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C u rs o PEDAGOGIA EMPRESARIAL D is c ip li n a GESTÃO DO CONHECIMENTO Marcelo Maciel PEREIRA Pós-Graduação a Distância Instituto A Vez do Mestre www.vezdomestre.edu.br 2009.2 S o b re o a u to r MARCELO MACIEL PEREIRA possui graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991), mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993) e doutorado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Química, com ênfase em Cinética Química e Catálise, atuando principalmente nos seguintes temas: catalisador de FCC, e de equilíbrio, metais e trapas metálicos, zeólitas, energia, biomassa e sequestro de CO2. Aproveitem! S u m á r io 07 Apresentação 09 Aula 1 Sociedade do conhecimento 41 Aula 2 Competitividade baseada no conhecimento 51 Aula 3 Inteligência competitiva e gestão do conhecimento: histórico e os principais conceitos 73 Aula 4 Capital intelectual 107 Aula 5 Propriedade intelectual e proteção do conhecimento 137 AV1 Estudo dirigido da disciplina 143 AV2 Trabalho acadêmico de aprofundamento 146 Referências bibliográficas Gestão do Conhecimento C A D E R N O D E E S T U D O S A p re s e n ta ç ã o A Gestão do Conhecimento é uma revolução que está fazendo com que o mundo, pós-industrial, entre em uma nova era: A Era do conhecimento. Não há barreiras ou alfândegas no mundo que impeça o livre trânsito de idéias, trazendo a oportunidade de criar um mundo mais justo e equânime. O cuidado que devemos ter é o de não agravarmos mais as desigualdades sociais já existentes. É relevante pensarmos na Gestão do conhecimento hoje pois ela nos dá a medida de como se desenvolvem as relações sociais e trabalhistas: como a competitividade e a inteligência estão hoje baseadas no conhecimento e como o capital intelectual é um ativo importante no ambiente organizacional. O b je ti v o s G e ra is Este caderno de estudos tem como objetivos: Conceituar e delimitar Sociedade de conhecimento / Sociedade da informação; Explicitar como a competitividade é, atualmente, baseada no conhecimento; Relacionar a inteligência competitiva com a gestão do conhecimento; Traçar um histórico da Gestão de conhecimento e definir quais são seus principais conceitos; Definir Capital intelectual; Definir Propriedade intelectual e proteção do conhecimento. Sociedade do conhecimento Marcelo Maciel Pereira A U L A 1 A p re s e n ta ç ã o Sociedade do conhecimento, ou sociedade de informação são termos que surgem ao final do século XX, cuja origem é o termo Globalização. A sociedade do conhecimento é um tipo novo e em constante expansão que dá conta de práticas sociais, políticas e econômicas de uma sociedade que antes era industrial e hoje está baseada no conhecimento e na informação, mudando assim os paradigmas e a própria vida em sociedade. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Conceituar Sociedade de conhecimento/Sociedade de informação; Conceituar globalização; Perceber como a sociedade de conhecimento afeta o ambiente competitivo. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 10 Sociedade do conhecimento Assistir à televisão, falar ao telefone, movimentar a conta no terminal bancário e pela internet, verificar multas de trânsito, comprar discos, trocar mensagens com o outro lado do planeta, pesquisar e estudar, são hoje atividades cotidianas, no mundo inteiro e no Brasil também. Rapidamente nos adaptamos a essas novidades e passamos, em geral, sem uma percepção clara e sem maiores questionamentos, a viver na Sociedade da Informação, uma nova era em que a informação flui a velocidades e em quantidades há apenas poucos anos inimagináveis, assumindo valores sociais e econômicos fundamentais. A Sociedade de Conhecimento, também chamada Sociedade da Informação é um novo ambiente global baseado em comunicação e informação, cujas regras e modos de operação, estão sendo construídos em todo o mundo. Não somente redes físicas e sistemas lógicos de comunicação digital estão sendo pesquisados, desenvolvidos, instalados e utilizados mundialmente, mas um conjunto de novos serviços e aplicações, bem como modelos e regras de uso, estão sendo discutidos em escala global neste momento. O paradigma tecnológico e as conseqüências industriais, sociais, econômicas e culturais da era da informação, serão cada vez mais sustentados por setores de conhecimento intensivo, associados à tecnologia da informação. É bem possível que nessa nova matriz tecnológica, industrial e econômica, esteja a maioria dos produtos e serviços do futuro, fundamentais para a atração de investimento e criação sustentada de empregos em qualquer país. Dica de leitura Não deixe de conhecer o LIVRO VERDE, documento do Ministério da Ciência e Tecnologia para a sociedade da informação no Brasil. Disponível em: http://www.socinfo. org.br/livro_verde/d ownload.htm Sociedade do conhecimento 10 Hiperinformação 11 Globalização 14 Aula 1 | Sociedade do conhecimento 11 No Brasil, foi lançado o Programa Sociedade da Informação, a fim de viabilizar um novo estágio de evolução da internet e suas aplicações, tanto na capacitação de pessoal para a pesquisa e desenvolvimento quanto na garantia de serviços avançados de comunicação e informação. A Sociedade do Conhecimento nos apresenta um novo cenário, onde as pessoas, instituições governamentais e empresas têm que aprender a cada momento. A mudança do paradigma da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento, nos apresenta um novo desafio, que é como a empresa ou instituição se posicionará diante deste novo cenário. Hiperinformação Este novo mundo agora também conectado em rede, traz como positivo uma interação sem fronteiras, fazendo a informação circular com uma velocidade espantosa, tanto no nível de pessoas como de empresas, o acesso à informação ficou mais rápido e os serviços de uma forma geral ficaram disponíveis de qualquer parte do globo. A internet é um exemplo mais claro da velocidade das transformações que nós vivemos. A internet foi criada em 1969 como um programa de pesquisa do Departamento de Defesa americano, na Universidade da Califórnia. A internet cria um novo mundo, sem fronteiras, um novo mercado. Abaixo têm-se alguns dados que são representativos do crescimento e deste novo mercado. Na figura 2 observamos a evolução exponencial que a internet vem sofrendo. Importante “Dispor de informação em excesso, de forma incontrolável, é tão ruim quanto não ter informação”. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 12 FIGURA 2 – EVOLUÇÃO DOS REGISTROS DE DOMÍNIOS NO BRASIL. Desde 1991 o crescimento do número de computadores interligados pela internet tem sido exponencial em todo o mundo. A internet representa hoje um conjunto de milhões de computadores, ligados a cerca de 500 mil domínios, somente no Brasil, fora o restante dos 150 países. O número estimado de usuários da internet para o ano 2010 é cerca de 1 bilhão. Os dados brasileiros são impressionantes sob qualquer aspecto, veja a figura 2. Os serviços disponibilizados e oferecidos na Internet têm aumentado de forma acelerada. Somente no Brasil, o número de domíniossaltou de 7.574 em 1996 para 486.000 em fevereiro de 2003, sendo o domínio comercial o de maior crescimento. O predomínio da utilização da internet com fins comerciais também é uma constatação. As empresas estão utilizando o ambiente da internet, para alavancar seus negócios. A figura 3 revela a corrida que as Dica do professor O Comércio Eletrônico se baseia na transferência eletrônica de informação e inclui o compartilhamento de informação, tanto inter-organizacional quanto intra- organizacional, através de várias formas eletrônicas, como EDI, E-mail, formulários eletrônicos, file transfer, transmissão de desenhos CAD/CAM, etc. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 13 empresas estão tendo junto ao ambiente da internet, mostrando a relação dos registros de domínio, destacando a supremacia dos domínios comerciais. FIGURA 3 – SERVIÇOS NA INTERNET NO BRASIL – NÚMERO DE DOMÍNIOS REGISTRADOS NO DIA 21//04/02. Estas mudanças afetam drasticamente o ambiente competitivo de toda a sociedade, fazendo com que convivamos com todo este fluxo de informação. A grande quantidade de informações geradas atualmente dificulta inclusive o perfeito entendimento dos acontecimentos, causando inclusive uma desinformação e de certo modo uma poluição no ambiente competitivo. A quantidade de informação e conhecimento gerado nos dias atuais é imensa. A figura 4 mostra a quantidade de inserção de registros nas principais bases de dados de conhecimento. Os valores indicados são aproximados. Se somarmos a produção geral, dividi-la pelo número de segundos anuais, temos uma publicação produzida a cada 10 segundos, o que um valor surpreendente se considerarmos que estas bases de dados não exaustivas. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 14 FIGURA 4 - TAXA DE CRESCIMENTO DE REGISTROS NAS PRINCIPAIS BASES DE DADOS. Todo este conhecimento produzido faz com que tenhamos dificuldades em acompanhar as inovações tecnológicas. Esta quantidade extraordinária de conhecimento e informação circulante chamamos de hiperinformação. Globalização As grandes tendências mundiais têm sido mapeadas por diversos especialistas que buscam prever a evolução dos acontecimentos, visando capturar os sinais existentes que preconizam a formação de um novo sistema mundial futuro. O desenvolvimento de todos os países, inclusive o do Brasil, é condicionado pelas trajetórias prováveis da ordem internacional, seus processos, tendências e paradigmas. O que se vê atualmente é o cenário internacional com base na tendência da preponderância dos blocos econômicos, consolidando algumas regulamentações, barreiras técnicas, subsídios e sanções econômicas como formas de protecionismo de mercado, praticadas principalmente pelos países ditos centrais. Nos países, chamados de periféricos, onde o poder de negociação Taxa de crescimento das Bases de Dados Base de Dados Número de referências anuais WPIL (world Patent Index) - Patentes 300.000 Chemical Abstract - Química 500.000 Medline - Medicina 370.000 Biosis - Biologia 550.000 Predicast (Prompt), CNI - Economia 900.000 e 220.000 Pascal (INIST CNRS) - Multidisciplinar 650.000 SCI (Science Citation Index) - Multidisciplinar 730.000 INSPEC - Física 260.000 Compendex - Engenharia 210.000 Arts e Humanidades - Letras 100.000 FSTA - Agroalimentar 195.000 Financial Time - Economia e comércio 50.000 Coelho, 2001 Dica do professor Barreiras Técnicas! São os requisitos técnicos que são impostos aos produtos concorrentes com o objetivo de impedir a entrada no mercado que se objetiva proteger. Prática muito utilizada para a proteção de mercado em blocos econômicos. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 15 não é tão grande, acontecem desregulamentações de alguns setores, abrindo a economia interna para um mundo globalizado, onde a competitividade passa a ser de nível internacional, com competidores de peso, como aconteceu no Brasil, por exemplo, no setor de telecomunicações, na quebra do monopólio do petróleo etc. As grandes transformações pelas quais vem passando o mundo econômico têm causado verdadeiras turbulências, comprometendo as estruturas atuais e requerendo uma reorientação do próprio sistema capitalista. Segundo Thurow (1996), a compreensão das mudanças em curso, abaixo relacionadas, que é a interação entre elas, é que irão fazer com que entendamos as regras do novo cenário mundial. O fim do comunismo: um terço da humanidade e um quarto da massa da terra do mundo, que eram controlados por aquele sistema, estarão se juntando ao velho sistema capitalista. Provavelmente haverá um único sistema econômico, sem opositores. Acontecimentos como a dissolução da união soviética, a migração dos países egressos para a comunidade européia, são exemplos destas modificações. A mudança demográfica: a população do mundo está crescendo e envelhecendo. O crescimento é maior nos países mais pobres e está contribuindo para um êxodo para os países mais ricos, exatamente quando a mão- de-obra não qualificada não é necessária no rico mundo industrial. O aumento da faixa etária da população do mundo faz com que os países gastem mais para manter o serviço previdenciário, diminuindo sua capacidade de investimento. Você sabia? Lester Thurow, em seu livro O Futuro do Capitalismo que foi lançado em 1996 provocou grande questionamento, pois propunha uma visão negativa, sob as ameaças do capitalismo que poderiam surgir. Lester Thurow Aula 1 | Sociedade do conhecimento 16 A ausência de uma potência dominante, econômica, militar ou social: não haverá mais um pólo dominante que dita as regras do jogo em termos políticos, econômicos e comerciais. A multipolarização do mundo acentua as incertezas a respeito da nova dinâmica econômica. Esta questão pode ser questionada com a supremacia militar dos eua, após os atentados de 11 de setembro. Mesmo assim, existe uma reação de alguns países em anular a supremacia americana. A economia global: mudanças em tecnologia, transportes e comunicações estão criando um mundo onde tudo pode ser feito e comercializado em qualquer parte do planeta. As empresas globais reduzem o poder das economias nacionais, que vão lutar por sua identidade. A mudança tecnológica, enfatizando o poder do conhecimento: a revolução científica e tecnológica está modificando a estrutura produtiva. É o capital intelectual, não o equipamento, o capital, a mão-de-obra comum ou os recursos naturais, que dá às organizações a necessária vantagem competitiva. A transformação da sociedade, agora baseada no poder do conhecimento, requer vultosos investimentos em educação, que não têm sido feitos; Dentre estas mudanças em curso, as duas últimas têm importância fundamental na evolução ou revolução do ambiente competitivo das organizações. De certa forma elas concentram as idéias das demais. É importante compreender melhor como essas forças - a “globalização da economia” e o “poder do conhecimento Você sabia? A média de escolaridade do trabalhador brasileiro é de 4 anos, enquanto na Argentina e no Chile é de 8 anos. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 17 e da inovação” se comportam e impactam as organizações. A Globalização representa um mundo sem fronteiras econômicas. Qualquer coisa pode ser feita em qualquer parte e vendida em qualquer lugar. O fluxo de capital nunca foi tão grande. Em termos tecnológicos, os custos de transporte e comunicações caíram drasticamente e a velocidade de produção destes cresceu de forma exponencial, tornando possíveis sistemas completamente novos de comunicações, comando e controle no setor privado.Minimizar custos e maximizar receitas é a essência do capitalismo. Ligações sentimentais com certas partes do mundo não fazem parte deste cenário. Esta forte tendência da globalização reorganiza completamente o sistema político e econômico internacional com o aprofundamento da internacionalização da produção e a recomposição do sistema produtivo. Capital e tecnologia são agora móveis, alterando a qualidade e as modalidades dos fluxos financeiros e tecnológicos. Como resultado desta mudança, o fator trabalho e as condições de emprego são significativamente alteradas. Além disso, a globalização põe em xeque as culturas nacionais. Ao mesmo tempo as vantagens e desvantagens de uma economia global põem em questão o próprio futuro. Enquanto a globalização avança, a fragmentação também pode ocorrer, acirrando a disputa entre as organizações, nações e principalmente entre os grandes blocos econômicos, dificultando o livre comércio. Alguns pontos merecem ser analisados no âmbito do fenômeno da globalização: Importante Para inovar é preciso que o país invista continuamente e estrategicamente recursos financeiros no capital humano. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 18 A substancial expansão dos fluxos financeiros internacionais e seu impacto sobre as políticas nacionais: O fluxo virtualmente desimpedido do capital internacional permite, em tese, a alocação eficiente de recursos nos mercados que oferecem melhores atrativos. O capital internacional vai atrás de incentivos fiscais, mão-de-obra qualificada, economias pouco regulamentadas, locais onde as empresas têm liberdade de atuação e bons rendimentos em especulação. A competição entre Governos nacionais para a produção no seu país: A oferta de incentivos fiscais, utilizados como “iscas” para a atração do capital, leva a uma competição acirrada dos governos nacionais, garantindo assim a produção no seu país. Dentro de cada país, as respectivas divisões territoriais, inclusive municípios, adotam padrões de comportamento igualmente competitivos. Modificações na estrutura do emprego: A opção de um produto mundial, produzido em várias partes do mundo de acordo com a otimização dos custos, pode trazer conseqüências graves na estrutura do emprego de diversas nações. Esta estratégia permite que empresas produzam componentes em qualquer parte do mundo, inclusive sem interromper a produção intelectual, pois a produção intelectual está alocada em locais com fusos horários diferentes, fazendo com que sejam complementados, alternativamente, garantindo assim, a velocidade de produção. Importante Algumas empresas trabalham de dia em sua empresa e de noite encaminham para a outra unidade, no outro lado do planeta, para complementarem a atividade. Desta forma, existe uma redução considerável no tempo de desenvolvimento do produto, funcionando literalmente 24 horas ininterruptas de trabalho. Quer saber mais? Pereira, M.M., em sua dissertação de doutorado Système d‟intelligence compétitive pour la veille stratégique et l‟élaboration de cours de formation professionnelle em 2003, defende a necessidade de monitorar, em função do blocos econômicos, a formação profissional necessária para garantir a competitividade das empresas. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 19 A perda da identidade nacional: Os governos estão perdendo as rédeas da economia em seus países e esta pode ser a grande oposição à efetivação do mercado mundial totalmente livre. Os que estão no poder hoje, dificilmente vão aceitar a total submissão às regras ditadas pelo mercado, além de não serem capazes de construir uma política social de diminuição das desigualdades, exigidas pelos seus eleitores. Acirramento da competição por recursos naturais que se tornam escassos: outro aspecto da dinâmica da globalização. A continuidade do padrão de consumo abusivo por parte dos países industrializados tende a degradar o meio ambiente, ao passo que permanece insuficiente o acesso dos países do hemisfério Sul à tecnologia e a financiamentos que lhes viabilizem um desenvolvimento sustentável. A própria globalização traz também em seu bojo a contrapartida da fragmentação: Em outras palavras, na ausência de uma modulação de seus efeitos, a globalização acirra o hiato entre o centro e a periferia, entre os estados e dentro deles. Alguns pesquisadores como DE MASI (2000), em seu livro “Ócio Criativo”, amenizam o lado cruel da globalização, defendendo que a nova sociedade está trazendo mudanças drásticas para o trabalho. Estas mudanças favorecem o surgimento de um novo modelo social, mais igualitário e estruturado na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer; no crescente tempo livre em relação ao tempo dedicado ao trabalho; na distribuição igualitária da riqueza, assim como a sua produção de forma eficiente; na redistribuição do Aula 1 | Sociedade do conhecimento 20 tempo, do trabalho, da riqueza, do saber e do poder; onde os indivíduos e a sociedade serão educados a privilegiar a introspecção, o convívio, a amizade etc. A circulação de produtos entre blocos, necessita de uma padronização não só dos produtos, mas também de critérios de formação de profissionais, com conhecimentos técnicos atualizados e de acordo com os padrões estabelecidos. A definição de padrões para a circulação tanto de produtos como de profissionais é necessária para a garantia da qualidade e a competitividade dos produtos dentro dos blocos econômicos. A incerteza de quais blocos nascerão e quais procedimentos e normas serão utilizadas é sem dúvida objeto que merece acompanhamento e monitoração. No caso particular do Brasil, a conjuntura atual brasileira é resultado da grande mudança de postura nas políticas públicas que ocorreu no final da década de 80, estendendo-se pelos anos 90. Nesse período, foi promovida uma súbita abertura no mercado interno, atração do capital estrangeiro, e a desestatização de grandes empresas públicas. O resultado é uma conjuntura caracterizada pela desnacionalização simultânea da produção industrial e da prestação de serviços públicos. Os segmentos mais dinâmicos do setor produtivo estão dominados por empresas multinacionais. Os segmentos automobilístico, químico- farmacêutico, eletrônico profissional e de entretenimento, aparelhos de uso doméstico, comunicações, e tantos outros, funcionam e progridem na área tecnológica, independentemente do aporte de inteligência local. As empresas estrangeiras, como regra geral, fazem suas pesquisas e desenvolvimentos nas matrizes e/ou em suas filiais localizadas e países do Aula 1 | Sociedade do conhecimento 21 primeiro mundo. Lá usufruem de extraordinária infra- estrutura científica e tecnológica constituída por bem equipados centros de pesquisa e universidades, além de vigorosos incentivos criados pelos governos para estimular a geração de inovações. Para elas é ainda muito melhor negócio que suas filiais situadas em países periféricos paguem royalties para suas matrizes, pelo uso das tecnologias que as mesmas geraram, no lugar de empreenderem um esforço local. O rápido desenvolvimento tecnológico da microeletrônica, da informática, das telecomunicações e da automação, assim como o exponencial crescimento de suas aplicações, afetaram de tal maneira as qualificações exigidas para o trabalho, o acesso às informações, a circulação do conhecimento, a organização e o funcionamento do setor produtivo, as relações sociais e as políticas governamentais, que se admite estarmos vivendo a Terceira Revolução Pós Industrial ou, como alguns preferem, a Era do Conhecimento/Informação ou a Sociedade do Conhecimento. A formação de grandes blocos econômico-comerciais aparece como novos aglomerados supranacionais que tendem a alterar o sistema geo- econômico mundial. A formação de mega-mercados dinâmicos com liberdade de comércio e divisão interna do trabalho é uma tônica dominante nos países desenvolvidos. Neste contexto, alguns blocos econômicos aparecem com diferentes ritmos de consolidação, compondo espacialmente os mega-mercados regionais: A Comunidade Econômica Européia, mais uniforme e em nível mais amplo de unificação; Importante A Globalização permite que a produção dos produtos chineses, possa concorrer aqui no Brasil competindo em preço, prazo e qualidade. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 22 O Bloco Asiático menos formal, mas bastante integrado economicamente; O NAFTA, bloco econômico da América do Norte – Estados Unidos, Canadá e México (com pretensões de ampliação para a América do Sul); MERCOSUL, mercado comum em implantação no Cone Sul da América Latina, envolvendo o Brasil e os países da bacia do Prata – Argentina, Uruguai e Paraguai. O MERCOSUL tem dado passos importantes na supressão das restrições ao comércio entre países membros e recentemente assinou protocolos para a inclusão do Chile e da Bolívia em acordos de livre comércio. A integração em blocos permite a intensificação do comércio e o aproveitamento de vantagens competitivas entre as nações, com efeito geral favorável no dinamismo das economias que os compõem. Junto com esta movimentação mundial, o aprofundamento da crise do Estado face ao processo de globalização levou também a um processo de reestruturação do setor público e revisão do seu papel na condução das políticas públicas. Em quase todo o mundo foram feitas reformas do Estado, combinando privatização de empresas, concessões de serviços públicos, terceirização de serviços e de atividades de responsabilidade do Estado e desregulamentação da vida econômica e social. Por outro lado, o acordo do GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas, assinado no segundo semestre de 1994 – que criou a Organização Mundial do Comércio – definiu um cronograma de redução de Quer saber mais? BLOCOS ECONÔMICOS São associações de países que estabelecem relações econômicas privilegiadas entre si. O primeiro bloco surge na europa em 1957, com a criação da comunidade econômica européia (cee), atual união européia (ue). Mas a tendência de regionalização da economia só se fortalece nos anos 90, com o fim da guerra fria. Na américa se destacam o nafta, o mercosul e, em menor grau, o pacto andino e o caricom; na europa, a ue e a comunidade dos estados independentes (cei); na áfrica há o sadc; na ásia, o asean. Também está em fase de implantação o bloco transcontinental apec, que reúne países da américa e da ásia, e continuam as negociações para a formação de um bloco abrangendo toda a américa, o alca. Marcos cintra Aula 1 | Sociedade do conhecimento 23 protecionismo tarifárico e não tarifárico, que permitirá intensificar o comércio mundial entre blocos. A intensificação do comércio deve, contudo, forçar uma especialização das nações, induzindo-as a explorar os segmentos e atividades econômicas em que possam ter alguma forma de vantagem competitiva e reduzindo a proteção às indústrias nacionais de baixa produtividade relativa. Outro ponto que merece destaque é a OMC atuar como árbitro do comércio internacional. HIPERCOMPETIÇÃO No contexto descrito anteriormente, o da globalização, o ambiente de competição acirra-se e as empresas necessitam buscar constantemente alternativas estratégicas para adquirir novas ou manter as vantagens competitivas adquiridas, já que a concorrência é em nível internacional. Desta forma, surge um ambiente competitivo caracterizado pela hipercompetição (D`AVENI, 1995). A dinâmica internacional imposta pela globalização, faz com que o mercado se mundialize. Abrange ao mesmo tempo os domínios econômico, social, político e tecnológico. A competitividade neste ambiente tem como pano de fundo: Acirramento da competição; Menor espaço de tempo entre a pesquisa e a aplicação; Rápidas mudanças tecnológicas; Novos e inesperados competidores; Novas regulamentações e incentivos; Amplos mercados mundiais e Competidores mundiais de porte. Neste ambiente de elevada incerteza decorrente da complexidade que as questões acima proporcionam Dica de leitura Sobre globalização leia o livro: Globalização: as conseqüências humanas de Zigmunt Bauman, ed. Jorge Zahar. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 24 aos dias de hoje, insere-se a hipercompetição. A visão tradicional baseada somente na relação entre custo e qualidade, proporcionando vantagens competitivas à empresas ou à instituições, não têm sido mais suficiente para assegurar seu posicionamento no contexto sócio-produtivo em que atuam. A visão tradicional, descrita por Porter, sugere às organizações dois tipos básicos de vantagem competitiva: liderança de custo e diferenciação. Os dois tipos de vantagem competitiva - liderança de custo e diferenciação - combinados com a forma em que uma empresa ou organização procura alcançá-las, levam-na a três tipos de estratégias genéricas para atingir uma vantagem competitiva sustentável: liderança de custo, diferenciação e enfoque. A liderança de custo é talvez a mais clara das três estratégias genéricas. Nesta estratégia, a organização ou empresa parte para tornar-se o produtor de baixo custo em seu segmento industrial. Um produtor de baixo custo deve descobrir e explorar todas as fontes de vantagem de custo, tornando-se o líder de custo. A segunda estratégia genérica é a diferenciação. Neste tipo de estratégia, uma empresa ou organização procura ser única em seu segmento industrial, devido a algumas características amplamente valorizadas pelos consumidores. As características de diferenciação podem ser baseadas no próprio produto, no sistema de entrega pelo qual ele é vendido, no método de marketing e em uma grande variedade de outros fatores. A terceira estratégia genérica é o enfoque. Esta estratégia genérica é bem diferente das outras, porque Dica de leitura Michael Porter, Prof. da Harvard Business School em seu famoso livro “Vantagem Competitiva ”, em 1985, nos EUA, descreve como as empresas podem criar e sustentar vantagens competitivas, baseadas em custo e diferenciação Michael Porter Aula 1 | Sociedade do conhecimento 25 está baseada na escolha de um ambiente competitivo dentro de um segmento industrial, adaptando sua estratégia para atendê-lo, excluindo outros. A estratégia de enfoque tem duas variantes. No enfoque de custo, uma empresa ou organização procura uma vantagem de custo em seu segmento-alvo, enquanto no enfoque na diferenciação uma empresa ou organização busca a diferenciação em seu segmento- alvo. Ambas variantes da estratégia de enfoque baseiam-se em diferenças entre segmentos-alvo e outros segmentos na indústria. No ambiente complexo da hipercompetição, estas estratégias genéricas passam a ser de curto prazo, considerando que atualmente as empresas se alternam nessas estratégias, passando de líderes a seguidoras e vice-versa. As empresas devem romper as suas próprias vantagens competitivas, isto é, renovar constantemente as suas vantagens e não brigar por mantê-las. A organização, a fim de conseguir posicionar-se bem neste ambiente turbulento, necessita identificar com presteza o leque de domínios em que está imersa e identificar os campos que interagem com seu segmento de negócio e que podem influenciar sua atuação e estratégia. A figura 5 ilustra este ambiente, chamado por alguns autores de Tecnosfera, que são as áreasde interface de uma instituição, áreas estas que devem ser monitoradas e cuidadas para garantir a sua sobrevivência. Você sabia? CRRM – Centre de Recherche e Retrospective de Marseille, é um centro de pesquisa na França, que estuda novas ferramentas e desenvolve pesquisas e formação de pessoal em Ciência da Informação e Inteligência Competitiva. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 26 FIGURA 5 – AMBIENTE COMPETITIVO CLÁSSICO Durante os últimos vinte anos, as organizações vêm sofrendo fortes mudanças em seus ambientes sócio-produtivos e conseqüentemente necessitam revisar suas metas de forma permanente, e em período cada vez mais curtos. O ritmo acelerado dessas mudanças faz com que na sociedade da informação o ambiente competitivo passe de local, ou seja, abrangência regional, para um estágio evolutivo de escopo nacional, onde começam a ser introduzidas e aplicadas metodologias de monitoração tecnológica e do ambiente externo. Este estágio evoluiu até chegar ao estágio atual de implantação de Sistemas de Inteligência Competitiva e Tecnológica, que abordam aspectos globais e de múltiplas dimensões - econômica, social, legal, tecnológica, meio ambiente e mercado, porém sempre focalizados em fatores de competitividade das empresas. Segundo Dou (1997), pode-se chamar esse estágio de Sociedade de Informação “Glocal”, termo que se traduz em monitorar globalmente e agir localmente. A figura 6 mostra a trajetória de evolução do ambiente competitivo das instituições nas últimas duas décadas. Organização Tecnologia Relações externas Compras Marketing Comunicações Relações com clientes e fornecedores Proteções Finanças Formação Ciência FONTE: CRRM Importante Peter Drucker, considerado um dos grandes gurus da administração moderna, já em artigo na HSM Management, de março-abril de 1997, defende que: “As empresas do futuro precisarão ser cada vez mais especializadas e globais, mesmo que operem em um bairro.” Peter Drucker Aula 1 | Sociedade do conhecimento 27 FIGURA 6 - TRAJETÓRIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NOS ÚLTIMOS VINTE ANOS. Na hipercompetição existem quatro arenas de competição que devem ser consideradas pelas organizações ao estabelecerem suas estratégias competitivas: Preço e qualidade percebida; Tempo e tecnologia; Barreiras a entrantes e Reservas financeiras. Conforme as empresas se movimentam dentro de cada arena existe um movimento constante de anular as vantagens competitivas de seus concorrentes. Dentre as quatro arenas da hipercompetição vamos destacar as duas primeiras que estão mais direcionadas à inovação tecnológica e competitividade de mercado. Estando ligadas à estratégia, as duas últimas podem ser explicadas pelo modelo de Porter, que será visto mais na frente do curso. MOVIMENTO TEMPO (ANOS) LOCAL NACIONAL GLOCAL Fortes mudanças nas metas e nas organizações Global + Local FONTE: CRRM Para navegar Acesse o site da revista Você S/A e procure o artigo JOGO BRUTO de Richard D‟Aveni sobre hipercompetição. http://vocesa.abril.c om.br/ Aula 1 | Sociedade do conhecimento 28 a) Preço e Qualidade Percebida Dentro desta arena existe uma grande movimentação de mercado, onde os produtores de bens ou serviços procuram atingir a posição de liderança, associando o menor preço com a melhor qualidade. O importante no conceito de qualidade percebida é fazer com que os consumidores dentro de seus próprios critérios consigam a relação satisfatória de preço com a qualidade percebida por eles. A percepção da qualidade pelos consumidores é a chave nesta arena e deve ser cuidadosamente considerada. As percepções de qualidade mudam e as diferenças podem prover pontos-chaves de alavancagem, influenciando o processo dinâmico da competição. Desta forma, manter-se em contato com as necessidades atuais ou emergentes torna-se essencial para a sustentação da organização em mercados hipercompetitivos. A movimentação existente no ambiente hipercompetitivo é classificada como interações estratégicas dinâmicas. As diversas interações estratégicas dinâmicas nesta arena - preço e qualidade percebida - são descritas a seguir: Guerra dos preços; Posicionamento de preço e qualidade sustentada; O caminho intermediário; Cobertura em todos os nichos; Ocupação de flancos e nichos; Movimento em direção ao valor ótimo e Escapando do valor ótimo com o reiniciar do ciclo. Para refletir Como você analisa a questão da COOPERAÇÃO em um contexto de hipercompetição? Aula 1 | Sociedade do conhecimento 29 A primeira interação estratégica dinâmica - guerra de preços - pode provocar um conflito particularmente intenso entre duas empresas, caso estas possuam custos diferentes, encorajando uma delas à redução de preços. A figura 7 ilustra a situação em que a qualidade não é um fator preponderante. FIGURA 7 - HIPERCOMPETIÇÃO - QUANDO QUALIDADE NÃO É UM FATOR PREPONDERANTE Quando as empresas, a fim de escaparem da guerra dos preços, procuram diferenciar-se em qualidade e em preço, configura-se a segunda interação estratégica dinâmica - posicionamento de preço e qualidade sustentada. A empresa movimenta-se do ponto C da figura 8 para a posição B, também chamada de posição de produtor de baixo custo. Quando movimenta-se para a posição D, torna-se um diferenciador, oferecendo um produto com um preço superior e uma maior qualidade percebida. O produtor de baixo custo e as empresas diferenciadoras atendem fundamentalmente a grupos diferentes de clientes, mas oferecem valor similar, no sentido de que os clientes obtêm o nível de qualidade que esperam e pelo qual estão pagando. Existindo mais de uma empresa em cada posição, eventualmente pode haver disputas por menores preços e/ou qualidade em cada posição. Por exemplo, na figura 9 duas empresas X e Z disputam a posição no quesito diferenciação e as empresas W e Y disputam entre os produtores de baixo custo. Desta Guerra de preços Qualidade percebida Preço Todasas empresas Na criação do Segmento industrial C Dica do professor Se você for da área de educação pode estar se perguntando: de que me interessa saber estas coisas? Para a atuação dentro do ambiente empresarial é fundamental compreender toda a dinâmica desta realidade de mercado que não é trabalhada na graduação com perfil educacional. Procure interagir com este que se constitui seu novo ambiente de trabalho: A EMPRESA! Aula 1 | Sociedade do conhecimento 30 forma, a competitividade alterna entre a diferenciação em preço e qualidade dentro de cada segmento. FIGURA 8 - ESTRATÉGIAS GENÉRICAS FIGURA 9 - COMPETIÇÃO DENTRO DE UM SEGMENTO Pode ocorrer, então, que a competitividade eleva-se a níveis mais altos entre os dois segmentos. A distância entre os dois segmentos pode ser diminuída de forma que os segmentos se superponham, conforme mostrado na figura 10. Quando a distância entre B e D é reduzida, pode-se ter como conseqüência que B absorve a extremidade inferior do mercado de D ou que D absorve a extremidade superior do mercado de B. Outra forma de ocorrência do fenômeno, é quando o valor oferecido por B ou D , figura 10, pode ser melhorado, conforme mostrado nas figuras 11a e 11b. Esta posição força os consumidores da extremidade Guerra de Preços Qualidade Percebida Preço Todas as empresas na criação do segmento industrial C B D Y Preço Z W X Qualidade Percebida Aula 1 | Sociedade do conhecimento 31 inferior a decidirem se desejam pagar o preço total mais baixo ou obter o valor mais elevado ou força os consumidores da extremidade superior a decidirem se querem comprar um produto de qualidade geral mais elevada. O caminho mais simples de amenizar a influência das empresas em D ou B é tentar mover-se para a posição intermediária como ilustrado na posição M da figura 12 - o caminho intermediário. Nesta posição a organização deverá oferecer o mesmo valor que B e D, podendo atrair alguns consumidores de B e D: tanto aqueles da extremidade superior, que buscam uma qualidade ligeiramente mais alta, quanto os consumidores da extremidade inferior, que buscam preços ligeiramente mais baixos. FIGURA 9 - COMPETIÇÃO DENTRO DE UM SEGMENTO FIGURA 10 - SUPERPOSIÇÃO DE SEGMENTOS B Preço D Qualidade Percebida Y Preço Z W X Qualidade percebida Aula 1 | Sociedade do conhecimento 32 FIGURA 12 - CAMINHO INTERMEDIÁRIO A interação estratégica dinâmica, que corresponde a “cobrindo todos os nichos”, representa o mercado de empresas que optam pela linha completa de produtos, evitando novos entrantes no meio da trajetória, o que exigiria movimentos defensivos onerosos. Esta opção é representada na figura 13. FIGURA 13 - LINHA COMPLETA Preço Qualidade Percebida Produto a Produto c Produto b B Preço D B Preço D Qualidade Percebida Qualidade Percebida Figura 11 a – O Diferenciador aumenta o valor Figura 11 b – O produtor de Baixo custo aumenta o valor M Preço D Qualidade Percebida B Aula 1 | Sociedade do conhecimento 33 Existe grande dificuldade de ocupação de todo o mercado, principalmente de novos concorrentes, mesmo quando se adota a estratégia de linha completa. Enquanto o produtor de linha completa é forçado a olhar para um cenário mais amplo, os concorrentes menores podem estar focados em nichos de mercado. A figura 14 ilustra esta interação estratégica dinâmica chamada de ocupação de flancos e ocupação de nichos. FIGURA 14 - ENTRADA TÍPICA DE OCUPAÇÃO DE FLANCOS E/OU DE NICHOS Os produtos projetados para atuarem em nichos se superpõem àqueles de concorrentes já existentes. Algumas empresas movimentam-se para cima e para baixo para tomar mais espaço de mercado dos produtores de linha completa. Isto força os concorrentes existentes a reagirem, oferecendo valores melhores aos consumidores com preços mais baixos, qualidade mais alta ou ambos. Esta dinâmica faz com que todos os protagonistas sejam levados para baixo a níveis similares de preço e qualidade, caracterizando um ambiente de interação estratégica dinâmica de movimento em direção ao valor ótimo (figura 15). Conforme as empresas movimentam-se em direção ao valor ótimo, os lucros diminuem e a concorrência se intensifica. Os concorrentes que estão longe deste ponto estão fadados ao fracasso. Eles não Preço Qualidade Percebida Posição de Ocupação de Flancos na Extremidade Inferior Sup. Oportunidades de Nichos D L L L Inf. B Posição de Ocupação de Flancos na Extremidade Superior Aula 1 | Sociedade do conhecimento 34 conseguem oferecer melhor qualidade, nem preços mais baixos. Os protagonistas que permanecem brigam por uma única posição. A partir daí a qualidade é uma necessidade e não mais uma fonte de vantagem competitiva, o que faz com que retornem ao início do ciclo, configurando-se a última interação estratégica, que é escapando do valor ótimo com o reiniciar do ciclo. FIGURA 15 - MOVIMENTO EM DIREÇÃO À OFERTA DO VALOR ÓTIMO b) Tempo e Tecnologia Na arena tempo e tecnologia, as estratégias adotadas por um seguidor ou por um líder são estáticas demais em ambientes de hipercompetição. Isto porque existe uma constante dinâmica na mudança das posições de líder para seguidor e vice-versa. Na hipercompetição, a vantagem acompanha a empresa que se mantiver em movimento de escalada e não a empresa que orienta suas ações seguindo uma das estratégias genéricas, descritas anteriormente na apresentação do Modelo de Porter – liderança de custo, diferenciação e enfoque. Pesquisa e Desenvolvimento - P&D torna-se, então, fundamental para suportar este movimento de escalada das empresas. Preço Qualidade Percebida Linha de Valor Seguinte Primeira Linha de Valor D E 2 E 3 E 1 B E 4 V 1 V 2 V 3 V O Melhor Linha de Valor Aula 1 | Sociedade do conhecimento 35 De acordo com as últimas abordagens, observa- se que a tecnologia passa a ser uma força motriz capaz de condicionar o futuro estratégico de uma organização e seu papel evolui de tecnologia como fator de produção para tecnologia como fator de competitividade. No ambiente estratégico e da hipercompetição, a área de Pesquisa e Desenvolvimento deve assumir três propósitos: Defender, apoiar e expandir o negócio existente; Impulsionar novos negócios; e Ampliar e aprofundar as capacidades tecnológicas da empresa. Desta forma, a missão da área de P&D de uma organização muda em função do grau de maturidade em que a tecnologia a ser adotada pela organização se encontra em nível mundial. A figura 16 ilustra estes três propósitos, de acordo com o grau de maturidade tecnológica: FIGURA 16 - MATURIDADE TECNOLÓGICA E P&D COMO VANTAGEM COMPETITIVA O papel da P&D na fase embrionária do ciclo de vida da indústria ou produto é ajudar a lançar o novo GRAU DE MATURIDADE TECNOLÓGICA A MISSÃO DE P&D EMBRIONÁRIA CRESCIMENTO MADURA PÓS-MADURA Lançar novo negócio Fazer crescer o novo negócio Manter a posição competitiva Estabelecer posição competitiva Melhorar a posição competitiva Rejuvenescer? Abandonar? Renovar? Dica do professor Existem duas grandes tendências na análise da relação entre sociedade e tecnologia. Uma afirma que o desenvolvimento tecnológico coloca a sociedade em risco, ameaçando oscampos de empregabilidade e deslocando o domínio dos processos do humano para o técnico. A outra, predominante neste artigo, entende a tecnologia como possibilidade de ampliação de mercados, empregos e qualidade nas empresas. O que você pensa sobre este tema? Aula 1 | Sociedade do conhecimento 36 negócio e fixar posição, demonstrando a validade do conceito do produto em uma ou mais aplicação e estabelecendo a viabilidade do processo de produção. Também pode assumir o papel de defender a propriedade intelectual da organização. Durante a etapa de crescimento, a missão de P&D é sustentar o crescimento do negócio e melhorar ou manter sua posição competitiva, ampliando a variedade de produtos e aplicações ou aumentando o potencial de aplicação dos produtos atuais por meio de características aprimoradas ou custos reduzidos. Quando a indústria torna-se madura, o papel estratégico da área de P&D muda para o de defender a posição competitiva ao dilatar o potencial de diferenciação de produtos ou concentrar-se na redução dos custos. Nesta fase, a organização pode decidir rejuvenescer o negócio, podendo transformar-se também numa responsabilidade da área de P&D a introdução de novas tecnologias. Numa indústria, onde a tecnologia encontra-se na fase de envelhecimento, o papel de P&D é concentrado na redução de custos e no apoio a clientes, visando resguardar sua lucratividade. Provavelmente, uma estratégia a ser adotada nesta fase seja a de renovar os produtos ou a tecnologia de processo, movimentando os concorrentes, em vez de ser movimentado por eles. O não reconhecimento oportuno de uma substituição tecnológica pode resultar em perda excessiva de participação no mercado ou, até mesmo, ocasionar a saída da empresa de um setor, no qual gozava de uma posição de liderança. A tecnologia pode servir como recurso importante e poderoso, por Aula 1 | Sociedade do conhecimento 37 intermédio do qual uma empresa pode conquistar e manter proeminência competitiva. A vantagem competitiva que a tecnologia pode oferecer à empresa, entretanto, possui cada vez menos tempo de validade. Está ligada diretamente à estratégia interna e à estratégia dos competidores e deve ser sustentada pela organização por meio de monitoração das trajetórias tecnológicas da concorrência, e da atualização permanente da organização por meio de sua capacidade de inovação. EXERCÍCIO 1 Segundo Thurow “a compreensão das mudanças em curso, abaixo relacionadas, que é a interação entre elas, é que irão fazer com que entendamos as regras do novo cenário”. Assinale as afirmativas corretas que explicitem estas mudanças: ( A ) Nunca haverá um único sistema econômico, sem opositores. ( B ) A população do mundo está crescendo e envelhecendo. E o aumento da faixa etária da população do mundo faz com que os países gastem mais para manter o serviço previdenciário, diminuindo sua capacidade de investimento. ( C ) A ausência de uma potência dominante, econômica, militar ou social: não haverá mais um pólo dominante que dita as regras do jogo em termos políticos, econômicos e comerciais. ( D ) As empresas globais aumentam o poder das economias nacionais, sem que estas precisem lutar por sua identidade. ( E ) A mudança tecnológica, enfatizando o poder do conhecimento. Dica do professor Não deixe de fazer seu exercício de auto avaliação. Ele é uma excelente maneira de rever os conteúdos centrais deste artigo! Você sabia? A média de escolaridade do trabalhador brasileiro é de 4 anos, enquanto na Argentina e no Chile é de 8 anos. Aula 1 | Sociedade do conhecimento 38 EXERCÍCIO 2 Coloque Verdadeiro ou Falso com relação ao que podemos falar sobre a globalização (oba) A dinâmica internacional imposta pela globalização faz com que o mercado se mundialize. (oba) A Globalização representa um mundo sem fronteiras econômicas. (oba) Qualquer coisa pode ser feita em qualquer lugar, mas não pode ser distribuída em qualquer lugar. (oba) Em termos tecnológicos, os custos de transporte e comunicações aumentaram drasticamente e a velocidade de produção destes diminuiu de forma exponencial. EXERCÍCIO 3 Por que a vantagem competitiva que a tecnologia pode oferecer à empresa, possui cada vez um menor tempo de validade? ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ EXERCÍCIO 4 Como a sociedade do conhecimento afeta o ambiente competitivo? ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ Aula 1 | Sociedade do conhecimento 39 RESUMO Vimos até agora: Conceito de Sociedade do conhecimento; Diferença entre Sociedade de informação e sociedade do conhecimento; Conceitos de Hiperinformação, Globalização e Hipercompetição. Competitividade baseada no conhecimento Marcelo Maciel Pereira A U L A 2 A p re s e n ta ç ã o O conhecimento tornou-se hoje um dos principais fatores de superação de desigualdades, de agregação de valor, criação de emprego qualificado e de propagação do bem estar. A nova situação tem reflexos no sistema econômico e político. A soberania e autonomia dos países passam mundialmente por uma nova leitura, e sua manutenção – que é essencial - depende sobremaneira do acesso à informação e da constante geração de conhecimento. Nesta nova sociedade, o conhecimento passa a ser o elemento central da diferenciação individual, coletiva e da sobrevivência organizacional. Desta forma, necessitamos entender como o ambiente competitivo vem evoluindo e qual o papel da informação e do conhecimento nesta nova sociedade. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Entender a mudança de paradigmas trazida pela Sociedade do Conhecimento; Definir os processos de inovação; Compreender como a competitividade hoje, está cada vez mais baseada no conhecimento; Definir hiperinformação, globalização e hipercompetição. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 42 Introdução O conhecimento tornou-se hoje, mais do que no passado, um dos principais fatores de superação de desigualdades, de agregação de valor, criação de emprego qualificado e de propagação do bem estar. A nova situação tem reflexos no sistema econômico e político. A soberania e autonomia dos países passam mundialmente por uma nova leitura, e sua manutenção – que é essencial - depende sobremaneira do acesso à informação e da constante geração de conhecimento. Por outro lado as tecnologias da informação permeiam o nosso cotidiano, possibilitando, falar ao telefone a qualquer momento, verificar multas de trânsito, trocar mensagens com pessoas do outro lado do planeta, pesquisar e estudar na internet, transformando estas ações em atividades rotineiras no mundo inteiro e no Brasil também. As mudanças que estamos presenciando em nossas vidas e no ambiente competitivo que uma instituição está inserida, nos levam a refletir sobre como as questões sociais, econômicas e tecnológicas, estão inseridas em um novo paradigma e, que sem percebermos, já estamos tendo interfaces e passamos a ficar dependentes destas inovações. Rapidamente nos adaptamos a essas novidades e passamos, em geral, sem uma maior percepção clara nem maiores questionamentos, a viver na “Sociedade da Informação”,uma nova era em que a informação flui a velocidades e em quantidades há apenas poucos anos inimagináveis, assumindo valores sociais e econômicos fundamentais. O perfeito entendimento deste processo evolutivo no início do século XXI e como esta evolução Dica do professor As tecnologias de informação nos permitem estar conectados com qualquer parte do mundo. Introdução 42 Mudança de paradigmas 43 O processo da inovação 45 Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 43 nos afeta, passa a ser fundamental para inserirmo-nos no contexto da Sociedade da Informação. A informação e o conhecimento passam a ter um papel fundamental, um valor competitivo de extrema relevância para as instituições, obrigando-as a superar continuamente suas vantagens competitivas. Este ambiente, assim caracterizado pela hiperinformação e pela hipercompetição, traz desafios, tanto para as empresas, assim como para os profissionais, que se deparam com os desafios das rápidas mudanças tecnológicas e dos novos paradigmas a que somos impostos. Nesta nova sociedade, o conhecimento passa a ser o elemento central da diferenciação individual, coletiva e da sobrevivência organizacional. Desta forma, necessitamos entender como o ambiente competitivo vem evoluindo e qual o papel da informação e do conhecimento nesta nova sociedade. Mudança de paradigmas São muitos os sinais de que o conhecimento, em suas várias formas, se tornou determinante para a competitividade tanto das empresas quanto dos países. É crescente, também, a parcela da população, principalmente nos países desenvolvidos, trabalhando exclusivamente com símbolos e com diversas formas de conhecimento, tais como: softwares, marcas etc. Vivemos, assim, um momento de importante transição do ambiente econômico, em que a gestão pró-ativa do conhecimento adquire um papel central. Isso, entretanto, nem sempre foi assim, pois, no passado, vantagens de localização, acesso à mão-de-obra barata, aos recursos naturais a ao capital financeiro tinham papéis muito mais determinantes. Importante Na Sociedade da Informação, o conhecimento passa a ser o elemento da diferenciação. Dica do professor Na Sociedade da Informação, sem percebermos ficamos dependentes das novas tecnologias. Importante No novo paradigma imposto, os recursos naturais sozinhos já não garantem uma vantagem competitiva aos países. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 44 O conjunto destas mudanças está dando origem a uma nova forma de padrões de competitividade entre as nações, fortemente dependentes das inovações tecnológicas, do conhecimento e da informação. Como resultado, tendem a diminuir as vantagens competitivas de países de industrialização tardia e regiões subdesenvolvidas, baseadas somente na abundância de recursos naturais e energéticos, na mão-de-obra barata e no baixo controle ambiental. Isto pode reduzir as possibilidades mercadológicas e comerciais destes países e diminuir a atratividade destes países frente aos investidores internacionais. O panorama econômico atual caracteriza-se por uma profunda mudança no paradigma técnico- econômico: a economia baseada em energia e materiais está cedendo lugar, cada vez mais, à economia fundamentada na informação e no conhecimento. Agregar conhecimento significa agregar valor aos produtos e serviços. Esta evolução está sistematizada na figura 1, onde Freeman, economista inglês, neo-Shumpeteriano, desenvolveu o conceito de Paradigmas Técnico- Econômico. A expressão “Paradigmas Técnico- Econômicos” representa um processo de seleção de uma série de combinações viáveis de inovações tecnológicas e organizacionais na sociedade. Ciclos Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Descrição Mecanização Força a vapor e Ferrovia Energia elétrica Engenharia pesada Produção em massa “fordismo” Tecnologia da informação Importante A Revolução Industrial baseou-se na abundância de recursos naturais e na mecanização. Hoje, aqueles países que não investirem em inovações tecnológicas e geração de conhecimento ficarão para trás. Você sabia? Shumpeter, em 1939 apresentou o conceito de paradigmas e defendia que: “As inovações, que são significativas o suficiente para iniciar um novo ciclo tecnológico, são ondas grandes, as quais afetam grande número de instituições de forma simultânea, caracterizadas por vasto contingente de setores, os quais usam as mesmas inovações tecnológicas básicas do lado da oferta e, possivelmente, completam umas às outras, do lado da demanda, e são ciclos finitos no tempo, com duração variável”. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 45 Fator Chave Algodão e ferro fundido Carvão e transporte Aço Petróleo e derivados Microeletrô nica, tecnologia digital Infra- estrutura Canais, estradas Ferrovias Navegação mundial Oferta e distribuiçã o de energia elétrica Auto- estradas Aeroportos Caminhos aéreos Infovias Redes e sistemas Software dedicados FIGURA 1: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS PARADIGMAS TECNICO-ECONÔMICOS, SEGUNDO FREEMAN. O termo paradigma vem do grego paradeigma, que se traduz como modelo, padrão ou exemplo. O conceito de paradigma pode ser utilizado, de maneira simplificada, para definir um modelo amplo, um referencial, uma maneira de pensar ou um esquema para entender a realidade. Um paradigma estabelece as regras (escritas ou não), define os limites e diz como alguém se deve comportar dentro desses limites para ter sucesso. O paradigma também é um objetivo que se deseja alcançar. Novos paradigmas ocorrem quando são iniciados novos ciclos científicos, econômicos e tecnológicos, dentre outros, que por sua vez afetam e provocam mudanças em cascata: sociais, comportamentais e culturais, nas pessoas e nas organizações. A principal tese é que a inovação provoca esses ciclos. O processo da inovação A inovação tecnológica se constitui em um dos principais agentes de mudança no mundo atual. Com efeito, o progresso econômico e social dos diversos países e o êxito das indústrias e empresas dependem da eficácia e eficiência com que o conhecimento técnico-científico é produzido e incorporado aos produtos da comunidade. Dica do professor A nossa economia basicamente passou por três revoluções: A primeira chama-se a Revolução Agrícola, a segunda chamada de Revolução Industrial e hoje temos a chamada Revolução da Informação que acontece suportada pelas tecnologias da informação. Importante A inovação tecnológica passa a ter um papel estratégico na Sociedade da Informação. A pesquisa passa a ser fundamental para manter o processo inovativo. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 46 Nos últimos anos, a inovação tecnológica deixou de ser um fenômeno de mero interesse acadêmico, mas de real sobrevivência em um mundo em rápida transformação. A relevância da inovação tecnológica e sua utilização ganha força quando passamos a entendê- la, como: Uma das forças fundamentais dos sistemas econômicos modernos, tendo uma estreita relação entre crescimento econômico e supremacia tecnológica; Fator básico para a dinâmica necessária às transformações da economia; Envolve considerável grau de incerteza, considerando que a inovação como solução dos problemas existentes e futuros não é garantido. As teses desenvolvidas nos últimos anos, com o objetivo de representar o processo de inovação através do tempo têm se revelado inadequadas e simplistas. Isso é verdade mesmo no caso de modelos tradicionais comoo do “demand-pull” e o do “science-push”. Conforme observado por diversos autores, qualquer teoria satisfatória deve levar em consideração esses dois modelos simultaneamente. A primeira nasce de um processo suave, incremental e contínuo, originado e induzido principalmente pela demanda e por atividades da empresa, enfatizando as forças de mercado como determinantes primordiais do progresso técnico - teses classificadas como demand - pull, que defendem que o mercado é o impulsionador das inovações e determinante nas mudanças. A segunda definindo tecnologia (ou ciência) como um processo relativamente autônomo de geração Você sabia? Os países que estão na liderança tecnológica, são os países que mais investem em tecnologia. O investimento em tecnologia nos países desenvolvidos é feito em torno de 8% do PIB, o Brasil investe cerca de 2% do seu PIB. Importante Nos países ditos desenvolvidos, cerca de 70% da força de trabalho foi deslocada para o setor terciário da economia, tecnologicamente cada vez mais sofisticado. Entre 20 e 30% permanecem no secundário, e menos de 5% encontram-se em atividades agrícolas cada vez mais intensivas em máquinas e técnicas poupadoras de mão- de-obra não qualificada. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 47 de progresso técnico - teses classificadas como technology - push. Portanto, sua natureza descontínua e irregular pode originar fortes rupturas, advindas principalmente dos avanços do conhecimento científico, no qual a ciência é impulsionadora das inovações e determinante das mudanças, defendendo-se o conceito unidirecional de ciência - tecnologia - produção. Segundo Lastres (1997), ambas visões technology - push e demand - pull mostram-se indispensáveis para qualquer inovação bem sucedida e , na verdade, existe uma complexa interação entre o lado da oferta e da demanda. Desta forma, faz-se importante destacar: Não é possível tratar todas as inovações como se fossem eventos regulares, uniformes e isolados; Diferentes tipos de inovação predominam de acordo com diferentes fases do crescimento econômico; e A importância do ambiente econômico, político e social, o qual em determinadas ocasiões pode propiciar e promover ou mesmo impedir mudanças técnicas. A fim de explicar os padrões de geração, uso e difusão da inovação, pode-se definir quatro categorias de inovação (Freeman et al, 1988): Inovações incrementais; Inovações radicais; Paradigma tecnológico; e Paradigma tecno-econômico. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 48 As inovações incrementais são realizadas continuamente em produtos ou processos, na indústria e em serviços. Essas inovações ocorrem, normalmente, como resultados de invenções e aprimoramentos sugeridos por engenheiros e outros atores diretamente envolvidos com o processo produtivo, ou como resultado de iniciativas e propostas formuladas por usuários. A segunda categoria, inovações radicais, promovem a introdução de produtos ou processos inteiramente novos que representam uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior. Tais inovações são vistas como o resultado de atividades intensivas de P&D. O paradigma tecnológico é visto como um conjunto de inovações incrementais e radicais, que juntamente com avanços organizacionais afetam mais de uma ou poucas empresas e um ou mais setores da economia, assim como embasam o surgimento de setores inteiramente novos. Finalmente, o paradigma tecno-econômico constitui uma combinação de fatores tecnológicos, organizacionais, econômicos e sociais que permeiam a economia como um todo, exercendo importante influência no comportamento da mesma. É o que estamos presenciando atualmente. Segundo Utterback (1996) a evolução da tecnologia é acompanhada por uma expansão do mercado, um aumento do investimento no processo de produção, e uma progressão de inovações radicais do produto, em direção a inovações incrementais do produto e processo. Em geral, pode ser descrita por uma progressão de inovações com rápido progresso Quer saber mais? Edgar Morin faz uma crítica ao modelo de desenvolvimento centrado no crescimento tecno- econômico: “A idéia de desenvolvimento sempre comportou uma base técnico- econômica, mensurável pelos indicadores de crescimento e de receita. Ela supõe, de maneira implícita, que o desenvolvimento tecno-econômico seja a locomotiva que puxa atrás dela, naturalmente, um "desenvolvimento humano" cujo modelo acabado e bem-sucedido é o dos países ditos desenvolvidos - em outras palavras, ocidentais. Essa visão supõe que o estado atual das sociedades ocidentais constitui o objetivo e a finalidade da história humana.” (Morin) Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 49 tecnológico, para uma situação ordenada com mudanças incrementais cumulativas. EXERCÍCIO 1 “Constitui uma combinação de fatores tecnológicos, organizacionais, econômicos e sociais que permeiam a economia como um todo, exercendo importante influência no comportamento da mesma”, é o conceito referente a: ( A ) Inovações incrementais; ( B ) Paradigmas tecnológicos; ( C ) Paradigmas técno-econômicos; ( D ) Inovações radicias; ( E ) Inovação tecnológica. EXERCÍCIO 2 Quando a tecnologia funciona como impulsionadora do progresso, classificamos este fenômeno como: ( A ) Demand-pull; ( B ) Technology-push; ( C ) Teoria da revolução científica; ( D ) Teoria de Thurow; ( E ) Teoria de Freeman. Aula 2 | Competitividade baseada no conhecimento 50 EXERCÍCIO 3 Explique a seguinte afirmação: “agregar conhecimento significa agregar valor aos produtos e serviços”. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ EXERCÍCIO 4 De que maneira o “conhecimento passa a ser o elemnto central da diferenciação individual, coletiva e da sobrevivência organizacional”? ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ RESUMO Vimos até agora: As mudanças de paradigma na sociedade do conhecimento; Conceito de inovação; O que são processos de inovação; As quatro categorias de inovação. Inteligência competitiva e gestão do conhecimento: histórico e os principais conceitos Marcelo Maciel Pereira A U L A 3 A p re s e n ta ç ã o No novo ambiente, da Sociedade da Informação, gerir melhor o conhecimento e a informação passa a ser um diferencial. Com base nessas condições serão apresentados nesta aula, os conceitos de Inteligência Competitiva e de Gestão do Conhecimento, destacando as áreas que gerenciam e transformam a informação e o conhecimento em vantagens competitivas. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Compreender o conceito de Inteligência competitiva; Compreender o conceito de Gestão do Conhecimento; Diferenciar Conhecimento tácito de conhecimento explícito. Compreender o funcionamento da espeiral do conhecimento; Conceituar o Sistema de Inteligência Competitiva (SIC); Definir o Ciclo da Inteligência Competitiva. Aula 3| Inteligência competitiva e gestão do conhecimento: histórico e os 52 principais conceitos Introdução Atualmente é inquestionável que o conhecimento e a informação são fundamentais para o bom desempenho esobrevivência de uma instituição. Durante muitos anos, a riqueza estava associada à indústria, proximidade à matéria-prima, produtos industrializados etc., hoje, a riqueza é associada ao conhecimento. Neste novo ambiente, na Sociedade da Informação, gerir melhor o conhecimento e a informação passa a ser o diferencial. Apresentaremos nesta aula os conceitos de Inteligência Competitiva e Gestão do Conhecimento, sendo estas, as áreas que gerenciam e transformam a informação e o conhecimento em vantagens competitivas. A informação e o conhecimento fazem parte do ambiente institucional, tanto interno quanto externo, e os conceitos de Inteligência Competitiva são muitos próximos e com abordagens, segundo vários autores, bem semelhantes aos da Gestão do Conhecimento. Desta forma, será apresentado o histórico destes campos, como eles vêm evoluindo na sociedade e os principais conceitos que nos ajudarão ao perfeito entendimento das suas fases de atuação. Conceitos fundamentais A Inteligência Competitiva trata de um campo recente que apresentou um grande crescimento nos últimos anos e consolidou a sua força neste ambiente de constante desenvolvimento e competitividade. A partir da multiplicação das fontes de informação científica, técnica, econômica, pública, e as variadas Para refletir “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”. Sun Tzu, A Arte da Guerra. Editora L&PM, 2000. Introdução 52 Conceitos fundamentais 52 Conhecimento tácito 58 Conhecimento explícito 58 Espiral do conhecimento 59 Histórico 63 Processos e sistemática 66 O ciclo de inteligência competitiva 67 Aula 3| Inteligência competitiva e gestão do conhecimento: histórico e os 53 principais conceitos ameaças tecnológicas potenciais a Inteligência Competitiva encontrou um campo fértil para crescer. A terminologia utilizada atualmente para descrever este novo campo ou disciplina possui uma ligação com os sistemas de apoio à tomada de decisão e à administração estratégica das empresas. Na França, a denominação utilizada é: veille technologique, intelligence économique, intelligence concurrentielle, information économique. Nos EUA, competitive intelligence, business intelligence, competitor intelligence. No Brasil, a adoção dos sistemas de inteligência é muito recente, sendo utilizados os termos inteligência competitiva, inteligência empresarial, inteligência de marketing e em alguns casos a gestão estratégica do conhecimento. Como representantes do campo da Inteligência Competitiva, no Brasil, temos a ABRAIC e a ICBrasil. A primeira representa a Associação Brasileira dos Analistas em Inteligência Competitiva, a ICBrasil, representa a Associação dos Ex-Alunos de Inteligência Competitiva no Brasil. Na Europa, programas como o INNOVATION, vêm disseminando e incentivando a participação das micro e pequenas empresas na utilização da IC como um instrumento de aumento da competitividade. Este programa teve como função a disponibilização, em 1999, do documento “Veille Technologique – Guides des Bonnes Pratiques en PME/PMI”, mostrando a experiência bem sucedidas de países como Luxemburgo, França e Espanha na adoção de práticas de Inteligência Competitiva (COMEUR, 1999). A Inteligência Competitiva já foi conceituada por diversos autores, A seguir citamos algumas: Você sabia? A ICBrasil, representa o grupo de alunos egressos dos Cursos de Pós- Graduação no Brasil em Inteligência Competitiva, desde 1997, que vem multiplicando os conceitos e práticas em todo o Brasil. Para conhecer mais acesse: www.icbrasil.org.br Você sabia? O primeiro Congresso em Inteligência Competitiva, foi realizado no Rio de Janeiro em 2001. Este ano, 2004, será realizado o quarto Congresso em Inteligência Competitiva no Brasil. Saber mais acesse o site da ABRAIC: www.abraic.org.br Aula 3| Inteligência competitiva e gestão do conhecimento: histórico e os 54 principais conceitos A inteligência competitiva é um programa sistemático e ético de coleta, análise e gerenciamento da informação externa que pode afetar os planos da sua empresa, decisões e operações (SCIP, 2004). Programa institucional e sistemático para garimpar e analisar informação sobre as atividades da concorrência e as tendências do setor específico e do mercado em geral com o propósito de levar a organização a atingir seus objetivos e metas (Kahhaner, 1996). A Inteligência Competitiva é uma informação que foi analisada e que pode ser utilizada em tomada de decisão (Fuld, 2004). Refere-se ao conhecimento das informações sobre o ambiente externo que podem afetar a posição competitiva da empresa. A inteligência procura focalizar os eventos relevantes externos ao ambiente de negócios, geralmente enfatizando informações sobre competidores, fornecedores, clientes, novas tecnologias, produtos substitutos, forças regulatórias, legais, políticas, econômicas e sociais que podem afetar o ramo de negócios (Asthon, 1997). Atividade de gestão estratégica da informação que tem como objetivo permitir que os tomadores de decisão se antecipem às tendências dos mercados e à evolução da concorrência, detectem e avaliem ameaças e oportunidades que se apresentem em seu ambiente de negócio para definirem as ações ofensivas e defensivas mais adaptadas às estratégias de desenvolvimento da organização (Jacobiak, 1997). Você sabia? O primeiro Curso de Pós Graduação em Inteligência Competitiva do Brasil, foi realizado no Rio de Janeiro, em 1997, a partir dos esforços do Instituto Nacional de Tecnologia – INT, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia; do IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia; da Universidade Federal do Rio de Janeiro; da Fundação Brasileira de Tecnologia da Soldagem - FBTS e da Universidade de Marselha/França. Os professores empreendedores do projeto foram, pelo Brasil, a Professora Gilda Massari e os Professores Luc Quonian e Henri Dou, pela França. Aula 3| Inteligência competitiva e gestão do conhecimento: histórico e os 55 principais conceitos Processo de coleta, análise e disseminação da inteligência relevante, específica, no momento adequado – refere-se às implicações com o ambiente do negócio, os concorrentes e a organização (Miller, 1997). Processo sistemático de coleta, de gestão, de análise e de disseminação da informação sobre o ambiente competitivo, concorrencial e organizacional, visando à tomada de decisão em atendimento aos objetivos estratégicos da organização (Coelho, 2001). Em função das definições anteriores, adotaremos no nosso trabalho a definição de Coelho (2001). Ao mesmo tempo a Gestão do Conhecimento tem crescido em importância nos últimos dez anos, consolidando-se hoje como forte tendência na área de gestão empresarial. As experiências pioneiras nos EUA e na Europa traduziram-se em resultados significativos, fato que tem estimulado sua adoção por um número cada vez maior de empresas e organizações. Por ser uma disciplina também considerada nova, como a Inteligência Competitiva, dentro do campo da administração, gestão do conhecimento ainda hoje é objeto de uma variedade de abordagens, definições e percepções, como as descritas a seguir: CONCEITO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA “Processo sistemático de coleta, de gestão, de análise e de disseminação da informação sobre o ambiente competitivo, concorrencial e organizacional, visando à tomada de decisão
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