-se nas obrigações de caráter personalíssimo e, diferentemente, da sub- rogação (ou execução direta), o Poder Judiciário não substitui a vontade das partes e sim, atua coercitivamente para que haja o cumprimento da obrigação por parte do devedor. Exerce pressão de cunho psicológico e pecuniária para que o devedor entenda ser melhor cumprir a obrigação do título a ter que se submeter aos atos coercitivos impostos pelo Estado-juiz. Nesse aspecto, conforme se verá mais a frente o legislador infraconstitucional, com o CPC de 2015, procurou reformar as medidas de apoios para as obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa. Outrossim, deu maior racionalidade ao tratamento das multas astriente. 1.2.3 Da Aplicação das Normas Processuais Executivas Sob a ótica do credor e do devedor, as normas processuais executivas visam dar maior efetividade possível à satisfação do direito ao credor, como também, se destinam para serem menos onerosas às partes. São esses dois vértices que orientam a aplicação das normas processuais executivas. A idoneidade e legitimação da tutela jurisdicional executiva relacionam-se com estes dois postulados, que são desdobramento do devido processo legal e, portanto, são de ordem pública. São vértices extremamente importantes, segundo Marcelo Abelha Rodrigues, porque as posições jurídico-processuais das partes na execução são bem diferentes do contraditório dialético da atividade cognitiva. Na execução, o título executivo outorga para o exequente uma posição de vantagem decorrente do acesso à justiça. Por outro lado, o executado está numa posição de desvantagem e sujeição aos atos estatais executivos, que atuarão sobre a sua propriedade ou a sua liberdade no sentido de efetivação da norma concreta, sem contudo deixar de observar suas garantias constitucionais. Mister ressaltar, que a execução tem por escopo afastar crises de adimplementos, mediante imposição coativa do Estado da norma jurídica concreta realizando no plano fático o seu comando jurídico. “As técnicas de execução estão biunivocamente relacionadas com a crise de adimplemento, pois é para estas modalidades de crises que é usada a tutela jurisdicional executiva”.5 Marcelo Abelha ensina que, “o núcleo de toda e qualquer atividade jurisdicional executiva é formado pelos três institutos acima. São institutos bifrontes, porque recebem influxos tanto do direito material quanto do direito processual. Destarte, decorre que os institutos fundamentais da execução civil são: o título executivo, o inadimplemento e a responsabilidade patrimonial. São, pois, elementos essenciais e verdadeiros pilares da atividade jurisdicional executiva. 1.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PROCESSO EXECUTIVO A norma jurídica – gênero que engloba os princípios e as regras – constituem-se em um comando às ações das pessoas, que tem por finalidade regular a sua conduta em suas relações sociais. Além disso, operacionaliza-se por meio de modalidades de condutas e deveres – modais deônticos -, a saber: de proibição, de obrigação e de permissão. 5 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito processual civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 726 A sanção jurídica é espécie do gênero sanção. Tudo no direito obedece a esse princípio de sanção organizada de forma predeterminada. Os princípios são enunciados (vetores, diretrizes) amplos e genéricos, extraíveis do sistema normativo, podendo revelar ou não as regras jurídicas, de modo explícito ou implícito. Desempenham, dentre outros, o papel de meio interpretativo do direito, uma vez que, se o ordenamento positivo se cria e se estrutura a partir de princípios e regras, àquele deve o interprete recorrer quando se extrai o sentido da norma positiva, para, com isso, dar – ou, pelo menos, tentar obter– coesão, unidade e harmonia no sistema. Dito de outra forma, princípio jurídico constitui-se em um preceito normativo, que, pela sua generalidade, abstração e capacidade de produzir consequências jurídicas, serve de fonte do direito e de interpretação das normas jurídicas (ex: princípio do devido processo legal, acesso à justiça etc.). As regras são também espécies de normas jurídicas, mas que descrevem uma situação fática, que, em ocorrendo no mundo real, leva á incidência dos efeitos nelas previstos. Por exemplo, a revogação da lei que traduza uma regra de conduta simplesmente a exclui do ordenamento e, pois, do sistema jurídico. A lei posterior revoga a anterior, sendo caso de vigência ou não da regra contida na lei. Princípios são normas jurídicas que prescrevem um valor maior, adquirindo, assim, positividade. Se os princípios são formulações genéricas, não se desconhece a possibilidade de princípios opostos. Neste caso, cada princípio se aplica a determinada situação específica, em função das circunstâncias do caso concreto. O processo executivo enseja a observância de alguns princípios para que a prestação jurisdicional voltada a satisfação de um direito material seja decorrente de um processo équo e giusto. 1.3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Execução Civil A execução é uma forma legítima de violência estatal, que incide na atividade jurisdicional para cessar o inadimplemento do devedor da obrigação contida no título executivo e satisfazer o direito do credor que se socorre a jurisdição estatal. Assim, toda execução deve se sujeitar e respeitar a dignidade da pessoa humana, haja vista ser um dos fundamentos da república (art. 1º, III da Constituição Federal) e, portanto, diretriz que ressoa em outros dispositivos, constitucionais e infraconstitucionais. A execução deve viabilizar o acesso à justiça ao credor, dando-lhe o que lhe é direito, inclusive por meio de violência, dentro dos limites impostos pelo devido processo legal. Todavia, a materialização desse direito deve ocorrer de forma equilibrada e humana, sendo vedados meios abusivos e injustos que levem o devedor à um estado de miséria. O princípio da dignidade da pessoa humana pode se fazer presente em várias hipóteses, como a impenhorabilidade de certos bens, por exemplo, a pequena propriedade rural (art. 5º,XXVI, da CF), o bem de família (lei 8.009/1990), determinada quantia de caderneta de poupança, salário e, em se cuidando de consumidor, é vedada a sua exposição ao ridículo ou sujeição a constrangimento ou ameaça (art. 42, parágrafo púnico do CDC). 1.3.2 Princípio da Tipicidade dos Títulos Trata-se da premissa maior, não há título executivo sem lei anterior que o defina (nullus títulos sine legis), ou seja, só podem ser títulos executivos aqueles atos ou fatos definidos em lei como tais. A construção do elenco dos atos e fatos dotados de eficácia executiva cabe exclusivamente ao legislador infraconstitucional e jamais ao juiz ou mesmo às partes, mediante manifestação de vontade. São ineficazes, no Brasil, as cláusulas executivas, ou seja, onde as partes manifestam vontade de que um contrato valha como título para a execução forçada em caso de inadimplemento, independentemente de qualquer tipificação em lei. Ex: Sumula 232 do STJ, que veda os contratos de abertura de crédito serem títulos executivos, ante a ausência de lei. Enfim, somente por lei que se institui um título executivo. 1.3.3 Princípio da Patrimonialidade (Realidade) No período arcaico do direito romano, cujo o emprego da autotutela era usado na defesa de interesses privados era comum o devedor pagar com o próprio corpo. Com a consolidação da Judicialização das contendas, a autotutela foi eliminada e a execução deixou de ser corporal para se dirigir ao patrimônio do devedor6. Destarte, o princípio da patrimonialidadeou realidade indica que o devedor só responde com o seu patrimônio, nunca com o seu corpo físico. Deriva da própria Constituição Federal, quando enuncia que não existe prisão por dívidas e que ninguém pode ser privado de seus bens, sem o devido processo legal (art. 5º, LIV e LXVII), encontrando ressonância no art. 789 do CPC de 2015, quando estabelece que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros. Significa que a execução é real, no sentido de recair sobre as coisas pertencentes do obrigado, e não sobre a sua pessoa física. Mas a relação jurídica subjacente à execução é sempre de natureza pessoal, isto é, de conteúdo obrigacional. Como efeito desse princípio, quando o devedor não possuir bens penhoráveis, suspende-se a execução (art. 921,III); nos JEC é caso de extinção do processo (art. 53 Lei 9.099/95). A temática da suspensão também está ligada à prescrição, cabendo a seguinte pergunta: até quando o processo de execução (ou cumprimento de sentença) pode ficar suspenso diante da falta de bens do devedor? A questão ganha relevo, tendo em vista a possibilidade de o juiz reconhecê-la de ofício. Outrossim, o CPC de 2015 positivou a prescrição intercorrente, conforme se verá adiante. A resposta depende de haver ou não desídia ou negligência do credor, visto que a prescrição encerra sanção a tal comportamento. Caso contrário, o credor não pode ser penalizado pela pobreza ou insolvência do devedor. 6 Sobre o aspecto histórico da execução civil, recomenda-se: DINAMARCO, Candido Rangel. Execução civil. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 10 1.3.4 Princípio da Disponibilidade Permite que o exequente desista do processo, sendo-lhe dispensado da concordância do executado, para que tal desistência gere efeitos jurídicos. No entanto, se a execução estiver embargada ou impugnada, observar-se-á os critérios estabelecidos no art. 775 do CPC. 1.3.5 Princípio da Menor Gravosidade Como desdobramento da dignidade da pessoa humana e da patrimonialidade, exsurge o da menor gravosidade para o devedor, pelo qual, havendo vários meios de se promover a execução, esta deve se dar de modo menos oneroso para o executado (art. 805 CPC). Menor onerosidade não significa abrigo para chicanice, muito menos desculpa para incidentes infundados ou protelatórios, vez que tal princípio há de estar atrelado à boa-fé e lealdade processual. Mas a moderação em face do devedor não deve mascarar um descaso em relação ao dever de oferecer tutela jurisdicional a quem tiver um direito insatisfeito, sob pena de afrouxamento do sistema executivo. É preciso distinguir entre o devedor infeliz e de boa-fé, que vai ao desastre patrimonial em razão de involuntárias circunstâncias da vida ou dos negócios, e o caloteiro, chicanista, que se vale as formas do processo executivo e da benevolência dos juízes como instrumento a serviço de suas falcatruas. O CPC de 2015 adotou como norma fundamental o fair play processual, representado em seu art. 5º, que dispõe a boa-fé objetiva. Quando não houver meios mais amenos para o executado, capazes de conduzir à satisfação do credor, que se apliquem os mais severos. A regra do artigo 804 não pode ser manipulada como um escudo a serviço dos maus pagadores nem como um modo de renunciar o Estado-juiz a cumprir seu dever de oferecer tutelas jurisdicionais adequadas e integrais sempre que possível. A previsão do princípio da menor gravosidade se deve a razões humanitárias, de equidade, em respeito a valores fundamentais do ser humano, como a vida, saúde e mordia, evitando o abuso ou mero capricho do credor. É imperioso, portanto, estar atento a uma indispensável linha de equilíbrio entre o direito do credor, que deve ser satisfeito mediante imposição dos meios executivos, e a possível preservação do patrimônio do devedor, que não deve ser sacrificado além do necessário. Em casos concretos, não havendo um modo de tratar o devedor de modo mais ameno, deve prevalecer o interesse daquele que tem um crédito a receber e não pode contar senão com as providências do Poder Judiciário. Resguardam-se obviamente a impenhorabilidades, que são manifestações do zelo da ordem jurídica pela integridade dos valores do ser humano, admitem-se as defesas deduzidas pelo executado sem abuso, permite-se lhe em alguma medida a escolha de bens a serem penhorados etc., mas o que for além disso constitui ruptura dessa linha de equilíbrio e deve ser repudiado pelo juiz. Esse princípio pode se expressar de diversos modos e momentos. 1.4 LEGITIMIDADE Na ação executiva, os legitimados ativo e passivo são o credor e o devedor constante do título, que no CPC de 2015 são denominados respectivamente como exequente e executado. Na execução a legitimação pode ser classificada como originária, ou seja, surge simultaneamente com a identificação das condições de credor e devedor no título executivo e derivada ou superveniente, quando advém de posterior transferências dessa condição. A propósito, não é o título que confere legitimidade ao exequente ou ao executado. A legitimidade decorre da afirmação do exequente na inicial da qualidade de credor e devedor, afirmação essa que deve estar em estrita conformidade com o título executivo, mesmo que dele não decorra diretamente. Assim, pode ter legitimidade ativa e passiva, ordinária ou extraordinária, sujeitos que não figurem como credor ou devedor no título executivo original, como o Ministério Público, o espolio do credor, o cessionário, o espolio do devedor e o fiador judicial, que, de algum modo, a legitimidade deriva de um dos sujeitos indicados no título. Se o exequente e o executado identificados na inicial da execução não ostentam a legitimidade em decorrência do título (ordinária) ou de algumas circunstâncias (extraordinária), prevista na lei, vinculada aos sujeitos constantes do título, será o autor julgado carecedor da ação. 1.4.1 Legitimidade Ativa O art. 778 do CPC de 2015 estabelece a legitimidade para fins de execução. São legitimados ativos ordinários o credor constante do título, o espólio, os herdeiros ou sucessores do credor, o cessionário por ato entre vivos, o sub-rogado legal ou convencional. Os requisitos para a legitimação ativa do espólio, herdeiros ou sucessores do credor diferem em relação ao momento em que se dá a sucessão: a) Antes de iniciada a execução: a legitimidade se dá por meio de provas; b) Depois de iniciada a execução: instauração de processo de habilitação incidente, com a consequente suspensão do processo principal.7 A legitimidade do espólio dura até a partilha de bens e, uma vez partilhado, a legitimidade ativa somente será conferida aquele que receber em seu quinhão o crédito representado pela execução, considerando-se inclusive a extinção do espólio. 7 A instrumentalidade processual flexibilizou tal rigor, no sentido de que, se o pretendente a assumir o polo ativo provar suficientemente sua legitimidade a habilitação é dispensada, consequentemente, não se suspende o processo executivo. Embora não constem do título, são legitimados ativos ordinário, como sujeito dos interesses materiais em conflito a quem a lei confere título executivo, o ofendido na execução civil da sentença penal condenatória, o lesado na execução de sentença genérica referente a direitos individuais homogêneos, o advogado que executa seus honorários etc. Como sub-rogados8, tem legitimidade ativa ordinária o fiador convencional que satisfez a obrigação e o avalista, nas mesmas condições. O § 2º do art. 778 do CPC reproduz a ratio do Recurso Especial Repetitivo nº 1091.443/SP, de relatoria da Ministra Maria Thereza de Assis Moura: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CO NTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. PROCESSO CIVIL. CESSÃO DE CRÉDITO. EXECUÇÃO. PRECATÓRIO. SUCESSÃO PELO CESSIONÁRIO. INEXISTÊNCIA DE OPOSIÇÃO DO CEDENTE. ANUÊNCIA DO DEVEDOR. DESNECESSIDADE. APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 567, II, DO CPC. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. 1. Em havendo regra específica aplicável ao processo de execução (art. 567,II, do CPC), que prevê expressamente a possibilidade de prosseguimento da execução pelo cessionário, não há falar em incidência, na execução, de regra que se aplica somente ao processo de conhecimento no sentido da necessidade de anuência do adversário para o ingresso do cessionário no processo (arts. 41 e 42 do CPC). 2. "Acerca do prosseguimento na execução pelo cessionário, cujo direito resulta de título executivo transferido por ato entre vivos – art. 567, inciso II do Código de Processo Civil–, esta Corte já se manifestou, no sentido de que a norma inserta no referido dispositivo deve ser aplicada independentemente do prescrito pelo art. 42, § 1º do mesmo CPC, porquanto as regras do processo de conhecimento somente podem ser aplicadas ao processo de execução quando não há norma específica regulando o assunto" (AgRg nos EREsp 354569/DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL, DJe 13/08/2010). 3. Com o advento da Emenda Constitucional nº 62, de 9 de dezembro de 2009, todas as cessões de precatórios anteriores à nova redação do artigo 100 da Constituição Federal foram convalidadas independentemente da anuência do ente político devedor do precatório, seja comum ou alimentício, sendo necessária apenas a comunicação ao tribunal de origem responsável pela expedição do precatório e à respectiva entidade. 4. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008”. 8 Pesssoa que paga uma dívida alheia, assumindo todos os direitos, ações e privilégios que antes eram atribuídos ao credor originário. No tocante ao Ministério Público, tem legitimidade ativa ordinária para a execução das sentenças nas ações condenatórias por ele proposta com essa mesma legitimidade. O Ministério Público ainda pode atuar como legitimado ativo extraordinário, na hipótese de substitutos processuais, ou seja, age em nome próprio na defesa do interesse alheio, exemplo: quando executa a sentença penal condenatória em favor da vítima pobre; na ação civil pública; na ação popular; o marido na defesa do dote da mulher; o fiador que promove o andamento da execução já iniciada pelo credor contra o devedor; qualquer legitimado na ação civil pública para promover a execução da respectiva indenização; o agente fiduciário em caso de inadimplemento de obrigação pela companhia emissora das debentures etc. 1.4.2 Legitimidade Passiva A legitimidade passiva é sempre ordinária, porque ninguém pode ser sujeito passivo da execução se não for devedor, sucessor do devedor ou alguém que pela lei ou por ato voluntário deva responder pela satisfação da obrigação constante no título. As únicas hipóteses de autêntica legitimação extraordinária passiva na execução referem-se a do curador especial do réu preso ou do réu citado por edital ou com hora certa que não acudir a citação, e a do cônjuge do devedor necessariamente citado em execução fundada em direito real sobre imóvel que não integre a comunhão de bens. 1.4.2.1 Legitimidade Passiva Derivada Nos casos em que a execução pode recair sobre bens de algum sujeito que não seja o devedor principal da obrigação, Carnelutti se refere a substituição processual substancial e Liebman a responsabilidade executória secundária. As diversas situações em que isso pode ocorrer merecem um estudo à parte, porque o Direito não considera essas pessoas como sujeitos passivos da execução, não lhes conferindo os direitos, deveres e ônus de partes, embora a lei determine que os seus bens sejam atingidos pelos atos executórios. Em face do alcance da garantia constitucional do contraditório, especialmente no tocante ao art. 9º e 10 do CPC de 2015, como expressão do princípio da participação, nenhum sujeito de direito pode ter atingida a sua esfera patrimonial por qualquer ato executório, sem que a lei lhe assegure a oportunidade de influir eficazmente na elaboração da decisão que o determinou ou no reexame imediatamente subsequente dessa decisão, bem como em todos os sucessivos atos do processo de execução em que isso ocorreu. Se o legitimado passivo originário é aquele contra o qual a execução é promovida, legitimados passivos derivados devem ser todos aqueles que, por algum fundamento de direito material, podem ter o seu patrimônio atingido por atos executórios. Destes, o Código apenas reconhece o fiador judicial como sujeito passivo da execução (art. 779, IV). Essa legitimidade passiva derivada, que decorre da chamada responsabilidade patrimonial, pode surgir desde o ajuizamento da execução ou no curso dela. A partir da sua ocorrência, a esses sujeitos devem ser assegurados todos os direitos subjetivos processuais inerentes à qualidade de sujeitos passivos da execução, como serem intimados de todos os atos processuais, assegurar-lhes o direito de intervir em todos os atos e fases do processo de execução e de se pronunciar previamente antes de qualquer decisão que o juiz venha a adotar, em igualdade de condições com as partes originárias. Somente a observação das garantias constitucionais do legitimado passivo derivado, possibilita o Estado-juiz invadir em seu patrimônio para fins de execução. 1.4.2.1.1 Novo Devedor O CPC de 2015 inovou ao inserir como legitimado passivo aquele que assume a dívida no lugar do devedor originário. Trata-se da assunção de dívidas ou cessão de débito (art. 299 do Código Civil9), ou seja, consiste na transferência da dívida a um novo sujeito que não o devedor originário e exige concordância expressa do credor, por que a partir do momento em que se modifica o devedor, automaticamente há alteração no patrimônio que ficará submetido para o pagamento da dívida. 1.4.2.1.2 O Fiador Fiança é uma garantia prestada por terceiro, que se configura em três espécies: - Convencional: decorrente de acordo de vontade dos contratantes. - Legal: decorre da lei, como por exemplo o art. 1400 e 1745, parágrafo único, ambos do Código Civil. - Judicial: determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes e funciona como caução. Assim, fiador judicial é o terceiro que, no curso de um processo (não necessariamente de execução), compromete-se perante o juízo a garantir obrigação que, eventualmente, venha a ser imposta a uma das partes naquela relação processual. Trata-se de legitimação passiva extraordinária. Sobre o fiador judicial mister transcrever interessante julgado do STJ: 9 Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Sobre referido dispositivo, tem-se o Enunciado nº 16, aprovado na Jornada de direito civil, ocorrida em setembro de 2002, organizada pelo Centro de Estudos Jurídicos do Conselho da Justiça Federal,in verbis: “O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade de assunção cumulativa de dívida, quando dois ou mais devedores e tornam responsáveis pelo débito com a concordância do credor”. “EXECUÇÃO FISCAL. CREDITOS DE ICM. FIADOR JUDICIAL. POSIÇÃO IDENTIFICADA COM A DO DEVEDOR PRINCIPAL. EXIGIBILIDADE DO PAGAMENTO DA DIVIDA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO CONSUMADA. CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL. SENDO O FIADOR JUDICIAL AQUELE QUE PRESTA, NO CURSO DO PROCESSO, GARANTIA EM FAVOR DE UMA DAS PARTES, A SUA POSIÇÃO SE IDENTIFICA COM A DO DEVEDOR PRINCIPAL; TORNA-SE SOLIDARIO. PODE, O CREDOR EXIGIR DELE, DESDE LOGO, O PAGAMENTO DA DIVIDA.DESNECESSARIA A CITAÇÃO DO FIADOR, BASTANDO SUA INTIMAÇÃO, EFETUADA A PENHORA, A EXECUÇÃO PODE PROSSEGUIR NOS PROPRIOS AUTOS. A ORDEM DE CITAÇÃO, ANTES DA VIGENCIA DA LEI N. 6.830/80, NÃO TEM EFEITO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO. TENDO A INTIMAÇÃO DO FIADOR, QUE CORRESPONDE A CITAÇÃO, OCORRIDO MAIS DE OITOANOS APOS ROMPIDO O COMPROMISSO DO FI NANCIAMENTO PELO QUAL SE RESPONSABILIZOU, EM RELAÇÃO10A ELE TAMBEM FLUIU O PRAZO QUINQUENAL” . Vale ressaltar, que este fiador judicial, não se confunde com as demais figuras de fiador (quando tal condição é assumida em atos de direito material, por forçade convenção ou da lei). Em verdade, o fiador, seja convencional, legal ou judicial, não é, no plano do direito material, devedor principal, mas responsável pelo pagamento de débito de outrem, caso este não o faça. Sua responsabilidade, solidária ou subsidiária, é sempre derivada. Segundo parte da doutrina, independentemente, da obrigação principal (garantida pela fiança) estar representada em título executivo extrajudicial, o fiador legal ou convencional poderia ser parte passiva da execução, desde que existente instrumento escrito da fiança. Por coerência, os que preconizam essa tese terão de qualificar tal fiador como legitimado ordinário originário, uma vez que seria posto na condição de executado por figurar diretamente como devedor no título. 10 STJ. REsp nº 41932/SP. Min. Relator Helio Mosimann. Dj. 25.08.1997 Reputa-se que, só quando a obrigação assumida pelo afiançado estiver representada em título executivo, o fiador poderá ser parte passiva na execução. O novo CPC dispõe que a execução somente poderá ser promovida contra o fiador do débito constante em título extrajudicial, sem prejuízo da hipótese em que, previamente condenado, o fiador é executado com base em título judicial– ou seja, pelo procedimento de cumprimento de sentença. Tal dispositivo advém do entendimento do STJ, através do verbete nº 268, que assim dispõe: “O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado”. O art. 513, § 5 do CPC de 2015 diz que o cumprimento de sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento. 1.4.2.1.3 Da Responsabilidade Tributária A responsabilidade tributária vem regulada nos arts. 128 a 138 do CTN, como também no art. 4º, V da Lei 6.830/80. Contudo, nem todas as figuras ali previstas recaem na hipótese do art. 779, VI do código de processo. O responsável tributário assume tal condições de executado em duas situações: a) Substitui aquele que deveria ser naturalmente o contribuinte, por multifários motivos previstos em lei e; b) Recebe por transferência o dever de pagar o tributo antes atribuído ao contribuinte, o qual, por motivos diversos, não pode ou não deve satisfazer a prestação. Na responsabilidade tributária por transferência, o contribuinte deixa de cumprir sua obrigação por alguma razão, mas não é originariamente ignorado, transferindo-se a responsabilidade posteriormente e por ato superveniente. Na responsabilidade tributária por substituição, o contribuinte é desde logo afastado, não chegando nem mesmo a ser considerado sujeito passivo, sendo que a própria lei, independentemente de um fato posterior, atribui a responsabilidade a quem não é contribuinte. Essa terceira pessoa passa denominarse “responsável por substituição”. Na substituição tributária a obrigação de pagar, desde o início, é do responsável, ficando o contribuinte desonerado de quaisquer deveres. Ex: ICMS e no IR (art. 45 do CTN). Outros exemplos de responsáveis tributários por substituição: a) o empregador, com relação ao IR relativo a renda do empregado; b) a Caixa Econômica Federal com relação ao imposto de renda incidente sobre o prêmio da loteria auferido pelo ganhador da receita; c) os fundos de previdência privada, que devem reter o imposto de renda na fonte, e repassa-lo à União; d) o laticínio, com relação ao ICMS devido pelo produtor rural na comercialização de leite cru; e) a usina, com relação ao ICMS devido pelo produtor rural na comercialização do caule, etc. Importa para fins de legitimidade, é a regra que fixa como responsável um terceiro que recebe o dever de zelar pelo recolhimento do tributo e com multas (art. 134, CTN). Ex; inventariante, administrador judicial e etc. A tendência é a de se afirmar que são estes os responsáveis legitimados passivos extraordinários, uma vez que figurariam na execução respondendo pelo débito alheio. Autorizadas vozes entre os tributaristas, entretanto, sustentam que nessas hipóteses há imposição de dever material específico para o responsável, distinto da própria obrigação tributária devida pelo contribuinte – dever cujo descumprimento é sancionado por penalidade no valor da obrigação tributária. Dentro dessa perspectiva, a legitimação seria ordinária. 1.5 Litisconsórcio e Intervenção de Terceiros Ao se tratar da cumulação de demandas executivas, já se evidenciou a possibilidade de litisconsórcio na execução. Basta pensar no caso em que no título executivo constam várias pessoas como credoras ou como devedoras. O litisconsórcio tanto poderá ser originário (é o exemplo acima) quanto superveniente (ex: no curso da execução, falece o devedor, sucedendo-lhe na condição de executados os seus vários herdeiros). Normalmente o litisconsórcio na execução é facultativo, uma vez que não são usuais as hipóteses em que a execução tenha de ser necessariamente movida em face dos vários devedores ou requerida por todos os credores. Mas não é impossível o litisconsórcio necessário, tomemos por exemplo o art. 73, § 3º do CPC de 2015; a execução movida contra os sócios da sociedade dissolvida; os concursos universal e singular de credores. Em suma, na execução, o litisconsórcio necessário reside nas obrigações de fazer indivisível ou de entrega de coisa indivisível. Quanto a intervenção de terceiros, somente a assistência simples é compatível com o processo de execução. No entanto, é polêmica a admissibilidade da assistência na execução. Negam-na alguns, sob o argumento de que, através de tal mecanismo, terceiro intervém no processo visando a auxiliar uma das partes a obter sentença favorável que repercutirá em sua esfera jurídica (art. 119): não visando a execução da sentença de mérito, ficaria prejudicada a função do instituto. Outros, porém, respondem que o art. 119 e seguintes devem ser aplicados à execução com as devidas adaptações (art. 771, parágrafo único, CPC 2015): a assistência serviria para o terceiro auxiliar uma das partes a obter resultado prático que refletiria juridicamente de modo positivo na esfera dele, por exemplo o fiador principal, a fim de lhe dar adequado andamento, com amparo no art. 834 do Código Civil). Araken de Assis11 defende que a execução tem as suas formas próprias de intervenção de terceiros, como no concurso de preferência, na atuação dos credores pignoratício e hipotecário e no chamamento de todos os credores da insolvência civil. Essas e outras modalidades de intervenção espontânea ou provocada de novos sujeitos, diversos dos que originalmente figuraram na execução, põem os intervenientes na posição de legitimados ativos ou passivos da execução, ou de autores ou réus de ações de conhecimento incidentes, pouco importando trata-las como hipóteses de intervenção ou de modificação ou ampliação da legitimação originária. 11 ASSIS, Araken. Manual da execução civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. 1.6 CUMULAÇÃO DE EXECUÇÃO Para fins de economia processual, o art. 780 do CPC de 2015 dispõe que é licito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferente, desde que para todas elas sejam competentes o juiz e idêntica a forma do processo. Obviamente não se aplica ao cumprimento de sentença, pois esta é uma fase processual destina a execução de sentença proferida especificamente naquele processo. A viabilidade em se autorizar cumulação objetiva de pedidos executivos se dá em razão do devedor ser o mesmo, o que varia, é a causa do pedido e pedido. Os pedidos não precisarão se fundar todos eles sobre o mesmo título. Destarte, a cumulação de execução tem os seguintes requisitos: a) identidade do credor; b) identidade do devedor; c) o juiz deve deter competência absoluta para processar todos os pedidos executivos e; d) todos os pedidos executivos tem de se submeter a mesma forma de processo executivo. Além disso, nosso sistema admite a cumula subjetiva quando o título faz menção a vários credores ou devedores (ex: execução propostaem face de várias pessoas que firmaram a promessa de pagamento na mesma nota promissória; execução da sentença condenatória proferida em favor de inúmeras pessoas e contra outras tantas etc.). No que tange a possibilidade de dupla cumulação, ou seja, quando diferentes pedidos executivos são formulados por vários credores, e/ou em face de vários devedores, com base em diferentes títulos executivos (ex: cumulação de um pedido executivo contra A, fundado em cheque, com outro pedido contra B, fundado em promissória). Essa hipótese não foi a aventada pelo art. 573 do CPC, razão pela qual muitos a consideram vedada. A meu ver, aplica-se a regra do art. 113 do NCPC, referente as regras gerais do litisconsórcio. Ou seja, embora os pedidos executivos sejam feitos em face de diferentes devedores e com base em títulos distintos, eles poderiam ser reunidos na mesma execução, desde que todos os títulos tivessem origem na mesma relação de direito material, ou houvesse alguma afinidade de questão, que o procedimento executivo seja o mesmo e etc. 1.7 EXECUÇÃO INJUSTA E INDEVIDA Os atos executivos constitui-se uma espécie sanção, que para afastar a crise de adimplemento do obrigado, autoriza o Estado socorrer-se de violência legitimada pelo devido processo legal, para satisfazer o direito do credor. Assim sendo, o credor deve agir com zelo e responsabilidade a fim de não ajuizar processo executivo de maneira indevida, razão pela qual, o código de processo reprime execução tidas como injusta. Nesse lanço, sobre as perdas e danos oriundos de execução injusta, transcreve-se julgado do STJ, da lavra do ministro Cesar Asfor Rocha: “RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZ AÇÃO POR ATO ILÍCITO. EXECUÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO EXCESSIVO. REDUÇÃO. O valor da indenização por danos morais submete-se ao crivo desta Corte e, quando exorbitante, deve ser reduzido a patamares razoáveis. Não se conhece de recurso especial que trata de tema não debatido pelas instâncias ordinárias, incidindo os óbices previstos nos verbetes ns. 282 e 356 da Súmula do STF. Recurso especial principal conhecido e parcialmente provido para redução da verba indenizatória. Recurso adesivo não conhecido”12. 12 STJ. REsp nº 605.665/SC. Min. Relator Cesar Asfor Rocha. Dj. 11.11.2006. A sanção pela execução injusta advém do direito intermediário – com a fixação bárbara em Roma, em que o exequente, na execução privada, caso não houvesse o crédito por ele alegado, seria condenado a pagar para o devedor a mesma quantia indevidamente exigida, ou mais. Com base nesse antecedente histórico, o CPC de 2015 visa tutelar aqueles que são indevidamente executados em face daquele que executou indevidamente. O ressarcimento envolverá todos os danos causados pela execução injusta, sejam eles de índole patrimonial ou extrapatrimonial. Para se ter uma execução como injusta, é preciso que exista uma sentença de mérito transitada em julgado, nos embargos, na impugnação ou em qualquer ação heterotópica onde se reconheça a inexistência, no todo ou em parte, da obrigação que deu lugar à execução. Dispõe o art. 776 do CPC de 2015, que poderá ser aplicado a qualquer modalidade de execução, o Código ainda regula a responsabilidade pela execução provisória injusta ou indevida, onde o risco de erro é maior do que nas execuções fundadas em título acobertado pela coisa julgada material. É o que dispõe o art. 520,II do CPC. Igualmente, prevê o Código regra específica de ressarcimento pela execução indevida nos casos de tutela de urgência, quando a medida urgente executa cause prejuízo a parte e posteriormente não seja confirmada pela sentença ou acórdão. Tanto neste caso, como no anterior, há execução provisória, e os dispositivos podem ser aplicados conjuntamente. É de se lembrar que a tutela prevista neste dispositivo é ressarcitória, o que significa que essa demanda desembocará numa sentença condenatória para pagamento de quantia. Dada a íntima relação dessa demanda com os fatos ocorridos no processo de execução que lhe deu origem, deve ser processada nos próprios autos da execução. Observa-se que, se a parte foi executada e indevidamente teve seu patrimônio alienado, ou em razão da execução foi obrigado a prestar um fazer indevido, a tutela não será restauradora da situação anterior, devendo-se converter o prejuízo suportado em perdas e dados. É o que se conclui da redação do dispositivo e também do art. 903 do CPC. A ação executiva assegura para o detentor do título executivo todas as garantias para satisfação do seu direito, inclusive, mediante emprego legítimo da força, uma vez ele detém o jus imperium , já que é seu múnus público e político vedar a autotutela e impor a vontade concreta da lei para eliminar conflitos. A vedação à execução injusta visa afastar o mau uso deste meio jurisdicional, ante os efeitos por ele gerado, bem como afastar eventuais abuso de direito pelo credor, já que na lide executiva inclina-se mais para o credor. 1.8 COMPETÊNCIA Na fase de cumprimento de sentença, a competência é funcional e, portanto, absoluta. Quer dizer, o juízo competente para cumprimento de sentença é o mesmo em que ocorreu a formação do título executivo judicial. Todavia, formado o título, o exequente poderá prosseguir com a satisfação de seu direito em outros foros, vejamos: a) Onde foi proferida a sentença; b) Onde se encontram os bens sujeitos à expropriação; ou c) No atual domicílio do executado. A execução de título judicial com trâmite a outro juízo, que não seja aquele em que se formou a sentença, também é denominada como execução itinerante. Caso o credor escolha executar em outro juízo distinto daquele em que foi formada a sentença, ele deverá peticionar e requerer perante o juízo itinerante. O juízo itinerante irá fazer a admissibilidade do pleito, ou seja, verificará se estão presentes os requisitos para que a execução seja processada, seja porque os bens do devedor estão ali situados ou então, porque é o atual domicílio do devedor. Presentes alguns dos requisitos supra, o juízo itinerante solicitará ao juízo de origem, que lhe remeta os autos do cumprimento de sentença. Ao final, os autos serão arquivados no juízo onde tramitou a execução, e não restituídos ao de origem. Outrossim, a execução itinerante deverá obedecer à Justiça em que está vinculado o juízo. Em outras palavras, se a sentença for originária de juízo comum federal, o cumprimento de sentença deve se dar perante a mesma justiça federal. No que tange a competência para execução de sentença penal condenatória, sentença arbitral e sentença estrangeira (art. 516, III) será competente o juízo cível que seria o competente para conhecer o processo de conhecimento se não existisse o título executivo. Na sentença penal condenatória, executa-se na jurisdição civil, obrigação civil de indenizar, ou seja, decorrente do efeito extrapenal das sentenças penais condenatória. Destarte, primeiro torna-se necessário liquidar e, posteriormente, executa-la. Com efeito, a competência para a liquidação advém das regras do processo de cognição. Exemplo: tratando-se de reparação de dano decorrente de ato ilícito, a competência é o lugar do ato ou do fato, conforme o art. 53, IV, alínea ‘a’; sendo, portanto, esse foro o competente para processar a fase de cumprimento de sentença. Em relação a sentença arbitral, geralmente, no compromisso arbitral ou a cláusula compromissória deve haver previsão de foro judicial para execução daquela sentença. Em caso de omissão no contrato, aplica-se a regra para os títulos extrajudiciais consistentes em investigar qual o juízo competente para conhecer do processo de conhecimento se inexistisse arbitragem. Por fim, a sentença estrangeira deve ser homologada pelo STJ para que gere eficácia no Brasil e, após a homologação a competência para executa-la (art. 109, X da CF) é da Justiça Federal de primeiro grau de jurisdição. 1.9 INCLUSÃO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES Outra inovação trazida para o CPC de 2015 reside nos §§ 3º, 4º e 5º do art.782, que autoriza a instauração de procedimento para inclusão do executado no cadastro de inadimplentes, tais como SERASA e SCPC. Para tanto, o exequente deverá requerer ao órgão jurisdicional competente, assumindo as responsabilidades pelos danos oriundos de uma inscrição indevida. Essa regra poderá ser aplicada em toda modalidade de execução (judicial ou extrajudicial), inclusive nas execuções de alimentos, sem prejuízo da possibilidade de protesto do título e prisão civil do devedor, que nesta espécie de satisfação de direito alimentar guarda uma peculiaridade a ser analisada em tópico específico. A regra em comento não é novidade em alguns órgãos jurisdicionais da federação, por exemplo no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que há tempos firmou com a SERASA um convênio13, para que referido órgão de proteção ao crédito, voluntariamente, coletasse junto ao cartório distribuidor judicial a relação de processos executivos que foram distribuídos naquele órgão jurisdicional, a fim de ampliar seu rol de negativados. Com base na relação fornecida pelo cartório distribuidor, a SERASA reproduz fielmente as informações e repassa a seus clientes. A questão inclusive, foi objeto no STJ em sede de recurso especial repetitivo: “REPRODUÇÃO FIEL EM BANCO DE DADOS DE Ó RGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO DE REGISTRO ATUALIZADO ORIUNDO DO CARTÓRIO DE DISTRIBUIÇÃO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. REGISTROS DOS CARTÓRIOS DE DISTRIBUIÇÃO. UTILIZAÇÃO SERVIL DESSAS INFORMAÇÕES FIDEDIGNAS POR ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. HIPÓTESE QUE DISPENSA A COMUNICAÇÃO AO CONSUMIDOR. 13 Considerando os cartórios de distribuição judicial são serviços públicos, a teor dos artigos 5º, inciso XXXIII e 37, ambos da Constituição Federal, salvo as hipóteses em que é decretado segredo de justiça, a coleta realizada pelo supracitado órgão de proteção ao crédito decorrente de convenio mantido com o tribunal atende o modelo constitucional. 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: "Diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros do cartório de distribuição judicial, a reprodução objetiva, fiel, atualizada e clara desses dados na base de órgão de proteção ao crédito - ainda que sem a ciência do consumidor - não tem o condão de ensejar obrigação de reparação de danos". 2. Recurso especial não provido”14. No caso dos tribunais não firmaram convênio com algum órgão de proteção ao crédito, considerando a ratio do precedente supra, bem como interpretação extensiva do art. 828 do CPC de 2015, nos processos de execução de títulos extrajudiciais, o exequente poderá requerer na própria petição inicial a negativação do executado, ou então, após distribuição da ação executiva, com juízo positivo de admissibilidade, poderá requerer certidão e/ou expedição de ofício para o órgão jurisdicional, a fim de que a entidade de proteção ao crédito reproduza fielmente as informações relativas ao processo executivo, a fim de alimentar o banco de dados do referido órgão cadastral. No caso de execução por quantia certa, considerando que o processo de execução possibilita prazo de três dias para o executado promover o pagamento espontâneo do débito e/ou, reconhecê-lo e requerer seu parcelamento, na forma do disposto no art. 916 do CPC de 2015, recomenda-se que a negativação do processo executivo em órgãos de proteção ao crédito, seja após o transcurso do prazo para pagamento espontâneo. No entanto, nada impede que a negativação do executado nos órgãos de proteção ao crédito seja feita ab initio, tal como acima aduzido. Já na fase de cumprimento de sentença, a inclusão do executado nos órgãos de proteção ao crédito poderá ser requerida, após o transcurso do prazo para cumprimento espontâneo da decisão judicial que reconhece obrigação de pagar quantia certa, fazer, não fazer e entrega de coisa, conforme interpretação análoga do art. 517 do CPC de 2015. 14 STJ. REsp nº 1.344.352-SP. Min. Relator Luis Felipe Salomão. DJ 12.11.2014 O cancelamento da inscrição acontecerá se houver o pagamento, garantia do juízo ou por extinção da execução. 2 TÍTULO EXECUTIVO 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A eficácia dos títulos executivos judiciais previstos na lei processual e/ou esparsa, decorre de um processo que tramitou num órgão jurisdicional regularmente constituído. Por outro lado, a eficácia dos demais títulos executivos extrajudiciais decorre da lei, mesmo sendo eles atos negociais celebrados entre dois ou mais sujeitos dotados de capacidade, no exercício de sua liberdade negocial. Ou seja, a vontade do sujeito que declara ser devedor e diz que pagará não é, em si mesma, o fator que qualifica o ato como título executivo; não passa de um critério levado em conta pelo legislador, o qual se apoia nele para, nos casos que discricionariamente escolhe, instituir a eficácia executiva. 2.2 CONCEITO E ELEMENTOS ESSENCIAIS Conforme visto anteriormente, o processo de execução depende de um título executivo, haja vista que decorre e, é regida pela cláusula do due process of law, como também, em observância ao princípio da nemo executio sine titulo. Título executivo15 é um ato ou fato jurídico indicado em lei como portador do efeito de tornar adequada a tutela executiva em relação ao preciso direito a que se refere. Essa conceituação permite visualizar os elementos essenciais ao título executivo e a seu correto entendimento no sistema, que são: a) tipicidade dos títulos segundo as leis vigentes no país; b) sua natureza de ato ou fato jurídico; c) sua eficácia executiva e; d) a necessidade de que o título se refira a uma obrigação perfeitamente definida quanto a seus elementos constitutivos (certeza e liquidez). 2.3 TIPICIDADE LEGAL DO TÍTULO EXECUTIVO (NULLUS TITULUS SINE LEGIS) Conforme visto no tópico relacionado aos princípios executivos, a regra da tipicidade dos título executivos significa que não há título executivo sem lei anterior que o defina. No direito brasileiro, só podem ser títulos executivos aqueles atos ou fatos definidos em lei como tais; a construção do elenco dos atos e fatos dotados de eficácia executiva cabe exclusivamente ao legislador e jamais ao juiz ou mesmo às partes. A severidade dessa reserva legal, associada à própria exigência de um título para executar, decorre da gravidade das medidas executivas que o título autoriza, as quais podem conduzir ao desapossamento ou mesmo à expropriação de bens do executado, contra sua vontade e a dano de seu patrimônio. Trata-se de matéria de ordem pública do processo16, que não há espaço para o poder dispositivo dos particulares. 15 Ver artigos 586; 614, I e 618,I; todos do CPC 16PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL. ANUÊNCIA DO ESTADO EMBARGADO COM CÁLCULOS DO EXEQÜENTE. TRANSCURSO IN ALBIS DO PRAZO PARA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DO DEVEDOR. HOMOLOGAÇÃO DOS CÁLCULOS. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO. EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO. COISA JULGADA. FENÔMENO EXCLUSIVO DOS PROCESSOS DE COGNIÇÃO. INOCORRÊNCIA, IN CASU, DE PRECLUSÃO PRO IUDICATO. 1. Recurso especial no qual a controvérsia gravita em torno de saber-se, se na execução, a não oposição de embargos do devedor e a conseqüente homologação dos cálculos são aptos a gerar a coisa julgada capaz de validar o processo executivo, obstando inclusive, a decretação da nulidade do feito pelos juízos de cognição plena na hipótese em que, após a expedição do precatório, mas antes de seu efetivo pagamento, a parte executada demonstra cabalmente a inexistência de título executivo a instruir a ação executiva, via "exceção de pré- executividade". 2. In casu, a Corte de origem, mediante análise do conjunto fático probatório carreado nos autos, assentou o entendimento de que: "No caso dos autos, não há a mínima evidência de que a exeqüente esteja vinculada ao título judicial, o que autorizava o decreto extintivo da execução, como lançado pelo operoso magistrado singular". 3.
Compartilhar