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- -1 METODOLOGIA E PRÁTICA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ALFABETIZANDO COM TODOS OS SENTIDOS - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: •refletir o processo de alfabetização e letramento como desenvolvimento integral, no qual o corpo e os movimentos estão incluídos; •conhecer o objetivo da psicomotricidade na educação de crianças; •exercitar uma oficina de psicomotricidade com atividades de leitura, escrita, cálculo matemático e oralidade. Conhecer a BNCC. Crianças sentadas, imóveis, em silêncio prestando atenção no exercício que a professora deixou na folha mimeografada sobre a carteira. Isoladas, realizam mecanicamente a atividade de coordenação viso-motora para entregá-la à professora. Esse contexto pode ser avaliado sob diferentes pressupostos teórico-metodológicos. Alguns educadores vão considerá-lo a classe de alfabetização perfeita. Já outros, sob o olhar da psicomotricidade, não perceberão vida e nem desenvolvimento das habilidades que são essenciais para a construção da escrita. Vamos compreender por quê? Vamos pensar como o corpo de crianças e adultos é compreendido na escola? É ele alvo de expressividade ou de disciplina? A problematização acerca destas questões, você verá clicando nos lembretes abaixo. Mas, antes conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes curriculares das Linguagens http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Escrita Qual é a importância do movimento do desenvolvimento humano? A primeira forma de linguagem e expressividade que os humanos apresentam é a corporal. O diálogo é tônico e vai ganhando significação a partir do momento que vai sendo interpretado pelos outros com quem o bebê interage (WALLON, 1995). Do desenvolvimento sensório-motor (percepção e movimentos que buscam cada vez melhor coordenação) o bebê vai sofisticando a sua atividade intelectual (concentração, memória, raciocínio) e passando para níveis cognitivos simbólicos (representativos, ricos em imaginação, capazes de planejamento). Todo esse processo é atravessado pela afetividade (sentimentos e emoções). - -3 Referência: WALLON, H. . São Paulo: Nova Alexandria, 1995.As origens do caráter na criança Movimento Se a criança não treinar os exercícios que levam à prontidão para a escrita, conseguirá escrever com eficiência e letra legível? Na intenção de desenvolver as habilidades viso-motoras e dar prontidão às crianças, muitos educadores estruturam o seu planejamento de alfabetização reproduzindo as mesmas práticas compensatórias e mecanicistas que realizaram enquanto alunos, quando aprenderam a ler e a escrever: folhas mimeografadas, cópias no caderno, picar, amassar e cortar papéis. Esses exercícios não englobam a movimentação, expressão e desejo de todo o corpo, pois estão fundamentados numa concepção de linguagem estática, com treinamento mecânico da escrita a partir dos modelos que o meio (escola) oferece. “... a escrita é considerada um ato essencialmente motor que não impõe ao aprendiz grandes esforços cognitivos, a preocupação dos educadores limita-se ao treinamento de habilidades responsáveis pelos aspectos figurativos da escrita (coordenação motora, discriminação visual e organização espacial)” (COLELLO, 1993, p. 59). Referência: COLELLO, S. M. G. : revendo essa antiga parceria. Cadernos de Pesquisa, São Paulo,Alfabetização e motricidade n.87, p.58-61, nov.1993. Brincadeira Qual é a importância da brincadeira no processo de alfabetização? Brincar é constitutivo do desenvolvimento integral da criança na medida em que ela inaugura a lógica da representação, da utilização de símbolos que percorrem uma trajetória do corpo à letra, passando pelo grafismo. Na brincadeira há desenvolvimento de praxias globais e finas. E, sobretudo, há a compreensão do contexto sociocultural que a criança vive, pois ao brincar, ela imita episódios e falas, compreende regras entre outras atividades do mundo adulto. Praxia é o movimento intencional, organizado, tendo em vista a obtenção de um fim ou de um resultado determinado. Não é um movimento reflexo, nem automático; é um movimento voluntário, consciente, intencional, organizado, inibido, isto é, humanizado, sujeito, portanto, a um planejamento cortical e a um sistema de auto-regulação. Vygotsky (1998) assinalou a existência de uma pré-história da escrita que é caracterizada pelas fases da linguagem oral e do grafismo. Referência: VYGOSTKY, L. S. . São Paulo: Martins Fontes, 1998.A Formação social da mente Habilidade psicomotoras - -4 Quais são as habilidades psicomotoras que podem ser desenvolvidas na educação infantil a fim de facilitar a alfabetização da criança? A psicomotricidade na escola contribui para o exercício intencional e planejado de exercitar o esquema corporal, o equilíbrio, a coordenação motora grossa e fina, a estruturação espaço-temporal e a lateralidade. Para Fonseca (1996), a criança precisa conhecer e compreender seu corpo para controlar melhor os seus movimentos. Ao ter domínio corporal, terá controle do corpo e da percepção espacial – habilidades fundamentais para o desenvolvimento da escrita. Na alfabetização aspectos linguísticos, comunicativos e corporais estão envolvidos. A Psicomotricidade contribui como a ciência que torna a alfabetização mais lúdica, dinâmica e significativa. Giancaterino (s/d), cita Molinari e Sens (2002) que compreendem a educação psicomotora nas séries iniciais como estratégia de prevenção, pois ela previne problemas de falta de concentração, confusão no reconhecimento das palavras, com letras e sílabas e outras relacionadas à alfabetização. Eles explicam que: “uma criança cujo esquema corporal é mal formado não coordena bem os movimentos. Suas habilidades manuais tornam-se limitadas, a leitura perde harmonia, o gesto vem após a palavra e o ritmo da leitura não é mantido, ou então, é paralisado nomeio de uma palavra.” GIANCATERINO, R. A influência da psicomotricidade na alfabetização Referência: MOLINARI, Ângela Maria da Paz; SENS, Solange Mari. A educação física e sua relação com a . Revista PEC, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 85-93, jul. 2002-jul. 2003.psicomotricidade Vamos agora compreender a relação entre o desenvolvimento psicomotor e a alfabetização. Para isso vamos começar descobrindo o que é psicomotrocidade. 1 A psicomotricidade é uma ciência que tem como objeto o homem, seu corpo em movimento e em relação com o mundo e seus sentimentos. Ciência que estuda o desenvolvimento das habilidades motoras e psicológicas. Fonte: GIANCATERINO, R. o. Disponível em: http://www.A influência da psicomotricidade na alfabetizaçã meuartigo.brasilescola.com/educacao/a-influencia-psicomotricidade-na-alfabetizacao.htm 2 O que Elesbão (2009) tem para nos falar sobre essa ciência? “Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. A educação psicomotora é uma educação global que, associando os potenciais intelectuais, afetivos, sociais e motores da criança, dá-lhe segurança, - -5 equilíbrio e permite o seu desenvolvimento, organizando as suas relações com os diferentes meios nos quais deve evoluir” . A alfabetização é um processo complexo que pode utilizar diferentes tipos de linguagem. Pode ser lúdica, vivenciada de acordo com as demandas de leitura e escrita da contemporaneidade. Entretanto, o processo se torna especialmente difícil para algumas crianças que não conhecem o funcionamento da língua e não possuem as habilidades psicomotoras bem desenvolvidas. Para a autora: “O trabalho com a psicomotricidade contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade e movimento das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividadescotidianas, bem como atividades voltadas para a alfabetização dos educandos”. Fonte: ELESBÃO, E. : uma relação possível no cotidiano escolar. Publicado emPsicomotricidade e alfabetização 6/11/2009. 3 Gomes (1998) complementa explicando que, algumas dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita que são apresentadas por alunos, decorrem de dificuldades relacionadas ao desenvolvimento cognitivo e psicomotor, desta forma, a atividade psicomotora é um importante trabalho pedagógico para as séries iniciais. Fonte: GOMES, J. D. G. Construção do coordenadas espaciais, .psicomotricidade e desempenho escolar Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação, 1998. 4 Para Freire (1989), a brincadeira livre e, nela, a livre expressão dos movimentos corporais ajudam a criança a transformar em símbolos o que ela experimenta com o corpo. Em suas palavras: “Assusta-me ver crianças sentadas durante horas em um banco escolar, falando de côas como ‘dois mais dois’, ‘o menino viu a vaca’, que podem não passar de sinais gráficos ou sonoros, desvinculados da atual realidade delas. O mundo da escola em primeiro grau deveria ser transformado em significado para a criança. Isso no entanto, só pode ser feito com indivíduos conscientes, ativos, dinâmicos, realizadores e transformadores” (p. 81). Fonte: FREIRE, J. B. . São Paulo: Scipione, 1989.Educação do corpo inteiro Na proposta de letramento, você conheceu uma atividade de brincar livremente com os pés e com os desenhos. Agora, veja como pode aplicar esta mesma atividade, dividindo-a em dias de oficina. - -6 • 1º dia Reconhecendo o meu corpo a partir do corpo do outro, é a primeira lição de lateralidade. • Dar os pés de borracha para as crianças brincarem e reconhecerem a forma, o tamanho, o e os desenhos feitos; • Pedir que contem a quantidade existente dos pés e chamar a atenção para as cores que formam cada par; • Dividir os pés em conjunto de acordo com as cores e colocá-los embaixo de um cartaz onde estarão escritos os nomes das cores de caneta preta (para que as crianças leiam os nomes das cores); • Ajudar as crianças a ordenar os números de 1 a 10, presentes nos pés; • Fazer uma brincadeira para arrumar os pés da mesma cor, um ao lado do outro, formando um par. Mostrar que o número ímpar está sempre escrito no pé esquerdo e o número par, no pé direito; • Trabalhar a lateralidade com o corpo (mãos, pés, lado do corpo). • 2º dia Um pouco de matemática: forma, sentido, ordenação, classificação e aritmética. • Propor às crianças que brinquem colocando seus pés sobre os pés de borracha e comparem o tamanho; • Fazer uma linha de fita crepe no chão e colocar os pés em ordem crescente, os esquerdos de um lado e os direitos de outro. Pedir às crianças que andem sobre os pés, seguindo a ordem de um a dez e falando os números em voz alta; • Pedir que façam uma coluna só com os números ímpares, e outra só com os números pares; • Pedir que contem os pés de cada coluna; • Brincar de fazer pequenas contas de somar e subtrair com os números; • Caminhar por um caminho com pezinhos de EVA andando de frente e de costas. • 3º dia Domínio corporal, equilíbrio e brincadeira. • Pedir que as crianças empilhem os pés direitos e os esquerdos em montes separados. Nessa oportunidade, ajudá-las a reconhecer muitas partes dos membros inferiores: pés, dedos dos pés, calcanhar, tornozelos, joelho, coxa, barriga da perna; • Ensinar a pular com um pé só, chutar bola, ficar de joelho, agachar, subir em cadeira para alcançar objetos, pular degraus; • Colocar os pezinhos no chão organizados e desafiar as participantes a andarem sem pisarem no chão, usando apenas os pés de EVA como suporte; • Fazer duas colunas e pedir para as crianças andarem por entre as linhas fazendo zigue-zague com os pés; • Brincadeira de amarelinha utilizando os pés de EVA; • Fazer um caracol com os pés e caminhar sobre ele. • 4º dia • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • - -7 Exercitando as funções intelectuais na brincadeira. • Jogo da memória: virar os pés para encontrar os números iguais; • Juntando as cores: separar os pés da mesma cor e contar quantos pés há de cada cor. Registrar a quantidade fazendo bolinhas de papel crepom numa folha e escrevendo o número correspondente; • Tirando uma cor: juntar todos os pés, subtrair todos os pés de uma cor e questionar quantos pés foram tirados, registrar a quantidade desenhando os pés em uma folha. • 5º dia Encerramento: avaliando as habilidades que foram construídas. • Disponibilizar os pezinhos de EVA no chão aleatoriamente e pedir para as crianças caminharem ou pularem sobre os pés obedecendo às regras: • pé direito nos pés de EVA de cor vermelha; • pé esquerdo nos pés de cor verde; • os dois pés nos pezinhos de outras cores exceto vermelho e verde; • Ler e repetir a ;parlenda • Desenhar o que compreendeu da parlenda; • “Amanhã é domingo, pé de cachimbo. • O cachimbo é de ouro, bate no touro. • O touro é valente, bate na gente. • A gente é fraco, cai no buraco. • O buraco é fundo, acabou-se o mundo”. • Pesquisar as lendas do Saci-pererê e do Curupira, representando no papel a forma dos pés de cada um; • Levar os pés de EVA para casa. Alfabetização para além do papel e do lápis. • • • • • • • • • • • • • • • • • - -8 A alfabetização concebida nesta oficina concorda com a posição defendida por Freire (1990) ao afirmar que é uma atividade emancipadora do sujeito, pois inaugura “uma relação dialética dos seres humanos com o mundo, por um lado, e com a linguagem e com a ação transformadora por outro” (1990, p. 7). A alfabetização é mais que uma técnica, é uma ação política, cultural que liberta o homem por possibilitar a interpretação dos textos, a compreensão do mundo. A alfabetização pode ser lúdica. Pode contemplar o desenvolvimento da criança como um sujeito completo, integrando as esferas cognitivas, afetivas e motoras. Para isso, a ação educativa deve trabalhá-la como uma prática de letramento, concernente ao contexto cultural em que vivemos e conferindo ao corpo a importância que merece. - -9 Colello (1993), confirma o objetivo de nossa aula ao afirmar que: “entendemos que os benefícios conquistados pela educação de corpo inteiro interferem positivamente nesse processo, incluídas aí as dimensões figurativas ( caligrafia, posição das letras e disposição do traçado no papel) e construtiva da escrita (compreensão o seu significado e funcionamento). Sem dúvida alguma, podemos afirmar que a vivência corpórea significativa amplia as possibilidades de expressão autêntica, na medida em que garante à criança uma posição no mundo mais consciente.” (1993, p. 61) CONCLUSÃO Nesta aula, você: • conheceu um pouco sobre o desenvolvimento psicomotor na infância e a importância da psicomotricidade no processo educativo; • conheceu também uma possibilidade de trabalhar a leitura, escrita e o cálculo de forma lúdica, utilizando o corpo e as experiências das crianças. • •
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