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GENOCÍDIO: O conceito O que é? Senso comum “A crime without a name” prática antiga – colonização das Américas, Armênios, Herero (Namíbia). Conceito: recente – apenas no pós-II GM Surgimento do Conceito Contexto histórico Pós-II Guerra: revelação dos crimes nazistas práticas genocidas: campos de concentração, deportação, experiências Necessidade de dar uma resposta Evitar recorrência Aliados - tribunal internacional com vistas a julgar os crimes cometidos pelo III Reich. Tribunal de Nuremberg Julgar crimes cometidos pelos Nazistas: Não há menção ao termo “genocídio” - crimes contra a humanidade Flexibilização da soberania – ordenamento jurídico - princípios O primeiro projeto já realizado para instituir princípios cujo âmbito de validade se estende para além das fronteiras nacionais A criação do termo R. Lemkin: 1944. Barbárie e vandalismo derivativo grego geno (raça ou tribo) + latino cidio (ato ou efeito de matar) = genocídio “um plano coordenado de diferentes ações para destruir as bases essenciais da vida de grupos nacionais, com o objetivo de aniquilar os próprios grupos” Efeito de matar é importante, mas não só isso Desintegração política, cultural, religiosa, das instituições sociais Genocídio – voltado para um grupo social como uma entidade – ênfase na coletividade - IDENTIDADE Lemkin: campanha de Lobby dentro da ONU Cria e sacramenta um termo específico. O “crime sem nome” ganha forma e aponta para limites que se esperam da soberania. A Convenção de 1948 Artigo II: (...) entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: (a) matar membros do grupo; (b) causar lesão grave à integridade de física ou mental de membros do grupo; (c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar- lhe a destruição física total ou parcial; fome – Holodomor (Ucrânia 32-33) (d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; - separar mulheres e homens; parto (e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo. – Austrália - Aborígenes Convenção: ênfase no caráter biológico e violência física Condições físicas e psicológicas degradantes, impedimento do nascimento, separação de crianças Elementos fundamentais da Convenção Caráter coletivo – pertencimento aos grupos protegidos + “Como tal” Especial fim de agir – Intenção de destruir o grupo-alvo Possíveis Perpetradores Convenção: pessoas físicas Convenção versus prática: Estados? Empresas? IBM, RTLM, etc. Hollerith machines Estados, mídias, empresas: Auxílio na burocratização, mobilização e cumplicidade com as atividades genocidas • • - Rádios e imprensa: •- burocratização dos massacres •e difusão de Hate Speech/ •Hate propaganda Vítimas Grupos nacionais, raciais, étnicos ou religiosos Caráter político (restrição do crime): exclusão de “outros grupos” Ascriptive membersip versus escolha TPIR: grupo coerente Exclusão do genocídio cultural e do genocídio político Preocupação dos Estados com minorias Na prática - genocídios têm sido perpetrados por motivações ideológicas em que o Estado extermina sua oposição política Controvérsias da convenção Diferentes conceitos de genocídios Corrente hard: limites rígidos - cuidado com a banalização (ex. foco na destruição física) soft: maior inclusão de grupos-vítimas, de ato, etc. Jones: variações no conceito agentes – grupos dominantes, acesso ao poder, Estado, maioria Vítimas: minorias sociais; caráter indefeso; definição pelo perpetrador Objetivo: destruição Escala: da erradicação total à eliminação de parte ( X pluralidade ou quantidade?) Estratégia: sistematicidade – plano coordenado Definição Adam Jones Caráter inclusivo de grupos: sociais, de gênero, econômicos Visão mais ampla de intenção Diferentes tipos de agentes e estratégias Consequência: reconhecimento da violência estrutural como genocídio Perpetradores: superioridade e intenção O que é destruído no genocídio? Destruição social do grupo Destruição do seu poder social, do seu poder de reprodução – inviabilização da identidade Pluralidade e perpetuação (proteção de crianças) • cultura: destruição de templos e livros Questão das múltiplas identidades Dificilmente isoladas Etnia, classe, grupo político, raça maligna (Judeu Bolshevik) Narrativas e possibilidades de ação – gradualmente permitindo execução (leis nazistas) Expansão do entendimento do conceito d genocídio TPIR, TPIY: violências contra o gênero: efeitos para o grupo – perda de coesão social e dificuldade de reprodução Outros grupos? Julgamento do genocídio argentino Dados de Genocídios: Armênia: mais de 1,000,000 de mortes (1915–1917) Holocausto: 6,000,000 de judeus; 5,000,000 Poloneses, ciganos, comunistas e outros “indesejáveis” (1938–1945) Camboja: 1,7oo,ooo a 2,000,000 mortos (1975–1978) Bósnia: 200,000 (1992–1995) Ruanda: 800,000 – 1 milhão (Abril- meados de Julho 94) Darfur: 300,000 (2003- hoje) P.S. refugiados, deslocados, torturados, etc. – Darfur: 2 milhões Caráter individual e coletivo (grupos protegidos) A intenção + “como tal“ “racialização de identidades”: características de alteridade que não podem ser incorporadas ao seio do grupo rival; aniquilação; homogeneização, “hereditarização”. (Fournet) Construção do outro como ameaça não- assimilável, aniquilação como meio para lidar com isso. Possibilidades teóricas Arfi: • ódios antigos abafados pela GF • Escolha racional •- reconstrução das identidades sociais Fatores fundamentais para a construção da identidade agressiva • 1) Memórias históricas: construção de mitos políticos; • shadow of the past: • interpretação do passado e símbolos mobilizados pelas elites para legitimar a sua ação As memórias históricas podem ser determinantes para os conflitos quando TRADUZIDAS EM MITOS POLÍTICOS: objetivos políticos e crenças construídas e justificadas por lembranças históricas • 2) A estrutura de clivagens étnicas: sociedade multiétnica • 1 e 2 se reforçam , ou seja, se clivagem facilita competição- preserva clivagem mantendo vivas lembranças históricas • 3) Arranjos institucionais do Estado: pode constranger opções ou ainda aumentar oportunidades de ação (empoderando uns atores em detrimento de outros – pode funcionar positiva ou negativamente) • Reificação política de identidade étnica : torna a etnia politicamente relevante A construção da identidade agressiva Memórias históricas clivagens étnicas instituições estatais moldam as identidades sociais e abrindo espaço para certos comportamentos Apesar da ação das elites também ser relevante, as estruturas sociais de certa forma também moldam a agencia dessas elites (empoderadas como atores) • Estruturas sociais também moldam o conflito Quatro processos na construção da identidade agressiva: 1) Emergência de mitos políticos • • desafiam o status quo: •mobilização para questionar o status quo ancorando em memórias históricas 2) Internalização dos mitos: difusão de discursos e estereótipos que se tornam o elemento central de identificação • •o outro é colocado como ameaça por políticos e ativistas– constrangimentos de ação •Uso de memórias históricas, mitos políticos e discursos dicotômicos – geram medo e incerteza- identidade agressiva Essa abordagem consegue explicar a trajetória da paz ao conflito: possibilidade de transformação Identidades não são imutáveis – grupos que conviviam pacificamente deixam de fazê-lo Ex. Tito: morre líder e há a reconstrução de mitos e animosidades por meio de estratégias , mas o oportunismo não tem eco se estruturas sociais não reforçarem sua ação 3) Mobilização para rejeitar o status quo de maneira aberta: seguidores desses líderes se reúnem para rejeitar o status quo 4) Processo identitário recíproco de demonização: elite demoniza o “outro”, que torna a ação recíproca – inimigo se consolida Relação entre Estado, identidade e segurança (RAE) Análises tradicionais: anarquia – self-help – Estado: controle da violência Identidade não é importante versus abordagens críticas: papel da identidade versus diferença Não aceita o Estado como dado Estado como problema Além de fronteiras fixas: convergência entre limites territoriais e identidade Estado também permite a reconfiguração da violência: concentração da violência pelo Estado • facilita e legitima expulsão daquele que está fora da esfera moral papel cultural : caráter constitutivo – papel de pertencimento Práticas de state building Construção do Estado homogeneização patológica por meio de expulsões, massacres e genocídios Necessidade de unidade: modernidade – Estado coerente – atos de violência legitimados por esse discurso Não é toda identidade nacional que gera políticas truculentas – só as mais excludentes que entendem a identidade nacional como primordial – fronteiras rígidas força unidade simbólica que pode se dar às custas do extermínio da minoria diferenciada. Estado: diferentes estratégias de homogeneização (grau de polarização) Estado moderno: cristalização – impossibilidade de converter: lógicas “racializadas” genocídio como prática que se torna mais comum nesse contexto: alteridades inassimiláveis Outsiders: fora do normal e da obrigação moral: entendimentos excludentes de identidade Formação de alteridade: Escolha seletiva de recursos históricos – mitos – discurso deve ter significado histórico e cultural para ecoar Jones: conceito amplo casos contestados Casos contestados: Escravidão Ataque nuclear Sanções contra o Iraque Terrorismo (11/09) Violência estrutural: Galtung - relações destrutivas que poderiam ser evitadas Regimes e políticas neoliberais, por exemplo,... Regimes e políticas que marginalizam e geram efeitos letais Previsíveis Caráter difuso X agência em alguns casos (FMI) Debilidade no sistema de saúde Genocídio é justificável? Questão do parâmetro Genocídios dos oprimidos – retribuição/ defensivo – “simpatia “ e maior dificuldade de condenação Defesa – proporcional Mas e se estiver retribuindo a um genocídio? Cuidado: vítimas de maior ou menor valor
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