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Locomoção e Apreensão 1 Mírian Santos 7° semestre Problema 02 - “DOR NO QUADRIL” Objetivos: 1. Compreender a osteomielite e a artrite séptica; Definição; Classificação; Epidemiologia; Fatores de risco; Etiologia; Fisiopatologia; Quadro clínico; Diagnóstico e diagnóstico diferencial; Tratamento; Prognóstico. Osteomielite Definição; A osteomielite é qualquer infecção óssea que compromete a cortical, a esponjosa e o canal medular. Ou seja, pode envolver todos os componentes do sistema musculoesquelético. É uma infecção com rápida propagação, podendo comprometer a vida do paciente e levar a morte. A destruição óssea que ocorre por conta da necrose tende à cronificação se não for tratada. As bactérias podem ter acesso ao hospede iro por introdução direta como em fraturas expostas, por contigüidade como nas escaras de decúbito e no pé diabético e por disseminação hematogênica de focos distantes, muito comuns em crianças com piodermites. Um tipo de infecção que tem se tornado cada vez mais prevalente e preocupante é a infecção após procedimentos cirúrgicos. Classificação; Podemos classifica-las, conforme a VIA DE INFECÇÃO, APRESENTAÇÃO HISTOLÓGICA, ESTÁGIO DE APRESENTAÇÃO e ANATOMIA DA INFECÇÃO INTRA-ÓSSEA. A mais utilizada é a de Waldvogel: 1. Osteomielite hematogênica aguda (OHA). 2. Osteomielite crônica (OC). 3. Osteomielite por contigüidade - com ou sem insuficiência vascular. 4. Osteomielite da coluna vertebral. Cierny e Mader desenvolveram um estadiamento para osteomielite com base na extensão anatômica da infecção e estado fisiológico do hospedeiro. Tipo 1: Apenas medular (hematogênica aguda). Tipo 2: Cortical superficial (por contigüidade). Tipo 3: Localizada (cortical e medular com estabilidade mecânica). Tipo 4: Difusa (cortical e medular com instabilidade mecânica). Influência do estado fisiológico do paciente: Paciente saudável. Compromelido por fatores sistémicos, fatores Paciente incurável. Locomoção e Apreensão 2 Mírian Santos 7° semestre Porque essa classificação é importante? Essa classificação considera que o hospedeiro pode apresentar dificuldade de cicatrização que pode ser por fatores sistêmicos do tipo diabetes mellitus, imunossupressão e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), desnutrição, insuficiências renal e hepática. Ou por fatores locais incluem doença vascular periférica, neuropatia diabética, linfedema crônico e tabagismo. Outra classificação usada tradicionalmente considera somente o tempo de infecção: 1. Aguda: até 2 semanas de evolução. 2. Subaguda: 2 semanas a até 3 meses de evolução. 3. Crônica: mais de 3 meses de evolução. Tipos Osteomielite por contiguidade Engloba vários tipos distintos, como as fraturas expostas infectadas e fraturas por armas de fogo; Nesse grupo incluem-se também as infecções pós-operatórias agudas. Osteomielite a partir de partes moles, como em escaras de decúbito infectadas (sem insuficiência vascular); Osteomielites em pés diabéticos (com insuficiência vascular). Os ferimentos por arma de fogo ocupam a segunda causa de morte em jovens. Osteomielite da coluna vertebral Inclui a osteomielite do corpo vertebral e a discite que são formas diferentes de infecção hematogênica, porém com origem comum no osso adjacente a placa cartilaginosa vertebral. Osteomielite hematogênica aguda: É a forma mais comum de infecção óssea e acomete principalmente crianças. Acomete mais homens, cerca de 85% ds casos acomete em idades inferiores a 17 anos. Etiologia: Tem como principal agente o Staphylococcus aureus (afeta 4x mais que os outros). Vale a pena ressaltar que em neonatos pode haver maior freqüência dos estreptococos do grupo B e de Gram- negativos como E. coli. Nos lactentes devem-se considerar os estreptococos do grupo A e hemófilos. A porta de entrada do germe geralmente são ferimentos e abrasões cutãneas, piodermites, amigdalites e otites. Locomoção e Apreensão 3 Mírian Santos 7° semestre Em pacientes portadores de anemia falciforme considerar a infecção por Salmonella. O trauma e a função imunológica alterada são encontrados com frequência corno fator associado na patogenia da doença. Pode também não ter nenhum sitio identificado. Quadro clínico: A criança pode se apresentar febril, anoréxica, prostrada, queixando-se de dor incapacitante na extremidade do osso longo afetado, geralmente não consegue andar. Se afetar o MMSS a criança assume uma postura de proteção do membro junto com o corpo, recusando a utiliza-lo. No local da dor há edema, rubor e calor; a dor é intensa à palpação e a mobilização articular adjacente. Ênfase deve ser dada ao pobre quadro clínico do recém-nascido e lactente em que as manifestações sistêmicas podem ser quase inexistentes. Patogenia: A OHA ocorre em aproximadamente 3% das bacteremias em crianças que são desencadeadas principalmente por piodermites provocadas por estafilococos e também pelas infecções febris das vias aéreas superiores ocasionadas principalmente pelos pneumococos ou hemófilos, Tem preferência pela metáfise de ossos longos, prefere ossos em crescimento. E por que essa preferência? A metáfise dos ossos longos nas crianças possui rica trama de capilares sinusoidais calibrosos, nos quais existe UMA LENTIFÍCAÇÃO E ESTASE DO FLUXO SANGUÍNEO que facilita a obstrução por êmbolos sépticos. Além disso, nessa região há uma característica DIMINUIÇÃO NO NÚMERO E NA ATIVIDADE DAS CÉLULAS FAGOCITÁRIAS devido à baixa pressão do oxigênio que propicia a instalação de agentes infecciosos. Na fase inicial (dura cerca de 48h) ocorre um PROCESSO SUPURATIVO com predomínio de leucócitos e obstrução dos capilares sinusóides que leva a aumento da pressão intra-óssea, em que se observam áreas de isquemia e necrose óssea. Locomoção e Apreensão 4 Mírian Santos 7° semestre O processo supurativo destrói e rompe a cortical formando um abscesso subperiosteal, que pode atravessar os tecidos moles formando uma fístula de drenagem. A cartilagem epifisária e a cápsula articular formam uma barreira natural à disseminação do pus, quando a metáfise é extra-articular. Sem a drenagem cirúrgica, o pus descola o periósteo, ocasionando mais necrose tecidual, e invade partes moles, produzindo, às vezes, fístula para o exterior. O descolamento do periósteo determina uma reação de neoformação óssea, a qual, como achado radiográfico, corresponde à periostite. A pressão intraóssea aumentada, somada à isquemia determinada pelo descolamento do periósteo, resulta em fragmento ósseo de tamanho variado, que sofre necrose. Surge, então, o sequestro ósseo. Toda essa evolução dura dias ou semanas. O momento exato da transição da fase aguda para a crônica ocorre a partir da formação de osso necrosado por isquemia. Em geral, a invasão do osso ocorre da região metafisária para o canal medular e a diáfise. A placa epifisária funciona com barreira, impedindo a invasão na epífise. No entanto, em articulações, como a coxofemoral, a glenoumeral e a tibiotarsal, a localização intra-articular da fise pode resultar em espaço livre para a coleção purulenta invadir essas cavidades. Em tais situações, ocorre tambémartrite séptica. Já no quadril, que possui metáfise intra- articular, a OHA evolui com artrite séptica associada. Osteomielite subaguda e crônica As osteomielites hematogênicas agudas, quando diagnosticadas precocemente e tratadas corretamente podem evoluir para a resolução clínica. No entanto, o tratamento inadequado, a agressividade do germe ou a imunodeficiência do hospedeiro podem levar à evolução para uma osteomielite subaguda ou crônica. Locomoção e Apreensão 5 Mírian Santos 7° semestre Clinicamente, esse tipo de osteomielite pode manter-se ativa com secreção purulenta persistente ou permanecer latente por tempo indefinido com recorrências ocasionais. Tanto a osteomielite crônica ativa quanto a recorrente são processos infecciosos extremamente difíceis de ser erradicados. A osteomielite crônica pode ocorrer com diversas apresentações clínicas e radiográficas. O osso infectado apresenta sua vascularização prejudicada e segmentos podem tomar-se desvitalizados sendo conhecidos como seqüestros. Esse fragmento de osso desvitalizado é isolado do resto do organismo em lacunas preenchidas com pus que não permitem a revascularização do mesmo. Forma-se então um local em que as bactérias se multiplicam sem o combate dos leucócitos perpetuando a infecção ou estimulando recorrências. Freqüentemente, o seqüestro pode comunicar-se com exterior por uma fístula secretante e, em alguns casos, pode ser naturalmente eliminado. Outro tipo de reação do organismo ao osso desvitalizado é o seu envolvimento com osso neoformado que se denomina involucro. O abscesso de Brodie é uma infecção latente e persistente na região metafisária do osso envolvida por tecido fibroso e osso esclerótico. A infecção é localizada, encapsulada e avascular e freqüentemente apresenta sintomatologia mínima. Quadro clínico geral; Dor - Geralmente é a primeira queixa. Apresenta-se com instalação aguda e aumento de intensidade progressiva com o passar das horas. Não cede com analgésicos comuns, nem recrudesce em um curto período. O paciente torna-se inquieto, irritadiço, perde o apetite e diminui suas atividades habituais. Com a evolução, é possível verificar sonolência e prostração. A dor é gerada pela hiperemia tecidual e pelo aumento de pressão intraóssea. Impotência funcional - Surge também na fase inicial. Piora com a evolução. Quando ocorre edema e infiltração de partes moles, torna-se mais acentuada, impossibilitando o exame da articulação mais próxima e impedindo a realização de movimentos ativos e passivos. Locomoção e Apreensão 6 Mírian Santos 7° semestre A claudicação é um fator constante quando o membro inferior estiver envolvido. Edema - Surge nos primeiros dias, acompanhando o quadro de dor. Inicialmente, é leve e vai tornando-se mais volumoso. Nas proximidades de articulações superficiais, deve- se diferenciar edema de derrame articular. O derrame articular consiste no acúmulo de líquido em uma articulação enquanto que o edema consiste no acúmulo de líquido no tecido subcutâneo, que acontece quando os fluidos no interior dos vasos sanguíneos ou linfáticos extravasam para a pele. Hiperemia - É decorrente da reação inflamatória local, acompanhando a dor e o edema. Em geral, existe aumento de calor local. Hipertermia - Como na maioria dos processos infecciosos, a hipertermia na osteomielite é quase sempre elevada (geralmente acima de 39°C). Tende a ser constante com a evolução da bacteremia ou da septicemia. Não cede com facilidade com antitérmicos usuais. Os sinais de comprometimento geral são comuns aos processos infecciosos, como prostração, abatimento, apatia e anorexia. Além disso, são progressivos também com a evolução. Os sinais de toxemia e comprometimento pulmonar (como pneumonia por estafilococo) surgem com a septicemia. Diagnóstico e diagnóstico diferencial; Exames complementares Hemograma. Geralmente apresenta leucocitose característica de infecção aguda nos primeiros dias da doença. Com a evolução de cerca de uma semana, surge desvio à esquerda e, posteriormente, detectam-se anemia e baixa hemoglobina. Velocidade de hemossedimentação. Está elevada desde o início, geralmente em valores superiores a 15 mm na primeira hora. Também é um dos critérios laboratoriais de cura quando normalizada. Proteína C reativa (PCR). Hemocultura. Pode ser utilizada como recurso auxiliar, pois é positiva na metade dos casos. Cultura e antibiograma. A cultura é o método auxiliar que confirma o diagnóstico etiológico. A punção de coleta do material deve ser realizada em perfeitas condições de assepsia e antes de ser administrado qualquer antibiótico. Em alguns casos, é necessário sedar o paciente para puncionar. Quando observado pus na seringa de coleta, está feito o diagnóstico de osteomielite. Pesquisa do Gram. Se positivo ou negativo, poderá dar uma pista a respeito do germe, Gram+ ou Gram–, podendo-se instituir tratamento antes do resultado da cultura e antibiograma. Radiologia. Nos primeiros 5 a 7 dias, não são detectadas alterações ósseas locais. Podem ser observados edema de partes moles e infiltração local pelo exsudato e porose ou desmineralização óssea metafisária, seguida de necrose óssea. Com o descolamento do periósteo, haverá neoformação óssea, com o correspondente quadro radiológico de periostite característico dessa fase. Locomoção e Apreensão 7 Mírian Santos 7° semestre Ecografia. Sua utilização, na osteomielite, recai na possibilidade de mostrar as infiltrações de partes moles e edema. Também é auxiliar no diagnóstico diferencial com artrite séptica. Cintilografia óssea. É um exame que evidencia muito bem a área de hiperemia, onde o contraste tem captação maior. Apesar de não ser um exame específico para processo infeccioso, é de extrema utilidade também no diagnóstico diferencial. Existem marcadores ósseos específicos para a infecção, como o gadolínio e outros. Tomografia computadorizada (TC). Tem pouca utilidade para o diagnóstico na fase aguda. É mais indicada para localizar sequestros ósseos na osteomielite crônica. Apresenta maior precisão do que a radiografia simples em casos de infecção em osso esponjoso (ilíaco e vértebras). Ressonância (RM). Não é um exame de rotina. Pode ser solicitada em casos de dúvida no diagnóstico e como diagnóstico diferencial. A qualidade da imagem é excelente, principalmente para partes moles adjacentes ao osso. Diagnóstico diferencial Deve ser feito com patologias que apresentem reação inflamatória aguda e artrite reumatoide. A gota também pode produzir um quadro de edema e hiperemia similar, embora seja muito rara em crianças. O tumor de Ewing pode produzir hipertermia, com dor intensa e edema. Seu aspecto radiológico pode confundir com osteomielite na fase de periostite. No entanto, o principal diferencial da osteomielite continua sendo a artrite séptica, devido ao fato de ambas apresentarem o mesmo quadro clínico e pela proximidade anatômica da região metafisária com a articulação. Tratamento; O tratamento da osteomielite consiste, inicialmente, de punção local, com o paciente sedado ou anestesiado, em centro cirúrgico que possibilita o isolamento do agente e determina se tem necessidade de drenagem. Com o surgimento de pus, realiza-se a drenagem cirúrgica de partes moles. Se houver pus subperiosteal, são feitasalgumas perfurações ósseas com broca adequada ou é aberta uma pequena janela com formão fino. O local é lavado, e todo material bacteriano e necrosado é retirado. Deve ser realizada irrigação contínua com entrada e saída de sucção contínua. Não se deve utilizar antibióticos ou detergentes no local, apenas solução fisiológica. Recomenda-se manter a irrigação por 24 a 48 horas, no máximo. Pode-se obter cultura do material aspirado antes da retirada da sucção. A ferida cirúrgica é suturada de modo convencional. O membro afetado deve ser imobilizado em tala gessada, férula, órtese plástica ou, ainda, com tração em partes moles, dependendo da região afetada. Os cuidados gerais de hidratação, analgesia, sedação e alimentação adequada são um aspecto importante no tratamento da osteomielite. Locomoção e Apreensão 8 Mírian Santos 7° semestre Recomenda-se que o pediatra acompanhe o tratamento, do ponto de vista clínico e nutricional. Durante os primeiros dias, na presença de atividade bacteriana intensa e quadro febril elevado, não se pode descuidar da possibilidade de surgimento de outros focos infecciosos (pneumonias, encefalites, meningites, etc.). Antibioticoterapia O tratamento clínico das infecções osteoarticulares consiste em analgésicos, antitérmicos e antibióticos. A antibioticoterapia deve ser instituída o mais rápido possível, logo após a coleta de material para cultura e antibiograma. Mesmo que praticamente todos os patógenos possam infectar o osso ou as articulações, o Staphylococcus aureus é o mais encontrado nos casos, constituindo-se o principal agente etiológico nessas infecções (90% das osteomielites hematogênicas). O tratamento empírico quase sempre é iniciado levando-se em conta a idade do paciente e a apresentação clínica. Uma boa escolha é iniciar o tratamento por via endovenosa, com antibióticos bactericidas, que tenham penetração no osso e nas cavidades articulares, evitando os que possam causar efeitos colaterais, como oto ou nefrotoxicidade. Em recém-nascidos, associa-se a oxacilina a um aminoglicosídeo. Em crianças após o período neonatal até a idade adulta, utiliza-se, de preferência, a oxacilina associada à cefalosporina de terceira geração. Como alternativa à oxacilina, pode-se empregar vancomicina ou clindamicina, particularmente no caso de Staphylococcus aureus meticilino- resistente. A linezolida também pode ser utilizada nessa situação. Além disso, antibióticos como ciprofloxacino e rifampicina podem ser uma combinação adequada para pacientes acima dos 18 anos. Nos portadores de anemia falciforme, devido à possibilidade de infecção por salmonela, utiliza- se cefalosporina de terceira geração (p. ex., ceftriaxona) por via venosa junto à oxacilina. Nos portadores de osteomielite por traumatismos, os agentes implicados incluem S. aureus, bacilos coliformes e Pseudomonas aeruginosa. O antibiótico de escolha é a oxacilina, associada à cafalosporina de terceira geração com atividade antipseudomonas (p. ex., ceftazidima). A vancomicina e a teicoplanina devem ser reservadas para casos de infecção sabidamente adquiridas em hospital ou resistentes aos antibióticos usuais. O tempo de antibioticoterapia intravenosa vai depender da curva térmica e da evolução clínica do paciente, podendo também ser utilizada a velocidade de hemossedimentação ou a proteína C como critérios de avaliação. Usualmente, o tempo de tratamento é de 4 a 6 semanas, sendo que, após os 10 primeiros dias, se o paciente estiver estável do ponto de vista clínico, a medicação deve ser passada para via oral a nível ambulatorial. Locomoção e Apreensão 9 Mírian Santos 7° semestre Artrite Séptica Definição; É a infecção de uma articulação sinovial causada por uma bactéria piogênica, podendo levar à destruição da cartilagem, luxação ou subluxação articular e destruição da epífise e linha epifisária. Da mesma forma que na osteomielile hematogênica aguda, o diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais no prognóstico da doença. Classificação Pode ser dividida em gonocócica e não gonocócica. ARTRITE GONOCÓCICA: Agente: Neisseria gonorrhoeae, que é um diplococo gram-negativo sexualmente transmissível. Acomete principalmente mulheres, com idade <40 anos e grávidas. Clínica: Inicia no aparelho geniturinário e se estende por via hematogênica para os demais tecidos, principalmente as articulações. Bifásica >> Poliarticular (síndrome artrite- dermatite – 4 ou mais em momentos diferentes) >> Monoarticular (monoartrite). ARTRITE NÃO GONOCÓCICA Agentes: Depende da idade. Contudo, Artrite não Gonocócica = Staphylococcus aureus até prova em contrário. Acomete principalmente crianças, idosos e pacientes imunocomprometidos; Clínica: Monoatrite aguda Epidemiologia; É mais comum na primeira década de vida; preferencialmente aquelas entre 1 e 2 anos. Nos recém-nascidos e lactentes, o quadril é a articulação mais comumente afetada, sendo a infecção geralmente secundária à drenagem intra-articular de osteomielite proximal do fêmur ou à contaminação direta por tentativa de punção da artéria femoral. Nas crianças pré-escolares e escolares, com maior atividade física, o joelho é a articulação mais acometida. Embora alguns trabalhos mostrem igual prevalência nos sexos masculino e feminino, a maioria dos autores reconhece uma maior incidência no sexo masculino, relacionada ao maior grau de atividade fisica do menino e, conseqüentemente, maior incidência de episódios traumático. Com relação aos pacientes adultos, acomete principalmente aqueles com doenças sistêmicas crônicas, como artrite reumatóide, diabetes mellitus, lúpus eritematoso, alcoolismo ou doenças que provocam imunossupressão. Focos infecciosos a distância pode induzir a bacteremias recorrentes e predispor à infecção articular, principalmente nos pacientes imunodeprimidos ou usuários de drogas. Locomoção e Apreensão 10 Mírian Santos 7° semestre Fatores articulares locais também favorecem a colonização bacteriana, como articulações neuropáticas de Charcot e articulações com implantes ortopédicos, como próteses metálicas, metilmetacrilatoepolietileno. Etiologia; A bactéria envolvida pode não ser identificada na totalidade dos casos em uma infecção óssea ou articular. A obtenção de hemocultura, cultura e esfregaços do líquido sinovial são capazes de identificar em aproximadamente 70 a 80% dos casos o agente patógeno. As bactérias mais comumente encontradas nas infecções osteoarticulares são tradicionalmente estratificadas pela idade do paciente. Staphylococcus aureos é a bactéria mais comum em qualquer faixa etária. No recém-nascido, infecções articulares por Streptococcus ou Neisseria gonorreae são também observadas, com fator de risco aumentado nas crianças submetidas a cateterizações umbilicais ou outros procedimentos invasivos. Nas crianças abaixo de 5 anos, as infecções por Haemophilus influenzae têm uma incidência significativa e cerca de 20% dos pacientes apresentam um quadro de meningite associada. Entretanto, em algumas circunstâncias, outras bactérias também podem ser encontradas, como infecções por salmonella em crianças com anemia falciforme, pseudomonas aeruginosa pós-ferimentos puntiformes no pé ou Neisseria gonorrhoeae nos adolescentes que j á têm vida sexual ativa. Fisiopatologia;A bactéria pode penetrar na articulação por três formas: VIA HEMATOGÊNICA de um foco infeccioso primário a distância, por INOCULAÇÃO DIRETA INTRA-ARTICULAR ou pela DRENAGEM DE OSTEOMIELITE AGUDA loc lizada em uma metáfise intracapsular. Isso ocorre principalmente nas articulações do quadril, por drenagem de osteomielite na metáfise proximal do fêmur; do ombro por drenagem de uma osteomielite na metáfise proximal do úmero; do cotovelo, por osteomielite na metáfise proximal do rádio e do tornozelo, por drenagem de osteomielite na metáfise distal da fíbula ou da tíbia. Mecanismos de destruição articular A infecção intra-articular destrói a cartilagem hialina por um processo de condrólise química. As enzimas produzidas pelas bactérias e por seus produtos de degradação são condrolíticas. A estreptoquinase e a estreptodornase agem diretamente sobre o ácido condroitinossulfúrico, que é um dos componentes protéicos da cartilagem articular. Inicialmente, há perda da matriz cartilaginosa, seguida de perda de colágeno cartilaginoso. Essas enzimas proteolíticas produzidas pela Locomoção e Apreensão 11 Mírian Santos 7° semestre bactéria promovem erosões na superfície articular, que se desprendem para o interior da articulação como pequenos grumos ou fragmentos livres. No espaço de tempo de 24 a 48 horas, já se observam essas alterações destrutivas, que serão tanto mais graves quanto maior for o tempo decorrido com pus dentro da articulação. O aumento do volume líquido dentro da articulação produz uma pressão intra-articular exagerada e distensão capsular. Isso resulta em isquemia da membrana sinovial e na consequente diminuição da irrigação sanguínea, com menos suprimento nutricional para a cartilagem hialina. O aumento de pressão pode resultar em isquemia também da epífise, com posterior necrose epifisária. Algumas articulações são especialmente suscetíveis a necrose, como a escapuloumeral e a coxofemoral, pois a cápsula articular na qual estão as artérias que nutrem a epífise se prolonga até a região metafisária. Portanto, no quadril e no ombro, a metáfise é intra-articular. Nesses locais, é possível e bastante frequente que uma artrite séptica origine uma osteomielite do colo do úmero ou do fêmur ou até mesmo diafisária. O mecanismo inverso também pode ocorrer, ou seja, uma osteomielite do colo do úmero ou do fêmur pode drenar da metáfise intra- articular para o interior da articulação, ocasionando uma artrite infecciosa. Especialmente nessas duas articulações, a distensão produzida pelo aumento de líquido intra-articular pode levar a uma subluxação ou mesmo a uma luxação. É muito frequente nos pacientes tardiamente diagnosticados verificar essas situações drásticas, inclusive com o desaparecimento total da epífise. No caso da articulação coxofemoral, isso causa uma perda irreversível da função articular, uma deformidade com encurtamento, adução e flexão e mobilidade diminuída. Não haverá mais crescimento epifisário nesse local. Quando a luxação for de ombro, por artrite séptica, ainda que diminuída, a mobilidade é razoável, pois se forma uma neoarticulação fibrosa, na qual não há ação do peso corporal como no quadril. A consequência maior fica por conta do encurtamento do úmero. Quadro clínico; O quadro clínico é caracterizado por dor articular rapidamente progressiva, febre, mal-estar, calafrios e recusa em usar ou deixar examinar o membro acometido. Uma história de trauma antecedendo o início dos sintomas é bastante comum, mas com piora progressiva do quadro doloroso e das condições gerais do paciente. Observa-se limitação funcional grave do membro acometido, com pseudoparalisia, por dor intensa, mesmo à tentativa do exame articular passivo suave. Ocorre calor e aumento de volume local e a articulação assume uma posição de conforto que maximiza o volume articular para diminuir a tensão capsular e a dor. Locomoção e Apreensão 12 Mírian Santos 7° semestre Assim, o quadril é mantido em flexão, abdução e rotação lateral; a posição mais confortável para a maioria das outras articulações é com leve flexão. Nos recém-nascidos, irritabilidade intensa, recusa alimentar, aumento de volume articular e febre ou febrícula são os achados clínicos usuais. Alguns estudos moscram que, em muitos casos, os sinais clássicos de infecção podem estar ausentes. Diagnóstico e diagnóstico diferencial; Com os achados clínicos sugerindo a suspeita diagnóstica de artrite séptica, a punção articular deve ser realizada com boas condições de assepsia, para exame do material aspirado. É de extrema importância a análise do líquido sinovial aspirado para cultura, citologia e bioquímica. A citologia mostra que os leucócitos estão elevados, usualmente entre 50.000 e 100.000 cels./mm3 e com mais de 90% de polimorfonucleares; a bioquímica mostra que a dosagem da glicose no líquido aspirado está geralmente 50mg/dL menor que a glicemia. O hemograma apresenta alterações de infecção aguda, com leucocitose e desvio à esquerda; a velocidade de hemossedimentação (VHS) é tradicional mente utilizada para a determinação e o controle evolutivo de processos infecciosos. Por depender de diversos fatores físicos (como tamanho e formato dos eritrócitos, concentração plasmática, níveis hormonais e condições nutricionais do paciente) o valor do VHS pode não ser compatível com a gravidade da infecção. Assim, a dosagem da proteína C- reativa tem se mostrado como um fator mais sensível para o diagnóstico e controle evolutivo nas infecções osteoarticulares. A proteína C-reativa é uma proteína de fase inflamatória aguda, de origem hepática e cuja concentração plasmática aumenta significativamente já nas primeiras 24 a 48h de um processo infeccioso. Também é bastante útil no acompanhamento evolutivo do quadro, pois decresce rapidamente em seus níveis séricos quando cessada a infecção. Radiologia - As alterações precoces que podem ser vistas em radiografias simples são espessamento de cápsula sinovial, infiltração e edema de partes moles e da região periarticular e, principalmente, um aumento do espaço articular. Esse último dado significa que existe líquido com aumento da pressão intra-articular. Após 48 horas de evolução, pode-se verificar com mais facilidade o afastamento entre as superfícies articulares e, até mesmo, os sinais de subluxação ou luxação em determinadas articulações, como quadril e ombro. Nos casos em que existir artrite e osteomielite, encontram-se os mesmos sinais de destruição Locomoção e Apreensão 13 Mírian Santos 7° semestre óssea descritos para osteomielite, junto às alterações da infecção articular. Um dos primeiros sinais radiográficos junto ao aumento do espaço articular é o afastamento lateral da epífise e uma linha de Shenton “quebrada”. Ultrassonografia. É considerada atualmente um dos exames complementares mais importantes no diagnóstico de artrite séptica. Evidencia de maneira precoce a presença de líquido intra-articular, mesmo em quantidades pequenas, na fase inicial da infecção. É evidente que, em estágios mais avançados, com muito pus intra-articular, as alterações são evidenciadas com facilidade na ecografia e, também, com radiografias simples. Cintilografia. Evidencia maior captação de maneira bastante precoce, mostrando áreas “quentes” significando reação inflamatória, hiperemias e reação infecciosa.Na presença de sinais positivos de artrite séptica vistos no ultrassom ou no raio X, não há necessidade de ser realizada cintilografia. Nas infecções da pelve, como artrite séptica do quadril, nas articulações sacroilíacas e na sínfise pubiana, esse exame é fundamental para localizar o foco infeccioso. Diagnóstico diferencial Nos pacientes com a história clássica de dor, limitação articular progressiva, calor articular e febre, há poucas alternativas diagnósticas. Entretanto, condições outras como sinovites tóxicas, artrite reumatóide monoarticular ou osteomielite aguda podem confundir o diagnóstico. A sinovite tóxica pode ser excluída pelos achados clínicos, pois a criança não apresenta sinais de doença infecciosa, não se mostra doente, a dor não é tão intensa e a limitação da mobilidade articular é leve. A sinovite aguda monoarticular reumatóide pode apresentar-se com sinais e sintomas que se confundem com infecção, como febre, mal- estar, fraqueza, dor e limitação articular importantes; a análise do líquido aspirado é de fundamenta l importância. A citologia do líquido sinovial mostra leucocitose com menos de 80% de polimorfonucleares, enquanto na artrite séptica o diferencial mostra polimorfonucleares acima de 90%. Na artrite reumatóide, a dosagem da glicose do líquido aspirado mostra-se idêntica à glicemia, enquanto na artrite séptica a dosagem da glicose no líquido mostra-se menor que a glicemia. Tratamento; O primeiro ponto fundamental é a drenagem cirúrgica. Sob anestesia geral e em condições de assepsia, é realizada uma artrotomia que Locomoção e Apreensão 14 Mírian Santos 7° semestre permita lavar o espaço articular e aliviar a pressão em todos os casos. Não se recomendam as punções de esvaziamento repetidas, pois não promovem uma lavagem eficiente e não podem ser retirados os grumos e o material necrótico por uma agulha, mesmo que seja de grosso calibre. Da mesma maneira que a punção, cada articulação tem sua via de acesso igual à da cirurgia convencional. No quadril, pode-se utilizar a via anterior de SmithPetersen. No joelho, utilizam-se duas incisões parapatelares no nível do polo superior da patela. A artrotomia permite lavar de forma cuidadosa e exaustiva a articulação, retirando todo o material purulento e necrótico. Não se utilizam antibióticos locais, nem detergentes biológicos. Após a lavagem articular, instalam-se um sistema de irrigação contínua por um cateter e um sistema de sucção contínua mecânico em outro cateter. Portanto, há um tubo de irrigação e outro de drenagem. Utiliza-se soro fisiológico puro com gotejamento abundante e contínuo. Deve ser observado constantemente o sistema de sucção, para verificar possíveis obstruções por coágulos ou restos de material necrótico. A drenagem é mantida por 24 a 48 horas. O risco de contaminação secundária por pseudomonas é maior após 48 horas. Em condições ideais, deve ser colhido o material do dreno de sucção para cultura em 24 e 48 horas para certificar-se da “esterilização” do espaço articular. Outra maneira para interromper a irrigação é quando se observa o líquido de drenagem com aspecto límpido, sem grumos, nem material hemorrágico. Quando se retira o tubo de irrigação, deixa-se o de sucção por mais 24 horas. Outro ponto importante é imobilizar a articulação com tala gessada, ou tração em alguns casos de artrite do quadril, permitindo, com o repouso articular, uma rápida diminuição do quadro doloroso e do espasmo articular. O tempo de imobilização pode durar de 10 a 30 dias, conforme a resposta ao tratamento e a dor referida pelo paciente. Nos casos em que ocorreu luxação ou subluxação, o prazo de imobilização é maior, para manter a articulação reduzida. Após a retirada da imobilização, é instituído um programa de reabilitação com exercícios ativos e passivos. A administração de antibióticos segue os mesmos princípios descritos anteriormente e utilizados na osteomielite. Da mesma maneira, analgésicos e antitérmicos são usados como no tratamento descrito para a osteomielite. Referências: 1. Tratado de Ortopedia – SBOT; 2. Reumatologia – Current; 3. Ortopedia e Traumatologia – Herbert; Locomoção e Apreensão 15 Mírian Santos 7° semestre Locomoção e Apreensão 16 Mírian Santos 7° semestre