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Formação em Teologia 1 Volume 03 Formação em Teologia 2 Introdução ao novo testamento O Novo Testamento narra a vida e a obra do Deus encarnado, Jesus Cristo; o marco de um novo tempo para toda a humanidade. É o surgimento do Evangelho, o início da dispensação da graça e da Igreja, relata a evangelização dos povos do mundo através do movimento apostólico e a grande revelação para o fim dos tempos. Ter uma visão panorâmica é essencial para continuar se aprofundando nos seus estudos. Dentro desse entendimento, vamos agora ao Novo Testamento, o segundo tomo da Bíblia e que é composto por vinte e sete (27) livros, sob a seguinte estrutura: CATEGORIA NÚMERO DE LIVROS Evangelhos Quatro (4) livros Livros Históricos Um (1) livro Cartas (Paulinas e Gerais) Vinte e uma (21) cartas Livros Proféticos Um (1) livro I Período intercanônico Antes de nos aprofundarmos no estudo do Novo Testamento, é importante saber que houve um intervalo entre os escritos do Antigo e do Novo Testamento chamado de período intercanônico, que teve a duração aproximada de 430 anos. No último livro do Antigo Testamento, Malaquias, através desse profeta, Deus exorta Israel por sua altivez e também cria a expectativa de um renovo da aliança entre Deus e seu povo. Formação em Teologia 3 II Língua Embora o hebraico seja a língua do povo de Israel, era o aramaico que se falava nos tempos de Jesus. O hebraico era um “idioma sagrado”, reservado para assuntos litúrgicos, como as orações. Não era usado nas atividades sociais e comerciais comuns, ademais, o Novo Testamento foi escrito em grego, que era o idioma mundial corrente, usado no comércio do Mar Mediterrâneo. Alexandre, o Grande (por volta de 360 a.C.), entendia que a melhor forma de conquistar outra nação não era simplesmente através do poderio militar, mas também através da cultura. O povo conquistado militarmente precisava ser conquistado culturalmente, assimilando a tradição do povo dominante. O império romano replicava essa ideia de forma que os povos que eram dominados por Roma, inevitavelmente, tinham contato com a língua do império. A língua vernácula ainda era o latim, mas o próprio senado mantinha seus discursos em grego, entendendo a importância da língua. Para a expansão do cristianismo era estratégico ter seus textos em grego, pois alcançariam mais pessoas e nações, até onde se estendesse o império, se estenderia também a proclamação do evangelho. Por sua força, o império romano absorveu a cultura e filosofia gregas. Estima-se que por volta do ano 50 d.C o território alcançado era de 4 200 000 km² Formação em Teologia 4 O contexto histórico é muito importante para entender os livros bíblicos. Como exemplo do quanto a perspectiva cultural pode enriquecer nosso entendimento, segue adiante, uma das possíveis explicações para o “peixe” como símbolo cristão: Nos três primeiros séculos, os cristãos foram perseguidos pelo império romano. Nesse contexto de perseguição, os cristãos passaram a viver escondidos e criaram um modo de identificar outro cristão, um deles desenhava um arco no chão ou em qualquer lugar possível, se a outra pessoa entendesse e desenhasse outro arco, identificavam que ambos eram cristãos. Os dois arcos sobrepostos formavam um peixe. III Livros Sinóticos A proposta dos sinóticos é ter diferentes livros contando histórias iguais. Ex: Mateus, Marcos e Lucas. Eles não são idênticos, mas contam as mesmas histórias, expressando percepções diferentes. Os livros sinóticos são perspectivas distintas que nos enriquecem. Segue abaixo um gráfico de semelhanças e diferenças: Diferenças Coincidências Mateus 42 58 Marcos 7 93 Lucas 59 41 Formação em Teologia 5 IV Evangelho de Mateus Existem algumas dúvidas sobre a autoria do livro, o debate é se Mateus foi o próprio autor ou se ele foi a “fonte” utilizada para o livro ser escrito. O que sabemos é que Mateus foi um dos doze apóstolos (Atos 1: 13) e um publicano (um sinônimo para coletor de impostos); de acordo com Marcos 2:4, o livro foi escrito para cristãos judeus de fala grega pois há mais de 100 citações ao Antigo Testamento, promovendo uma transição para Novo Testamento - o escritor do Evangelho de Mateus pressupõe que seu leitor esteja familiarizado com o Antigo Testamento. Essas peculiaridades foram notadas pelo teólogo Broadus David Hale, ele sugere a possibilidade de que a palavra “Leuin”, traduzida como “Levi” em Marcos 2: 14 e Lucas 5: 27, seja mais bem expressa como “levita”, indicando que Mateus pertencesse à tribo de Levi, já que um Judeu ter dois nomes não era impossível, mas pouco provável. Se essa posição estiver correta, isso explicaria o fato de Mateus conhecer tão bem a tradição judaica e o ambiente da cultura grega. Data e propósito Mateus foi escrito entre 65-75 d.C. O Evangelho de Mateus mostra que seu alvo era o povo judeu, a intenção do autor é demonstrar que Jesus é o Messias, o filho de Deus, o verdadeiro Rei prometido por Deus e esperado pelo povo de Israel. O tema do livro é o Reino dos Céus, e como os outros evangelhos, foi escrito no momento de separação entre a igreja e a sinagoga. Nessa separação existiam dois problemas, de um lado havia quem estivesse usando a salvação pela graça como pretexto para viver uma vida de promiscuidade, e do outro haviam os legalistas, que impunham uma lista interminável de “sim” e “não”, como regras para o viver diário. Mateus escreveu para combater os dois erros gerados nesses extremos - o legalismo e o antinomismo. Ainda podemos ressaltar o aspecto litúrgico do livro, escrito para preencher as necessidades de adoração e leitura pública. Formação em Teologia 6 V Evangelho de Marcos A maioria dos estudiosos afirma que esse é o livro mais antigo dos quatro evangelhos, entende-se que Marcos é usado como fonte para os outros evangelhos, tendo em vista que cerca de 95% do seu conteúdo é usado por Lucas e Mateus (na contramão, apenas cerca de trinta versículos, dos 661 existentes no livro de Marcos, não aparecem em Mateus e Lucas). O grego utilizado pelo autor é mais rudimentar, em contraste aos evangelhos de Mateus e Lucas que apresentam um grego mais refinado. Segundo Broadus David Hale, “Não se vai do bom ao pior”, assim justificando Marcos como o evangelho mais antigo. Sua autoria é atribuída a João Marcos, filho de Maria (não confundir com a mãe de Jesus), foi na casa de Maria onde Pedro se abrigou depois de ter sido espancado na prisão e conseguido fugir. “E, considerando ele nisto, foi à casa de Maria, mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos estavam reunidos e oravam”. (Atos 12:12) A proximidade entre Marcos e Pedro, revelada nesse versículo, é confirmada pelos pais da Igreja. Eusébio escreve que Marcos foi intérprete de Pedro e que escreveu precisamente tudo o que lembrou, mas não em ordem cronológica. Justino Mártir diz que o livro de Marcos corresponde às memórias de Pedro. Clemente de Alexandria afirma que Pedro ainda estava vivo quando Marcos escreveu e que verificou a precisão da narrativa de Marcos. O autor do evangelho é o mesmo personagem que Paulo e Barnabé levaram na chamada “primeira viagem missionária” (Atos 12: 25), pois era primo de Barnabé. “Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visitá-los, recebam-no.” (Colossenses 4:10) https://www.bibliaonline.com.br/nvi/cl/4/10%2B Formação em Teologia 7 (A versão Almeida Revista e Atualizada traz a palavra “primo” enquanto Almeida Corrigida e Fiel (mais antiga) traz a palavra “sobrinho”) Na segunda viagem missionária, Barnabé quis levar Marcos outra vez, mas Paulo não aceitou (Atos 15:39). No texto de Colossenses,citado anteriormente, Marcos é um dos cooperadores do ministério de Paulo (Filemom 1: 24 confirma esse fato); em 2 Timóteo 4: 11 Paulo pede para Timóteo levar Marcos. Finalmente, a passagem de I Pedro 5:12-13 relata que Marcos está com Pedro. Data e Propósito A datação e o local da escrita do livro de Marcos são alvo de profundo debate e discordância, mas ousamos dizer que provavelmente Marcos escreveu da Itália, em Roma, por volta do ano 65 d. C. De um lado, existia a necessidade do registro escrito do evangelho, e do outro, se o livro foi escrito entre as mortes de Paulo e Pedro, numa igreja perseguida surge a necessidade de uma recompensa pela transmissão das boas-novas baseadas no Kerigma apostólico (mensagem pregada pelos apóstolos), enfatizando a inauguração do Reino e a revelação do Filho do Homem. VI Evangelho de Lucas Lucas apresenta uma riqueza de vocabulário muito acima dos outros evangelhos, sua gramática refinada e o estilo fazem crer que o autor tinha o grego como língua materna e que seja considerado por muitos como “uma perfeita jóia grega”. O livro fala sobre alegria como nenhum outro evangelho, dando ênfase ao Espírito Santo, além de conferir proeminência às mulheres. Ainda é preciso destacar que os livros de Lucas e Atos são dois volumes de uma única obra. Lucas foi o companheiro de Paulo em suas viagens, chamado de “o médico amado”. Há referências sobre ele nos trechos a seguir: Formação em Teologia 8 “Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério.” (2 Timóteo 4:11) “Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas.” (Colossenses 4:14) “Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.” (Filemom 1:24) Uma das evidências que mostra a parceria entre Lucas e Paulo é a mudança para o pronome “nós” por quatro secções em Atos. A primeira em Atos 16:10-17, a segunda em Atos 20:5-1, a terceira em Atos 21:1-18, e a quarta em Atos 27:1-28. Ao compararmos os companheiros de Paulo, eliminando aqueles que são improváveis, nos certificamos tanto da autoria de Lucas quanto da parceria entre ele e Paulo. Além disso, o conteúdo teológico aponta também nessa direção, existem mais de 100 palavras que aparecem nos escritos paulinos, que são encontradas apenas nos livros de Lucas e Atos, é um número que não pode ser ignorado. Existe um registro da tradição cristã, escrito por volta de 160-180 d. C. Tendo o objetivo de combater uma heresia chamada Marcionismo, diz: “Lucas é Sírio de Antioquia, um médico por profissão, que foi discípulo dos apóstolos, e posteriormente acompanhou Paulo até o seu martírio. Serviu ao Senhor sem cessar, solteiro sem filhos, e dormiu com a idade de 84 anos na Beócia, cheio do Espírito Santo.”¹ Concluindo, o Evangelho de Lucas se distingue pelo interesse nas relações pessoais entre pobres e ricos, judeus e samaritanos. Data e propósito É datado por volta de 70 d.C. (depois de Cristo), quanto ao seu propósito, o próprio início do livro nos oferece orientação, primeiramente, tinha a intenção de dar certeza às pessoas daquela comunidade, para que pudessem “conhecer a verdade”; em segundo lugar, tinha a finalidade de apresentar um relato ordenado, não em relação à cronologia dos eventos, mas especialmente sua organização e estruturação da mensagem. No que diz Formação em Teologia 9 respeito à marcante divergência entre judeus e cristãos, Lucas visava promover a comunhão entre os convertidos de origens distintas. Finalmente, havia um problema enfrentado pelos cristãos de segunda geração: a aparente demora na volta de Jesus - Lucas escreve para que a “consciência da parousia” (volta de Jesus) fosse melhor compreendida. VII Evangelho de João A simplicidade e a limitação do vocabulário em grego contrastam com a profundidade teológica. De um lado se apresenta a clareza marcante, ao passo que de outro uma infindável fonte de sabedoria. Os críticos modernos tendem a serem bastante resistentes em receberem o Apóstolo João como o autor do quarto evangelho, apesar do texto bíblico dizer: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.” (João 1:6). Afirmam ser esse João algum mártir da primeira geração de cristãos, entretanto, permanece a tradição cristã de que o autor do Evangelho de João era judeu, testemunha ocular de Jesus e era o próprio apóstolo. Por ter participado da ceia e ser a única testemunha, entre os apóstolos, da crucificação, esse evangelho nos revela a ocasião na qual Pedro pergunta sobre o futuro do discípulo: “E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse- lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue- me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”. (João 21: 21- 24) https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/1/6%2B Formação em Teologia 10 Afirmamos que a tradição cristã crê no testemunho do próprio texto, que diz que o autor é o mesmo discípulo amado. Data e propósito Foi escrito possivelmente na última ou penúltima década do primeiro século, sendo o livro mais tardio. O próprio evangelho declara o seu propósito de forma explícita: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”. (João 20:31) À época em que foi escrito, já começavam a surgir as primeiras sementes do gnosticismo na sociedade da época. Embora também seja dotado de narrativa histórica, o evangelho de João é característico por sua intenção de combater o gnosticismo. Sendo assim, era um livro com viés apologético, isto é, de defesa do cristianismo. Ao mesmo tempo, tinha cunho evangelístico, visando fortalecer a fé dos que já criam. As respostas teológicas oferecidas por João, além de profundas, carregavam em si muito conhecimento prático. Uma união completa de elementos teóricos densos e uma linguagem tranqüila, voltada para o povo. VIII Atos É um livro histórico, e dos livros do Novo Testamento, Atos é o único que visa apresentar uma narrativa dos fatos imediatamente seguintes à morte e ressurreição de Cristo, os primeiros passos e desafios. Se o evangelho prevê a igreja e as epístolas pressupõem a Igreja, o livro de Atos faz uma ponte entre os evangelhos e as epístolas. Sendo assim, esse livro foi escrito para descrever o surgimento e o desenvolvimento da Igreja. A autoria, já mencionada, cabe a Lucas, e foi escrito depois do evangelho, provavelmente na década de 60 d.C. https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/20/31%2B Formação em Teologia 11 Propósito “Uma narrativa de tudo que Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar”. A história apresentada em Atos não se reduz aos atos dos apóstolos ou até mesmo aos atos da igreja. É preciso entender que as ações e eventos narrados em Atos são necessariamente a continuação das obras de Jesus, “Lucas interpretou e escreveu sobre os eventos para dar certeza a cada cristão daquela geração e, por extensão, aos cristãos de todas as gerações, de que o movimento cristão não resultou de especulações filosóficas humanas, de interesse político, tão pouco de narrativas mitológicas ou lendas; mas, de uma revelação do único Deus verdadeiro, demonstrando no tempo e na história a iniciativa graciosa e amorosa de Deus em cada etapa: seja na sua encarnação, no seu ministério, na sua morte, e na ressurreição, a exaltação do Senhor Jesus Cristo”.IX Cartas Ao contrário do que se supõe, as cartas foram escritas antes dos evangelhos. Os evangelhos foram escritos somente alguns anos após o registro de todas as epístolas. As cartas foram escritas para resolverem problemas teológicos, ou ainda questões práticas na vida das comunidades que acabaram de nascer. Eram levadas ao seu destinatário por alguém de confiança para que a carta pudesse ser lida pela comunidade. Cartas eram usadas para a comunicação comercial, oficial ou particular e também tiveram utilidade até mesmo como uma espécie de anúncio público, “cartas abertas” que informavam ao público sobre itens dignos de nota. Dois modelos se distinguiam: “cartas genuínas” e as “epístolas”. A carta era pessoal e dirigida a uma pessoa em particular tratando de uma questão específica, já as epístolas eram dispositivos literários, tendo em vista uma audiência maior de leitores, sua finalidade era ser publicada pois havia a intenção de que seus argumentos fossem conhecidos - os textos bíblicos se enquadram nas duas descrições. À época, o comum era uma média de 90 palavras, sendo que o normal das epístolas era por volta de 200 palavras. As cartas de Paulo tinham em média Formação em Teologia 12 1300 palavras; Filemom, a menor carta de Paulo, tem 335 palavras; Romanos, a maior, tem 7.101; Fica claro que as cartas de Paulo eram endereçadas a pessoas e públicos específicos, mas a universalidade e a profundidade de seus conteúdos fizeram com que fossem consideradas verdadeiras composições literárias, conhecidas como “epístolas”. Amanuenses A maior parte das cartas foi escrita por escribas profissionais, eles eram chamados “amanuenses”, e cobravam pelo número de linhas. De costume, a carta começava com o nome do remetente e um título que o identificaria ao receptor, seguia uma saudação (os judeus usavam “paz”). A carta era feita de papiro enrolado e escrita com tinta de pouca qualidade, era necessário que o amanuense usasse o tinteiro constantemente, e no fim do processo, o amanuense cortaria o papiro no número equivalente ao de “páginas”, depois enrolaria e selaria com cera. Cartas paulinas As epístolas são divididas em dois grupos: Paulinas e Gerais, sendo as primeiras escritas somente por Paulo e as últimas por outros apóstolos. Vamos começar tratando das categorias entre as próprias cartas paulinas. São treze (13) ao todo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e por último a epístola de Filemom. Durante a segunda viagem missionária em Corinto, entre os anos 49 e 52 d.C, Paulo escreveu I e II Tessalonicenses. No curso da terceira viagem missionária, entre 52 a 56 d. C, quando se encontrava em Éfeso, escreveu I Coríntios e a carta de II Coríntios foi escrita ainda na terceira viagem missionária, quando estava na Macedônia. Gálatas e Romanos escreveu estando na cidade grega de Corinto. Durante o primeiro aprisionamento em Roma, por volta de 58-60 d. C, escreveu Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon; e as epístolas pastorais, que são as duas cartas a Timóteo e uma a Tito, foram escritas entre 62-65 d. C. Escreveu 1 Timóteo estando na Formação em Teologia 13 Macedônia e a carta a Tito pode ter sido redigida lá também (ou em Corinto); por fim, 2 Timóteo foi escrita em Roma, pouco antes de sua morte. A carta aos Tessalonicenses é reconhecida por seu viés escatológico, já as cartas da terceira viagem missionária, falam de soteriologia (doutrina da salvação). Por sua vez, as cartas que Paulo escreveu na prisão, ensinam sobre cristologia. Por uma questão lógica e prática, as epístolas pastorais dão ênfase à eclesiologia (ensinos sobre a igreja). Vale lembrar que muitas cartas tratam de todas as doutrinas, a distinção é para fins de estudo e revela as particularidades. Cartas gerais Como supracitado, foram escritas pelos outros apóstolos e são oito (8) no total: Tiago; 1, 2 e 3 João; 1 e 2 Pedro; Judas; Hebreus. São encíclicas, isto é, não foram endereçadas a uma igreja específica, mas a todas as igrejas. A epístola de Tiago é considerada literatura de sabedoria e funciona no Novo Testamento como “Provérbios” funciona no Antigo Testamento. Em I Pedro a palavra-chave é “esperança”. Foi feita para os cristãos que estiveram debaixo de pressão durante muito tempo e ainda enfrentariam muitos desafios. Pedro exorta aos seus leitores que transformem suas esperanças em algo atraente para as pessoas da sociedade em que vivem, dando conselhos práticos para ajudar nas relações do dia a dia. Tanto em II Pedro quanto em Judas o objetivo é a defesa da fé. Os autores se preocupam com os falsos mestres, combatendo suas heresias e advertindo seus leitores do engano e do estrago que estes produziam. As epístolas joaninas também foram escritas com o propósito de advertir os cristãos dos falsos mestres e suas heresias, que é um dos sinais escatológicos, esses falsos mestres haviam sido membros da igreja, mas são tratados como crentes ilegítimos e estão agrupados debaixo do espírito do anticristo. As epístolas de João apresentam quatro pontos em comum: ● Escatologia - A promessa da vinda de Jesus, a vida eterna, e o dia do juízo como sendo atividade do próprio Cristo. Formação em Teologia 14 ● Morte de Cristo - Apresentada como propiciatória, a morte de Cristo é ensinada no evangelho de João para despertar a fé, ao passo que nas epístolas foram escritas para aprofundar a convicção do crente ● Espírito Santo - É aquele que está presente no cristão. Nos evangelhos o Espírito aparece, e nas epístolas é uma forma de autenticar a experiência da salvação. ● Centralidade de Cristo - No evangelho de João, Deus é apresentado como Espírito ( O Espírito de Deus) enquanto na epístola João se preocupa em apresentar Jesus Cristo como o centro da nossa fé. X Hebreus O livro de Hebreus se diferencia dos demais livros da bíblia, tem início como um tratado teológico, continua como um sermão e termina como uma carta. O vocabulário se revela no melhor grego literário do Novo Testamento e o conteúdo do texto mostra que o autor está bastante familiarizado tanto com o Antigo Testamento quanto com a forma que era interpretada no primeiro século. A autoria de Hebreus é alvo de muita especulação até os dias de hoje, podendo ser Paulo, Lucas, Barnabé, Apolo ou Silvano, e, apesar de muitas hipóteses, o consenso repousa na impossibilidade de identificar o real autor. Propósito O livro foi escrito com o propósito de evangelizar Judeus não convertidos, apresentando Jesus como o messias prometido de Israel, além de advertir contra a apostasia e de exortar a maturidade cristã. Formação em Teologia 15 XI Apocalipse Encontramos três gêneros literários distintos em Apocalipse: epístola, profecia e o próprio gênero apocalíptico. O Livro de Apocalipse precisa ser visto como fonte de fé e motivação para os cristãos na luta contra o sofrimento, pois o maior objetivo deste livro é produzir “esperança” no coração do cristão diante de desafios cada vez maiores. A literatura apocalíptica pode ser considerada um “tratado para tempos difíceis” e surgiu em um momento onde a voz profética estava escassa, com o propósito de dar direcionamento ao povo. Buscava responder questões fundamentais, como o sofrimento dos justos, e apontava para um tempo futuro onde Deus iria intervir para julgar o mundo e estabelecer a justiça. É possível traçar algumas características que diferenciam esse livro profético. ● Escatológica - por apontar para o futuro; ● Significação histórica - com o peso do sofrimento e da perseguição, o Apocalipse mostra o significado da história e sua direção. ● Defesa radical dos justos - Lembrando que estes eram, e ainda são, espremidos pelo sofrimento e perseguição,o livro é uma resposta ao anseio dos escolhidos. ● Visões - são usadas como meio de revelação da mensagem. ● Simbolismo - ao invés do que o senso comum costuma imaginar, o simbolismo em Apocalipse não tem o objetivo de amedrontar o leitor, mas de ajudá-lo a compreender a obra de Deus frente ao fim da história. O símbolo tanto serve ao fim de expressar o significado de realidades espirituais, de forma a serem mais facilmente assimiladas, quanto funciona como barreira àqueles que não conhecem seus significados. Formação em Teologia 16 Existia naquela época um grupo chamado Concilia, formado de oficiais romanos que andavam de cidade em cidade com o propósito de promover o culto ao imperador. Dentre suas competências, esse grupo ouvia as acusações feitas contra quem se recusava a dizer “César é Senhor”, esses eram levados para fazer a sua confissão em público e sua resistência era punida com a morte. Durante esse momento, localizado no primeiro século, vários templos foram erguidos por todo o império, César Domiciano, ao se declarar a personificação da deusa do império romano, foi o primeiro imperador a forçar essas práticas de culto. João, movido pelo Espírito, escreve às igrejas mostrando quem é o Senhor da História. Ele convocava o povo de Deus a ter fé e esperança até o fim. Não devemos perder de vista o tom profético do livro, as profecias apontam para fatos reais que aconteceram no passado, que estão se realizando no presente e que se realizarão no futuro, até o fim da história. Esses eventos reais são descritos de maneira simbólica, lembrando mais uma vez que essas profecias são dadas por meio de linguagem simbólica, seria um erro terrível as interpretar literalmente sem levar em conta seus profundos significados. XII Datação Depois do ano 50, as primeiras cartas que temos registro por ordem cronológica são 1 e 2 Tessalonicenses. Logo depois veio Gálatas, seguida de 1 e 2 Coríntios, continuando o registro veio Romanos e, por fim, Tiago. Formação em Teologia 17 Na década de 60 vemos Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Quando estamos chegando à década de 70 vemos 1 e 2 Timóteo e Tito; 1 e 2 Pedro aparecem ainda na década de 60, bem como o livro de Hebreus. Chegando à década de 70 temos o aparecimento do livro de Marcos, seguido de Mateus, e no final da década de 70 registram-se Lucas e Atos. Na década de 80 vemos Judas, e na década de 90, Apocalipse, João e às três epístolas de João. Formação em Teologia 18 Observe abaixo a imagem com a figura que ilustra os livros do Novo Testamento. Lembre que as datas no período bíblico são alvos de profundo debate, sempre havendo discordância entre os estudiosos e historiadores. É ponto pacífico que sempre ocorrerão algumas discrepâncias nas datas e justamente esse aparente problema demonstra o valor histórico desses registros, a historicidade não é uma ciência exata, como a matemática, nem por isso menos verdadeira. Formação em Teologia 19 Formação em Teologia 20 Notas: 1 - Citado em F.F. Bruce, The acts of the Apostle. Bibliografia Sugerida: HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento (Tradução de Cláudio Vital de Souza- São Paulo: Hagnos,2001) PRICE , Randall. Manual de arqueologia bíblica (Thomas Nelson/ Randall Price e H Wayne House; tradução de Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas Nelson. 2020) KLEIN, William W. HUBBARD JR, Robert L. BLOMBERG, Craig L (Tradução Maurício Bezerra Santos Silva. 1 ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017) DOCKERY, David S. Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery; tradução: Lucy Yamakami. Hans Udo Fuchs, Robinson Malkomes. São Paulo: Edições Vida Nova,2001) Formação em Teologia 21
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