Buscar

Introdução ao NT - 003 Modulo 01 A03 Formação em Teologia

Prévia do material em texto

Formação em Teologia 
1 
 
 
Volume 03 
 
Formação em Teologia 
2 
 
Introdução ao novo testamento 
O Novo Testamento narra a vida e a obra do Deus encarnado, Jesus Cristo; 
o marco de um novo tempo para toda a humanidade. É o surgimento do 
Evangelho, o início da dispensação da graça e da Igreja, relata a evangelização 
dos povos do mundo através do movimento apostólico e a grande revelação para 
o fim dos tempos. Ter uma visão panorâmica é essencial para continuar se 
aprofundando nos seus estudos. Dentro desse entendimento, vamos agora ao 
Novo Testamento, o segundo tomo da Bíblia e que é composto por vinte e sete (27) 
livros, sob a seguinte estrutura: 
 
CATEGORIA NÚMERO DE LIVROS 
Evangelhos Quatro (4) livros 
Livros Históricos Um (1) livro 
Cartas (Paulinas e Gerais) Vinte e uma (21) cartas 
Livros Proféticos Um (1) livro 
 
I Período intercanônico 
Antes de nos aprofundarmos no estudo do Novo Testamento, é importante 
saber que houve um intervalo entre os escritos do Antigo e do Novo Testamento 
chamado de período intercanônico, que teve a duração aproximada de 430 anos. 
No último livro do Antigo Testamento, Malaquias, através desse profeta, Deus 
exorta Israel por sua altivez e também cria a expectativa de um renovo da aliança 
entre Deus e seu povo. 
 
 
Formação em Teologia 
3 
 
II Língua 
Embora o hebraico seja a língua do povo de Israel, era o aramaico que se 
falava nos tempos de Jesus. O hebraico era um “idioma sagrado”, reservado para 
assuntos litúrgicos, como as orações. Não era usado nas atividades sociais e 
comerciais comuns, ademais, o Novo Testamento foi escrito em grego, que era o 
idioma mundial corrente, usado no comércio do Mar Mediterrâneo. 
Alexandre, o Grande (por volta de 360 a.C.), entendia que a melhor forma de 
conquistar outra nação não era simplesmente através do poderio militar, mas 
também através da cultura. O povo conquistado militarmente precisava ser 
conquistado culturalmente, assimilando a tradição do povo dominante. O império 
romano replicava essa ideia de forma que os povos que eram dominados por Roma, 
inevitavelmente, tinham contato com a língua do império. A língua vernácula ainda 
era o latim, mas o próprio senado mantinha seus discursos em grego, entendendo 
a importância da língua. Para a expansão do cristianismo era estratégico ter seus 
textos em grego, pois alcançariam mais pessoas e nações, até onde se estendesse 
o império, se estenderia também a proclamação do evangelho. Por sua força, o 
império romano absorveu a cultura e filosofia gregas. Estima-se que por volta do 
ano 50 d.C o território alcançado era de 4 200 000 km² 
 
 
 
Formação em Teologia 
4 
 
O contexto histórico é muito importante para entender os livros bíblicos. 
Como exemplo do quanto a perspectiva cultural pode enriquecer nosso 
entendimento, segue adiante, uma das possíveis explicações para o “peixe” como 
símbolo cristão: 
 
 
 
Nos três primeiros séculos, os cristãos foram perseguidos pelo império 
romano. Nesse contexto de perseguição, os cristãos passaram a viver escondidos e 
criaram um modo de identificar outro cristão, um deles desenhava um arco no chão 
ou em qualquer lugar possível, se a outra pessoa entendesse e desenhasse outro 
arco, identificavam que ambos eram cristãos. Os dois arcos sobrepostos formavam 
um peixe. 
 
III Livros Sinóticos 
A proposta dos sinóticos é ter diferentes livros contando histórias iguais. Ex: 
Mateus, Marcos e Lucas. Eles não são idênticos, mas contam as mesmas histórias, 
expressando percepções diferentes. Os livros sinóticos são perspectivas distintas 
que nos enriquecem. Segue abaixo um gráfico de semelhanças e diferenças: 
 
 Diferenças Coincidências 
Mateus 42 58 
Marcos 7 93 
Lucas 59 41 
 
Formação em Teologia 
5 
 
IV Evangelho de Mateus 
Existem algumas dúvidas sobre a autoria do livro, o debate é se Mateus foi 
o próprio autor ou se ele foi a “fonte” utilizada para o livro ser escrito. O que 
sabemos é que Mateus foi um dos doze apóstolos (Atos 1: 13) e um publicano (um 
sinônimo para coletor de impostos); de acordo com Marcos 2:4, o livro foi escrito 
para cristãos judeus de fala grega pois há mais de 100 citações ao Antigo 
Testamento, promovendo uma transição para Novo Testamento - o escritor do 
Evangelho de Mateus pressupõe que seu leitor esteja familiarizado com o Antigo 
Testamento. Essas peculiaridades foram notadas pelo teólogo Broadus David Hale, 
ele sugere a possibilidade de que a palavra “Leuin”, traduzida como “Levi” em 
Marcos 2: 14 e Lucas 5: 27, seja mais bem expressa como “levita”, indicando que 
Mateus pertencesse à tribo de Levi, já que um Judeu ter dois nomes não era 
impossível, mas pouco provável. Se essa posição estiver correta, isso explicaria o 
fato de Mateus conhecer tão bem a tradição judaica e o ambiente da cultura grega. 
 
Data e propósito 
Mateus foi escrito entre 65-75 d.C. 
 
O Evangelho de Mateus mostra que seu alvo era o povo judeu, a intenção do autor 
é demonstrar que Jesus é o Messias, o filho de Deus, o verdadeiro Rei prometido por Deus 
e esperado pelo povo de Israel. O tema do livro é o Reino dos Céus, e como os outros 
evangelhos, foi escrito no momento de separação entre a igreja e a sinagoga. Nessa 
separação existiam dois problemas, de um lado havia quem estivesse usando a salvação 
pela graça como pretexto para viver uma vida de promiscuidade, e do outro haviam os 
legalistas, que impunham uma lista interminável de “sim” e “não”, como regras para o viver 
diário. Mateus escreveu para combater os dois erros gerados nesses extremos - o 
legalismo e o antinomismo. Ainda podemos ressaltar o aspecto litúrgico do livro, escrito 
para preencher as necessidades de adoração e leitura pública. 
 
 
Formação em Teologia 
6 
 
V Evangelho de Marcos 
A maioria dos estudiosos afirma que esse é o livro mais antigo dos quatro 
evangelhos, entende-se que Marcos é usado como fonte para os outros evangelhos, 
tendo em vista que cerca de 95% do seu conteúdo é usado por Lucas e Mateus (na 
contramão, apenas cerca de trinta versículos, dos 661 existentes no livro de Marcos, 
não aparecem em Mateus e Lucas). O grego utilizado pelo autor é mais rudimentar, 
em contraste aos evangelhos de Mateus e Lucas que apresentam um grego mais 
refinado. Segundo Broadus David Hale, “Não se vai do bom ao pior”, assim 
justificando Marcos como o evangelho mais antigo. Sua autoria é atribuída a João 
Marcos, filho de Maria (não confundir com a mãe de Jesus), foi na casa de Maria 
onde Pedro se abrigou depois de ter sido espancado na prisão e conseguido fugir. 
 
“E, considerando ele nisto, foi à casa de Maria, mãe de João, que tinha por 
sobrenome Marcos, onde muitos estavam reunidos e oravam”. (Atos 12:12) 
 
A proximidade entre Marcos e Pedro, revelada nesse versículo, é confirmada 
pelos pais da Igreja. Eusébio escreve que Marcos foi intérprete de Pedro e que 
escreveu precisamente tudo o que lembrou, mas não em ordem cronológica. 
Justino Mártir diz que o livro de Marcos corresponde às memórias de Pedro. 
Clemente de Alexandria afirma que Pedro ainda estava vivo quando Marcos 
escreveu e que verificou a precisão da narrativa de Marcos. O autor do evangelho 
é o mesmo personagem que Paulo e Barnabé levaram na chamada “primeira 
viagem missionária” (Atos 12: 25), pois era primo de Barnabé. 
 
“Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem como Marcos, 
primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for 
visitá-los, recebam-no.” (Colossenses 4:10) 
 
https://www.bibliaonline.com.br/nvi/cl/4/10%2B
 
Formação em Teologia 
7 
 
(A versão Almeida Revista e Atualizada traz a palavra “primo” enquanto Almeida 
Corrigida e Fiel (mais antiga) traz a palavra “sobrinho”) 
 
Na segunda viagem missionária, Barnabé quis levar Marcos outra vez, mas 
Paulo não aceitou (Atos 15:39). No texto de Colossenses,citado anteriormente, 
Marcos é um dos cooperadores do ministério de Paulo (Filemom 1: 24 confirma 
esse fato); em 2 Timóteo 4: 11 Paulo pede para Timóteo levar Marcos. Finalmente, 
a passagem de I Pedro 5:12-13 relata que Marcos está com Pedro. 
 
Data e Propósito 
A datação e o local da escrita do livro de Marcos são alvo de profundo debate e 
discordância, mas ousamos dizer que provavelmente Marcos escreveu da Itália, em Roma, 
por volta do ano 65 d. C. De um lado, existia a necessidade do registro escrito do evangelho, 
e do outro, se o livro foi escrito entre as mortes de Paulo e Pedro, numa igreja perseguida 
surge a necessidade de uma recompensa pela transmissão das boas-novas baseadas no 
Kerigma apostólico (mensagem pregada pelos apóstolos), enfatizando a inauguração do 
Reino e a revelação do Filho do Homem. 
 
VI Evangelho de Lucas 
Lucas apresenta uma riqueza de vocabulário muito acima dos outros 
evangelhos, sua gramática refinada e o estilo fazem crer que o autor tinha o grego 
como língua materna e que seja considerado por muitos como “uma perfeita jóia 
grega”. O livro fala sobre alegria como nenhum outro evangelho, dando ênfase ao 
Espírito Santo, além de conferir proeminência às mulheres. Ainda é preciso 
destacar que os livros de Lucas e Atos são dois volumes de uma única obra. Lucas 
foi o companheiro de Paulo em suas viagens, chamado de “o médico amado”. Há 
referências sobre ele nos trechos a seguir: 
 
 
 
Formação em Teologia 
8 
 
“Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o 
ministério.” (2 Timóteo 4:11) 
 
“Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas.” (Colossenses 4:14) 
 
 “Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.” (Filemom 1:24) 
 
Uma das evidências que mostra a parceria entre Lucas e Paulo é a mudança 
para o pronome “nós” por quatro secções em Atos. A primeira em Atos 16:10-17, a 
segunda em Atos 20:5-1, a terceira em Atos 21:1-18, e a quarta em Atos 27:1-28. Ao 
compararmos os companheiros de Paulo, eliminando aqueles que são improváveis, 
nos certificamos tanto da autoria de Lucas quanto da parceria entre ele e Paulo. 
Além disso, o conteúdo teológico aponta também nessa direção, existem mais de 
100 palavras que aparecem nos escritos paulinos, que são encontradas apenas nos 
livros de Lucas e Atos, é um número que não pode ser ignorado. 
Existe um registro da tradição cristã, escrito por volta de 160-180 d. C. Tendo 
o objetivo de combater uma heresia chamada Marcionismo, diz: “Lucas é Sírio de 
Antioquia, um médico por profissão, que foi discípulo dos apóstolos, e 
posteriormente acompanhou Paulo até o seu martírio. Serviu ao Senhor sem 
cessar, solteiro sem filhos, e dormiu com a idade de 84 anos na Beócia, cheio do 
Espírito Santo.”¹ Concluindo, o Evangelho de Lucas se distingue pelo interesse nas 
relações pessoais entre pobres e ricos, judeus e samaritanos. 
 
Data e propósito 
É datado por volta de 70 d.C. (depois de Cristo), quanto ao seu propósito, o próprio 
início do livro nos oferece orientação, primeiramente, tinha a intenção de dar certeza às 
pessoas daquela comunidade, para que pudessem “conhecer a verdade”; em segundo 
lugar, tinha a finalidade de apresentar um relato ordenado, não em relação à cronologia 
dos eventos, mas especialmente sua organização e estruturação da mensagem. No que diz 
 
Formação em Teologia 
9 
 
respeito à marcante divergência entre judeus e cristãos, Lucas visava promover a 
comunhão entre os convertidos de origens distintas. Finalmente, havia um problema 
enfrentado pelos cristãos de segunda geração: a aparente demora na volta de Jesus - 
Lucas escreve para que a “consciência da parousia” (volta de Jesus) fosse melhor 
compreendida. 
 
VII Evangelho de João 
A simplicidade e a limitação do vocabulário em grego contrastam com a 
profundidade teológica. De um lado se apresenta a clareza marcante, ao passo que 
de outro uma infindável fonte de sabedoria. Os críticos modernos tendem a serem 
bastante resistentes em receberem o Apóstolo João como o autor do quarto 
evangelho, apesar do texto bíblico dizer: “Houve um homem enviado de Deus, cujo 
nome era João.” (João 1:6). Afirmam ser esse João algum mártir da primeira 
geração de cristãos, entretanto, permanece a tradição cristã de que o autor do 
Evangelho de João era judeu, testemunha ocular de Jesus e era o próprio apóstolo. 
Por ter participado da ceia e ser a única testemunha, entre os apóstolos, da 
crucificação, esse evangelho nos revela a ocasião na qual Pedro pergunta sobre o 
futuro do discípulo: 
 
“E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que 
na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que 
te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-
lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-
me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia 
de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele 
fique até que eu venha, que te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas 
coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”. (João 21: 21-
24) 
 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/1/6%2B
 
Formação em Teologia 
10 
 
Afirmamos que a tradição cristã crê no testemunho do próprio texto, que diz que o 
autor é o mesmo discípulo amado. 
 
Data e propósito 
Foi escrito possivelmente na última ou penúltima década do primeiro século, sendo 
o livro mais tardio. O próprio evangelho declara o seu propósito de forma explícita: 
 
“Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para 
que, crendo, tenhais vida em seu nome”. (João 20:31) 
 
À época em que foi escrito, já começavam a surgir as primeiras sementes do 
gnosticismo na sociedade da época. Embora também seja dotado de narrativa histórica, o 
evangelho de João é característico por sua intenção de combater o gnosticismo. Sendo 
assim, era um livro com viés apologético, isto é, de defesa do cristianismo. Ao mesmo 
tempo, tinha cunho evangelístico, visando fortalecer a fé dos que já criam. As respostas 
teológicas oferecidas por João, além de profundas, carregavam em si muito conhecimento 
prático. Uma união completa de elementos teóricos densos e uma linguagem tranqüila, 
voltada para o povo. 
 
VIII Atos 
É um livro histórico, e dos livros do Novo Testamento, Atos é o único que visa 
apresentar uma narrativa dos fatos imediatamente seguintes à morte e 
ressurreição de Cristo, os primeiros passos e desafios. Se o evangelho prevê a 
igreja e as epístolas pressupõem a Igreja, o livro de Atos faz uma ponte entre os 
evangelhos e as epístolas. Sendo assim, esse livro foi escrito para descrever o 
surgimento e o desenvolvimento da Igreja. A autoria, já mencionada, cabe a Lucas, 
e foi escrito depois do evangelho, provavelmente na década de 60 d.C. 
 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/20/31%2B
 
Formação em Teologia 
11 
 
Propósito 
“Uma narrativa de tudo que Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar”. A 
história apresentada em Atos não se reduz aos atos dos apóstolos ou até mesmo aos atos 
da igreja. É preciso entender que as ações e eventos narrados em Atos são 
necessariamente a continuação das obras de Jesus, “Lucas interpretou e escreveu sobre 
os eventos para dar certeza a cada cristão daquela geração e, por extensão, aos cristãos 
de todas as gerações, de que o movimento cristão não resultou de especulações filosóficas 
humanas, de interesse político, tão pouco de narrativas mitológicas ou lendas; mas, de uma 
revelação do único Deus verdadeiro, demonstrando no tempo e na história a iniciativa 
graciosa e amorosa de Deus em cada etapa: seja na sua encarnação, no seu ministério, na 
sua morte, e na ressurreição, a exaltação do Senhor Jesus Cristo”.IX Cartas 
Ao contrário do que se supõe, as cartas foram escritas antes dos evangelhos. 
Os evangelhos foram escritos somente alguns anos após o registro de todas as 
epístolas. As cartas foram escritas para resolverem problemas teológicos, ou ainda 
questões práticas na vida das comunidades que acabaram de nascer. Eram levadas 
ao seu destinatário por alguém de confiança para que a carta pudesse ser lida pela 
comunidade. Cartas eram usadas para a comunicação comercial, oficial ou 
particular e também tiveram utilidade até mesmo como uma espécie de anúncio 
público, “cartas abertas” que informavam ao público sobre itens dignos de nota. 
 
Dois modelos se distinguiam: “cartas genuínas” e as “epístolas”. A carta era 
pessoal e dirigida a uma pessoa em particular tratando de uma questão específica, 
já as epístolas eram dispositivos literários, tendo em vista uma audiência maior de 
leitores, sua finalidade era ser publicada pois havia a intenção de que seus 
argumentos fossem conhecidos - os textos bíblicos se enquadram nas duas 
descrições. À época, o comum era uma média de 90 palavras, sendo que o normal 
das epístolas era por volta de 200 palavras. As cartas de Paulo tinham em média 
 
Formação em Teologia 
12 
 
1300 palavras; Filemom, a menor carta de Paulo, tem 335 palavras; Romanos, a 
maior, tem 7.101; Fica claro que as cartas de Paulo eram endereçadas a pessoas e 
públicos específicos, mas a universalidade e a profundidade de seus conteúdos 
fizeram com que fossem consideradas verdadeiras composições literárias, 
conhecidas como “epístolas”. 
 
Amanuenses 
A maior parte das cartas foi escrita por escribas profissionais, eles eram chamados 
“amanuenses”, e cobravam pelo número de linhas. De costume, a carta começava com o 
nome do remetente e um título que o identificaria ao receptor, seguia uma saudação (os 
judeus usavam “paz”). A carta era feita de papiro enrolado e escrita com tinta de pouca 
qualidade, era necessário que o amanuense usasse o tinteiro constantemente, e no fim do 
processo, o amanuense cortaria o papiro no número equivalente ao de “páginas”, depois 
enrolaria e selaria com cera. 
 
Cartas paulinas 
As epístolas são divididas em dois grupos: Paulinas e Gerais, sendo as primeiras 
escritas somente por Paulo e as últimas por outros apóstolos. Vamos começar tratando 
das categorias entre as próprias cartas paulinas. São treze (13) ao todo: Romanos, 1 e 2 
Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, 
Tito e por último a epístola de Filemom. 
Durante a segunda viagem missionária em Corinto, entre os anos 49 e 52 d.C, 
Paulo escreveu I e II Tessalonicenses. No curso da terceira viagem missionária, entre 52 a 
56 d. C, quando se encontrava em Éfeso, escreveu I Coríntios e a carta de II Coríntios foi 
escrita ainda na terceira viagem missionária, quando estava na Macedônia. Gálatas e 
Romanos escreveu estando na cidade grega de Corinto. 
Durante o primeiro aprisionamento em Roma, por volta de 58-60 d. C, escreveu 
Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon; e as epístolas pastorais, que são as duas cartas 
a Timóteo e uma a Tito, foram escritas entre 62-65 d. C. Escreveu 1 Timóteo estando na 
 
 
Formação em Teologia 
13 
 
Macedônia e a carta a Tito pode ter sido redigida lá também (ou em Corinto); por fim, 2 
Timóteo foi escrita em Roma, pouco antes de sua morte. 
A carta aos Tessalonicenses é reconhecida por seu viés escatológico, já as cartas 
da terceira viagem missionária, falam de soteriologia (doutrina da salvação). Por sua vez, 
as cartas que Paulo escreveu na prisão, ensinam sobre cristologia. Por uma questão lógica 
e prática, as epístolas pastorais dão ênfase à eclesiologia (ensinos sobre a igreja). Vale 
lembrar que muitas cartas tratam de todas as doutrinas, a distinção é para fins de estudo 
e revela as particularidades. 
 
Cartas gerais 
Como supracitado, foram escritas pelos outros apóstolos e são oito (8) no total: 
Tiago; 1, 2 e 3 João; 1 e 2 Pedro; Judas; Hebreus. São encíclicas, isto é, não foram 
endereçadas a uma igreja específica, mas a todas as igrejas. 
A epístola de Tiago é considerada literatura de sabedoria e funciona no Novo 
Testamento como “Provérbios” funciona no Antigo Testamento. 
Em I Pedro a palavra-chave é “esperança”. Foi feita para os cristãos que estiveram 
debaixo de pressão durante muito tempo e ainda enfrentariam muitos desafios. Pedro 
exorta aos seus leitores que transformem suas esperanças em algo atraente para as 
pessoas da sociedade em que vivem, dando conselhos práticos para ajudar nas relações 
do dia a dia. Tanto em II Pedro quanto em Judas o objetivo é a defesa da fé. Os autores se 
preocupam com os falsos mestres, combatendo suas heresias e advertindo seus leitores 
do engano e do estrago que estes produziam. 
As epístolas joaninas também foram escritas com o propósito de advertir os 
cristãos dos falsos mestres e suas heresias, que é um dos sinais escatológicos, esses falsos 
mestres haviam sido membros da igreja, mas são tratados como crentes ilegítimos e estão 
agrupados debaixo do espírito do anticristo. As epístolas de João apresentam quatro 
pontos em comum: 
 
● Escatologia - A promessa da vinda de Jesus, a vida eterna, e o dia do juízo como 
sendo atividade do próprio Cristo. 
 
 
Formação em Teologia 
14 
 
● Morte de Cristo - Apresentada como propiciatória, a morte de Cristo é ensinada no 
evangelho de João para despertar a fé, ao passo que nas epístolas foram escritas 
para aprofundar a convicção do crente 
 
● Espírito Santo - É aquele que está presente no cristão. Nos evangelhos o Espírito 
aparece, e nas epístolas é uma forma de autenticar a experiência da salvação. 
 
● Centralidade de Cristo - No evangelho de João, Deus é apresentado como Espírito 
( O Espírito de Deus) enquanto na epístola João se preocupa em apresentar Jesus 
Cristo como o centro da nossa fé. 
 
X Hebreus 
O livro de Hebreus se diferencia dos demais livros da bíblia, tem início como 
um tratado teológico, continua como um sermão e termina como uma carta. O 
vocabulário se revela no melhor grego literário do Novo Testamento e o conteúdo 
do texto mostra que o autor está bastante familiarizado tanto com o Antigo 
Testamento quanto com a forma que era interpretada no primeiro século. A autoria 
de Hebreus é alvo de muita especulação até os dias de hoje, podendo ser Paulo, 
Lucas, Barnabé, Apolo ou Silvano, e, apesar de muitas hipóteses, o consenso 
repousa na impossibilidade de identificar o real autor. 
 
Propósito 
O livro foi escrito com o propósito de evangelizar Judeus não convertidos, 
apresentando Jesus como o messias prometido de Israel, além de advertir contra a 
apostasia e de exortar a maturidade cristã. 
 
 
 
 
 
 
Formação em Teologia 
15 
 
XI Apocalipse 
Encontramos três gêneros literários distintos em Apocalipse: epístola, 
profecia e o próprio gênero apocalíptico. O Livro de Apocalipse precisa ser visto 
como fonte de fé e motivação para os cristãos na luta contra o sofrimento, pois o 
maior objetivo deste livro é produzir “esperança” no coração do cristão diante de 
desafios cada vez maiores. A literatura apocalíptica pode ser considerada um 
“tratado para tempos difíceis” e surgiu em um momento onde a voz profética estava 
escassa, com o propósito de dar direcionamento ao povo. Buscava responder 
questões fundamentais, como o sofrimento dos justos, e apontava para um tempo 
futuro onde Deus iria intervir para julgar o mundo e estabelecer a justiça. É possível 
traçar algumas características que diferenciam esse livro profético. 
 
● Escatológica - por apontar para o futuro; 
 
● Significação histórica - com o peso do sofrimento e da perseguição, o 
Apocalipse mostra o significado da história e sua direção. 
 
● Defesa radical dos justos - Lembrando que estes eram, e ainda são, 
espremidos pelo sofrimento e perseguição,o livro é uma resposta ao anseio 
dos escolhidos. 
 
● Visões - são usadas como meio de revelação da mensagem. 
 
● Simbolismo - ao invés do que o senso comum costuma imaginar, o 
simbolismo em Apocalipse não tem o objetivo de amedrontar o leitor, mas 
de ajudá-lo a compreender a obra de Deus frente ao fim da história. O 
símbolo tanto serve ao fim de expressar o significado de realidades 
espirituais, de forma a serem mais facilmente assimiladas, quanto funciona 
como barreira àqueles que não conhecem seus significados. 
 
Formação em Teologia 
16 
 
Existia naquela época um grupo chamado Concilia, formado de oficiais romanos 
que andavam de cidade em cidade com o propósito de promover o culto ao 
imperador. Dentre suas competências, esse grupo ouvia as acusações feitas contra 
quem se recusava a dizer “César é Senhor”, esses eram levados para fazer a sua 
confissão em público e sua resistência era punida com a morte. Durante esse 
momento, localizado no primeiro século, vários templos foram erguidos por todo o 
império, César Domiciano, ao se declarar a personificação da deusa do império 
romano, foi o primeiro imperador a forçar essas práticas de culto. João, movido 
pelo Espírito, escreve às igrejas mostrando quem é o Senhor da História. Ele 
convocava o povo de Deus a ter fé e esperança até o fim. 
 
Não devemos perder de vista o tom profético do livro, as profecias apontam 
para fatos reais que aconteceram no passado, que estão se realizando no presente 
e que se realizarão no futuro, até o fim da história. Esses eventos reais são descritos 
de maneira simbólica, lembrando mais uma vez que essas profecias são dadas por 
meio de linguagem simbólica, seria um erro terrível as interpretar literalmente sem 
levar em conta seus profundos significados. 
 
XII Datação 
Depois do ano 50, as primeiras cartas que temos registro por ordem 
cronológica são 1 e 2 Tessalonicenses. Logo depois veio Gálatas, seguida de 1 e 2 
Coríntios, continuando o registro veio Romanos e, por fim, Tiago. 
 
 
 
Formação em Teologia 
17 
 
Na década de 60 vemos Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Quando 
estamos chegando à década de 70 vemos 1 e 2 Timóteo e Tito; 1 e 2 Pedro aparecem 
ainda na década de 60, bem como o livro de Hebreus. 
 
 
 
Chegando à década de 70 temos o aparecimento do livro de Marcos, seguido de 
Mateus, e no final da década de 70 registram-se Lucas e Atos. 
 
 
 
Na década de 80 vemos Judas, e na década de 90, Apocalipse, João e às três 
epístolas de João. 
 
Formação em Teologia 
18 
 
 
 
Observe abaixo a imagem com a figura que ilustra os livros do Novo Testamento. 
Lembre que as datas no período bíblico são alvos de profundo debate, sempre 
havendo discordância entre os estudiosos e historiadores. É ponto pacífico que 
sempre ocorrerão algumas discrepâncias nas datas e justamente esse aparente 
problema demonstra o valor histórico desses registros, a historicidade não é uma 
ciência exata, como a matemática, nem por isso menos verdadeira. 
 
 
Formação em Teologia 
19 
 
 
 
Formação em Teologia 
20 
 
Notas: 
1 - Citado em F.F. Bruce, The acts of the Apostle. 
 
Bibliografia Sugerida: 
HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento (Tradução de Cláudio 
Vital de Souza- São Paulo: Hagnos,2001) 
PRICE , Randall. Manual de arqueologia bíblica (Thomas Nelson/ Randall Price e H 
Wayne House; tradução de Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas Nelson. 
2020) 
KLEIN, William W. HUBBARD JR, Robert L. BLOMBERG, Craig L (Tradução Maurício 
Bezerra Santos Silva. 1 ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017) 
DOCKERY, David S. Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery; tradução: 
Lucy Yamakami. Hans Udo Fuchs, Robinson Malkomes. São Paulo: Edições Vida 
Nova,2001) 
 
 
 
Formação em Teologia 
21

Continue navegando