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Thais Alves Fagundes CARDIOPATIA ISQUÊMICA Músculo cardíaco não está recebendo oxigênio suficiente para desempenhar sua função, de realizar a sístole e a diástole com transmissão do impulso elétrico. Aterosclerose: causa mais comum de cardiopatia isquêmica (90% dos pacientes). o Quadro clínico: pode ser silencioso ou doloroso, quando há angina ou infarto agudo do miocárdio (infarto ocorre quando a isquemia causa necrose da célula cardíaca). o Isoladamente, só desencadeia manifestações clínicas quando atinge níveis expressivos de obstrução ou quando se forma um trombo secundário. ATEROSCLEROSE Afeta prioritariamente a camada íntima de artérias de grande e médio calibre (elásticas e musculares). Lesão arterial caracterizada por espessamento da íntima por depósito de material amarelado (gorduras). Locais mais comuns: aorta (principalmente abdominal), coronárias, cerebrais, mesentéricas, renais, ilíacas e femorais. Acometimento das coronárias é responsável pela maioria dos casos de cardiopatia isquêmica. Consequências mais comuns são infarto do miocárdio, AVC e aneurisma de aorta. Fatores de risco: Não modificáveis: envelhecimento, sexo masculino, história familiar, pós-menopausa, anormalidades genéticas. Modificáveis: hiperlipidemia, hipertensão, diabetes melito, tabagismo, obesidade, sedentarismo, dieta pobre em antioxidantes e rica em carboidratos, síndrome metabólica. ETIOPATOGÊNESE DISFUNÇÃO/LESÃO ENDOTELIAL Agressão das células endoteliais, provocando alterações funcionais e/ou lesão estrutural. Causas mais importantes de agressões são distúrbios hemodinâmicos (elevação da pressão arterial, turbulência do fluxo) e agressões químicas (substâncias contidas na fumaça do cigarro, hipercolesterolemia). Em consequência da disfunção/lesão endotelial ocorrem: Maior expressão de moléculas de adesão na superfície endotelial, resultando na agregação de monócitos, linfócitos e plaquetas à parede vascular. o Monócitos penetram na íntima e se transformam em macrófagos, que: Fagocitam lipoproteínas e se transformam em células espumosas. Liberam citocinas, proteases, radicais livres e fatores de crescimento. Radicais livres promovem oxidação de lipoproteínas. o Adesão e agregação plaquetárias: Liberação de seus produtos. Entre eles o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF). o Linfócitos T ativados liberam citocinas pró-inflamatórias (IFN-γ). Aumento da permeabilidade endotelial. o Favorece a passagem de macromoléculas para a íntima, incluindo lipoproteínas. o Quando há excesso de lipoproteínas, o LDL passa para a íntima e pode sofrer oxidação. o Lipoproteínas oxidadas são tóxicas para células endoteliais (aumenta a agressão endotelial). o Lipoproteínas oxidadas são endocitadas por macrófagos e induzem a liberação de citocinas e quimiocinas, mediadores de resposta inflamatória. Thais Alves Fagundes Fatores de crescimento liberados por macrófagos e plaquetas, sobretudo o PDGF: Estimulando a migração de células musculares lisas da camada média para a íntima. São mitogênicos para células musculares lisas, aumentando células musculares lisas na íntima. Células musculares lisas: o Endocitam lipídeos, se transformam em células espumosas. o Proliferação de células musculares lisas contribui para transformar as estrias lipídicas em ateromas. o Células musculares lisas podem adquirir o fenótipo de miofibroblastos. Sintetizam colágeno e proteoglicanos, componentes das placas ateromatosas. Formam a capa fibrosa que envolve o ateroma (essa proliferação celular é benéfica, pois transforma uma placa com capa fina em uma lesão mais estável). Placas ateromatosas (ateromas): Ateromas são lesões na camada íntima, de coloração branco-amarelada, que ocupam parte da circunferência do vaso (lesão excêntrica), causando redução da luz vascular. Constituição: macrófagos, células musculares lisas, leucócitos, fibroblastos, matriz extracelular (fibras colágenas e elásticas e proteoglicanos) e lipídeos (colesterol), que podem estar nas células espumosas. Cápsula fibrosa: o Formada por fibras colágenas e células musculares lisas. Centro necrótico: o Na região central do ateroma, existe o núcleo ou centro necrótico. o Predominam lipídeos, células espumosas, leucócitos e restos celulares. Neoformação de pequenos vasos: o Na periferia da lesão, há neoformação de pequenos vasos sanguíneos. De acordo com a predominância desses elementos, as placas ateromatosas podem ser de dois tipos: o Placas “moles” ou instáveis: predominam o componente lipídico, restos celulares e leucócitos, com pouco tecido conjuntivo. o Placas “duras” ou estáveis: predominam o componente fibroso, com pouco componente lipídico. Menor chance de sofrer fissura ou ruptura. Thais Alves Fagundes ASPECTOS MICROSCÓPICOS PLACA ESTÁVEL / DURA Predomínio do componente fibroso. Fibra colágena espessada (FC). Componente necrótico (NC) não possui muito contando com a luz o vaso (Lu). Menor probabilidade de sofrer fissura e ruptura. PLACA INSTÁVEL / MOLE Predomínio do componente lipídico, restos celulares e leucócitos. Fibra colágena é reduzida (FC). Componente necrótico (NC) é aumentado. Maior probabilidade de sofrer ruptura e fissura, complicando com a formação de um trombo. PLACA COMPLICADA Erosão ou ulceração: Resulta na perda do revestimento endotelial. (*) infiltrado inflamatório Trombose: Formação de trombo sobre ateromas se dá especialmente em placas moles (instáveis), estendo quase sempre associada a erosões ou úlceras. Com a ruptura de placas e perda endotelial, ocorre coagulação sanguínea e formação de trombo, que pode ocluir o vaso. Thais Alves Fagundes (Vermelho homogêneo) trombo Hemorragia: Sangue penetra na placa a partir de ruptura na sua superfície ou em pequenos vasos neoformados. Calcificação: Pode atingir pequenas áreas ou grande parte da placa. Está relacionada com depósito de cálcio nesse tecido, alterando ainda mais a parede do vaso, tornando-o mais rígido. (*) calcificação ANEURISMA Aneurisma consiste em dilatação de vasos ou câmaras cardíacas. Formam-se, sobretudo em artérias. Para dilatações de veias utiliza-se o termo varizes. Resulta da destruição ou enfraquecimento da parede arterial (camada média – lâminas e fibras do sistema elástico), com diminuição da resistência do vaso, causando dilatação da parede arterial, em virtude de processos degenerativos, infecciosos, placas ateromatosas e distúrbios hereditários. Etiologia: Aterosclerose – causa mais frequente; Degeneração medial cística; Sífilis; Vasculites; Anomalias congênitas; Traumatismo. Thais Alves Fagundes ANEURISMAS ATEROSCLERÓTICOS Enfraquecimento da parede arterial ocorre pelas placas ateromatosas, que podem destruir a camada média após a formação da lesão na íntima. Mais comum no sexo masculino (se iguala no sexo feminino após a menopausa) e em pessoas idosas. Podem ser múltiplos, com tamanho e a forma variável (0,5 – 20 cm). Acometem principalmente a aorta abdominal, abaixo das artérias renais e nas ilíacas. Aneurismas em aorta abdominal: Crescimento lento, pode atingir grande volume. Podem ser assintomáticos ou se apresentarem como massa abdominal pulsátil. Podem causar desconforto ou dor abdominal. Complicações: o Ruptura (hemorragia interna, mortalidade de até 50%). Quanto maior o tamanho do aneurisma, maior o risco de ruptura. o Turbilhonamento do sangue, com lesão do endotélio e formação de trombo. o Trombo-êmbolos para vasos renais (infarto renal) ou membros inferiores – isquemia. o Compressão de órgãos adjacentes. CARDIOPATIA ISQUÊMICA Isquemia miocárdica instala-se quando o fluxo de sangue arterial é insuficiente para suprir as necessidades do coração, principalmentede oxigênio. Resulta, na maioria dos casos, da obstrução das artérias coronárias. Apresenta-se com diversos quadros clínicos: Angina pectoris Infarto do miocárdio Doença isquêmica crônica do coração Morte súbita Thais Alves Fagundes ETIOPATOGÊNESE Em condições fisiológicas, a oferta de sangue (O2 e nutrientes) ao miocárdio é suficiente para atender as demandas do órgão nos diferentes momentos funcionais. Isquemia miocárdica acontece quando: Redução da oferta: acontece na aterosclerose coronariana. Aumento da demanda além da capacidade de adaptação da circulação o Sobrecarga aguda (maior atividade física, estresse psíquico e emoções). o Crônica (hipertrofia miocárdica, na hipertensão arterial e em defeitos da valva aórtica). Aparecimento e a evolução da isquemia miocárdica dependem de vários fatores: Velocidade de progressão, extensão, duração e causa da obstrução coronariana. Estado do miocárdio (hipertrofia cardíaca, sobrecarga funcional). Circulação colateral. o Papel da circulação colateral em impedir consequências de uma isquemia. o Circulação coronariana contém ramos colaterais, que tornam-se mais desenvolvidos à medida que ocorrem obstruções parciais em artérias coronárias. Condições circulatórias (pressão arterial) e capacidade de transportar O2 no sangue. QUADRO CLÍNICO – SÍNDROMES CORONARIANAS Agudas: Angina instável Infarto agudo do miocárdio Crônicas: Angina estável Angina de repouso Cardiopatia isquêmica crônica ANGINA PECTORIS Crises paroxísticas de dor precordial. Causadas por isquemia miocárdica transitória, de curta duração (segundos a < 20 minutos). Alterações no ECG (isquemia causa disfunção da célula cardíaca, com alteração na contração). Sem alterações morfológicas. Angina estável / clássica: Forma mais comum. Associa-se a aterosclerose coronariana grave. Resulta do aumento súbito do trabalho cardíaco, como em exercícios físicos, estados de estresse, emoções. Dor proporcional ao estímulo (isquemia é uma agressão do músculo cardíaco, que obtém resposta inflamatória, causando dor). Quadro doloroso desaparece com repouso ou pelo uso de vasodilatadores. ECG: infradesnivelamento do segmento ST (isquemia mais intensa na região subendocárdica). Angina de repouso / de Prinzmetal: Paciente em repouso, sem relação com esforço físico. Não tem relação com aumento da demanda. Thais Alves Fagundes Deve-se a vasoespasmo das artérias coronárias, com redução do fluxo sanguíneo, causando dor. o Desequilíbrio no endotélio nas artérias com aterosclerose, com aumento da síntese de vasoconstritor em detrimento de vasodilatador, causando o espasmo. o Placa ateromatosa acomete a camada média, que fica irritada causando vasoconstrição e determinando o espasmo. Resposta imediata a vasodilatadores. ECG: supradesnivelamento do segmento ST, indicando isquemia transmural. Angina instável / progressiva (pré-IAM): Episódios desencadeados por pequenos esforços, ou em repouso. Crises dolorosas progressivamente maiores, desencadeadas com esforço cada vez menor. Intervalos assintomáticos progressivamente menores. Deve-se a ruptura da placa ateromatosa, com trombose superposta, ocluindo o vaso completamente. Tipo de angina que geralmente precede o infarto do miocárdio. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Forma de manifestação mais grave (alta mortalidade e morbidade) e importante da cardiopatia isquêmica. Área de necrose isquêmica de uma região do miocárdio causada por isquemia prolongada e intensa. Dor com duração superior a 20 minutos. Alterações no eletrocardiograma e dos marcadores de necrose miocárdica. o ECG: supradesnivelamento do segmento ST e presença da onda Q patológica. o Elevação de proteínas das células cardíacas, que alcançam o sangue após destruição por necrose. Dosagem da fração MB da creatinocinase (CK-MB) e da troponina. Níveis séricos sobem a partir de 4 h, atingem o pico em 24 a 48 h e depois caem. Quadro clínico do IAM: Sintomático: o Dor precordial opressiva. Podendo irradiar para MMSS, pescoço ou abdome. o Palidez, dispneia, taquicardia. Assintomático: o Mais comum em diabéticos. o Representando 25% dos casos. Achados macroscópicos: Transmural: aterosclerose complicada com formação de trombo. o Mais comum forma de infarto. o Acomete grande parte da espessura da parede cardíaca. o Relaciona-se com a formação de trombo oclusivo sobre placas ateromatosas. Infarto subendocárdico: isquemia do subendocárdio. o Acomete a porção interna ou no máximo a metade da espessura cardíaca. o Associa-se a aterosclerose difusa e redução global do fluxo sanguíneo. Thais Alves Fagundes Locais mais acometidos: DA (descendente anterior): parede anterior do VE e porção anterior do septo interventricular CD (coronária direita): parede posterior (diafragmática) do VE CX (ramo circunflexo): parede lateral do VE Evolução e morfologia do IAM: Macroscópicas: o Após 18-24 horas entre a ocorrência do infarto e a morte do indivíduo. o Alterações morfológicas são tardias em relação à lesão real. Microscópicas: o Alterações visíveis ao microscópio óptico após 3-8 horas de sua instalação. Tempo decorrido Achados macroscópicos Achados macroscópicos 4- 6 horas ------------------------ Necrose de coagulação (fibras cardíacas perdem as estriações) Necrose em bandas de contração (células com bandas hipereosinofílicas de miofilamentos aglomerados ao lado de bandas claras sem miofilamentos) 1 dia Palidez Fibras perdem os núcleos Edema intersticial e áreas de hemorragia Aumento de neutrófilos, que digerem as células mortas 3- 6 dias Área amarelada com bordas hemorrágicas Infiltração de neutrófilos Tecido friável Macrófagos 7- 14 dias Borda acinzentada e deprimida, devido à formação de tecido de granulação Tecido de granulação Mais de 4 semanas Área branca de tecido fibroso Substituição por fibrose Morfologia (1 dia): necrose por coagulação, fibras eosinofílicas, perda dos núcleos. o Congestão: vasos dilatados. o Aumento de permeabilidade: edema e extravasamento de hemácias. o Citoplasma: mais homogêneo e eosinófilo. Thais Alves Fagundes Morfologia (1 a 2 dias): necrose por coagulação, perda dos núcleos, início de infiltrado agudo. o Perda grande da definição das células. o Perda das estriações. Morfologia (3 a 6 dias): pico do infiltrado inflamatório neutrofílico. o Polimorfonucleares fazem a limpeza da área necrótica. o Momento mais vulnerável da parede cardíaca, com alto risco de ruptura dessa parede e possibilidade de inundar o saco pericárdico de sangue, causando o tamponamento cardíaco, complicação que pode evoluir para óbito. Morfologia (1 a 2 semanas): tecido de granulação – macrófagos, neoformação capilar e de fibras colágenas. o Não é resistente como o tecido fibroso, pode tornar o músculo cardíaco vulnerável à dilatação aneurismática (dilatação da parede), o que não acontece na fibrose, porque a parede fica rígida. Morfologia (mais de 4 semanas): infarto antigo, área de cicatriz fibrosa. (Área branca = fibrose) Thais Alves Fagundes Complicações e consequências do IAM: Insuficiência cardíaca: quando a área necrótica é relativamente extensa. Como consequência, podem surgir: o Choque cardiogênico: resulta da falência do VE por necrose extensa. o Edema pulmonar e insuficiência respiratória. Aneurisma cardíaco: dilatação das câmaras cardíacas. o Depois evolui com fibrose, não irá dilatar progressivamente com risco de ruptura. o Região aumentada de fenômeno trombo-embólico, arritmia cardíaca e agrava a insuficiência por acúmulo de sangue. Arritmias cardíacas: relacionadas com o acometimento do sistema de condução pela necrose ou com o funcionamento da borda da zona necrótica como foco de descargaselétricas anômalas. Ruptura do miocárdio: 3-6 dias, pico de polimorfonucleares. o Quando ocorre na parede ventricular, provoca hemopericárdio e tamponamento cardíaco. o Quando atinge o septo interventricular, resulta em comunicação interventricular. o Quando atinge músculo papilar da valva mitral, leva a insuficiência valvar aguda. Trombo mural e fenômenos trombo-embólicos: acontece quando há embolia para algum território nobre, como o cerebral ou o das próprias artérias coronárias. o VD: fenômeno trombo-embólico pulmonar. (Perfuração com tamponeamento) (Aneurisma) CARDIOPATIA ISQUÊMICA CRÔNICA Insuficiência cardíaca crônica em consequência de lesão miocárdica isquêmica. o Infartos prévios. o Doença arterial coronariana na ausência de infartos anteriores. Coração aumentado e pesado (hipertrofia e dilatação de VE). Cicatrizes de infarto prévio, representados por áreas de fibrose. Endocárdio com espessamentos fibrosos. Thais Alves Fagundes MORTE CARDÍACA SÚBITA Morte súbita ocorre como complicação de uma das cardiopatias isquêmicas. Óbito ocorre em até 24 h após o início das manifestações clínicas. Desencadeada por desenvolvimento de arritmia grave, particularmente fibrilação ventricular. Morfologia: o Acentuada aterosclerose coronariana. o Cicatrizes de infartos antigos (40%).
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