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Rio de Janeiro UVA 2016 Produtos e Serviços Bancários 5ª edição Lilian Massena Gallagher Rio de Janeiro UVA 2016 Produtos e Serviços Bancários 5ª edição Copyright © UVA 2014 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ISBN: 978-85-65812-38-2 Autoria do Conteúdo Lilian Massena Gallagher Design Instrucional Daianá Lucília S.A. de Almeida Melo Projeto Gráfico UVA Diagramação Raphaela Saules Revisão Débora Silvestre Costa Lydianna Lima Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA. Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho. G162p Gallagher, Lilian Massena. Produtos e serviços bancários [livro eletrônico] / Lilian Massena Gallagher. – 5. ed. – Rio de Janeiro : UVA, 2016. 810 KB. ISBN 978-85-65812-38-2 Disponível também impresso. 1. Bancos. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 332.1 SUMÁRIO Apresentação...............................................................................................................7 Sobre a autora..............................................................................................................8 Capítulo 1 - Introdução ao mercado financeiro................9 O papel do mercado financeiro na economia..............................10 Organização do Sistema Financeiro Nacional..................................13 Gestão do risco bancário.........................................................................24 Referências......................................................................................................32 Capítulo 2 - Produtos de crédito....................................33 Empréstimo e financiamento para pessoa física...........................34 Empréstimo e financiamento para pessoa jurídica.....................44 Introdução à avaliação do risco de crédito.......................................54 Referências....................................................................................................65 Capítulo 3 - Produtos de investimento.........................67 Renda fixa........................................................................................................68 Renda variável................................................................................................76 Fundos de investimentos.............................................................................83 Referências....................................................................................................92 Capítulo 4 - Produtos e serviços específicos ou diferenciados................................................................93 Administração de recursos.......................................................................94 Seguro, previdência e capitalização...................................................103 Outros serviços bancários.......................................................................111 Referências....................................................................................................124 Considerações finais....................................................125 7 APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Este livro, Produtos e Serviços Bancários, trata do mercado financeiro brasileiro. O conhecimento do funcionamento desse segmento econô- mico é fundamental para que as pessoas possam maximizar suas rique- zas e também para que as empresas tenham plenas condições de buscar recursos da melhor forma possível para seus investimentos, gerando renda e contribuindo para o desenvolvimento do país. Aqui você vai aprender sobre a composição do Sistema Financeiro Na- cional, seus produtos e serviços, bem como será apresentado aos fun- damentos e riscos do mercado financeiro, além de conhecer os órgãos normatizadores, fiscalizadores e seus participantes. Verá também os principais produtos de crédito voltados a indivíduos e empresas, os produtos de investimento, de previdência, de seguro e outros serviços prestados pela rede bancária brasileira. Desejamos que você aproveite ao máximo esta experiência e que a lei- tura desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conte- údos abordados, contribuindo efetivamente para o seu enriquecimento cultural e acadêmico. ...................................................................................................................................................................................................................... 8 SOBRE A AUTORA Lilian Massena Gallagher é mestre em Administração pela Universida- de Estácio de Sá - UNESA, com curso de mestrado em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPEAD/UFRJ, e é ba- charel em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Possui os certificados ANCORD e ANBIMA CPA-20 e é licenciada pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM para traba- lhar como analista e consultora de valores mobiliários, administradora de carteiras e agente autônomo de investimentos. Atua há mais de 23 anos na área de investimento financeiro, além de ser autora de oito livros sobre o assunto. 9O papel do mercado financeiro na economia ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO MERCADO FINANCEIRO Este capítulo permitirá que você compreenda o papel do mercado financeiro dentro da economia brasileira, bem como seus órgãos reguladores e participantes. Devido à sua importância e à alta concentração de riscos, os par- ticipantes desse segmento econômico e seus produtos e serviços estão sujeitos a forte regulamentação, o que di- fere da atividade fabril. Por isso, é fundamental o conheci- mento desse arcabouço básico sobre o sistema financeiro para entender os produtos e serviços oferecidos na rede bancária. Assim, estude com atenção e tente contextuali- zar suas experiências pessoais e profissionais com o tema do capítulo. Introdução ao mercado financeiro 10 ...................................................................................................................................................................................................................... O PAPEL DO MERCADO FINANCEIRO NA ECONOMIA Ao final deste tópico, espera-se que você seja capaz de identificar o papel do Sistema Financeiro Nacional – SFN como propulsor da economia do país. Você já imaginou como seria o mundo sem os bancos? Guardaríamos nosso dinheiro embaixo do colchão, correndo o risco de assaltos? E como seria para quem tem muito dinheiro? Há de ter alguém que guarde nosso dinheiro e autentique sua validade. Mas até ser o que hoje o banco é, essa insti- tuição evoluiu muito. Confira a seguir a história dos ban- cos e seu papel fundamental na construção de um país melhor. Tudo indica que as primeiras operações bancárias da his- tória tenham sido desenvolvidas na civilização fenícia. Mas, com o advento do comércio no fim da Idade Média, a função de banqueiro na Europa floresceu. Era ele quem fazia a pesagem das moedas e avaliava a autenticidade e a qualidade dos metais em troca de uma comissão nas feiras da Europa Central. Com o surgimento da moeda, outro tipo de serviço fez-se necessário: guardar o dinheiro. Em troca, os bancos emi- tiam um certificado. Com o passardo tempo, os banquei- O nome banco foi concebido pelos romanos, pois representava a mesa em que eram realizadas as trocas de moedas. 11O papel do mercado financeiro na economia ...................................................................................................................................................................................................................... ros notaram que as pessoas não sacavam todos os seus recursos no mesmo dia, e, por isso, eles sempre tinham dinheiro em caixa, que poderia ser emprestado àqueles que necessitavam de recursos e que estavam dispostos a pagar juros por isso. Essa foi a base para o enriquecimento dos banqueiros, que deixaram de ser simples “cambistas”. Como a Igreja na época desaprovava a cobrança de juros, esse serviço acabou sendo prestado pelo povo judeu, ra- zão que explica o porquê da presença desse povo no ramo bancário naquela época. Os bancos são de fundamental importância para a econo- mia de um país, pois ajudam a organizar o meio circulante e fazem a ponte entre quem tem sobra e falta de dinheiro. Mas eles sozinhos não dão conta de colocar o mercado fi- nanceiro funcionando a contento nem de oferecer todos os instrumentos necessários para atender às necessidades dos agentes do mercado. Com o passar dos anos, as tran- sações financeiras assumiram um nível de sofisticação e grandeza ao ponto de outras instituições unirem-se e for- marem o sistema financeiro como conhecemos hoje. Sabe-se que, para fornecer cada vez mais serviços a uma população também crescente, é necessário que a economia cresça e torne-se cada vez mais dinâmica, e, para que esse crescimento econômico aconteça, é necessário cada vez mais investimentos no setor produtivo, de forma a promo- ver trabalho, renda e impostos, gerando a acumulação do capital e o aumento de sua produtividade. Por sua vez, a liquidez promovida pelo acúmulo de capital vai gerar necessidade de novos investimentos que permi- ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro 12 ...................................................................................................................................................................................................................... tam eficiência e rentabilidade, fazendo com que a econo- mia entre em um círculo vicioso. Está explicado, de forma simples, por que é necessária a formação de poupança de um povo para alcançar um lugar ao sol no mundo desen- volvido. Mas não para por aí. Os recursos poupados têm de chegar onde podem ser mais rentáveis, trazendo mais lucros e ge- rando bem-estar para a população. É aí que entra o papel do mercado financeiro, aproximando os agentes deficitá- rios dos superavitários, que desejam investir suas poupan- ças da forma mais rentável possível, gerando riqueza para si e para uma nação. Existem três formas principais de fazer chegar o dinheiro de quem poupa a quem investe. O autofinanciamento é a mais simples e primitiva, além da mais limitada, permitin- do que as empresas ou indivíduos invistam apenas aquilo que eles mesmos poupam. A outra maneira é pelo governo, que, por meio de políti- cas dirigidas, direciona a poupança da sociedade para os investimentos que julgar mais adequados, os quais nem sempre visam à geração de mais riqueza e às alternativas mais produtivas, mas, sim, à observância de questões bu- rocráticas ou de cunho político. Por fim, essa canalização de recursos pode ser feita pelos mercados financeiros, que assumem papel mais destacado à medida que as economias tornam-se mais sofisticadas. A prática mostra que há uma correlação direta entre o desen- volvimento de um país e o de seus mercados financeiros. 13Organização do Sistema Financeiro Nacional ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Ao final deste tópico, espera-se que você seja capaz de dis- criminar os principais órgãos reguladores e os diferentes participantes dos mercados financeiros. O Sistema Financeiro Nacional – SFN é formado por um conjunto de agentes que atuam sob a supervisão de órgãos fiscalizadores e executores de políticas definidas pelos conselhos. Ao todo, são três conselhos, formados por pessoas que ocupam determinados cargos no governo federal, como ministros e o presidente do Banco Central. Cada conselho atua diretamente em um segmento do SFN, a saber: Conselho Monetário Nacional – CMN Normatiza e define as diretrizes dos mer- cados financeiros, tendo como órgãos executores de suas políticas o Banco Central do Brasil – Bacen ou BC e a Co- missão de Valores Mobiliários – CVM. Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP Normatiza e define as diretrizes dos mer- cados segurador e de previdência priva- da aberta, tendo como órgão executor de suas políticas a Superintendência de Seguros Privados – Susep. Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC Normatiza e define as diretrizes do merca- do de previdência complementar fecha- da, tendo como órgão executor de suas políticas a Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc. 14 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro Por sua vez, os mercados financeiros são divididos em quatro: monetário, de crédito, de câmbio e de capitais, os quais serão abordados neste livro. Mercado monetário No mercado monetário, são negociados os instrumentos financeiros que afetam de alguma forma a moeda. Fazem parte dele as operações a curto prazo que visam ao controle da liquidez da economia. O mercado aberto é aquele em que são realizadas a com- pra e a venda dos títulos públicos. Por meio da venda de títulos de emissão do Tesouro Nacional, o investidor rece- be os títulos, e o Bacen recolhe dinheiro da economia. No entanto, quando há recompra de títulos, ocorre o inverso, aumentando a liquidez da economia. Por falar em liquidez da economia, vale mencionar os títu- los que também ajudam a gerar moeda, como os Certifica- dos de Depósito Bancário – CDB e outros títulos emitidos pelas casas bancárias, que aumentam os passivos delas, permitindo que elas emprestem mais recursos a empresas e indivíduos. As operações de redesconto são necessárias para cobrir necessidades de liquidez dos bancos. Por meio do redes- conto, o Bacen empresta dinheiro aos bancos quando eles apresentam déficit de caixa. Lembramos que, a todo ins- Por liquidez entenda a quantidade de moeda em circulação, que é controlada pelo Bacen, por meio da execução e do controle das operações cursadas no mercado aberto, de redesconto e de depósitos compulsórios. Você encontrará mais detalhes sobre esses títulos no capítulo 3 deste livro. 15Organização do Sistema Financeiro Nacional ...................................................................................................................................................................................................................... tante, os investidores depositam e aplicam recursos nas instituições financeiras, que emprestam parte desses re- cursos para os agentes deficitários. Logo, há momentos emque o banco tem sobra de caixa e momentos em que necessita de recursos, tomando emprestado de outras ins- tituições financeiras, por meio do Certificado de Depósito Interbancário (ou Interfinanceiro) – CDI. Pelas regras atuais do Sistema de Pagamentos Brasileiro, os bancos têm 30 minutos para fechar o seu caixa. Quando isso não acontece, o Bacen cobre esse buraco por meio de operações de redesconto, que, como visto, são emprésti- mos aos bancos. As taxas cobradas no redesconto são, via de regra, mais caras que as praticadas no mercado inter- bancário. Para fechar esse tópico, é mister mencionar o Copom, o Comitê de Política Monetária do Bacen. O objetivo do Copom é estabelecer as diretrizes da políti- ca monetária e definir a taxa básica de juros, a taxa Selic. Ele também tem a competência específica de manipular a liquidez econômica por meio dos instrumentos de política monetária. Ele é composto por oito membros da diretoria colegiada do Bacen e é presidido pelo presidente da autori- dade monetária. Também integram o grupo de discussões os chefes de departamentos, os consultores, o secretário- -executivo da diretoria, o coordenador do grupo de comu- nicação institucional e o assessor de imprensa. Atualmente, o Copom reúne-se oito vezes por ano, em calendário divulgado com bastante antecedência, o qual pode ser consultado no site do Bacen. O Copom foi criado em 1996, a exemplo do que já era adotado pelo Fed, o banco central americano, e pelo banco central da Alemanha. Hoje, muitas autoridades monetárias em todo o mundo adotam prática semelhante, facilitando o processo decisório, a transparência e a comunicação com o público em geral. 16 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro Mercado de crédito O mercado de crédito serve como alavancagem para a maioria das economias desenvolvidas no mundo, uma vez que está direcionado aos empréstimos e financiamentos entre duas partes e tem por objetivo suprir recursos aos agentes econômicos, sejam pessoas físicas ou jurídicas, para atender às suas necessidades de investimento, de consumo ou operacionais, como abastecer o fluxo de caixa temporariamente deficitário de uma empresa. Nessa relação, a parte credora oferece um bem à parte de- vedora, que, na sociedade capitalista, é a moeda fiduciária ou escritural. Por esse empréstimo, o credor recebe juros do devedor. Muitos economistas e agentes do mercado tentam explicar a grande diferença do spread no Brasil, que é devida a fa- tores conjunturais, inadimplência dos tomadores de recur- sos, impostos e despesas administrativas na contratação do crédito. Há alguns anos, o Bacen vem trabalhando na redução do spread, já tendo conseguido algum avanço, mas com um longo caminho à frente a percorrer. Devido à sua capacidade de captar recursos e à sua es- pecialização nesse segmento econômico e na eficiência no recebimento dos empréstimos, cabe às instituições fi- nanceiras o papel principal de agente de concessão de crédito no mundo capitalista. Porém, como sabemos, as empresas podem conceder crédito diretamente a seus A diferença entre as taxas de juros que o banco paga aos seus clientes provedores de recursos e as taxas cobradas aos clientes deficitários é chamada de spread bancário. 17Organização do Sistema Financeiro Nacional ...................................................................................................................................................................................................................... clientes, assim como as pessoas podem concedê-lo a seus familiares e amigos. Atualmente, existem muitas modalidades de crédito dispo- níveis ao consumidor, entre elas, podem-se citar: cheque especial, cartão de crédito, crédito direto ao consumidor – CDC, crédito consignado, crédito imobiliário, leasing e hot money. Esses produtos e serviços serão abordados em outros capítulos deste livro. Por envolver riscos, o mercado de crédito é fiscalizado de perto pelo Bacen, que cria regras rígidas e exige certos di- recionamentos dos recursos das instituições financeiras. Mercado de câmbio O mercado de câmbio é um ambiente físico ou eletrôni- co no qual ocorrem as operações de compra e venda de moedas estrangeiras realizadas entre os agentes autoriza- dos pelo Bacen, como bancos, corretoras e distribuidoras, como também entre esses e seus clientes. Trata-se do maior mercado financeiro. Segundo dados do Bank for International Settlement – BIS, em abril de 2013 foram realizadas, em média, no mundo USD, 5,3 trilhões de operações no mercado de câmbio por dia. Desse to- tal, 9% foram câmbios fechados por empresas, 24% foram oriundos de bancos menores e 11% de investidores institu- cionais, como fundos de pensão e seguradoras. O dólar foi responsável por 87% de todos os câmbios fecha- dos na data da pesquisa, sendo, portanto, a moeda domi- nante ainda hoje. Em segundo lugar fica o Euro, com 33% Bank for International Settlement – BiS Banco central dos bancos centrais, o BIS é um organismo internacional de pesquisa e mútua cooperação, visando servir aos bancos centrais em suas buscas por estabilidade monetária e financeira, nutrindo a cooperação internacional nessas áreas e agindo como um banco para os bancos centrais. 18 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro do mercado. Se você estranhou essa soma, que deveria ser 100%, entenda que essa contagem é dupla, pois, ao comprar uma moeda, vende-se outra. Logo, o dólar pode ser negocia- do pelo euro, o que vai entrar nos dois lados da estatística. Esse mercado está cada vez mais concentrado nos maiores centros financeiros mundiais. As transações com moedas no Reino Unido, Estados Unidos, Singapura e Japão soma- vam 71% de todas as negociações do mundo nesse merca- do, que engloba não somente as negociações no mercado spot (à vista), responsável por 38% do total, mas também de outros veículos financeiros baseados em moeda, como os swaps e as opções com moedas. As taxas de câmbio são determinadas por inúmeros fato- res, e cada país adota um regime de câmbio. No Brasil, há algum tempo utiliza-se a taxa de câmbio flutuante, que é determinada pela dinâmica entre as forças de demanda e oferta da moeda no mercado. Muitos economistas alegam que nosso regime cambial é de flutuação suja, dado que, vez por outra, o Bacen entra atuando no mercado, com- prando ou vendendo moeda para tentar influenciar de alguma forma a taxa de câmbio. Entretanto, embora isso realmente ocorra muito esporadicamente, esse mercado é tão dinâmico e grande que os esforços são muitas vezes ineficazes. Outros países preferem usar a taxa de câmbio fixa, que es- tabelece o monopólio cambial, cabendo somente ao banco central e aos agentes por ele autorizados a posse de moeda estrangeira no país. 19Organização do Sistema Financeiro Nacional ...................................................................................................................................................................................................................... A China é, no momento, um exemplo de país que adotou a taxa fixa. Contudo, para o economista Robert Mundell, laureado com o Prêmio Nobel, trata-se de uma economia atípica, pois conse- gue manter características de política econômica que não se conjugam ao mesmo tempo: independência da política mone- tária, taxa de câmbio fixa e fluxos livres de capital interfronteiras, o que exige esforços descomunais para esterilizaros efeitos da política cambial adotada. A realidade vem mostrando que, ao longo do tempo, polí- ticas de taxas fixas não se perduram. A dinâmica da eco- nomia mundial e a inter-relação dos países com o mundo externo obrigam os mesmos a ajustarem-se a cenários me- nos estáveis, acabando por permitir que a taxa de câmbio ajuste-se às forças do mercado. A taxa de câmbio é de fundamental importância para os países. Moedas valorizadas são trocadas por menos divisa, diminuindo a competitividade dos bens e produtos fabrica- dos pelo país no mercado internacional, ao mesmo tempo em que favorece a importação de bens e produtos de con- sumo final ou matérias-primas para a indústria nacional. Já as moedas fracas perante o dólar podem, a princípio, parecer uma desvantagem para o país. No entanto, favo- recem a exportação dos produtos fabricados localmente. Para fechar esse tópico, é importante mencionar os dife- rentes tipos de taxas de câmbio. Ao fazer uma rápida pes- quisa na internet, podemos observar que existem as taxas de câmbio comercial, paralelo, turismo e PTAX. A taxa de câmbio comercial divulgada na internet refere- -se à média ponderada por volume financeiro das taxas Divisa é uma moeda aceita como meio de pagamento fora do seu país de emissão. 20 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro cursadas no mercado de câmbio que têm por origem as transações de comércio exterior, importação e exportação de produtos e serviços. Como exemplo, pode-se citar a venda de minério de ferro pela Vale para outros países. A taxa do dólar paralelo refere-se às transações informais e não registradas no Bacen. Essas transações não são reco- nhecidas pelo agente fiscalizador do mercado. A taxa de dólar turismo tem por origem as transações ocor- ridas no mercado de turismo, como viagens internacionais. Por fim, a taxa PTAX tem por base as transações de moeda cursadas no mercado interbancário e é utilizada para corri- gir contratos que tenham por base a taxa de câmbio. Mercado de capitais O mercado de capitais é formado por agentes econômicos que desenvolvem operações com o objetivo de proporcio- nar recursos de médio e longo prazos para capital de giro ou investimento das empresas, por meio de emissão e dis- tribuição de valores mobiliários. De acordo com a Lei nº 10.198/2001, são valores mobiliários, quando ofertados publicamente, quaisquer títulos ou contratos de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante da prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreen- dedor ou de terceiros. Não são valores mobiliários, portanto, os títulos públicos federais nem os títulos de emissão dos bancos, como o CDB. 21Organização do Sistema Financeiro Nacional ...................................................................................................................................................................................................................... O surgimento do mercado de capitais ocorreu quando o mercado de crédito deixou de atender às necessidades da atividade produtiva. Com necessidades de caixa para inves- timento, as empresas começaram a emitir títulos e a vendê- -los diretamente aos interessados. Com a sofisticação dos instrumentos e a necessidade de regulamentação para dar segurança aos investidores, o mercado de capitais foi apri- morando-se, até chegar à criação das bolsas de valores. Com a criada necessidade de desenvolvimento do mercado de capitais, foi fundada, em 1976, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Hoje, todo valor mobiliário negocia- do ao público tem de ser registrado nessa autarquia, que busca constantemente regras de negociação equitativas e seguras entre os participantes, que podem ser pessoas físi- cas ou até mesmo investidores institucionais, como fundos de pensão, bancos e seguradoras. Nesse mercado, são negociados tanto títulos de dívida como debêntures e notas promissórias, bem como títulos de propriedade e ações. Como mencionado, quando desejam negociar publicamen- te seus valores mobiliários, os títulos devem ser registra- dos na CVM e seguir regras rígidas. Diz-se que uma so- ciedade anônima tem o capital aberto quando seus títulos são negociados publicamente. Assim, empresas de capital aberto têm suas ações negociadas, normalmente, nas bol- sas de valores, onde obtêm visibilidade e maior número de interessados para negociar os ativos, além de ser um ambiente seguro de negociação. Por outro lado, empresas que não negociam seus valores mobiliários junto ao públi- co são chamadas de empresas de capital fechado. 22 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro Como explicado em documento da CVM, a abertura de ca- pital oferece uma série de vantagens, a saber: • Ampliação da base de captação de recursos finan- ceiros e do seu potencial de crescimento. • Maior flexibilidade estratégica, facilitando a liqui- dez patrimonial dos acionistas. • Maior exposição ao mercado, favorecendo a divul- gação da imagem institucional. • Facilidade na reestruturação societária, inclusive em casos sucessórios. • Gestão profissional, facilitando, portanto, sua pe- renidade enquanto negócio. • Melhoria na relação com os funcionários em caso de participação destes no processo de aquisição de parte das ações da companhia. Porém, como tudo tem dois lados, a gerência de uma com- panhia aberta traz custos associados não somente ao pro- cesso de abertura em si, mas também à sua manutenção como tal. As companhias abertas devem manter um de- partamento de acionistas e de relação com investidores, taxas quitadas da CVM e das bolsas de valores, realização de contratação de auditoria independente e divulgação sis- temática de informações para o mercado. Retornando à questão da importância do mercado finan- ceiro para o desenvolvimento de um país — tema desen- volvido aqui, sendo que, desta vez, focado mais especifi- camente no mercado de capitais —, pode-se dizer que a 23Organização do Sistema Financeiro Nacional ...................................................................................................................................................................................................................... profissionalização das companhias e a institucionalização da poupança, direcionada para fundos de investimento e fundos de pensão, tornaram o mercado de capitais mais sofisticado em termos de tomada de decisão, gerando mais retorno para as famílias e mais necessidade de investimen- tos que garantam longo prazo, proporcionem liquidez e ofereçam retornos razoáveis ao longo do tempo. Juntos, esses fatores – oferta de poupança, demanda de recursos para investimento, intermediação financeira e a institucionalização do mercado – têm levado à expansão do mercado de capitais, cujo crescimento está diretamente ligado ao desenvolvimento e à sofisticação da economia, que têm se beneficiado de forma constante com o acesso às novas tecnologias de comunicação e informática, facili- tando o acesso a outros mercados mundiais, aumentando a globalização e reduzindo o custo da intermediação. Essa conjunção de fatores permite que países como o Brasil sejam capazes de competir pela poupança mundial para atrair mais riqueza. Fonte: GALLAGHER, 2012, p. 28. 24 ......................................................................................................................................................................................................................Introdução ao mercado financeiro GESTÃO DO RISCO BANCÁRIO Ao final deste tópico, espera-se que você seja capaz de identificar os riscos envolvidos na atividade bancária. Podemos definir risco como a volatilidade de resultados não esperados ou uma estimativa para as possíveis perdas de uma instituição financeira, um fundo de investimento ou um investidor, devido às incertezas de suas atividades diárias. Contudo, no caso de instituições bancárias, é pos- sível definir risco de uma forma mais direta. Nesse caso, risco está associado à probabilidade de a instituição incor- rer em perdas, passando por dificuldades não previstas, associadas à dinâmica de seus negócios. Não há como eliminar o risco, mas certamente podemos administrá-lo e tentar diminuí-lo. No caso do mercado fi- nanceiro, isso se dá, normalmente, em conjunto com nor- mas oriundas dos órgãos reguladores. Gerenciamento de risco é, portanto, o conjunto de pessoas, sistemas e medi- das de controle utilizado para medir e controlar os riscos inerentes às atividades diárias de uma entidade. Volatilidade é um conceito que frequentemente está associa- do a risco e refere-se ao grau médio de variação das cotações de um determinado título em um determinado período. Tra- ta-se de uma medida estatística que, em certo sentido, mede a velocidade do mercado. Os mercados que se movem lenta- mente são de baixa volatilidade, e os que se movem rapida- mente são de alta volatilidade. 25Gestão de risco bancário ...................................................................................................................................................................................................................... Um processo adequado de equalizações de riscos contem- pla regras claras, objetivas e de fácil entendimento por todos os integrantes. A efetivação de qualquer transação deve ter como premissas a conformidade da operação e suas garantias, certificando-se da existência de todos os documentos necessários (contratos, garantias, anexos, do- cumentos oficiais etc.). Também é necessária a observância de todas as exigências do produto, garantindo, assim, a qualidade e a segurança exigidas pela organização. Tipos de riscos O risco manifesta-se de diferentes maneiras: de mercado, de crédito, de liquidez, de imagem, legal e operacional, que serão abordadas a seguir. Risco de mercado Podemos definir risco de mercado como a resultante das mudanças no comportamento do preço de um ativo dian- te das condições de mercado. Trata-se de uma medida da incerteza relacionada aos retornos esperados de um investimento em decorrência de variações em fatores de mercado, como taxas de câmbio e de juros e preços de commodities e de ações. Com relação ao risco do mercado de câmbio, pode-se dizer que ele é oriundo da exposição às oscilações nas taxas de câmbio. Como exemplo de risco de câmbio, imagine uma empresa que utiliza grande quantidade de produtos importados em sua pro- dução. Se a taxa de câmbio subir, a lucratividade dessa empresa deve diminuir, principalmente se o preço dos seus produtos for muito sensível a variações. 26 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro O risco do mercado de juros provém do impacto das osci- lações das taxas de juros e interfere diretamente na gestão dos investimentos e no caixa de uma instituição financeira. Isso acontece porque o preço de um ativo é dado pela ex- pectativa em relação ao futuro. Se um investidor tem, por exemplo, um título de renda fixa, na qual paga uma taxa de juros “x”, se as taxas de juros subirem, seu título ficará desvalorizado, pois os investidores poderão aplicar em títulos que paguem uma taxa de juros maior. Já se a taxa de juros cair, seu título ficará valorizado, pois vai remunerar mais que os novos títulos do mercado. É notório o sobe e desce da bolsa. Em termos técnicos, di- zemos que há alta volatilidade nesse mercado. Logo, se o investidor tiver algum investimento em ação no seu por- tfólio de investimentos, ele estará sujeito a essas varia- ções, ou seja, ao risco do mercado acionário. Diz-se que a variação de preço a que está sujeito o mercado acionário é um risco de mercado, porque os preços das ações são o resultado de forças de mercado, como oferta e procura. O risco do mercado de commodities acontece quando ocor- re qualquer mudança no preço de determinada commodity. O termo commodity é utilizado para designar bens e, às vezes, serviços para os quais existe procura sem atender à diferencia- ção de qualidade do produto no conjunto dos mercados e en- tre vários fornecedores ou marcas. É equivalente e trocável por outra mercadoria igual, independentemente de quem a produz, como petróleo, soja e ouro. 27Gestão de risco bancário ...................................................................................................................................................................................................................... Risco de crédito Essa forma de risco pode ser considerada como a dominante no mercado financeiro hoje. Relaciona-se a prováveis perdas quando um dos contratantes não tem como honrar seus com- promissos. As perdas, nesse caso, correspondem aos recur- sos que não serão mais recebidos. O alcance desse risco de- pende do tamanho da posição tomada com uma contraparte particular, do tamanho do negócio em relação ao fechamento de um determinado dia e da existência de qualquer acerto entre as partes envolvidas que forcem a honrar de qualquer maneira os compromissos assumidos. O efeito dessa opera- ção é sentido pelo custo de reposição do fluxo de caixa se a outra parte não cumprir o seu compromisso de pagamento. O risco de crédito pode ser visualizado de três formas: Risco país É o risco de um país deixar de pagar os juros e, o principal, sua dívida externa, declaran- do moratória. Nesse caso, o país fica impedido de captar recursos no mercado interna- cional. O risco-país é medido em números e, quanto maior esse número, maior o risco de o país não honrar a dívida e, logo, maior a taxa de juros requerida pelo investidor para comprar os títulos desse país. Risco político Refere-se a restrições ao fluxo de capitais entre países, esta- dos ou municípios, impedindo a contraparte de honrar as suas obrigações. Pode ocorrer quando há golpes militares, novos planos econômicos ou em consequência de novas eleições. Risco de falta de pagamento Pode ser visualizado quando uma das partes em um con- trato não pode mais honrar os compromissos assumidos. 28 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro Risco de liquidez O risco de liquidez é oriundo de situações em que uma parte interessada em negociar um dado ativo não pode fa- zê-lo porque não consegue achar outra parte interessada em tomar o outro lado da negociação a um preço razoável (ou a qualquer preço). Esse risco torna-se particularmente grave se a parte que detém os ativos, e a ele está sujeita, vê-se obrigada a liquidar esses ativos para fazer face a ou- tros compromissos. O risco de liquidez é um risco financeiro devido à incerte- za de existir liquidez. Uma instituição pode perder acesso à liquidez se o seu rating de crédito cair ou se outro evento levar as demais contrapartes a desejarem evitar negociar com a companhia ou financiá-la. Uma instituição financeira também está exposta ao risco de liquidez se os mercados nos quais atua estiverem sujeitos a possível per- da de liquidez. O risco de liquidez tende a agravar outrosriscos. Se uma empresa não tiver condições de cumprir seus compromis- sos porque não consegue desfazer-se de investimentos por questões de liquidez, estamos diante de um caso de risco de crédito ocasionado por questões de liquidez. Por conta disso, uma das grandes preocupações dos reguladores são as implicações do risco de liquidez para os sistemas, na medida em que o não cumprimento dos compromissos por uma contraparte pode ocasionar o não cumprimento das suas contrapartes em cascata. Risco de imagem É a possibilidade de a instituição ter seu bom nome des- gastado no mercado e/ou com as autoridades constituí- das em decorrência de publicidade negativa, verdadeira ou não. Os danos causados à reputação da companhia perante 29Gestão de risco bancário ...................................................................................................................................................................................................................... partes interessadas acarretam, normalmente, impactos no valor da marca. Risco legal O risco legal pode ser definido como a possibilidade de perdas decorrentes da não observância ou da incorreta avaliação de questões ligadas à legislação. Ele pode afetar os processos operacionais de uma instituição ou levá-la a multas, penalidades ou indenizações a órgãos de supervi- são e controle e a processos judiciais ou administrativos. Um típico exemplo de risco legal é um contrato ou produto sem embasamento nas leis pertinentes àquela situação. Os bancos estão sujeitos a várias formas de risco legal. Encontra-se aí incluído o risco de desvalorização de ativos ou de valorização de passivos em intensidades inesperadamente altas por conta de pareceres ou documentos legais inadequados ou incorretos. Adicionalmente, a legislação existente pode falhar na so- lução de questões legais que envolvam uma instituição financeira. Os bancos são particularmente suscetíveis a riscos legais quando adotam novos tipos de transações e quando o direito legal de uma contraparte em uma transa- ção não está estabelecido de forma clara. Risco operacional O risco operacional é a possibilidade de perda em qualquer tipo de operação, decorrente do seu processamento pela instituição. 30 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro Os riscos operacionais podem ser oriundos da falta de segu- rança na manutenção e no transporte de ativos, da insuficiên- cia de controles e informações, de processamento e checagens inadequados, da falta de sigilo, da possibilidade de fraudes na transmissão e no processamento de dados, da manipulação de dados contábeis e da qualidade das informações utilizadas para a tomada de decisões gerenciais. Os riscos operacionais são gerenciados por meio de nor- mas claras de processamento, contidas em todas as defini- ções dos produtos da instituição, e de mecanismos efica- zes de controles e verificações. Visando mitigar os riscos, as instituições financeiras são obrigadas pelo Bacen a ter uma área de compliance, que de- termina e fiscaliza o cumprimento de normas que devem ser seguidas por seus colaboradores. Neste capítulo, você estudou a organização do mercado financeiro e suas questões primordiais, como riscos e sua importância para a economia do país. Entendemos que o mercado financeiro é um ambiente em que agentes deficitários encontram poupadores e que essa intermediação é fundamental para o desenvolvimento de um país. Pudemos perceber que, além dos bancos, há muitas insti- tuições fundamentais para o bom andamento desse mer- cado, que é fortemente fiscalizado pelo Bacen, pela CVM, pela Susep e pela Previc, cada um focado em um segmento do sistema. 31Gestão de risco bancário ...................................................................................................................................................................................................................... Finalmente, compreendemos que o risco é um atributo do mercado financeiro e que, preocupados com a solvência do sistema, os participantes são fortemente vigiados e estão sujeitos a diversas regras. Além disso, vimos que os riscos podem ser classificados de acordo com diversas naturezas. ...................................................................................................................................................................................................................... 32 ...................................................................................................................................................................................................................... Introdução ao mercado financeiro REFERÊNCIAS BANCO CENTRAL DO BRASIL. BC Universidade - Sistema Financeiro Nacional. [Filme-vídeo]. Disponível em: <ht- tps://www.youtube.com/watch?v=3BajkwvtRNM>. Acesso em: 18 set. 2014. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Composição e evolução do SFN. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SFNCOM- PEV>. Acesso em: 18 set. 2014. FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e servi- ços. 19. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2013. GALLAGHER, Lilian Massena. Exame de Certificação ANBI- MA: CPA-10. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Exame de Certificação ANBIMA: CPA-20. Rio de Ja- neiro: Elsevier, 2014. Liliangallagher’s weblog. Disponível em: <http:// liliangallagher.wordpress.com/2011/10/>. Acesso em: 18 set. 2014. MEIRELLES, Henrique de Campos. Copom e o avanço das instituições brasileiras. Valor Econômico, São Paulo, ano 6, n. 297, jun. 2006. Revista EU & Fim de Semana. 33Empréstimo e financiamento para pessoa física ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ CAPÍTULO 2 PRODUTOS DE CRÉDITO Este capítulo está focalizado no estudo dos produtos de crédito, ou produtos de ativo, como são conhecidos na grade de um banco. É a base da atividade bancária, uma vez que sua principal função é a intermediação financeira, como foi visto na unidade anterior. Por captarem recursos do mercado e emprestarem para os agentes deficitários, os bancos cumprem um importante papel na economia de um país. O conhecimento acerca dos produtos de crédito voltados para pessoas físicas e jurídicas e o entendimento dos principais pontos da gestão de risco de crédito são fundamentais para quem deseja trabalhar na área finan- ceira de uma empresa ou em uma instituição financeira. Explore esse universo com atenção e tente colocar-se na posição do gerente de um banco ou de um cliente ao estu- dar os tópicos deste capítulo. 34 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito EMPRÉSTIMO E FINANCIAMENTO PARA PESSOA FÍSICA Ao final deste assunto, espera-se que você seja capaz de identificar os principais produtos de empréstimo e fi- nanciamento oferecidos na rede bancária para indivíduos como você, também conhecidos como pessoa física. Agora você conhecerá dois produtos muito utilizados na rede bancária: cheque especial e crédito imobiliário. Cheque especial O cheque especial é uma operação de crédito vinculada à conta-corrente que permite ao correntista que tem limite de crédito pré-aprovado sacar além do saldoque tem em sua conta, sem necessidade de comunicação prévia ao banco. Ao abrir uma conta em um banco, é comum o gerente atri- buir determinado limite de cheque especial ao cliente de acordo com sua renda. Esse limite poderá ser utilizado conforme os exemplos a seguir: 1. Um cliente tem saldo de R$ 1.200,00 em sua conta-corrente e o limite de R$ 5.000,00 de cheque especial. Por um problema qualquer, ele necessita de imediatos R$ 4.000,00. Ele poderá sacar os R$ 4.000,00, e seu saldo ficará negativo em R$ 2.800,00 (R$ 1.200,00 – R$ 4.000,00); ele pagará juros sobre esse saldo negativo. Trata-se de um crédito automático que permite ao correntista contratante ter dinheiro imediatamente para cobrir eventuais débitos. 35Empréstimo e financiamento para pessoa física ...................................................................................................................................................................................................................... 2. O mesmo cliente citado acima necessita agora de R$ 8.000,00 de emergência. Porém, como seu limite é de R$ 5.000,00, ele só poderá sacar R$ 6.200,00 (R$ 1.200,00 que tinha na conta mais R$ 5.000,00 do seu limite). Ele terá de conseguir o valor restante de R$ 1.800,00 de outra forma, ou pagar multa de 2%, além dos juros cobrados sobre esse valor excedente. Tanta facilidade não pode custar barato. O cheque especial e o cartão de crédito são as linhas de crédito que apresentam os ju- ros mais altos no mercado. Para ter noção, no site do Bacen, você pode conhecer as taxas de juros praticadas no mercado pelos bancos em todos os produtos de crédito, inclusive no cheque especial. No período de 9 a 15 de julho de 2014, as taxas anuais do cheque especial variavam de 21,29% a 243,73%, dependen- do da instituição financeira. Se comparada a uma taxa Selic de 11,0% no período, podemos concluir que a taxa do che- que especial é realmente muito cara. Considerando apenas os cinco maiores bancos do mercado, a taxa média pratica- da no cheque especial é de 166,87% ao ano, o que significa que, após um ano sem pagar o cheque especial, o saldo devedor de R$ 5.000,00 transforma-se em R$ 13.343,50. Ao final de cinco anos, a dívida montará a R$ 676.813,14. A cobrança dos juros sobre o período utilizado do produto é fei- ta mensalmente, no primeiro dia útil de cada mês, por meio de débito em conta-corrente. O cheque especial deve ser, portanto, usado apenas em caso de emergência, e nunca como complemento de sa- lário. Esse é um erro que muitas pessoas cometem e que 36 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito pode levar o correntista a uma bola de neve de difícil con- serto. Tendo em vista que essa prática é mais comum do que podemos imaginar, várias instituições do mercado têm lançado campanhas do uso consciente do crédito, que têm por objetivo a prevenção do superendividamento. A Febraban é uma dessas instituições, e lançou em 2014 uma campanha dessa natureza com o mote: “O crédito está aí para melhorar sua vida, é só se planejar que ele não vai faltar.” Na verdade, o crédito pode ser muito útil para alavancar a vida de uma família ou empresa e melhorar a qualidade de vida e a realização de sonhos. O importante é o uso cons- ciente. Por isso, mais importante do que saber o tamanho da dívida de uma pessoa, é ter conhecimento de sua capaci- dade de pagamento e o motivo da utilização desse crédito. Para ter cheque especial, basta ter conta em um banco que preste esse serviço, podendo seu cancelamento ser solici- tado a qualquer momento. É sempre bom que essa solicita- ção seja feita por escrito e que nela conste a assinatura do funcionário que recebeu o documento, evitando a cobran- ça posterior de alguma tarifa indesejável. Vale lembrar, por fim, que alguns bancos apresentam o sal- do do cliente já contando com o limite do cheque especial, o que pode confundi-lo. Portanto, todo cuidado é pouco na hora de visualizar um extrato bancário. 37Empréstimo e financiamento para pessoa física ...................................................................................................................................................................................................................... Conta-corrente: R$ 810,00 Limite de cheque especial: R$ 1.000,00 SALDO TOTAL: R$ 1.810,00 Como se pode ver, o Sr. Fulano possui um saldo positivo de R$ 810,00, mas o banco disponibiliza automaticamente para ele, caso seja necessário, o valor de R$ 1.000,00 de limite de cheque especial. Todo cuidado é pouco na leitura dos saldos. Há bancos, como no exemplo acima, que somam o saldo da conta- -corrente com o valor disponível de cheque especial, como se fosse uma coisa só. O consumidor tem a falsa impressão de que essa soma compõe seu saldo real, e, as- sim, ele pode complicar-se financeiramente, fazendo mau uso, sem intenção, desse limite de crédito, pagando juros que não desejava. Crédito imobiliário O crédito imobiliário é um produto que permite a reali- zação do sonho de muitas pessoas e, ao mesmo tempo, fideliza o cliente ao banco, uma vez que o prazo do finan- ciamento imobiliário costuma ser superior a 10 anos. Antes da estabilização das taxas de juros, o crédito imobi- liário tinha grandes chances de ser uma dor de cabeça para as famílias e para os bancos, uma vez que os juros altos, a intervenção do governo no reajuste das prestações e os diversos planos econômicos traziam instabilidade a esse mercado, que era acometido por inúmeras ações judiciais. Com a estabilização da moeda e das taxas de juros, além de ajustes na legislação do produto, aos poucos, essa mo- dalidade de financiamento foi tomando força. 38 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito Hoje temos um mercado de financiamento imobiliário for- te, regido por duas leis: o Sistema Financeiro de Habitação – SFH e o Sistema Financeiro Imobiliário – SFI. Conheça a distribuição desse mercado, que, segundo da- dos do Bacen, de janeiro de 2013 a fevereiro de 2014, mo- vimentou o total de R$ 113,6 bilhões, sendo 550.817 uni- dades financiadas. Fonte: Banco Central do Brasil. Sistema Financeiro de Habitação – SFH O SFH é um sistema de financiamento que foi criado pela Lei nº 4.380, de 1964, destinado a financiar a compra de imóvel novo ou usado, a reforma ou a construção de imó- veis em terreno próprio, em um prazo mínimo de cinco e máximo de 30 anos. De acordo com a Resolução nº 3.157/2003, do Bacen, es- tão autorizadas a operar sob as regras do SFH como agen- tes financeiros as seguintes instituições: bancos múltiplos com carteira de crédito imobiliário, caixas econômicas, so- ciedades de crédito imobiliário, associações de poupança 39Empréstimo e financiamento para pessoa física ...................................................................................................................................................................................................................... e empréstimo, companhias de habitação, fundações habi- tacionais, institutos de previdência, companhias hipote- cárias, carteiras hipotecárias dos clubes militares, caixas militares, montepios estaduais e municipais e entidades de previdência complementar. Grande parte dos recursos que financiam esses emprés- timos é oriunda de depósitos em poupança pelas enti- dades que fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupan- ça e Empréstimo – SBPE. De acordo com a Resolução nº 3.932/2010, essas entidades devem alocar, no mínimo, 65% dosdepósitos em poupança em operações de finan- ciamento imobiliário, sendo que, no mínimo, 80% (dos 65%) em operações cursadas no âmbito do SFH, e o res- tante em operações de financiamento imobiliário contra- tadas a taxas de mercado (SFI). O arcabouço legal e regulamentar do SFH determina que: • O valor máximo de avaliação do imóvel financiado deve ser de R$ 650.000,00, exceto quando o imóvel estiver localizado nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal. Nesses casos, o limite máximo pode atingir R$ 750.000,00. • O financiamento máximo, compreendendo o prin- cipal e as despesas acessórias, não pode ser superior a 80% do valor de avaliação do imóvel. No caso de financiamentos que não são contratados pela Tabe- la Price, mas utilizam o Sistema de Amortizações Constantes – SAC, o valor unitário dos financiamen- tos, compreendendo o principal mais as despesas acessórias, poderá ser de até 90% do valor de avalia- ção do imóvel. Tabela Price Metodologia de cálculo muito utilizada em amortização de empréstimos, cuja principal característica é apresentar prestações iguais. Já o SAC é um sistema que prevê que cada prestação mensal seja constituída por um valor fixo de amortização da dívida acrescido do pagamento de juros, o que resulta em prestações variáveis, que diminuem ao longo do tempo. 40 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito • O custo efetivo máximo para o mutuário, ao final, compreendendo juros, comissões e outros encargos financeiros, é de 12% ao ano. • Eventual saldo devedor, se ocorrer ao final do prazo ajustado, será de responsabilidade do mutuá- rio, podendo o prazo do financiamento ser prorro- gado por até 50% do previamente pactuado. • Os financiamentos imobiliários cursados sob o SFH devem estar cobertos por garantias, que podem ser: • Hipoteca, em primeiro grau, do imóvel ob- jeto da operação. • Alienação fiduciária do imóvel objeto da operação. • Hipoteca, em primeiro grau, ou a alienação fiduciária, de outro imóvel do mutuário ou de imóvel de terceiros. • Outras garantias, a critério do agente fi- nanceiro. Devido à natureza do risco de longo prazo na concessão do crédito imobiliário, os financiamentos habitacionais de- vem prever um seguro por risco de morte e invalidez per- manente do mutuário e de danos físicos ao imóvel. É permitida a utilização do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS para abater parte do valor do imóvel no momento da contratação do crédito ou para amortizar o saldo devedor ou, ainda, o valor das prestações mensais. 41Empréstimo e financiamento para pessoa física ...................................................................................................................................................................................................................... As taxas contratadas para o financiamento podem ser fi- xas ou corrigidas pela TR (taxa referencial de juros) acres- cida de uma taxa, assim como acontece com a poupança, com os títulos emitidos para lastrear o financiamento imo- biliário e com o FGTS. No caso de taxas fixas, a instituição financeira corre o risco de descasamento das taxas, uma vez que a captação de recursos é em TR, e a concessão do crédito, em taxas fixas. Sistema Financeiro Imobiliário O SFI, também conhecido como Carteira Própria, foi criado em 1997 pela Lei nº 9.514 para tapar uma lacuna que exis- tia no SFH. As novas regras visam a promover o financia- mento imobiliário. Foi criado o Certificado de Recebíveis Imobiliários – CRI, um instrumento financeiro lastreado em créditos imobiliários que aumentou a fonte de recur- sos para financiar o sistema. A partir de então, foi possível financiar imóveis com valores maiores, não mais limitados ao teto do SFH, por meio da carteira hipotecária da insti- tuição financeira. Podem operar no SFI as seguintes entidades: caixas econô- micas, bancos comerciais, bancos de investimento, bancos com carteira de crédito imobiliário, sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimo, com- panhias hipotecárias e, a critério do CMN, outras entidades. A nova regra trouxe também a permissão de utilização da alienação fiduciária como garantia da operação, o que foi, posteriormente, incorporado ao SFH. Até então, os emprés- timos para a casa própria eram garantidos somente por hipoteca. 42 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito O novo sistema, além de permitir a livre pactuação de valores a serem financiados e das taxas, não determina limites para o financiamento, que depende apenas da avaliação do banco quanto à capacidade de pagamento do cliente proponente ao crédito. Também ficou permitida a portabilidade do crédito para outra instituição. Enquanto o SFH não permite a compra de imóvel comer- cial, o SFI não restringe o tipo do imóvel a ser financia- do, tampouco limita o tipo de cliente, estando, portanto, o financiamento disponível para pessoas físicas e jurídicas. Desse modo, muitos detalhes da nova regra dependem das próprias normas da instituição financeira. Porém, nessa modalidade de financiamento, não é permi- tido utilizar os recursos depositados no FGTS do cliente. A referida lei também não estipula prazos máximos para os financiamentos contratados sob o SFI, mas o mercado não pratica prazos maiores que 30 anos. Para clientes com mais de 50 anos de idade, é comum que o prazo máximo seja a diferença entre 80 anos e a idade do requerente ao crédito, o que é compreensível, em função dos riscos assu- midos em empréstimos de longo prazo. Assim como no SFH, para a contratação de empréstimos sob as regras do SFI, é necessária a compra, pelos tomado- res de financiamento, de seguros contra os riscos de morte e invalidez permanente. 43Empréstimo e financiamento para pessoa física ...................................................................................................................................................................................................................... Fonte: Banco Central do Brasil. 44 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito EMPRÉSTIMO E FINANCIAMENTO PARA PESSOA JURÍDICA Ao final deste tópico, espera-se que você seja capaz de identificar os principais produtos de empréstimo e finan- ciamento oferecidos na rede bancária para empresas. No assunto anterior, você conheceu as modalidades de em- préstimo disponíveis para pessoas físicas. Já o presente tó- pico é dedicado aos produtos direcionados para as empre- sas e pessoas jurídicas de um modo geral. Serão estudadas as linhas de crédito direcionadas para financiar o capital de giro das empresas. Desconto bancário de títulos Operação em que a instituição financeira concede um em- préstimo mediante a garantia do recebimento futuro de um título, normalmente uma duplicata ou nota promissó- ria. Nesse caso, o banco desconta o título para o cliente pessoa jurídica, pagando um valor menor que o valor final do título, o que é chamado de desconto. Assim, o cliente transfere o risco do recebimento de suas vendas a prazo para o banco e garante o recebimento imediato dos recur- sos que, teoricamente, só estariam disponíveis no futuro. Essa operação dá ao banco o direito de regresso. Em ou- tras palavras, no vencimento, caso o sacado não pague o título ao banco, o cedente (cliente que descontouo título) 45Empréstimos e financiamento para pessoa jurídica ...................................................................................................................................................................................................................... assume a responsabilidade do pagamento, incluindo cus- tos adicionais de juros e multa por atraso. Conta garantida A conta garantida é como o cheque especial, só que para pessoa jurídica. Trata-se de uma conta de crédito em que o banco determina um valor-limite automático para o cliente. O valor-limite estipulado pelo banco é movimentado direta- mente por cheques emitidos pelo cliente caso não existam recursos disponíveis em sua conta-corrente, permitindo, as- sim, que sejam cobertas as deficiências pontuais de caixa. Outra opção para esse tipo de conta é a conta garantida apenas de caráter devedor. Nesse caso, os custos para o cliente são menores, pois, nessa modalidade de produto, os clientes devem avisar ao banco, com antecedência, os valores que serão sacados da conta. Dessa forma, o banco pode prever quando os recursos serão utilizados e qual o seu volume, não tendo que deixá-los em stand by (à espera de utilização), podendo, assim, cobrar juros menores so- bre os valores sacados. Créditos rotativos São linhas de crédito semelhantes às contas garantidas, di- ferindo-se delas por serem operadas normalmente com ga- rantias de duplicatas. Nesse tipo de concessão de crédito, seu limite contratado pode ser utilizado pelas empresas de acordo com as suas necessidades. 46 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito Operações de hot money Empréstimo de curtíssimo prazo, entre um e 10 dias, to- mado por empresas. Os clientes que utilizam a modalidade de hot money fazem-nos, geralmente, para cobrir deficiên- cias momentâneas em seus caixas. As garantias exigidas pelos bancos para conceder o empréstimo são notas pro- missórias assinadas pelos clientes. Empréstimos para capital de giro São operações contratuais de empréstimo a pessoas jurídi- cas, com prazo de até 180 dias. Geralmente, a empresa requisita esse tipo de empréstimo para cobrir despesas correntes de custeio de sua produção, como: despesas com salários, compra de matéria-prima, aluguel etc. Quando esse tipo de empréstimo é garantido por duplica- tas, seu custo tende a ser menor do que quando ele tem outras garantias, como aval e notas promissórias. Outra forma de garantia informal que pode ocorrer é a recipro- cidade. Nesse caso, o cliente compromete-se a deixar apli- cados no banco os recursos recebidos do empréstimo, en- quanto não utilizados. Financiamento de tributos e tarifas públicas Funciona como um hot money, entretanto a finalidade desse empréstimo é o pagamento de impostos devidos pelas empresas que apresentam descasamento em seu fluxo de caixa. Do lado do banco, trata-se da oportunidade de outro rela- cionamento com o cliente, além de uma receita adicional. 47Empréstimos e financiamento para pessoa jurídica ...................................................................................................................................................................................................................... Operações de vendor Operação em que o vendedor concede o crédito ao ban- co, passando este a atuar como financiador do comprador. Essa operação pressupõe que a empresa compradora seja cliente tradicional da vendedora, pois será esta (a vende- dora) que irá assumir o risco do negócio perante o banco. Essa operação permite que a empresa vendedora foque seu esforço no seu negócio e receba os recursos à vista. Do lado do comprador, este tem a possibilidade de obter taxas menores do que as praticadas em um financiamento isolado. Ele obtém um preço à vista financiado por um em- préstimo concedido por um custo cujo risco de crédito é do vendedor. Trata-se de um produto firmado inicialmente entre o vendedor e o banco, de modo que os créditos sejam concedidos com agilidade, sem necessidade de verificação do risco de crédito do tomador final, atuando o vendedor como um avalista. Para a empresa vendedora, o produto tem vantagem fis- cal, pois, sendo a venda financiada pelo banco, e não por ela própria, o preço final do produto não é acrescido dos custos financeiros, e a base de cálculo para os impostos e tributos acaba sendo menor, reduzindo a carga tributária de IPI, ICMS, PIS e Cofins. Além disso, ela pode vender a um preço menor e tornar-se mais competitiva. Por fim, ao receber à vista, libera seu fluxo de caixa para ser utilizado na produção. Para o comprador, há vantagens nas taxas do financiamen- to, uma vez que as taxas praticadas pelo banco são meno- res que as de um financiamento isolado, ainda mais por- 48 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito que, como já dito, o risco de crédito é do vendedor. Além disso, a obtenção do crédito independe de ser cliente ou não do banco. As operações de vendor estão sujeitas à cobrança de IOF, assim como as demais operações de crédito. Leasing Leasing, ou arrendamento mercantil, é um contrato em que a empresa que se dedica à sua exploração, chamada arrendadora ou locadora, adquire um bem para, em ato contínuo, alugá-lo por prazo determinado ao arrendatário ou locatário, que normalmente é uma empresa, liberando o fluxo de caixa deste para ser aplicado em atividade pro- dutiva e geradora de lucro para a companhia. No vencimento do contrato, o arrendatário tem a opção de renová-lo por mais um período, devolver o bem à arrenda- dora ou adquiri-lo, conforme regras definidas no contrato firmado inicialmente, que pode estipular um valor residual para o bem ou que este seja vendido a valor de mercado. Um exemplo típico dessa operação, muito utilizada no mundo empresarial, é o leasing de carros para utilização por executivos da companhia. Existem duas modalidades de leasing: operacional e fi- nanceiro. • Leasing operacional Nessa modalidade de leasing, não há a presença de uma instituição financeira intermediando o processo. A operação de leasing parte do princípio de que o lucro da empresa vem da utilização do bem, e não de sua propriedade. 49Empréstimos e financiamento para pessoa jurídica ...................................................................................................................................................................................................................... No leasing operacional, o contrato de arrendamento é feito de forma direta entre o arrendador (o produ- tor dos bens) e o arrendatário (o cliente). Esses con- tratos são, em geral, firmados por um período infe- rior à vida útil do bem. Trata-se de uma operação normalmente encontrada no ramo de equipamentos de alta tecnologia, pois esses produtos possuem uma depreciação muito acelerada e devem ser reno- vados pelas empresas com maior frequência, além de geralmente possuírem alto valor de revenda. Os contratos de leasing operacional funcionam qua- se como contratos de aluguel. Os custos totais da operação não devem ultrapassar 90% do valor do bem, e o prazo do contrato deve ser inferior a 75% do tempo de sua vida útil. • Leasing financeiro No leasing financeiro, existe a presença de uma insti- tuição financeira – no caso, uma empresa de leasing –, que será a arrendadora. Os outros participantes do processo são: a empresa produtora do bem e o cliente, sendo este o arrendatário. Essa operação as- semelha-se ao empréstimo que utilizao bem como garantia e que será amortizado em um determinado número de prestações mensais, as quais correspon- dem ao período de vida útil do bem. Os contratos de leasing financeiro não podem ser rescindidos, e, por isso, o arrendatário possui três alternativas ao fim do período contratado: (i) a com- pra do bem arrendado por um valor que pode ser previamente contratado ou pelo Valor Residual Ga- Uma variante do leasing financeiro é o lease back. Nesse caso, a empresa vende seus bens a uma empresa de leasing e, concomitantemente, assina um contrato do ramo dos mesmos bens, com opção de recompra destes no vencimento do contrato. 50 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito rantido (VRG); (ii) a realização de um novo contrato, que geralmente possui taxas menores do que as do contrato inicial, e cujo valor principal é o VRG do contrato inicial; e (iii) a devolução do bem à arren- dadora. Benefícios dos contratos de leasing celebrados por pessoas jurídicas: • Benefícios fiscais existentes, pois as prestações do leasing são incluídas no balanço das empresas como despesas operacionais, e o valor do bem não entra no seu imobilizado. • Liberação de caixa para capital de giro, pois, com esse tipo de operação, a empresa não se descapitali- za para comprar o bem. • Prazo da operação compatível com a vida útil do bem. • Simplificação contábil. Financiamento à exportação Veja, agora, os principais produtos de financiamento vol- tados à exportação. ACC e ACE O Adiantamento sobre Contrato de Câmbio – ACC e o Adiantamento sobre Cambiais Entregues – ACE são produ- tos que envolvem a exportação de mercadorias. Trata-se de antecipação, ao cliente-vendedor, do preço da moeda estrangeira comprada a termo pelo banco. Essa antecipa- 51Empréstimos e financiamento para pessoa jurídica ...................................................................................................................................................................................................................... ção pode ser total ou parcial, além de poder ser pleiteada, na forma de ACC – antes da entrega dos documentos de embarque – ou após essa entrega – ACE. Por estar antecipando recursos ao exportador, o banco cobra, a título de receita, um deságio do cliente sobre os adiantamentos concedidos. O ACC é o adiantamento con- cedido na fase pré-embarque, limitado ao prazo máximo de 180 dias, podendo ser estendido a 360 dias para liqui- dação do câmbio. Os recursos para a sua concessão são obtidos no exterior e repassados na moeda do país para os exportadores, representando custos significativamente mais baratos. O documento que ampara a existência do adiantamento é o próprio contrato de câmbio. Como consequência, a sua per- manência fica estritamente atrelada às suas condições con- tratuais, principalmente no que se refere a prazos. Logo, a sua manutenção somente poderá ser sustentada enquanto o contrato se mantiver em situação de regularidade. Na entrega dos documentos representativos da exporta- ção, o ACC será obrigatoriamente transformado em ACE, dando-se continuidade ao financiamento até o pagamento no exterior da moeda estrangeira. Export note A export note é um contrato de cessão de crédito em que o exportador, por meio de um contrato de exportação pre- viamente celebrado, pode emitir um título, concedendo os direitos creditícios dessa exportação a um investidor, oferecendo-lhe como remuneração os juros acrescidos da 52 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito variação cambial. Esse tipo de operação é um adiantamen- to em reais, concedido pelo investidor ao exportador, para que o último dê andamento a sua produção. Para o exportador, existem vantagens ao realizar uma ope- ração de export note, porque ele deixa de ser dependente exclusivamente das linhas de crédito para exortação forne- cidas pelos bancos, as quais geralmente possuem custos mais elevados, além de não existir a obrigatoriedade de prazo de embarque das mercadorias, como acontece no ACC. A desvantagem desse tipo de operação é a necessi- dade da celebração prévia de um contrato de exportação. Forfaiting Forfaiting é um produto que permite que um exportador venda suas mercadorias a prazo e receba à vista, graças à intermediação de um banco. Esse mercado funciona como um desconto de nota promissória internacional, sem direi- to de regresso ao exportador. Para contratar a operação, o exportador deve remeter um saque cambial ao comprador para que este se comprometa com o pagamento no vencimento. De posse desse docu- mento, o banco avalia o risco e o prazo da operação, esta- belecendo um desconto para o título e tendo por base as taxas de juros mais um prêmio pela operação. O forfating pode ser usado para financiar diversos produ- tos, contudo, o prazo da operação depende do produto-ba- se a ser importado. Tudo depende da avaliação de crédito do tomador do empréstimo e do valor da transação, po- dendo ser oferecidos períodos de carência estendida. Devido às suas características, o forfaiting é um instrumento muito utilizado na Europa e nos Estados Unidos, mercados que buscam constantemente a expansão de seus negócios e precisam responder às solicitações de crédito de seus clientes. 53Empréstimos e financiamento para pessoa jurídica ...................................................................................................................................................................................................................... Apesar de parecer complicado, esse instrumento financei- ro não é complexo em termos burocráticos, sendo aceita a maioria das moedas fortes para o forfaiting. Além disso, a taxa de juros pode ser determinada até um ano antes da data de embarque do produto-base, facilitando o planeja- mento financeiro da empresa. Finimp O Financiamento à Importação – Finimp é uma linha de crédito em moeda estrangeira para financiar o importador brasileiro. Esse pagamento ao fornecedor estrangeiro pode ser feito de imediato ou no vencimento pactuado. As taxas de juros costumam ser compatíveis com as prati- cadas no mercado internacional e podem ser fixas ao longo de todo o financiamento, facilitando a previsão do fluxo de caixa do importador. Também é comum a cobrança da libor, outra taxa de juros, e a variação cambial, ficando o risco cambial por conta da empresa contratante. O prazo da operação pode chegar a 10 anos, com finan- ciamento de até 100% do valor da importação, incluindo despesas locais com o desembaraço da mercadoria nos fi- nanciamentos de longo prazo. Esses detalhes dependem das contratações das linhas de crédito solicitadas com cada banco brasileiro no mercado interbancário internacional. O Finimp está sujeito à cobrança de 15% de imposto de renda a cada remessa de juros feita ao exterior para paga- mento do empréstimo. 54 ...................................................................................................................................................................................................................... Produtos de crédito INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO Ao final deste tópico, espera-se que você seja capaz de identificar como funciona, ainda que de maneira superfi- cial, a avaliação de crédito. Nos dois primeiros tópicos deste capítulo, você estudou os principais produtos de crédito oferecidos na rede ban- cária brasileira para pessoas físicas e jurídicas. Assim, como percebido,
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