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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE FARMÁCIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA JÚLLIA BELL CARDOSO BOMFIM ASPECTOS ETIOPATOGÊNICOS COMUNS À COVID-19 E O CÂNCER: REVISÃO DE LITERATURA Niterói, RJ 2021 JÚLLIA BELL CARDOSO BOMFIM ASPECTOS ETIOPATOGÊNICOS COMUNS À COVID-19 E O CÂNCER: REVISÃO DE LITERATURA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Bacharelado em Farmácia, da Faculdade Federal Fluminense como requisito parcial para conclusão do curso. Orientadora: Prof. Drª. Nathalia Silva Carlos Oliveira Niterói, RJ 2021 JÚLLIA BELL CARDOSO BOMFIM ASPECTOS ETIOPATOGÊNICOS COMUNS À COVID-19 E O CÂNCER: REVISÃO DE LITERATURA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Bacharelado em Farmácia, da Faculdade Federal Fluminense como requisito parcial para conclusão do curso. Aprovado _/_/_ BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________________ Prof. Drª. Nathalia Silva Carlos Oliveira (Orientadora) - UFF __________________________________________________________________ Me. João Ricardo Almeida Soares ___________________________________________________________________ Me. Diogo Lisboa Bastos AGRADECIMENTOS À Universidade Federal Fluminense e a todos os professores com quem tive o privilégio de ter aulas e me ensinaram coisas imprescindíveis para me tornar uma profissional de excelência. À minha orientadora Drª Nathalia Silva por ter confiado em mim e me auxiliado de maneira brilhante para a realização deste trabalho. À minha família, meus pais Jorge Bomfim e Jaciara Bell e irmãos João Victor e Matheus Reis por toda confiança e apoio para que eu chegasse até aqui. Aos meus amigos, os presentes da UFF, Ana Sara, Phillipe Monaco, Mariana Monteiro e Tamires Vidal por todo apoio na vida acadêmica e pessoal. À minha amiga de vida e irmã, Thayna Lourenço, por ser o meu braço direito e incentivar todos os meus sonhos. Ao meu noivo, Ramon Almeida por ser meu parceiro de vida e por toda confiança e estímulo para a realização deste trabalho. RESUMO Introdução: A resposta inflamatória descontrolada e excessiva constitui a base de diversas doenças. No caso da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, a resposta inflamatória exacerbada e a tempestade de citocinas são fatores diretamente relacionados com a piora do quadro clínico. Considerando a interação entre o SARS-CoV-2 e o sistema imune do hospedeiro, pacientes oncológicos em uso da imunoterapia podem estar em maior risco de desenvolvimento de uma resposta imunológica deficiente em caso de infecção, o que aumenta a gravidade do paciente acometida por ambas as doenças. No atual estágio da pandemia de SARS-CoV-2, muitos esforços têm sido direcionados ao estudo da patogênese e tratamento de COVID-19 e ao entendimento da sua associação com diversas comorbidades. No caso dos pacientes com câncer, os perfis de risco, prognósticos e resultados do tratamento ainda permanecem obscuros. Objetivo: analisar o estado da arte sobre a COVID-19 e o câncer, discutindo suas inter-relações quanto à patogenia e evolução dos pacientes acometidos por ambas as doenças. Metodologia: Foi realizada uma revisão narrativa, através de pesquisa bibliográfica com coleta e análise dos dados atuais referentes à patogenia da COVID-19 e sua possível consequência em pacientes oncológicos. Resultados e Discussão: Conclusão: o estado de imunocomprometimento desenvolvido na patogenia de ambas as doenças, câncer e COVID-19, fundamenta a hipótese científica mais apontada pela literatura como causa do maior risco dos pacientes oncológicos se infectar com o SARS-CoV-2 e desenvolverem a forma grave da doença. Palavras - chave: COVID-19, câncer, tempestade de citocinas, inflamação. ABSTRACT LISTA DE FIGURAS Figura 1- Estrutura do SARS-CoV-2……………………………………………….13 Figura 2- Os Hallmarks do câncer………………………………………………….16 Figura 3- Mecanismos moleculares comprovados na COVID-19 grave…….....20 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 9 2. OBJETIVOS 11 2.1 OBJETIVOS GERAIS 11 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 11 3. METODOLOGIA 11 4. REVISÃO DE LITERATURA 12 4.1 COVID-19 E SEU AGENTE ETIOLÓGICO: SARS-CoV-2 12 4.2 CÂNCER 14 4.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO 18 4.3.2 RELAÇÃO ENTRE COVID-19 E CÂNCER: PATOGENIA E EVOLUÇÃO DA DOENÇA 23 4.3.3 ÍNDICES DE MORTALIDADE POR COVID-19 EM PACIENTES ONCOLÓGICO 26 5. CONCLUSÕES 28 6. REFERÊNCIAS 29 1. INTRODUÇÃO Em 2002 e 2012, respectivamente, surgiram dois coronavírus altamente patogênicos para humanos, com origem zoonótica, o MERS-CoV e o SARS-CoV, que se tornaram graves problemas de saúde pública no século XXI (HU et al., 2021). Em dezembro de 2019, ocorreu um surto de pneumonia em Wuhan, Província de Hubei, China. No início de 2020, um novo coronavírus da mesma família do SARS-CoV e do MERS-CoV foi identificado como a causa da epidemia na cidade de Wuhan, que se espalhou rapidamente pela China, e em seguida para a Itália e por toda a Europa (PASCARELLA et al., 2020). Em janeiro de 2020, a OMS declarou emergência de saúde global, e em março do mesmo ano foi declarada a pandemia. O SARS-CoV-2 é o patógeno que causa a doença COVID-19 (TANG et al., 2020). Os principais sintomas da COVID-19 são febre, tosse, fadiga, dispneia leve, dor de garganta, dor de cabeça, e problemas gastrointestinais. Pacientes com sintomas leves se recuperaram após uma semana, casos graves foram relatados por causarem insuficiência respiratória progressiva devido ao dano alveolar causado pelo vírus, podendo levar à morte. A infecção foi associada com pneumonia e alguns desenvolveram síndrome respiratória aguda grave (SRAG) (YIN L et at., 2020). Os casos de morte foram principalmente em pacientes idosos com doenças pré-existentes como cirrose, hipertensão, doença cardíaca coronária, diabetes, doença de Parkinson e pacientes com histórico de cirurgia oncológica (WEI et al.,2020). Indivíduos com câncer apresentam maior probabilidade de infecção pelo SARS-CoV-2 e de desenvolvimento da COVID-19 grave. Esse pacientes são considerados de alto risco, possivelmente, pela imunossupressão sistêmica causada pelo crescimento tumoral e indiretamente pelos efeitos do tratamento antineoplásico, de modo que, a patogenia das duas doenças podem agir de forma sinérgica com consequências graves para o organismo (LIU et al., 2020). Enquanto que o câncer é uma doença multifatorial, causado pela interação de fatores etiológicos genéticos e ambientais, a COVID-19 é causada por um fator ambiental, no entanto com amplo espectro de desenvolvimento, a depender das características do indivíduo (KUMAR; ABBAS; ASTER, [s.d.] e LIU et al., 2020). Há três vias de transmissão principais para a COVID-19: transmissão por gotículas, através da inalação ou ingestão de gotículas respiratórias produzidas por indivíduos próximos; transmissão por contato, pelo toque de superfície contaminada e em seguida toque das mãos na boca, nariz ou olhos; e a transmissão por aerossol, quando gotículas respiratórias se misturam no ar, formando aerossóis e podem causar infecção quando inaladas em altas doses (NationalHealth Commission of People’s Republic of China, 2020) (ADHIKARI et al., [s.d.]). Além dessas vias, já foi observado que pode ocorrer contaminação através da excreção fecal (YEO et al.,2020). As cargas virais nas amostras de fezes são menores do que nas amostras respiratórias, ainda sim, medidas de precaução estritas devem ser seguidas durante o manuseio de amostras de fezes de pacientes suspeitos ou infectados (PAN et al.,2020). Além disso, tanto indivíduos sintomáticos quanto assintomáticos podem transmitir o vírus (LVOV; ALKHOVSKY, 2020). O curso da COVID-19 apresenta três fases, a fase de viremia que ocorre até o 7º dia, a fase aguda entre o 7º e 10º dia, com o aparecimento dos sintomas e desenvolvimento de pneumonia, e uma terceira fase que pode variar de acordo com a capacidade do sistema imune de controlar a infecção viral adequadamente. Pessoas com comorbidades, como os pacientes oncológicos, podem apresentar na última fase a forma grave da doença e evoluir para óbito. Na forma grave da COVID-19, os pacientes podem apresentar linfopenia, aumento da expressão de D-dímero, aumento da carga viral e aumento dos níveis séricos de citocinas inflamatórias (LIN et al., 2020). Sua imunopatogênese está associada a uma resposta imune descontrolada, que pode causar dano ao tecido do pulmão, comprometimento funcional e redução da capacidade pulmonar (LI et al., 2020). Os reagentes de fase aguda são potenciais marcadores de diagnóstico e da evolução da doença, uma vez que estão mais elevados em pacientes graves quando comparados aos pacientes não graves (ZHANG, J et al., 2020). Enquanto que altos níveis de ALT, LDH, troponina I cardíaca de alta sensibilidade, creatina quinase, D-dímero, ferritina sérica, IL-6, tempo de protrombina (PT), creatinina, e PCT também foram associados à alta mortalidade (ZHOU et al., 2020). Atualmente, a COVID-19 tem sido tratada como uma infecção generalizada, uma vez que a doença apresenta cunho predominantemente inflamatório. A resposta inflamatória descontrolada e excessiva constitui a base de diversas doenças. Traçando o paralelo com os pacientes oncológicos, já sabemos que para o desenvolvimento do câncer existem algumas condições predisponentes adquiridas, que podem tornar se um solo fértil. Sendo elas: Inflamação crônica, lesões precursoras e até mesmo o estado de imunodeficiência. A inflamação crônica e as lesões precursoras estão envolvidas em mecanismos que aumentam a replicação celular. Além disso, a inflamação crônica em alguns casos pode aumentar as células tronco teciduais e também produzem espécies reativas de oxigênio, que são genotóxicas e mediadores inflamatórios que podem provocar a sobrevida da célula. O estado de imunodeficiência predispõem a cânceres induzidos por vírus (KUMAR; ABBAS; ASTER, [s.d.]). No caso da COVID-19, a desregulação do sistema imune é um fator diretamente relacionado com a piora do quadro clínico de indivíduos com tumores. Considerando a interação entre SARS-CoV-2 e o sistema imune do hospedeiro, pacientes oncológicos em uso da imunoterapia podem estar em maior risco de desenvolvimento de uma resposta imunológica aberrante em caso de infecção e, portanto, o que aumenta a gravidade do quadro clínico. No atual estágio da pandemia de SARS-CoV-2, muitos esforços têm sido direcionados ao estudo da patogênese e tratamento de COVID-19 e ao entendimento da sua associação com as comorbidades anteriormente citadas. No caso dos pacientes com câncer, os perfis de risco, prognósticos e resultados do tratamento ainda permanecem obscuros(INDINI et al.,2020). Assim, a justificativa deste estudo baseia-se na importância de reunir e os dados já publicados na literatura sobre o problema relatado acima, discutindo as possíveis correlações quanto à patogenia e evolução dos pacientes acometidos por ambas as doenças, a fim de identificar o estado atual do conhecimento e contribuir para o entendimento do problema. 1. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Analisar o estado da arte sobre a COVID-19 e o câncer, discutindo suas inter-relações quanto à patogenia e evolução dos pacientes acometidos por ambas as doenças. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1- Identificar, Coletar e analisar as publicações recentes sobre a patogenia da COVID-19. 2- Revisar os conceitos e mecanismos gerais do processo de carcinogênese. 3- Coletar, revisar e analisar os dados publicados sobre pacientes oncológicos acometidos pela COVID-19. 2. METODOLOGIA Este é um trabalho de revisão narrativa, de abordagem qualitativa, com objetivo de mapear o conhecimento através da pesquisa bibliográfica, com objetivo de coletar e analisar os dados atuais referentes à patogenia da COVID-19 e sua possível consequência em pacientes oncológicos. Seguindo os aspectos éticos, todas as obras consultadas foram citadas. Foram selecionados 84 artigos científicos publicados entre os anos 1973 e 2021. Destes, 84 foram publicados em revistas internacionais. E 2 livros publicados em língua portuguesa e inglesa. A base de dados utilizada foi o PubMed. Na estratégia de busca, para o objetivo específico 1, utilizamos os descritores “COVID-19”, “SARS-CoV-2” “Tempestade de citocinas”, “Cytokime storm”. Para atingir o objetivo 2, foram utilizados os termos “cancer”, “carcinogenesis”, “tumor” , “Tumorigenesis” . Na base de dados, a estratégia de busca foi aplicada através das ferramentas disponibilizadas pela plataforma para adequação de palavras-chaves e restrição dos resultados, através da ferramenta de pesquisa avançada, utilizando os operadores booleanos “AND” e “OR”. Para relacionar os dois temas utilizamos as seguintes construções: “inflammation and cancer” , “Covid-19 and cancer”, “SARS-CoV-2 and cancer”, “inflammation and Covid-19” “Cytokime storm and Covid-19” “Inflammation and tumorigenesis”. Após a identificação e coleta do material bibliográfico, a segunda seleção se orientou através da Leitura Exploratória, com intuito de verificar se a obra consultada fornecia conteúdo pertinente à esta pesquisa. As publicações selecionadas foram importadas para o software de referência bibliográfica Mendley 1.19.8, para registro e organização das informações de autoria e fonte de cada publicação (autores, ano, etc) e então foi iniciada a etapa de análise bibliográfica. Nesta etapa, seguimos com Leitura Seletiva, para aprofundamento do conteúdo; em seguida com a Leitura Analítica, para categorizar, resumir e discutir o problema levantado pelo trabalho em questão. A linha de análise teórica deste estudo seguirá a estrutura estudada pela Patologia. A Patologia é a ciência que estuda as alterações estruturais, bioquímicas e funcionais em células, tecidos e órgãos que constituem a base das doenças. O cerne da patologia é formado por: etiologia, patogenia ou patogênese, alterações morfológicas e as manifestações clínicas (KUMAR; ABBAS; ASTER, [s.d.]). A etiologia das doenças pode ser agrupada em duas classes, sendo elas: genéticas, como mutações hereditárias e variantes genéticas associadas a doenças ou polimorfismos e adquiridas como doenças infecciosas, nutricionais, por agentes químicos ou físicos. A patogenia é definida como a sequência de eventos celulares, bioquímicos e moleculares que decorrem da exposição das células ou tecidos a um agente lesivo. As alterações morfológicas referem-se às alterações estruturais nas células ou tecidos que são ora características de uma doença, ora diagnósticas de um processo etiológico. As manifestações clínicas consistem nos resultados finais das alterações genéticas, bioquímicas e estruturais nas células e tecidos (KUMAR; ABBAS; ASTER, [s.d.]). 3. REVISÃO DE LITERATURA 4.1. COVID-19 E SEU AGENTE ETIOLÓGICO: SARS-CoV-2 Os coronavírus (CoVs) são o maior grupo de vírus pertencentes à ordem Nidovirales, que inclui as famílias Coronaviridae, Arteriviridae, Mesoniviridae e Roniviridae (FEHR; PERLMAN, 2015). O SARS-CoV-2 é um membro da Ordem Nidovirales, família Coronaviridae, subfamília Orthocoronavirinae, que é subdividida em quatro gêneros, viz., Alphacoronavirus, Betacoronavirus,Gammacoronavirus e Deltacoronavirus (ZHU et al., 2020). Todos os vírus na ordem dos Nidovirales são vírus de RNA de polaridade positiva não segmentado e envelopado. Todos eles contêm genomas considerados grandes para vírus de RNA, de até 33,5 quilobases (kb). Os coronavírus circulam na natureza em várias espécies animais. Alfa-coronavírus e beta-coronavírus podem infectar mamíferos e gama-coronavírus e delta-coronavírus tendem a infectar aves, mas alguns deles também podem ser transmitidos a mamíferos (LVOV; ALKHOVSKY, 2020). Os morcegos são os hospedeiros mais importantes. Estudos mostram uma correlação de 96% com o genoma de coronavírus tipo SARS-CoV presente em morcegos (HUANG et al., 2020). O SARS-CoV-2 é membro da família β-CoV B e foi identificado pela primeira vez pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Comparado a vírus emergentes como o vírus Ebola, H7N9 aviário, SARS-CoV e MERS-CoV, o SARS-CoV-2 tem patogenicidade relativamente menor e transmissibilidade moderada (CHEN, N et al .,2020). Há sete coronavírus identificados que podem causar doenças em humanos α HCoV-229E e HCoV-NL63; o tipo β HCoV-HKU1, SARS-CoV, MERS-CoV e HCoV-OC43; e o SARS-CoV-2, o mais recente identificado (PERLMAN; NETLAND, 2009). As sequências do genoma SARS-CoV-2 identificadas em pacientes apresentam uma similaridade de 79,5% com o vírus SARS-CoV (ZHOU et al., 2020). Os CoVs são divididos em levemente patogênicos que infectam o trato respiratório superior e causam doenças respiratórias sazonais, sendo HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63 e HCoV-HKU) e os CoVs altamente patogênicos que infectam o trato respiratório inferior e podem causar pneumonia grave e SRAG(PERLMAN; NETLAND, 2009). O SARS-CoV-2 possui diâmetro entre 80~120 nm. São circundados por um envelope contendo o nucleocapsídeo viral e possui em sua estrutura uma glicoproteína de envelope pequena (E) que desempenha um papel na patogênese, montagem e liberação do vírus, a proteína matriz (M) que dá forma ao envelope viral, a proteína de nucleocapsídeo (N) que tem papel na formação de complexos com o genoma viral (WU et al., 2020) e a proteína spike (S) que é uma glicoproteína transmembrana, possui um domínio responsável pela ligação do vírus (S1) e um domínio responsável pela fusão da membrana celular (S2). O domínio S1 contém a proteína RBD que pode se ligar à enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) que é o receptor presente nas células-alvo (HE et al., 2004)(Fig.1). FIGURA 1 : Estrutura do vírus SARS-CoV-2. Fonte: Adaptado de Li, G e colaboradores, 2020 A entrada nas células pode ser feita por endossomos ou por fusão da membrana plasmática mediada pelas proteínas spike. O vírus depende de uma serina protease chamada serino protease transmembrana tipo II (TMPRSS2) que possui a capacidade de clivar e ativar a proteína S em S1 e S2, permitindo que o vírus se ligue ao seu receptor (HOFFMANN et al., 2020). A Reação em Cadeia da Polimerase em tempo real (RT-PCR) é usada como ferramenta diagnóstica por meio de swab nasal, aspirado traqueal ou amostras de lavagem broncoalveolar (PASCARELLA et al., 2020). Imagens de tomografia computadorizada (TC) mostram opacidade com característica de vidro fosco nos pulmões, o vírus invade o parênquima pulmonar resultando em inflamação intersticial grave (ZHOU L et al., 2020). A avaliação histológica de amostras de biópsia pulmonar obtidas de pacientes infectados com COVID-19 revelou dano alveolar difuso, exsudato de fibromixóide celular, formação de membrana hialina e descamação de pneumócitos, indicativo de síndrome do desconforto respiratório agudo (ZHE X et al., 2020). O diagnóstico também pode ser realizado através de ensaios sorológicos, como o ensaio imunoenzimático (ELISA) que são específicos para os anticorpos IgM e IgG (XIAO et al., 2020). 4.2. CÂNCER O câncer é uma das principais causas de morte no mundo, sendo responsável por cerca de 9,6 milhões de mortes em 2018. Os tipos de câncer mais comuns são: pulmão, mama, colorretal, próstata, câncer de pele não-melanoma e estômago (OPAS, 2018). Para o Brasil, a estimativa é de 625 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2020-2022 (450 mil, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma), constituindo um importante problema de saúde pública, visto todas as consequências para esses indivíduos e para a sociedade. O câncer, como são conhecidos os tumores malignos, é o resultado do crescimento descontrolado de células que ocorre juntamente com invasão tecidual e disseminação de células malignas. A transformação completa das células humanas em clones tumorais depende do acúmulo de múltiplas mutações por meio de um processo gradual, no qual diferentes mutações e/ou alterações epigenéticas devem ser acumuladas para que as células adquirem propriedades fenotípicas anormais (NOWEL et al., 1997). A carcinogênese caracteriza-se pelo processo de aquisição de mutações genéticas, herdadas ou adquiridas, através da ação de agentes ambientais, químicos, hormonais, radioativos ou microbiológicos, denominados carcinógenos (COTRAN et al., 2000). A maioria das mutações somáticas são inofensivas, ocasionalmente afeta um gene ou elemento regulador e leva a uma consequência fenotípica. As “mutações passageiras” são aquelas que não implicam consequências ou efeitos biológicos. Já as “mutações condutoras” acontecem em classes importantes de genes de regulação do ciclo celular e seus efeitos estimulam a transformação e progressão malignas (STRATTON et al.,2009). O processo de carcinogênese compreende três etapas: iniciação, promoção e progressão. A iniciação ocorre em uma única célula anteriormente normal, com a aquisição de alteração permanente do DNA (mutação), a qual fornece vantagem de crescimento sobre as células normais adjacentes. Resulta da exposição das células a uma dose suficiente de agentes carcinogênicos.Apesar dessa célula tornar-se potencialmente capaz de originar um tumor, essa alteração inicial, isoladamente, ainda não é suficiente para a formação do tumor. Ela provoca dano irreversível ao DNA. A proliferação neoplásica pode continuar imediatamente, ou após um período latente. As células mutadas passam as lesões do DNA para suas células-filhas. As substâncias químicas que podem causar a iniciação da carcinogênese podem ser classificadas em duas categorias: agentes de ação direta e indireta. Devido a suas estruturas químicas, alguns carcinógenos interagem preferencialmente com sequências ou bases de DNA em particular, e, dessa forma, produzem mutações que são agrupadas como ”pontos de acesso“, ou que são enriquecidas para substituições de base específicas(KUMAR; ABBAS; ASTER, [s.d.]) A etapa de promoção se caracteriza pela multiplicação dos clones celulares iniciados, devido ao aumento da proliferação celular e/ ou redução da morte celular. Nessa fase, a supressão do contato com os carcinógenos pode interromper o processo. A progressão consiste na etapa de aquisição de mutações adicionais, fazendo com que a célula atinja um fenótipo mais maligno. Como resultado desse processo, são eventos característicos da fase de progressão, a invasão, metástase e aumento do tamanho do tumor (KARIN et al., 2005). Nas múltiplas etapas que constituem o processo de carcinogênese, cada modificação genética ou epigenética adquirida confere às células tumorais um tipo de vantagem, constituindo assim os hallmarks (características) do câncer (Fig. 2) . As marcas registradas do câncer compreendem seis alterações fisiológicas biologicamente adquiridas durante o processo de carcinogênese, sendo elas: auto-suficiência em sinais de crescimento, evasão da apoptose, potencial replicativo ilimitado, insensibilidade a sinais de inibição de crescimento, angiogênese sustentada e invasão e metástase. FIGURA 2: Os Hallmarks do câncer. Fonte: Adaptado de Hanahan e colaboradores, 2000. A auto-suficiência em sinais de crescimento, consiste na capacidade das células tumorais em gerarem seus próprios sinais pró-proliferativos, reduzindo sua dependência dos mecanismos decrescimento mitogênicos adquiridos a partir do seu microambiente de tecido normal. Três estratégias comuns para alcançar essa auto-suficiência são evidentes e envolvem alterações dos sinais de crescimento extracelular, alterações de seus transdutores transcelulares ou do mecanismos intracelulares que traduzem esses sinais em ação (HANAHAN et al.,2000). Os proto-oncogenes (genes normais) estão envolvidos na regulação/indução da proliferação e diferenciação celular. Quando mutados, passam a ser denominados oncogenes e seus produtos desempenham importante papel na transformação neoplásica. A conversão de um proto-oncogene em oncogene é chamada de ativação, o que . acontecer por uma variedade de mecanismos genéticos, incluindo transdução, mutagênese de inserção, amplificação, mutações pontuais, translocações cromossômicas e alterações epigenéticas (TORRY et al., 1991). Além do aumento da atividade de divisão celular, para que a célula transformada se torne neoplásica, os mecanismos que regulam negativamente a proliferação celular também precisam ser alterados, o que acontece devido a mutações nos genes supressores de tumor. Em consequência a célula adquire insensibilidade a sinais de inibição de crescimento. (HANAHAN et al., 2011). Os sinais normais de inibição de crescimento podem bloquear a proliferação por dois mecanismos distintos: as células podem ser forçadas a sair do ciclo celular para o estado quiescente (fase G0), ou serem induzidas a entrar em estados pós-mitóticos comprometidos com a diferenciação. Com a alteração nos genes supressores de tumor, estes dois mecanismos podem estar desregulados (HANAHAN et al.,2000). Os genes que regulam de forma negativa o crescimento celular são chamados de genes supressores de tumor. Quando sua função normal está comprometida, a ausência de seus efeitos inibitórios pode levar ao crescimento celular desenfreado. A perda da função desses genes está associada ao desenvolvimento de um fenótipo transformador em muitos cânceres. Assim, no processo de carcinogênese ocorre um desequilíbrio entre regulação positiva (oncogenes) e negativa (genes supressores de tumor) do crescimento celular (LEE et al.,1992). A evasão à apoptose é uma marca da maioria e talvez de todos os tipos de câncer.Essa resistência à morte celular programada pode ser adquirida por vários mecanismos, um exemplo clássico é a gene supressor de tumor TP53. A inativação da proteína p53 resulta na remoção de um componente-chave do sensor de danos ao DNA que induz a cascata efetora apoptótica (HARRIS et al., 1996). Quando a função da p53 é perdida, outros sinais de indução da apoptose, como a hipóxia e hiperexpressão de oncogenes, são prejudicados (LEVINE et al., 1997). O potencial replicativo ilimitado é um fenótipo adquirido durante a progressão do tumor e é essencial para o desenvolvimento do crescimento maligno (HAYFLICK et al., 1997). A manutenção do telômero é um componente chave deste mecanismo e algumas células conseguem fazê-la regulando positivamente a enzima telomerase, que adiciona repetições de hexa nucleotídeos nas extremidades do DNA telomérico (BRYAN e CECH., 1999). Para crescer em tamanho e progredir, a massa neoplásica induz a angiogênese, através de sinais positivos ou negativos que estimulam ou bloqueiam esse processo. Moléculas classicamente conhecidas por estimular a angiogênese são o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e os fatores de crescimento de fibroblastos ácidos e básicos (FGF1/2) (FEDI et al., 1997; VEIKKOLA AND ALITALO., 1999) Essas proteínas se ligam aos receptores de tirosina quinase transmembrana expressos pelas células endoteliais. Com a progressão neoplásica, o tumor maligno adquire a capacidade de invasão e metástase, permitindo que as células cancerosas escapem da massa tumoral primária e colonizam um novo local distante. A ativação de proteases extracelulares e as especificidades de ligação alteradas de caderinas, moléculas de adesão celular (CAMs) e integrinas são claramente centrais para a aquisição de capacidade invasiva e metastática (HANAHAN et al.,2000). Além das alterações comentadas, as células tumorais ainda desenvolvem a capacidade de evasão ao sistema imune. Este, quando efetivo, reconhece os neoantígenos tumorais produzidos pelas células transformadas, que são liberados e capturados por células dendríticas (DCs), que os processam e os apresentam às células T, induzindo assim uma resposta imunológica anticâncer. Além dos antígenos tumorais, outros sinais também são reconhecidos pelo sistema imune, como citocinas pró-inflamatórias e fatores específicos liberados pelas células tumorais em morte. Em seguida, as DCs apresentam os antígenos tumorais capturados através das moléculas de MHC I e MHC II para as células T, resultando na iniciação e ativação das respostas das células T efetoras. Finalmente, essas células T ativadas trafegam e se infiltram no leito tumoral, reconhecem e se ligam especificamente às células cancerosas por meio da interação entre seu receptor de células T (TCR) e seu antígeno cognato ligado a MHC I, induzindo a morte celular. Com isso, a morte da célula cancerosa libera mais antígenos associados ao tumor, amplificando a resposta imunológica. As células neoplásicas, adquirem alterações genéticas e/ou epigenéticas que inibem ou desligam a resposta imunológica normal através de vários pontos dos mecanismos citados acima (CHEN, D et al., 2013). Com o avanço do conhecimento das bases moleculares do câncer, observou-se que outras duas características são pertinentes a este processo, sendo elas: a reprogramação do metabolismo energético (Efeito Warburg) e a evasão do sistema imune. Adicionalmente a essas alterações supracitadas, as condições capacitadoras do câncer são a instabilidade genômica, que aumenta a diversidade genética e acelera a aquisição de mutações, e a inflamação, que promove alteração de vários mecanismos e entregam um cenário propenso à alterações fisiológicas, tanto no microambiente quanto da própria célula (HANAHAN et al., 2011). 4.3. ANÁLISE E DISCUSSÃO 4.3.1. Patogenia e manifestações clínicas da COVID-19 O SARS-CoV-2 infecta células pulmonares, principalmente células epiteliais alveolares tipo 2 (AEC2), através do receptor da ACE2 (ZHANG, J et al., 2020). As proteínas ACE2 são expressas nas membranas de vários tipos celulares e interagem com as proteínas da espícula viral (S-spike), que está presente na superfície do envelope viral e deflagra o processo de internalização do vírus na célula hospedeira (WÖLFEL et al., 2020). Células infectadas secretam grandes quantidades de quimiocinas e citocinas (IL1, IL6, IL8, IL21, TNFβ e MCP1), que por sua vez, recrutam leucócitos para o local da infecção. Em humanos, tanto monócitos quanto macrofágos expressam ACE2, portanto podendo ser infectados. Estes, apresentam antígenos aos linfócitos T, levando à sua ativação, diferenciação e produção de mais citocinas pró-inflamatórias que amplificam a resposta (LI et al., 2020). As células T efetoras ativadas migram para os pulmões e sua ação promove a destruição dos pneumócitos, enquanto que os neutrófilos ativados liberam leucotrienos e espécies reativas de oxigênio (ERO) e de nitrogênio (ERN) que promovem danos aos pneumócitos e células endoteliais, levando diretamente à lesão pulmonar aguda (LI et al., 2020). Em consequência, observa-se as seguintes alterações morfopatológicas em pacientes com COVID-19: edema pulmonar, lesão alveolar difusa com formação de membranas hialinas, presença de hiperplasia reativa de pneumócitos tipo II, agregados proteicos, exsudatos fibrinosos, monócitos e macrófagos dentro dos espaços alveolares e células mononucleares intersticiais (XU et al., 2020). Quando as alterações do parênquima pulmonar são extensas e o há dano alveolar difuso, o quadro resulta na SRAG (TSENG et al., 2005 e VARDHANA et al., 2020). Os mecanismos moleculares já publicados associados ao desenvolvimento da COVID-19 foram sintetizados na Figura 3. Figura 3: Mecanismos moleculares comprovados na COVID-19grave. O SARS-CoV-2 ativa diretamente as células B estimulando a imunidade humoral e levando a produção de imunoglobulinas. Além disso, pode infectar as células epiteliais alveolares, que levam a inibição da replicação viral através de IFN-γ, produzida por TCD8+. Ao infectar o monócito, ocorre a ativação das células TCD4+ e TCD8+, estimulando a secreção de diversas citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias. O monócito infectado também secreta citocinas inflamatórias que contribuem para a exacerbação do processo inflamatório. Fonte: O autor, 2021 Uma das causas da SRAG e da falência de órgãos é a tempestade de citocinas (YE; WANG; MAO, 2020). Este fenômeno é definido como uma cascata de ativação de citocinas que se auto amplificam devido à resposta imunológica excessiva (TANG et al., 2020). Uma consequência celular da tempestade de citocinas é a apoptose de células epiteliais e endoteliais do pulmão, podendo causar extravasamento vascular e edema alveolar, resultando em hipóxia. A indução da apoptose ocorre por IFN-α/β/γ por meio da via de Fas/FasL (Herold S et al.,2018). Essa tempestade de citocinas é comum em pacientes graves e críticos ao mesmo tempo que ocorre a redução de linfócitos e de células natural killer (NK) (linfopenia), aumento dos níveis de Dímero D, proteína C reativa, ferritina e procalcitonina. (CHEN, N et al., 2020). Os macrófagos quando ativados por IFN-α/β, produzem quimioatraentes para monócitos (como CCL2, CCL7 e CCL12), resultando no acúmulo de macrófagos no local da lesão. Esses são os principais responsáveis por produzir níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias (TNF, IL-6, IL1-β, iNOS, IL-1B, IFN-γ, IP-10 e MCP-1), aumentando assim a gravidade da doença (CHANNAPPANAVAR et al., [s.d.]). Essa alta expressão de citocinas pró-inflamatórias ativam linfócitos T CD4+, que se diferenciam T helper tipo 1 (Th1) e passam a produzir fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos (GM-CSF) e interleucina-6 (IL-6), o que promove uma alça de regulação positiva que mantêm a resposta inflamatória através da ativação de mais leucócitos mononucleares CD14+ CD16+ (HAIMING et al., 2020; HUANG et al., 2020a; ZHOU et al., 2020). A IL-6 desempenha um papel crucial na patologia do COVID-19 (Fig 3), incluindo a quimiotaxia de neutrófilos, necrose linfocitária, expansão e ativação da população de células T, diferenciação de células B, e regulação da resposta de fase aguda (HUNTER; JONES, 2015; TANG et al., 2020) As células T e B desempenham um papel antiviral e promovem secreção de citocinas inflamatórias (ZHANG, J et al., 2020). Uma vez que o vírus esteja dentro das células epiteliais respiratórias, os peptídeos virais são apresentados através de proteínas do complexo principal de histocompatibilidade de classe I (MHC I) para células T citotóxicas CD8+, enquanto que as células dendríticas e macrófagos apresentam peptídeos virais para células T CD4 + por meio de moléculas MHC II (Fig 3). As células B podem ser ativadas diretamente através do reconhecimento do vírus ou através da interação com linfócitos TCD4 + sensibilizados (JANSEN et al., 2019). O perfil da resposta humoral contra o SARS-CoV-2 ainda não está bem caracterizado. Curiosamente, foi observado que níveis séricos de IgG específicos podem ser encontrados já elevados ao mesmo tempo ou mais cedo do que os níveis de IgM. Três tipos de soroconversão foram observados: soroconversão síncrona de IgG e IgM; soroconversão precoce de IgM seguida de IgG (resposta normal esperada); e soroconversão de IgM posterior à de IgG. No entanto, é predominantemente relatado que os níveis de IgG e IgM em pacientes com COVID-19 grave são mais altos do que em pacientes com a doença branda (DONG et al., 2019; LONG et al., 2020). Os linfócitos T e as células NK mostram citotoxicidade para células epiteliais infectadas por vírus e as induzem à apoptose (JANSEN et al., 2019). Além da importância da resposta Th1, pesquisadores vêm indicando que a super ativação dos linfócitos T-helper 17 (Th17) e alta citotoxicidade das células TCD8+ são, parcialmente, responsáveis pelos distúrbios imunológicos observados na COVID-19 (XU Z et al., 2020). Em casos de COVID-19 grave (Fig 3), as células TCD8+ secretam predominantemente INF-𝛾 e as células TCD4+ secretam predominantemente citocinas de perfil Th1 (IFN-𝛾, TNF,e IL-2) e Th2 (IL-5, IL-9 e IL-10) (WEISKOPF et al., 2020). A INF-I (IFN-α e IFN-β) desempenha um papel antiviral e atua como linha de defesa inibindo diretamente a replicação viral e modulando indiretamente a resposta imune do hospedeiro (CHANNAPPANAVAR et al., 2019). Um estudo feito pelo The Journal of Clinical Investigation indicou que a infecção por SARS-CoV-2 induz linfopenia em células TCD4+ e TCD8+ e suprime a produção de IFN-γ pelas células TCD4+ (CHEN,N et al., 2020). Assim, o SARS-CoV-2 pode levar os linfócitos citotóxicos (NK e TCD8+) condição essa que foi demonstrada pela presença dos marcadores de exaustão regulados positivamente, como o NKG2. Foi observado que os marcadores de exaustão voltam ao normal em pacientes que estão convalescentes ou que se recuperaram (CHEN,X et al.,2020) A linfopenia observada, resulta na redução da resposta das células T, pois estas sofrem apoptose mediada por TNF resultando em resposta inflamatória não controlada, já que as células T são cruciais para a eliminação e controle da infecção viral (CHANNAPPANAVAR; PERLMAN, [s.d.]). Dessa forma, são observadas duas fases na COVID-19 grave, a primeira em que o vírus promove um excesso de ativação exacerbada das células TCD8+ no início da doença, seguido por uma exaustão celular (AZKUR et al., 2020). Além da linfopenia, o quadro de eosinopenia foi observado em 52,9% (73/138) dos casos de COVID-19 hospitalizados (ZHANG, J et al., 2020). Os eosinófilos também desempenham papel antiviral e atuam como células apresentadoras de antígenos, participando da imunidade adaptativa (FLORES-TORRES et al., 2019). A causa da eosinopenia observada na COVID-19, pode seguir diversos mecanismos, como a exaustão da imunidade, a alta taxa de migração de eosinófilos do sangue periférico para o órgão infectado ou devido a forte resposta Th1 que antagoniza as respostas do tipo Th2 (LINDSLEY et al., 2020). No entanto, a literatura ainda não apresenta o mecanismo claro e comprovado para este fenômeno. Outro fator molecular já apontado é que a gravidade da doença está associada à ativação do inflamassoma, através do receptor citoplasmático NLRP3 (pyrin domain containing 3), pelo SARS-CoV-2 nas AEC2 e nos macrófagos. O inflamassoma recruta a caspase-1 e aumenta a produção IL-1β, IL-18, e gasdermin-D. Esta última, promove formação de poros na membrana, induzindo uma forma inflamatória de morte celular chamada piroptose, que em conjunto com a ação das outras citocinas pró-inflamatórias, contribuem para o dano celular e tecidual observado na COVID-19 grave (Fig 3) (BROZ e DIXIT 2016). Dessa forma, os diversos estudos coletados e analisados descrevem a patogenia da COVID-19 como complexa, com importante base inflamatória e imunológica, e que apesar de diversas lacunas ainda não esclarecidas, já apontam que é uma doença que deve ser tratada como uma infecção generalizada (sepse), uma vez que seus sintomas graves são causados quase que majoritariamente pela ação exacerbada e desregulada da inflamação. 4.3.2. Relação entre COVID-19 e Câncer: patogenia e evolução da doença O processo de carcinogênese sofre influência de importantes fatores ambientais, sendo eles: agentes infecciosos, tabagismo, álcool, dieta, obesidade, história reprodutiva e exposição a carcinógenos ambientais. O risco de desenvolvimento de câncer aumenta em situações de proliferações reparadoras não autolimitadas que estão associadas à inflamação crônica e lesão tecidual prolongada, em certas formas de hiperplasia e em quadros de imunodeficiência (KUMAR; ABBAS; ASTER, [s.d.]). Os agentes infecciosos podem induzir a carcinogênese através da indução e manutenção da inflamação crônica (condição capacitadora do câncer),da transformação das células por inserção de oncogenes do próprio patógeno, e/ou pela inibição de genes supressores tumorais do hospedeiro e pela indução de imunossupressão (BERAL et al., 1998; KUPER et al., 2000). Sob o ponto de vista da inflamação crônica, ao contrário da situação em que se apresenta como condição capacitora do câncer, a “inflamação normal’’ associada à cicatrização de feridas, geralmente é autolimitada, de forma que a produção de citocinas anti-inflamatórias acontece em seguida das citocinas pró-inflamatórias. A inflamação crônica acontece devido a persistência dos fatores de ativação ou falhas nos mecanismos de resolução da resposta inflamatória. Assim, a desregulação de qualquer um desses fatores podem levar a anormalidades. Este parece ser o caso durante a progressão neoplásica. (COUSSENS et al., 2002).Os sinais que promovem a disseminação de células malignas também podem ser produzidos por células inflamatórias. Assim, a inflamação crônica se comporta como um importante promotor tumoral, através da produção de citocinas, tais como IL-6, IL-1, TNF (KARIN et al., 2005). O componente inflamatório de uma neoplasia pode incluir uma população diversa de leucócitos, incluindo neutrófilos, células dendríticas, macrófagos, eosinófilos, mastócitos e linfócitos que produzem uma variedade de mediadores inflamatórios. (KUPER et al., 2000). O TNF-α é uma citocina com importante papel nos eventos iniciais de desenvolvimento tumoral, regulando cascatas de ativação de citocinas, quimiocinas, aderências, atividade de metaloproteinases de matriz (MMP) e etapas pró-angiogênicas. Estudos consideram que o TNF-α pode ser um dos principais responsáveis pelo qual a inflamação atua como promotora tumoral (BALKWIL et al., 2001). Os macrofágos associados a tumores (MAT) são derivados de monócitos quimioatraídos ao local do tumor e são componentes importantes do infiltrado inflamatório em tecidos neoplásicos. Os MAT podem matar células neoplásicas após ativação por IL-2, IFN e IL-12, mas também produzem fatores de crescimento angiogênicos e linfangiogênicos potentes, citocinas e proteases que favorecem a invasão e metástase, potencializando a progressão neoplásica (SCHOPPMANN et al., 2002). No estágio inicial do desenvolvimento tumoral, macrófagos tipo 1 (M1) ativados pelo processos inflamatórios infiltram o local e liberam citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias, como CXCL19 e CXCL10, para atrair e ativar células Th1, Th17 e NK. Entretanto, em tumores mais avançados ou em regiões hipóxicas do microambiente tumoral, os MAT polarizam para uma célula com perfil mais semelhante ao macrófago tipo 2 (M2), liberando fatores que estimulam a diferenciação e recrutamento de células Th2 (MOVAHEDI et al., 2010). O fator nuclear-κB (NF-κB) faz parte de uma família de fatores de transcrição que regula uma grande variedade de genes envolvidos nas respostas imune e inflamatória (LIU et al., 2017). A ativação do NF-κB em células com potencial de transformação maligna, pela ligação de TNF ou IL-1, induz a expressão de genes anti-apoptóticos, garantindo assim a sobrevivência e proliferação celular, facilitando a progressão tumoral. Em células inflamatórias, a atividade de NF-κB também promove a produção de ERO, que podem danificar o DNA das células circundantes (KARIN et al., 2005). No processo de progressão do câncer, a transição epitelial-mesenquimal é um estágio crítico no processo metastático. Esta etapa conta com a participação de várias citocinas (TGF-β, IL-1β, IL-6, TNF-α, etc.), que também estimulam o NF-κB e a transdução de sinais pró-inflamatórios (STAT3), de modo que os dois mecanismos (tumoral e inflamatório) convergem entre si (GRIVENNIKOV et al., 2010). Ainda no processo de progressão tumoral, assim como no processo inflamatório associado ao reparo tecidual, as MMP também são secretadas para digerir proteínas da matriz extracelular, porém facilitando a migração de células tumorais (QU et al., 2018). Além de sua participação na degradação de matriz, as MMP também ativam o recrutamento de células inflamatórias e ativam a angiogênese (EGEBLAD et al., 2002). Os linfócitos T reguladores (Tregs) estão associados à inibição da imunidade mediada por células TCD4 + e CD8 +, e quando esta inibição ocorre no microambiente tumoral, há redução da resposta imune tumoral. As células Th17 estão envolvidas em doenças autoimunes graves e em condições inflamatórias crônicas persistentes. Esses linfócitos produzem IL-23, que tem efeito pró-tumorigênico, promovendo inflamação, angiogênese e reduzindo a população de células TCD8+ no microambiente tumoral (ZAMARRON et al., 2011). As células Th1 produtoras de IFN-γ e as células TCD8 + desempenham um papel importante na inibição e na morte de células tumorais, impedindo o crescimento tumoral. Por isso, infiltrados linfocíticos espontâneos podem ser observados de forma consistente em uma variedade de cânceres humanos e, em alguns casos, esses linfócitos infiltrados se correlacionam com um prognóstico favorável (BUI et al., 2007). Muitas citocinas e quimiocinas são induzidas por hipóxia, que é um fator fisiológico importante que difere o tumor do tecido normal (KONG et al., 2000). Elas têm potencial para estimular proliferação e sobrevivência de células tumorais e algumas delas também podem atuar como fatores autócrinos de crescimento e sobrevivência para células malignas (BALKWILL et al., 2001). Neste contexto, a IL-6 participa de um amplo espectro de eventos biológicos, como inflamação sinovial, respostas imunes, hematopoiese e reações de fase aguda. Ela se liga ao receptor de IL-6 (IL-6R) e à glicoproteína 130 (gp130) para formar um complexo hexomérico. As vias de sinalização intracelular em que ela atua envolvem a Janus quinase (JAK) e a via do transdutor de sinal e ativador da transcrição (STAT) (CHOY et al.,2020), a qual está envolvida na tumorigênese, processo esse bem caracterizado no linfoma de células T, câncer de pulmão e câncer de mama (SCOTT et al., 2015). No câncer de pulmão, por exemplo, a IL-6 atua diretamente nas células epiteliais pulmonares através da via de sinalização NF-κB (HECHT., 2002). A IL-6, promove a proliferação e migração das células tumorais do pulmão por meio da sinalização STAT3 (YEH et al., 2006). Assim, a ativação da via IL-6-STAT3-NF-κB aumenta a expressão de produtos pró-inflamatórios, incluindo MCP-1 e IL-18, e contribui como fator impulsionador da tumorigênese e da sinalização anti-apoptose, podendo assim, ser vista como um biomarcador chave de risco, diagnóstico e prognóstico de câncer (VARGAS E HARRIS ., 2016; TURNQUIST et al., 2020). Estudos em andamento levantaram a hipótese de haver uma associação entre a infecção pelo Sars-Cov-2 e a indução da carcinogênese através da ativação das vias de sinalização MAPK-JAK-STAT e o fator de transcrição NF-κB. Umas vez que, a via de sinalização MAPK, ativada após a infecção viral, está envolvida na tumorigênese de diversos tipos de tumores, incluindo o carcinoma hepatocelular, o câncer adrenocortical, endometrial, colorretal e os adenomas hipofisários (TURNQUIST et al., 2020). A tempestade de citocinas é uma característica tanto da infecção por SARS-CoV-2 quanto do câncer, sendo a IL-6, umas citocinas com papel mais proeminente em ambas as situações (FRAIETTA et al., 2018; TURNQUIST et al.,2020). A IL-10 pode inibir a ativação de NF-κB e da angiogênese dentro do microambiente tumoral. Apesar disso, no entanto, a IL-10 também pode ativar STAT3 e, assim, ajudar a promover o desenvolvimento do tumor, desempenhando um papel na proliferação e sobrevivência celular (LIN et al., 2007), de forma que, mesmo citocinas de caráter anti-inflamatório, em um contexto de desregulação como a tempestade de citocinas, podem trazer consequências danosas. Em pacientes com câncer, a vigilância tumoral não desempenha a função ideal. O ciclo de imunidade ao câncer pode ser prejudicado após uma infecção viral, uma vez que o sistema imune leva à apoptose de células T, contribuindo para um estado de imunossupressão(HAYS et al.,2020). Na COVID-19, os pacientes com câncer são considerados um grupo vulnerável devido ao enfraquecimento do sistema imunológico causado pelo crescimento do tumor e os efeitos colaterais do tratamento antineoplásico (KAMBOJ et al., 2009). Em comparação com a população sem câncer, os pacientes oncológicos apresentam maior probabilidade de contrair infecções bacterianas, fúngicas e virais (PENN et al., 1973) e risco aumentado de eventos clínicos graves, como admissão à unidade de terapia intensiva, necessidade de ventilação invasiva (LIANG et al., 2020). Assim, infere-se que os pacientes com câncer estejam em maior risco, tanto de infecção quanto de complicações clínicas durante a pandemia de COVID-19 (ADDEO et al.,2020). Nos pacientes oncológicos em tratamento ativo, a linfopenia é comum e, portanto, a resposta imune está prejudicada. A liberação persistente de citocinas (provavelmente mediada por por linfócitos T) pode levar à tempestade de citocinas e causar dano pulmonar significativo, além serem mediadoras de efeitos capacitores do câncer, como: promoção do crescimento celular, danos ao DNA via ERO, inibição de reparo de DNA, inativação funcional de genes supressores de tumor, aumento da produção de fatores de sobrevivência e crescimento autócrino/parácrino para células malignas, indução de permeabilidade vascular e remodelação do tecido via indução/ativação de MMP (BALKWILL et al.,2001). A desregulação de CD147, em quase todos os tipos de cânceres, está associada com a ativação das MMP, produção de VEGF e outros sinais de invasão metástase. Pesquisadores observaram em experimentos in vitro que o medicamento anti-neoplásico monoclonal meplazumabe, bloqueia a proteína CD147, também e também evitando a ligação e entrada do SARS-CoV-2 nas células. Assim, a literatura atual aponta como uma pergunta biológica biológica a ser investigada a possibilidade do tratamento com o meplazumabe conferir efeitos benéficos no tratamento da COVID-19 de pacientes oncológicos, ou se seu uso reduziria a probabilidade de infecção (AZKUR et al., 2020). Na evolução da COVID-19 em pacientes oncológicos, as complicações clínicas mais graves e causas de morte mais comuns foram a SDRA (28,6%), seguida por embolia pulmonar (7,1%), choque séptico (3,6%) e infarto agudo do miocárdio (IAM) (3,6%) (ZHANG, L et al., 2020). Outro estudo mostrou que em 52 pacientes com câncer e COVID-19, as complicações mais comuns foram lesão hepática (36,5%), SDRA (17,3%), sepse (15,4%), lesão miocárdica (15,4%), insuficiência renal (7,7%) e síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (5,8%) (YANG, F et al., 2020). Os pacientes com câncer sem a COVID-19 também apresentam risco de desenvolver essas mesmas complicações, sendo difícil atribuir esses sintomas apenas à COVID-19. No entanto, a evolução do dano pulmonar extenso, a SDRA e lesões cardíacas graves se apresentam como as causas principais de risco elevado de morte nos pacientes acometidos pela COVID-19 e o câncer. 4.3.3. Índices de mortalidade por COVID19 em pacientes oncológicos Como a mortalidade por COVID-19 é diferente para cada tipo de câncer, não é possível classificar todos os pacientes com câncer como igualmente suscetíveis (LEE et al., 2020). A taxa de letalidade para pacientes oncológicos infectados na China é de 28,6% (ZHANG, L et al., 2020), em comparação com uma taxa de 2,3% para todos os pacientes com COVID-19 (ONDER et al., 2020). Em um estudo com 28 pacientes com câncer e COVID-19, 17 (60,7%) pacientes eram do sexo masculino. A idade mediana (intervalo interquartil) foi de 65 (56-70) anos. O câncer de pulmão foi o tipo de câncer mais frequente (n¼7; 25,0%) e oito (28,6%) pacientes tinham suspeita de transmissão hospitalar (ZHANG, L et al.,2020). O estudo de YANG e colaboradores, 2020, realizado com 205 pacientes com infecção por SARS-CoV-2 e diagnóstico de tumor maligno realizado nos hospitais de Hubei, China, concluiu que em particular, pacientes do sexo masculino e recebendo quimioterapia durante 4 semanas antes do início dos sintomas da COVID-19, mostraram maior risco de morte em relação aos pacientes com câncer que foram diagnosticados com COVID-19 e não receberam a quimioterapia 4 semanas antes (YANG,K et al., 2020). Entre os pacientes com COVID-19 internados nos nove hospitais do estudo, 2,5% tinham câncer, enquanto que na população geral chinesa o índice de pessoas com câncer é de 0,29%, sugerindo assim que pacientes oncológicos são mais susceptíveis ao desenvolvimento da COVID-19 do que a população geral (ZHENG et at.,2015; YANG,K et al., 2020). Yu e colaboradores, em 2020, publicaram uma análise retrospectiva de 1.524 pacientes com câncer que foram admitidos no Hospital Universitário de Wuhan, no qual relataram maior risco de infecção por SARS-CoV-2 em indivíduos com câncer (OR, 2,31; IC de 95%, 1,89–3,02) em comparação com a população em geral. Este risco parece estar igualmente elevado nos pacientes com ou sem tratamento anti-neoplásico ativo. Os mais propensos a desenvolver COVID-19 foram os pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas e aqueles com idade acima de 60 anos (YU et al.,2020). No Brasil, poucos estudos avaliaram a mortalidade por COVID-19 em pacientes com câncer. Em outro estudo realizado com 411 pacientes diagnosticados com COVID-19, 51 (12,4%) faleceram. Neste estudo, os dados demográficos e clínicos dos pacientes que foram a óbito devido a COVID-19 foram comparados aos que sobreviveram, sendo a maioria dos pacientes do sexo feminino em ambos os grupos, 52,9% (27) e 57,5% (207), respectivamente. Dos pacientes que morreram, 66,7% (34) tinham ≥60 anos (± 63), enquanto no grupo sobrevivente 55,0% (198) tinham <60 anos (± 56). A taxa de mortalidade em pacientes com câncer após a infecção por COVID-19 foi mais alta entre os pacientes com câncer de pulmão (0,333) e cânceres hematológicos (0,213) e na faixa etária de 70-79 anos (FERNANDES et al., 2021). Uma análise realizada de abril a maio de 2020, pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), com 181 pacientes, identificou que a taxa de mortalidade pela COVID-19 foi de 33,1% em pacientes com diagnóstico de câncer. Porém, 60,8% (110/181) dos pacientes apresentavam outras comorbidades, sendo as mais comuns, hipertensão (77 [42,5%]) e diabetes (31 [17,1%]), além de 21 (11,6%) pacientes com três ou mais comorbidades (MELO et al., 2020). De modo que ainda é necessário estudos com maior número de indivíduos para uma análise segura na população brasileira. Além das diferenças relacionadas ao sexo e taxa de tabagismo, as diferenças no sistema imunológico e endócrino entre homens e mulheres também podem exercer respostas diferentes contra a infecção por SARS-CoV-2, com diferenças já observadas em todas as populações, não apenas em pacientes com câncer (GUO et al., 2020; SHULLY et al., 2020). Como a expressão da ACE2 é entre os sexos e diferente em vários tipos de câncer (CHAI et al., 2020), é proposto a necessidade uma análise da relação entre os casos - taxa de letalidade e expressão de ACE2 em pacientes com câncer e COVID-19 (GUO et al., 2020). Por exemplo, foi relatado baixa taxas de letalidade, 57% (62/109), em mulheres com COVID-19 que tiveram câncer de mama, tireóide ou colo do útero (YANG, K et al., 2020), o que desperta questões a serem investigadas. Além de todo o exposto, a continuidade ou interrompimento da terapia contra o câncer ainda é um assunto controverso. Em certos tipos de tumores malignos, um diagnóstico e tratamento oportunos são fortemente recomendados, com grande impacto na sobrevida do paciente. Enquanto que em outros tipos de cânceres em estágios iniciais, como no câncer de próstata de baixo risco, optar pela vigilância, adiar o tratamento ou identificar tratamentos alternativos, pode ser uma opção durante a pandemia de COVID-19 para pacientes em risco. Até o momento, é recomendado que todos os pacientes em terapia contra o câncer devem continuar seu tratamento, apesar do risco potencial de infecção por COVID-19 devido aos efeitos colaterais do tratamento.Hoje, os dados publicados indicam que a relação custo-benefício tende a priorizar a continuidade do tratamento (ADDEO et al., 2020). No entanto, ainda há muitas lacunas quanto às interações entre patogenia e manifestações clínicas de ambas as doenças, principalmente pela dificuldade de identificar os fatores relacionados a cada tipo de comorbidade. 4. CONCLUSÕES A COVID-19 causa resposta imune e inflamatória desenfreadas, o que leva ao dano tecidual e perda de função do tecido afetado, sendo a função pulmonar a mais prejudicada. A tempestade de citocinas está no ponto central da patogenia da forma grave da COVID-19, sendo ela um fenômeno comum tanto à infecção pelo SARS-CoV-2 quanto ao desenvolvimento do câncer. A interleucina 6 (IL-6), é amplamente apontada como a citocina com ação mais proeminente em ambas as doenças. As principais manifestações clínicas da COVID-19 grave com ligação à letalidade são a SDRA e lesões cardiológicas graves, tanto em pacientes oncológicos quanto em pacientes sem diagnóstico de câncer. A resposta inflamatória desenfreada observada na COVID-19 grave leva à linfopenia de células T e deficiência no sistema imunológico. O estado de imunocomprometimento desenvolvido na patogenia de ambas as doenças, câncer e COVID-19, fundamenta a hipótese científica mais apontada pela literatura como causa do maior risco dos pacientes oncológicos se infectar com o SARS-CoV-2 e desenvolverem a forma grave da doença. 5. REFERÊNCIAS https://covid.saude.gov.br/ ROTHAN, H. A.; BYRAREDDY, S. N. The epidemiology and pathogenesis of coronavirus disease (COVID-19) outbreak.Journal of AutoimmunityAcademic Press, , 1 maio 2020. HUANG, X. et al. Epidemiology and clinical characteristics of COVID-19.Archives of Iranian Medicine, 2020. PASCARELLA, G. et al. COVID-19 diagnosis and management: a comprehensive review.Journal of Internal Medicine, 2020. HE, Y. et al. Receptor-binding domain of SARS-CoV spike protein induces highly potent neutralizing antibodies: Implication for developing subunit vaccine. Biochemical and Biophysical Research Communications, v. 324, n. 2, p. 773–781, 12 nov. 2004. KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. C. 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