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Universidade Federal Fluminense Curso de Graduação em Medicina Veterinária Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Agrossocioambiental Sustentável Monitoria em Aquicultura: Iniciação a Docência em Aquicultura e Pesca APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA RACHEL FERREIRA BRAGA NITERÓI, 2018 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 – PRÁTICA DE PEIXE ........................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 2 ANATOMIA EXTERNA ............................................................................................ 5 2.1 Forma .......................................................................................................................... 5 2.2 Tegumento ................................................................................................................. 5 2.3 Cabeça......................................................................................................................... 7 2.4 Nadadeiras .................................................................................................................. 8 2.5 Anatomia externa prática ...................................................................................... 10 3 ANATOMIA INTERNA ........................................................................................... 12 3.1 Sistema Digestório ................................................................................................... 12 3.2 Bexiga natatória ...................................................................................................... 12 3.3 Sistema circulatório ................................................................................................ 12 3.4 Osmorregulação ....................................................................................................... 13 3.5 Outras estruturas ..................................................................................................... 14 3.6 Anatomia interna prática ........................................................................................ 15 4 BIOMETRIA DOS PEIXES ...................................................................................... 20 5 DISSECÇÃO .............................................................................................................. 21 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 25 CAPÍTULO II – PRÁTICA DE RÃ ............................................................................ 26 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 27 2 ASPECTOS BIOLÓGICOS ..................................................................................... 27 2.1 Ciclo de vida ............................................................................................................. 30 2.2 Anatomia externa .................................................................................................... 32 2.3 Anatomia interna .................................................................................................... 33 3 ANATOMIA EXTERNA PRÁTICA ........................................................................ 33 4 ANATOMIA INTERNA PRÁTICA ......................................................................... 35 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 38 CAPÍTULO III – PRÁTICA DE CRUSTÁCEOS .................................................... 39 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 40 2 ASPECTOS BIOLÓGICOS ..................................................................................... 40 2.1 Camarões .................................................................................................................. 40 2.1.1 Muda e crescimento ................................................................................................ 42 2.1.2 Reprodução ............................................................................................................. 43 2.1.3 Anatomia prática..................................................................................................... 44 3 CARANGUEJO .......................................................................................................... 50 3.1 Anatomia prática ..................................................................................................... 51 4 SIRI .............................................................................................................................. 55 4.1 Anatomia prática ..................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 59 1 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA INTRODUÇÃO Aquicultura ou Aquacultura é a produção de organismos aquáticos, como a criação de peixes, crustáceos, anfíbios, moluscos e o cultivo de plantas aquáticas para o uso do homem. Esta atividade está associada a segmentos como: a piscicultura, que é a criação de peixes marinhos e continentais, a carcinicultura, que é a produção de camarão tanto de água doce quanto de água salgada; a malacocultura, que é a criação de moluscos bivalves; a ranicultura, que é a criação de rãs; e a produção de algas/plânctons para a produção de cosméticos e gelatinas, por exemplo (RANGEL, 2013). Os principais organismos cultivados no Brasil são espécies exóticas, dentre elas: a carpa (Ciprinus carpia), a tilápia (Oreochromis niloticus), o camarão marinho (Litopenaeus vannamei) e - exclusivamente na Região Sul - a ostra japonesa (Crassostrea gigas) (BORGHETTI et al, 2003). A Piscicultura brasileira produziu 691.700 toneladas de peixes de cultivo em 2017. Dentro deste número, a Tilápia é a mais importante espécie de peixes cultivados do Brasil. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Piscicultura, a espécie representa 51,7% da Piscicultura nacional, com 357.639 toneladas em 2017. A segunda posição não é de uma espécie em si, mas de uma categoria de peixes: os nativos. De acordo com uma pesquisa, liderados pelo Tambaqui, os nativos representam 43,7% da produção brasileira: 302.235 toneladas. Outras espécies, entre as quais destacam-se Carpas e Trutas, representam 4,6% da produção brasileira de peixes de cultivo em 2017, com 31.825 toneladas. De acordo com o Relatório Intrafish, a China lidera o ranking dos produtores mundiais de Tilápia com 1,8 milhão de toneladas de Tilápia por ano. A Indonésia está na segunda posição, com 1,1 milhão/t, e, depois, o Egito, com 800 mil t/ano. O Brasil está em quarta posição, seguido das Filipinas (311,6 mil t) e Tailândia (300 mil t). O Paraná é o maior produtor de Tilápia do Brasil, com 105.392 toneladas. A espécie participa com 94% da produção total de peixes cultivados do estado. A Tilápia também está presente com força de São Paulo. Nada menos do que 95% da produção do estado – equivalentes a 66.101 t – são de Tilápia. O terceiro maior produtor de Tilápia do Brasil é Santa Catarina, com 32.930t (74% do total). 2 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA No cenário atual da Aquicultura, principalmente no Brasil, é de grande importância o conhecimento dos organismos quesão criados para a produção, visando não apenas maior retorno econômico com menores gastos, mas também produtos de maior qualidade. Na disciplina de Aquicultura, haverá uma ênfase maior no grupo dos peixes, dos anfíbios e dos crustáceos. Esta apostila focará na parte prática da disciplina, possuindo uma parte teórica e imagens, que servirão para estudo e revisão do que será visto. 3 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Capítulo I Prática de Peixe 4 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 INTRODUÇÃO Mais da metade do número total de espécies de vertebrados vivos corresponde aos peixes. Atualmente, mais de 27 mil espécies são reconhecidas, e o número de espécies novas descritas anualmente excede o número de tetrápodes (anfíbios, aves, répteis e mamíferos). A importância destes animais para o meio ambiente e a população humana é tão grande que originou um ramo científico de estudo: a Ictiologia. Esta ciência estuda as espécies de peixes e sua relação com o ambiente, seus padrões de crescimento e distribuição, hábitos de vida, história evolutiva, entre outros aspectos. A Ictiologia se concentra nos diferentes grupos de peixes, incluindo os peixes ósseos da Classe Osteichthyes – que serão o foco nesta apostila –, a mais diversa entre as classes, englobando 26 mil espécies de peixes. Os peixes cartilaginosos da Classe Chondrichthyes, que compreende 800 espécies e é representada pelos tubarões e raias, também são objeto de estudo da Ictiologia, assim como os peixes sem mandíbula da Superclasse Agnatha, representada pela lampreia e feiticeira (SOUZA, 2017). Devido à grande variedade desses animais, podemos definir peixe, de uma forma simples, como um vertebrado aquático que possui brânquias e de membros em formato de nadadeiras (HELFMAN et al, 2009). Esses seres vivos respiram primariamente pelas brânquias, locomovem-se por natação através das nadadeiras e, geralmente têm o corpo recoberto por escamas. São pecilotérmicos, isto é, a temperatura do corpo varia conforme o ambiente (BEMVENUTI, FISCHER, 2010). Existem três grupos principais de peixes atuais, cada qual vindo de um caminho evolutivo diferente. O grupo mais primitivo inclui os peixes sem mandíbula, das Classes Myxini (peixes-bruxa) e Petromyzontida (lampreias). A Classe Chondrichthyes (peixes cartilaginosos) inclui as quimeras, os tubarões e as raias. Já o grupo dos peixes ósseos inclui a Classe Sarcopterygii, a mais primitiva, que inclui os celacantos e os peixes pulmonados, e a Classe Actinopterygii, a mais recente e diversa, à qual pertencem todos os peixes com raios nas nadadeiras (BEMVENUTI, FISCHER, 2010). Para entender melhor a diferença entre Osteíctes e Condrictes, precisamos entender primeiro que os peixes se desenvolvem a partir da notocorda, que pode evoluir ou não. No caso dos Osteíctes (peixes ósseos) a notocorda evolui, sofre um processo de ossificação, há formação de osteoblastos e osteoclastos, que irá formar a coluna vertebral óssea do animal. Já nos Condrictes, a notocorda permanece durante toda a vida e não há 5 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA formação de osteoclastos e osteoblastos, mas sim de condrócitos e condroblastos. Essa é, então, a diferença básica entre peixes ósseos e cartilaginosos (RANGEL, 2013). Esses vertebrados são extremamente adaptados ao meio aquático onde vivem. Sua grande diversidade ecológica se reflete na imensa variedade de formas, cores e diferentes tipos de locomoção. O tamanho dos peixes também possui uma grande variação: desde 1 cm em pequenos gobídeos das Filipinas, até mais de 13m no tubarão-baleia (Rhincodon typus). Isso possibilita uma grande variedade de ambientes a serem colonizados, desde poças temporárias em espécies de peixes anuais e peixes pulmonados, até os grandes oceanos, incluindo lagos parcialmente congelados, com temperaturas abaixo de zero grau Celsius, passando por lagoas hipersalinas até as profundezas oceânicas, a mais de 12.000 m de profundidade e suportando pressões altíssimas (BEMVENUTI, FISCHER, 2010). 2 ANATOMIA EXTERNA 2.1 Forma Os peixes apresentam uma grande diversidade de formas do corpo. A grande maioria deles possui simetria lateral, assim como a maioria dos seres vivos. No entanto, há algumas exceções, e como clássico exemplo de peixe assimétrico temos o linguado, o qual possui simetria apenas na fase larval. Dentre as formas encontradas, pode-se citar os peixes que são achatados, podendo este achatamento ser lateral ou dorso-ventral, o que pode ser observado em visão frontal. Quando observamos no plano superior ou lateral, é possível observar outras formas básicas, como a anguiliforme (corpo alongado) e a fusiforme, que é a mais hidrodinâmica. Além destas formas, há também outras que são mais incomuns, como a forma globular do baiacu-de-espinho e, também, a forma do cavalo-marinho (BEMVENUTI, FISCHER, 2010). 2.2 Tegumento O tegumento é composto pela pele e seus anexos, que inclui as escamas nos peixes e penas e pelos em aves e mamíferos. O tegumento forma uma estrutura de proteção externa e que é paralela ao esqueleto e funciona com um limite entre o peixe e o meio ambiente. A estrutura do tegumento em peixes é semelhante à de outros vertebrados, possuindo duas camadas principais: uma externa, a epiderme, e uma interna, que é a derme. 6 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Algumas funções da pele que podem ser destacadas são a proteção mecânica e a produção de muco. O muco permite a comunicação química entre os peixes, reduz o atrito do corpo com a água, facilita sua locomoção, e também protege contra fungos e parasitas. É produzido por células produtoras de muco (ou mucígenas), que estão localizadas na epiderme. Outras estruturas que podem estar localizadas na pele são: glândulas de veneno na epiderme; fotóforos, que são células que produzem bioluminescência; e os cromatóforos, que são células da derme modificadas que contêm pigmento e são responsáveis pela coloração desses animais (HELFMAN et al, 2009; BEMVENUTI, FISCHER, 2010). • Escamas As escamas têm função protetora e também reduzem o atrito ao nadar. Além disso, o tipo e tamanho de escamas muitas vezes estão relacionados ao modo de vida dos peixes. Por exemplo, a enguia (Anguilla) tem escamas muito pequenas, quase imperceptíveis, com muito muco, tornando-se escorregadia; a corvina (Micropogonias furnieri) tem escamas robustas para proteção; na cavalinha (Scomber japonicus) são reduzidas para nadar rápido; o bagre indiano (Barbus sp) tem escamas muito grandes, do tamanho da palma da mão. As escamas que ficam sobre a linha lateral do corpo dos peixes têm pequenos orifícios que ligam à parte exterior séries de células sensoriais e terminações nervosas. Sabe-se que os peixes possuem apenas 10 pares de nervos cranianos e, nesse caso, faltam justamente o auditivo e o olfatório. Quando há vibração na água, originada por uma presa, predadores, outros peixes em um cardume ou obstáculos, há movimentação dos estereocílios das células sensoriais presentes no canal da linha lateral. Essa alteração fará com que essas células gerem sinais diferentes, que serão detectados pelo cérebro (HELFMAN et al, 2009). Em peixes cartilaginosos, como o tubarão, por exemplo, e algumas outras espécies, a linha lateral está presente, mas não possui a mesma finalidade. No caso dos tubarões, há, na ponta do focinho, células especiais chamadas células quimio próprio receptivas ou quimio receptivas, organizadas em estruturas denominadas Ampolas de Lorenzini, que estão em contato direto com o sistema nervoso central. Quando há qualquer modificação na água o animalconsegue perceber isso através da ponta do focinho (RANGEL, 2013). 7 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA • Tipos de escamas: Existem 4 tipos principais de escamas: placóide, ctenóide, ganóide e ciclóide. a) Ciclóide: são as escamas mais simples, encontradas, por exemplo, nas sardinhas. São finas, transparentes, permitem maior flexibilidade do corpo e saem na mão facilmente. Parte da escama está inserida na derme, sendo a outra extremidade livre. b) Ctenóide: são similares à cicloide, mas possui uma estrutura chamado ctenos, que são estruturas semelhantes a dentículos que ficam na extremidade livre na escama. c) Ganóide: possuem formato romboide. Possuem uma substância chamada ganoidina que dá refringência à escama e faz com que à noite, os peixes que a possuem, fiquem mais brilhantes. d) Placóide: são características de peixes cartilaginosos, como o tubarão. Possui natureza dermo-epidérmica e, por não haver uma divisão, para se retirar a escama é necessário retirar a pele inteira. As escamas placóides não aumentam de tamanho com o crescimento, em vez disso, novas escamas são adicionadas nos para ocupar o espaço vazio entre elas. Desta forma, o número de escamas varia com a idade (ou tamanho) nesses animais. 2.3 Cabeça A cabeça dos peixes é limitada até o ângulo do opérculo. Nela encontramos as narinas, que são afuncionais e podem ser duplas (2 pares) ou únicas (1 par). Os olhos, que são desprovidos de pálpebras e que são utilizados para avaliar se o peixe está fresco, devendo estar brilhantes e convexos, com a córnea mais translúcida possível. • Boca e dentes: A boca pode ou não ter dentes, além de possuir língua. Os peixes possuem diferentes tipos de dentição e isto é importante para ajudar a definir o hábito alimentar da espécie. Os dentes podem ser classificados quanto à sua forma, sendo: - Cardiformes: curtos, numerosos e pontiagudos; - Viliformes: alongados e espessos; - Caninos: pontiagudos, servindo para perfurar e segurar presas; - Incisivos: possuem extremidades cortantes; - Molariformes: apresentam a superfície achatada, servindo para triturar e moer. 8 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Peixes carnívoros geralmente apresentam dentes pontiagudos. Os onívoros geralmente possuem uma mistura de dentes aplainados e pontiagudos. Já os frugívoros e planctônicos (como a tilápia) possuem dentes pequenos e aplainados. Existem, ainda, peixes que possuem dentes faringeanos. A boca pode possuir diferentes posições, podendo ser: terminal, sub-terminal, inferior ou superior. Após a boca, vem a faringe, que nos peixes é modificada e é chamada de câmara branquial. No interior dessa câmara estão presentes as brânquias, sendo 4 em cada lado. A câmara branquial está protegida, externamente, pelo opérculo, que se expande ou se contrai por ação dos raios branquiostegais e da musculatura entre eles, que é a musculatura branquiostegal. Os raios, juntamente à musculatura, se contraem ou expandem, permitindo a abertura ou não da cavidade branquial para entrada e saída de água ou concentrando o alimento lá dentro. As brânquias possuem a seguinte formação: arco branquial, que realiza a sustentação de duas outras estruturas, as lamelas branquiais e os rastros branquiais. As lamelas branquiais possuem arteríolas aferentes e eferentes que são responsáveis pela hematose. Além disso, são importantes para avaliar o frescor de um peixe – quanto mais vermelhas, mais fresco está o peixe. Os rastros branquiais são importantes em peixes planctônicos e funcionam como uma espécie de filtro, retendo os plânctons que estão em suspensão na água. O tamanho dos rastros indica se um peixe é planctônico ou parcialmente planctônico. 2.4 Nadadeiras As nadadeiras são órgãos periféricos que possuem função propulsora, estabilizadora ou de direção, constituídas por uma prega dérmica sustentada por um conjunto de estruturas denominadas raios. Estes podem ser simples e duros (espinhos) ou ramificados e moles. Excepcionalmente, existem nadadeiras sem raios, que são denominadas adiposas e, quando presentes, se localizam logo após a nadadeira dorsal. Em geral, os peixes têm sete nadadeiras, três ímpares (dorsal, anal e caudal) e duas pares (peitorais e pélvicas). As nadadeiras têm papel fundamental na locomoção, cada uma delas com uma função específica, relacionada ao movimento de cada espécie de peixe. 9 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA As nadadeiras dos peixes são coordenadas em conjunto, como um sistema, a fim de dar a propulsão, estabilidade, manobra e defesa ao peixe. Elas são divididas de duas maneiras: nadadeiras pares e nadadeiras ímpares. a) Nadadeiras pares: Correspondem aos membros de locomoção e tem dois nomes: peitorais e pélvicas. Os membros anteriores são representados pelas peitorais, enquanto os posteriores são representados pelas pélvicas. Ambas são duplas (pares). As nadadeiras peitorais servem para natação e equilíbrio. Já as pélvicas, servem para equilíbrio e manobras. b) Nadadeiras ímpares: É o grupo representado pelas nadadeiras dorsal, anal e caudal. As nadadeiras dorsal e anal têm como função manter os peixes em equilíbrio dentro da água. A nadadeira caudal é responsável pela locomoção por meio da propulsão. Existem 3 tipos de nadadeiras dorsais: dorsal única, dorsal dupla e dorsal dupla contínua. A nadadeira dorsal dupla possui uma membrana que liga o primeiro segmento ao segundo segmento da nadadeira. Algumas espécies possuem um raio livre que é chamado de acúleo ou espinho. Consiste em uma porção da nadadeira dorsal onde não tem um raio ligando e forma um espinho único ou duplo. As nadadeiras caudais possuem dois lobos – o superior e o inferior. A partir da observação deles, é possível classificar a nadadeira caudal em alguns tipos: Homocerca: é uma nadadeira simétrica, em que ambos os lobos são iguais; Heterocerca: é assimétrica, possuindo um lobo maior do que o outro, como no caso dos tubarões. Dificerca: é quando as nadadeiras dorsal, caudal e anal formam uma peça única, sendo observada, por exemplo, na moreia e lampreia. 10 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 2.5 Anatomia externa prática 1 2 3 4 5 6 7 8 11 9 10 12 13 13a 13b 1 2 3 4 5 6 7 8 11 12 10 9 14 13 14a 14b Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 2. Vista lateral do peixe ósseo conhecido como Xerelete (Caranx crysos). 1- Cabeça; 2- Corpo; 3- Cauda; 4- Opérculo; 5- Boca do tipo terminal; 6- Olho; 7- Nadadeira peitoral; 8- Nadadeira pélvica; 9- Nadadeira anal; 10- Nadadeira dorsal; 11- Linha lateral; 12- Pedúnculo caudal; 13- Nadadeira caudal do tipo homocerca, sendo 13a Lobo superior e 13b Lobo inferior. Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 1. Vista lateral de um peixe ósseo conhecido como Pargo (Pagrus pagrus). 1- Cabeça; 2-Corpo; 3- Cauda; 4- Opérculo; 5- Boca do tipo terminal; 6- Narinas; 7- Olho; 8- Nadadeira peitoral (par); 9- Nadadeira pélvica (par); 10- Nadadeira anal (ímpar); 11- Linha lateral; 12- Nadadeira dorsal contínua; 13- Pedúnculo caudal; 14- Nadadeira caudal do tipo homocerca, sendo 14a Lobo superior e 14b Lobo inferior. 11 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 1 2 3 Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 Figura 3. Vista ventral do peixe Pargo, evidenciando as seguintes estruturas: 1- Nadadeiras pélvicas; 2- Ânus e 3- Nadadeira anal Figura 4. À esquerda: Visão lateral e aproximada da cabeça do Pargo (Pagrus pagrus) evidenciandoas seguintes estruturas: 1- Olho; 2- Narinas e 3- Boca. À direita: Visão frontal da boca do Pargo, evidenciando: 1- Dentes e 2- Língua 12 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 3 ANATOMIA INTERNA 3.1 Sistema digestório Assim como outros vertebrados, o sistema digestório pode ser dividido em porção anterior e posterior. A porção anterior é composta de boca, cavidade oral e faringe. Já a porção posterior é composta de esôfago, estômago, intestino e reto. Ao observarmos algumas estruturas internas desse sistema, podemos identificar o hábito alimentar daquela espécie. No caso de peixes carnívoros, o estômago é muscular, intestino mais curto e a presença de cecos pilóricos, que são estruturas semelhantes a dedos de luva que aumentam a superfície de absorção. Já nos peixes herbívoros, o estômago é pequeno e sacular, enquanto intestino é mais longo. No caso de tubarões, para compensar o intestino muito curto, a mucosa interna forma pregas que recebem o nome de válvula espiral, quem também possuem como função aumentar a superfície de absorção (RANGEL, 2013). 3.2 Bexiga natatória É um órgão sacular localizado entre o canal alimentar e os rins. Possui paredes flexíveis e pode se expandir ou contrair de acordo com a pressão, mas nem todos os peixes a possuem. É utilizada pelos peixes para alterar sua flutuabilidade, alterando sua posição na coluna d’água. 3.3 Sistema circulatório Os peixes possuem um sistema circulatório do tipo fechado simples e seu coração possui 2 cavidades, sendo 1 átrio e 1 ventrículo. Esse sistema funciona como um circuito simples, em que o sangue vai para as brânquias, destas para o corpo e deste de volta para o coração. No coração circula apenas sangue venoso. Por esse motivo, ele se localiza antes das brânquias, pois nelas há vasos aferentes e eferentes, onde ocorrerá a hematose. As veias cava, superior e inferior, se unem e formam um ducto único chamado Ducto de Cuvier, que leva o sangue venoso para uma estrutura chamada seio venoso. Esta bombeia e aumenta a velocidade do sangue, levando-o para o átrio. Em seguida, o sangue vai do átrio para o ventrículo e, ao sair deste, passa por outra estrutura chamada bulbo arterial, que bombeia o sangue, também aumentando sua velocidade e levando-o até as brânquias para ocorrer a hematose. 13 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA O seio venoso e o bulbo arterial ajudam na propulsão do sangue porque o átrio e ventrículo não possuem sístole e diástole que sejam fortes suficientes para levar o sangue até as brânquias. Essas duas estruturas batem sincronizadamente no coração e aumentam a velocidade do sangue. 3.4 Osmorregulação A grande maioria dos peixes fazem osmorregulação, assim como outros vertebrados, ou seja, eles regulam seu meio osmótico interno dentro de um limite de variação que é adequado para o bom funcionamento celular, mesmo que haja variação do meio externo. Há então, uma classificação em relação ao quanto de variação os peixes conseguem suportar no meio. os peixes que suportam apenas uma pequena variação na concentração dos solutos no meio externo são chamados de estenoalinos. Já aqueles que suportam grandes variações, são chamados de eurialinos (HELFMAN et al, 2009). Como já mencionado, há uma grande variedade de peixes e de meios em que habitam. Assim, surgiram adaptações próprias para cada meio em que vivem e os desafios que encontram. Os peixes de água salgada possuem o meio interno hipotônico em relação à água do mar e, assim, tendem a perder água por osmose para o meio, principalmente pelas brânquias durante a hematose. Para compensar a perda de água e o ganho de sais por difusão, possuem os seguintes mecanismos: ingerem grandes quantidades de água; excretam o excesso de sais por transporte ativo, a nível das brânquias; diminuem as perdas de água por filtração e excretam sais pelos rins, formando pouco volume de urina e que é muito concentrada. Já os peixes de água doce possuem o meio interno hipertônico em relação ao seu exterior, o que levaria a um grande ganho de água por osmose. Os mecanismos que esses animais possuem para evitar essa situação é eliminar o excesso de água e a absorver ativamente os sais do meio a nível de brânquias. Para isso apresentam algumas adaptações: ingerem pouca água; captam ativamente sais da água e dos alimentos ingeridos; produzem grandes quantidades de urina, que é muito diluída, reabsorvendo grande quantidade de sais pelos rins (RANGEL 2013). O rim é uma estrutura de localização retroperitoneal e dorsal, sendo ventral à coluna vertebral. Geralmente é observado como uma massa escura, sendo considerado um rim difuso. 14 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 3.5 Outras estruturas Peixes não possuem diafragma e as costelas estão transformadas em espinhas. Não há separação entre a cavidade oral e a cavidade celomática. O que existe é uma membrana, não existe uma musculatura diafragmática. Geralmente o fígado não está sozinho, está junto com o pâncreas, formando o hepato- pâncreas. Ele pode estar em lobos ou estar unido. O baço faz hematopoiese nos peixes. Geralmente, ele faz a produção de sangue só durante a fase embrionária, mas no peixe faz durante a vida toda. O pâncreas no peixe não é bem localizado, fica próximo das alças intestinais. O pâncreas muita das vezes não é uma estrutura única e pode estar separado em porções dentro do mesentério (RANGEL, 2013). Figura 5. Esquema da osmorregulação de peixe de água doce e água salgada. (A) Peixe de água doce (B) Peixe de água salgada Sais Água Sais Urina diluída Água Sais Ingestão de água Sais Urina concentrada Difusão Transporte ativo Fonte: Adaptado de Helfman et al. (2009, p. 103). 15 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 3.6 Anatomia interna prática 1 2 3 4 5 6 7 Figura 6. Visão lateral evidenciando já alguns órgãos. 1- Nadadeira caudal; 2- Nadadeira anal; 3- Nadadeira dorsal; 4- Estômago; 5- Opérculo; 6- Olho; 7- Boca terminal Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 4 5 6 Figura 7. Visão aproximada: 1- Bexiga natatória; 2- Gônada; 3- Ânus; 4- Estômago; 5- Intestino; 6- Rim difuso Fonte: Arquivo pessoal (2018) 16 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 2 3 4 Figura 8. Visão aproximada: 1- Gônada; 2- Intestino; 3- Estômago; 4- Baço. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 Figura 9. Visão aproximada, evidenciando: 1- Estômago; 2- Rim difuso Fonte: Arquivo pessoal (2018) 17 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 2 3 4 Figura 10. Visão aproximada, evidenciando: 1- Bexiga natatória; 2- Estômago; 3- Intestino; 4- Coração Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 4 Figura 11. 1- Coração; 2- Cecos pilóricos; 3- Estômago; 4- Intestino Fonte: Arquivo pessoal (2018) 18 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 12. Imagem com objetivo de comparar o comprimento do intestino em relação ao tamanho do peixe. É possível observar que o comprimento é de tamanho semelhante ao peixe, sendo possível utilizar como uma das características para chegar a conclusão que possui hábito carnívoro. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 Figura 13. À esquerda: Gônadas; À direita: coração. 1- Bulbo arterial; 2-Átrio;3- Ventrículo Fonte: Arquivo pessoal (2018) 19 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 14. Visão caudal da cabeça após sua retirada, evidenciando os dentes faringeanos (setas amarelas). Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 Figura 14. Visão das brânquias. 1- Rastros branquiais; 2- Arco branquial; 3- Lamelas branquiais Fonte: Arquivo pessoal (2018) 20 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 4 BIOMETRIA DOS PEIXES Toda vez que se retira um peixe da água deve-se fazer biometria (pesos e medidas). Esse dado é importante para saber a conversão alimentar do animal, se o peixe está crescendo ou não e saber se está ou não em fase reprodutiva. Deve ser feita de forma rápida porque fora d’água o peixe entra em anóxia, o que irá interferir no seu metabolismo e bem-estar. A primeira medida biométrica é o peso. A segunda consiste no comprimento, em que há o comprimento total (medida da ponta do focinho até o último raio da nadadeira caudal, feita com régua ou ictiômetro) e o comprimento standard (medida da ponta do focinho até a porção mais distal do ângulo da cauda). A altura é feita a partir do primeiro raio da nadadeira dorsal, traçando uma perpendicular ventral. Já a largura é feita perpendicular à altura, utilizando-se um paquímetro (RANGEL, 2013). Comprimento standard Comprimento total Altura Figura 16. Medidas corporais realizadas na biometria Fonte: Arquivo pessoal (2018) 21 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 5 DISSECÇÃO O posicionamento do animal para dissecção é este em decúbito lateral esquerdo na bandeja. Com o peixe nesta posição, deve-se realizar uma incisão ligeiramente cranial ao ânus. Esse detalhe é importante, pois se realizarmos a incisão a partir do ânus, haverá grande chance de rompimento de reto e intestino, levando ao extravasamento de conteúdo e perda da integridade do intestino. Após feita a incisão, continuar com o corte até a altura do opérculo, aproximadamente. 2 3 4 5 1 Figura 17. Materiais utilizados na dissecção: 1- Régua para mensuração; 2- Tesoura ponta romba; 3- Pinças; 4- Bisturi; 5- Tesoura trinchante para cortar partes mais duras. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 22 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 18. Posicionamento do peixe da espécie Xerelete (Caranx crysos) para dissecção: decúbito lateral esquerdo Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 19. Visão ventral: posição da incisão a ser feita com o bisturi (seta amarela), atentando para ser cranial ao ânus (seta vermelha) e nunca a partir deste. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 23 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 20. A incisão feita ventralmente deve ir até, aproximadamente, a posição da nadadeira peitoral, assim como apontado na seta abaixo. Em seguida, subir com a incisão, realizando um corte que permita uma espécie de janela, assim como abaixo (setas vermelhas). O corte deve ser finalizado encontrando com a primeira incisão realizada. Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 21. Peixe após retirada da “tampa”, criando uma janela. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 24 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 22. A partir da primeira abertura, segue-se com a dissecção, aumentando o tamanho da abertura, com cuidado para não danificar os órgãos. Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 23. Nesta imagem, é possível ver o fígado com facilidade (seta). Fonte: Arquivo pessoal (2018) 25 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Referências Bibliográficas ANUÁRIO PEIXEBR DA PISCICULTURA 2018. São Paulo: Associação Brasileira da Piscicultura. Anuário. BEMVENUTI, Marlise de Azevedo; FISCHER, Luciano Gomes. Peixes: Morfologia e Adaptações. 2010. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/24233109 6_Peixes_Morfologia_e_Adaptacoes>. Acesso em: 29 jul. 2018. BORGHETTI, Nadia Rita Boscardin; OSTRENSKY, Antônio; BORGHETTI, José Roberto. Aquicultura: Uma visão geral sobre a produção de organismos aquáticos no Brasil e no mundo. Curitiba: Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais, 2003. 128 p. HELFMAN, Gene S. et al. The Diversity of The Fishes: Biology, Evolution and Ecology. 2ª. ed. UK: Wiley-Blackwell, 2009. 720 p. Peixe BR lança o Anuário da Piscicultura 2018. 2018. Disponível em: <http://www.a quaculturebrasil.com/2018/02/19/peixe-br-lanca-o-anuario-da-piscicultura- 2018/>. Acesso em: 29 jul. 2018 RANGEL, Bruna Guimarães. Apostila de Aquicultura: Piscicultura, carcinicultura, ranicultura e malacocultura. Niterói: [s.n.], 2013. 97 p. SOUZA, Joice Silva de. Ictiologia. Disponível em: <https://www.infoescola.com/biolo gia/ictiologia/>. Acesso em: 29 jul. 2018 26 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Capítulo II Prática de Rã 27 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 INTRODUÇÃO A criação de rãs, denominada de ranicultura, é uma atividade zootécnica e econômica que vem sendo implantada no meio rural brasileiro assim como em outros países. Seu crescimento ocorreu de forma acelerada na última década, em virtude de evoluções tecnológicas e, principalmente, do gradativo aperfeiçoamento das instalações e das técnicas de manejo adotadas pelos produtores rurais e empresários que decidiram ingressar nesta atividade (CRIBB et al, 2013). A produção de rãs no Brasil foi iniciada no ano de 1935, quando 300 casais de rãs foram introduzidos no Estado do Rio de Janeiro para implantação do Ranário Aurora (FILHO et al, 2017). O consumo da carne de rã, além de ser um hábito praticado na China há mais de quarenta séculos, era considerado saudável pelos gregos, responsáveis pela difusão deste costume pela Europa. A carne de rã está incluída na categoria do pescado e a composição centesimal de sua carne é semelhante à de outras carnes magras brancas, com valores calóricos e teor de lipídios mais baixos, sendo assim, mais indicadas para dietas hipocalóricas e hipolipídicas na terapêutica humana. Além disso, a proteína contida na carne é de alto valor biológico, superando o padrão da Organização Mundial da Saúde para crianças e adultos. (CRIBB et al., 2013; BASTOS, 2015). Em 2016, o Brasil era o segundo maior criador de rãs do mundo, ficando atrás apenas de Taiwan. Os dados da produção de ainda são imprecisos. O último levantamento oficial do IBGE de 2016 fala em 160 toneladas ao ano, mas há a possibilidade de que esse número seja três vezes maior. 2 ASPECTOS BIOLÓGICOS Antes de entrarmos mais detalhadamente nas características morfológicas das rãs, precisamos esclarecer as diferenças entre sapos, pererecas e rãs. Esses animais pertencem à Classe Amphibia (amphi = dupla; bios = vida), Ordem Anura (an = sem; uro = cauda) e possuem as seguintes características: 28 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA • Sapos – pertencem à família Bufonidae e são animais que têm a pele seca e rugosa, pernas curtas, são de porte médio, possuem corpo troncudo de coloração marrom e vivem em ambiente árido. Além disso, possuem pequenas glândulas de veneno, denominadas paratoides, justificando o porquê de não serem comestíveis. Dependem daágua para a reprodução, realizando a desova em cordão; • Pererecas – pertencem à família Hylidae. São pequenas, arborícolas, apresentam diversas cores e um corpo frágil, com patas longas e finas, que possuem, ao final dos dígitos, ventosas. Geralmente não apresentam veneno, mas não são comestíveis principalmente devido ao seu tamanho. Possuem dependência parcial da água e realizam a desova em espuma; Figura 24. Sapo cururu (Rhinella marina). Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2016/10/sapo-cururu-faz-ligacoes-de- longa-distancia-para-acasalar-afirma-estudo.html 29 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA • Rãs – podem pertencer às famílias Ranidae, Pipidae ou Leptodactylidae. Esses animais apresentam porte de pequeno a grande, possuem pele fina e lisa, de coloração verde a marrom, corpo esguio e liso, pernas grossas e alongadas e não possuem glândulas de veneno. Possuem total dependência da água. Fonte: https://planetabiologia.com/13-anfibios-que-voce-nunca-viu/ Figura 26. Rã Touro (Lithobates catesbeianus). Fonte: http://www.ruralnews.com.br/visualiza.php?id=623 Figura 25. Perereca da espécie Phyllomedusa oreades. 30 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Para o estudo na disciplina, a rã – particularmente a Rã-Touro – será usada como modelo, já que é a principal espécie criada, por possuir importante valor econômico. 2.1 Ciclo de vida O ciclo de vida da rã-touro, assim como o da maioria dos anfíbios, inicia-se na água. Durante a reprodução da rã-touro, o acasalamento ocorre com o casal semi submerso. O macho abraça a fêmea pela posição dorsal do corpo, fixando-se na região axilar e comprimindo-a. Simultaneamente, e em ritmos compassados, o casal libera os gametas e distendem as patas para espalhar a desova pela superfície da massa d’água. Neste momento, ocorre a fecundação dos óvulos pelos espermatozoides. A fecundação ocorre, portanto, de forma externa, uma vez que os gametas se unem fora do corpo, na água. Após a fecundação, o ovo inicia seu desenvolvimento de embrião para larva, que apresenta botão caudal, batimentos cardíacos e brânquias externas (início) (FILHO et al, 2017). Ao atingir a forma de girino, a metamorfose que ocorre até imago pode ser dividida em algumas fases, que vão de G1 até G5. Figura 27. Esquema representando o ciclo de vida da rã-touro. Fonte: http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/Ensino_Fundamental/Origami/Documentos/Anfibios.htm 31 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA • G1 - Primeiros dias de vida, se alimentam de micro-organismos (bactérias, fungos, algas) flutuantes (planctônicos) ou aderidos na vegetação e outros substratos (perifiton). Nos ranários passam a receber gradativamente ração em pó. • G2 - Inicia-se a metamorfose: os membros se desenvolvem e já podem ser observados como dois pequenos apêndices na parte posterior do corpo. • G3 - As patas posteriores agora já se exteriorizam quase totalmente, mas ainda não estão completamente formadas. • G4 - Os girinos aproximam-se do clímax da metamorfose. As quatro patas estão totalmente prontas, as posteriores já têm a forma das pernas do adulto. Entretanto, as pernas anteriores encontram-se ainda internalizadas, mas que podem ser vistas como 2 deformações na pele (brotos) • G5 - É o clímax da metamorfose. Nesta fase, as patas anteriores exteriorizam-se. A cauda, ainda grande, afila-se, e vai sendo absorvida gradativamente, fornecendo a energia necessária para o animal que, enquanto isto, não se alimenta. As principais modificações que ocorrem durante o clímax da metamorfose estão relacionadas com a respiração, a circulação, a digestão, os órgãos dos sentidos (olfato, visão) e com os membros. Após a metamorfose, o animal está pronto para viver em ambiente terrestre e respirar diretamente o ar atmosférico. A respiração, além de pulmonar e cutânea (através da pele), dá-se na região gular (papo), onde ocorre a hematose, graças à grande vascularização nesta região e aos movimentos oscilatórios quando a rã infla e esvazia o papo periodicamente. Nessa fase, recebe o nome de Imago. O imago possui a forma do corpo totalmente semelhante à do adulto, porém, imatura sexualmente. Na fase terrestre, Figura 28. Esquema representando as variações morfológicas das fases descritas. Fonte: http://www.cchsa.ufpb.br/ranicultura/ciclodevida.htm 32 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA apresentam novo hábito alimentar (carnívoro), alimentando-se de insetos, crustáceos, anelídeos, moluscos e pequenos vertebrados (LIMA et al, 2015). 2.2 Anatomia externa As rãs apresentam pele úmida e glandular, dois pares de membros para andar ou nadar, duas narinas, olhos frequentemente com pálpebras móveis (membranas nictitantes), boca geralmente com dentes finos e língua frequentemente protrátil (CRIBB et al, 2013). O corpo da rã é coberto por um tecido epitelial fino e flexível (pele) responsável, não só pela barreira contra organismos infectantes, mas também pela absorção de água (não bebem) e complementa na respiração (cutânea). Na rã-touro, existe dimorfismo sexual (diferenças morfológicas entre machos e fêmeas). O tipo de gônada presente no animal (testículo ou ovário) é a sua característica sexual primária, enquanto a secundária é aquela que indica, externamente, qual é o seu sexo. Os caracteres secundários podem variar de intensidade quando se aproxima o período reprodutivo, tornando-se mais evidentes quando a rã está apta para o acasalamento (LIMA et al, 2015). Tabela 1: Comparação das características sexuais secundárias de macho e fêmea da rã-touro. Características morfológicas externas Macho Fêmea Região Timpânica Membrana timpânica maior do que o diâmetro dos olhos A membrana timpânica é do mesmo tamanho ou menor do que o diâmetro dos olhos Papo ou Região Gular Amarelado, sendo mais visível à época da reprodução Coloração esbranquiçada Membros anteriores Mais fortes e musculosos Mais finos Coaxar Coaxam (época da reprodução) Não coaxam Calo nupcial Presente Ausente Reflexo ao Amplexo Presente Ausente Fonte: Adaptado de Filho et al. (2017, p. 20) 33 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 2.3 Anatomia interna A anatomia interna da rã é relativamente simples e será melhor detalhada nas imagens. 3 ANATOMIA EXTERNA PRÁTICA 1 2 2 3 3 Figura 29. Duas imagens comparando a diferença de tamanho da membrana timpânica (1) da fêmea (acima) e do macho (abaixo). Outras estruturas destacadas: 2- Narinas e 3- Olho, evidenciando a membrana nictitante (no macho) Fonte: Arquivo pessoal (2018) 34 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 Figura 31. À esquerda: presença de membranas interdigitais (membros posteriores); À direita: cloaca, evidenciada pela pinça Fonte: Arquivo pessoal (2018) Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 30. Visão ventral da rã-touro, evidenciando a presença do calo nupcial no macho (à esquerda) e sua ausência na fêmea (à direita) nos membros anteriores – setas laranjas. Na imagem à direita: 1- Região gular (ou do papo). 35 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 4 ANATOMIA INTERNA PRÁTICA 1 2 3 Figura 32. Imagens evidenciando estruturas presentes na cabeça e boca da rã-touro. À esquerda: 1- Dentes vomerianos;À direita: 2- Língua protátil; 3- Olho, evidenciando a membrana nictitante (estrutura branca) 1 3 2 4 5 Figura 33. Visão geral dos órgãos internos (à esquerda) e visão aproximada (à direita). Estruturas destacadas: 1- Coração; 2 – Fígado; 3- Vesícula biliar; 4- Estômago; 5- Corpo gorduroso. Fonte: Acervo pessoal (2018) Fonte: Arquivo pessoal (2018) 36 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 3 2 1 2 3 4 5 Figura 34. À esquerda: 1- Estômago; 2- Corpo gorduroso; 3- Fígado. À direita: 1- Coração; 2- Estômago; 3- Corpo gorduroso; 4- Fígado; 5- Alças intestinais 1 2 3 1 2 3 Figura 35. À esquerda: 1- Coração; 2- Fígado; 3- Pulmão direito. À direita: 1- Pulmão esquerdo; 2- Estômago; 3- Corpo gorduroso Fonte: Arquivo pessoal (2018) Fonte: Arquivo pessoal (2018) 37 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 2 3 Figura 36. Imagens comparando a diferença entre macho (à esquerda) e fêmea (direita). Estruturas identificadas: 1- Fígado; 2- Corpo gorduroso; 3- Ovário Fonte: Acervo pessoal (2018) 38 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Referências Bibliográficas BASTOS, Aline. Pesquisa investe em rã, desenvolve produtos, manual e cria rede de cooperação. 2015. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/- /noticia/2773050/pesquisa-investe-em-ra-desenvolve-produtos-manual-e-cria-rede-de- cooperacao>. Acesso em: 08 de ago. 2018 BRASIL é segundo maior criador de rãs do mundo. Rio de Janeiro: 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2016/11/brasil-e- segundo-maior-criador-de-ras-do-mundo.html>. Acesso em: 07 ago. 2018. CRIBB, André Yves; AFONSO, Andre Muniz; MOSTÉRIO, Cláudia Maris Ferreira. Manual Técnico de Ranicultura. 1ª. ed. Brasília: Embrapa, 2013. 73 p. FILHO, José Teixeira de Seixas; PEREIRA, Marcelo Maia; MELLO, Silvia Conceição Reis Pereira. Manual de Ranicultura para o Produtor. Rio de Janeiro: H. P. Comunicação, 2017. 155 p. LIMA, Samuel Lopes et al. Rana catesbeiana: Características gerais. 2015. Disponível em: <http://arquivo.ufv.br/dta/ran/rana.htm>. Acesso em: 07 ago. 2018 O ciclo de vida. Disponível em: <http://www.cchsa.ufpb.br/ranicultura/ciclodevida.htm >. Acesso em: 09 ago. 2018 RANGEL, Bruna Guimarães. Apostila de Aquicultura: Piscicultura, carcinicultura, ranicultura e malacocultura. Niterói: [s.n.], 2013. 97 p. 39 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Capítulo III Prática de Crustáceos 40 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 INTRODUÇÃO No início, a maioria dos cultivos de camarões eram extensivos e geralmente consorciados com algumas espécies de peixes. O marco para a criação de camarões foi o processo de larvicultura em laboratórios. A evolução das tecnologias de reprodução de camarões foi essencial para a evolução dos cultivos em grandes escalas nos mais variados países. No Brasil, as principais vantagens para o produtor de camarão são: condições climáticas favoráveis, curta duração dos cultivos e altos preços do produto no mercado. Dentre as principais espécies de camarão marinho que se trabalha, o que tem grande potencial na aquicultura é o Litopenaeus vannamei, por apresentar rusticidade, altos níveis de produtividade e bom crescimento em diferentes condições ambientais (RANGEL, 2013). 2 ASPECTOS BIOLÓGICOS O foco do estudo na disciplina será o camarão, que possui uma importância econômica e é criado intensivamente no Brasil. No entanto, também veremos um pouco sobre lagostim, caranguejo e siri e suas diferenças. Esses animais pertencem ao mais numeroso filo existente no reino animal, o dos artrópodes. Eles estão classificados em um subfilo, Crustacea, que conta com mais de 38.000 representantes. Dentre as 10 classes deste subfilo, a classe Malacostraca, na qual se incluem os camarões cultivados, apresenta mais de 22.600 espécies. A ordem Decapoda, por sua vez, inclui, além dos camarões, os caranguejos, siris, lagostins, lagostas e camarões (OSTRESNKY et al, 2017). 2.1 Camarões O corpo dos camarões é comprimido (achatado) lateralmente e coberto por um exoesqueleto quitinoso, segmentado e articulado por meio de membranas articulares. Ele é dividido em três regiões: a cabeça (também chamada de céfalon) e o tórax (péreion), que são fundidos, formando o cefalotórax, e o abdômen (pléon). Cada uma dessas regiões é composta por somitos, onde estão inseridos os seus apêndices. Na região do cefalotórax três estruturas se destacam: • Carapaça: uma placa que corresponde à fusão de seis somitos cefálicos e oito torácicos, que cobre as brânquias e os demais órgãos vitais e é fundida ao corpo na sua parte dorsal, mas livre em sua porção lateral; 41 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA • Olhos pedunculados: que se articulam com a cabeça e são móveis; • Rostro: uma espécie de “espinho” que serve como estrutura de defesa contra predadores. O abdômen localiza-se na parte posterior do corpo. Estende-se desde a porção final do cefalotórax até a parte terminal do animal, onde se encontra o telson. Possui seis segmentos (somitos), que vão reduzindo o seu diâmetro até chegar ao último, que é um pouco mais largo que os anteriores. Os apêndices localizados na cabeça têm basicamente a função sensorial (táctil, olfativa e de equilíbrio), como é o caso das antênulas e antenas, ou função alimentar (corte, manipulação e trituração de alimentos), como é o caso das mandíbulas, maxílulas e maxilas (OSTRESNKY et al, 2017). Figura 37. Esquema da anatomia básica do camarão. Fonte: Ostrensky et al. (2017, p. 27) 42 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Tabela 2: Morfologia funcional do camarão. Fonte: Adaptado de Ostrensky et al. (2017, p. 32) 2.1.1 Muda e crescimento Os camarões crescem através de mudas ou ecdises, ou seja, ocorre a troca do seu exoesqueleto quitinoso em ciclos, até que ele atinja seu tamanho final. Esse processo pode ser dividido em 4 estágios: 1) Período de pós-muda: é o período que se segue à eliminação do antigo exoesqueleto. Nessa fase, os camarões alimentam-se pouco ou mesmo não se alimentam. Mas, em poucas horas após a muda, o novo exoesqueleto já estará rígido novamente e o camarão readquire todos os movimentos, retornando aos seus hábitos normais. 2) Período intermuda: nesse período, o exoesqueleto adquire sua consistência mais rígida, através da deposição de proteínas e minerais. A maior parte do tempo, o camarão passa em período intermuda. 3) Período pré-muda (ou pré-ecdise): Este estágio ocorre antes da exuviação. O exoesqueleto antigo passa a ser parcialmente digerido e as reservas energéticas e nutricionais são mobilizadas para o hepatopâncreas. 4) Período de muda (ecdise): É uma fase que não dura mais que alguns poucos minutos ou até segundos. Começa com a ruptura do exoesqueleto antigo e termina quando o camarão abandona o exoesqueleto antigo. Apêndice Função Principal Antênulas Sensorial (quimiorrecepção, táctil equilíbrio) Antena Sensibilidade táctil (detecção do predador) Maxílula Manipulação do alimento Maxilípide Tato, paladar e manipulação dos alimentos Pereiópodo Locomoção (caminhar sobre o fundo) Pleópodo Locomoção (natação). Nas fêmeas: também fazem movimentação da água para aeração dos ovos Urópodo Direcionamento dalocomoção durante a natação 43 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Durante a muda, quando o novo exoesqueleto ainda está mole, os animais ficam completamente indefesos e expostos a qualquer ataque de predadores e até de outros camarões da mesma espécie, não conseguindo sequer se alimentar, uma vez que todos os seus apêndices alimentares estão moles (OSTRESNKY et al, 2017). 2.1.2 Reprodução Nos camarões, assim como nas rãs, é possível visualizar dimorfismo sexual entre machos e fêmeas, mesmo que seja um pouco mais sutil em relação ao que foi visto nos anfíbios. Os machos apresentam uma estrutura denominada de petasma, que é utilizada para a transferência dos espermatozoides para o órgão sexual da fêmea (chamado de télico). O petasma localiza-se na base do primeiro par de pleópodos. Nas fêmeas, o télico fica localizado junto à base do quinto par de pereiópodos. O acasalamento e a desova ocorrem em mar aberto e em zonas profundas. Os óvulos fecundados dão origem aos ovos, que são liberados durante a noite. Estes, posteriormente, darão origem aos náuplios. Os náuplios são planctônicos e, por influência da luz (fototropismo positivo), são atraídos para áreas com alta concentração de fitoplânctons. O próximo estágio de desenvolvimento é o protozoea. Neste estágio, a alimentação é composta por partículas em suspensão. A muda é feita para misis, depois para pós-larva e, por fim, dão origem aos adultos (RANGEL, 2013) Figura 38. Diferença sexual entre machos e fêmeas de camarão. Fonte: Ostrensky et al. (2017, p. 48) 44 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 2.1.3 Anatomia prática Primeiramente veremos a anatomia básica do camarão nas imagens seguintes. Após, será feita uma comparação com o lagostim, destacando as principais diferenças entre os dois animais, que possuem anatomia bem semelhante. a) Camarão Figura 39. Visão lateral do camarão Litopenaeus vannamei. Em amarelo: somitos; Estruturas destacadas: 1- Rostro; 2- Olho pedunculado; 3- Antena; 4- Pereiópodos; 5-Pleópodos; 6- Urópode; 7- Telson 1 º 3 º 4 º 5 º 4 5 1 2 3 6 7 1 2 3 4 5 6 2 º Fonte: Arquivo pessoal (2018) 45 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 40. Visão ventral da região do cefalotórax, com as seguintes estruturas destacadas: 1- Antênulas; 2- Escama da antena; 3- Antenas; 4- 2º Maxilípede; 5- 3º Maxilípede; 6- Pereiópodos; 7- Quela. 1 2 1 2 3 4 5 6 7 Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 41. Visão da porção terminal do animal, evidenciando 1- Telson e 2- Urópode. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 46 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA b) Lagostim Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 42. Comparação entre a morfologia externa do camarão (acima) e do lagostim (abaixo) em visão lateral. Notar Quela (ou garra) bem desenvolvida no lagostim (círculo) e Rostro também mais desenvolvido (seta). 47 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 3 2 2 1 Figura 43. Visão frontal do Lagostim (acima) e do camarão (abaixo) evidenciando, principalmente o desenvolvimento do Rostro (setas laranjas). Lagostim: 1- Antenas; 2- Antênulas; 3- Escama da Antena. Camarão: 1- Antênulas e 2- Escama da antena Fonte: Arquivo pessoal (2018) 48 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 2 3 Figura 44. Visão ventral do Lagostim, evidenciando: 1- Quela (1º par de pereiópodos) desenvolvida; 2- Antenas; 3- Escamas das antenas Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 4 5 Figura 45. Visão ventral do Lagostim. 1- Maxilípedes; 2- Pereiópodos; 3- 1º par de pleópodos; 4- 2º par de pleópodos; 5- 3º par de pleópodos Fonte: Arquivo pessoal (2018) 49 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 1 Figura 46. Comparação do Telson do Lagostim (à esquerda) com do camarão (direita) destacados pelo círculo. 1- Urópode Fonte: Arquivo pessoal (2018) 50 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 3 CARANGUEJO Estes animais vivem nas regiões litorâneas de todo o mundo, sendo algumas espécies encontradas em manguezais, como o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), o aratu (Goniopsis cruentata) e o guaiamum (Cardisoma guanhumi), que vive nas bordas de tal ecossistema. Alimentam-se principalmente de peixes e matéria orgânica morta. A coloração é variável, mas são mais facilmente encontrados caranguejos em tons amarelos, vermelhos, marrons e azulados. Tais animais são bastante utilizados na culinária, em diversos pratos e aperitivos e são importantes componentes para a geração de renda de comunidades que ali vivem. Entretanto, os fatores climáticos, o avanço imobiliário e a construção de portos em áreas de mangues, com a consequente perda de habitats, a poluição e a captura indiscriminada e não seletiva dos caranguejos O foco deste animal na disciplina é na prática, para reconhecer suas diferenças em relação a outros crustáceos também de importância econômica. Figura 47. Caranguejo Aratu-vermelho (Grapsus grapsus) que vive na Ilha Galápagos. Fonte: http://www.burrard-lucas.com/photo/galapagos/sally_lightfoot_crab.html 51 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 3.1 Anatomia prática A anatomia do caranguejo é bem semelhante ao que já foi visto no camarão e no lagostim, mudando a disposição das estruturas. 1 2 3 4 5 6 Figura 48. Estruturas assinaladas: 1- 1º par de Pereópodos, modificados em garra; 2- 2º par de Pereópodos; 3- 3º par de Pereópodos; 4- 4º par de Pereópodos; 5- 5º par de Pereópodos; 6- Olhos pedunculares. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 6 1 2 3 4 5 7 Figura 49. Visão posterior do caranguejo. 1- Carapaça; 2- Quinto Pereópodo; 3- Quarto Pereópodo; 4- Terceiro Pereópodo; 5- Segundo Pereópodo; 6- Primeiro Pereópodo (Garra). Fonte: Arquivo pessoal (2018) 52 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 1 2 1 2 Figura 50. Visão frontal aproximada, evidenciando: 1- Olhos pedunculados; 2- Maxilípedes. Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 51. Visão aproximada, evidenciando: 1- Olhos pedunculados; 2- Maxilípedes Fonte: Arquivo pessoal (2018) 53 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 52. Visão ventral do caranguejo macho (acima) e da fêmea (abaixo), em que é possível diferenciar pelo tamanho e formato do esterno torácico (seta laranja). Estruturas no macho: 1- Maxilípedes; 2- Abdômen; 3- Pereópodos. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 1 2 3 54 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 53. Visão ventral do caranguejo macho, evidenciando o órgão sexual masculino (gonopódio) Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 5. Visão ventral da fêmea, evidenciando os Pleópodos (setas amarelas) Fonte: Arquivo pessoal (2018) 55 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 4 SIRISiris são crustáceos também da Ordem Decapoda (assim como os camarões, lagostins e caranguejos) e se diferem dos demais animais deste grupo por possuírem o último par de apêndices locomotores (patas) em forma de nadadeiras. Esta adaptação lhes confere melhor capacidade de locomoção em ambientes aquáticos. Outra adaptação que favorece seu nado é o achatamento da carapaça. Assim como no caranguejo, o foco deste animal será na aula prática. Serão ressaltadas mais as diferenças entre esses dois animais, já que sua anatomia é muito semelhante. Figura 6. Siri-azul (Callinectes sapidus). Fonte: http://www.patrickzephyrphoto.com/photo/blue-crab/ 56 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA 4.1 Anatomia prática 1 2 1 2 3 3 Figura 7. Visão frontal do siri. Acima: 1- Olhos pedunculados; 2- Maxilípedes. Abaixo: 1- Antenas; 2- Maxilípedes; 3- Olhos pedunculados. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 57 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Figura 8. Visão ventral do siri macho, evidenciando o gonopódio. Fonte: Arquivo pessoal (2018) 58 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Fonte: Arquivo pessoal (2018) Figura 9. Diferença entre Siri (esquerda) e Caranguejo (direita). No primeiro, o último par de Pereópodos está modificado, lembrando a forma de remo. 59 APOSTILA PRÁTICA DE AQUICULTURA - 2018 RACHEL FERREIRA BRAGA Referências Bibliográficas ARAGUAIA, Mariana. Caranguejo (Classe Malacostraca). Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/animais/caranguejo.htm>. Acesso em 11 de agosto de 2018. OSTRENSKY, Antonio et al. A Produção Integrada na Carcinicultura Brasileira: Princípios e práticas para se cultivar camarões marinhos de forma mais racional e eficiente. Curitiba: Instituto GIA, 2017. 269 p. v. 1. Siri, o “caranguejo nadador”. 2016. Disponível em: <http://papodeprimata.com.br/siri- o-caranguejo-nadador/>. Acesso em: 11 ago. 2018
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