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Victoria K. L. Cardoso Síndrome nefrótica …….…….Introdução………..... Conceitos gerais: ● Síndrome nefrítica leve: lesões inflamatórias em menos de 50% dos glomérulos na microscopia de luz (glomerulonefrite focal). ○ Presença de glóbulos vermelhos que podem ser dismórficos, cilindros eritrocitários e proteinúria leve (geralmente menos de 1,5 g/dia). ○ No caso de doença mais avançada: proteinúria intensa, edema, hipertensão e comprometimento da função renal. Geralmente também há hematúria e proteinúria assintomáticas. ● Síndrome nefrítica grave: glomerulonefrite difusa (> 50% dos glomérulos estão afetados). ○ Presença de: proteinúria intensa (na faixa nefrótica), edema, hipertensão e/ou comprometimento da função renal. ● Síndrome nefrótica: intensa proteinúria e lipidúria, mas com poucas células ou cilindros e é normalmente considerado brando. ○ Proteinúria pesada (> 3,5 g/24 horas). ○ Hipoalbuminemia (< 3,5 g/dL). ○ Edema periférico. ○ Hiperlipidemia. ○ Doença trombótica. Obs: proteinúria pesada isolada sem edema ou outras características da síndrome nefrótica é sugestivo de glomerulopatia (com as mesmas etiologias da síndrome nefrótica), mas não está necessariamente associada aos múltiplos problemas clínicos da síndrome nefrótica. …….…….Etiologia…….……. Doença de alteração mínima: (doença nula ou nefrose lipóide) ● Características diagnósticas: ○ Apresentação de um tipo "nefrítico" de urinálise com hematúria e cilindros celulares (incluindo hemácias). ○ Microscopia de luz normal ou apenas com leve proliferação de células mesangiais. Victoria K. L. Cardoso ○ Sem evidência de imunocomplexos na imunofluorescência e na microscopia de luz. ○ Achado histológico principal: apagamento difuso dos processos das células epiteliais. ● Geralmente ocorrer em: ○ Crianças. ○ Adultos, como uma condição idiopática, associada ao uso de AINES. ○ Efeito paraneoplásico de malignidade, na maioria das vezes linfoma de Hodgkin. ○ Glomerulonefrite pós-infecciosa e associada a infecções. ○ Glomerulonefrite membranoproliferativa e nefropatia por IgA. Glomeruloesclerose segmentar focal (GESF): está entre as lesões mais comuns encontradas subjacentes à síndrome nefrótica idiopática em adultos, sendo mais prevalente em pessoas negras. ● Características diagnósticas: ○ Padrão histológico específico de lesão renal, com a presença de glomérulos com colapso mesangial e esclerose. ■ Apenas alguns glomérulos são afetados. ● Síndrome idiopática (GESF primária). ○ Característica: geralmente apresentam o início agudo da síndrome nefrótica. ○ Formas: distúrbio das células epiteliais associado com doença de alteração mínima OU forma congênita. ○ Tratamento: pode responder a agentes imunossupressores, como glicocorticóides. ● Associada a infecções por (GESF secundária). ○ Característica: proteinúria de aumento lento e o comprometimento da função renal ao longo do tempo. ■ A proteinúria aqui não costuma ser nefrótica; mesmo quando a excreção de proteínas excede 3 a 4 g/dia, tanto a hipoalbuminemia quanto o edema são incomuns. ○ Infecções mais comuns: ■ HIV. ■ Nefropatia de refluxo. ■ Lesão glomerular prévia curada. ■ Lúpus eritematoso sistêmico. ■ Obesidade maciça. ■ Terapia com bifosfonatos. Victoria K. L. Cardoso ○ Tratamento: uso de redutores da pressão intraglomerular, com inibidores da enzima conversora de angiotensina. ○ Características principais para distinção da GESF primária: ■ Maior tendência ao colapso e esclerose de todo o tufo glomerular, em vez de lesão segmentar - geralmente esses pacientes tem insuficiência renal rapidamente progressiva. ■ Pode haver lesão tubular grave com microcistos proliferativos e degeneração tubular. ● Problemas de diagnóstico: existem três questões importantes de diagnóstico na GESF: ○ Erro de amostragem. ○ Distinguir FSGS primário e secundário. ○ Identificação de GESF associada à glomerulopatia em colapso. ● Características clínicas: ○ Hematúria. ○ Hipertensão. ○ Função renal diminuída. Nefropatia membranosa: é uma das causas mais comuns de síndrome nefrótica primária em adultos. ● Características: ○ Espessamento da membrana basal com pouca ou nenhuma proliferação. ○ Infiltração celular. ○ Presença de depósitos densos de elétrons através da membrana basal glomerular. ● Distúrbio primário (idiopático): mais comum em adultos. ○ Decorrentes de auto-anticorpos direcionados contra o receptor da fosfolipase A2 nos podócitos. ● Distúrbio secundário: mais comum em crianças. ○ Causas mais comuns: ■ Antigenemia da hepatite B. ■ Doenças autoimunes. ■ Tireoidite. ■ Carcinoma. ■ Uso de certos medicamentos, como AINEs, penicilamina, ouro e captopril . ■ Induzida por tumor. Amiloidose: 4 a 17 por cento dos casos de síndrome nefrótica aparentemente idiopática, comum em pessoas mais velhas. ● Diagnóstico: suspeita a partir de uma história de doença inflamatória crônica Victoria K. L. Cardoso ou, com doença primária + detecção de paraproteína monoclonal no soro ou na urina. ● AL ou amiloidose primária: discrasia de cadeia leve e formação de fibrilas amilóides, por cadeias leves monoclonais. ● AA ou amiloidose secundária: formação de fibrilas amilóides a partir do reagente de fase aguda. ○ Geralmente está associada a uma doença inflamatória crônica, como artrite reumatóide ou osteomielite. Fisiopatologia das apresentações ………..…….clínicas…….………….. Proteinúria: ● Podem ser de 3 tipos: glomerular, tubular e por transbordamento. ● A perda da proteína ocorre por proteinúria glomerular, devido ao aumento da filtração de macromoléculas pela parede capilar glomerular. ● Principal proteína urinária: albumina. ○ Outras: inibidores da coagulação, transferrina, imunoglobulinas e proteínas hormonais. ● Principal alvo de lesão: podócitos. ● Fenótipos ultraestruturais comuns: apagamento do processo podocitário + ruptura do diafragma + depleção relativa ou absoluta dos podócitos. Hipoalbuminemia: perda pela urina. ● Consequência: aumento da síntese hepática de albumina, em resposta à perda de albumina, que aumenta a expressão do gene da albumina hepática. ● Existem pacientes com proteinúria de faixa nefrótica com pouca ou nenhuma hipoalbuminemia; esses pacientes são mais propensos a ter uma das formas secundárias de GESF (como nefropatia de refluxo) em vez de uma das doenças nefróticas primárias, como nefropatia membranosa ou doença de alteração mínima. Edema e ascite: ● Pode ocorrer por conta da hipoalbuminemia, que leva a saída de fluido para o espaço intersticial, ou seja, pela retenção renal primária de sódio. Hiperlipidemia e lipidúria. ● São as duas anormalidades lipídicas mais comuns na síndrome nefrótica - hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. ● A baixa pressão oncótica aumenta a síntese de lipoproteínas hepáticas, que têm um papel importante no desenvolvimento da hiperlipidemia. …….…….Complicações…….……. Proteinúria e edema: ● são as principais manifestações clínicas da síndrome nefrótica. Victoria K. L. Cardoso ● O líquido intersticial tende a se acumular em áreas dependentes onde o turgor do tecido é baixo. ● Assim, edema periorbital ao despertar pela manhã e edema pedioso são comuns. ● O edema é frequentemente acompanhado por efusões serosas quando se torna generalizado e maciço (anasarca). Desnutrição proteica: ● Pode ser agravada por sintomas gastrointestinais de anorexia e vômitos, que são secundários ao edema do trato gastrointestinal. ● Geralmente ocorre em pacientes com proteinúria acentuada, mas pode ser mascarada pelo ganho de peso devido ao edema. Hipovolemia: ● Resultado da diurese excessiva naqueles com albumina sérica inferior a 1,5 g/dL. Lesão renal aguda: ● Principalmente quando há proteinúria profunda e hipoalbuminemia. Tromboembolismo: ● Maior incidência de trombose arterial e venosa (principalmente trombose venosa profunda e renal) e embolia pulmonar. ● Trombose de veia renal - principalmente em pacientes com nefropatia membranosa, quando há proteinúria > 10 g de proteína pordia. ○ Forma aguda ou indolente. ○ A apresentação aguda - dor no flanco, hematúria macroscópica e declínio da função renal. ○ Apresentação indolente - geralmente assintomática, e o diagnóstico de trombose venosa renal apenas se suspeita quando o tromboembolismo pulmonar se desenvolve. Outras: ● Perda urinária de hormônios. ● Hiperlipidemia. ● Potencial para aterosclerose acelerada. ● Tendência a trombose venosa ou arterial. ● Aumento da suscetibilidade à infecção. ○ Incluem: infecções recorrentes do trato respiratório, infecções do trato urinário, peritonite e sepse, particularmente com bactérias encapsuladas, como Streptococcus pneumonia. ○ Todos os pacientes devem receber vacinas pneumocócicas. ● Disfunção tubular proximal, que gera: ○ Glicosúria. ○ Aminoacidúria. ○ Fosfatúria. ○ Bicarbonatúria. Victoria K. L. Cardoso ○ Deficiência de vitamina D. ● Mudanças na função tireoidiana. ● Anemia, pela perda urinária ou síntese prejudicada de eritropoietina, também foi descrita em alguns pacientes. …….…….Diagnóstico…….……. Análise urinária: excreção de proteínas em coleta de urina de 24 horas. ● Valor normal: < 150 mg/dia. ● Excreção maior que 3,5 g/dia = portadores de proteinúria na faixa nefrótica. Biópsia renal: é necessária para o diagnóstico. ● Procedimento padrão para determinar a causa da proteinúria. Estudos sorológicos: ● Anticorpos antinucleares (ANA). ● Complemento (C3/C4 e complemento hemolítico total). ● Eletroforese de proteínas séricas. ● Imunofixação. ● Soro cadeias leves livres. ● Sorologias para: sífilis, hepatite B, hepatite C e dosagem de crioglobulinas. …….…….Tratamento…….……. Proteinúria: uso de inibidores da enzima de conversão da angiotensina ou de bloqueadores do receptor da angiotensina. ● Efeitos colaterais: diminuição aguda na taxa de filtração glomerular e hipercalemia. ● Não esquecer de medir os níveis séricos de creatinina e potássio durante o início e titulação desses medicamentos. Edema e ascite: restrição dietética de sódio (para aproximadamente 2 g de sódio por dia) e uso de diuréticos de alça (geralmente com doses maiores). ● O edema deve ser revertido lentamente para prevenir a hipovolemia aguda. ● A avaliação da terapia diurética pode ser a partir do peso corporal em avaliações seriadas. Hiperlipidemia: as anormalidades lipídicas pela síndrome nefrótica se revertem com a resolução da doença, como ocorre com a terapia com glicocorticóides na doença de alteração mínima. ● A terapia hipolipemiante pode ser indicada para pacientes com síndrome nefrótica persistente e hiperlipidemia. Hipercoagulabilidade: se houver trombose, trata-se com heparina seguida de varfarina enquanto o paciente permanecer nefrótico.
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