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Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo Tutoria 4 Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI) A fibrose pulmonar idiopática (FPI) é uma pneumopatia intersticial fibrosante crônica, progressiva, restrita ao pulmão e de etiologia desconhecida. Acomete preferencialmente adultos com mais de 60 anos de idade, raramente ocorrendo antes dos 50 anos, predomina no sexo masculino na proporção de 1,5 a 1,7:1 e em pacientes com história de tabagismo. Caracteriza-se por dispneia e perda de função pulmonar progressivas e está associada a mau prognóstico. Histologicamente manifesta-se pelo padrão de pneumonia intersticial usual (PIU), o qual frequentemente pode ser inferido a partir de achados tomográficos típico. Fatores de Risco Apesar de a FPI ser por definição uma doença de causa desconhecida existe uma série de potenciais fatores de risco, a saber: • Tabagismo: a maioria dos pacientes com FIP tem história atual ou pregressa de tabagismo. Existe uma associação forte entre as duas condições especialmente quando a carga tabágica excede 20 anos-maço. • Exposições ambientais: especialmente à poeira de metais e poeira de madeira. A relevância dessas associações é ainda desconhecida. • Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): importante fator associado. • Fatores genético: vários genes vêm sendo estudados como potencialmente implicados na patogenia da FPI, os principais são: (1) mutações nas proteínas surfactante A (SP-A2)11 e C (SFTPC); (2) polimorfismo no promotor do gene que codifica a mucina SB (MUCSB) localizado no cromossomo 11 (associado a maior risco de FPI, mas também com melhor sobrevida para esses pacientes); (3) mutação nos genes da telomerase (p. ex., TERT, TERC, DKCI, TINF2) gerando telômero curto. Aproximadamente 5% dos casos de FPI correspondem à fibrose pulmonar familiar. • Agentes microbiológicos: vírus Epstein-Baar, citomegalovírus, vírus da hepatite e herpes vírus 7 e 8 vem sendo estudados como potenciais desencadeadores da doença. Quadro Clinico A FPI apresenta quadro clinico inespecífico, sendo os sintomas mais comuns tosse seca e dispneia progressiva. Por esse motivo, o tempo entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico correto costuma ser longo, frequentemente excedendo um ano. No exame físico, a ausculta pulmonar revela estertores em velcro nas bases pulmonares em até 90% dos pacientes. O baqueteamento digital pode ser observado em 30 a 40% dos casos e indica pior prognóstico. Sinais de hipertensão pulmonar como, segunda bulha hiperfonética, estase jugular e edema de membros inferiores, também podem estar presentes em fases mais avançadas da doença. Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo Diagnóstico A FPI é um diagnóstico de exclusão. preciso excluir outras causas de doença pulmonar intersticial que se associam ao padrão PIU como aquelas associadas a exposições ambientais (p. ex., asbestose, pneumonia de hipersensibilidade crônica), doenças sistêmicas (p. ex., colagenoses) e toxicidade por droga. A radiografia de tórax tipicamente mostra um infiltrado reticular ou reticulonodular bilateral de predomínio nas bases. Nas fases mais avançadas podem-se perceber diversas áreas de faveolamento pulmonar, marcadas pela presença de múltiplos cistos medindo de 0,5 a 1 cm. A TCAR é fundamental para avaliarmos a extensão do comprometimento pulmonar e a fase da doença, além de ser suficiente para confirmar o diagnóstico em casos típicos (sem necessidade de biópsia – ver Tabela adiante). A presença de múltiplas áreas com aspecto de vidro fosco significa uma fase mais precoce, em que predomina o processo de alveolite e exsudato mononuclear. As alterações tendem a predominar nas regiões subpleurais e parasseptais (um padrão “peribroncovascular” fala contra o diagnóstico de FPI). O faveolamento significa fase avançada. É interessante ressaltar que, no mesmo paciente, é esperado encontrarmos áreas de vidro fosco e áreas de faveolamento entremeadas com áreas de aspecto normal. Devemos excluir outras doenças que podem provocar alterações semelhantes, como LES, artrite reumatoide, esclerodermia e asbestose. O que pode trazer confusão é a positividade do FAN, presente em 20% dos casos de FPI. O esclarecimento diagnóstico em casos duvidosos (aspecto tomográfico “não definitivo” de FPI) envolve a realização de uma biópsia pulmonar a céu aberto ou guiada por toracoscopia. O padrão histopatológico esperado denomina-se Pneumonite Intersticial Usual (UIP), que se caracteriza pela presença, numa mesma amostra tecidual, de três padrões concomitantes (aspecto em “colcha de retalhos”): (1) alveolite mononuclear; (2) fibrose alveolar; e (3) áreas de faveolamento. Os tecidos brônquico e vascular são poupados. O tratamento traz pouco ou nenhum ganho para a maioria dos pacientes, que acabam evoluindo inexoravelmente para insuficiência respiratória terminal em 3-8 anos Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo (sobrevida média em cinco anos de 30-50%). Assim, apenas uma conduta paliativa pode ser adotada (ex.: fisioterapia respiratória, controle da tosse, suporte de O2, paliação da dispneia e abordagem das comorbidades). O transplante pulmonar pode ser considerado de forma precoce em pacientes que não possuem múltiplas doenças associadas! Muitos autores agora preconizam a utilização de N-acetilcisteína (600 mg VO 3x ao dia) por conta de seus efeitos antioxidantes, mas não existem evidências consistentes de que esta medicação altere a sobrevida ou a qualidade de vida do paciente. A pirfenidona (40 mg/kg/dia VO dividido em três doses), um agente “antifibrosante”, pode ser usada no lugar da N-acetilcisteína em monoterapia, quando disponível. Bronquiectasias A bronquiectasia é uma desordem adquirida caracterizada por uma dilatação anormal e permanente dos brônquios, podendo ser de distribuição focal ou difusa. Epidemiologia A prevalência de bronquiectasias aumenta com a idade, com uma diferença de 8 a 10 vezes na prevalência após os 60 anos (300 a 500 / 100.000) em comparação com as Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo idades <40 a 50 (40 a 50 / 100.000). Atualmente, nos países desenvolvidos, a maior parte das bronquiectasias é atribuída a doenças sistêmicas. Entretanto, em países em desenvolvimento, com menos recursos de saúde, ou em comunidades pobres, as bronquiectasias pós-infecciosas continuam sendo um importante problema de saúde pública. Etiologia As bronquiectasias abrangem diversas doenças respiratórias e doenças sistêmicas, podendo ser divididas em congênitas, adquiridas e idiopáticas. Em todo o mundo, cerca de 50% dos pacientes permanecem com diagnóstico de bronquiectasias idiopáticas, a despeito de um protocolo sistemático de investigação etiológica. Fisiopatologia Macroscopicamente, as vias respiratórias envolvidas pelo processo tornam-se dilatadas, tortuosas, flácidas e, em geral, parcialmente obstruídas por secreções purulentas. As vias respiratórias mais periféricas costumam estar inflamadas e preenchidas por secreções em decorrência da obstrução mais proximal. A longa duração do processo obstrutivo pode ocasionar a substituição das pequenas vias respiratórias por processo fibrótico acelular. Esse conceito é de suma importância, pois, apesar de a doença ser caracterizada pela dilatação das grandes vias respiratórias, o comprometimento das pequenas vias respiratórias é fundamental na gênese dos sintomas e na gravidade desses pacientes. Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo Microscopicamente, parte das vias respiratórias afetadas está espessada por edema e células inflamatórias, enquanto outras áreas de mucosa apresentam erosões, úlceras e até mesmo formação de abscesso. A inflamação persistente pode levar à metaplasia escamosa. Podem ocorrer broncomalácia, hipertrofia muscular e intensa neovascularização de artérias brônquicas. Embora o processo envolva primariamente as viasrespiratórias, as pneumonias recorrentes podem comprometer o parênquima pulmonar com inflamação, edema e fibrose, levando à distorção da arquitetura alveolar. Os três mecanismos mais importantes que contribuem para a patogênese das bronquiectasias são: ✓ Infecção ✓ Obstrução das vias respiratórias ✓ Fibrose peribrônquica A resposta inflamatória envolve o recrutamento de neutrófilos e linfócitos T. Ocorre liberação de elastase, colagenase e outras substâncias pelos neutrófilos recrutados. Os macrófagos e as células epiteliais das vias respiratórias liberam substâncias químicas como interleucina-8, fator de necrose tumoral e prostanoides, que influenciam a migração de células. O resultado final da inflamação na parede brônquica é a destruição de suas camadas elástica e muscular, levando às características dilatações das bronquiectasias. A distorção brônquica originada desse processo irá proporcionar ainda maior obstrução e retenção de secreção, aumentando o processo infeccioso. As causas de bronquiectasias são diversas, geralmente envolvendo uma patologia infecciosa, tanto diretamente quanto através de uma desordem que proporcione a ocorrência de infecções recorrentes ou persistentes. Existem, contudo, algumas doenças causadoras de bronquiectasias cujo mecanismo é não infeccioso, mediado por uma resposta imune inflamatória, como, por exemplo, na inalação de gases tóxicos e na deficiência de alfa-1-antitripsina. Classificação Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo As bronquiectasias podem apresentar-se de duas formas: como um processo focal ou como um processo difuso, como podemos observar no fluxograma a seguir: Em relação à classificação, as bronquiectasias podem ser classificadas em três categorias, de acordo com os achados patológicos e broncográficos, em: • Bronquiectasias cilíndricas, nas quais os brônquios estão consistentemente alargados; • Bronquiectasias varicosas, nas quais existem constrições em segmentos de bronquiectasias cilíndricas, causando uma irregularidade que lembra as veias varicosas; • Bronquiectasias saculares ou císticas, nas quais a dilatação aumenta em direção à periferia pulmonar, o que causa uma estrutura em formato de balão. Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo Quadro Clinico A manifestação clínica predominante nas bronquiectasias é a tosse persistente com grande produção de expectoração purulenta. Hemoptise ocorre em 50-70% dos casos, podendo eventualmente ser de grande monta. O paciente apresenta infecções respiratórias repetidas, quando há uma exacerbação do quadro clínico, com piora da tosse e surgimento de dispneia. Diagnostico A avaliação diagnóstica envolve a identificação das bronquiectasias, a busca da causa etiológica e a avaliação da gravidade da doença. Ao exame físico, o quadro bronquiectásico pode apresentar-se clinicamente como doença indolente, supurativa ou com hemoptise. A apresentação como doença indolente envolve o fato de as bronquiectasias poderem ser encontradas em indivíduos assintomáticos ou em pacientes com apenas tosse leve. A caracterização desse grupo de pacientes deve-se ao avanço no diagnóstico radiológico por imagem ter tornado mais fácil a identificação de graus menores de bronquiectasias, ampliando o diagnóstico da doença. Já os pacientes com doença supurativa apresentam tosse e expectoração crônicas. A expectoração pode ter aspecto variável (mucoide, mucopurulento ou purulento). Podem ocorrer episódios de exacerbação, caracterizados por aumento do volume e da purulência da expectoração, e comprometimento sistêmico como febre, fraqueza e perda de peso. Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo No exame físico, podem ser auscultados ruídos adventícios, como crepitantes, roncos ou sibilos, os quais dão pistas para o diagnóstico. O principal diagnóstico diferencial diante desses achados é a bronquite crônica. O raio X de tórax pode mostrar sinais sugestivos de bronquiectasias, porém o exame padrão-ouro para diagnóstico é a tomografia computadorizada de tórax de alta resolução. A TC (Figura 1) geralmente revela os seguintes achados: (1) dilatação da via aérea, demonstrada por uma relação luz brônquica – vaso adjacente maior que 1,5 e por um não estreitamento da via aérea em direção à periferia; (2) espessamento da parede brônquica; (3) presença de plugs mucopurulentos nas vias aéreas, com aprisionamento de ar e formação de cistos. Quando a bronquiectasia é de padrão focal, deve-se realizar uma broncoscopia para avaliação de uma possível obstrução de vias aéreas, proporcionada, por exemplo, por um corpo estranho ou um tumor. As provas de função pulmonar estão sempre indicadas para quantificação da repercussão funcional da doença, geralmente apresentando um padrão obstrutivo. Tratamento As exacerbações são tratadas com antibioticoterapia; os principais germes envolvidos são o Haemophilus influenza, a Pseudomonas aeruginosa e o Streptococcus pneumoniae. Os antibióticos de escolha são as quinolonas respiratórias (ex.: levofloxacina) por 7-14 dias. Nos pacientes críticos, pode-se optar pelo uso parenteral de duas drogas antipseudomonas (ex.: ceftazidime e amicacina). A cultura e Gram do escarro podem auxiliar na decisão terapêutica, com a coleta estando indicada principalmente nos casos graves, não responsivos ao antibiótico inicial ou com episódios recorrentes. O uso de antibiótico profilático também já foi avaliado nas bronquiectasias, com resultados não definitivos. A recomendação atual é sua utilização nos pacientes com exacerbações frequentes (> 3-4 vezes por ano), sendo geralmente administrado um macrolídeo (ex.: azitromicina); sua grande limitação é a resistência da Pseudomonas aeruginosa a esse fármaco. Havendo a detecção dessa bactéria em alguma cultura de escarro e uma resposta inadequada da terapia profilática com antibioticoterapia oral, pode-se optar pelo uso crônico de antibióticos inalatórios (ex.: tobramicina). Jeovanna Miranda- 6ºperiodo/ 3ºmódulo Medidas de higiene brônquica também fazem parte da terapêutica das bronquiectasias. Essas medidas incluem: fisioterapia respiratória, manutenção de uma hidratação adequada e uso de mucolíticos (principalmente pela via inalatória) como a N-acetil cisteína (Fluimicil®). Nenhuma dessas medidas mostrou-se claramente eficaz nos estudos, porém geralmente são recomendadas. O uso de broncodilatadores é particularmente benéfico nos pacientes com doença obstrutiva com padrão de reversibilidade na espirometria. Devido ao caráter inflamatório da patologia, o uso de corticoides inalatórios foi testado em estudos pequenos, mostrando-se drogas úteis, com redução da tosse e da expectoração e melhora da PFP. Nos pacientes com doença localizada e com controle sintomático ruim com as medidas descritas, a cirurgia com ressecção do segmento acometido é uma opção. O transplante pulmonar pode ser indicado nos pacientes com doença difusa com falha da terapia medicamentosa. Os casos de hemoptise devem ser manejados inicialmente com a localização da lesão sangrante através de TC de tórax e de broncoscopia, com posterior embolização arterial brônquica do segmento acometido. Nos casos não responsivos, procede-se à ressecção cirúrgica do segmento que contém a lesão hemorrágica.
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