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EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 1 EJA -filosofia FILOSOFIA EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 2 E J A - f i l o s o f i a Hegel O filósofo alemão Hegel (século XIX), pensador do idealismo romântico, elaborou uma profunda crítica às soluções racionalista, empirista e kantiana, de onde observou que todos deixaram de compreender uma questão elementar da razão: a história. Para Hegel a razão é histórica e movida por contradição. Afirmar que é histórica não significa reduzi-la a um simples relativismo, de onde a verdade jamais atingiria valores universais. Isto porque a razão não ocupa um lugar na história, ela é a história O elemento contraditório que determina o movimento da história é a dialética. Neste caso, Hegel entende os conflitos filosóficos expressos pelas ideias inatas, empíricas e transcendentais (kantianas), como parte do movimento da história. As duas primeiras, de acordo com o filósofo, priorizaram o objeto e erraram por excesso de objetividade. A última, a razão pura de Kant, priorizou o sujeito e errou por exagero de subjetividade. Hegel compreende a razão dialética como uma síntese necessária do objetivo com o subjetivo. Para Hegel a dialética é a natureza do pensamento, e é inspirada no pré-socrático Heráclito. A dialética hegeliana opera através das tríades: tese, antítese e síntese. A antítese é a negação da tese e a síntese é a unidade das duas (tese e antítese). Muitos se enganam ao afirmar que este caráter triádico foi inventado por Hegel ou que este tenha retirado de Heráclito. Na verdade, Hegel foi quem melhor o elaborou como um conceito abstrato. Na filosofia moderna e contemporânea, tanto nas concepções idealistas e materialistas, a dialética será entendida no sentido hegeliano. Em Marx e Engels, com o materialismo dialético, a dialética hegeliana será colocada de “pernas para o ar” representando uma significativa virada na interpretação da história. Comte e o Positivismo O filósofo Auguste Comte é considerado o fundador do positivismo. Este termo foi utilizado primeiramente por Saint Simon significando o método exato para as ciências e sua extensão para a filosofia. Comte adotou-o para identificar sua filosofia que parte da impossibilidade de se conhecer a “essência das coisas”. De acordo com este filósofo a ciência deve limitar-se ao positivamente dado, ou seja, ao estudo dos fenômenos imediatos da experiência e suas relações, sem preocupar-se com o “porquê” dessas relações. Neste sentido, o positivismo retoma o empirismo e acompanha a crítica feita por Kant à ontologia clássica, afirmando que a ciência positiva deve desistir da busca das causas primeiras e finais, limitando-se à descrição dos fenômenos. É inegável sua contribuição no campo científico, especialmente nas ciências biológicas (evolucionismo) e humanas (sociologia). Comte classificou as ciências na seguinte ordem: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia. Esta sequência, segundo ele, aparece no tempo (na história) de acordo com o grau de complexidade. A matemática seria a mais simples e abstrata e a sociologia, fundada por ele, a mais complexa e concreta. Tal complexidade é determinada por núcleos constantes como a propriedade, a família, a pátria e a religião. Sua filosofia considera a história, ao contrário do “vir a ser” hegeliano, um progresso daquilo que já estava determinado de forma embrionária, e que necessariamente deveria atingir uma ordem hierárquica, de resultados finais. Sua ciência é o único guia da vida, única moral e única religião possível. O positivismo tornou-se a mais importante corrente legitimadora da organização técnico-industrial da sociedade moderna, expressando o otimismo da origem do industrialismo de diversos países no ocidente. No Brasil a inscrição “Ordem e Progresso” da nossa bandeira, é um exemplo de tal influência. Imannuel Kant Sem nunca ter saído de sua cidade natal, este filósofo alemão desenvolveu um pensamento extremamente variado, que ultrapassou continentes e séculos. Muitas reflexões dos séculos XIX e XX brotaram da filosofia kantiana. A variedade de seu pensamento pode ser resumida em torno de duas grandes questões: o conhecimento e a moral. Quando estudamos anteriormente “Kant e a Conciliação Ontológica”, vimos a primeira destas questões. O que ele propôs foi uma síntese entre empirismo e racionalismo. Afirmou que todo o conhecimento começa com a experiência, porém não totalmente. O conhecimento conta também com a contribuição da nossa faculdade de conhecer. Quanto à possibilidade do conhecimento, vimos que Kant é agnóstico (do grego a, não e gnosis, conhecimento). Demolindo o sistema ontológico, pensada desde os clássicos, Kant negou a possibilidade de conhecer a essência das coisas. Para ele, a pretensão do conhecimento metafísico, de querer conhecer as coisas- em-si, esbarrou em contradições e falsidades. O conhecimento só pode ocorrer nos limites do conhecimento do fenômeno. Ao afirmar, no final da Crítica da razão pura, a constituição de uma proporção teórica, expõe a existência de uma outra proporção: a prática. Foi tratando da dimensão prática que Kant elaborou sua teoria moral contrariando a concepção cristã e questionando a filosofia moral grega baseada na felicidade. O importante na moral kantiana é a liberdade pautada pela razão universal, necessária e autônoma. Desta forma, expôs em duas grandes obras – Crítica da razão prática e Fundamentação da metafísica dos costumes – o agir de acordo com a razão. Porém, o agir de Kant só é moral quando regido por imperativo categórico. Os Imperativos de Kant A palavra “imperativo” origina-se do latim imperare e significa ordenar, comandar. Na Lógica o filósofo definiu imperativo como “qualquer proposição que exprime uma ação livre possível, pela qual se deve realizar um fim determinado.” Além do categórico, o filósofo define o hipotético. Mas somente o categórico refere-se à vontade humana verdadeiramente moral. É um imperativo condicionado. A força do comando está subordinada aos conselhos da prudência ou às normas da aptidão. Kant, em Fundamentação da metafísica dos costumes, afirmou que eles “representam a necessidade prática de uma ação possível, considerada como meio de chegar a alguma outra coisa que se quer”. Devemos agir de alguma forma que a causa nos levou a agir possa ser transformada em lei universal. Por conter a forma da razão pura, o imperativo categórico entrega ao homem a lei moral, tendo como singular princípio a autonomia da vontade. A filosofia moral de Kant acentuou o caráter da liberdade como autonomia. Expôs as principais categorias filosóficas do iluminismo, aprofundando o papel da consciência moral, seguidora de liberdade e dever. Com isso, revelou que nosso interior é responsável único por nossos deveres, e não sujeito às imposições estranhas à nossa vontade. Este entendimento foi importantíssimo para afastar a moral vinculada à fé, cuja vida após a morte era a grande referência da ação moral. O pensamento de Kant é bastante questionado a partir do século XIX, quando vários filósofos destacam a importância de resgatar o homem concreto, perdido em sua razão pura. Destacamos três filósofos – que se empenharam de formas diferentes nesta tarefa: Marx, Hussel e Nietzsche. Porém, antes destes, Hegel já havia apresentado a sua filosofia e questionado a consciência moral subjetiva de Kant. Idealismo e Materialismo Antes de seguirmos nossos estudos nas origens da ontologia contemporânea, iremos entender como as filosofias se agruparam em torno do ideal (pensamento, espírito, consciência) e do material (ser, matéria, natureza). Veremos como, a partir de Descartes, Bacon e Kant, passando por Hegel, Comte e Marx, as respostas ontológicas podem ser resumidas em: idealismo e materialismo. O Idealismo Aqui o pensamento (espírito, consciência) é eterno, infinito, primeiro e o ser (matéria,natureza) dele deriva. A introdução do termo idealismo é atribuída ao filósofo Leibniz (séc. XVII) que dirigindo-se principalmente à visão platônica distinguiu-a das visões materialistas. Porém a localização do idealismo na filosofia de Platão foi contestada e abandonada por alguns filósofos, que preferiram substituir esta classificação por “realismo das ideias”. Isto porque Platão, além de rejeitar a multiplicidade do mundo, privilegiou as ideias como essências das EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 3 EJA -filosofia O que ele propôs foi uma síntese entre empirismo e racionalismo. Afirmou que todo o conhecimento começa com a experiência, porém não totalmente. O conhecimento conta também com a contribuição da nossa faculdade de conhecer. Quanto à possibilidade do conhecimento, vimos que Kant é agnóstico (do grego a, não e gnosis, conhecimento). Demolindo o sistema ontológico, pensada desde os clássicos, Kant negou a possibilidade de conhecer a essência das coisas. Para ele, a pretensão do conhecimento metafísico, de querer conhecer as coisas- em-si, esbarrou em contradições e falsidades. O conhecimento só pode ocorrer nos limites do conhecimento do fenômeno. Ao afirmar, no final da Crítica da razão pura, a constituição de uma proporção teórica, expõe a existência de uma outra proporção: a prática. Foi tratando da dimensão prática que Kant elaborou sua teoria moral contrariando a concepção cristã e questionando a filosofia moral grega baseada na felicidade. O importante na moral kantiana é a liberdade pautada pela razão universal, necessária e autônoma. Desta forma, expôs em duas grandes obras – Crítica da razão prática e Fundamentação da metafísica dos costumes – o agir de acordo com a razão. Porém, o agir de Kant só é moral quando regido por imperativo categórico. Os Imperativos de Kant A palavra “imperativo” origina-se do latim imperare e significa ordenar, comandar. Na Lógica o filósofo definiu imperativo como “qualquer proposição que exprime uma ação livre possível, pela qual se deve realizar um fim determinado.” Além do categórico, o filósofo define o hipotético. Mas somente o categórico refere-se à vontade humana verdadeiramente moral. É um imperativo condicionado. A força do comando está subordinada aos conselhos da prudência ou às normas da aptidão. Kant, em Fundamentação da metafísica dos costumes, afirmou que eles “representam a necessidade prática de uma ação possível, considerada como meio de chegar a alguma outra coisa que se quer”. Devemos agir de alguma forma que a causa nos levou a agir possa ser transformada em lei universal. Por conter a forma da razão pura, o imperativo categórico entrega ao homem a lei moral, tendo como singular princípio a autonomia da vontade. A filosofia moral de Kant acentuou o caráter da liberdade como autonomia. Expôs as principais categorias filosóficas do iluminismo, aprofundando o papel da consciência moral, seguidora de liberdade e dever. Com isso, revelou que nosso interior é responsável único por nossos deveres, e não sujeito às imposições estranhas à nossa vontade. Este entendimento foi importantíssimo para afastar a moral vinculada à fé, cuja vida após a morte era a grande referência da ação moral. O pensamento de Kant é bastante questionado a partir do século XIX, quando vários filósofos destacam a importância de resgatar o homem concreto, perdido em sua razão pura. Destacamos três filósofos – que se empenharam de formas diferentes nesta tarefa: Marx, Hussel e Nietzsche. Porém, antes destes, Hegel já havia apresentado a sua filosofia e questionado a consciência moral subjetiva de Kant. Idealismo e Materialismo Antes de seguirmos nossos estudos nas origens da ontologia contemporânea, iremos entender como as filosofias se agruparam em torno do ideal (pensamento, espírito, consciência) e do material (ser, matéria, natureza). Veremos como, a partir de Descartes, Bacon e Kant, passando por Hegel, Comte e Marx, as respostas ontológicas podem ser resumidas em: idealismo e materialismo. O Idealismo Aqui o pensamento (espírito, consciência) é eterno, infinito, primeiro e o ser (matéria, natureza) dele deriva. A introdução do termo idealismo é atribuída ao filósofo Leibniz (séc. XVII) que dirigindo-se principalmente à visão platônica distinguiu-a das visões materialistas. Porém a localização do idealismo na filosofia de Platão foi contestada e abandonada por alguns filósofos, que preferiram substituir esta classificação por “realismo das ideias”. Isto porque Platão, além de rejeitar a multiplicidade do mundo, privilegiou as ideias como essências das EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 4 coisas, conferindo assim a existência real das próprias ideias. Outros filósofos preferiram somente acrescentar a palavra “objetivo” ao idealismo platônico. Diversas são as correntes idealistas que encontramos na história da filosofia: idealismo lógico; idealismo fenomenológico; idealismo crítico; “idealismo atualista” etc. Entre os principais filósofos idealistas estão Descartes, Leibniz, Kant e Hegel. O Materialismo Aqui o ser (matéria, natureza) é eterno, infinito, primeiro e o pensamento (espírito, consciência) dele deriva. De forma geral foi usado pela primeira vez em 1674 por Robert Boyle. Ao longo da história a concepção materialista assumiu formas diversas. O materialismo nasceu nos países do Oriente antigo (China, Índia, Babilônia, Egito) e nos fins do séc. VII a.C. desenvolveu-se nas colônias jônicas da Grécia. No séc. V a.C. os pré-socráticos Demócrito e Leucipo, que nem chegaram a se conhecer, expressaram na doutrina atomista a primeira tentativa de conciliar o logos de Heráclito com o logos de Parmênides, iniciando um materialismo cosmológico. Na Idade Média o materialismo fica mais de mil anos fora do pensamento filosófico, quando a teologia apropria-se da filosofia e transforma razão em fé. Na Renascença, com os descobrimentos científicos e geográficos do séc. XVI, o materialismo é retomado do mundo dos filósofos gregos e multiplica-se em inúmeras escolas. Destacamos duas espécies de materialismo resultante desta multiplicação: materialismo mecanicista e materialismo dialético. Materialismo Mecanicista O materialismo mecanicista, também denominado materialismo vulgar, explica os fenômenos da natureza através das leis da mecânica e reduz todo o conhecimento qualitativamente diferente - como a biologia, a química, a psicologia etc. – a processos puramente mecânicos. Esta espécie de materialismo teve raízes na Antiguidade, com o atomismo, e desenvolveu-se com a ciência moderna entre os séculos XVII e XIX, quando finalmente desaparece como concepção filosófica permanecendo apenas na ciência. Entre os atomistas o caráter mecanicista, como vimos anteriormente, pode ser sinônimo de cosmológico. Explicando o mundo como uma grande máquina que comporta um sistema de movimento dos corpos, este materialismo ganhou novos representantes a partir do século XVII. O filósofo Hobbes (1588-1679) foi um grande exemplo desta recuperação do materialismo mecanicista (ou metodológico), defendendo a noção de movimento e de corpo como única forma de explicação dos fenômenos. Segundo o filósofo, o conhecimento de alguma coisa sempre implica no conhecimento de seu movimento. O conhecimento acerca da natureza considera seu “corpo natural” e da sociedade um “corpo artificial”. Entre suas obras, destacamos “Sobre o Corpo”(1655) onde trata do mecanicismo invadindo os domínios do espírito. A filosofia de Descartes também foi materialista mecanicista. Este filósofo compreendeu o mundo governado pela exatidão das leis matemáticas e descreveu-o como uma máquina perfeita. O método de Descartes, aplicado na biologia por Willian Harvey, trouxe importantes revelações para o entendimento do fenômeno da corrente sanguínea. A partir das últimas décadas do século XIX, os seguidoresdo materialismo mecanicista não são mais filósofos e sim cientistas. Com o desenvolvimento da física, primeiramente com a dinâmica que é parte da mecânica que estuda os movimentos dos corpos sob a ação das forças, e posteriormente com Hamilton substituindo a ideia de força por energia, o mecanicismo encontra seus limites nas ciências físicas. Nas ciências naturais, embora com menos intensidade, o materialismo mecanicista serviu para combater obstáculos metafísicos que impediam o desenvolvimento de suas pesquisas e acabou se transformando em tendência reducionista. Da mesma forma na sociologia, resultando na redução de leis sociais à princípios biológicos e psicológicos. Materialismo Dialético Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialética, Marx concebe um materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach. EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 5 EJA -filosofia Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialética materialista, combatendo a doutrina hegeliana que, segundo ele, apesar de traçar um método revolucionário concluía por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crítica à dialética idealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e da essência do cristianismo. Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para a Terra, ele considerou que, ao invés de Deus ter criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus à sua imagem e semelhança. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma religião da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem. Marx contestou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticos: o homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da história, é pura abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a realidade histórica em suas contradições, para tentar superá-las dialeticamente. As Origens da Ontologia Contemporânea (a partir do século XIX ) O positivismo e o hegelianismo, ambos “amados e odiados”, inspiraram as filosofias que surgiram nas origens da ontologia contemporânea. O século XIX foi o marco da autonomia científica. Definitivamente a ciência separa-se da filosofia. Especialmente na ciência o positivismo teve sucesso e na filosofia inspirou algumas correntes mecanicistas, como: o pragmatismo, o cientificismo e o vitalismo. Destacamos quatro filosofias que em grande parte deram origem à ontologia contemporânea: fenomenologia, genealogia e marxismo. Fenomenologia Surgida no século XIX com o filósofo Franz Brentano, a fenomenologia representou uma tentativa de “humanização” da ciência. À excessiva objetividade e pretensa neutralidade da filosofia positivista, a fenomenologia direcionou sua principal crítica. O maior representante da fenomenologia, também conhecida como filosofia da vivência, foi Edmund Husserl. Segundo ele, as três funções principais da filosofia são: separar psicologia e filosofia; manter o privilégio do sujeito diante dos objetos; e renovar o conhecimento de fenômeno. Vimos anteriormente que fenômeno, em grego, é o que aparece. Também vimos que o agnosticismo de Kant negou a possibilidade de conhecer a essência das coisas afirmando o conhecimento apenas do fenômeno. A fenomenologia, apesar de concordar com Kant na importância do sujeito do conhecimento, discorda de seu agnosticismo. Para Husserl, tudo o que existe é fenômeno e apresenta-se diretamente à consciência que é sempre consciência de alguma coisa. Esta consciência de é o que o filósofo chama de intencionalidade. Portanto a essência das coisas, ao contrário de Kant, pode ser conhecida. Toda a consciência é um ato intencional e esta intencionalidade é sua essência. Afirmando a intencionalidade da consciência, a fenomenologia bate de frente com os racionalistas que entendem a consciência separada do mundo. E quando afirmam que o objeto só existe para um sujeito que lhe dá significado, contrariam os empiristas que entendem o objeto em si. Além disto, os fenomenólogos defenderam que o conhecimento intelectual não resume a consciência que o homem tem do mundo, pois a intencionalidade é – além de cognitiva – afetiva e prática. O existencialismo foi a corrente que herdou da fenomenologia todo o aspecto subjetivista que fundamentará o sentido da existência do homem. Seus principais representantes: Kierkegaard, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty e Ricoeur. Genealogia Este termo significa o estudo da origem de todas as famílias. Na filosofia, genealogia identifica um método de decifração utilizado por Nietzche. Através de poemas e aforismos (frases curtas e conceituosas), ele marcou a filosofia dando à interpretação especial importância. Segundo este pensador, as classes superiores inventaram as palavras e com elas impuseram uma interpretação. O pensamento lógico-racional expulsou a visão mística e instintiva da arte trágica pré-socrática e definiu as fronteiras entre o verdadeiro e o aparente. Assim começou, a partir de Sócrates, a degeneração da filosofia baseada na ilusão ontológica de um pensamento puramente racional. Para Nietzche, a aparência é a única existência. Ao homem, destinado à multiplicidade, cabe a interpretação instintiva. O conhecimento EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 6 é resultante de um conflito de instintos. No conhecimento do fenômeno do trágico, que Sócrates dispensou, é que poderemos atingir a verdadeira natureza da realidade. Portanto o conhecimento é resultante de um conflito de instintos. Resgatando Heráclito, com a valorização do da mudança, do devir, Nietzche afirma não existir uma realidade inteligível, única e imutável. Para ele, a verdade necessária e universal não existe, mas apenas inúmeras ideias do real em constante transformação. Se no sentido ontológico Nietzche parte da destruição das ideias socráticas, no sentido moral se coloca radicalmente contra o cristianismo. Ele afirma que os cristãos “São os escravos e os vencidos da vida que inventaram o além para compensar a miséria; inventaram falsos valores para se consolar da impossibilidade de participação nos valores dos senhores e dos fortes; (...) criaram a ficção do pecado porque não podiam participar das alegrias terrestres e da plena satisfação dos instintos da vida”. Na filosofia, Nietzche foi visto como uma espécie de homem solitário e incompreendido. Seu pensamento é interpretado para justificar diversas verdades. Após sua morte, por iniciativa de sua irmã Elisabeth, foi utilizado para fundamentar o nazismo e o fascismo. Mais acertadamente e extremamente fecunda, sua filosofia influenciou obras recentes de pensadores como Foucault, Deleuze e Guattari. Ambos estão agrupados na corrente identificada como arqueogenealogia. Também influenciou algumas das principais correntes de pensamento do século XX, como o existencialismo, a filosofia analítica e a psicanálise. O Marxismo Dá-se o nome de “marxismo” para identificar o pensamento de Karl Marx. Porém o marxismo - durante e após Marx - foi interpretado de tantas formas que fica até difícil expor sua filosofia com o título de marxismo. O próprio Marx, diante das diversas interpretações, chegou ironicamente a admitir não ser marxista. No sentido ontológico, o marxismo sustentou que o ser prima sobre a consciência. Esta reflete a realidade material – que é o ser – e por isso não se enquadra em nenhuma das formas idealistas já vistas na filosofia. O ser, ou realidade, de que o marxismo trata é portanto um princípio materialista. Como já vimos anteriormente, não se refere aqui a um materialismo mecanicista e sim dialético, pois concebe os fenômenos materiais como processos. Com o marxismo é possível compreender certas ligações necessárias entre o aspecto psicológico e social da humanidade; entre os aspectos econômicos, sociais e políticos; e, principalmente,a articulação entre todos estes aspectos e as ideias produzidas pela sociedade. Por isso, podemos afirmar que a grande contribuição marxista às ciências humanas insere-se numa nova interpretação dos fenômenos humanos. Estes são o resultado das contradições sociais determinadas pelas relações econômicas sustentadas na exploração do trabalho. Assim, esclarecendo condições objetivas da existência do homem, o marxismo transforma-se numa grande filosofia, utilizada, sobretudo, na política, e se expressando no século XX através da obra de pensadores como Gramsci, Althusser, Lukács, Goldmann, Schaff, e Lefebvre. Também nas obras dos filósofos da Escola de Frankfurt como Horkheimer, Adorno, Benjamin e Habermas. A Epistemologia A epistemologia, que é sinônimo de gnosiologia quando estuda a origem e o valor do conhecimento humano em geral e sinônimo de teoria do conhecimento quando estuda o valor dos sistemas científicos, partindo dos princípios fundadores das ciências físicas e humanas, de seus critérios de verdade e verificação. Portanto trataremos epistemologia nos dois sentidos. A Questão da Verdade Uma questão epistemológica fundamental pode estar expressa da seguinte forma: Qual o alcance e a verdade do conhecimento? O que podemos conhecer? Existe a verdade? Num sentido mais restrito, também de forma crítica e descritiva, a epistemologia estuda o conhecimento científico em particular. Como vimos, a epistemologia pode ser estudada a partir do nascimento da filosofia até hoje e seu começo como disciplina – como parte autônoma da filosofia – deu-se somente na Idade Moderna, principalmente com os filósofos: Descartes, Looke, Hume e Kant. EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 7 EJA -filosofia Como disciplina a teoria do conhecimento é o estudo crítico e reflexivo de problemas surgidos da relação entre sujeito e objeto do conhecimento. Trata da origem, dos limites e do valor do conhecimento, investigando e relacionando a verdade entre os conceitos e as coisas. A verdade existe e sempre foi perseguida. Em todas as idades, culturas e épocas, o ser humano procura a verdade. O que move a filosofia e cria as diferentes formas de filosofar, é o desejo do verdadeiro. A Verdade: Concepções e Teorias A filósofa brasileira Marilena Chauí nos lembra que a verdade pode ser entendida na filosofia a partir de três concepções construídas em línguas diferentes: grego, latim e hebraico. Em grego, diz-se aletheia, que significa o “não escondido”. O verdadeiro está nas próprias coisas e plenamente visível à razão. O falso está escondido nas aparências e nunca é como parece ser. Portanto, aletheia refere-se ao que as coisas são. Em latim, diz-se veritas e refere-se ao rigor da afirmação. Diferente da aletheia, aqui a verdade não se refere às coisas e sim ao enunciado, à linguagem. Referimos à veritas para os fatos que foram. Em hebraico, diz-se emunah, que é uma palavra de mesma origem que amém, e significa confiança. A verdade agora é fruto da espera e da confiança na palavra dada, no pacto realizado, na profecia, no futuro. Referimos à emunah para coisas e ações que serão. Diversas teorias sobre a natureza da verdade aparecem na filosofia combinando aletheia, veritas, e emunah. Trataremos de abordá-las no grupo de quatro espécies: materiais, lógicas, axiomáticas e axiológicas. Materiais ou Objetivas: Nas ciências naturais encontramos o grande exemplo desta verdade, onde a aletheia predomina. As coisas são por demonstração e verificação através da experiência. Correspondem com os fatos reais. São as verdades de fato. Exemplo: O ser humano, sem estar com equipamento de mergulho, não pode respirar debaixo da água; esta mesma água é composta de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Formais ou Lógicas: Ausência de contradição e coerência do raciocínio consigo mesmo. Aqui a veritas é predominante, onde o verdadeiro é submetido a regras lógicas da argumentação. É também chamada de verdade de razão. Exemplo: Todos os alunos são do Colégio X. Ora, fulano é aluno. Logo, fulano é do Colégio X. Axiomáticas ou Convencionais: É a verdade, nem sempre evidente, que é sustentada por determinada comunidade de cientistas, onde o consenso e a confiança no uso de regras e convenções estabelecem o verdadeiro. Este é a espécie de verdade onde predomina a emunah. Exemplo: Alguns axiomas e postulados na matemática não dependem de verificações anteriores. Axiológicas: Semelhante a anterior (ambas derivam da raiz grega axios – o que tem valor, estima, dignidade) é baseada em critérios convencionais. Porém, as convenções aqui tratadas são as sociais e não as científicas. Divide-se em três: A - verdade axiológica propriamente dita: valores éticos, estéticos, religiosos, jurídicos, etc.. Temas como o aborto, a eutanásia e a pornografia, pertencem a este campo de verdades, determinadas nos mais diversos contextos sociais. Assim, a verdade em uma sociedade pode não ser verdade em outra sociedade. B - verdade pragmática: é o verdadeiro a partir de critérios práticos e não teóricos. Também pode ser entendida como aquilo que é vantajoso para o sucesso de uma pessoa ou grupo social. C - dogmática ou religiosa: verdade que dispensa o uso de coerência consigo mesma e da correspondência com a realidade, bastando o uso da crença, da fé. Lógica Tudo que é verdadeiro é lógico. É lógico que estamos lendo esta apostila. É lógico que para ler tenhamos que abrir nossos olhos. É lógico que um automóvel precisa de combustível para andar. É lógico que eu preciso de dinheiro para tomar um ônibus. É lógico que preciso caminhar se o automóvel não tiver combustível e eu estiver EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 8 sem grana. Porém posso aguardar uma carona e é lógico que não precise caminhar. É lógico, lógico, lógico... Repetidas vezes pronunciamos esta palavra para expressar evidências. Na filosofia é uma disciplina bastante estudada. Veremos aqui um pouco de sua história e de seus procedimentos. Lógica Formal e Lógica Dialética Lógos, de onde deriva “Lógica”, é uma das palavras mais importante da filosofia e que sua tradução não é simples. No português esta palavra de origem grega possui sentidos múltiplos: conversa, pensamento, norma, regra, ser, realidade, razão, linguagem, explicação, etc. Também vimos que os pré-socráticos, opondo-se a narrativa mítica, começaram a estabelecer determinadas leis do pensamento. Unidade / Permanência X Multiplicidade / Devir Priorizando a unidade e permanência do ser, temos a lógica formal. Priorizando a multiplicidade e pluralidade do devir, da transformação das coisas umas nas outras, temos a lógica dialética. Lógica Formal Sócrates (lembrem-se da maiêutica), os Sofistas (retórica) e Platão não chegaram a sistematizar uma lógica formal propriamente dita. Este último até entendeu-a como um procedimento intelectual e linguístico que resultaria do confronto de opiniões opostas, ou seja, a partir da dialética (em grego a palavra dia quer dizer dois e o sufixo lética refere-se a logos). Somente Aristóteles, apesar de nunca ter usado a palavra “lógica”, empregada séculos depois pelos estóicos, foi quem sistematizou-a como um estudo preparatório da investigação e do saber demonstrativos. Em vários textos que compõe sua obra Organon (significa instrumento) o filósofo distingue dois tipos de discursos: o dialético que parte do provável e termina no provável, e serve apenas como retórica, e o demonstrativo partindo do verdadeiro e terminando no verdadeiro, é o argumento lógico por excelência. As principais características atribuídas por Aristóteles à lógica ou analítica (assim ele denominava) são: • Instrumental: serve de um instrumento para o pensamento correto; • Formal: expressa através da linguagem as formas gerais dos pensamentosnão se ocupando com os conteúdos presentes; • Normativa: apresenta regras e normas fundamentais para a verdade do pensamento; • Propedêutica: conhece e indica os métodos e as demonstrações necessários para o início de qualquer filosofia ou ciência; • Doutrina da prova: condiciona e fundamenta as demonstrações, a partir da verificação de hipóteses e conclusões; • Geral e temporal: atribui princípios, como na razão, de universalidade, necessidade e imutabilidade, independendo das circunstâncias, das pessoas, do tempo e do lugar. Lógica Dialética Muitos estudiosos, inclusive na filosofia, afirmam não ser possível a inexistência de uma lógica dialética. Segundo estes, o primeiro termo (lógica) já exclui o segundo (dialética). Isto porque, no momento em que elaboramos os argumentos, nos sujeitamos às regras imóveis do pensamento correto. Portanto, baseado nesta visão, a lógica dialética só é possível como uma Teoria do Caos. A opção pela real existência da lógica dialética, parte da compreensão de que a produção da ideia é dialética e que somente sua expressão é formal. Assim, pensamos dialeticamente o que é dito ou escrito formalmente. Porém, a aceitação mais fecunda da lógica dialética, parte do entendimento de que a lógica formal é ineficaz para explicar fenômenos sociais. Esta ineficácia também é observada em determinado grau de desenvolvimento atingido pelas ciências naturais. Por exemplo, na física de hoje os estudos da estrutura íntima da matéria dispensam a explicação clássica de causalidade formal e exigem explicações que compreendam novas relações de processo. Também na biologia, onde as concepções organísmicas ganham espaço, o formalismo não consegue dar conta das explicações “contextuais” exigidas. EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 9 EJA -filosofia O movimento do raciocínio dialético desenvolve-se da seguinte forma: • A tese da afirmação geral sobre o ser. Por exemplo: “O lápis é de madeira”. • A antítese compreende a negação da afirmação da tese anterior. “O lápis não é feito só de madeira.” A antítese é a primeira negação que também pode ser negada. • A síntese constitui a negação da negação, onde se encontram a tese e antítese repensadas. “O lápis é produto do trabalho humano com o auxílio de instrumentos.” Portanto, a síntese constitui uma nova tese a ser desenvolvida no infinito movimento do pensamento. As Leis da Lógica Dialética: • A passagem da quantidade à qualidade: o processo de transformação das coisas se faz por saltos; é a passagem do ser para o ser outro. • A interpenetração dos contrários: a contradição como força motriz provocadora do movimento e da transformação. • A negação da negação: é a interação das forças contraditórias; a tríade que explica o movimento (tese, síntese e antítese). Contratualismo O contratualismo é uma vertente de pensamento que entende o Estado – também a sociedade civil – originado em um contrato. Alguns filósofos e historiadores atribuem aos sofistas a inauguração deste pensamento. Contudo, o contratualismo que abordamos neste capítulo, determinante na formação do Estado moderno, é aquele defendido a partir de três grandes pensadores: Hobbes, Locke e Rousseau. Eles analisaram a passagem do homem por três dimensões: estado natural, contrato social e estado civil. Apesar de partirem da ideia de que os homens constroem o Estado (estado civil) quando abandonam seu estado de natureza, através de um pacto ou contrato, apresentam diferentes concepções de Estado e de soberania. Porém, de forma geral, o contratualismo defende o individualismo (um dos princípios fundamentais do liberalismo), e por isso exige do Estado a função de salvaguarda da harmonia dos interesses particulares. Thomas Hobbes O filósofo inglês Thomas Hobbes, quando estudamos ontologia, foi visto como representante do materialismo mecanicista, que teorizou a natureza considerando um “corpo natural” e a sociedade um “corpo artificial”. Na galeria dos filósofos, mencionamos sua teoria de Estado Absolutista. No início de sua vida intelectual, Hobbes traduziu Tucídidas (historiador grego), que detalhou a Guerra do Peloponeso. Por ocasião da tradução, admitiu um caráter frágil e traiçoeiro da Democracia, tendo Atenas como o exemplo histórico do desastre democrático. Em sua maior obra, Leviatã (nome bíblico de um monstruoso peixe que protegia os menores da gula dos peixes maiores), desenvolveu um aprofundado estudo filosófico, afirmando a maldade humana e justificando a necessidade de um Estado forte e repressor, o Absolutismo. O Estado, segundo o filósofo, é a única garantia do controle dos sentimentos naturais do homem: a ambição, o egoísmo, a crueldade, e outros similares. Isto, porque o estado de natureza (primitivo) era contaminado pela guerra constante, pois o homem, escreveu Hobbes, é naturalmente “lobo do próprio homem”, e somente a partir de um pacto social, orientado pela força da espada, o homem supera o egoísmo e a guerra, impedindo a ferocidade do “lobo”. Para Hobbes, a propriedade (bens móveis e imóveis) não existe no estado de natureza, pois foi criada pelo Estado-Leviatã, e somente este, com poder absoluto, poderá acabar com o direito de propriedade, quando necessário for. John Locke Opondo-se ao absolutismo de Hobbes, Locke, o maior representante do empirismo moderno, (autor da famosa teoria da tábula rasa) pensou o contratualismo em bases liberais, tornando-se o fundador do liberalismo na Inglaterra. Além de ter influenciado a revolução norte-americana, influenciou a revolução francesa e a declaração dos direitos do homem e do cidadão. Locke defendeu o poder político vinculado a uma origem EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 10 democrática e parlamentar, e lançou os princípios da separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, dos quais Montesquieu iria desenvolver no século XVIII. Na obra Ensaio sobre o Governo Civil afirmou que o homem atribuiu ao Estado apenas o papel de regulamentador da vida social, e que os direitos individuais são intocáveis e indelegáveis. As liberdades fundamentais, como o direito à vida e à propriedade, e todos os direitos comuns ao homem, são anteriores e superiores ao Estado. Portanto, ao contrário de Hobbes, Locke observa que a propriedade é criação do estado de natureza, e que o contrato social é um pacto de consentimento, onde o homem busca no Estado, na sociedade civil e política, o reconhecimento e a proteção da propriedade. Este pacto, quando desrespeitado, pode ser alterado e desfeito, assim como faz-se em qualquer contrato, autorizando o homem a limitar o poder dos governantes e de, inclusive, promover insurreições. A base principal da liberdade burguesa, que nesse período era uma classe revolucionária, é a propriedade. E para Locke, a liberdade está em função da propriedade. “A liberdade consiste menos em fazer sua vontade do que em não submeter-se à de outrem; consiste ainda em não submeter a vontade de outrem à nossa. Quem quer que seja senhor não pode ser livre, e reinar é obedecer.” (Cartas Escritas da Montanha). Jean-Jacques Rousseau Na França, o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, filho de um relojoeiro, não perdeu a hora na tarefa de defender uma sociedade baseada na justiça, na igualdade e na soberania do povo. Suas principais ideias deste iluminista estão nas obras: Emílio, Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens e O Contrato Social. As ideias do brilhante filósofo, além de fundarem a concepção democrático-burguesa, inspiraram os movimentos socialistas do século XIX. Como os demais contratualistas, Rousseau afirma que a sociedade se funda num contrato, porém estabelece diferenças fundamentais em sua concepção. Ao contrário de Hobbes, que via no estado de natureza o homem egoísta e cruel, Rousseau viu umhomem feliz, sadio, livre e igual. Em O Contrato Social ele afirma que “O homem nasce puro; a sociedade é que o corrompe.” E ao contrário de Locke, onde o contrato é a realização da sociedade civil e do Estado, para Rousseau é somente a sociedade civil, de onde emana o poder soberano do povo, independente do Estado. Locke defende a liberdade em função da propriedade, Rousseau atribuiu à propriedade a causa da corrupção dos homens, da queda das democracias e do crescimento das desigualdades sociais. Para ele, onde existe desigualdade não existe liberdade. Inspirado pela antiga democracia direta de Atenas, onde a soberania era exercida na assembleia, Rousseau rompe com a separação dos três poderes (legislativo, executivo e judiciário) submetendo a vontade individual à vontade geral expressa por maioria na assembleia, único lugar verdadeiramente soberano. Porém, admitindo o caráter utópico desta concepção, Rousseau afirmou que este tipo de democracia nunca havia existido e talvez nem viesse a existir, mesmo entre os gregos, onde a participação era limitada ao cidadão ocioso. Liberalismo O economista inglês Adam Smith, autor de A riqueza das nações, partiu do princípio de que a natureza humana teria uma tendência para trocar uma coisa por outra. Analisando a estrutura da sociedade capitalista, Adam Smith chegou a extraordinária conclusão, para a sua época, da divisão da sociedade em classes. Para ele, três são as classes fundamentais da sociedade capitalista: o operariado, os capitalistas e os proprietários de terras. Salienta que, na sociedade capitalista, existe comunidade de interesses, uma vez que os benefícios comuns resultam, sobretudo, do choque de interesses das diversas classes sociais. Por isso defendia a livre concorrência. Também economista inglês, David Ricardo apresentou os princípios básicos de seu pensamento na obra Ensaio sobre a influência do baixo preço dos cereais nos lucros da bolsa. Ele defendeu a ideia de que os lucros aumentam com a redução dos salários e diminuem com a elevação destes. Com outros economistas da época, entendeu que a tendência ao desemprego, no sistema capitalista, era fenômeno limitado. EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 11 EJA -filosofia democrática e parlamentar, e lançou os princípios da separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, dos quais Montesquieu iria desenvolver no século XVIII. Na obra Ensaio sobre o Governo Civil afirmou que o homem atribuiu ao Estado apenas o papel de regulamentador da vida social, e que os direitos individuais são intocáveis e indelegáveis. As liberdades fundamentais, como o direito à vida e à propriedade, e todos os direitos comuns ao homem, são anteriores e superiores ao Estado. Portanto, ao contrário de Hobbes, Locke observa que a propriedade é criação do estado de natureza, e que o contrato social é um pacto de consentimento, onde o homem busca no Estado, na sociedade civil e política, o reconhecimento e a proteção da propriedade. Este pacto, quando desrespeitado, pode ser alterado e desfeito, assim como faz-se em qualquer contrato, autorizando o homem a limitar o poder dos governantes e de, inclusive, promover insurreições. A base principal da liberdade burguesa, que nesse período era uma classe revolucionária, é a propriedade. E para Locke, a liberdade está em função da propriedade. “A liberdade consiste menos em fazer sua vontade do que em não submeter-se à de outrem; consiste ainda em não submeter a vontade de outrem à nossa. Quem quer que seja senhor não pode ser livre, e reinar é obedecer.” (Cartas Escritas da Montanha). Jean-Jacques Rousseau Na França, o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, filho de um relojoeiro, não perdeu a hora na tarefa de defender uma sociedade baseada na justiça, na igualdade e na soberania do povo. Suas principais ideias deste iluminista estão nas obras: Emílio, Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens e O Contrato Social. As ideias do brilhante filósofo, além de fundarem a concepção democrático-burguesa, inspiraram os movimentos socialistas do século XIX. Como os demais contratualistas, Rousseau afirma que a sociedade se funda num contrato, porém estabelece diferenças fundamentais em sua concepção. Ao contrário de Hobbes, que via no estado de natureza o homem egoísta e cruel, Rousseau viu um homem feliz, sadio, livre e igual. Em O Contrato Social ele afirma que “O homem nasce puro; a sociedade é que o corrompe.” E ao contrário de Locke, onde o contrato é a realização da sociedade civil e do Estado, para Rousseau é somente a sociedade civil, de onde emana o poder soberano do povo, independente do Estado. Locke defende a liberdade em função da propriedade, Rousseau atribuiu à propriedade a causa da corrupção dos homens, da queda das democracias e do crescimento das desigualdades sociais. Para ele, onde existe desigualdade não existe liberdade. Inspirado pela antiga democracia direta de Atenas, onde a soberania era exercida na assembleia, Rousseau rompe com a separação dos três poderes (legislativo, executivo e judiciário) submetendo a vontade individual à vontade geral expressa por maioria na assembleia, único lugar verdadeiramente soberano. Porém, admitindo o caráter utópico desta concepção, Rousseau afirmou que este tipo de democracia nunca havia existido e talvez nem viesse a existir, mesmo entre os gregos, onde a participação era limitada ao cidadão ocioso. Liberalismo O economista inglês Adam Smith, autor de A riqueza das nações, partiu do princípio de que a natureza humana teria uma tendência para trocar uma coisa por outra. Analisando a estrutura da sociedade capitalista, Adam Smith chegou a extraordinária conclusão, para a sua época, da divisão da sociedade em classes. Para ele, três são as classes fundamentais da sociedade capitalista: o operariado, os capitalistas e os proprietários de terras. Salienta que, na sociedade capitalista, existe comunidade de interesses, uma vez que os benefícios comuns resultam, sobretudo, do choque de interesses das diversas classes sociais. Por isso defendia a livre concorrência. Também economista inglês, David Ricardo apresentou os princípios básicos de seu pensamento na obra Ensaio sobre a influência do baixo preço dos cereais nos lucros da bolsa. Ele defendeu a ideia de que os lucros aumentam com a redução dos salários e diminuem com a elevação destes. Com outros economistas da época, entendeu que a tendência ao desemprego, no sistema capitalista, era fenômeno limitado. O liberalismo é a teoria política e econômica da burguesia, onde os princípios que regem uma sociedade capitalista encontram total sustentação. Surgida no início do séc. XVII e consolidada nas duas grandes revoluções burguesas (na Inglaterra, em 1688, e na França, em 1789), que derrubaram os regimes teocrático e absolutista do feudalismo, esta teoria consagrou como direito natural dos indivíduos a propriedade privada. Da mesma forma, consagrou a ideia de contrato social voluntário, opondo-se a ideia de poder e Estado nos limites da divindade, cujo representante era o rei. O liberalismo, que às vezes é empregado como sinônimo de individualismo, aplica a liberdade individual nos terrenos político e econômico e defende a ideia de Estado mínimo. Estabelece-se claramente a distinção entre as atribuições do Estado e as da sociedade civil. No Estado abrigam-se assuntos da vida pública (política), e na sociedade civil assuntos da vida particular (principalmente a economia). Surge A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 26 de agosto de 1789, que oficializou a destruição do regime feudal, livrando os servos de seus compromissos com os senhores. Esta, formalizou os burgueses definitivamente no poder, e promoveu o individualismo, o igualitarismo e a fraternidade entre os revolucionários. Essas ideias propagaram-se por toda a Europa devido à política expansionistade Napoleão Bonaparte. Na esfera política, o liberalismo teve como um dos maiores representantes o contratualista John Locke. Na econômica, Adam Smith e David Ricardo foram os dois maiores expoentes. Algumas de suas características: Liberalismo Político: - Oposição ao absolutismo, pois a burguesia já estava fortalecida e não precisava mais da aliança com o Estado; - Teorias contratualistas para legitimar o poder independentemente da religião; - Criação do voto; - Limitação de poderes; - Garantia dos direitos individuais, liberdade de pensamento, expressão e religião. Liberalismo Econômico: - Oposição à intervenção do rei nos negócios; - Defesa da propriedade privada dos meios de produção e a economia de mercado; - Estado mínimo, ou seja, um Estado não intervencionista; Socialismo Utópico Na história da humanidade encontramos diversos pensamentos acerca de uma sociedade perfeita, sem injustiças e com distribuição de riquezas. No século V a.C., o filósofo grego Platão já inaugurava, em A República, o ideal deste tipo de sociedade. Porém, a palavra utopia, de origem grega (significa “lugar inexistente”), foi empregada primeiramente no séc. XVI por Tomás Morus, quando escreveu um romance filosófico, cujo nome é Utopia. No livro, Morus escreve sobre uma ilha onde não existia a propriedade privada e nem o poder da religião. No séc. XIX, alguns dos principais socialistas utópicos foram os franceses Saint Simon, Proudhon e Fourier. Eles defenderam a liberdade e a igualdade, como consequência de um autogoverno dirigido por trabalhadores organizados em cooperativas. Anarquismo O Anarquismo (anarkhía, a, não, e arkhé, comando ) parte do princípio de que todo ser humano é capaz de autogovernar- se, através da convivência comunitária. As ideias do socialista utópico Proudhon, influenciaram bastante esta teoria política, que teve como um dos principais representantes o russo Mikhail Bakunin (1814- 1876). Confiando na convivência pacífica dos homens, o anarquismo baseia-se numa estrutura autogestionária, ou seja, sem regras, autoridades e hierarquias, valorizando apenas a liberdade natural de cada indivíduo. Conhecidos como libertários, contrários aos ideais do liberalismo, ao autoritarismo e à autoridade, os anarquistas são contra qualquer tipo de Estado, curiosamente levando ao extremo uma concepção liberal. Se o liberal EJA - Ensino Médio TOP CURSOS BRASIL 12 considera o Estado um mal necessário, o anarquista considera-o um mal desnecessário. Karl Marx e o Socialismo Científico Somente com Marx, o socialismo tornou-se objeto de análise científica. É isto que veremos a partir de agora: Como que Karl Marx, o fundador do socialismo científico, conseguiu criar uma teoria que apontasse efetivamente para a transformação da sociedade? Depois de Maquiavel, que separou a ética da política, e provocou uma verdadeira revolução nas teorias políticas desde a antiguidade, Marx, desmascarando a política liberal, causou uma verdadeira revolução, não só teórica, mas também prática. Diversos países, como a URSS, e Cuba, entre outros, realizaram suas revoluções instrumentalizados pela teoria marxista. Para Marx, a liberdade numa sociedade baseada na divisão do trabalho é ilusória, porque camufla os interesses antagônicos das classes para manter a dominação de uma sobre a outra. Sua obra, extremamente complexa, parte de um profundo combate às filosofias idealistas e avança para a construção do materialismo histórico, uma doutrina baseada no princípio de que são as lutas de classes que produzem a história e transformam as sociedades. Foi assim entre senhores e escravos, e entre senhores feudais e servos. Da mesma forma, entre burguês (patrão) e proletário (operário). Na base do pensamento marxista, divide-se a realidade social em três dimensões: econômica, política e simbólica. Nestas dimensões definem-se a infraestrutura e a superestrutura. A infraestrutura, é a base de toda a superestrutura, a realidade econômica fundamental, que comanda todos os fenômenos sociais. A superestrutura (determinada pela infraestrutura) é dividida em superestrutura jurídico-política (Estado, polícia, exército, leis, normas e tribunais) e superestrutura ideológica (ideias políticas, religiosas, estéticas, éticas, morais e filosóficas). Portanto, a visão que temos do mundo e a nossa psicologia são reflexos da base econômica de nossa sociedade. As ideias que surgiram ao longo da história se explicam pelo desenvolvimento das sociedades. Elas são oriundas das necessidades das classes sociais de cada tempo. Por isso a teoria marxista é materialista, porque considera que as manifestações espirituais (ideias/pensamentos) são determinadas pela estrutura material da sociedade (superestrutura), diferente dos idealistas para quem as ideias movimentam o mundo. Segundo Marx, ao examinarmos a maneira pela qual os homens produzem os bens necessários à vida, podemos compreender as formas do seu pensamento. Assim escreveu Marx em Ideologia Alemã: “A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos quais faltam os meios de produção espirituais.”. Portanto a representação ou ideia apresentada como racionais mas que exprimem os interesses da classe dominante, Marx chama de ideologia. Devido à ideologia o proletário não percebe a própria alienação e, portanto, não reconhece a exploração de que é vítima. Um operário sem consciência de classe é um reprodutor das ideias dominantes, contrárias aos seus próprios interesses. Para Marx, a ideologia surge das relações de produção que determinam as contradições sociais. A realidade contraditória da sociedade é negada e ocultada por falsas ideias, produzidas e divulgadas pela classe dominante. De acordo com a teoria marxista, o operário, a classe social que vende sua força de trabalho para viver, quando consciente de ser explorada, se destina a libertar-se e libertar toda a humanidade na construção do socialismo. Após o socialismo, de acordo com a teoria marxista, uma fase superior se desenvolveria: o comunismo. O Estado desapareceria definitivamente, pois seu único papel é manter a divisão das classes e perpetuar a exploração. Com o fim das classes, a sociedade seria baseada no bem coletivo dos meios de produção, com todas as pessoas sendo absolutamente livres.