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Relações de Gênero

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Relações de GêneRo
Prof.a Ana Paula Martins Flôres
Prof. Renan Subtil Torres
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Ana Paula Martins Flôres
Prof. Renan Subtil Torres
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
F634r
Flôres, Ana Paula Martins
 Relações de gênero. / Ana Paula Martins Flôres; Renan Subtil Torres. 
– Indaial: UNIASSELVI, 2020.
209 p.; il.
ISBN 978-65-5663-279-7
 ISBN Digital 978-65-5663-276-6
1. Gêneros. - Brasil. I. Afonso, Raffaela Dayane. II. Centro Universitário 
Leonardo da Vinci.
CDD 300
apResentação
Olá, acadêmico!
Este é o seu Livro Didático de Relações de Gênero. Certamente, 
você já deve ter escutado falar deste tema. Ele é muito importante e faz 
parte da vida de todas as pessoas, mesmo que elas não se deem conta disso. 
Nos últimos tempos temos ouvido esse conceito ligado a muitas ideias e 
nem todas elas são verdadeiras ou correspondem ao que trataremos neste 
livro didático.
Entenderemos aqui, que, no âmbito das Ciências Sociais, esse 
conceito está ligado à história das mulheres através dos tempos. Durante a 
primeira unidade, entenderemos o surgimento do conceito de gênero e seus 
desdobramentos até que se transformasse, nos dizeres de Scott (1995), em 
uma categoria útil de análise. 
Na Unidade 2, nós trabalharemos com os conceitos de diversidade, 
diferença e desigualdade. Perceberemos que, apesar desses termos serem 
usados como sinônimos em situações cotidianas, eles possuem características 
que os diferenciam. E você, como acadêmico da área das Ciências Humanas, 
necessita ter esses conceitos claros. 
Na última unidade trabalharemos com as noções de papéis sociais, 
identidade de gênero e orientação sexual. 
Bons estudos!
Prof.a Ana Paula Martins Flôres
Prof. Renan Subtil Torres
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumáRio
UNIDADE 1 — MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS 
LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O SURGIMENTO 
DO CONCEITO DE GÊNERO................................................................................................1
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL ......... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 UMA BREVE HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA....................................................... 6
3 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA ................................................................................................... 8
4 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA ................................................................................................ 15
5 A TERCEIRA ONDA DO FEMINISMO ....................................................................................... 19
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 28
TÓPICO 2 — DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE ........................................... 31
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 31
2 DIFERENÇA E IGUALDADE ......................................................................................................... 33
3 DESIGUALDADE .............................................................................................................................. 35
4 O QUE É GÊNERO? .......................................................................................................................... 38
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42
TÓPICO 3 — PAPÉIS SOCIAIS, IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL ........ 45
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45
2 PAPÉIS SOCIAIS ............................................................................................................................... 45
3 IDENTIDADE DE GÊNERO ........................................................................................................... 51
4 ORIENTAÇÃO SEXUAL .................................................................................................................. 55
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 58
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 66
UNIDADE 2 — INTERSEÇÃO ENTRE GÊNERO E OUTROS MARCADORES 
SOCIAIS DA DIFERENÇA ...................................................................................71
TÓPICO 1 — GÊNERO E OUTROS MARCADORES SOCIAIS DA 
DIFERENÇA – PARTE I ............................................................................................. 73
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73
2 GÊNERO SEXUALIDADE ............................................................................................................... 73
3 GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL ............................................................................................ 80
4 GÊNERO: O CAMPO E A CIDADE ............................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 90
TÓPICO 2 — GÊNERO E OUTROS MARCADORES SOCIAIS DA 
DIFERENÇA – PARTE II ............................................................................................ 93
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93
2 O PODER E SUAS NUANCES ........................................................................................................ 93
3 GÊNERO E CLASSES SOCIAIS ..................................................................................................... 94
4 MASCULINIDADES E GÊNERO .................................................................................................. 96
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 106
TÓPICO 3 — GÊNERO E OUTROS MARCADORES SOCIAIS DA 
DIFERENÇA – PARTE III ........................................................................................ 109
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 109
2 GÊNERO E MIGRAÇÃO ............................................................................................................... 109
3 MULHERES, IMIGRAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA ......................................... 115
3.1 VIOLÊNCIA FEMININA NO BRASIL: UM OLHAR NECESSÁRIO ................................. 118
4 RAÇA E ETNIA ................................................................................................................................ 121
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 134
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 138
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 141
UNIDADE 3 — GÊNERO, ARRANJOS FAMILIARES E POLÍTICAS PÚBLICAS .............. 147
TÓPICO 1 — ARRANJOS FAMILIARES, CONJUGALIDADES, TECNOLOGIAS E 
DIREITOS REPRODUTIVOS ................................................................................. 149
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149
2 ARRANJOS FAMILIARES BRASILEIROS: TRADIÇÃO E RESISTÊNCIA ....................... 149
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 164
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 165
TÓPICO 2 — GÊNERO, MÍDIAS E POLÍTICAS DE EQUIDADE DE GÊNERO ................. 167
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 167
2 O DEBATE DE GÊNERO E A MÍDIA BRASILEIRA ................................................................ 167
3 AS POLÍTICAS DE EQUIDADE DE GÊNERO NO BRASIL ................................................. 181
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 187
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 188
TÓPICO 3 — GÊNERO, EDUCAÇÃO E GÊNERO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA 
NA EDUCAÇÃO BÁSICA ....................................................................................... 191
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 191
2 A EDUCAÇÃO E AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO BRASIL................................................ 191
3 GÊNERO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA .............................. 197
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 199
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 204
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 205
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 207
1
UNIDADE 1 — 
MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS 
MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS 
DESDOBRAMENTOS ATÉ O SURGIMENTO 
DO CONCEITO DE GÊNERO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a história do movimento feminista, suas fases e precursoras;
• compreender o conceito de gênero, ontem e hoje, problematizando 
sua importância; 
• diferenciar os conceitos de diversidade, diferença e desigualdade. 
•	 identificar	papéis	sociais,	identidade	de	gênero	e	orientação	sexual.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E 
NO BRASIL
TÓPICO 2 – DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE
TÓPICO 3 – PAPÉIS SOCIAIS, IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO 
SEXUAL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA 
NO MUNDO E NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Se buscarmos nos registros históricos, nós encontraremos mulheres que 
lutaram	contra	a	condição	que	possuíam	dentro	da	sociedade	na	qual	estavam	
inseridas,	desde	a	Idade	Média.	Nessa	perspectiva,	Léon	(1998),	descreve	que,	já	
na	Idade	Média,	havia	mulheres	que	rompiam	com	as	regras	pré-estabelecidas.	E	
elas,	segundo	a	autora,	não	estavam	apenas	na	Europa.	
[...]	 a	 líder	viking	Aud,	a	Mente	Profunda,	 colonizou	a	 Islândia.	 [...]	
Mais	 ao	 sul,	mulheres	poderosas,	 como	Zac-Kuk,	manipulavam	seus	
filhos	no	poder	e,	ocasionalmente,	deram	as	ordens	nos	supermachistas	
territórios Maias. Na Ásia, muitas delas ganharam postos de governo 
(LÉON,	1998.	p.	9-10).
No	período	que	compreende	500	a	1000	d.C.,	as	melhores	oportunidades	
de carreira vinham do islamismo, cristianismo e budismo. Com o passar do tempo, 
os homens perceberam que esse poderia ser um lugar de poder e de emprego, e 
o	transformaram	num	“[...]	clube	só	para	machos”	(LÉON,	1998,	p.	9).	Assim,	os	
homens“tomaram” o poder nesses espaços e os fecharam para as mulheres. 
Na	Grécia	Antiga,	de	acordo	com	Ignotofsky	(2017),	Hipátia	de	Alexandria,	
que	nasceu	em	335,	foi	a	primeira	matemática	de	que	se	tem	notícia.	Era	filha	de	
Théon	matemático,	filósofo	e	astrônomo.	
Influenciada	 pelo	 pai,	 tornou-se	 professora,	 uma	 das	 primeiras	 de	
Alexandria,	numa	época	em	que	poucas	mulheres	se	aventuravam	no	mundo	das	
ciências.	Ela	foi	perseguida,	pois	defendia	o	racionalismo	científico	e	a	matemática,	
ideias	que	foram	interpretadas	como	anticristãs.	Além	disso,	Hipátia	dava	aulas	
para pessoas de diferentes crenças religiosas. A consequência? Ela foi assassinada 
por	volta	do	ano	de	415	d.C.	por	uma	multidão	de	extremistas	cristãos.	
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
4
FIGURA 1 – HIPÁTIA DE ALEXANDRIA
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e2/Alfred_Seifert_Hypatia.
jpg/459px-Alfred_Seifert_Hypatia.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2020.
Pouco	mais	tarde,	a	francesa	Joana	D´Arc	(1412	–	1431),	dizia	ouvir	vozes	
que a chamavam para participar da guerra contra a Inglaterra. Para conseguir “se 
alistar”	no	exército	francês,	ela	cortou	os	cabelos	e	se	vestiu	como	homem.	Ao	ser	
descoberta, foi perdendo apoio dos militares franceses. Acusada de “feitiçaria” 
(por	ouvir	vozes	e	ter	visões),	foi	condenada	à	morte	e	queimada	viva	em	praça	
pública,	em	1431	na	cidade	de	Rouen,	na	França,	com	apenas	19	anos.	
FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DE JOANA D´ARC NO FRONTE DE BATALHA
FONTE: <https://pm1.narvii.com/6976/e8d59bf7b3379e03acf42ca118f51b009275f93br1-496-
750v2_hq.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2020.
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
5
Esses	 foram	 alguns	 exemplos	 de	mulheres	 que	 resolveram	 enfrentar	 a	
sociedade em que viviam para buscar o direito de serem consideradas “sujeitos 
de direitos”. 
Pouco	 mais	 tarde,	 no	 século	 XVIII,	 a	 filósofa,	 Mary	 Wollstonecraft	
(1759-1797),	produziu	 registros	da	Revolução	Francesa	 com	respostas	políticas	
aos	homens,	atitude	pouco	exercida	por	mulheres	na	época.	Além	disso,	Mary	
escreveu	 diversos	 romances	 e	 livros	 infantis	 que	 questionavam	 os	 papéis	 de	
gênero	e	a	condição	das	mulheres	da	época.	Era	uma	defensora	do	direito	das	
mulheres	à	educação	e	à	igualdade	no	casamento.	É	considerada	até	hoje	uma	das	
fundadoras do feminismo. 
FIGURA 3 – MARY WOLLSTONECRAFT
FONTE: <https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2015/04/wollstonecraft2.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
Por mais que certo tempo houvesse passado, ainda havia a necessidade de 
luta das mulheres por direitos. Diante dessa realidade, outras mulheres buscaram 
transformar a realidade em que viviam. 
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
6
2 UMA BREVE HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA
FIGURA 4 – TIRINHA DA MAFALDA
FONTE: Quino (1993, p. 381)
Na	Figura	4,	Mafalda,	uma	menina	de	8	anos,	sai	pela	casa	procurando	a	
mãe	para	lhe	fazer	uma	pergunta	sobre	o	“movimento	de	liberação	da	mulher”,	mas,	
ao	vê-la	 ligada	 apenas	 ao	 contexto	doméstico,	desiste.	É	 importante	destacar	que	
a	Mafalda	foi	criada	pelo	cartunista	Quino,	na	época	do	regime	militar	argentino.	
As	tirinhas	eram	publicadas	em	jornais	e	foram	a	estratégia	de	Quino	para	fazer	as	
pessoas	pensarem	diante	da	censura	que	existe	em	um	regime	militar.	
Como	 vimos	 na	 introdução	 deste	 tópico,	 tivemos	 mulheres	 que	 se	
manifestaram	ao	longo	dos	tempos	que	buscaram	transformar	sua	história,	porém,	
como um movimento propriamente dito, o movimento feminista levou um tempo 
para	 se	 constituir.	 Para	 Gohn	 (1985),	 o	movimento	 feminista	 é	 um	movimento	
de	 categorias	 específicas,	 assim	 como	 o	 movimento	 negro,	 o	 movimento	 de	
homossexuais,	o	movimento	de	defesa	do	índio	e	o	movimento	de	estudantes	e	
professores,	que	lutam	por	causas	específicas	e	circunstâncias	históricas.	
Quando	 grupos	 de	 mulheres	 se	 unem,	 fundam	 uma	 organização	 e	
criam,	por	exemplo,	um	Pronto-Socorro	para	a	mulher,	um	SOS,	voltado	
principalmente	contra	os	atos	de	violência	e	que	estão	submetidas	no	
cotidiano,	 é	 algo	muito	 distinto	 de	 quando	 grupos	 de	moradores	 se	
unem	para	reivindicarem	água,	luz	etc.	(GOHN,	1985,	p.	52).
 
Assim,	é	imprescindível	ressaltar	a	importância	dos	movimentos	sociais	
e,	 especialmente,	 o	movimento	 feminista.	Através	dele,	 as	mulheres	 buscaram	
seus	direitos,	afinal,	para	elas	tudo	precisou	ser	conquistado.	Desde	o	direito	de	
aprender a ler e a escrever, o direito de ter igualdade no casamento, de ter uma 
jornada	de	trabalho	igual	à	dos	homens	e	de	receber	um	salário	compatível	como	
a	função	que	desempenhavam,	até	o	direito	à	 licença	maternidade	foi	 fruto	de	
muitas	reivindicações.	Atualmente,	esses	direitos	fazem	parte	de	nosso	cotidiano,	
mas sua conquista foi uma arena de inúmeras batalhas.
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
7
Voltando	um	pouco	no	tempo,	a	partir	dos	ideais	da	Revolução	Francesa	
(1789):	 igualdade,	 liberdade	 e	 fraternidade,	 a	 sociedade	 foi	 se	 transformando	
sensivelmente.	 Com	 essa	 transformação,	 diversos	 agentes	 sociais	 passaram	 a	
reivindicar seus direitos. Entre eles, estavam as mulheres. Ainda no clima da 
Revolução	Francesa,	já	em	1791,	Olympe	Gouges	escreveu	a	Declaração dos Direitos 
da Mulher e da Cidadã.	 Este	 documento	 preconizava	 a	 igualdade	 jurídica	 entre	
homens e mulheres.
FIGURA 5 – OLYMPE DE GOUGES, CONSIDERADA A PRECURSORA DO FEMINISMO
FONTE: <encurtador.com.br/diEPV>. Acesso em: 5 nov. 2020.
É	interessante	ressaltar	que	Olympe	morreu	dois	anos	após	ter	escrito	a	
declaração	que	buscava	o	direito	das	mulheres	na	França.	E	o	que	aconteceu?	Foi	
condenada	à	guilhotina.	Teve	o	mesmo	destino	de	sua	precursora,	Joana	D’Arc.	A	
mesma	punição	que	era	dada	aos	criminosos,	foi	dada	a	elas	por	terem	buscado	
mudar sua realidade. 
Além	de	Olympe	de	Gouges,	 a	 intelectual	 inglesa	Mary	Wollstonecraft	
(1759-1797)	 também	 se	 engajou	 na	 luta	 pelos	 direitos	 das	mulheres.	 Foi	 uma	
figura	atuante	nas	causas	abolicionistas	inglesas	e	lutou	por	questões	ligadas	à	
política	e	à	educação.	Era	uma	intelectual	reconhecida	em	seu	país.	Tinha	o	desejo	
de transformar a sociedade e usou sua escrita como ferramenta de mudança. 
Enquanto,	em	outros	países,	as	mulheres	davam	sua	contribuição	para	a	
conquista	de	seus	direitos,	no	Brasil,	Nísia	Floresta	(1810-1885)	escrevia,	em	1832,	
Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens. Foi a partir desse momento, que as 
mulheres começaram a ter uma consciência de seu papel no mundo e de como 
desejavam	que	esse	papel	fosse.	Nísia	é	considerada	a	precursora	do	feminismo	
no Brasil, tendo lutado pelo direito das mulheres e dos escravos. 
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
8
FIGURA 6 – NÍSIA FLORESTA, PRECURSORA DO FEMINISMO NO BRASIL
FONTE: <http://www.agendabh.com.br/wp-content/uploads/2018/05/nisia-floresta.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
Vemos, portanto, que o movimento feminista surge a partir da 
necessidade de se buscar uma equidade de gênero. Os estudiosos costumam 
dividir	a	história	do	feminismo	em	períodos	denominados	ondas.	
3 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA
Nesse sentido, a primeira onda feminista	 surge	 no	 final	 de	 século	 XIX	
e	 início	do	 século	XX.	A	principal	demanda	era	a	 luta	pelo	direito	ao	voto	e	as	
ativistas	foram	chamadas	de	sufragistas	(no	inglês,	suffragette).	Entre	suas	principais	
reivindicações	estavam	o	direito	ao	voto	e	a	uma	vida	fora	do	lar.	Esse	movimento	
iniciou em Londres e com o passar do tempo, se espalhou por diversas partes do 
mundo.	 As	 sufragistas	 fizeram	 inúmeras	 manifestações,	 sendo	 presas	 diversas	
vezes,	sofrendo	preconceito	de	homens	que	não	as	consideravam	capazes	eainda	
de	outras	mulheres	que	as	classificavam	como	“loucas	e	arruaceiras”.	
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
9
FIGURA 7 – AS SUFRAGISTAS LUTANDO PELO DIREITO AO VOTO
FONTE: <https://movimentorevista.com.br/wp-content/uploads/2018/02/Suffragettes-Real-
1200x630.gif>. Acesso em: 5 nov. 2020.
É	preciso	ressaltar	que	esse	movimento	 foi	constituído	por	mulheres	
brancas	 e	 de	 classe	 média.	 Essa	 primeira	 onda	 do	 movimento	 procurava	
garantir	os	direitos	da	mulher	 como	um	 indivíduo	na	 sociedade,	visto	que,	
até	aquele	momento,	as	mulheres,	em	sua	maioria,	estavam	“destinadas”	ao	
ambiente	doméstico.	
Para situar você, acadêmico, em relação à luta das sufragistas, sugerimos que 
assista ao filme As sufragistas. Nele, você terá o relato de uma história real sobre a luta das 
feministas pelo direito ao voto na Inglaterra.
DICAS
POSTER DO FILME AS SUFRAGISTAS
FONTE: <http://br.web.img2.acsta.net/c_215_290/pictures/15/10/16/21/28/199248.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
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AS SUFRAGISTAS
 O filme As sufragistas (Suffragette) é uma produção britânica de 2015, com direção 
de Sarah Govon. A história é ambientada no ano de 1848 e mostra a luta das mulheres no 
combate às injustiças de gênero. Baseado em uma história real, o filme acompanha os 
primeiros movimentos feministas, com mulheres na luta por direito ao voto (ao sufrágio) e 
a repercussão disso na sociedade da época. 
No	Brasil,	 além	de	Nísia	 Floresta,	 a	 brasileira	 Bertha	 Lutz	 (1894-1976),	
bióloga	 e	 cientista,	 foi,	 de	 acordo	 com	 Pinto	 (2010),	 a	 primeira	 sufragista	 do	
Brasil.	Fundou	a	Federação	Brasileira	pelo	Progresso	Feminino	que	lutava	pelo	
direito ao voto feminino. Trabalhou arduamente em prol do voto feminino, 
especialmente durante o governo do presidente Getúlio Vargas. Foi candidata a 
deputada	federal,	em	1934,	sendo	eleita	apenas	como	suplente.	
FIGURA 8 – BERTHA LUTZ REPRESENTANDO O BRASIL EM CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
FONTE: <https://capricho.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/07/bertha3.
jpg?quality=85&strip=info>. Acesso em: 5 nov. 2020.
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
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FIGURA 9 – BERTHA LUTZ DE PÉ EM ENCONTRO COM O PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS
FONTE: <https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/collective-nitf-content-1540487760.89/
BerthaLutz.jpg/@@images/b56b618f-c0fe-474e-9f31-7973c07c88dd.jpeg>. Acesso em: 5 nov. 2020.
Ainda	na	primeira	onda	do	feminismo	no	Brasil,	destaca-se	o	movimento	
das	operárias	de	ideologia	anarquista,	elas	faziam	parte	da	“União	das	Costureiras,	
Chapeleiras	e	Classes	Anexas”.	
Em	um	de	seus	manifestos,	o	de	1917,	elas	escreviam:	“Se	refletirdes	um	
momento	vereis	quão	dolorida	é	a	situação	da	mulher	nas	fábricas,	nas	oficinas,	
constantemente,	amesquinhadas	por	seres	repelentes”	(PINTO,	2003,	p.	35	apud 
PINTO,	2010,	p.	16).	
Já	inseridas	no	mercado	de	trabalho,	viviam	em	condições	insalubres,	com	
jornadas	de	trabalho	de	até	14	horas,	com	salários	bem	menores	do	que	os	salários	
dos	homens	para	a	mesma	função	e	sem	nenhum	tipo	de	direito	trabalhista.	
Outro	nome	emblemático	na	história	do	 feminismo	no	Brasil	 é	Carlota	
Pereira	de	Queiróz	 (1892-1982).	Carlota	vinha	de	uma	 família	 rica	 e	 teve	mais	
chance	para	estudar	do	que	a	maioria	das	mulheres	de	sua	época.	
Inicialmente	foi	professora	e	formou-se	em	medicina	aos	34	anos.	Mesmo	
não	sendo	 integrante	de	nenhum	grupo	feminista	específico,	sempre	sentiu	na	
pele que as mulheres precisavam buscar seus espaços na sociedade. Foi a primeira 
deputada estadual eleita no Brasil, desde que as mulheres puderam votar. 
Nas	artes	 também	 tivemos	precursoras	que	 romperam	com	os	padrões	
estabelecidos	para	a	época.	Francisca	Edwiges	Neves	Gonzaga,	mais	conhecida	
como	Chiquinha	Gonzaga	(1847-1935),	era	filha	de	um	militar	com	uma	mulher	
filha	de	uma	escrava.	Cresceu	num	período	de	grandes	 transformações	 e	 teve	
acesso	à	educação	das	moças	de	famílias	abastadas	do	Rio	de	Janeiro.
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
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	Estudava	piano	e	se	dedicava	muito	a	esse	ofício.	Aos	16	anos	casou-se,	
mas	o	casamento	não	deu	certo,	pois	o	marido	não	“aprovava”	seu	amor	à	música.	
Saiu	de	casa	e	seguiu	sua	vida.	Tornou-se	compositora	e,	entre	suas	obras,	está	a	
primeira marchinha de carnaval Ó Abre Alas, composta para o carnaval da virada 
do	século.	Além	disso,	 foi	a	primeira	mulher	a	 reger	uma	orquestra	no	Brasil.	
Atuou	junto	ao	Movimento	Abolicionista,	lutando	pelo	fim	da	escravidão.	
Considerada uma abolicionista fervorosa, compunha partituras para 
vender e angariar fundos para a compra de cartas de alforria. Lutou junto a outros 
abolicionistas	pela	abolição	e	acompanhou	a	leitura	da	Lei	Áurea,	assinada	em	13	
de	maio	de	1888,	pela	Princesa	Isabel.	Era	a	primeira	vez	que	o	Brasil	tinha	uma	
mulher	no	comando	do	país,	pois	Dom	Pedro	II	estava	em	visita	a	Portugal.	
FIGURA 10 CHIQUINHA GONZAGA AOS 78 ANOS DE IDADE
 FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Chiquinhagonzaga4.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
E	não	podemos	nos	esquecer	de	Antonieta	de	Barros	(1901-1952),	negra,	
professora	e	escritora.	Órfã	de	pai,	Antonieta	foi	criada	pela	mãe,	que	trabalhava	
como	lavadeira	para	sustentar	a	família	e	garantir	que	a	filha	pudesse	estudar.	
Formou-se	na	escola	normal	aos	21	anos	e	tornou-se	professora,	criando	
uma escola para alfabetizar crianças e adultos. Escreveu para os jornais da cidade 
de	Florianópolis,	 sob	o	pseudônimo	de	Maria	da	 Ilha.	Mais	 tarde	 essas	 ideias	
foram reunidas na obra Farrapos de ideia.
	 Além	 disso,	 fundou	 um	 jornal	 no	 qual	 publicava	 questões	 ligadas	 à	
educação,	 política,	 direitos	 das	 mulheres	 e	 preconceito	 racial.	 Filiou-se	 a	 um	
partido	político	e,	em	1934,	foi	eleita	deputada	estadual	pelo	Partido	Liberal	(PL).	
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
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Os	 jornais	 da	 época	 publicaram	 a	 seguinte	 notícia:	 “Antonieta	 de	
Barros	está	eleita.	A	sua	inclusão	na	chapa	pelo	Partido	Liberal	Catarinense	foi,	
incontestavelmente,	 a	 maior	 conquista	 até	 hoje	 assinada	 pelo	 feminismo	 em	
nossa	terra”	(TOMÉ,	2017,	p.	61).	Assim,	Antonieta	de	Barros	tornou-se	a	primeira	
deputada negra a ser eleita no Brasil.
FIGURA 11 – ANTONIETA DE BARROS. PRIMEIRA DEPUTADA NEGRA ELEITA NO BRASIL
FONTE: <http://www.afreaka.com.br/wp-content/uploads/2015/01/Antonieta-de-Barros2.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020. 
E você, acadêmico, já tinha ouvido falar de algumas dessas mulheres em 
suas	aulas	de	História	ou	de	Sociologia?	Uma	reflexão	importante	a	ser	feita	é	que	
nem	sempre	os	autores	de	materiais	didáticos	usados	nas	escolas	de	educação	
básica	trazem	à	tona	o	papel	feminino	ao	longo	dos	tempos.	
Essa	é	uma	constatação	que	nos	aponta	a	necessidade	de	ampliar	leituras	
e	observar	que	a	história	foi	contada	por	pessoas	que	possuíam	um	determinado	
lugar	na	sociedade,	a	exemplo	de	Foucault	(1996)	tinham	uma	“posição-sujeito”.	
E, desse lugar, narram a história. Esse lugar legitimado de escrita, por muito 
tempo, foi ocupado em sua maioria pelos homens, que contavam a história a 
partir dele, a partir de sua lógica e de seu olhar. 
A	maioria	das	vezes,	desse	lugar,	não	se	levou	em	consideração	o	lugar	
das	mulheres	nem	a	importância	do	seu	papel,	 tão	pouco	a	sua	militância	na	
luta por direitos. 
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
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CAPA DO LIVRO 50 BRASILEIRAS INCRÍVEIS PARA CONHECER ANTES DE CRESCER
DICAS
FONTE: <https://d188rgcu4zozwl.cloudfront.net/content/B076FH2HP8/
resources/1604187889>. Acesso em: 5 nov. 2020.
 O livro 50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer, da autora Débora 
Thomé, é uma obravoltada ao público infantil, a obra resgata a história de brasileiras que 
tiveram um papel importante na luta pelo direito ao voto, pela participação política, no 
mundo das ciências, dos esportes, das artes, do conhecimento etc. 
 Vale a pena conferir!
 Boa leitura!
A luta pelo voto, ou seja, o direito ao sufrágio universal, foi uma das 
primeiras	bandeiras	do	movimento	feminista,	através	dos	tempos.	Essa	jornada	
foi	 longa	 e	 antiga	 e	 “espalhou-se”	 pelo	 mundo	 a	 partir	 da	 luta	 dos	 grupos	
feministas. Observem o Quadro 1, que traz alguns marcos dessa trajetória. 
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
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QUADRO 1 – ANO DE CONQUISTA DO VOTO FEMININO
Ano País
1893 Nova Zelândia
1906 Finlândia
1917 Rússia
1919 Estados Unidos
1929 Equador
1934 Brasil
FONTE: A autora
Para ampliar seu olhar, recomendamos que assista ao vídeo O voto 
feminino: um direito que conquistou o mundo em 122 anos, disponível no endereço: 
https://www.youtube.com/watch?v=9rrQ2a2p7Xo&t=1s. Nele você tem um panorama 
do tempo que o mundo levou para permitir que as mulheres tivessem o direito de votar. 
Confira e boas reflexões!
DICAS
4 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA
Entre	 os	 anos	 1960	 e	 1970 temos a segunda onda feminista, a qual 
buscava	o	direito	das	mulheres	sobre	seus	corpos	e	sobre	as	questões	ligadas	ao	
prazer.	Como	figura	principal	desse	momento	 temos	Simone	de	Beauvoir.	Em	
seus	estudos,	ela	trazia	a	público	questões	como	o	aborto,	a	violência	sexual	e	a	
homossexualidade.	
A obra O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, desconstrói a ideia de que 
nascemos mulheres. É de Beauvoir a frase que marcou a história do feminismo: 
“Ninguém	nasce	mulher:	 torna-se	mulher”	 (BEAUVOIR,	 1980,	 p.	 9).	 Para	 ela,	
o	 contexto	 social	 vai	 transformando	 as	mulheres	 ao	 longo	de	 suas	 vidas.	 Isso	
contrapõe	a	 ideia	de	que	“nascemos	prontas	 e	programadas”	para	 cumprir	os	
papéis	sociais	determinados	pela	sociedade	através	dos	tempos.	Beauvoir	(1980)	
desconstrói	assim,	a	ideia	de	que	é	“natural”	que	as	mulheres	serem	mães,	donas	
de casa, saibam bordar, cozinhar. É com ela que aprendemos que todas essas 
funções	foram	criadas	e	atribuídas	como	sendo	das	mulheres	e	que	elas	não	são	
naturais,	mas,	sim,	construídas	socialmente	ao	longo	da	vida.	Vejamos	este	trecho	
da obra O segundo sexo – volume II: a experiência vivida.
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
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Ninguém	nasce	mulher:	torna-se	mulher.	Nenhum	destino	biológico,	
psíquico,	econômico	define	a	forma	que	a	fêmea	humana	assume	no	
seio	da	sociedade;	é	o	conjunto	da	civilização	que	elabora	esse	produto	
intermediário	entre	o	macho	e	ao	castrado	que	qualificam	de	feminino	
[...]	Entre	meninas	e	meninos,	o	corpo	é,	primeiramente,	a	irradiação	
de	 uma	 subjetividade,	 o	 instrumento	 que	 efetua	 a	 compreensão	 do	
mundo:	é	através	dos	olhos,	das	mãos	e	não	das	partes	sexuais	que	
aprendem	o	universo	(BEAUVOIR,	1980,	p.	9)
FIGURA 12 – SIMONE DE BEAUVOIR
FONTE: <http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/2018/01/simone.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
Beauvoir	 (1980)	busca	desconstruir	a	 ideia	de	que	mulheres	e	homens	
nascem	prontos	para	vida	em	sociedade.	Assim,	pontua	a	noção	de	gênero	ligada	
a	uma	construção	social,	que	se	aprende	ao	longo	da	vida.	Para	reforçar	essa	
ideia,	destaca	que	essa	construção	social	inicia	na	infância,	e	que	tanto	meninas	
como	meninos,	descobrem	o	mundo	pelos	sentidos,	pela	experimentação,	que	
nessa	 fase	 não	 está	 vinculada	 aos	 órgãos	 genitais.	 É	 nessa	 perspectiva	 que	
Beauvior	(1980)	traz	à	tona	o	debate	sobre	a	sexualidade	junto	aos	estudos	de	
gênero	até	o	momento.	
A	década	de	1960	teve	ainda,	nos	Estados	Unidos,	como	relata	Pinto	
(2010),	o	movimento	hippie	que	propunha	uma	nova	maneira	de	viver,	que	se	
posicionava	contrariamente	aos	valores	morais	e	de	consumo	norte-americano.	
Tinham como lema “paz e amor”. Esse movimento envolveu homens, 
mulheres	e	crianças.	Já,	na	Europa,	houve	o	“Maio	de	68”,	em	Paris.	Movimento	
protagonizado por estudantes que ocuparam a Sorbonne, questionando a 
ordem	acadêmica	que	imperava	até	então.	Essa	década	apresentou,	ainda,	o	
lançamento	da	pílula	anticoncepcional,	primeiro	nos	Estados	Unidos,	depois	
na Alemanha e, em seguida, para todo o mundo. O fato de poder escolher 
o	momento	de	 ter	 filhos,	 planejar	 o	 número	de	filhos	 previamente	 foi	 uma	
revolução	na	vida	das	mulheres.	
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
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No	contexto	brasileiro,	tivemos	a	renúncia	de	Jânio	Quadros	e	a	chegada	
de	 Jango	 ao	 poder.	 Para	 Pinto	 (2010),	 o	 ano	 de	 1963	 foi	 de	 radicalizações:	 a	
esquerda partidária; os confrontos entre estudantes e o governo; o golpe militar 
em	1964;	o	Ato	 Institucional	n°	5	 (AI-5),	que	 transformou	o	presidente	em	um	
ditador.	Vivíamos,	portanto,	um	período	de	 repressão,	 enquanto,	na	Europa	e	
nos Estados Unidos, o movimento feminista ganhava cunho libertário. 
Entre	 as	décadas	de	 1940	 e	 1950	 Friedan	 (1971)	desenvolve	um	estudo	
intitulado	“O	problema	sem	nome”.	Nele,	ela	descreve	uma	situação	vivenciada	
pelas	mulheres	norte-americanas	 entre	 as	décadas	de	 1940	 a	 1960.	Havia	uma	
tranquilidade que pairava no ar, uma vida feliz. Essas mulheres tinham sua 
família,	 filhos	 (entre	dois	 a	 quatro),	 uma	 casa,	 um	marido	que	 as	 sustentasse.	
Encontravam	as	amigas	em	cafés,	enquanto	as	crianças	estavam	na	escola.	Friedan	
(1971,	 p.	 19)	 descreve	 que	 a	 “dona	 de	 casa”	 dos	 subúrbios	 tornou-se	 o	 que	 a	
autora	chamou	de	“concretização	do	sonho	da	americana	e	a	 inveja	 também”.	
Isso	porque,	a	dona	de	casa	norte-americana	estava:
libertada pela ciência dos perigos do parto, das doenças de suas avós 
e	 das	 tarefas	 domésticas,	 era	 sadia,	 bonita,	 educada	 e	 dedicava-se	
exclusivamente	ao	marido,	aos	filhos	e	ao	lar,	encontrando	assim	sua	
verdadeira	 realização	 feminina.	Dona	de	 casa	 e	mãe,	 era	 respeitada	
como companheira no mesmo plano que o marido. Tinha liberdade 
de	escolher	automóveis,	roupas,	utensílios,	supermercados	e	possuía	
tudo	o	que	uma	mulher	jamais	sonhou	(FRIEDAN,	1971,	p.	19).
Com	a	descrição	da	autora,	a	vida	dessas	mulheres	parece	ter	evoluído	
consideravelmente,	 afinal,	 havia	 um	 rompimento	 de	 situações	 vivenciadas	
por	 suas	 avós	que	 elas	não	viviam	mais	 (FRIEDAN,	1971).	Tinham	 também	a	
liberdade	de	escolher	automóveis	e	itens	ligados	as	suas	atribuições	domésticas.	
Destacavam	os	papéis	de	“dona	de	casa	e	mãe”,	como	sendo	as	duas	esferas	nas	
quais aquelas mulheres atuavam e tinham o reconhecimento e o respeito “no 
mesmo	plano	do	marido”.	Soava,	assim,	como	uma	vida	perfeita,	afinal	tinham	o	
que uma mulher jamais havia sonhado. 
Então,	 onde	 estaria	 o	 chamado	 “problema	 sem	 nome”?	 A	 medicina	
começou	 a	 registrar,	 na	 época,	 uma	 procura	 das	mulheres	 pelos	 consultórios	
psiquiátricos.	Elas	queixavam-se	de	sentir	um	vazio,	de	ataques	de	choro	“sem	
motivo”,	 de	 irritação	 com	 as	 crianças.	 Havia,	 no	 dizer	 dessas	mulheres,	 uma	
sensação	 de	 vazio,	 de	 incompletude,	 um	 sentimento	 de	 não	 existir,	 tudo	 isso	
aliado	a	um	cansaço	com	a	rotina	com	os	filhos,	a	casa,	o	casamento.	O	tratamento	
usado	para	isso,	na	época,	era	o	encaminhando	para	psicólogos	e	psiquiatras	que	
administravam tranquilizantes para esse “problema”. 
Na	década	de	1950,	“o	mal	sem	nome”,	aparece	de	forma	eufemizada	em	
revistas	femininas	da	época	(New York Times, Nweweek, Time, Good Housekeeping, 
CBS),	e	os	motivos	apontados	para	essa	“infelicidade	feminina”	em	reportagens	
da	época	referiam-se	à	incompetência	dos	profissionais	que	davam	manutenção	
a	aparelhos	eletrodomésticos,	ao	excesso	de	reuniões	de	pais	na	escola,	e	ainda	a	
educação	elevada	que	as	donas	de	casa	apresentavam	naquele	momento	histórico.	
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTODO CONCEITO DE GÊNERO
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Friedan	(1971)	também	destaca	que,	na	década	de	1950,	muitas	mulheres	
abandonavam a universidade para se dedicar ao casamento e apoiar o marido em 
seus	projetos	profissionais.	
A	proporção	de	mulheres	universitárias	caiu	de	47%	em	1920,	para	35%	
em	1958,	e,	a	partir	de	1950,	ir	à	universidade	passou	a	fazer	parte	do	plano	de	
arrumar	 um	marido.	Além	 disso,	 60%	 das	 jovens	 que	 entravam	 no	 ambiente	
universitário,	largavam	os	estudos	com	medo	de	que	o	“excesso	de	cultura”	fosse	
atrapalhar	o	matrimônio.	
O	problema	 sem	nome,	 portanto,	 estava	 relacionado	 a	uma	 espécie	 de	
crise	de	identidade,	na	qual	as	mulheres	não	se	enxergavam	como	protagonistas	
de	 sua	 própria	 história,	 não	 tinham	 uma	 carreira	 e	 nem	 uma	 profissão	 que	
tivessem	 escolhido	 e	 estavam	 atreladas	 à	 realidade	 da	 casa,	 dos	 filhos,	 do	
casamento	e	de	toda	a	rotina	doméstica.	A	própria	autora	termina	seu	texto	com	
a	seguinte	questão:	“Quero	algo	mais	que	meu	marido,	meus	filhos	e	minha	casa”	
(FRIEDAN,	1971,	p.	31).
O	 ideal	 feminino	 norte-americano	 veiculado	 pela	 mídia	 da	 época	
destacava	a	figura	da	mulher	branca,	magra,	loira,	casada,	com	no	mínimo	três	
filhos,	 com	 uma	 casa	 confortável,	 com	 os	 aparelhos	 eletrodomésticos	 criados	
para facilitar a “sua vida”. 
Trata-se,	 portanto,	 de	 uma	 realidade	 vivida	 por	 mulheres	 brancas,	
de	 camadas	 médias,	 o	 que	 corresponde	 dizer,	 necessariamente,	 ser	 muito	
diferente da realidade de mulheres negras e de camadas mais pobres. Estas, por 
exemplo,	sempre	trabalharam	fora	de	casa	de	forma	remunerada,	por	mais	que	
a	 remuneração	 não	 fosse	 justa,	 pela	 necessidade	 que	 tinham	 de	 se	 sustentar,	
realidade	completamente	diferente	das	mulheres	observadas	por	Friedan	(1971).	
Assim,	 descreve	 Pinto	 (2010),	 o	 feminismo	 se	 configura	 como	um	movimento	
libertário,	que	reivindica	não	somente	o	espaço	para	a	mulher,	seja	no	trabalho,	
na	vida	pública,	na	educação.	O	movimento	passa	a	lutar	por	uma	nova	forma	
de relacionamento entre homens e mulheres e por uma liberdade e autonomia 
feminina.	A	pauta	é	que	a	mulher	tenha	autonomia	para	decidir	sobre	sua	vida	e	
sobre seu corpo. 
Durante	a	década	de	1970,	no	Brasil,	também	tivemos	o	movimento	de	luta	
por	creches	em	São	Paulo.	Gohn	(1985)	destaca	que,	inicialmente,	os	movimentos	
passaram	 por	 algumas	 fases:	 lutas	 isoladas	 (1972);	 clubes	 de	 mães	 (1972-
1974);	 movimento	 de	 carestia	 (1973-1978);	 movimento	 de	 anistia	 (1977-1978);	
movimento	 feminino	 (1977-1978).	 E,	 em	 1979,	 ocorria	 o	 I	 Encontro	da	Mulher	
Paulista	e	nele	o	lançamento	oficial	do	“Movimento	de	Luta	por	Creches”.	Em	
1975,	Gayle	Rubin	escreve	um	discurso	dizendo	que	o	sistema	social	sexo/gênero	
transforma	a	sexualidade	biológica	em	produtos	da	atividade	humana,	porém,	a	
presença	do	corpo	na	fala	de	Rubin	é,	conforme	Laquer	(2001),	tão	velada	que	fica	
praticamente oculta. 
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
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Somente	na	década	de	1980,	as	mulheres	negras	trazem	para	a	discussão	
do	 tema	as	questões	de	gênero	vinculadas	às	demandas	 raciais,	até	então	 fora	
de	debate.	A	partir	daí	é	que	se	descreve	que	o	preconceito	de	gênero	atinge	as	
mulheres	de	 formas	diferentes.	Aponta-se,	portanto,	 que	a	 interseccionalidade	
do	movimento	feminista,	até	então	preconizado	pela	maioria	branca	no	centro	
das	discussões	e	pautas	de	luta.	Essa	interseccionalidade	do	conceito	do	movimento	
feminista, nos coloca diante do que diversas autoras têm buscado em seus estudos: 
observar	que	existem	feminismos. 
Joana	 Burigo	 em	 entrevista	 cedida	 à	 Carolina	 Brito	 (FEMINISMOS,	
2020),	 destaca	 a	 importância	 de	 olharmos	 para	 os feminismos, visto que um 
conceito	único,	no	singular,	não	dá	conta	de	explicar	a	realidade,	as	pautas	e	as	
reivindicações	de	mulheres	tão	diferentes	entre	si,	seja	por	serem	negras,	brancas,	
pardas,	indígenas	ou	quilombolas.	Seja	por	serem	economicamente	diferentes,	por	
terem	diferentes	leituras	ou	pelo	desigual	acesso	à	educação	e	consequentemente,	
desigual	remuneração.	Um	conceito	único,	não	abarca	essas	singularidades.	
No	Brasil,	o	feminismo	negro	começa	a	se	constituir	a	partir	dos	anos	1980.	
Em	1985,	ocorre	o	3ᵒ	Encontro	Latino-Americano	em	Bertioga	(SP),	onde	surge	
uma	organização	de	mulheres	negras	 com	o	objetivo	de	 construir	visibilidade	
política	no	campo	feminista.	Neste	momento	surgem	os	primeiros	coletivos	de	
mulheres negras. 
Nesse	 sentido,	 Ribeiro	 (2017)	 destaca	 que	 não	 podemos	 dizer	 que	 o	
feminismo	negro	possuiu	ondas.	A	autora	usa	esse	argumento,	afirmando	que	
as mulheres negras foram silenciadas no interior do movimento, visto que suas 
lutas	 não	 eram	 consideradas	 feministas.	 “O	 peso	 de	 uma	 voz	 única	 e	 o	 não	
reconhecimento de outras vozes criam uma hierarquia de quem pode falar e de 
qual	história	merece	ser	ouvida	e	catalogada”	(RIBEIRO,	2017,	s.p.).	
5 A TERCEIRA ONDA DO FEMINISMO
A terceira onda do feminismo	tem	como	marco	teórico	as	produções	de	
Judith	Butler,	que	coloca	em	pauta	a	desnaturalização	do	gênero.	Afinal,	somos	
tão	diversos	uns	dos	outros.	Assim,	surge	uma	nova	demanda:	quem	é	mesmo	
o sujeito do feminismo? Com isso, se constrói a teoria Queer. Essa nova área de 
estudos	traz	à	tona	a	pluralidade,	a	 instabilidade,	a	fluidez	das	identidades	de	
gênero e seus desdobramentos. Neste sentido, a autora preconiza “Queer adquire 
todo	o	 seu	poder	precisamente	através	da	 invocação	 reiterada	que	o	 relaciona	
com	acusações,	patologias	e	insultos”	(BUTLER,	1990,	p.	58,	grifo	nosso).	Por	isso,	
a	proposta	é	dar	um	novo	significado	ao	termo,	passando	a	entender	queer como 
uma prática de vida que se coloca contra as normas socialmente aceitas.
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
20
Ao	nos	 referirmos	 ao	 conceito	de	 gênero	 é	 imprescindível	 falarmos	da	
historiadora	norte-americana,	Joan	Scott.	É	partir	de	seus	estudos	que	o	conceito	
de	gênero	ganha	uma	nova	roupagem.	Para	Scott	(1995),	o	gênero	é	entendido	
como	elemento	constitutivo	das	relações	sociais	baseadas	nas	diferenças	entre	os	
sexos,	considerando	também	as	relações	de	poder	que	existem	entre	as	pessoas.	
Assim, a autora destaca quatro elementos constitutivos dessa 
construção,	 são	 eles:	 os	 símbolos	 culturalmente	 disponíveis,	 baseados	 em	
representações	simbólicas	e	em	geral	contraditórias	 (Eva	e	Maria,	escuridão	
e	 luz);	 conceitos	 normativos	 presentes	 nas	 doutrinas	 religiosas,	 jurídicas,	
educativas,	científicas	que	exemplificam	as	construções	binárias	do	que	é	ser	
homem	e	ser	mulher;	a	fixidez	em	olhar	para	o	conceito	de	gênero	para	além	
de	uma	esfera	que	articula	uma	relação	binária,	é	necessário	observar	a	esfera	
política,	as	instituições	e	a	organização	social;	e,	o	quarto	elemento	refere-se	à	
identidade	que	deve	ser	observada	como	algo	subjetivo.	Scott	(1995)	articula	
esses quatro elementos destacando seu caráter relacional, olhando para 
realidades que se constroem histórica e socialmente. 
Ao	 pensarmos	 o	 conceito	 de	 gênero	 e	 sua	 inserção	 no	 debate	
universitário,	 é	 importante	 destacar	 o	 papel	 da	 antropóloga	 brasileira,	
professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Miriam Pilar Grossi. A 
pesquisadora traz para o cenário a temática do gênero e de diversos conceitos 
a	 ele	 como	 sexualidade,	 orientação	 sexual,	 violência	de	gênero,	 identidade,	
movimentos	LGBT	entre	outros.	Além	disso,	 funda	o	Núcleo	de	 Identidade	
de	Gênero	e	Subjetividades	(NIGS),	que	abarca	projetos	de	pesquisa	sobre	as	
temáticas,	organiza	eventos	de	debates	e	socialização	de	pesquisas	científicas,	
articulando sempre um diálogo entre movimentos sociais, academia e a 
sociedade.	 O	 NIGS,	 desde	 1991,	 foi	 sendo	 construído	 como	 um	 espaço	
de	 pesquisa	 e	 estudos	 de	 gênero	 e	 também	 de	 metodologia	 da	 pesquisa.	
Mantém	parcerias	comequipes	de	investigação	de	universidades	brasileiras	e	
europeias,	organizações	não	governamentais,	movimentos	sociais	e	ofertando	
regularmente	eventos	acadêmicos,	jornadas	de	estudos	e	oficinas.	
Atualmente,	 o	 NIGS,	 compõe	 o	 Instituto	 de	 Estudos	 de	 Gênero	 (IEG)	
que	tem	como	objetivo	o	ensino,	a	pesquisa	e	a	extensão	no	campo	dos	estudos	
de	 gênero	 e	 feminismos,	 e	 que	 está	 atrelado	 à	Universidade	 Federal	 de	 Santa	
Catarina	desde	a	sua	criação	em	1991.	
Vale a pena conhecer as pesquisas, os estudos e as ações desenvolvidas no 
pelo IEG. Então acesse: ieg.ufsc.br. Neste endereço, você encontrará diversos laboratórios 
de pesquisa, eventos acadêmicos, publicações, trabalhos científicos e ainda ações de 
extensão. Bons estudos!
DICAS
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
21
Atualmente,	existem	diversos	grupos	de	mulheres	que	 lutam	por	causas	
ligadas aos direitos das mulheres nas mais diversas esferas sociais. No Brasil, 
por	exemplo,	temos	a	Universidade	Livre	Feminista.	Ela	surge	a	partir	de	2010,	
ligada	 ao	 Centro	 Feminista	 de	 Estudos	 e	 Assessoria.	 Trata-se	 de	 um	 projeto	
em	permanente	 construção,	 que	 busca	 reunir	 diversas	 áreas	 do	 conhecimento	
com o objetivo de lutar pelo espaço da mulher nas esferas sociais. Veja, como o 
movimento se descreve: 
É	um	projeto	feminista,	construído	de	forma	coletiva	e	colaborativa,	
cujo	 objetivo	 é	 congregar,	 catalisar	 e	 fomentar	 ações	 educativas,	
culturais,	artísticas;	de	produção	de	conhecimento	e	compartilhamento	
de saberes acadêmicos, populares e ancestrais, numa perspectiva 
contracultural	 feminista,	 antirracista	 e	 anticapitalista.	 Através	 da	
Universidade	 Livre	 pretendemos	 promover	 a	 reflexão	 e	 a	 troca	
de	 ideias,	 vivências	 e	 experiências	 entre	 mulheres	 de	 diferentes	
identidades	 e	 campos	 de	 atuação	 (político,	 artístico,	 cultural,	
acadêmico,	comunitário),	assim	como	com	outros	grupos	e	indivíduos	
(A	UNIVERSIDADE	LIVRE,	2020,	s.p.).	
Assim,	 esse	 movimento	 torna-se	 libertário,	 na	 medida	 em	 que	 busca	
romper	com	um	modelo	pré-definido	de	sociedade	e	de	universidade,	buscando	
novas	possibilidades	de	construção	e	compartilhamento	de	conhecimentos	sobre	
as mulheres nas mais variadas áreas da sociedade. 
No	contexto	brasileiro,	temos,	no	ano	2000,	a	primeira	edição	da	Marcha	
das	 Margaridas.	 Esse	 movimento	 se	 constrói	 a	 partir	 da	 união	 de	 mulheres	
ligadas ao meio rural, de diversos lugares do Brasil, que lutavam contra fome, 
contra	pobreza	e	contra	violência	sexista.	
Trata-se	de	uma	ação	promovida	pela	Contag,	Federações	e	Sindicatos,	
que	 tem	 sua	 consolidação	 através	 do	 Movimento	 Sindical	 de	 Trabalhadores	
e	 Trabalhadoras	 Rurais	 (MSTTR),	 Movimentos	 Feministas	 e	 de	 mulheres	
trabalhadoras e centrais sindicais. 
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
22
FIGURA 13 – PRIMEIRA EDIÇÃO DA MARCHA DAS MARGARIDAS. AGOSTO DE 2000
FONTE: <https://farm66.staticflickr.com/65535/48475023737_f640055a72_o.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
Desde lá, a marcha tem crescido e continua reunindo mulheres do campo 
e	da	floresta	na	luta	por	diversos	direitos.	Em	agosto	de	2019,	mais	de	100	mil	
mulheres	 agricultoras,	marisqueiras	 e	 quilombolas	de	diversas	partes	do	país,	
se	 reuniram	 para	 defender	 a	 construção	 de	 políticas	 públicas	 voltadas	 a	 sua	
condição	de	vida	e	de	trabalho.	
Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com Soberania Popular, 
Democracia,	Justiça,	Igualdade	e	Livre	de	Violência”,	mulheres	do	campo,	florestas	
e	vindas	de	todos	os	estados	do	Brasil,	uniram-se	para	denunciar	o	desmonte	de	
direitos	promovido	pelo	atual	governo	e	reafirmaram	seu	protagonismo	na	luta	
por direitos sociais.
FIGURA 14 – MARCHA DAS MARGARIDAS (2019)
FONTE: <https://cimi.org.br/wp-content/uploads/2019/08/margaridas-mele-dornelas-02.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
23
Nesta	 linha	 de	 luta	 por	 direitos	 humanos	 é	 imprescindível	 ressaltar	 o	
papel	de	Malala	Yousafzai	(1997).	Moradora	do	Vale	do	Swat,	no	Afeganistão,	ela	
viveu a realidade de ver apenas o nascimento dos meninos serem comemorados. 
Seu	pai	sempre	foi	ligado	à	luta	por	direitos	e	incentivou	a	filha	a	estudar,	num	
país	onde	esse	direito	não	é	extensivo	às	mulheres.	Seu	pai,	administrava	uma	
escola que recebia meninas, mesmo que de forma clandestina. E, com o regime 
extremista	do	Talibã,	essas	escolas	passaram	a	ser	destruídas.	
Assim,	 em	uma	manhã,	 o	 ônibus	 que	 levava	Malala	 e	 suas	 amigas	 da	
escola	para	suas	casas,	foi	interceptado	pelos	soldados	do	Talibã.	Ao	pararem	o	
ônibus,	a	pergunta	foi	feita	“Quem	é	Malala?”	Em	seguida,	diversos	tiros	foram	
disparados e Malala foi atingida com tiro na cabeça. A partir daquele momento, 
outra luta de Malala foi travada: a luta pela vida. 
Depois	 de	 um	 longo	 tempo	 de	 recuperação,	 de	 ser	 transferida	 para	
Inglaterra para ter o tratamento adequado, Malala sobreviveu. E continua lutando 
pelo	direito	das	meninas	de	estudarem.	Em	2013,	aos	16	anos,	foi	a	Nova	Iorque	e	
num encontro da ONU, fez o seguinte pronunciamento: “Nossos livros e canetas 
são	as	armas	mais	poderosas.	Uma	criança,	um	professor,	um	livro	e	uma	caneta	
podem	mudar	 o	mundo.	 Educação	 é	 a	 única	 solução”.	 Em	 2014,	 aos	 17	 anos,	
Malala Yousafzai, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Foi a mulher mais jovem a 
receber esse prêmio. 
FIGURA 15 – MALALA YOUSAFZAI EM DISCURSO
FONTE: <https://static.independent.co.uk/s3fs-public/thumbnails/image/2016/02/01/11/malala.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
24
LIVROS DE MALALA EM PORTUGUÊS
DICAS
FONTE: <https://img.estadao.com.br/fotos/crop/1200x1200/resources/
jpg/2/9/1568309918492.jpg?xcd_image_optimization=false>. Acesso em: 5 nov. 2020.
Acadêmico, essas são produções de Malala traduzidas para o português. Elas abordam sua 
história, o contexto do atentado, a sua luta e a de seu pai para oportunizarem às meninas 
o direito de estudar. Há livros direcionados ao público infantil e também ao público adulto. 
Sugerimos que você comece lendo Eu sou Malala para conhecer sua trajetória. Boa leitura!
Outra liderança feminina que tem propagado suas ideias feministas 
atualmente	é	a	nigeriana	Chimamanda	Ngozi	Adiche	(1977).	Escritora	e	feminista,	
Chimamanda	é	autora	de	vários	livros	como:	Meio Sol	(2008),	O hibisco roxo	(2011),	
Sejamos todos feministas	(2015)	e	Para educar crianças feministas	(2017).	
Filha de um professor e de uma administradora, desde muito cedo 
fascinou-se	pela	leitura	e	pela	escrita.	Mudou-se,	aos	19	anos,	para	a	Filadélfia,	
nos Estados Unidos, para dar continuidade em seus estudos. 
TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NO MUNDO E NO BRASIL
25
	Em	2009,	participou	do	TED	EX,	 falando	para	uma	plateia	de	maioria	
absoluta	branca,	com	a	texto	O perigo de uma história única. Nesse compartilhamento, 
Chimamanda	fala	dos	estereótipos	sociais	que	a	população	da	América	possui	
em	relação	à	África	e	a	 falta	de	conhecimento	que	americanos	 têm	em	relação	
aos	africanos,	é	o	que	ela	chama	de	conhecer	uma	história	única	e	desconhecer	a	
multiplicidade	e	complexidade	da	vida	em	sociedade.
FIGURA 16 – CHIMAMANDA NGOZI ADICHE
FONTE: <http://www.afreaka.com.br/notas/chimamanda-adiche-escrevendo-uma-nova-historia-
para-africa/>. Acesso em: 5 nov. 2020.
Suas	obras	abordam	assuntos	ligados	à	imigração,	desigualdade	étnico-
raciais	 e	 de	 gênero,	 situação	 político-social	 dos	 países	 africanos,	 entre	 outros	
temas. É autora africana de referência na atualidade, e assina romances, peças 
teatrais,	poemas	e	coleções	de	histórias.	Vale	a	pena	conferir	suas	obras!
UNIDADE 1 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTODO CONCEITO DE GÊNERO
26
LIVROS DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHE EM PORTUGUÊS
DICAS
FONTE: A autora
 Acadêmico, aqui estão algumas obras de Chimamanda Ngozi Adichie em 
português. Ela é uma das referências internacionais da literatura feminista mundial e, apesar 
de dizer em entrevistas que não deseja falar do lugar da “academia”, ela aborda temáticas 
muito importantes ao debate acadêmico. Boas descobertas!
Acadêmico,	 assim,	 encerramos	 o	 Tópico	 1	 desta	 unidade.	No	 próximo	
tópico, nos debruçaremos sobre os conceitos de diversidade, identidade e 
diferença,	relacionando-os	à	temática	central	de	nosso	livro	que	são	as	relações	
de gênero. 
27
Neste tópico, você aprendeu que:
• O movimento de mulheres que lutaram por acesso a direitos que lhes eram 
negados,	ocorreu	em	diversos	períodos	históricos	diferentes.
• As mulheres que lutaram por seus direitos foram chamadas de feministas. 
• Uma das primeiras bandeiras de luta das mulheres foi o direito ao voto, o 
sufrágio universal, que foi conquistado por elas ao longo de muito tempo. 
•	 Que	o	conceito	de	gênero	surgiu,	inicialmente,	para	referir-se	às	bandeiras	de	
lutas feministas. 
•	 Que	o	movimento	feminista	é	caracterizado	por	momentos	distintos	chamados	
de	 ondas,	 e	 que	 abarcam	um	 conjunto	 de	 reflexões	 acerca	 da	 condição	 das	
mulheres naquele determinado momento. 
RESUMO DO TÓPICO 1
28
1 Neste tópico vimos como o movimento feminista e suas bandeiras de lutas 
foram	se	construindo	através	dos	 tempos.	No	que	se	refere	à	história	do	
movimento	feminista,	classifique	as	afirmativas	usando	V	para	verdadeiras	
e F para falsas. 
(			)	 O	movimento	 feminista	 surge	nos	anos	1950	a	partir	da	publicação	da	
obra	“O	segundo	Sexo”	de	Simone	de	Beauvoir.	
(			)	 Inicialmente,	os	movimentos	de	mulheres	buscaram	lutar	pelo	direito	ao	
voto,	visto	que	não	eram	consideradas	cidadãs.	
(			)	 Já	na	Antiguidade,	as	mulheres	lutavam	pelo	direito	sobre	seus	corpos	e	
pelo direito de falar sobre seus desejos e prazeres. 
(			)	 O	 conceito	 de	 gênero	 surge	 vinculado	 ao	 termo	 mulher,	 visto	 que	
inaugura	as	discussões	e	reinvindicações	das	mulheres.	
Assinale	a	opção	que	possui	a	sequência	CORRETA.
a)	(			)	F,	F,	V,	V.
b)	(			)	F,	V,	F,	V.	
c)	 (			)	V,	V,	F,	F.
d)	(			)	V,	F,	V,	F.
2 Desde a Antiguidade, tivemos mulheres que buscaram romper com as 
amarras sociais nas quais estavam “presas”. Assim, se lançavam a lutar para 
transformar	sua	realidade.	Um	desses	casos	foi	o	de	Hipátia	de	Alexandria.	
Em	relação	a	sua	trajetória	de	vida,	escolha	a	alternativa	CORRETA.	
a)	 (			)	Hipátia	de	Alexandria	tornou-se	uma	das	primeiras	professoras	de	sua	
época.	Defendia	o	racionalismo	científico	e	a	matemática,	além	de	dar	
aulas para diferentes crenças religiosas. Acabou por ser assassinada 
por	uma	multidão	de	extremistas	cristãos.	
b)	(			)	Hipátia	 de	 Alexandria,	 filha	 do	 matemático,	 filósofo	 e	 astrônomo	
Théon,	 foi	 uma	 das	 primeiras	 professoras	 de	 sua	 época.	 Defendia	
o	 racionalismo	 científico	 e	 a	 matemática	 e	 dava	 aulas	 apenas	 para	
pessoas	que	fossem	cristãs.	Foi	reconhecida	por	sua	obra	e	aclamada	
pela	sociedade	da	época.	
c)	 (			)	Hipátia	de	Alexandria	foi	a	primeira	deputada	federal	de	que	se	tem	
registro	na	história.	Estudou	na	Escola	de	Alexandria,	onde	aprendeu	
sobre	 o	 racionalismo	 científico	 e	 a	 matemática.	 Defendia	 que	 todos	
fossem	cristãos	e	que	essa	era	a	tradição	mais	correta	a	ser	seguida.
d)	(			)	Para	 Hipátia	 de	 Alexandria	 os	 estudos	 eram	 uma	 temática	 muito	
importante, especialmente os que fossem ligados ao racionalismo 
científico	 e	 a	 filosofia.	 Defendia	 os	 ideais	 cristãos	 e	 acreditava	 que	
outras	religiões	não	estavam	corretas.	
AUTOATIVIDADE
29
e)	 (			)	Uma	das	primeiras	professoras	que	a	história	tem	registros	foi	Hipátia	
de	Alexandria.	Ela	defendia	o	ensino	da	filosofia	e	acreditava	que	esse	
era o caminho para o autoconhecimento. Dava aula para pessoas que 
não	fossem	católicas	e	teve	seu	reconhecimento	por	isso.	
3	 O	movimento	Marcha	das	Margaridas	teve	sua	primeira	edição	no	ano	2000.	
Em	relação	aos	objetivos,	bandeiras	de	luta	e	surgimento	desse	movimento,	
é	correto	afirmar:	
a)	 (			)	O	movimento	conhecido	como	Marcha	das	Margaridas	surgiu	a	partir	
de um grupo de mulheres trabalhadoras de áreas urbanas da cidade de 
São	Paulo,	que	lutam	contra	a	fome	e	contra	violência	sexista	que	existe	
em	nosso	país.	
b)	(			)	Esse	movimento	reúne,	exclusivamente,	mulheres	das	etnias	indígenas	
e	quilombolas	da	região	Norte	do	Brasil	e	que	lutam	contra	a	fome	e	
contra	a	pobreza	que	existe	na	região	na	qual	vivem.	
c)	 (			)	A	Marcha	das	Margaridas	é	um	movimento	que	se	construiu	através	
das	 mulheres	 trabalhadoras	 das	 indústrias	 têxteis	 da	 região	 Sul	 de	
nosso	país,	em	áreas	urbanas	e	que	lutam	por	uma	política	de	equidade	
salarial	entre	homens	e	mulheres	que	desempenham	as	mesmas	funções	
em ambientes corporativos. 
d)	(			)	A	Marcha	das	Margaridas	se	constitui	a	partir	da	união	de	mulheres	
ligadas ao meio rural, de diferentes lugares do Brasil, e que tem como 
objetivos lutar contra a fome, contra a pobreza e contra a violência 
sexista	que	existe	em	nosso	país.	
e)	 (			)	O	 movimento	 social	 conhecido	 como	 Marcha	 das	 Margaridas	 é	
formado, unicamente, pelas mulheres que trabalham nas áreas rurais 
do	sertão	nordestino	e	que	lutam	contra	a	fome	e	contra	a	pobreza	que	
assola	a	região	em	que	vivem.	
4	 Uma	das	mulheres	de	destaque	no	século	XXI,	foi	Malala	Yousafzai.	Vimos	
um pouco de sua trajetória na Unidade 1 deste Livro Didático. Pesquise um 
pouco	mais	sobre	a	trajetória	dela	e	escreva	um	texto	abordando	a	relação	
de	Malala	com	o	direito	das	mulheres	e	sua	trajetória	até	receber	o	Prêmio	
Nobel	da	Paz	em	2014.	
5	 Como	vimos	na	Unidade	1	deste	Livro	Didático	de	Relações	de	Gênero,	a	
chamada 2a	onda	do	feminismo	teve	um	de	seus	expoentes	no	estudo	da	
autora Simone de Beauvoir, com a obra O segundo sexo. Escreva um breve 
resumo	sobre	as	ideias	centrais	dessa	obra,	no	que	diz	respeito	ao	que	é	
ser mulher.
30
31
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE
1 INTRODUÇÃO
O	 Brasil	 é,	 em	 sua	 essência,	 um	 povo	 constituído	 por	 muitos	 povos.	
Como	descreve	Ribeiro	(1995,	p.	19),	o	povo	brasileiro	surge	“[...]	da	confluência,	
do	 entrechoque	 e	 do	 caldeamento	 do	 invasor	 português	 com	 índios	 silvícolas	
e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos”. 
Essa	constituição	não	foi	pacífica.	Houve	conflito,	disputa	de	terras,	negociações,	
invasões,	trincheiras,	guerras.	
Línguas,	 costumes,	 vestimentas,	 utensílios,	 rituais,	 religiosidades,	
organização	social,	parentescos,	linhagens.	Tudo	diferente	foi	se	“misturando”,	
com o passar do tempo. Uma cultura foi adentrando a outra ao ponto de 
pertencimento. A tapioca que hoje encontramos facilmente em qualquer 
supermercado	 é	 herança	 de	 povos	 indígenas	 brasileiros.	 O	 hábito	 do	 banho	
diário	é	costume	herdado,	também,	dos	povos	indígenas	que	habitavam	o	Brasil.	
O	acarajé,	prato	 típico	da	região	nordeste,	é	herança	africana.	A	capoeira,	hoje	
difundida internacionalmente, surgiu no Brasil como uma forma de preparo 
para as fugas dos negros escravizados. Era praticada perto das senzalas, com 
acompanhamento de tambores, berimbaus e cantos, que davam o ritmo a luta 
praticada por eles como dança. 
FIGURA 17 – CAPOEIRA – OBRA DE JEAN BAPTISTE DEBRET
FONTE: <https://hosting.iar.unicamp.br/disciplinas/am540_2003/edu/produto/images/capoeira.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
32
UNIDADE 2 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
Está	em	nosso	processo	de	constituição	toda	essa	diversidade,	além	é	claro	
das	diversidades	ligadas	ao	gênero.	Tomando	como	exemplo	o	Brasil,	você	deve	
se	lembrar	da	figura	emblemática	das	baianas	e	da	música	de	Dorival	Caymmi,	
O que é que a baiana tem. 
FIGURA 18 – BAIANAS EM DESFILETÍPICO EM SALVADOR (BA)
FONTE: <https://i1.trekearth.com/photos/64741/_mg_3516.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2020.
Elas	são	consideradas	um	dos	símbolos	da	cultura	brasileira.	O	uso	da	roupa	
branca	 está	 associado	 às	 heranças	 africanas.	 Trata-se	 da	 influência	 do	 candomblé,	
religião	afro-brasileira	trazida	pelos	negros	escravizados,	para	o	Brasil.	
Em	 uma	 rápida	 pesquisa	 é	 possível	 descobrir	 que	 há	 uma	 hierarquia	
nas	 roupas	 usadas	 pelas	 baianas.	Uma	delas	 é	 a	 roupa	da	Baiana	do	Acarajé,	
das	 mulheres	 que	 preparam	 e	 vendem	 acarajé	 e	 outras	 iguarias	 da	 culinária	
local. Essas baianas têm uma roupa diferente das roupas usadas pelas baianas 
das	 escolas	de	 samba	que	 são	 compostas	por	mais	detalhes	 e	 peças,	 inclusive	
representando aspectos diferentes daqueles usos cotidianos. 
Importante observar que, mesmo dentro de uma comunidade ou grupo 
de	 baianas,	 há	 diversidade.	 Essa	 diversidade	 nos	 faz	 enxergar	 as	 diferenças	
que se constroem mesmo dentro de grupos tidos como iguais. Aliás, tem como 
pensarmos	a	diferença	sem	levar	em	consideração	a	igualdade?
TÓPICO 2 — DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE
33
2 DIFERENÇA E IGUALDADE
A	 ideia	de	diferença	está	diretamente	 ligada	à	 ideia	de	 igualdade.	Afinal,	
aquilo	que	“não	é”,	só	existe	quando	comparada	ao	que	é.	Vejamos	que	para	Silva	
(2000)	a	 identidade	e	a	diferença	são	conceitos	que	se	completam.	Afinal	quando	
afirmamos	“somos	brasileiros”	estamos	também	dizendo	que	“não	somos	argentinos,	
uruguaios,	 franceses”.	 Para	 esse	 autor,	 “A	definição	 da	 identidade	 brasileira,	 por	
exemplo,	 é	 o	 resultado	 da	 criação	 de	 vários	 e	 complexos	 atos	 linguísticos	 que	 a	
definem	como	sendo	diferentes	de	outras	identidades”	(SILVA,	2000,	p.	77).	
Assim,	 dizemos	 que	 onde	 existe	 identidade	 e	 diferença,	 haverá	
o	 processo	 de	 diferenciação.	 Para	 Silva	 (2000)	 a	 diferenciação	 é	 o	 processo	
de	 produção	 da	 identidade	 e	 da	 diferença,	 como	 incluir/excluir;	 demarcar	
fronteiras	ou	ainda	classificar.	
Vejamos	a	noção	de	diferença	no	olhar	de	Adichie	(2017),	citada	no	Tópico	
1 deste livro didático. Para essa autora nigeriana, a diferença deve ser tomada 
como	normal,	“Porque	a	diferença	é	a	realidade	de	nosso	mundo.	E	ao	lhe	ensinar	
sobre	 a	 diferença,	 você	 a	 prepara	 para	 sobreviver	 num	mundo	 diversificado”	
(ADICHIE,	 2017,	 p.	 76).	 Há,	 nessa	 fala,	 uma	 naturalização	 da	 diferença,	 para	
olhar	a	diferença	e	entendê-la	como	sendo	algo	muito	mais	corriqueiro	e	comum	
em nosso cotidiano. 
Ainda	nesta	perspectiva,	Adichie,	em	2018,	escreveu	sobre	O perigo de uma 
história única.	Esse	texto	foi	compartilhado	no	todo	daquele	ano.	Assistida	por	uma	
plateia majoritariamente branca, a nigeriana descreveu o olhar de estranhamento 
de sua companheira de quarto ao saber que ela sabia usar um forno de cozinha e de 
que	escutava	Mariah	Carey.	
Aqui,	podemos	fazer	uma	interlocução	com	o	que	preconiza	Silva	(2000)	
sobre	a	demarcação	das	fronteiras	no	processo	de	identificação.	Neste	exemplo,	
tanto	Adichie	quanto	sua	companheira	de	quarto,	(re)construíram	suas	percepções	
de	 como	 vivem	 cidadãos	 em	 outros	 lugares	 do	mundo,	 identificando-os	 com	
aspectos	 inimagináveis	 até	 então.	 E	 essa	desconstrução	 só	 foi	 possível	 porque	
as	duas	se	aproximaram	e	passaram	a	conviver,	descortinando	e	ressignificando	
diversas	percepções	e	imagens	pré-concebidas.	
Voltando nosso olhar novamente para a realidade brasileira, vemos 
situações	muito	similares	às	vividas	por	Adichie	e	sua	colega	norte-americana.	
E,	nem	é	preciso	sair	do	território	nacional	para	enxergar	a	diversidade	que	nos	
constitui.	Ao	observarmos	as	baianas	do	nordeste	brasileiro	(Figura	18)	com	as	
prendas	gaúchas	do	sul	do	país	(Figura	19),	veremos	inúmeras	diferenças,	entre	
elas:	a	vestimenta,	o	sotaque,	a	música,	as	formas	de	dançar	e	de	se	expressar,	
entre tantas outras. 
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UNIDADE 2 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
FIGURA 19 – PRENDA GAÚCHA
FONTE: <http://www.casadatradicao.com.br/imgs/DANCAS-TRADICIONAIS.jpg>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
São	 apenas	 dois	 exemplos	 da	 diversidade	 étnico-cultural	 que	 constitui	
o	 Brasil.	Há	 tantos	 outros	 exemplos	 como	 o	 Frevo,	 o	Maracatu,	 o	 Festival	 de	
Parintins com a disputa entre Garantido e Caprichoso, as diversas festividades 
afro-brasileiras,	 o	 Quarup	 dos	 povos	 Indígenas	 do	Alto	 Xingu,	 a	 cultura	 dos	
povos europeus que foram se instalando no Brasil e, assim, foram se construindo e 
se	(re)construindo.	
FIGURA 20 – QUARUP EM UMA ALDEIA WAURÁ – ALTO XINGU
FONTE: <https://conexaoplaneta.com.br/wp-content/uploads/2019/02/o-quarup-em-uma-
aldeia-waura-foto-renato-soares-1.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2020.
TÓPICO 2 — DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE
35
Para	 o	 antropólogo	 Roberto	 da	Matta	 (1997),	 a	 sociedade	 brasileira	 se	
construiu entre dois grandes espaços: a casa e a rua. Estes seriam, portanto, mais 
do	que	espaços,	seriam	entidades	morais,	esferas	de	ação	social	com	poderes	de	
despertar	emoções,	relações,	leis,	orações,	músicas	etc.	
Ao	pensarmos	nos	espaços	e	em	suas	configurações,	retomamos	a	ideia	de	
da	Matta	(1997).	Ele	descreve	a	casa	como	um	espaço	que	foi	sendo	configurado	
como um lugar de subalternidade feminina e a rua um espaço de autoridade 
ligada	ao	masculino.	Espaços	que	se	configuraram	através	dos	gêneros	e	foram	
por	ele	configurados.	
Desde muito cedo, antes mesmo de nascer, o mundo nos aguarda de uma 
forma	diferente.	Meninas	são	esperadas	com	roupas	cor	de	rosa	e	meninos	com	
azul.	Silva	(2013)	descreve	que	durante	o	desenvolvimento	infantil	as	meninas	são	
educadas	para	brincar	de	boneca	(personificação	de	um	bebê	de	colo,	do	ato	da	
maternidade);	de	panelinha	(o	ato	de	cozinhar).	Já	para	os	meninos,	é	destinação	
brincar	 de	 carrinho	 (homem	 ao	 volante)	 e	 futebol	 (esporte	 de	 homem).	 Essas	
diferenças	reforçam	e	influenciam	a	ideia	de	submissão	feminina,	inculcando	um	
“modo	de	vida”	de	relações	de	gênero	construídas	com	base	num	modelo	social	
tradicional,	como	já	apontado	anteriormente	nos	dizeres	de	da	Matta	(1997).	
3 DESIGUALDADE 
A desigualdade pode ser observada sob várias nuances na sociedade. Ela 
pode	estar	relacionada	à	classe	social,	ao	gênero,	à	etnia,	à	religião,	dentre	outras.
Há estudiosos que dizem que as desigualdades no Brasil iniciaram com a 
chegada dos portugueses ao Brasil, visto que eles impuseram seu modo de vida 
aos	povos	indígenas	que	já	habitavam	o	país.	
Nesse caso, as diferenças entre os povos foram transformadas em 
desigualdades	 pelo	 preconceito,	 pela	 falta	 de	 acesso	 às	 condições	 básicas	 de	
saúde,	educação,	moradia	e	trabalho.	
Vejamos	um	exemplo	prático	da	desigualdade	de	gênero	no	esporte.	O	
Brasil	é	considerado	o	país	do	futebol	e	tem	uma	trajetória	de	muitas	vitórias	
em	 competições	 internacionais,	 cinco	delas	 de	 copas	 do	mundo	de	 futebol.	
Se perguntássemos a você quais nomes do futebol você se lembra, quem 
você	 lembraria?	 Pelé,	 Garrincha,	 Zico,	 Bebeto,	 Romário,	 Dunga,	 Ronaldo,	
Ronaldinho	Gaúcho,	Neymar	e	tantos	outros.	Todos	homens,	a	maioria	com	
contratos milionários. 
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UNIDADE 2 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
Mas	é	no	futebol	feminino	que	o	Brasil	tem	uma	atleta	que	foi	eleita	cinco	
vezes	consecutivas	(entre	2006	e	2010)	como	melhor	jogadora	do	mundo.	Marta	
Vieira	da	Silva,	a	“Marta”,	tornou-se	uma	inspiração	para	muitas	meninas	que	
sonham	 jogar	 futebol	 profissionalmente.	Nenhum	 atleta	 do	 futebol	masculino	
tem	os	títulos	que	a	 jogadora	tem.	E	a	remuneração	da	Marta?	Bom,	enquanto	
Neymar	chega	a	ganhar	29	milhões	de	reais	por	ano,	Marta	luta	para	jogar	num	
time	que	consiga	pagar	seu	salário	(muito	menor	do	que	o	salário	de	Neymar).
FIGURA 21 – MARTA, JOGADORA BRASILEIRA DE FUTEBOL FEMININO
FONTE: <https://cdn.brasildefatao.com.br/media/875d205147b0ff696178908e898b67fd.jpg>.Acesso em: 5 nov. 2020. 
A diferença de gênero foi transformada em desigualdade. Estamos 
diante	de	um	caso	de	desigualdade	de	gênero,	pois	Marta	e	Neymar	são	atletas	
que	 jogam	futebol,	ou	seja,	possuem	a	mesma	profissão,	mas	recebem	salários	
muito diferentes. Essa desigualdade de gênero está atrelada a uma desigualdade 
econômica,	pois	os	clubes	não	remuneram	os	atletas	de	forma	igualitária.	
O	 Instituto	 Brasileiro	 de	 Geografia	 e	 Estatística	 (IBGE)	 fez	 a	 pesquisa	
intitulada Estatísticas de Gênero – Indicadores sociais das mulheres no Brasil.	Em	2013,	a	
Comissão	de	Estatística	das	Nações	Unidas	(United Nations Statistical Commission)	
organizou	o	Conjunto	Mínimo	de	 Indicadores	de	Gênero	 (CMIG)	–	em	 inglês,	
Minimum Set of Gender Indicators	 (MSGI)	 –,	 constituído	por	 63	 indicadores	 (52	
quantitativos	e	11	qualitativos)	para	 sistematizar	 informações	de	 igualdade	de	
gênero e empoderamento feminino. 
A	 pesquisa	 está	 organizada	 de	 acordo	 com	 cinco	 domínios	 estabelecidos	
no	CMIG,	a	saber:	estruturas	econômicas,	participação	em	atividades	produtivas	e	
acesso	a	recursos;	educação;	saúde	e	serviços	relacionados;	vida	pública	e	tomada	de	
decisão;	e	direitos	humanos	das	mulheres	e	meninas.	Essa	investigação	fornece	um	
panorama,	sucinto,	das	desigualdades	de	gênero	no	país,	com	valiosos	elementos	
para	reflexão	de	estudiosos	e	formuladores	de	políticas	públicas.	
TÓPICO 2 — DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE
37
Apesar	 das	 mulheres	 constituírem	 a	 maioria	 da	 população	 com	 Ensino	
Superior	completo,	isso	não	garante	a	elas	remunerações	equiparadas	as	dos	homens.
De	 acordo	 com	 o	 estudo,	 as	 mulheres	 ganham,	 em	média,	 apenas	
75%	dos	rendimentos	dos	homens.	O	IBGE	constatou	que	entre	2012	e	
2016,	as	mulheres	possuem	rendimentos	mensais	no	valor	de	R$1.764,	
enquanto	os	homens,	R$2.306.	Para	a	professora	Carmen	Migueles,	da	
FGV	EBAPE,	mesmo	em	países	ricos,	como	os	Estados	Unidos,	homens	
ganham mais do que mulheres. Contudo, para ela, o Brasil possui uma 
situação	mais	dramática,	já	que	as	mulheres	chefiam	39%	dos	lares	do	
país	e	acumulam,	além	dos	afazeres	domésticos,	a	responsabilidade	de	
sustentar	a	casa	(AS	12	MULHERES...,	2018,	s.p.).
 
Percebe-se,	assim,	que	a	desigualdade	de	gênero	gera	uma	desigualdade	
salarial	que	no	caso	das	mulheres	é	mais	injusta.	Além	do	trabalho	fora	de	casa,	
cerca	de	39%	chefiam	seus	lares,	acumulando	os	afazeres	domésticos	e	o	cuidado	
com	os	filhos	 à	 sua	 rotina.	Diversos	papéis	 sociais	desempenhados	 ao	mesmo	
tempo,	muitas	vezes,	exclusivamente	pelas	mulheres.	Observe,	agora,	o	Gráfico	
1, sobre a escolaridade por gênero e por etnia no Brasil. 
GRÁFICO 1 – ESCOLARIDADE POR GÊNERO E ETNIA. 
FONTE: <https://www.r7.com/r7/media/2018/20180307_genero/20180307_genero.png>. 
Acesso em: 5 nov. 2020.
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UNIDADE 2 – MOVIMENTOS FEMINISTAS E OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O 
SURGIMENTO DO CONCEITO DE GÊNERO
É importante salientar que a disparidade de acesso ao Ensino Superior 
aumenta	ainda	mais	quando	se	 trata	de	populações	negra,	parda	ou	 indígena.	
Reflexo	de	 um	 contexto	 histórico	 que	privilegiou	 a	 entrada	primeiramente	 de	
homens	brancos	e	muito	tempo	depois	de	mulheres	brancas.	Aos	indígenas,	pardos	
e	negros	a	entrada	ao	ensino	superior	foi	ainda	mais	tardia.	Essa	diferenciação	
faz	com	que	os	 salários	dessas	populações	 sejam	ainda	menores	do	que	os	da	
população	branca,	especialmente	se	houver	ausência	ou	baixa	escolaridade.	
4 O QUE É GÊNERO?
Quando	falamos	em	gênero,	a	que	exatamente	nos	referimos?	De	início	
é	 importante	 lembrar	 que,	 durante	muito	 tempo,	 dentro	 das	Ciências	 Sociais,	
a	 associação	 da	 palavra	 “gênero”	 era	 imediata	 à	 “mulher”,	 pois	 ligava-se	 ao	
movimento	feminista	dos	anos	60,	movimento	que	fazia	parte	das	lutas	libertárias	
e	de	 contracultura	que	 se	 constituíram	nesta	década,	 como	vimos	na	primeira	
parte	 desse	 texto.	 Para	 que	 possamos	 entender	melhor,	 vamos	 ao	 que	 dizem	
alguns autores sobre esse termo. 
Para	 Scott	 (1995),	 o	 termo	 gênero	 surgiu	 entre	 as	 feministas	 norte-
americanas	 que	 o	 atribuía	 às	 distinções	 sociais	 baseadas	 no	 sexo.	 “A	 palavra	
indicava	 uma	 rejeição	 do	 determinismo	 biológico	 implícito	 no	 uso	 de	 termos	
como	 ‘sexo’	ou	 ‘diferença	 sexual’”	 (SCOTT,	1995).	Ainda	conforme	a	autora,	o	
termo	 "gênero",	 se	 constituiu,	 também	 como	 um	 conceito	 relacional.	 Não	 era	
possível	 analisar	 o	 feminino	 sem	 considerar	 o	masculino	 e	 vice-versa.	Assim,	
portanto,	homens	e	mulheres	eram	definidos	em	termos	recíprocos,	não	podendo	
ser estudado e entendido de forma separada. Era como se, ao falar das mulheres, 
estivéssemos,	 também,	 nos	 referindo	 aos	 homens.	 Com	 o	 passar	 do	 tempo,	 o	
termo	gênero	passou	a	referir-se	a	construções	culturais,	assim:
Trata-se	de	uma	forma	de	se	referir	às	origens	exclusivamente	sociais	
das	 identidades	 subjetivas	 de	 homens	 e	 de	 mulheres.	 "Gênero"	 é,	
segundo	esta	definição,	uma	categoria	social	imposta	sobre	um	corpo	
sexuado.	Com	a	proliferação	dos	 estudos	 sobre	 sexo	 e	 sexualidade,	
"gênero"	tornou-se	uma	palavra	particularmente	útil,	pois	oferece	um	
meio	de	distinguir	a	prática	sexual	dos	papéis	sexuais	atribuídos	às	
mulheres	e	aos	homens	(SCOTT,	1995.	p.	75).
Dessa	 forma,	o	 termo	gênero	 refere-se	a	um	conjunto	de	 relações	que	
pode	 incluir	 o	 sexo,	 mas	 não	 é	 diretamente	 determinado	 pelo	 sexo,	 muito	
menos,	determina	diretamente	a	sexualidade.	Além	disso,	Scott	(1995)	sugere	
que	termo	gênero	deve	ser	reestruturado,	levando	em	consideração	uma	visão	
de	igualdade	política	e	social,	incluindo	o	sexo,	a	classe	e	a	raça	como	categorias	
de	estudo	e	análise.	O	gênero	é,	portanto,	um	elemento	que	constitui	as	relações	
sociais	 que	 se	 baseiam	 nas	 diferenças	 entre	 os	 sexos	 e	 na	 forma	 como	 dão	
significado	às	relações	de	poder.	
TÓPICO 2 — DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE
39
Não	 se	 trata,	 portanto,	 apenas	 das	 diferenças	 biológicas,	 mas	 sim	 das	
diferenças entre homens e mulheres que se constroem social e historicamente. 
Para	a	autora	Françoise	Héritiér	(1996),	o	gênero	é	um	conceito	relacional,	pois,	
desde que nascemos, nos relacionamos com as pessoas. 
	 Para	 Grossi	 (1998),	 em	 linhas	 gerais,	 o	 gênero	 é	 um	 conceito	
usado	para	pensar	as	relações	sociais	que	envolvem	homens	e	mulheres,	relações	
determinadas	historicamente	e	que	se	expressam	pelos	diferentes	discursos	sociais	
de	diferença	sexual.	Assim,	o gênero refere-se a tudo o que é social, cultural e 
historicamente determinado. 
No	 entanto,	 nenhuma	 pessoa	 existe	 sem	 que	 se	 relacione	 socialmente,	
desde	 seu	 nascimento.	 Sempre	 que	 nos	 referirmos	 ao	 sexo	 daquele	 indivíduo	
estaremos	nos	referindo,	também,	ao	gênero	que	estará	associado	ao	sexo	daquela	
pessoa a qual estamos nos relacionando. 
Há, ainda, mais um aspecto importante a ser mencionado sobre o conceito 
de	 gênero.	 Ele	 é	mutável.	 Grossi	 (1998)	 ressalta	 que	 “em	 todas	 as	 sociedades	
do	planeta,	o	gênero	está	 sendo,	 todo	o	 tempo,	 ressignificado	pelas	 interações	
concretas	 entre	 indivíduos	 do	 sexo	masculino	 e	 feminino”	 (GROSSI,	 1998).	A	
cada	dia,	nas	interações	sociais	vamos	construindo	e	(re)	construindo	a	noção	de	
gênero,	que	não	se	configura	da	mesma	forma	para	todas	as	sociedades.	
Barreto,	Araújo	e	Pereira	(2009)	elucidam	que	o	gênero	foi	elaborado	para	
evidenciar	que	o	sexo	anatômico	não	é	o	que	define	a	conduta	humana.	São	as	
culturas	 que	 criam	padrões	 de	 comportamento	 que	 estão	 associados	 a	 corpos	
que	se	diferenciam	por	seu	aparelho	genital.	Assim,	ter	um	corpo	feminino	não	
significa	que	a	mulher	tenha	vontade	de	ter	filhos,	por	exemplo.	
Para	Judith	Butler	(1990,	p.	7)	o	gênero	é	também	constituído	pela	cultura.	
“[...]	o	gênero	é	 também	o	significado	discursivo/cultural	pelo	qual	a	natureza	
sexuada	ou	o	sexo	natural	é	produzido	e	estabelecido	como	uma	formar	anterior

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